quinta-feira, 23 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14925: (Ex)citações (286): Fiz um telefonema surpresa para o meu irmão, no dia e hora do seu casamento, em 16/10/1971, em Guimarães...Tive que marcar a chamada oito dias antes, na casa do régulo de Bula que servia de posto dos CTT... (António Mato, ex-alf mil MA, CCAÇ 2790, Bula, 1970/72)




Foto nº1 > Região de Cacheu, Bula, dia da cavalaria (21 de julho de 1973)... O gen Spínola passa revista às tropas e viaturas em parada...  É acompanhado pelo Comandante Militar, brigadeiro Alberto Banazol



Foto nº 2 > Região de Cacheu, Bula, dia da cavalaria (21 de julho de1972)... Desfile de viaturas, debaiso de chuva



Foto nº 3 > Região de Cacheu, Bula, s/d, "ronco balanta"


Foto do álbum do Leonel Olhero, ex-fur mil cav, Esq Rec 3432 (Panhard) Bula, 1971/73.


1. Comentário de António Matos [, ex-alf mil minas e armadilhas, CCAÇ 2790, Bula, 1970/72] ao poste 14919 (*)


Desabituei-me de aqui escrever e hoje vi-me em palpos de aranha para dar com este local onde pretendo contribuir para a percentagem daqueles que também fizeram uso dos CTT fora de Bissau para contactos telefónicos para a Metrópole.

Vistas as coisas a esta distância, parece-nos incrível como tudo evoluiu, onde as tecnologias ganham foros de destaque ...

Estava no 16 de Outubro de 1971 quando tive necessidade de contactar para Guimarães onde se casava um dos meus irmãos ... 

A logística que envolvia esta tão singela operação que hoje se executa em escassos segundos, é algo que, ao recordá-la, me dá a imensa satisfação de pertencer a uma geração viva que tem sido testemunha de fabulosos avanços científicos os quais permitiram transformações civilizacionais notáveis.

O eu ter nascido;
A chegada da televisão ao país;
A ida do Homem à Lua;
O aparecimento do computador;
A invenção da internet;
O telemóvel;
Os nascimentos dos meus filhos;
A transformação da tecnologia bélica;
A proliferação da exploração espacial;
As novas geografias políticas;
As novas conturbações sociais;
Os avanços na medicina;
Os sucessos das nanotecnologias;
Os nascimentos dos meus netos;
Na ultrapassagem dos records atléticos;
Etc., etc., etc.

São apenas uma mínima parte das transformações que me apaixonam (umas pela positiva, outras pela negativa ) na certeza que as prefiro às do antigamente...

Oito dias antes, dirigi-me à casa do régulo de Bula que, concomitantemente, servia de posto dos CTT (não sei se neste momento estarei a meter os pés pelas mãos quanto a estes pormenores mas julgo que o interessante para este comentário é, tão só, o relato vivido da realização duma chamada telefónica ) e marquei para aquele dia a referida chamada.

Por se tratar dum casório, fiz as minhas preces para que à hora a que as meninas metessem as cavilhas naquelas centrais telefónicas do século passado, os noivos já se encontrassem de beijo dado e disponíveis para a surpresa.

Sim, porque aquele telefonema foi uma surpresa !!

Recordo que houve um certo atraso na conjugação concertada de toda a equipa que, passando a informação de boca em boca (via cavilha ), me pôs em contacto com o outro extremo da linha ...

Escusado será apelar às emoções do momento mas, embora nunca mais tivesse pensado no assunto, sinto uma certa nostalgia, só mitigada porque ao olhar aqui para o lado do computador, dou de caras com o mais recente dos sucedâneos das tecnologias comunicacionais - o telemóvel - com o qual já fiz e já recebi "n" chamadas enquanto escrevo este reviver ...

Ensinou-me já a experiência que, por vezes, ao fazermos o "send" duma mensagem, ela vai parar ao etéreo e nunca mais ouvimos falar dela, restando-nos a paciência para tentar recuperar parte dos raciocínios e ideias.

Por isso, junto à lista acima, mais uma vitória civilizacional que dá pelo nome de "copy & paste" e com ela guardar num limbo este trabalhinho enquanto não confirmo que o original seguiu para o destino apropriado,

Assim sendo, aqui vos deixo um abraço e os parabéns por esta ideia que me cativou. (**)


Guiné 63/74 - P14924: (Ex)citações (285): Fiz um único telefonema, aflito, de Bissau para a metrópole em novembro de 1967, por causa das cheias na região de Lisboa (Manuel Coelho, ex-fur mil trms, CCAÇ 1589, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68)... Nunca me ocorrreu telefonar, de qualquer modo não havia telefone em casa (Carlos Milheirão, ex-alf mil, CCAÇ 4152/73, Gadamael e Cufar, 1974)



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Nova Lamego > c. 1966/68 > Estação dos CTT, à esquerda



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Nova Lamego > c. 1966/68 > Rua pirncipal > Sede do comando de batalhão, à esquerda (, visível na foto a proteção do edifício, feita com bidões de areia a toda volta); do lado oposto da rua, do lado direito, em frente, ficava o edifício dos CTT.

Fotos (e legendas): © Manuel Caldeira Coelho (2011). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Mensagem de Manuel Caldeira Coelho (ex-fur mil trms, CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68):


Data: 23 de julho de 2015 às 14:15

Assunto: Sondagem: os telefonemas (*)


Caros editores do nosso- blogue, já votei mas queria explicar a razão de um único telefonema que fiz quando estava em Bissau.

Não era fácil, e só nos CTT se podiam fazer as chamadas particulares.

Em Novembro de 1967 aconteceu aquela catástrofe das cheias na região de Lisboa e, como
tinha uma irmã a morar em Queluz, havia um boato de que a Fábrica de Pólvora de Barcarena
iria explodir e arrasar toda aquela área.

Bem, com o telefonema, fiquei esclarecido e descansado quanto a essa possibilidade e não se deu nada de semelhante,  apesar dos estragos e infelizmente das mortes.

Não tenho fotos dos CTT de Bissau, mas aqui estão duas de Nova Lamego, com o edifício dos CTT, que era junto ao comando do batalhão.

2. Outros comentários:

2.1. Nosso editor LG:

22/7/2015, 22h34

Amigos/as, camaradas: 

É bom que os jovens de hoje, guineenses e portugueses, saibam compreender e avaliar o "salto tecnológico" que demos, a Guiné, Portugal, o mundo inteiro. com a Telegrafia Sem Fios (TSF), muito antes da era do digital... É preciso perceber a revolução, nas telecomunicações, iniciada pelo italiano Marconi... E, no caso português, o papel da Companhia Portuguesa Rádio Marconi... Aqui vão alguns apontamentos que recolhi na Net...

2.2. Carlos Milheirão [ex-alf mil, CCAÇ 4152/73, Gadamael e Cufar, 1974]

23/7/2015, 11h24:




Nunca me ocorreu fazê-lo [, telefonar para casa]. De qualquer modo, não havia telefone em casa.

Recentemente tive uma filha em missão no Líbano e falávamos com ela todos os dias via SKYPE. Como as coisas mudaram!!! (**)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 22 de julho de  2015 > Guiné 63/74 - P14919: Sondagem: Resultados preliminares (n=115) a dois dias de encerrar a votação: menos de metade da malta (47,8%) utilizou os CTT para telefonar para a casa (leia-se: metrópole). Mesmo assim, parece que era mais fácil em Bissau, capital do território, do que no mato...

Guiné 63/74 - P14923: Agenda cultural (419): "De Freguês a Consumidor, 70 anos de sociedade de consumo". Tertúlia com Mário Beja Santos levada a efeito no passado dia 16 de Julho na Livraria Barata, em Lisboa

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), Técnico Superior Aposentado da Direcção Geral do Consumidor, com data de 20 de Julho de 2015, com o rescaldo da sua intervenção, na tertúlia levada a efeito na Livraria Barata, no passado dia 16*, subordinada ao tema sempre actual "De freguês a Consumidor":

A Livraria Barata faz parte dos meus lugares mágicos. Na minha adolescência, tinha uma entrada como uma padaria ou drogaria, era um espaço minorca talentosamente aproveitado pelo Sr. Barata, até conseguia espaço para que o David Mourão Ferreira ou o Artur Portela Filho ou o Virgílio Ferreira conversassem com os leitores, e nós à volta, a beber todas aquelas palavras em silêncio.

Pedi ao José Rodrigues, genro do Sr. Barata, para ali se fazer uma tertúlia, “De freguês a consumidor” é o meu testemunho como profissional e como professor.

Foi um debate vivo, uma casa bem composta em que o nosso confrade Mário Vitorino Gaspar se referiu ao nosso bairro de infância, o Bairro das Caixas, encravado entre o Campo Grande, a Avenida Alferes Malheiro (hoje Avenida do Brasil), a Avenida dos Estados Unidos da América.
Uma pequena burguesia do funcionalismo para ali foi residir, assistiu ao nascimento daquelas Avenidas Novas que assinalavam o alargamento das classes médias, dava-se por findo a contenção da II Guerra Mundial.

Foi uma tertúlia de memórias a que não faltaram as interrogações sobre este mundo em que os jovens não têm emprego e o interior se desertifica, inexoravelmente.

Um abraço do
Mário





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Nota do editor

(*) Vd. poste de 14 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14875: Agenda cultural (417): "De Freguês a Consumidor, 70 anos de sociedade de consumo". Venha cavaquear comigo, dia 16 de Julho pelas 19 horas, na Livraria Barata, Av. de Roma, n.º 11, em Lisboa (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 17 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14892: Agenda cultural (418): 32º festival de Almada: sábado, 18, 20h00, música guineense, o "Djumbai Jazz" (Jorge Araújo)

Guiné 63/74 - P14922: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (VII Parte): Clara; Apanhado à mão e Entre eles

1. Parte VII de "Guiné, Ir e Voltar", enviado no dia 11 de Julho de 2015, pelo nosso camarada Virgínio Briote, ex-Alf Mil da CCAV 489 (Cuntima), e Comando do 2.º curso de Comandos do CTIG (Brá), CMDT do Grupo Diabólicos (1965/67).


GUINÉ, IR E VOLTAR - VII

Clara

Boas notícias da metrópole! Corriam bem as coisas para quem lá estava. Mini-saias, calças à boca de sino. Calças largas assim como lhe estavam a contar só as tinha visto nos marujos, no pessoal civil nunca reparara, mas tudo bem, acreditava. Diziam que o comércio prosperava, que a têxtil e a construção disparavam. Que havia emprego. Que se construíam casas, se arranjavam outras, estradas novas, um pandemónio, espantados os que vinham de férias.
E mais não se fazia porque, diziam, havia falta de mão-de-obra.
Pudera, mais de 100.000 em África e mais os que se tinham pirado claro, nada para admirar.

Emigrantes portugueses nos “bidonvilles” dos arredores de Paris. 
Foto da net.

Por cá tudo bem, obrigado. Estava com 21 anos. Deixara Lisboa com o peito para fora, ia defender a pátria dos terroristas a soldo de Moscovo. De vez em quando sentia uma ligeira dúvida sobre os resultados do esforço que lhes estavam a exigir, mas o futuro é sempre uma dúvida, não é?

Calor húmido, o suor a escorrer pelo corpo todo, um chuveiro vem mesmo a calhar. Procurou roupa para se vestir. Só tinha um camuflado, o que trazia vestido. O Sany1 tinha lavado as camisas, cuecas, calças, toda a roupa que tinha, que não era muita que também não precisava, depois do Vilaça numa fúria que mais uma vez lhe deu no quarto, ter quebrado a caixa de Gin que foi do furriel Morais2. No quarto nem pensar entrar, cheirava-lhe a Gordon’s até em Bissau.

Para espairecer nada melhor que uma volta. Toca, Alegre3, que se faz tarde ponha o ME-14-04 no piche(*) para Bissau, acelere essa chocolateira.


Vento quente na cara, curva do Hospital Militar, onde se dizia que quem entrar lá ferido, safa-se, já não morre, chiça que não fosse ele, recta para o bairro indígena de Bissau.

As primeiras casas, gente, cães, cabras, tudo em câmara lenta. Que pressa danada, Alegre, páre aí, olhe para aquilo, o quê meu alferes, aquela morena ali, não vê? Ah? Está a vê-la bem, Alegre? Não quero nada que faça marcha atrás, qual atrás, Alegre, abra mas é os olhos e páre aí! Ponha-se à sombra.
Onde se meteu? Perdeu-a de vista, mas uma beleza daquelas não pode desaparecer assim! Aí está ela outra vez, um encanto a surgir de trás de uma árvore, dança a andar, onde terá aprendido? Não acreditas, ela está a olhar para ti, deve estar à tua espera, ou não? É contigo, não disfarces, estás a olhar para onde? Está espantada, sem saber bem o que fazer. E agora? Vai ter com ela, pode precisar de alguma coisa, nunca se sabe, estamos aqui uns para os outros, não foi isso que te ensinaram em Mafra, ajudar a população civil, a voz dentro dele não se calava, não foi? Pergunta-lhe o caminho, que te dê a mão e te leve, que interessa para onde?
Chegou-se a ela, a ferver. Boa tarde, como está? Que pergunta! Estava boa, via-se bem, bastava ter olhos.
Olá! O Joaquim já não mora aqui? Que Joaquim? Então, o Joaquim de Brá, não conhece? E o seu nome qual é? Clara? Fica bem consigo! Não gosta do nome porquê? Então não conhece o Joaquim? E a mim também não? E não me deixa conhecê-la? Não podemos estar aqui a falar? Onde então? Hoje não, Clara, porquê? Esta semana também não?
Só nãos, Clara, não mereço um sim? Quando, Clara? Domingo às 2 da tarde aqui? Tanto tempo, Clara? Aqui não, junto àquela casa? Clara...

Cerca de um mês depois de muita conversa, era também um domingo lá para o fim da tarde. Uma velha negra sentada à porta. Clara está lá, passa roupa a ferro.
Fresca, cabelo molhado a escorrer, vestido às flores, botões costas abaixo, pernas morenas, sandália rasa, até os pés pareciam ter levado pedra-pomes!
Olá, Clara, uma mão nas flores e a outra nem sabia aonde. Chegou-se a ela, um cheiro a fresco, tinha acabado de tomar banho, via-se.
Porque quer falar comigo? Estou comprometida, você sabe, alferes. Ele também, aliás estavam todos!
Clara, não resisti, enfim, quero conhecer-te melhor, faz mal?
Estremeceu quando o sentiu encostar-se. Que está a fazer, alferes? Não podemos ficar assim só um bocadinho, Clara? Não, não pode, sabe que não! Mas por que não, Clara? Não pode, alferes! Clara, não sou de pedra, o desejo não deixa, é grande demais, ela arrepia-se ao contacto dos dedos, os lábios dele no pescoço dela, ah, não posso, alferes, não posso, não…
O ferro pousado, a Clara ofegante, de costas, as mãos dele nem acreditavam, os mamilos a quererem fugir das mamas inchadas. Ah, Clara, a tua pele, o teu cheiro, o vestido a abrir-se, os dedos dele a descer, ela toda arrepiada a dizer não, não posso, podes Clara, não estás bem? Está, alferes, mas não posso mais, vai embora, faz favor, alferes, não posso mais!

Duraram quase dois meses estes encontros, quase sempre à mesma hora na casa da velha. Um prazer, um ritual obrigatório também, antes de uma saída para o mato e depois de um bom banho que prémio à chegada!
Até um dia em que, em má hora, passou e a viu pendurar roupa no arame. Não pares, não olhes para mim, vai-te embora! Vais-te arrepender! Não me toques, ele está cá.
Viram-se todos ao mesmo tempo, ele, o sócio e a irmã dela. Então é você quem anda por aqui e eu é que pago as despesas, reponta. Oh amigo, fique com a Clara! Já que come, pague a despesa!

Meses depois numa rua de Bissau, ouviu chamarem pelo seu nome. Parou, olhou para trás. Clara! Sorriso triste.
Envergonhado, baixou os olhos. Foi a última vez que viu a Clara.
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Notas do autor:
1 - Infamara Sany, o impedido que, juntamente com o quarto, a cama, a G-3 e restantes apetrechos de guerra tinha herdado do Cap. Saraiva. Morreu, mais tarde, em combate.
2 - Morto em combate no decorrer da operação ‘Ciao’, em Catunco, no Sul, em Maio de 1965 na que foi a última operação do grupo Fantasmas.
3 - Soldado Condutor ao serviço do Grupo.

Nota do editor:
(*) - Piche - o mesmo que alcatrão

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Apanhado à mão

Alternava períodos no mato com uns dias em Brá. Aproveitava-os para se manter em forma, praticava tiro, mantinha o Grupo em instrução diária, ao fim do dia ia até Bissau, dava uns passeios a pé. No fim de jantar, quando tinha vontade, punha a escrita em dia e lia pela noite fora.
Não havia muito para fazer na cidade. O hotel Portugal onde se reunia ao jantar com os conhecidos, ou o Fonseca de vez em quando para comer frango assado com batatas fritas aos paus, enormes, ou beber cerveja cá fora com um cesto de ostras ao lado.
Parava na esplanada do Bento, quase sempre a abarrotar de fardas, obrigatório para quem queria encontrar camaradas destacados no mato, em trânsito por Bissau, para consultas médicas, tratar de assuntos dos destacamentos ou à espera do avião para o mato depois das férias na metrópole.
Ouvia-os falar dos dias que lá tinham passado, das famílias, amigos, namoradas, do cinema que tinham visto, do ar diferente que respiraram. E do desinteresse e ignorância sobre o que se passava na Guiné.
Era um entusiasmo ouvi-los falar da metrópole e das férias. As dele estavam à porta, um ou dois meses se tanto, ia descontando os dias.


Em fase fotográfica, ia para o Cupilão4, negras com os bebés às costas a pilarem o arroz, mancarra a secar, crianças a brincar, velhos negros de barbas brancas, curvados, a cortar as unhas dos pés com a catana enorme na mão, outros sentados em fila, encostados às casas, olhos vermelhos de doenças, clicava tudo.

O conflito sentia-se em todo o lado, em Bissau também, embora não houvesse relatos de episódios violentos dentro da cidade. Claro que via o que se passava, ouvia os helis5 pousar no Hospital, perto de Brá, eram quase vizinhos, tinha acesso por vezes a citreps e perintreps6, frequentava quase diariamente a 2.ª e a 3.ª Rep, almoçava com este e aquele, estava a par do que se passava em todo o território.

O Leite era companheiro das mesmas lides desde há anos. De baixa estatura, magro, enfezado, aparência tímida e muita lábia, via-se que era desenrascado há muito. Estiveram no mesmo curso em Mafra, seguiram juntos no navio “Carvalho Araújo” para os Açores e separaram-se no cais de Ponta Delgada.
Encontraram-se, de novo no mesmo navio, no regresso ao continente.
Mobilizados para a Guiné, apanharam o comboio em Santa Apolónia, para o norte, para gozarem os dias de licença a que tinham direito e reencontraram-se em Campanhã para o regresso a Lisboa. Passaram os dias na capital, despedindo-se da vida boa que lá se vivia, até embarcarem no “Alfredo da Silva”. Na véspera do embarque fizeram questão de mandar vir lagosta e champanhe francês, no “Solmar”, ali nas portas de Santo Antão.
Davam-se, nem sempre ligavam às mesmas coisas, nem eram muito parecidos mas entendiam-se bem. O acaso fizera com que se juntassem nesse percurso. Já em Bissau, com o Capitão Marques, o Black e outros companheiros da viagem, separaram-se, até um dia destes.

Numa dessas visitas ao QG soube que o Leite tinha desaparecido.
A comunicação oficial era confusa, não se sabia ao certo se tinha desertado ou sido apanhado. Certo é que tinha sido levado para Dacar.
O Leite estava a comandar um pelotão reforçado em Sare Bacar, no norte, um pouco a leste de Cuntima, encostado ao Senegal, uma zona calma. O PAIGC, na altura, servia-se das fronteiras do Senegal como corredores de passagem para o interior que o Shenghor7, problemas já tinha que chegassem.
Levava uma vida tranquila, mantinha boas relações com a população local. Terá sido abordado pela polícia, em território senegalês, quando, sentado a uma mesa, defrontava um frango de chabéu que lhe tinham preparado. Puseram-lhe as algemas e meteram-no num jeep a caminho de Koldá.
Depois de ouvido foi para a cadeia de Ziguinchor e por lá ficou umas semanas, enquanto se desenvolviam negociações, por intermédio da família, que o Estado Português não se meteu. A Igreja interessou-se, a Cruz Vermelha Internacional intercedeu, levaram-no para Dacar, onde foi presente a um juiz que decidiu recambiá-lo para Lisboa. Mas ele não queria, temia represálias, queria voltar a Sare Bacar. Semanas depois, acabou por ser entregue na fronteira às autoridades militares portuguesas. Soube isto da boca dele, dois ou três meses depois, na esplanada do tal Bento, momentos depois de ter sido chamado ao Governador-geral.
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Notas:
4 - Cupelon, Cupilão, Pilão: grande bairro popular atravessado pela estrada para o aeroporto
5 - Helicópteros Allouette-II e III
6 - Relatórios militares periódicos
7 - Presidente da República do Senegal.

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Entre eles

As relações entre eles eram as mesmas que se viam entre jovens de 20 e poucos anos. Alcunhas, anedotas sobre acontecimentos no mato, ciúmes, coisas pequenas que ocorrem, sempre que um grupo de jovens se vê obrigado a partilhar tudo. Entre alguns havia acordos tácitos de não-beligerância, entre outros, acordos havia que não previam isso.
Os furriéis dos grupos viviam em dois quartos seguidos. Oito em cada, quatro camas frente a frente.
Num daqueles quarto o cristo era o Marques. É um doente, coitado, uma doença incurável, Canjambari não tem tratamento, dizia um a cada passo.
O Marques tinha vindo de Canjambari, um buraco muito falado. Qualquer coisa servia para se meterem com ele. Tinha poder de encaixe, fora praticante de luta greco-romana, lá na Amadora dele.
Mas havia um ou outro que exagerava no gozo, tanto que o Azevedo, se começou a chatear também, estava a ser gozo a mais com o camarada do grupo dele. Se fosse comigo o assunto resolvia-se a murro.
Lá para os meus lados, nos Arcos de Valdevez, as mãos também servem para bater nas trombas dos gajos atrevidos. Treta, terá dito outro.
No regresso de uma saída, ansioso por um banho e pela cama, o furriel Azevedo entrou confiante no quarto. Camuflado, meias, botas, tudo directo para lavar, banho a seguir. Quando abriu o mosquiteiro da cama teve uma surpresa, em cima do lençol só se viam beatas de cigarro, uma ainda largava fumo. E os camaradas de quarto, a lerem e a escreverem, como se não fosse nada com eles.
Quem foi o cabrão que fez isto? Ninguém se acusa? Houve um, claro, por coincidência o tal da treta, que se adiantou, mal se levantou teve que tentar levantar-se de novo, de uma saraivada de socos que o tinham levado às cordas, neste caso ao cimento.

Eram muito diferentes. O furriel Azevedo tinha ossos, músculos, uma melena a cair-lhe para os olhos e um dente partido a meio por um murro. Rebelde, olhos de águia, andar felino.
O furriel Marques, ruivo, sardento, pele clara, olhos azulados, ar um pouco místico, era um sonhador. A tendência para mandar no quarto nem sempre era bem vista pelos outros e nunca pelo Azevedo.
Numa rua em Bissau, uma pequena troca de palavras e de olhos entre os dois deu lugar à marcação de um encontro nas traseiras dos quartos, logo que chegassem a Brá. Sem testemunhas. Deram as voltas todas que tinham a dar, até que regressaram ao quartel.
Depois, nas traseiras do edifício dos quartos, encontraram-se os dois, frente a frente, sem testemunhas, sem camisas e sem palavras mas, pelos resultados, com abundância de outros meios. Breves e tão eficazes que dali para a frente nunca mais tiveram problemas de comunicação.

A guerra espalhava-se a todo o território. Via-se que faltava muita coisa, armas mais compatíveis com o tipo de conflito. Mas não só, talvez até as armas fossem menos importantes. O que se via era falta de liderança, de crença, de um projecto que os unisse, na metrópole e na Guiné. Dizia quem vinha de férias, que, em Lisboa, ninguém sabia ou queria saber o que se passava na Guiné e isso tocava-lhes.
Para quê, estarem aqui, rodeados de arame farpado, se não tinham qualquer tipo de ligação àquela terra? Um sentimento de paragem, de perda de vidas e de projectos. Via-se neles todos, em todo o lado, estivessem em Suzana, Madina, Guilege ou em Cameconde. E mais, viam com desconfiança e até com mal disfarçada hostilidade aparecerem-lhe os comandos, na zona deles. A chegada destes implicava sempre sarilho, enquanto lá se mantivessem ou depois de abandonarem a zona.

Os Comandos levavam uma guerra limpa, higiénica, como se dizia. Saíam, faziam o serviço e regressavam na primeira oportunidade, deixando para trás a carga de sarilhos que vinha a seguir. Era a desvantagem da quadrícula, estarem fixos em povoações transformadas em quartéis, presos dentro do arame farpado, primeiro sem quererem sair e depois, em alguns casos, já sem poderem. Deixavam o mato para o PAIGC, em várias zonas dono e senhor daquelas florestas e dos caminhos.
Em Brá, outra vez para mais uns dias de descanso os comandos tratavam de se manter operacionais. Nas horas de lazer, iam para a cidade, para os conhecimentos que tinham adquirido. Eram tão disciplinados entre eles no mato, como insurrectos na cidade. Por isso, não era de admirar as queixas da Polícia Militar, nem as reclamações dos camaradas das outras unidades que repartiam com eles as instalações de Brá.
Para eles que faziam a guerra, que viam não só as caras como também as armas dos guerrilheiros, a questão estava reduzida a pormenores técnicos. A componente moral, a mais importante, ia-se gastando também com o tempo, a que não era nada alheia a convivência em Brá com batalhões recém-chegados e especialmente com os Adidos.
Estavam assim reduzidos às armas e aos divertimentos. Uma combinação explosiva, como se foi vendo ao longo daquele tempo.

(Continua)
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Nota do editor

Poste anterior da série de 14 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14876: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (VI Parte): A nossa causa é uma causa justa

Guiné 63/74 - P14921: 3 anos nas Forças Armadas (Tibério Borges, ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2726) (3): De Bissau para Cacine

1. Parte III de "3 anos nas Forças Armadas", série do nosso camarada Tibério Borges (ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2726, Cacine, Cameconde, Gadamael e Bedanda, 1970/72).


3 anos nas Forças Armadas (3)

Cacine

E passamos uma semana em Bissau. Aqui fizemos alguns patrulhamentos nocturnos para nos irmos ambientando ao terreno. Dos Açores ao Continente português a maneira de ser e viver era muito diferente mas muito mais era em África relativamente ao Continente. Mundos diferentes.
Em Bissau ouviam-se histórias tenebrosas de mortes, ataques, bombardeamentos, emboscadas, as mais diversas operações no hospital e sei lá que mais. Mas vivia-se intensamente a vida. A promiscuidade era enorme. A vida dos militares na retaguarda era um luxo. Pobres dos que estavam a chafurdar na frente de combate. Em breve iria saber isso o que era. O que me aconteceu até aqui foi encontrar um oásis no deserto. Daqui por diante iria deixar o oásis e entrar no deserto. Quase dois anos me esperavam na frente de combate. Não fazia a mínima ideia do que me esperava.


Em Bissau, 1970

Não me lembro de muitos pormenores mas recordo-me de estar numa LDG (lancha desembarque grande) rumo a Cacine e penso que de noite. Entramos no rio Cacine onde as águas se misturavam e depois de estudadas as marés para podermos desembarcar na margem esquerda onde estava sediado o quartel de Cacine. Ao longo dos cerca de dois anos que ali permanecemos os nossos abastecimentos vinham por mar nestas lanchas.


 LDGs


Cacine

Fomos render a Companhia de Caçadores 2445 em Maio de 1970.
Cacine era o último reduto do Sul da Guiné onde estavam tropas portuguesas tendo como segurança na retaguarda o lugar de Cameconde, havendo mais a norte dois quartéis, Gadamael e Guileje, onde existia o corredor da morte, corredor esse que dava entrada ao armamento do PAIGC da Guiné Konacry para o interior da Guiné Bissau.

Logo à saída do quartel havia as habitações dos residentes de Cacine para mais perto de Cameconde existir ainda outra povoação, a Tabanca Nova. Entre Cacine e Cameconde com paragem na Tabanca nova fazíamos o trajecto diário, picando o caminho a fim de detectar alguma mina. Era necessário abastecer Cameconde e manter seguro esta picada. Além de cada um estar armado acompanhava-nos as “Daimlers”, Unimogs e a GMCs com sacos de areia como lastro. Todos os meses havia a mudança de pelotões de Cacine para Cameconde e vice-versa.

O lugar de Cacine situado na margem esquerda do rio Cacine era um lugar aprazível e não muito longe do mar. As marés eram muito acentuadas e como tal para navegar neste rio havia que ter em conta as marés. Fora do quartel e na margem do rio havia praia da qual desfrutamos bons momentos. Pena é a guerra ter condicionado o dia-a-dia destas populações que bem podiam desfrutar do seu modo de vida peculiar.


O pôr-do-sol era lindo. Em contraste a vida dura que a população levava derivado aos condicionalismos no terreno imposto pela situação militar portuguesa.


Este Unimog tem uma história que se passou com ele ao ficar uma noite na praia devido a não se conseguir tirá-lo pois as rodas enterraram-se na areia. Seria necessário a GMC para o puxar. E porque isso não aconteceu nesse dia não sei. O que me lembro é que a maré, quando encheu, provocou um curto-circuito no sistema eléctrico do carro e com o movimento das águas a luz começou a acender e a apagar. Isto durante a noite. Uma das sentinelas ao aperceber-se desta alternância de luz começou a disparar. A malta foi logo para os abrigos e foi o descarregar de uma tensão que se vinha acumulando duma notícia que iríamos ter um ataque aos arames. As armas desenferrujaram-se, a tensão desapareceu e tudo voltou ao normal no dia seguinte.

Nestas margens do rio a população apanhava as tão saborosas ostras com as quais nos deliciávamos. Eram bem graúdas. Era uma maneira de enriquecer o PIB local. A pesca era outro meio de sobrevivência. A caça fazia parte do modo de viver e lembro-me bem da carne do animal “monte” que era bem saborosa. A mancarra (amendoim) era outro produto.
A praia era um lugar para mitigar a solidão nestas paragens.

A vertente religiosa era bem acentuada onde em grupo ou em individual a oração fazia parte da vida. Um factor mais forte pesava na religiosidade que era a situação da guerra. Nos tempos difíceis o ser humano agarra-se a algo para além do que é material pois a impotência do humano perante os acontecimentos leva-o a pensar no sentido da vida.

Capela de Nossa Senhora de Fátima

A Capela de Nossa Senhora de Fátima estava ali para nos receber em grupo ou em particular, até os mortos que vinham de dois quartéis mais acima, Gadamael e Guileje. E foram muitos. O Carapeta de tanta pancadaria que apanhou teve que ser rendido mais cedo. Lembro-me dum capitão, de nome Ascensão (penso), dum desses quartéis ter sido morto numa emboscada. Eram notícias que nos congelavam as veias.

 Mesquita

Por outro lado a população que vivia ao lado do nosso aquartelamento era muçulmana e como tal aprendia a sua religião e costumes. E tinham a sua mesquita. Com a sua conjuntura social própria o encarregado de educar as crianças na religião muçulmana reunia-as e sentadas no chão aprendiam o Corão.

Na medida em que o tempo ia passando as saudades das notícias dos nossos entes queridos aumentavam e os aerogramas (envelopes-carta distribuídos pelo MNF) funcionava como meio de comunicação. Mas nem sempre o correio vinha directamente para o nosso quartel mas sim para outro ao lado e mais acima rio, Gadamael. Por isso era necessário lá ir de sintex e saber das marés porque só quando estava cheia era possível atracar no porto. Uma vez a maré já estava em posição avançada de baixar mas mesmo assim aventuramo-nos a lá ir ficando para o outro dia o regresso.

Lembro-me que quando lá chegamos a maré já estava em fase adiantada de abaixamento e por isso tivemos que arrastar o sintex até lugar seguro, amarrá-lo e tiramos as botas, arregaçamos as calças, enterramos os pés no lodo e chegamos a terra firme. Cortei a sola dos pés penso que por causa das conchas das ostras.


Na altura não medíamos a dimensão do perigo que nos rodeava pois a conjuntura política estava longe da nossa noção real da Guiné. Dizia-se que do outro lado da margem do rio, que ficava bem afastada, era mato denso. Portanto o perigo de sermos atacados dali não se avizinhava na nossa realidade. Cacine era o último reduto do sul rodeado de mata e água, havendo apenas uns carreiros pelo lado de Cameconde onde tínhamos o nosso destacamento. Era a retaguarda de Cacine. O enquadramento geo-estratégico de Cacine era bom. Plantado à beira rio com a população mais a interior o nosso quartel estava bem posicionado tendo ligação por um caminho que passava pela Tabanca Nova a caminho de Cameconde. O interior do quartel abrangia a messe dos Oficiais com condições más, vistas em 2009 mas que na altura até não eram más. Hoje ao olharmos para trás é que nos arrepiamos ao vermos onde estávamos instalados. Fazia parte, ainda, a messe dos sargentos, as Transmissões, a secretaria, a oficina mecânica, o refeitório, o local da PIDE, a nora de onde tirava a água, a capela…
Como em todos os quartéis havia a disciplina militar com os seus usos e costumes. Logo de manhã o tocar da alvorada e à noite o arrear da bandeira à qual se prestava homenagem.

Na Guiné penso que todos os quartéis tinham a sua pista para as avionetas. Este meio de transporte servia tanto para civis como para militares. Uma vez fui para Bissau gozar um artigo do RDM que me dava 5 dias longe do mato e comigo iam também civis. Estes monomotores sobrevoavam toda a Guiné, penso e noutra vez o motor, que era posto a trabalhar pegando numa haste da hélice e rodando-a, parou simplesmente dizendo o piloto que no ar não parava.


No isolamento em que vivíamos tudo que era fora do comum era novidade e uma atracção que quebrava a monotonia da nossa existência.
Fora do quartel e para os lados da Praia existia uma viatura fora de serviço, velha e estanque. Ao se passar por ela explorávamos a viatura pois na altura tudo era novidade. Estávamos em 1970. Mas conduzir um jeep sem ter carta era entusiasmante assim como um Unimog. Foi aprendendo assim que numa das férias que fui a S. Miguel tirei carta no quartel em Belém.



Entre Cacine e Cameconde havia diariamente um patrulhamento para assegurar a vigilância na zona e para deslocar toda a gama de material quer alimentício quer de armamento ou outra coisa qualquer.
Para isso um pelotão de 25 homens, 3 furriéis (no meu caso apenas dois), pessoal de transmissões, um pelotão de milícias que seguia na frente a fazer a picagem, as viaturas com os respectivos condutores (Unimog, Daimlers, GMC com a arma “Browning” com lastro de sacos de areia). Munidos de G3, metralhadora HK21, bazuca, não me lembro de morteiro 60 fazíamos o percurso para o qual já tinham seguido a milícia a fazer a picagem.

O obus 14 fazia parte da nossa segurança em que a artilharia fazia uso dele sobretudo em Cameconde. Era uma arma que mandava um rebuçado de 45 kg e que metia respeito.


O sector da “ferrugem”, oficinas de viaturas, era sui generis. Com espírito próprio e adquirido por um grupo pequeno era ali que a folia parecia brotar. Uma viola fazia parte da farra que acompanhada com umas ostras cozidas em meio bidão faziam a delícia de quantos tomavam parte dela. Eram estes uns dos poucos momentos que faziam esquecer o isolamento, o afastamento da família ou da mulher e filhos.

"Ferrugem"

Texto e fotos: © Tibério Borges
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14879: 3 anos nas Forças Armadas (Tibério Borges, ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2726) (2): Passagem pelo BII 18 de Ponta Delgada, IAO no RI 11 de Setúbal e embarque em Lisboa no Ana Mafalda

Guiné 63/74 - P14920: Notas de leitura (739): Parabéns ao nosso camarada Mário Cláudio / Rui Barbot Costa [, ex alf mil, secção de justiça, QG, Bissau, 1968/70], Grande Prémio de Romance e Novela APE/ DGLAB - 2014, atribuído ao seu último livro "Retrato de rapaz"

© Mário Cláudio.
Cortesia de Bookoffice
1. Parabéns ao Mário Cláudio, pseudónimo literário do nosso camarada e membro da nossa Tabanca Grande, Rui Barbot Costa  [, nascido no Porto, em 1941,  ex-alf mil, na secção de justiça, QG, Bissau, 1968/70, foto atual à direita], chegado até nós pelo braço de outros dois camaradas, o Carlos Nery e o saudoso João Barge (1944-2010)...  Recorde-se que os três participaram num espectáculo teatral, inédito em Bissau, estreado em 5/4/1970: a peça de Ionesco, "A Cantora Careca", encenada pelo Carlos Nery.

A Associação Portuguesa de Escritores (APE) acaba de atribuir o Grande Prémio de Romance e Novela APE/ DGLAB - 2014, ao livro Retrato de Rapaz, editado sob a chancela da Dom Quixote.

Capa do livro, editado pela Dom Quixote,   
Segundo notícia da própria APE,  o júri, constituído por José Correia Tavares, que presidiu, Ana Paula  Arnaut, Isabel Cristina Mateus, Maria João Cantinho, Miguel Miranda e  Miguel Real, ao reunir pela 3.ª vez, deliberou maioritariamente, pois  Isabel Cristina Mateus e Maria João Cantinho votaram em Impunidade,  de H. G. Cancela (Relógio D’Água).

Mário Cláudio já tinha sido premiado, há 30 anos, com o livro Amadeo. Junta-se assim a  Vergílio Ferreira, António Lobo Antunes, Agustina Bessa-Luís e Maria  Gabriela Llansol, únicos autores que entretanto bisaram.

Foram admitidos 86 livros a concurso, de 64 homens (1 com 2 romances) e 21 mulheres, com a chancela de 35 editoras.  Na 2.ª reunião,  o júri já destacara 5 finalistas.

Desde que foi instuído em 1982, o prémio já foi atribuído a 28 autores (15 homens e 13 mulheres), de 18 editoras. O seu valor é de 15 mil euros.

O Grande Prémio de Romance e Novela APE/DGLAB, teve, nesta 33.ª edição, o patrocínio da Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, Fundação Calouste Gulbenkian, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Instituto Camões e Sociedade Portuguesa de Autores. (***).

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Notas do editor

(*)  Mário Cláudio > Biografia >

(...) Mário Cláudio é o pseudónimo literário de Rui Manuel Pinto Barbot Costa, nascido a 6 de Novembro de 1941, no seio de uma família da média-alta burguesia industrial portuense de raízes irlandesas, castelhanas e francesas, e fortemente ligada à História da cidade nos últimos três séculos. Filho único, foi primeiro instruído por um professor particular, tendo prosseguido os estudos, até à conclusão do liceu, sob a rígida batuta dos padres do Colégio Almeida Garrett (actual Teatro do Bolhão, no Porto). 

Começou o curso de Direito em Lisboa e terminou-o em Coimbra (1966), onde viria a diplomar-se novamente, em 1973, com o Curso de Bibliotecário-Arquivista. Pelo meio, a Guerra Colonial e uma mobilização para a Guiné, na secção de Justiça do Quartel General de Bissau. Antes de partir, em 1968, entrega ao pai, pronto para publicação, o seu primeiro livro de poemas, Ciclo de Cypris, publicado no ano seguinte.

Pouco depois de assumir a direcção da Biblioteca Pública Municipal de Vila Nova de Gaia, foi bolseiro da Fundação Gulbenkian, tendo obtido o título de Master of Arts em Biblioteconomia e Ciências Documentais (1976), pela Universidade de Londres, defendendo uma tese que seria parcialmente publicada com o título Para o Estudo do Analfabetismo e da Relutância à Leitura em Portugal, o único livro que assinou com o seu nome civil. 

Ainda durante a década de 70 publica dois livros de poesia, um romance, uma novela, um livro de viagens em colaboração e uma antologia de textos sobre Gaia. Pertenceu sucessivamente à Delegação Norte da Secretaria de Estado da Cultura, ao inacabado Museu da Literatura e à direcção da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto. Em 1985, iniciou-se como professor na Escola Superior de Jornalismo do Porto e, actualmente, é professor convidado da Universidade Católica do Porto e da Fundação de Serralves.

Em 1984, por convite de Vasco Graça Moura, escreve Amadeo, biografia do pintor futurista Amadeo de Souza-Cardoso – ou «psico-socio-biografia», nas palavras do autor – e início da premiada Trilogia da Mão, na qual o escritor abordou a vida e obra de outras duas figuras artísticas nortenhas, a violoncelista Guilhermina Suggia (Guilhermina) e a barrista Rosa Ramalha (Rosa). Através dos três artistas, tipificou distintos estratos sociais (aristocracia, burguesia, povo) e o «imaginário nacional», entre o virar do século XIX e meados do século XX. Nesta primeira trilogia, o autor romanceia o próprio processo de biografar, através de uma escrita fragmentada, mais sensorial que objectiva. 

Seguiu-se a publicação de um segundo tríptico (A Quinta das Virtudes, Tocata para Dois Clarins e O Pórtico da Glória), onde a História volta a cruzar a ficção, mas desta feita incorrendo na autobiografia familiar. Entre 2000 e 2004 publicou uma outra trilogia, composta por Ursamaior, Oríon e Gémeos, e que é descrita pelo autor como relacionada com «situações de alguma marginalidade» e «discurso problemático com o poder», transversais a três gerações de personagens, uma por volume.

A História, a Cultura, a Pátria, a Identidade Nacional e Pessoal são o coração das aturadas pesquisas do escritor Mário Cláudio, resultando em obras que dificilmente podem ser rotuladas de «romances históricos», correspondendo antes à preocupação de revisitar, ou mesmo rever, episódios marcantes da cultura portuguesa, e onde os factos reais são inspiração e ponto de partida para imaginativas demonstrações. Melhor dizendo, para usar palavras do autor: «toda a biografia é um romance».

O autor está traduzido em inglês, francês, castelhano, italiano, húngaro, checo e serbo-croata. Foi condecorado com a Ordem de Santiago de Espada e, em 2004, recebeu o Prémio Pessoa.
Centro de Documentação de Autores Portugueses
02/2005

(Excerto, reproduzido com a devida vénia do sítio DGLAB - Direção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas)

Para saber mais sobre Mário Cláudio e a sua já vastíssima obra, clicar aqui em Bookoffice. Vd. também, uma entrevista recente dada ao Público. 27/3/2015.

(**) Sinopse da obra (144 pp.)

Retrato de Rapaz - CLÁUDIO, MÁRIO
Um discípulo no estúdio de Leonardo da Vinci

Um discípulo no estúdio de Leonardo da Vinci.

Farto do descaminho de Giacomo, o pai vem deixá-lo ao estúdio de banho tomado, mas ainda com andrajos e piolhos, para que o artista que exuma cadáveres e constrói máquinas voadoras o endireite e faça dele seu criado. A beleza do rapaz impressiona, porém, Leonardo, que logo pensa nele para um anjo, concluindo porém que lhe assentam melhor corninhos de diabrete, e assim o rebaptizando como Salai. Serão, de resto, os pecadilhos do rapaz que o farão cair nas boas graças do amo e o elevarão à categoria de aprendiz sem engenho mas com descaramento para emitir opiniões, borrar a pintura, traficar pigmentos e até surripiar desenhos. E, num jogo de pequenas traições mútuas, vai-se criando entre Salai e o pintor uma cumplicidade que os aproximará como se fossem pai e filho. Mas eis que irrompem na vida de ambos Três Graças viciosas que semeiam a discórdia e o ciúme, ameaçando fazer esmorecer a estrela que os reuniu…

Retrato de Rapaz é uma novela fulgurante sobre a relação entre mestre e discípulo, nem sempre isenta de drama e decepção, e sobre a criatividade de um artista genial em tudo, mesmo na gestão dos seus afectos. Com a presente obra, Mário Cláudio compôs, com a arte e a mestria a que nos habituou, um retrato belíssimo que pode ser apreciado como uma pintura.

Fonte: Cortesia de Leyaonline

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14919: Inquérito online: Resultados preliminares (n=115) a dois dias de encerrar a votação: menos de metade da malta (47,8%) utilizou os CTT para telefonar para a casa (leia-se: metrópole). Mesmo assim, parece que era mais fácil em Bissau, capital do território, do que no mato...

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Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Quartel > Foto 32 >

"Cerimónia militar em fevereiro de 1968, por ocasião da imposição à CART 1689 da Flâmula de Honra (ouro) do CTIG, atribuída em julho de 1967. Edifício do comando. Presença de militares, civis da administração, correios e comerciantes locais."


Da esquerda para a direita, e segundo indicação do fotógrafo:

 (1) de costas, o cap médico Morais que está a falar com um outro um militar, de camuflado, não  identificao;

(2) o comandante do BART 1913, ten cor Abílio Santiago Cardoso; 

 (3) quatro funcionários dos Correios e Administração; 

(4) o comerciantes sr. José Saad [, libanês,] e filha (pequena); (4) o comerciante, sr. Mota: 

(5) o comerciante Sr. Dantas  de fato escuro, e a filha; 

(6) o comerciante sr. Barros; 

(7) o electricista civil Jerónimo: 

(J) e, por fim, o alf graduado capelão Horácio [Neto Fernandes].



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Quartel > Foto 32 A > Pormenor; quatro funcionários dos correios (à esquerda), seguidos de quatro comerciantes; o libanês José Saad (e filha), o  Mota, o  Dantas (e filha) e  o Barros.


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Vila > Foto 16 > "Uma vista tirada da Rotunda, onde se vê uma DO-27 sobrevoando a zona do quartel, à direita a zona da antiga messe de oficiais e a antena dos Correios à esquerda."



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Vila > Foto 17 > "Foto tirada da torre da Igreja no sentido do Quartel, vendo-se o depósito de água deste, a torre dos Correios, em baixo a rua das Palmeiras."

Fotos (e legendas) de Catió: Victor Condeço (1943/2010) / © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Todos os direitos reservados




I. Resultados preliminares da sondagem desta semana (que termina 6ª feira, dia 24,  às 14h45). Até às 19h00 de hoje tinham votado 115. 

(i) menos de metade da malta (47,8%) utilizou os CTT para telefonar para a casa (leia-se: metrópole);

(ii) mesmo assim, parece que era mais fácil conseguir uma ligação telefónica em Bissau, capital do território, do que no mato, nalgumas (poucas) povoações mais importantes, sedes de concelho  e postos administrativos,  onde havia estações dos CTT:

(iii) as ligações para a metrópole, a partir das estações dos CTT,  tinham dia e hora marcada (,mesmo em Bissau);

(iv) já ninguém se lembra do tarifário: quanto custava uma chamada (, julgo que via Marconi,) para a metrópole, por minuto ? 

(v) e, já agora que falamos de CTT... qual era a via normal para o envio e receção das encomendas postais ("slides", livros, jornais e revistas, fumeiro, bacalhau. etc.) ? Era o SPM (servço postal militar) ou os CTT ?...

(vi) e as grandes antenas de telecomunicações que viamos nalgumas destas povoações (por ex., Bambadinca, Catió)... eram civis ou militares ? quem as montou ? e quando ? quem as explorava ? quem fazia a sua mautenção ?

Se alguém souber e quiser falar sobre os serviços prestados pelos CTT na Guiné, tem o blogue à sua disposição... 

SONDAGEM: "NA GUINÉ, DURANTE A COMISSÃO, UTILIZEI OS CTT PARA TELEFONAR PARA CASA"

1. Sim, em Bissau > 30 (26,1%)

2. Sim, fora de Bissau > 15 (13,0%)

3. Sim, em Bissau e fora de Bissau > 10 (8,7%)

4. Não, nunca utilizei >  59 (51,3%)

5. Já não me lembro > 1 (0,9%)

Mude o seu voto
Votos apurados: 115 
Dias que restam para votar: 2 

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Nota do editor:

Vd. poste de 29 de julho de 2015 > Guiné 63/73 - P14901: Sondagem: Mais de 54% do pessoal nunca telefonou para a metrópole, durante a comissão, usando os CTT... Resultados preliminares (n=81), quando faltam 4 dias para "encerrar as urnas"...

Guiné 63/74 - P14918: Álbum fotográfico de Carlos Alberto Cruz , ex-fur mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió e Cachil, 1964/66)



Foto nº 1 > Lisboa, 8/1/1964, a ponte sobre o Rio Tejo, em construção: imagem do pilar norte, tirada do T/T Quanza. Uma foto notável com esta obra, emblemátca do Estado Novo, cuja construção demorou 3 anos e meio (novembro de 1962 a agosto de 1966). No regresso, o BCAÇ 619 já passou sob o tabuleiro da ponte...



Foto nº 2 > Lisboa, 9/1/1964 > O N/M Quanza, no cais da Rocha Conde de Óbidos


 Foto nº 3 >  Lisboa, 8/1/1974 > O Carlos Criz no dia da partida, no cais da Rocha Conde de Óbidos (... e não de Alcântara)... Era daqui que partiam os navios da nossa marinha mercante para as "ilhas adjacentes" e as "províncias ultramarinas"... O cais de Alcântara estava reservado às carreiras internacionais...


Fotop nº 4 > Guiné > Região de Tombali > Catió > c. 1964/66 > Aspeto geral da vila, que foi sede do BCAÇ 619 (1964/66)


Fotop nº 4 A > Guiné > Região de Tombali > Catió > c. 1964/66 > Em prijmeiro plano, instalações ocupadaas pelo  BCAÇ 619 (1964/66) (1): em segundo plano, a igreja de Catió



Fotop nº 4 B > Guiné > Região de Tombali > Catió > c. 1964/66 > Em prijmeiro plano, instalações ocupadas pelo BCAÇ 619 (1964/66) (2)



Fotos do álbum do nosso camarada Carlos Alberto [Rodrigues]   Cruz, ex-fur mil, CCAÇ 617/BCAÇ 619, Catió e Cachil, 1964/66), membro da nossa Tabnca Grande desde 20/1/2014 e frquentador da Magnífica Tabnaca da Linha.

Sobre Catió (vila, quartel, porto interior e porto exterior, e ainda Ganjola), vd. o valiosíssimo e vasto  álbum fotográfico do Victor Condeço (1943-2010) que foi fur mil mec armamento da CCS/BART 1913 (Catió, 1967/69). Pesquisar em Google Imagens = Catió + "Victor Condeço".


Fotos (e legendas): © Carlos Alberto Cruz (2014). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: LG]


1. A CCAÇ 617 comemorou o ano passado o 50º aniversário da sua partida para  Guiné: foi a 8/1/1964, a bordo do T/T Quanza. Estas fotos que publicamos,  com a devida autorização do autor, foram "postadas" no blogue CCAÇ  617 - Guiné, com data de 3 de janeiro de 2014, e também já pubicadas, algumas, no nosso blogue, as da partida de Lisboa. 

Além da CCAÇ 617, embarcaram também no T/T Quanza  as restantes subunidades que pertencaim ao BCAÇ 619; as CCAÇ 616, 618 e 619

Recorde-se, resumidamente, o historial do BCAÇ 619 (Catió, 1964/66)

Carlos Alberto Cruz: Lisboa, Cais da Rocha
Conde de Óbidos, 8/1/1964

(i) Mobilizado pelo Regimento de Infantaria nº 1, Amadora;

(ii) sob o comando do Tenente-coronel de Infantaria Narsélio Fernandes Matias; 2º Comandante o Major de Infantaria Manuel de Jesus Correia; e como Oficial de Informações e Operações/adjunto o Capitão de Infantaria Rogério Jorge Vale de Andrade; comandante da Companhia de Comando e Serviços (CCS)  era o Capitã SGE José Francisco Galaricha;

(iii) dvisa: “Sentinela do Sul”;

(iv) embarca em Lisboa no dia 8 e desembarca em Bissau a 15 de Janeiro de 1964;

(v) em 17 de janeiro de 1964 assume a responsabilidade do Sector F, substituindo o Batalhão de Caçadores nº 356;

(vi) tem a sede em Catió e os subsetores de Catió, Empada, Bedanda e Cabedú;

(vii) integrou a  Operação Tridente (Ilha do Como, de 5 de Janeiro a 24 de Março de 1964);

(viii) passou a integrar na sua zona de acção o subsetor de Cachil;

(ix) entre as operações que coordenou destacam-se as operações “Broca”, “Campo”, “Razia” e “Satan”, tendo apreendido 1 metralhadora pesada, 4 ligeiras, cerca de meia centena de espingardas e   pistolas metralhadoras, 30 minas e 59 granadas de armas pesadas;

(x) no  dia 11 janeiro 1965 o setor passa a ser designado por Setor S 3 e em 17 de janeiro de 1965 passa a incluir o subsetor de Cufar, então criado na sua zona;

(xi) com as populações dispersas, a 17 de março de 1965 iniciou a experiência de reagrupamento de populações, sendo criada a tabanca de Ualala, para o efeito;

(xii) é rendido em 21 de janeiro de 1966, pelo BCAÇ 1858, seguindo para Bissau w ficando a aguardar embarque.


Guiné 63/74 - P14917: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (11): Tatuagem de António Baraçal, alfacinha, que passou pelo CTIG entre janeiro e outubro de 1974, integrado numa companhia de comandos... É frequentador da Praia da Areia Branca.


Foto nº 1


Foto nº 2

Lourinhã > Praia da Areia Branca > 6 de julho de 2015 > Braço tatuado de um veraneante que foi nosso camarada no TO da Guiné > Costuma passar férias na Praia da Areia Branca, já o encontrei pelo menos três vezes. Chama-se António Baraçal, "Tony", é lisboeta de gema, e trabalha ou trabalhou na EPAL.

Diz que pertenceu a uma companhia de comandos, comandada por um tal capitão Branco (se bem percebi, já que a nossa conversa foi à beira-mar, com ruído ambiente)... Ora não existe nenhum capitão comando com este apelido, de acordo com a página da associação de comandos que consultei; a última a chegar ao TO da Guiné foi a CCmds 4041/73, chegou a 16/5/1974 e regressou menos de dois meses depois, a 4/7/1974; esteve em Teixeira Pinto, era comandada  pelo alf mil cmd Albano Manuel Monteiro de Albuquerque e foi render a 38ª CCmds (1972/74).

 Não lhe ocorreu o nº da companhia, Esteve no TO da Guiné entre janeiro e outubro de 1974.  "Fui lá fechar a guerra". Para lá foi nos TAM; para cá veio no T/T Uíge. De janeiro a março de 1974 não houve embarque de tropas para a Guiné. É possível então que o António Baraçal fosse de rendição individual e tivesse ido parar à CCS de algum batalhão,. e que essa companhia de comando e serviços fosse comandada pelo tal capitão Branco... Enfim, problemas da comunicação humana... Se voltar a encontrá-lo na Praia da Areia Branca, tento esclarecer este ponto.

De qualquer modo, registe-se aqui os batalhões, 3 de 1973 e 2 de 1974,  com as últimas tropas que saíram da Guiné, em 14/10/1974:

BART 6521/74 (Ingoré, Bissau)
BCAÇ 4612/74 (Mansoa, Brá)
BCAÇ 4510/73 (Catió)
BCAV 8320/73 (Bissorã, Bissau)
BCAÇ 4610/73 (Bissau, Piche, Bula, Bissau)

O Tony disse-me que estas tatuagens eram feitas a 4 agulhas... Não tive tempo para perceber a técnica (que não era muito apurada, a avaliar pelo traço grosso) e fazer-lhe mais perguntas... Embora simples, o padrão icónico é diferente de alguns que tenho visto: uma morança e um coqueiro erguidos numa ilhota (vd. foto nº 1)... Por baixo tem os dizeres: "Guiné-74  Tony".  Estamos a falar do braço direito. No braço esquerdo, há apenas uma  vulgaríssima tatuagem com os dizeres "Amor de pais" (foto nº 2)... Sobre tatuagens, temos apenas duas ou referências no blogue.

Mostrou-se agradavelmente surpreendido e colaborante quando lhe pedi autorização para tirar uma "chapa" e pôr no blogue... (LG)

Foto (e legenda): © Luís  Graça (2015). Todos os direitos reservados
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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14905: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (10): Não, nunca percebi para que serviam os CTT no CTIG... Notícias de Alhandra, da minha família, por ocasião da tragédia, as grandes inundações, de 25 para 26 de novembro de 1967, que atingiram a Grande Lisboa, recebi-as através de telegrama militar... (Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)