sábado, 18 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13751: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XIV: março de 1973: (i) uso, pela primeira vez no setor, de foguetões 122 mm, num ataque ao Xime; (ii) flagelada, também pela primeira vez, a coluna logística Bambadinca-Xitole; e (iii) mal estar, entre os pais fulas e mandingas, islamizados, pela excessiva orientação cristã dos textos didáticos usados nas escolas bem como pelos castigos corporais









Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca > Subsetor de Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > A aldeia de Samba Juli, em autodefesa. Pertencia oa regulado de Badora.

Foto: © Humberto Reis  (2005). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Continuação da publicação da história do BART 3873 (que esteve colocado  na zona leste, no setor L1, Bambadinca, 1972/74) a partir de cópia digitalizada da história da unidade, em formato pdf, gentilmente disponibilizada pelo António Duarte.

[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972/74; foi voluntário para a CCAÇ 12 (em 1973/74); economista, bancário reformado, foto atual à esquerda].

O grande destaque do mês de março de 1973, dois meses depois da morte de Amílcar Cabarl (1924-1973) vai para:


(i)  O uso, pela primeira, no setor, de foguetões 122 mm, num ataque ao Xime;

(ii) A saída de efetivos do PAIGC, da Frente Bafatá-Xitole, para o reforço do sul;

(iii) A transferência da CCÇ 12, para o Xime, como unidade de quadrícula, ao fim de 4 anos a atuar como unidade de intervenção, indo substituir a CART 3494 (que vai para Mansambo);

(iv) Mansambo continua sem ser atacado ou flagelado;

(v) Conclusão de 9 escolas no setor;

(vi) Suscetibilidade e mal-estar das populações islamizadas do setor (fulas e mandingas) em relação às escolas dos filhos, devido à orientação cristã dos livros e dos professores, mas também dos castigos corporais;

(vii) Flagelação, pela primeira vez, da coluna logística Bambadinca-Xitole;

(viiii) As NT auxiliam a população da bela tabanca de Samba Juli na reconstrução de moranças destruídas pelo fogo.

[Imagem à direita: capa do livro de leituras da 3.ª classe, o mais ideológico e etnocêntrico dos manuais escolares em vigor no Estado Novo. Os manuais escolares eram “especialmente elaborados pela Direcção – Geral do Ensino Primário, tendo em conta as necessidades culturais e profissionais dos meios populares” do Portugal europeu, continental e atlântico, mas não das populações da Guiné, por exemplo, que eram  na sua grande maioria animistas e muçulmanas.  O Livro da Terceira Classe, Ed. Domingos Barreira, 4ª Ed., 1958  esteve em uso durante décadas. E tinha, como os outros, uma segunda parte reservada ao ensino da "doutrina cristã". Cortesia do portal da Instuto de Educação da Universidade de Lisboa]


Março de 1973: Pela primeira vez, no tempo do BART 3873, o IN usa foguetões contra o Xime, e é flagelada a coluna de reabastecimento Bambadinca-Xitole.




Adicionar legenda



(Continua)
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Guiné 63/74 - P13750: Parabéns a você (801): Luís Nascimento, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 2533 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 13 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13726: Parabéns a você (800): Mário Ferreira de Oliveira, 1.º Cabo Condutor de Máquinas Reformado, da Marinha (Guiné, 1961/63)

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13749: Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (16): E agora, o desporto

1. Mensagem do nosso camarada Armando Pires (ex-Fur Mil Enf.º da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70), com data de 10 de Outubro de 2014:

Caro Luís Graça. Camaradas Editores. 
Eu sei que hei-de chegar ao fim. Ao fim dos episódios que me propus escrever. Mas não está fácil. Umas vezes por isto, outras por aquilo, chegada a hora de escrever, nem sempre os neurónios alinham duas ideias seguidas. Havemos de conseguir. 
Com uma pitada de humor e umas quantas fotos, o episódio n.º 15, que como é hábito segue em anexo, acrescenta ao …enfermeiro, ribatejano e fadista, um furriel desportista. 

Um abraço
Armando Pires


FURRIEL ENFERMEIRO, RIBATEJANO E FADISTA

14 - E agora, o desporto

Sim, não vá pensar-se que a vida de um furriel enfermeiro no mato, mesmo que ribatejano, entre diagnosticar malárias, combater gonorreias, ou secar micoses com "1214", fosse apenas cantar o fado. Eu fui um desportista.

Já o era, caramba, antes mesmo de ali chegar. Curiosamente, em todas as modalidades que pratiquei, as mãos eram o meu forte. Lá pela Guiné, tirando a sueca, a lerpa e o king, joguei voleibol, fui guarda-redes no futebol, a menina dos meus olhos era o ténis de mesa, e fui campeão de natação em Bissorã (o que será aqui contado em jeito de happy end…)

Com os pés, além do que creio ser uma habilidade inata para a escrita, ganhei várias provas de atletismo, quer em velocidade pura quer através de obstáculos, a cujo sucesso devo o facto de poder estar aqui a rememorar algumas das minhas vivências.

Escusado é dizer como a prática desportiva era inerente à condição militar. Não apenas como instrumento do fortalecimento físico mas também como meio de criar espírito de corpo e de grupo.

De todos os desportos é fácil compreender porque na Guiné o futebol foi rei de todos.

Um campo, do tamanho que fosse, uma bola, mesmo que não cientificamente redonda, onze homens de cada lado, ou os que se arranjassem, equipados com o que houvesse, ainda que o que houvesse fosse nada, duas marcas que marcassem o alvo a atingir, a baliza, e aí tínhamos a verdadeira, a única, jogatana de futebol.

Está aí para o comprovar o valioso acervo fotográfico da Tabanca Grande.
Pois na minha Companhia também se jogou à bola.
Mas o começo foi, com vossa licença, coisa mais fina.

Éramos uma Companhia de elite… perdão, éramos uma companhia de elites, elites desportivas, gente com vocação para várias práticas desportivas, a começar, desde logo, pelo nosso Doutor, o Dr. José Manuel Soares Oliveira, ou se quiserem, apenas o Dr. Oliveira, que foi jogador de voleibol do Leixões Sport Club e, mais tarde, para os matosinhenses que sabem, médico do clube.

O quartel de Bula tinha uma espécie de parada, cimentada, que dava para tudo. Para ser parada, para a prática de vários desportos, e para colocar as cadeiras onde assistíamos aos filmes que, de tempos a tempos, vinha uma equipa de Bissau projectar no ecran gigante.

Foi com os olhos postos nesse espaço que o Dr. Oliveira nos convenceu a formar umas equipas que se prestassem a um torneio de voleibol. Havia mão de obra que chegasse para escolher os que para a prática da modalidade tinham conhecimento e aptidões técnicas.

Além da minha CCS, estavam no quartel em Bula a CCAÇ 2466, mais um pelotão de morteiros e um outro de obuses. Isto sem contar com os rapazes do ESQ REC 2454, que moravam “lá mais em baixo”, em casa própria.

Lembro-me que o primeiro jogo foi democraticamente disputado entre uma equipa de oficiais e uma outra de praças, com direito a toques de honras militares enquanto se apresentavam as equipas, como o demonstra a imagem.

Bula – 1969 - Em primeiro plano a equipa de oficiais. Começando pela esquerda: de blusão, um alferes dos obuses, depois o Cap. Gaspar, Alf. Moura, o Dr. Oliveira, e os Majores Candeias e Lima. Em segundo plano: de camisolas às riscas verticais, a equipa de praças, dos quais a memória apenas retém os que à minha Companhia pertenciam, quais sejam, em segundo lugar “O Setubalense”, e mais à frente, de bigode, o Escriturário Rodrigues.

É preciso dizer que a nossa equipa, a equipa de furriéis, se fez apresentar à parte. Não íamos deixar-nos fotografar para a posteridade ao lado de gente tal mal vestida.

Bula – 1969 - De pé, a partir da esquerda: um furriel dos Morteiros, depois, Alf. Moura, eu, Vasques, Filipe, e o Major Candeias. Em baixo: Sarg. Costa, e os furriéis Martinho, Basso e Aviz Pires.

Vai longe o tempo e não me chega à memória quem foi o vencedor de tão difícil disciplina desportiva, como o voleibol. Mas não podemos deixar de ter sido nós, os furriéis da CCS, quer pela elegância com que equipávamos, quer pela qualidade técnica evidenciada, como o comprova a foto seguinte.

Bula – 1969 - Junto à rede, com classe e estilo, o Fur. Filipe finaliza um ataque cujo êxito se adivinha pelo ar tranquilo dos seus camaradas de equipa. Chamo a atenção para aquela grande mancha branca que se vê pelo lado esquerdo, por detrás dos espectadores. Era o ecran de cinema.

Pois bem, foi pelo voleibol que começámos, foi o voleibol que provocou o primeiro “movimento de massas”, mas o futebol estava lá, a chamar por nós, no campo do Clube de Futebol Nuno Tristão, de Bula, que confinava com o arame farpado do aquartelamento. E nós, CCS do BCAÇ 2861, até que nos podíamos gabar de ter nas nossas fileiras jogadores “com nome”, que podiam ter ido longe na modalidade, não fosse a guerra, agora noutro tom, fazer-lhes o que fez a tantos de nós. Comprometer promissores futuros.

Talvez tenha sido o caso do furriel Filipe, que jogou nos juniores do Belenenses, do João Nunes, cabo cripto, no Futebol Clube da Foz, do Miranda das Transmissões, que alinhou pelo Desportivo de Portugal, do Porto, e “O Russo”, no juniores do Varzim, tão bons de bola, os rapazes, que a equipa do Nuno Tristão os convidou a que por ele jogassem numas eliminatórias a duas mão com o Sport Bissau e Benfica, jogos a realizar em Bissau, de onde sairia o representante da Guiné na Taça de Portugal em futebol. Foi tal o comportamento dos nossos rapazes na primeira mão, que Nuno Tristão empatou a 3 bolas com o Bissau e Benfica. Na segunda eliminatória é que foi o diabo. Talvez devido ao cansaço, ou aos tremeliques daquelas malfadadas travessias do Rio Mansoa, em jangada, O certo é que o Benfica de Bissau venceu o Nuno Tristão, de Bula, por um concludente 7 a 1.
Um verdadeiro descalabro. Tão grande que nem existe registo fotográfico do acontecimento.

Ainda hoje sou dado a pensar se não terá sido também por isso, pela participação “dos nossos” naquela desgraça, que o nosso batalhão foi despachado para Bissorã.
Mas em boa hora que para lá fomos. Porque aí sim, aí demos asas há nossa veia futebolística. E não só.

É sabido, porque já o escrevi, que o nosso comandante Polidoro Monteiro não perdia uma oportunidade para desenvolver na prática o programa de Acção Psicossocial, através do “binómio” civis-militares. Para além das manifestações conjuntas do tipo cultural, patrocinou a realização de torneios de futebol, de voleibol e, até, de ténis de mesa.

No torneio de futebol participaram cinco equipas. Duas em representação da CCS, outras duas da CCAÇ 13 e a equipa do Sport Benfica e Bissorã.

Bissorã – 1970 - Não era o tempo das lentes grande angulares, mas é possível ter nesta imagem o que foi a apresentação das equipas no dia de abertura do torneio. De camisolas vermelhas, a equipa do Sport Benfica e Bissorã.

Ora bem. É preciso dizer que este torneio causou uma grave cisão do interior da CCS desportiva. Há falta de seleccionador, um espartalhaço qualquer, sem ser através daquela técnica, os passinhos, por nós muito usada no pátio das escolas para formar as equipas, chamou logo para si os que julgou serem os melhores, chamando-lhes, até, “O Real Macada”.

Bissorã – 1970 – A equipa do “Real Macada”. De pé, a partir da esquerda: Basílio, Bonito, João Nunes, Filipe, Berto, “Alentejano” e Gesteiro. Em baixo: Filipe, Miranda, Magina, Ramos e Barbosa.

Num gesto de rebeldia pura, formámos, isto é, eu formei uma outra equipa, a qual, como não podia deixar de ser, foi chamada de “Os Rebeldes”.Num gesto de rebeldia pura, formámos, isto é, eu formei uma outra equipa, a qual, como não podia deixar de ser, foi chamada de “Os Rebeldes”.

Bissorã – 1970 – A equipa de “Os Rebeldes”. De pé, a contar da esquerda: Moura, Pires, Martinho, Vaz, Cardoso e  Manuel Silva. Em baixo: Barbosa, Vasques, “Russo”, Santos e Agostinho.

Terminado este torneio de futebol, cujo vencedor só não revelo para não me ver obrigado a recordar as verdadeiras “macacadas” em que no bar se envolviam jogadores de uma certa equipa e os árbitros, arrancou um torneio de voleibol, disputado a três, seja uma equipa formada por civis, outra por oficiais, e a minha equipa, a dos furriéis, que foi chamada de “Os Celestinhos”, por ser de azul celeste a cor dos equipamentos.

Bissorã – 1970 - Equipa de voleibol de “Os Celestinhos”. Em pé, a contar da esquerda: Basso, Vasques e Martinho; em baixo: Ramos, Filipe e Pires (eu, obviamente).

Fomos nós os vencedores, através de uma salomónica decisão do Comandante Polidoro Monteiro.

Foi assim. Disputávamos a final com a equipa civil, vencíamos por 2-1 num jogo à melhor de cinco, quando caiu uma daquelas chuvadas que nós conhecemos. O árbitro interrompeu a partida, mandando-nos apresentar no dia seguinte, pela manhã. Chegámos nós, chegou a equipa civil, devidamente equipada, e chegou o Polidoro Monteiro que nos entregou a taça perante o ar estupefacto dos civis, os quais ainda indagaram se o combinado não tinha sido continuar o jogo nessa manhã.

- Esta manhã?!?! – perguntava, incrédulo, o Comandante – Mas vocês já viram algum jogo de voleibol continuar no dia seguinte?

E pronto, os civis regressaram a casa e nós levámos a taça.

Registe-se ainda o torneio de ténis de mesa onde eu e o Alfredo Khalil, um comerciante libanês de Bissorã, depois de termos despachado tudo quanto era adversários, disputámos uma renhida final no “Clube Social” da vila, ganha por mim, que não sou de me gabar por aí além.

Bissorã – 1970 - Eis o verdadeiro atleta, vencedor do Grande Torneio de Bissorã, em Ténis de Mesa.

Estas memórias desportivas perderiam todo o significado se aqui não trouxesse um documento que ainda hoje se encontra à guarda do furriel Filipe Santos, e que me o confiou para publicação. Trata-se do galhardete, que publico em verso e reverso, do jogo de futebol disputado no dia 22 de Novembro de 1970, entre a nossa CCS e a CCS do BCAÇ 2927, que nos foi render.

Repare-se no pormenor de no verso do galhardete constar a constituição da equipa da CCS do BCAÇ 2927, pelas posições ocupadas no terreno. Correia, Dias, Carneiro e Mendes. Sá e Machado. Lúcio, Fonseca e Tony. Leitão e Ferreira.

Para que conste, o jogo terminou empatado. No campo e depois à mesa.

- E a natação! Como é que foi isso da natação - perguntarão os que tiveram paciência para chegar até aqui.

Pois fiquem sabendo que eu também fui Campeão de Natação de Bissorã.

Bissorã - 1970 - Armando Pires, furriel enfermeiro, ribatejano e fadista, vencedor da prova de três metros livres, com o tempo de 4 segundos e 20 centésimos, disputada no tanque de rega da Estação Agronómica de Bissorã.

Eu não vos disse que isto terminava em grande?

Armando Pires
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de Junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13302: Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (14): Fadista e locutor, para cumprir o destino

Guiné 63/74 - P13748: Agenda cultural (342): Convite para assistir à apresentação do livro "Corredor da Morte", de Mário Vitorino Gaspar, dia 28 de Outubro de 2014, pelas 15h00, no Auditório Jorge Maurício, na ADFA, Lisboa (Mário Vitorino Gaspar)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Vitorino Gaspar (ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68), com data de 15 de Outubro de 2014:

Caros Camaradas e Amigos
Como vai a Tabanca Grande?
O meu filho está a enviar este Anexo visto não me ser possível, por enquanto, ir ao computador.

- Vai Presidir à Mesa o Presidente da Direcção Nacional da Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA), Comendador José Eduardo Gaspar Arruda

- A Apresentação do Livro vai ser feita pela Professora Ermelinda Caetano

- Mário Vitorino Gaspar como Autor do Livro.

Um abraço
Mário Vitorino Gaspar

Nota: Não tenho acompanhado o Blogue, a vista esquerda está um pouco turva.
Existiram algumas Sondagens? Gosto sempre de participar, nem que seja através de mensagens via telemóvel. Se existe alguma Sondagem em curso digam-me.
Embora o conheçam aqui vai o meu contacto: 93 621 42 84
 
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13740: Agenda cultural (341): Apresentação do livro do Prof. Doutor Valentino Viegas, "Goa, O preço da identidade", dia 21 de Outubro de 2014, pelas 15h00 horas, na Livraria-Galeria Municipal Verney/Colecção Neves e Sousa, em Oeiras (Manuel Barão da Cunha)

Guiné 63/74 - P13747: Notas de leitura (642): “Libertação Nacional - Manual Político do P.A.I.G.C.”, com intervenções de Amílcar Cabral, Edições Maria da Fonte, 1974 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Março de 2014:

Queridos amigos,
É um manual político altamente esclarecedor.
O pensamento de Amílcar Cabral é omnipresente, não há aqui uma linha de qualquer outro dirigente do PAIGC. Percebe-se como todos os colaboradores guineenses com os portugueses iam ser perseguidos ou destruídos, está taxativamente escrito; a pequena burguesia teria que fazer uma escolha decisiva: pôr-se ao lado do PAIGC e ganhar consciência revolucionária ou suicidar-se como classe; matraqueia-se, a propósito e a despropósito, a unidade da Guiné com Cabo Verde; o pendor socialista não é iludido, pelo contrário, é vangloriado.
Não se pode fazer a história da formação ideológica do PAIGC sem ler este manual, entre outras coisas dá para perceber que fora do pensamento de Amílcar Cabral havia o deserto de ideias.

Um abraço do
Mário


Manual político do PAIGC

Beja Santos

Em julho de 1974, as Edições Maria da Fonte davam à estampa o primeiro volume do manual político do PAIGC, documento do maior relevo nesta estrutura ideológica, já que era apresentado como de grande utilidade para os comissários políticos e para os quadros do Partido no seu trabalho junto das massas. Para que não houvesse margem para equívocos, é também esclarecido que a maior parte do documento se baseava em intervenções de Amílcar Cabral. O manual era apresentado sob a forma de perguntas e respostas, avançava-se com elementos de caráter económico quanto à economia da Guiné e Cabo Verde, explicava-se como funcionava a economia portuguesa e como esta, então, citamos, “está sob o domínio dos monopólios e de baixo da mão de ferro da grande burguesia nacional portuguesa, cujos interesses se identificam com o fascismo e o colonialismo”. A grande consigna para este manual, e aqui cita-se Amílcar Cabral, é a de “exigir aos responsáveis do Partido que se dediquem seriamente ao estudo, que se interessam pelas coisas e problemas da vida e da luta no seu aspeto fundamental, essencial, e não apenas nas suas aparências; devemos obrigar cada responsável a melhorar, dia a dia, os seus conhecimentos, a sua cultura, a sua formação política, convencer cada um de que ninguém pode saber sem aprender e que a pessoa mais ignorante é aquela que sabe sem ter aprendido”.

Este manual político ensinava muita coisa: a natureza da sua direção política; a sorte que estava destinada aos colaboradores dos colonialistas; a opção radical que cabe à burguesia guineense; a essência da luta de libertação nacional; a unidade da Guiné e Cabo Verde; a atitude do PAIGC face à unidade africana; do ponto de vista militar, como encarava o PAIGC a libertação de Cabo Verde, etc., etc.

Primeiro, o PAIGC é o instrumento de transformação da sociedade, para expulsar o colonialismo e para construir o progresso do país. A centralização política é indispensável. “É a direção do Partido que comanda verdadeiramente as coisas e, a cada nível, há uma direção estreitamente ligada ao nível superior”.

Segundo, há um número considerável de chefes, sobretudo da etnia fula, que se colocaram ao lado dos portugueses. Quando Amílcar Cabral afirma que aqueles que passam para o lado do inimigo, colaborando com os colonialistas portugueses, se destroem, quer dizer que eles deixam de ser gente do nosso povo, eles passam também a ser nossos inimigos e que os consideramos como colonialistas. E deixa-se um aviso seríssimo: “O destino dos colonialistas é serem destruídos na nossa terra. O mesmo acontecerá com aqueles que sendo africanos e gente do nosso povo resolveram trair os interesses do nosso povo. Não há qualquer dúvida de que uns e outros serão completamente destruídos”.

Terceiro, a pequena burguesia aceita impregnar-se do sentido revolucionário ou suicidar-se-á. Em Havana, Cabral procurara reformular a tese da classe revolucionária atendendo aos países que não dispunham de classe operária: “Os factos demonstraram que o único setor capaz de ter consciência da realidade da dominação imperialista e de dirigir o aparelho de Estado herdado dessa dominação é a pequena burguesia do país. A situação colonial, que não admite o desenvolvimento de uma burguesia autóctone e na qual as massas populares não atingem, em geral, o grau necessário de consciência política, antes do desencadeamento do fenómeno da libertação nacional, oferece à pequena burguesia a oportunidade histórica de dirigir a luta contra a dominação estrangeira. Para manter o poder que a libertação nacional põe nas suas mãos, a pequena burguesia só tem um caminho: deixar agir livremente as suas tendências naturais de emburguesamento e ligar-se necessariamente ao capital imperialista. Ora, tudo isto corresponde à situação neocolonial, isto é, à traição dos objetivos da libertação nacional. Para não trair estes objetivos, a pequena burguesia só tem um caminho: reforçar a sua consciência revolucionária. A pequena burguesia revolucionária deve ser capaz de se suicidar como classe para ressuscitar como trabalhador revolucionário”.

Quarto, por que razão nos devemos preparar para uma luta popular de longa duração? O manual respondia que a luta podia terminar depois de amanhã, talvez no próximo ano, daqui a 4 ou 5 anos. E Cabral responde: “O que nós garantimos é que vamos dar golpes mais duros, mais mortais aos portugueses. Temos homens para o fazer, temos e teremos material para o fazer”.

Quinto, a essencialidade de se conhecer a realidade histórica do povo guineense e cabo-verdiano. O manual trata estes dois povos indistintamente como um país e o nosso povo. O sucesso da luta decorria do profundo conhecimento da realidade histórica (política, sociocultural e económica) do nosso povo na Guiné e em Cabo Verde. Para Cabral Guiné e Cabo Verde era a união histórica incontornável. O PAIGC tinha uma única direção para a Guiné e Cabo Verde. Mas a luta do PAIGC aposta também na destruição das outras colónias portuguesas e na colaboração com os povos africanos, asiáticos e latino-americanos que lutam contra o colonialismo.

Sexto, do ponto de vista militar, como encara o PAIGC a libertação do conjunto das ilhas de Cabo Verde? Cabral insistia em que a luta em Cabo Verde e na Guiné estava intimamente ligada, dizendo que as ilhas de Cabo Verde tinham sido povoadas por escravos levados até lá pelos portugueses. E alertava: “Desde há muito que estamos ligados pela história e pelo sangue. É imperioso evitar que os portugueses explorem a separação que há entre a Guiné e Cabo Verde”.

Sétimo, em que princípio se baseia a aceitação da ajuda daqueles que se dispõem a ajudar-nos? Cabral responde: “A nossa ética de ajuda é a seguinte: recebemos a ajuda de qualquer um que deseje dá-la. Esperamos que cada qual que deseje ajudar-nos dê aquilo que puder dar. Não admitimos condições à ajuda que recebemos. A contrapartida à ajuda que nos dão é a garantia que damos de utilizar essa ajuda o melhor possível, com a maior eficácia, para a libertação do nosso povo”.

Oitavo, por que é que os países socialistas são os aliados naturais do PAIGC? Cabral, por tática ou convicção refere a revolução socialista e os acontecimentos da II Guerra Mundial, considerando que o mundo tinha definitivamente mudado de face porque surgira o campo socialista. É um texto apologético destacando a União Soviética. Cabral observa que não há nenhum país socialista no mundo que mantenha qualquer espécie de sistema colonial. É por isso que estes países socialistas são os aliados seguros dos povos em luta pela sua total liberdade.

Nono, questionam-se as possibilidades de desenvolvimento económico da Guiné e Cabo Verde. Mais uma vez e sempre Cabral responde falando das grandes possibilidades económicas da Guiné: mancarra, óleo de palma, curtumes, madeiras, borracha, pecuária, arroz, frutas, pesca, caça e turismo; quanto a Cabo Verde, refere a indústria da pesca, as culturas agrícolas como o milho, o feijão e a mandioca, as potencialidades em lacticínios, etc.

O manual é ainda mais extenso, fala do Biafra, das razões que impediam Portugal de fazer neocolonialismo, da unidade nos movimentos de libertação das colónias portuguesas, etc., etc.
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13727: Notas de leitura (641): “Para um conhecimento do teatro africano”, por Carlos Vaz, Ulmeiro, 1978 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P13746: Os nossos médicos (82): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (14): A mortalidade infantil tinha se vindo a reduzir drasticamente enquanto permanecemos no território, graças às campanhas de vacinação obrigatórias



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Subsetor de Mansambo > CART 2339 (1968/69) > Camdamã > 1969 > Fotos Falantes III > Os meninos de Candamã... Um aspecto da tabanca em autodefesa de Candamã. O 2º Gr Comb, comandado pelo alf mil Torcato Mendonça, vindo de Mansambo, foi destacado em Julho/Agosto de 1969, para o reforço do subsector de Galomaro, incluindo as tabancas em autodefesa de Cansamba e Candamã. O Gr Comb do Torcato Mendonça voltaria a Candamã, já no final da Comissão, em Outubro de 1969, no mês em que se realizaram as eleições para a Assembleia Nacional...

Foto: © Torcato Mendonça (2012). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


Alf mil med Rui Vieira Coelho.
Foto de Juvenal Amado
1. Continuação do texto sobre doenças e cuidados de saúde no TO da Guiné, no pessoal militar e na população civil, da autoria de Rui Vieira Coelho, médico reformado, ex-alf mil médico BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518 (Galomaro, 1973/74, e subdelegado de saúde da zona de Galomaro-Cossé [, foto à esquerda, em 1973, em Galomaro, da autoria de Juvenal Amado] (*)


Na população africana além da malária, tinham inúmeras disenterias amebianas por inquinação da água pela Entamoeba Histolitica.

As desidratações nas crianças eram assustadoras dada a evolução rápida para estados críticos e era fundamental fazer a reposição forçada de líquidos e electrólitos . Gastávamos soros em grande quantidade principalmente polielectrolitico  e glicosado a 5 por cento.

O sarampo era outro flagelo epidémico que levava à morte muitas crianças com pneumonias pós-sarampo, mas bastava uma Penicilina de 400000 U.I intra-muscular para afastar qualquer infecção em corpos virgens de antibióticos e portanto sem qualquer resistência a este tipo de medicamentos.

Por vezes apareciam indígenas mordidos por cobras a quem lhes era imediatamente ministrado soro-antiofidico da África Ocidental,que fazia parte do arsenal farmacêutico militar.

A mortalidade infantil tinha se vindo a reduzir drasticamente enquanto permanecemos no território, graças ás campanhas de vacinação obrigatórias que foram implantadas como na metrópole.

 Hoje em dia os números voltaram a ser assustadores:

 (i) mortalidade infantil: 20 por cento das crianças morrem antes de atingirem os cinco anos de idade;

(ii) mortalidade materna  uma morte por cada 30 partos;

(iii) Indicador do PNUD [Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento]: 173 lugar em 184 países; (como é isto possível???)

(iv) Esperança de vida: 50 anos. (Verdadeiramente confrangedor!!!!) (**)

Enviado do meu iPad

(Continua)

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(**) Vd aqui o perfil da Guiné-Bissau, de acordo com a OMS (texto em inglês, mas também disponível em francês, espanhol... e russo)

Guiné 63/74 - P13745: Os nossos médicos (81): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (13): A população militar metropolitana estava vacinada com a célebre "Cavalar", administrada na recruta, contra o tétano, tosse convulsa, difetria, febre tifóide, paratíficas A e B, cólera e febre amarela... Estava bem protegido!


Uma relíquia farmacêutica: o célebre medicamento contra o paludismo, Pirimetamina, 25 mg,, LM (iniciais de Laboratório Militar)... Havia duas tomas por semana, às quintas e domingo, segundo o nosso camarada médico, Rui Vieira Coelho... A imagem é do António Tavares (ex-fur mil, CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72),


Foto: © António Tavares (2014). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]


1. Lancei ontem o seguinte desafio ao Rui Vieira Coelho, médico reformado, ex-alf mil médico BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518 (Galomaro, 1973/74) [, foto à direita, em 1973, no mítico Rio Corubal, no Saltinho]

Rui: Vou fazer-te um desafio, descrever a farmácia militar de Galomaro (que devia ser igual à de Bambadinca e de tantas outras)... Quais eram os medicamentos essenciais de que tu dispunhas para acudir a uma doença aguda ou uma emergência médica... Por outro lado, havia a ação médica junto da população, os comprimidos LM, etc.

Um outro poste que te vou pedir é sobre as doenças do pessoal, do paludismo às afeções cutâneas... Um alfbravo. Luis


2. Resposta, imediata, passadas umas horas:


Data: 16 de Outubro de 2014 às 20:10

Assunto: Doenças no TO Da Guiné

 Caro Luis

Em resposta ao teu repto, aqui vai o referente às doenças mais frequentes com que o pessoal de Saúde era confrontado na Guiné.

Como Médico Militar, estava sediado em Galomaro,  na CCS do Batalhão,  e era também sub-delegado de saúde da zona de Galomaro Cossé. Tinha a cargo a saúde de cerca de 360 militares metropolitanos,  Companhia Comando e Serviços e Companhias Operacionais do Dulombi e de Cancolim;  e de Milícias Africanos que eram cerca de 400 distribuídos por 10 pelotões a 40 homens, sediados em aldeias reconstruídas, previamente atacadas pelo PAIGC e para as quais eram destinados à sua segurança.

E a acrescentar a tudo isto uma população civil que rondava, na área que me foi distribuída, cerca de 18.000 pessoas.

Tinha também a meu cargo a Missão de Sono, onde só tínhamos um doente internado com essa doença e o restante pessoal internado eram doentes tuberculosos e doentes com lepra, a fazerem tuberculostáticos (estreptomicina) e sulfonas,  respectivamente. Ambas as doenças se deviam a infestação por Mycobacterium Tuberculosis e por Mycobacterium Leprae.

A população militar metropolitana na Guiné estava vacinada com a célebre "Cavalar" que era administrada na recruta, e que era contra o tétano, tosse convulsa, difetria, febre tifóide,  paratíficas A e B, cólera, sem esquecer a febre amarela. O pessoal estava bem imunizado dado o carácter obrigatório para todo o Militar.

Raramente se via uma intoxicação alimentar, ou uma gastroenterite no pessoal militar metropolitano, pois também estava a meu cargo todos os dias a inspecção de alimentos. Á mínima suspeita de alimentos deteriorados ou com suspeita de infestação, mandava logo proceder a sua rejeição e queima imediata.

Comum à população metropolitana e à local o paludismo era com toda a certeza a doença que nos dava maior preocupação .

Os Guineenses não faziam qualquer tipo de prevenção anti-malária, os militares da metrópole tinham medicamentos para a fazer, mas evitavam pelas mais diversas razões, aparecendo crises agudas de paludismo.

Na região leste da Guiné,  o mais terrível era o plasmodium Falciparum, que originava uma hemólise (destruição de glóbulos vermelhos) por vezes enorme com  deposição de ferro no cérebro originando o tão falado paludismo cerebral. Também os outros dois Plasmodium existiam quer o Vivax quer o Ovale. O paludismo era recidivante e condicionava o aparecimento das chamadas febres terçãs e quartãs

Enviado do meu iPad

(Continua)
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Nota do editor:

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Guiné 63/734 - P13744: Fotos à procura de... uma legenda (39A): Um poço à beira da estrada Nova Lamego-Bafatá, maio de 1970... Esta foto do Valdemar Queiroz faz-me recordar o caso de um furriel que na zona de Madina, em certa ocasião, vencido pela sede, oferecia sete contos (!) por um copo de água!... (Domingos Gonçalves, ex-alf mil, CCAÇ 1546, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68)



Guiné > Zona leste > Estrada Nova Lamego- Bafatá > Maio de 1970 > CART 11 (1969/70) >  Um poço de água...à beira da estrada. "Iagu sabi", diz o  fur mil Valdemar Queiroz...


Foto: © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]


1. A foto é do Valdemar Queiroz [ou Valdemar Silva][, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)... 


Um dos comentários que recebemos, com data de 13 do corrente, é do Domingos Gonçalves, ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, (Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68) [, foto atual à esquerda]:


Prezado Luiz Graça

Votos de saúde. Sobre a água refiro:
A água é, e sempre foi, um bem precioso. Regra geral não lhe damos o valor que tem. Só quando a sede nos visita, e a não temos, é que sabemos, ou lhe damos, o valor, que tem.

Quem esteve na Guiné, nas companhias operacionais, e andou pelo mato, dificilmente
não lhe sentiu a falta.

Recordo o caso de um furriel que na zona de Madina certa ocasião, vencido pela sede, oferecia seis, ou sete mil escudos (sete contos!) por um copo de água. Mas, naquela circunstância, não havia água para ninguém.

Recordo-me, também, de em certa manhã, ver soldados a mitigar a sede chupando das folhas do capim as minúsculas gotas de orvalho formadas durante a ténue frescura da noite.

Penso que, mais ou menos, na Guiné alguma vez todos lhe sentimos a falta.

Se recordar é viver, a lembrança desses dias distantes, é saudável, e ajuda a compreender melhor a vida.


Um braço amigo


Domingos Gonçalves

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Guiné 63/74 - P13743: Os nossos médicos (80): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (12): Até a Maria Turra dizia que o antipalúdico Pirimetamina, do Laboratório Militar, fazia mal à tusa...


Guiné > Zona leste > Setor L5 (Galomaro) > BCAÇ 3872 (1972/74 > Saltinho > O jovem alf mil med Rui Vieira Coelho no Rio Corubal, no Saltinho, em 1973. O Saltinho era o aquartelamento mais distante do Setor L5, sendo abastecido através do Setor L1 (Bambadinca)... Os abastecimentos eram desembarcados no Xime, e depois as forças do BCAÇ 3872 tinham que atravessar todo o território do Setor L1; Xime - Bambadinca - Mansambo - Xitole - Saltinho. O troço Xime-Bambadinca já era asfaltado (c. 10/12 km)... O pior eram os restantes 60/70 km...

 Foto: © Rui Vieira Coelho (2014). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]

1. Resposta,  a um comentário de LG. (*), enviada pelo  Rui Vieira Coelho, médico reformado, ex-alf mil médico BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518 (Galomaro, 1973/74) [, foto acima, em 1973, no mítico Rio Corubal, no Saltinho]


Data: 16 de Outubro de 2014 às 01:30

Assunto: Desidratação


Na Guiné pedia aos operacionais para não se esquecerem de tomar um anti-palúdico do Laboratório Militar, de nome Pirimetamina,  ás quintas e domingo,para evitar as crises palúdicas, que por vezes tomavam características graves como o Paludismo Cerebral.

Por vezes sentia-me a pregar aos peixes como Santo António, pois o pessoal achava que se tomassem os comprimidos teriam alterações negativas no seu desempenho sexual.

Enfim,  boatos que corriam em surdina entre os operacionais e que prejudicavam o desempenho da operacionalidade dos grupos de combate, das companhias e dos Batalhões .

A Maria Turra na emissão da Rádio do PAIGC utilizava por vezes o prejuízo que acarretava a toma de determinados medicamentos pelos nossos militares, explorando psicologicamente o temor fazendo com que os boatos se tornassem realidade tentando agravar a saúde psicológica e física das nossas forças. A contra-informação era uma realidade e uma arma poderosa da guerrilha também a ser explorada.

A pressão sobre os profissionais de saúde era grande e por vezes a desconfiança era a má conselheira, fazendo no meu caso pessoal com que tomasse os comprimidos na frente do pessoal na altura das refeições, para anular os boatos que pudessem persistir.

Nas crises palúdicas o tratamento era feito com Resochina em soro polielectrolítico e aplicação endovenosa e dava sempre uma incapacidade de alguns dias, sobrecarregando os colegas e diminuindo a capacidade operacional do grupo de combate a que pertenciam ou levando á substituição por outro pessoal o que moral e eticamente era reprovável no caso de serem feridos em combate.

O meu Gin Tónico pela manhã tinha o efeito de,  além de me sedentar, desentupir a gorja e também como medicamento visto a água tónica ter Quinino,  outro anti-palúdico.

Pela noite depois do jantar lá vinha o wisky com água Perrier, para acompanhar um bom bate papo no alpendre da messe de oficiais fazendo correr o tempo até chegar o grupo de combate que diariamente saía para patrulhamento. Só depois de ter a certeza que todos tinham chegado bem,  é que eu me recolhia para dormir depressa, pois acordava sempre pelas 6 horas da manhã, seco como as palhas á espera de um novo Gin para me restaurar a esperança de que esse dia seria muito melhor que o anterior.

Um abraço do Rui Vieira Coelho

Enviado do meu iPad

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Nota do editor:


Comentário de Luís Graça:

Meu caro Rui:

 (...) Quanto às tuas preocupações de médico com o risco de desidratação do pessoal em operações no mato... Em Bambadinca nas messes de oficiais e sargentos, a distribuição dos pacotinhos de sal e da pastilha de quinino estava assegurada pelo pessoal de serviço que punha a mesa ... Mas as praças, será que não se esqueciam frequentemente de tomar as "pastilhas" ? Os nossos soldados tinham mesmo que se desenrascar...

Já não me recordo com que frequência se tomava o medicamento para a prolilaxia do paludismo... Já não me recordo do nome... Já quanto ao "comer sal" todos os dias ao almoço, tornou-se um hábito saudável... Hoje é um das coisas que evito, o sal, o acúcar e a gordura...

Em todo o caso, a nossa alimentação era desiquilibrada... À boa maneira portuguesa, procurávamos fazer uma boa refeição ao almoço... E o resto era petisqueira, para quem podia... O pior era quando andavámos no mato: aí rapava-se fome, mas a tensão era grande, e a preocupação com o regressar são e salvo ao quartel amigo mais próximo inibia-nos de sentir fome... Um homem pode passar vários dias sem comer, mas não sem beber... Gerir 2 cantis de água para um operação de 2 dias era dramático... Por isso fazíamos a guerra de noite e de madrugada...

A desidratação e a perda de peso eram dois grandes problemas com se defrontavam os operacionais como eu... Cheguei a perder 4 a 5 kg. numa só operação... Por sistema, não levava ração de combate, mas apenas fruta e às vezes um frasquinho de uísque...

Gosto de gin tónico mas na Guiné preferia a água (filtrada) com uísque ou o uisque com água de Perrier. Pequenos luxos que nos ajudaram a sobreviver. Mais difícil era o "desmame", depois de passarmos à peluda... Hoje não bebo (ou só raramente bebo) um uísque. Na Guiné tinha outro sabor, outro encanto (...)

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13742: (Ex)citações (239): "Desenrascanço" (António Matos, ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72)

1. O nosso camarada António Matos, ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72,. enviou-nos a seguinte mensagem.


Caro Magalhães, se entenderes que este desabafo escrito ao correr da pena e sem qualquer pesquisa mas em resposta ao desafio do Luís Graça ao qual preferi "fazer uma declaração de voto" `perante a cruzinha que pus na sondagem, então publica se o restante corpo editorial concordar.

Abraços para todos os tabanqueiros em geral e em particular para vocês, homens que aguentam o blog de pé!

Camaradas,

Há já muito tempo que não participo no blog do Luís Graça ainda que, de quando em vez, ou o procure ou ele (blog) esbarre em mim e me desperte a natural curiosidade.

Hoje foi uma dessas vezes e o tema "desenrascanço" na sondagem de opiniões sobre a sua existência, mereceu uma reflexão da minha parte.

Perdi já uma certa dinâmica no manuseamento deste blog e não procurei muito.

Limitei-me a seguir uma referência e dei de imediato com um post meu onde, explicitamente, escrevo sobre essa nossa "nobre capacidade" ...

Passados todos estes anos e arrefecidos os ímpetos mais aguerridos que nos fizeram falar sob a influência do "ressaibiamento" de quem passara todo aquele tempo na defesa de interesses que salvaguardavam os dos políticos mas que se esqueciam literalmente dos que buliam com a vida das pessoas (falo das populações, claro), passado todos esses anos, dizia, aqui estou a corroborar o que na altura escrevi e a constatar que os homens do poder não aprenderam nada com a história pois continuam com o mesmo paradigma do quero-posso-e-mando deixando por esse mundo fora um rasto de destruição física e social que em nada faz prever algo de bom para as próximas dezenas de décadas ...

Costuma dizer-se que o povo é inteligente e não se deixa enganar mas eu tenho opinião diferente.

O povo (até porque as maiorias se comportam como carneiros) não goza desse epíteto e a prova provada aí está! Após anos de (des)governação vêm as eleições e, como que por milagre, a intoxicação intelectual revolve as mentalidades e o povo volta a votar nos mesmos !!

Muitas vezes com a desculpa de que os outros não podem fazer melhor ... Mal por mal, aguentemos os que já cá estão, dizem ....

Claro que, com o tempo e com a força das armas, vão emergindo novos "mentores", concebidos à luz daquela velha máxima de que, no reino dos cegos, o cego dum só olho é rei !

É o desenrascanço na sua fase plena !

Conclusão: o desenrascanço que nos diversos TO e que no da Guiné em particular se estabeleceu desde o 1º momento, é indiscutível pois aparece em consequência das incompetências superiores .

Li alguns artigos de autores que estudaram e tentaram fazer comparações (níveis de resiliência dos soldados à má nutrição, às condições de habitabilidade e fundamentalmente ao tempo de missão) entre a guerra na Guiné e no Vietname e foram conclusivos ao afirmarem que só o povo português aceitaria e suportaria tais condições quase sempre com um sorriso nos lábios, umas apalpadelas nas mulheres que os combatiam e com as quais, quantas vezes!, viriam a procriar e até a casar, não se apercebendo de quão infame era a sua situação.

Enfim, desenrascavam-se !

Depois vinham as dotações militares e aí era um fartar vilanagem !!!

Pelotões que enfrentavam o inimigo com deficiente armamento ...

Viaturas cujas manutenções eram verdadeiras e constantes hemorragias de dinheiro .....

Cadeias de comando que "preparavam" operações em cima dum mapa da região que desconheciam por completo ....

Comandantes que, face a emboscadas onde as nossas tropas caíam, preocupavam-se prioritariamente em saber dos danos materiais e só depois dos humanos ...

Enfim, desenrascámo-nos !
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Nota de M.R.:

Vd. também o poste: 


Vd. último poste da série em: 

Guiné 63/74 - P13741: Os nossos médicos (79): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (11): A água, a água da bolanha de Galomaro, a água de Lisboa, as pastilhas de sal, a cerveja, o uísque, o gin tónico, as bajudas... e os operacionais que nos guardavam as costas









Guiné > Zona leste > Setor L5 > Galomaro > BCAÇ 3872 (1972/74 > A bolanha de Galomaro...

Fotos do álbum do ex-alf mil médico Rui Vieora Coelho, disponíevis na página do grupo (fechado) do  Facebook Galomaro, destino e passagem (Criado em 23/3/2011, e editado pelo Rui Vieira Coelho,   tem já  cerca de 90 membros, pretendendo  "convergir  pelo trato afectivo todos os ex-militares que permaneceram em Galomaro, na Guiné-Bissau, ou por lá passaram em trânsito").


Fotos (e legenda): © Rui Vieira Coelho  (2014). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]


1. Mensagem,  enviada por IPad, do nosso camarada Rui Vieira Coelho, médico reformado, ex-alf mil médico BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518 (Galomaro, 1973/74) [, foto acima, em 1973, na bolanha de Galomaro]


Data: 12 de Outubro de 2014 às 17:45
Assunto: Água


Caro Luís:

O bem mais precioso para os operacionais da Guiné. Antes de cada operação pedia aos camaradas que iam para o mato, para tomarem umas pastilhas de toni-hidratantes (cloreto de sódio,  o vulgar sal das cozinhas) e seguidamente beberem água esterelizada ou umas cervejolas que em princípio toda a malta preferia.

O sal fazia reter a água,  diminuindo a sede e portanto o consumo da mesma. Mas se a operação fosse longa, até como muito bem dizes,  " até o mijo se bebia".  Nunca vi mas em quanto permaneci no CTIG as descrições sucediam-se e não eram poucas.  Como tu gostava do meu uísque com água Perrier que vinha do Senegal, ao fim do dia e de manhã eu não passava sem beber o meu Gin com água tónica (tem sempre quinino).

Ás refeições acompanhava sempre com uma cervejola.

Mas tive o privilégio de,  como médico do Batalhão,   estar quasi permanentemente na CCS ou então nalguma companhia, em  Dulombi ou Cancolim, onde as condições,  embora não fossem das melhores, nada tinham  a ver com o inferno que todos os operacionais passaram não só pela falta de água, mas pelo isolamento, pelos perigos constantes que espreitavam de qualquer lado, pelo clima psicológico e meteriológico que os rodeavam, pelo temor de um ataque de uma emboscada, mas no fundo sempre com a esperança de um bom regresso sem qualquer mazela ou ferimento.

A chegada à base surgiam as graçolas, os risos, as anedotas, uma refeição quente após uma chuveirada para limpar o corpo e a alma das agruras passadas, parecendo já esquecidas.

Nunca me deitei enquanto não chegavam os grupos de combate das missões de patrulhamento a que diariamente estavam sujeitos, inteirando-me de qualquer situação anómala  que tivessem tido e se necessitavam da minha intervenção .

O  comandante e o major das operações igualmente assim como o capelão (Padre Nuno), o aferes das transmissões (engº Mário Vasconcelos), o alferes tesoureiro (economista Veiga), o capitão da companhia do Dulombi (eng Pires). Todos solidários com quem vinha do mato e que nos guardava as costas e a quem devemos a nossa integridade física.

Obrigado,  pois,  a todos os Operacionais  da Guiné

Rui Vieira Coelho
ex-Alf Mil Médico dos Batalhões 3872 e 4518
Galomaro, Guiné 1973/1974

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Guiné 63/74 - P13740: Agenda cultural (341): Apresentação do livro do Prof. Doutor Valentino Viegas, "Goa, O preço da identidade", dia 21 de Outubro de 2014, pelas 15h00 horas, na Livraria-Galeria Municipal Verney/Colecção Neves e Sousa, em Oeiras (Manuel Barão da Cunha)

C O N V I T E

Apresentação do livro do Prof. Doutor Valentino Viegas, "Goa, O preço da identidade", dia 21 de Outubro de 2014, pelas 15h00 horas, na Livraria-Galeria Municipal Verney/Colecção Neves e Sousa, em Oeiras.


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Nota do editor

Último poste da série de 12 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13721: Agenda cultural (340): Tributo ao pintor lourinhanense Estêvão Soares (1914-1992): uma belíssima homenanagem dos seus filhos e da terra que o viu nascer, há 100 anos... Um notável aguarelista, um apaixonado por África, suas paisagens, suas gentes

Guiné 63/74 - P13739: Efemérides (176): A primeira Operação da CART 494 foi em 11 de Outubto de 1963 (Coutinho e Lima)

1. Mensagem do nosso camarada Alexandre Coutinho e Lima, Coronel de Art.ª Reformado (ex-Cap Art.ª, CMDT da CART 494, Gadamael, 1963/65; Adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné entre 1968 e 1970 e ex-Major Art.ª, CMDT do COP 5, Guileje, 1972/73), com data de 9 de Outubro de 2014:

Caro Amigo
Junto envio, em anexo, um pequeno artigo sobre o assunto em epígrafe.

Um abraço amigo
Coutinho e Lima


Primeira Operação da CART 494 – 11OUT63 

A primeira Operação da CART 494, em Ganjola (Norte de Catió, que tinha sido ocupada em 17SET63), a que foi dado o nome de “ ALVORADA”, realizou-se no dia 11 OUT 63.

Na véspera foi presa uma mulher de etnia balanta, que vagueava nas imediações do aquartelamento, com evidentes sinais de desequilíbrio mental. Interrogada, declarou que o IN se encontrava instalado na tabanca Ganjola Dabenche (mais conhecida por Ganjola Velha), a mais próxima do quartel.

Imediatamente foi planeada uma operação, cuja missão era desalojar o IN e incendiar a tabanca.
Às primeiras horas da manhã de 11OUT, iniciámos a aproximação ao objectivo, verificando-se que o IN se furtou ao contacto e, juntamente com a população, internou-se no mato.
Foram incendiadas cerca de 100 moranças e recolhidos vários documentos.

 Ganjola. Vd. Carta de Catió 1/50.000

Ao regressar ao quartel, fomos surpreendidos com um numeroso número de vacas (em número de 52), que levámos à nossa frente, o que foi particularmente difícil, porque houve necessidade de fazer passar as vacas, uma a uma, por uma pequena ponte sobre um braço de rio, enquanto que a bolanha à volta, estava totalmente alagada, por virtude da chuva. O que nos deu mais trabalho foi um grande touro reprodutor, que, seguramente, pesava mais de 500 quilos.

O esforço dispendido por todo o pessoal foi muito grande, não só com a recolha das vacas, mas porque as bolanhas que tivemos que atravessar, além de ser novidade, estavam completamente alagadas, sendo frequente verificar elementos enterrados até à cintura, tendo que ser ajudados para sair dessa situação.

Um ensinamento tirado foi a utilização das botas de borracha por alguns militares na operação, o que se verificou totalmente inadequado nas bolanhas.

Chegados ao quartel, improvisamos uma cerca de arame farpado, para evitar que as vacas fugissem. Com o imprevisto e agradável reabastecimento, passámos a abater uma rês por semana, o que melhorou de maneira muito significativa a nossa dieta alimentar: bifes com batata frita, carne assada no forno construído por nós, jardineira e cozido à portuguesa, quando recebíamos frescos de Catió.

O magarefe da Companhia, Soldado Atirador Armando Macedo Marques (o Sintra, por ser natural desta localidade), passou a trabalhar mais, para o bem comum.
Esta Operação, se tivesse recebido o nome, após a sua realização poderia ser denominada “Recolha imprevista de vacas”.

Possuidores desta manada, não mais tivemos problemas com a alimentação, permitindo-nos até dispensar algumas reses a Catió. A nossa grande desilusão foi termos que deixar o magnífico touro, que estava reservado para o Natal, que já foi passado em Gadamael.

Alexandre da Costa Coutinho e Lima
Coronel de Artª. Ref.
Ex-Comandante da CART 494 (63/65)
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13701: Efemérides (175): O Curso Caldas Xavier da Academia Militar iniciou-se há 50 anos (António Martins de Matos)