Caro Amigo Carlos Vinhal
Junto envio o texto em epígrafe, no qual relato a minha vida, com relevo para a vida militar e dou algumas informações relativas ao próximo livro que comecei a escrever.
Um Abraço Amigo
Coutinho e Lima
************
CLUBE DOS OCTOGENÁRIOS
Narrativa de 80 anos de vida
Ao entrar, por direito próprio, no Clube dos Octogenários, entendi fazer o que agora se designa como “narrativa” dos meus 80 anos de vida. É o que se segue.
Nome: Alexandre da Costa Coutinho e Lima
Nascimento: 21 de Setembro de 1935
Local: Freguesia de Vila Fria – Concelho de Viana do Castelo
Instrução Primária: 4 Classes, na Escola Primária de Vila Fria
Ensino Secundário: 5 anos no Liceu Nacional de Viana do Castelo 6.º e 7.º anos, no Liceu Camões, em Lisboa
Vida militar, postos, colocações e funções
Escola do Exército – 1953/56
- 53/54 – Curso Geral Preparatório, no Aquartelamento da Amadora
- 54/56 – Curso de Artilharia, em Gomes Freire
Tirocínio para Oficial – 56/57 – na Escola Prática de Artilharia (EPA), em Vendas Novas.
Tive o privilégio de ter, como Comandante da Bateria de Instrução, o Sr. Capitão de Art.ª ERNESTO PASSOS RAMOS, um dos mais prestigiados Oficiais do Exército Português. Foi barbaramente assassinado pelo PAIGC (era Major), juntamente com outros Oficiais, em Abril de 1970, na região de Pelundo/Jolmete – Guiné.
Alferes e Tenente – 1957/61
- Regimento de Artilharia Pesada n.º 2 – Serra do Pilar – V. N. de Gaia.
Durante este período, frequentei:
- Curso de Observador Aéreo de Art.ª na EPA e Base Aérea 3 – Tancos .
- Curso de Instrutor de Educação Física Militar, no CMEFED (Centro Militar de Educação Física, Equitação e Desportos), em Mafra.
Capitão – 1961/70
- Regimento de Artilharia Ligeira n.º 2 – Coimbra
- CMEFED
- CTIG (Comando Territorial Independente da Guiné) – 1.ª Comissão – 63/65
Comandante da CART (Companhia de Artilharia) n.º 494 - Gadamael
- CMEFED
- CTIG – 2.ª Comissão - 68/70
Adjunto da Repartição de Operações do Comando-Chefe - Bissau
- Academia Militar
Major – 1970/76
- Academia Militar
- CTIG – 3.ª Comissão (72/74)
Centro de Instrução Militar (CIM) em Bolama - Director de Instrução
Comandante do Comando Operacional n.º 5 (COP 5) – Guileje
Bissau - Prisão Preventiva (MAI 73/MAI 74), como consequência da Retirada de Guileje
- Estado Maior do Exército – 5.ª Repartição
- Quartel General da 3.ª Divisão – Santa Margarida – Chefe de Estado Maior (CEM)
- Academia Militar – Gabinete de Estudos
- Escola de Artilharia dos Estados Unidos da América – Fort Sill, Oklahoma
Curso Avançado de Artilharia – Field Artillery Officer Advanced Course (2-76)
Tenente Coronel - 1977/82
- Academia Militar
- Comando da Área Ibero-Atlântica (COMIBERLANT) – Oficial de Pessoal e Segurança (JUL 77/NOV 80)
- Quartel General da Região Militar dos Açores (QG/ZMA) - CEM
- Centro de Instrução de Artilharia Anti-Aérea e Costa (CIAAC) – 2.º Comandante
Coronel – 1982/89
- Direcção do Serviço de Educação Física do Exército (DSEFE) – Inspector
- QG/ZMA – CEM
- DSEFE – Inspector
Passagem à situação de Reserva – 1 de Setembro de 1989
Passagem à situação de Reforma – 1 de Setembro de 1995
Desempenho de funções não militares
- Director de Segurança do Metropolitano de Lisboa – 1989/1997
- Presidente da Direcção da Casa do Minho em Lisboa – 1988/89; 1992/93
************
Depois desta descrição, penso que posso concluir que tive, durante 80 anos, uma vida militar muito variada e intensa, tendo aprendido sempre em todas as situações e circunstâncias.
Nas actividades, em tempo de paz, saliento as dedicadas à Educação Física: Curso de Instrutores no CMEFED (58), onde fui Instrutor em 62/63 e 65/68; mais tarde prestei serviço na DSEFE, antes e depois de ter sido, com o Posto de Coronel, CEM do Q/ZMA; na DSEFE desempenhei a função de Inspector.
Na guerra, têm especial relevância as 3 Comissões, por imposição, na Guiné, nas quais conheci os 3 Comandantes-Chefes: Senhores Generais ARNALDO SCHULZ, ANTÓNIO DE SPÍNOLA e BETTENCOURT RODRIGUES. Por esta razão, tive oportunidade de verificar a evolução da guerra: no que respeita o IN, desde o baptismo de fogo, em 17 SET 63 (primeiro dia da CART 494, que eu comandava, em Ganjola – Norte de Catió) – 1.ª Comissão, até ao ataque em força a Guileje (3.ª Comissão), no período de 18/22 MAI 73, onde eu era o Comandante do COP 5.
Relativamente à actividade operacional, na 1.ª Comissão, a CART 494 (integrada no BCAÇ 513 – sede em Buba), ocupou a localidade de Gadamael (com um destacamento em Ganturé), materializando no terreno a Missão atribuída ao Batalhão, pelo Sr. Comandante-Chefe, Sr. General Arnaldo Schulz, de ocupar a fronteira Sul com a Rep. da Guiné Conacri. As outras posições ocupadas pelas NT foram Guileje, Sangonhá (com um destacamento em Cacoca) e Cameconde - destacamento da Companhia com sede em Cacine.
Na 2.ª Comissão, como Adjunto da Repartição de Operações do Comando-Chefe, em Bissau, (era Comandante-Chefe o Sr. General Spínola), tive oportunidade de viver a outra face da guerra, esta muito mais confortável.
Na 3.ª Comissão, (ainda era Comando-Chefe o Sr. General Spínola) com o posto de Major, comecei por ser Director de Instrução do Centro de Instrução Militar (CIM) em Bolama e a seguir Comandante do COP 5, em Guileje; em 22 MAI 73, decidi retirar desta localidade todos os militares, milícias e população, por ter considerado, face à negação de reforços, solicitada ao Comando-Chefe, conjugada com a intensa e constante pressão do IN (37 flagelações em 80 horas), a posição insustentável.
Como consequência, foi ordenada a minha prisão preventiva, com a instauração de um auto de corpo de delito.
Sobre este assunto escrevi o livro “A Retirada de Guileje”.
Presentemente, estou a escrever um 2.º livro (ainda na fase inicial), cujo título será “As minhas 3 Comissões, por imposição, na Guiné”.
Relativamente à 3.ª Comissão, não faz nenhum sentido e não o farei, repetir o que consta no livro já publicado. Nestas condições, é minha intenção:
- incluir no próximo livro, cópia da “Acta da Reunião de Comandos realizada em 15 de Maio de 1973, no Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, em Bissau” ; é um documento da maior importância, que será objecto de dois comentários: um sobre o seu conteúdo geral; outro analisando a decisão da retirada de Guileje, face ao que consta, na referida acta, das declarações de alguns dos participantes, nomeadamente o Sr. Comandante Adjunto Operacional e os Senhores Chefes das Repartições de Informações e Operações;
- publicar as críticas, positivas ou negativas, que chegaram ao meu conhecimento, sobre “A Retirada de Guileje”; das críticas negativas, algumas muito contundentes, destaco as de 4 Senhores Oficiais da Força Aérea (todos Pilotos Aviadores): 3 Oficiais Generais e 1 Tenente Coronel;
- solicitar, a todos os militares que estavam em Guileje, no período de 18/22 MAI 73, uma opinião sobre a decisão de retirar de Guileje, se assim o entenderem.
Importa referir que, destes militares, apenas um apresentou no nosso blogue, uma crítica, muito severa, sobre este assunto – Soldado Constantino Costa; embora eu lhe tenha respondido, a opinião deste militar perde toda a credibilidade, ao afirmar que os relatórios de operações da Companhia eram todos iguais (qualquer que fosse a missão), apenas mudava a data e que, depois do 25 de Abril (na sua designação 25 A), fora eleito representante dos Oficiais, Sargentos e Praças da Companhia, junto da estrutura do MFA na Guiné; tais afirmações, como terei oportunidade de provar, são puras mentiras.
Aproveito esta oportunidade para sugerir aos componentes da nossa Tabanca Grande, se assim o entenderem, que me façam chegar a sua opinião sobre a decisão que tomei de retirar de Guileje, para serem incluídas no meu próximo livro.
Alexandre da Costa Coutinho e Lima
____________
Nota do editor
Último poste da série de 4 de Outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15197: História de vida (41): Regressei a 6/11/1968 e casei-me a 29/6/1969, com uma das minhas madrinhas de guerra...Soube pelo padre que a tropa me tinha dado como morto... (Mário Gaspar,ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)