segunda-feira, 2 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18801: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XXXVII: Mascate, sultanato de Omã, onde a água pode ser mais cara do que o petróleo...




Muscat (ou Mascate, sultanato de Omã ) > A grande mesquita, mandada construir pelo sultão Qaboos bin Said Al Said (n. 1940)



Fotos (e legendas): © António Graça de Abreu(2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação das crónicas da "viagem à volta ao mundo em 100 dias" [3 meses e oito dias], do nosso camarada António Graça de Abreu.

Escritor, poeta, sinólogo, ex-alf mil SGE, CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com cerca de 220 referências, é casado com a médica chinesa Hai Yuan, natural de Xangai, e tem dois filhos, João e
Pedro. Vive no concelho de Cascais. Deu recentemente, em 20 de junho passado,  uma longa entrevista (c. meia hora) ao canal Sporting TV, programa Conversas na Lua, sobre a sua história de vida, a sua obra literária e a sua "relação especial" com a China e a cultura chinesa. Vd. aqui o vídeo em You Tube > Sporting Clube de Portugal.

Hai Yuan e António Graça de Abreu

2. Sinopse da série "Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias" (*)

(i) neste cruzeiro à volta do mundo, o nosso camarada e a sua esposa partiram do porto de Barcelona em 1 de setembro de 2016; [não sabemos quanto despenderam, mas o "barco do amor" deve-lhes cobrado uma nota preta: c. 40 mil euros, no mínimo, estimamos nós];

(ii) três semanas depois de o navio italiano "Costa Luminosa", com quase três centenas de metros de comprimento, sair do Mediterrâneo e atravessar o Atlântico, estava no Pacífico, e mais concretamente no Oceano Pacífico, na Costa Rica (21/9/2016) e na Guatemala (24/9/2017), e depois no México (26/9/2017);

(iii) na II etapa da "viagem de volta ao mundo em 100 dias", com um mês de cruzeiro (a primeira parte terá sido "a menos interessante", diz-nos o escritor), o "Costa Luminosa" chega aos EUA, à costa da Califórnia: San Diego e San Pedro (30/9/2016), Long Beach (1/10/2016), Los Angeles (30/9/2016) e São Francisco (3/4/10/2017); no dia 9, está em Honolulu, Hawai, território norte-americano; navega agora em pleno Oceano Pacífico, a caminho da Polinésia, onde há algumas das mais belas ilhas do mundo;

(iv) um mês e meio do início do cruzeiro, em Barcelona, o "Costa Luminosa" atraca no porto de Pago Pago, capital da Samoa Americana, ilha de Tutuila, Polinésia, em 15/10/2016;

(v) seguem-se depois as ilhas Tonga; visita a Auckland, Nova Zelândia, em 20/10/2016;

(vi) volta pela Austrália: Sidney, a capital, e as Montanhas Azuis (24-26 de outubro de 2016);

(vii) o navio "Costa Luminosa" chega, pela manhã de 29/10/2016, à cidade de Melbourne, Austrália; visita à Austrália Ocidental, enquanto o navio segue depois para Singapura; o Graça de Abreu e a esposa alugam um carro e percorrem grande parte da costa seguindo depois em 8 de novembro, de avião para Singapura, e voltando a "apanhar" o seu barco do amor...

(viii) de 8 a 10 de novembro. o casal está de visita a Singapura, seguindo depois o cruzeiro para Kuala Lumpur, Malásia (11 de novembro);  Phuket, Tailândia (12-13 de novembro); Colombo, capital do Sri Lanka ou Ceilão ou Trapobana (segundo os "Lusíadas", de Luís de Camões. I, 1), em 15-16 de novembro. de 2016;

(ix) na III (e última) parte da viagem, Graça de Abreu e a esposa estão, a 17 de novembro de 2016, em Cochim, na Índia, e descobrem a cada passo vestígios da presença portuguesa; a 18, estão em Goa, seguindo depois para Bombaím (20 e 21 de novembro de 2016);

(x) com 2 meses e 20 dias, depois da Índia, os nossos viajantes estão Dubai, Emiratos Árabes Unidos, passando Muscat, o sultanato de Omã, em data que já não podemos precisar, de qualquer modo já estamos em finais de novembro ou já  princípios de em dezembro de 2016; a viagem vai terminar em Roma.


Viagem de volta ao mundo em 100 dias > Muscat, sultanato de Omã [s/d, finais de novembro de 2016] (pp. 17-19], da terceira e última Parte]


O António, tendo atrás o forte de Muttrah
Muscat, sultanato de Omã

Desde o mar, vários fortes, tipo castelo, plantados em montes escalavrados, pontilham o horizonte quase circular da baía de Muscat. Foram construídos em finais do século XVI pelos inevitáveis portugueses, aquela gente aventureira e doida de quem herdei o sangue e que um dia resolveu ir lavrar o mar, e deixar na vastidão do mundo um padrão, uma cruz, um pendão soluçante.

O forte de Muttrah, assim como os outros próximos, de nome Al Marani e Al Jalali (São João) - estes dois agora encaixados nos espaços de um dos palácios do sultão de Omã -, estão impecavelmente restaurados e conservados. Todos fechados ao público, o forte de Muttrah funciona ainda hoje como instalação militar e, no alto, é bem visível uma bateria de modernos canhões apontados à entrada da baía.

Muscat [, em português, Mascate]foi conquistada por Afonso de Albuquerque em 1507 e desde então funcionou como um lugar estratégico para os portugueses nas rotas entre a Índia, o Golfo Pérsico e o Mar Vermelho. Hoje, este sultanato de Omã, três vezes maior do que Portugal, conta com 4,5 milhões de habitantes, metade dos quais são imigrantes, muitos deles sazonais.

A maior parte do território estende-se por inóspitos desertos aparentemente esquecidos. Mas é aí, sob milhões de toneladas de areia, que descansam imensas jazidas de petróleo e gás natural, o ouro vermelho escuro e os hidrocarbonetos incolores que enchem de dólares os cofres do sultanato. 

O sultão Qaboos bin Said Al Said está no poder desde 1970, é senhor de uma enorme fortuna, tem já setenta e seis anos de idade, mas aparece em fotografias espalhadas por tudo quanto é sítio aparentando uns quarenta [, foto à direita]. Possui três palácios na Europa, em Marbella, Espanha, na Inglaterra e na Alemanha. 

No porto de Muttrah, Muscat, em frente ao nosso Costa, estão ancorados três grandes iates que lhe pertencem e dizem-me que tem mais dois navios para se passear, atracados noutros portos de Omã. Conta também com sete palácios no sultanato, onde reside alternadamente, saltitando de um para outro. Ninguém costuma saber exactamente em que palácio se encontra o sultão que, só de longe em longe, se dá à vista de quem quer que seja, mas que me dizem ser um benemérito para o seu povo, estimado pela maioria dos omanis, os cidadãos do sultanato. 

Nos quarenta e sete anos de poder do sultão Qaboos, o território de Omã mudou muito. No passado, eram conhecido como entreposto de escravos, terra de pescadores e plataforma de venda de armas brancas, sobretudo adagas, punhais e cimitarras de variados tamanhos, e de eficácia garantida, comprovada. A descoberta do petróleo em 1964 veio alterar, por completo, o estatuto e as realidades de Omã. O actual sultão - quando jovem educado em Inglaterra e na Alemanha -, tem acompanhado inteligentemente o crescimento da região, retirando daí os benefícios a que acha ter direito e, com tantos dólares a inundarem-lhe os palácios e os iates, melhora também as condições de vida da população.

Muscat, que cresceu, a partir de Muttrah neste espaço da baía, vive do turismo e dos pequenos negócios. Recomendo a ida ao souk, o mercado e zona comercial, não muito diferente dos souks de outros países árabes, onde se vende de tudo, de ouro a babuchas, de especiarias às adagas, de perfumes aos estilizados vestidos de seda, mais toneladas de quinquilharia, a preços baratos. E como são vaidosas algumas mulheres muçulmanas! Sob o niqab negro, a túnica que lhes cobre todo o corpo, excepto a fresta dos olhos, usam roupa de costureiros franceses, à venda também neste souk, garante-me o guia local.

Por detrás da baía e dos montes de pedra acastanhada, que delimitam Muttrah, a sul e a oeste, abre-se a grande Muscat com quase um milhão de habitantes. Partimos em busca da maior mesquita do sultanato de Omã, a uns quinze quilómetros de distância. Trata-se de um conjunto arquitectónico recentemente concluído, com uma torre e quatro minaretes, pouco capaz de encher o olho ao turista em viagem mas que será, por certo, um excelente lugar para os muçulmanos rezarem a Maomé e pedirem as generosas bênçãos de Alá. 

Atravessamos a zona dos ministérios e vastos complexos habitacionais, mais uma zona de stands de automóveis, Porsches, BMWs, Bentleys, Rolls-Royce. O dinheiro do petróleo, e dos subsequentes negócios, dá para dez mil extravagâncias. Mais adiante, deparamo-nos com uma instalação enorme onde se procede à dessalinização da água do ar. Enormes depósitos guardam a, agora, água doce. A propósito, dizem-me que em Muscat chove em média cinco dias por ano, apenas em Dezembro e Janeiro, por isso a água, fundamental para todas as vidas, pode ser mais cara do que o petróleo.

(Continua)

Guiné 61/74 - P18800: Notas de leitura (1080): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (7) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Outubro de 2016:

Queridos amigos,
Chegámos à penúltima etapa, a atividade missionária entre 1955 e 1973.
Em 1955, a Missão da Guiné Portuguesa foi elevada à categoria de Prefeitura Apostólica. É um período de construções e de intensificação da ação educativa e existencial. Em 1961, começa o refluxo missionário com a chegada de contingentes militares que ocupam instalações de muitas missões, e muitos missionários, por insegurança, abandonam lugares. Como observa o Padre Pinto Rema, a atividade missionária foi apanhada entre dois fogos, e dá o exemplo do Padre António Grillo, da Missão de Bambadinca, que ainda é recordado pelos muçulmanos e animistas de Bambadinca, Samba Silate e Nhabijões.

Um abraço do
Mário


História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema (7)

Beja Santos

Prevíamos ser este o texto derradeiro da necessariamente longa recensão à incontornável obra “História das Missões Católicas da Guiné”, por Henrique Pinto Rema, Editorial Franciscana, 1982. Não será assim, haverá ainda um texto sobre as missões católicas na República da Guiné-Bissau.

O período ora em análise compreende 1955 até 1973. Temos agora os franciscanos na Prefeitura Apostólica. Com efeito, em 1955, a chamada Missão da Guiné Portuguesa foi elevada à categoria de Prefeitura Apostólica. D. Martinho Carvalhosa, franciscano português, é confirmado como Prefeito Apostólico. O gesto da Santa Sé coroava o esforço missionário dos últimos 15 anos. O autor descreve assim D. Martinho:  
“Sempre insatisfeito com os outros, ele está em toda a parte a dar palavra de ordem aos seus padres e religiosos e aos seus professores-catequistas. Como construtor de igrejas, de capelas, de residências missionárias e de escolas, os gerentes das casas fornecedoras de materiais, os administrativos da Guiné e os encarregados das obras estão-lhe constantemente no pensamento para lhes regatear preços e pedir descontos especiais em ajudas. Ele próprio empenha, em meados de 1954, ao Banco Nacional Ultramarino, o seu vencimento de 500 contos, depois de ter obtido autorização da Santa Sé e do seu conselho missionário”.

E segue-se ume esclarecimento importante:  
“Monsenhor Carvalhosa está a par dos movimentos subversivos, ainda subterrâneos, em 1955. Acompanhá-los-á de perto e com ansiedade, até à sua manifestação violenta na madrugada de 21 de Julho de 1961, no ataque a S. Domingos. Ele previu o que representavam as greves dos estivadores no cais do Pidjiquiti nos dias 6, 7 e 8 de Março de 1956 e os recontros então havidos com as forças da ordem, as organizadas debandadas para território estrangeiro (aliás sempre notadas pelo Superior da Missão de Bula em 1956 na sua área), a existência de certos grupos de orientação política e rácica e a rebelião do Sul contra os impostos”.

Monsenhor Carvalhosa regressa à metrópole em Setembro de 1962, sucede-lhe o Padre João Ferreira, que chega a Bissau no ano seguinte. Por razões de saúde, retira-se em 1965. Nas ausências dos Prefeitos Apostólicos tomou quase sempre conta do expediente da Circunscrição Missionária da Guiné o Padre Amândio Neto, franciscano português que chegara a Bolama em 1941.

Pois bem, os franciscanos da Província de Santo António de Veneza chegam a Bissau em 1955, logo entre eles D. Settimio Ferrazzetta, que irá ter um papel da maior importância na tentativa de reconciliação entre as partes em litígio no dramático período do conflito político-militar no fim do século. Até ao ano de 1969 a única congregação feminina que exerceu atividade na Guiné foi a das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição. Em 1969, a Prefeitura pediu ao governo da Guiné a entrada de mais uma congregação irmãs religiosas estrangeiras, as Missionárias Franciscanas do Coração Imaculado de Maria, com sede em Roma.

Um apontamento sobre a ação educativa. Em Julho de 1954, Monsenhor Carvalhosa escrevia: “Na Guiné é absolutamente certo que a diferença entre o indígena das nossas escolas e os assimilados é nula ou simplesmente mínima”. Um acontecimento político acabou por contribuir para a melhoria da ação educativa na esfera missionária. O Governador Melo e Alvim chega à Guiné no início de Janeiro de 1954 e logo se lançou nos preparativos da viagem do Presidente da República General Craveiro Lopes, que ocorreu em Agosto de 1955. Apareceu dinheiro e as obras começaram a sair dos alicerces. Escreveu então o Prefeito Apostólico: “Foi possível que durante 18 meses, em construções, movimento escolar, assistência e meios culturais as missões católicas avançassem 10 anos”. Mas as dificuldades eram inúmeras, como escreve Pinto Rema:  
“O pessoal docente era formado nas escolas das Missões de Bula e Bafatá. Os rapazes dali saídos não eram muitos nem possuidores de grande bagagem cultural. No entanto, tal pessoal docente era único capaz de se sujeitar a todos os ambientes e a trabalhar nas piores condições. A ausência de escolas de adaptação no Leste da província da Guiné explica-se pela extensão enorme daquela área, servida unicamente pelas missões de Bafatá e Bambadinca e sem meios de transportes capazes para a tal constante fiscalização, sempre necessária”.
Na ação assistencial, ganha relevo o histórico que o investigador apresenta acerca da leprosaria de Cumura.

Bastante interesse tem também o conjunto de notas que o autor intitula “As Missões da Guiné na conjuntura da guerrilha”. As instalações das missões vão sendo sacrificadas com a chegada de contingentes militares. Logo a Missão de Mansoa foi a primeira a ser sacrificada com entrega ao Exército do pavilhão acabado de construir, em Maio de 1961. O Governador Peixoto Correia pediu à Prefeitura, em Junho de 1961, a cedência de duas salas, do refeitório e dos sanitários da missão de Bula. Foi ocupada a escola missionária de Mansabá e também a Missão de Suzana foi ocupada em Outubro de 1961. Nesse mesmo mês, o comandante militar pede à Prefeitura o edifício das Missões de Catió e depois Teixeira Pinto, Bambadinca, Ingoré e Xitole. Tudo muda em Bissau com o êxodo provocado pela guerra e o autor descreve detalhadamente o funcionamento das missões neste período crítico. Dar-se-ão conflitos entre missionários e as Forças Armadas. Veja-se o exemplo da Missão de Bambadinca que atingiu diretamente um missionário altamente prestigiado e que trabalhava na área populosa de Samba Silate e Nhabijões. Vindo de férias em Abril de 1962, o Padre António Grillo vê-se entre dois fogos, guerrilheiros do PAIGC e Forças Armadas, os grupos comandados por Domingos Ramos já estão ativos. O Padre Grillo vê-se envolvido, é preso em Fevereiro de 1963 e recambiado para Itália. A Missão de Bambadinca é ocupada pelo Exército que nunca mais a abandonou. Pinto Rema explica que o mal funcionamento das escolas no mato é fenómeno anterior à chegada da guerrilha, mas o período de subversão a partir de 1962 alterou tudo. Falando ainda de Bambadinca, diz o autor que as escolas da Ponta do Inglês, Ponta Luís Dias, Finete e Santa Helena não abriram em Outono desse ano por falta de frequência dos alunos e por causa da intranquilidade da área. A guerrilha iria afetar profundamente a atividade missionária em todo o território, incluindo Bissau e os Bijagós.

(Continua)
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Nota do editor

Poste anterior de 25 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18776: Notas de leitura (1078): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (6) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 29 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18790: Notas de leitura (1079): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (41) (Mário Beja Santos)

domingo, 1 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18799: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capítulos 59 e 69: vê, pela primeira vez, enfermeiras, brancas, paraquedistas; apercebe-se igualmente da guerra psicológica; queixa-se de a namorada não receber o correio em setembro e outubro de 1973... Faz circular pelo quartel um texto a apelar a uma maior união dos "serrotes", numa crítica implícita ao capitão, por quem não morre de amores... Sabe, por fim, da declaração unilateral da independência do território através da Rádio de Argel...



Guiné > Uma propaganda pérfida e cínica, a do regime de Salazar-Caetano, que criou nas populações africanas a falsa (e trágica) ilusão de que eram portuguesas, tão portuguesas como os minhotos ou os alentejanos; por outro lado, minimizou e desprezou os combatentes do PAIGC, reduzindo-os ao estatuto de pobres mercenários, por conta de interesses estrangeiros, a quem se podia estender facilmente uma nota de 1000 pesos em troca da sua rendição e da entrega da sua arma...

Trata-se de material (muito pobre e tosco, muitas vezes escrito em português e não em crioulo...) de propaganda das NT, documentação essa  recolhido pelo nosso grã-tabanqueiro da 1.ª hora, o ex-1.º cabo enfermeiro José Teixeira (CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá, Empada, 1968/70), régulo da Tabanca de Matosinhos...

Fica-se na dúvida sobre o público-alvo: os pobres soldados e quadros milicianos a quem era preciso incutir e reforçar permanentemente a ideia de que, na Guiné, era a Pátria que estava em perigo; ou os os coitados dos guineenses, que nem sequer sabiam onde ficava Lisboa e quem era o homem grande de Lisboa...

Fotos (e legenda): © José Teixeira (2005). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da pré-publicação do próximo livro (na versão manuscrita, "Em Nome da Pátria") do nosso camarada José Claudino Silva [foto atual à esquerda] (*):

(i) nasceu em Penafiel, em 1950, "de pai incógnito" (como se dizia na época e infelizmente se continua a dizer, nos dias de hoje), tendo sido criado pela avó materna;

(ii) trabalhou e viveu em Amarante, residindo hoje na Lixa, Felgueiras, onde é vizinho do nosso grã-tabanqueiro, o padre Mário da Lixa, ex-capelão em Mansoa (1967/68), com quem, de resto, tem colaborado em iniciativas culturais, no Barracão da Cultura;

(iii) tem orgulho na sua profissão: bate-chapas, agora reformado; completou o 12.º ano de escolaridade; foi um "homem que se fez a si próprio", sendo já autor de dois livros, publicados (um de poesia e outro de ficção);

(iv) tem página no Facebook; é avô e está a animar o projeto "Bosque dos Avós", na Serra do Marão, em Amarante;

(ix) é membro n.º 756 da nossa Tabanca Grande.


2. Sinopse dos postes anteriores:

(i) foi à inspeção em 27 de junho de 1970, e começou a fazer a recruta, no dia 3 de janeiro de 1972, no CICA 1 [Centro de Instrução de Condutores Auto-rodas], no Porto, junto ao palácio de Cristal;

(ii) escreveu a sua primeira carta em 4 de janeiro de 1972, na recruta, no Porto; foi guia ocasional, para os camaradas que vinham de fora e queriam conhecer a cidade, da dos percursos de "turismo sexual"... da Via Norte à Rua Escura;

(iii) passou pelo Regimento de Cavalaria 6, depois da recruta; promovido a 1.º cabo condutor autorrodas, será colocado em Penafiel, e daqui é mobilizado para a Guiné, fazendo parte da 3.ª CART / BART 6250 (Fulacunda, 1972/74);

(iv) chegada à Bissalanca, em 26/6/1972, a bordo de um Boeing dos TAM - Transportes Aéreos Militares; faz a IAO no quartel do Cumeré;

(v) no dia 2 de julho de 1972, domingo, tem licença para ir visitar Bissau, e fica lá mais uns tempos para um tirar um curso de especialista em Berliet;

(vi) um mês depois, parte para Bolama onde se junta aos seus camaradas companhia; partida em duas LDM para Fulacunda; são "praxados" pelos 'velhinhos' (ou vê-cê-cês), os 'Capicuas", da CART 2772;

(vii) faz a primeira coluna auto até à foz do Rio Fulacunda, onde de 15 em 15 dias a companhia era abastecida por LDM ou LDP; escreve e lê as cartas e os aerogramas de muitos dos seus camaradas analfabetos;

(viii) é "promovido" pelo 1.º sargento a cabo dos reabastecimentos, o que lhe dá alguns pequenos privilégio como o de aprender a datilografar... e a "ter jipe";

(ix) a 'herança' dos 'velhinhos' da CART 2772, "Os Capicuas", que deixam Fulacunda; o Dino partilha um quarto de 3 x 2 m, com mais 3 camaradas, "Os Mórmones de Fulacunda";

(x) Dino, o "cabo de reabastecimentos", o "dono da loja", tem que aprender a lidar com as "diferenças de estatuto", resultantes da hierarquia militar: todos eram clientes da "loja", e todos eram iguais, mas uns mais iguais do que outros, por causa das "divisas"... e dos "galões"...

(xi) faz contas à vida e ao "patacão", de modo a poder casar-se logo que passe à peluda; e ao fim de três meses, está a escrever 30/40 cartas e aerograma as por mês; inicialmente eram 80/100; e descobre o sentido (e a importância) da camaradagem em tempo de guerra.

(xii) como "responsável" pelo reabastecimento não quer que falte a cerveja ao pessoal: em outubro de 1972, o consumo (quinzenal) era já de 6 mil garrafas; ouve dizer, pela primeira vez, na rádio clandestina, que éramos todos colonialistas e que o governo português era fascista; sente-se chocado;

(xiii) fica revoltado por o seu camarada responsável pela cantina, e como ele 1.º cabo condutor auto, ter apanhado 10 dias de detenção por uma questão de "lana caprina": é o primeiro castigo no mato...; por outro lado, apanha o paludismo, perde 7 quilos, tem 41 graus de febre, conhece a solidariedade dos camaradas e está grato à competência e desvelo do pessoal de saúde da companhia.

(xiv) em 8/11/1972 festejava-se o Ramadão em Fulacunda e no resto do mundo muçulmano; entretanto, a companhia apanha a primeira arma ao IN, uma PPSH, a famosa "costureirinha" (, o seu matraquear fazia lembrar uma máquina de costura);

(xv) começa a colaborar no jornal da unidade (dirigido pelo alf mil Jorge Pinto, nosso grã-tabanqueiro), e é incentivado a prosseguir os seus estudos; surgem as primeiras dúvidas sobre o amor da sua Mely [Maria Amélia], com quem faz, no entanto, as pazes antes do Natal; confidencia-nos, através das cartas à Mely as pequenas besteiras que ele e os seus amigos (como o Zé Leal de Vila das Aves) vão fazendo;

(xvi) chega ao fim o ano de 1972; mas antes disso houve a festa do Natal (vd. cap.º 34.º, já publicado noutro poste); como responsável pelos reabastecimentos, a sua preocupação é ter bebidas frescas, em quantidade, para a malta que regressa do mato, mas o "patacão", ontem como hoje, era sempre pouco;

(xvii) dá a notícia à namorada da morte de Amílcar Cabral (que foi em 20 de janeiro de 1973 na Guiné-Conacri e não no Senegal); passa a haver cinema em Fulacunda: manda uma encomenda postal de 6,5 kg à namorada;

(xviii) em 24 de fevereiro de 1973, dois dias antes do Festival da Canção da RTP, a companhia faz uma operação de 16 horas, capturando três homens e duas Kalashnikov, na tabanca de Farnan.

(xix) é-lhe diagnosticada uma úlcera no estômago que, só muito mais tarde, será devidamente tratada; e escreve sobre a população local, tendo dificuldade em distinguir os balantas dos biafadas;

(xx) em 20/3/1973, escreve à namorada sobre o Fanado feminino, mas mistura este ritual de passagem com a religião muçulmana, o que é incorreto; de resto, a festa do fanado era um mistério, para a grande maioria dos "tugas" e na época as autoridades portuguesas não se metiam neste domínio da esfera privada; só hoje a Mutilação Genital Feminina passou a a ser uma "prática cultural" criminalizada.

(xxi) depois das primeiras aeronaves abatidas pelos Strela, o autor começa a constatar que as avionetas com o correio começam a ser mais espaçadas;

(xxii) o primeiro ferido em combate, um furriel que levou um tiro nas costas, e que foi helievacuado, em 13 de abril de 1973, o que prova que a nossa aviação continuou a voar depois de 25 de março de 1973, em que foi abatido o primeiro Fiat G-91 por um Strela;

(xxiii) vai haver uma estrada alcatroada de Fulacunda a Gampará; e Fulacunda passa a ter artilharia (obus 14); e o autor faz 23 anos em 19 de maio de 1973; a 21, sai para Bissau, para ir de férias à Metrópole; um grupo de 10 camaradas alugam uma avioneta, civil, que fica por um conto e oitocentos escudos [equivalente hoje a 375,20 €];

(xxiv) considerações sobre o clima, as chuvas; em 19/5/1973, faz 23 anos... e vem de férias à Metrópole, com regresso marcado para o início de julho de 1973: regista com agrado o facto de o pai, biológico, ter trazido a sua tia e a sua avó ao aeroporto de Pedras Rubras para se despedirem dele;

(xxv) vê, pela primeira vez. enfermeiras, brancas, paraquedistas; apercebe-se igualmente guerra psicológica; queixa-se de a namorada não receber o correio; mada um texto para o jornal "O Século" que decide fazer circular pelo quartel e onde apela a uma maior união do pessoal da companhia, com críticas implícitas ao capitão por quem não morre de amores...


3. Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 57 e 58

[O autor faz questão de não corrigir os excertos que transcreve, das cartas e aerogramas que começou a escrever na tropa e depois no CTIG à sua futura esposa. E muito menos fazer autocensura 'a posterior', de acordo com o 'politicamente correto'... Esses excertos vêm a negrito. O livro, que tinha originalmente como título "Em Nome da Pátria", passa a chamar-se "Ai, Dino, o que te fizeram!", frase dita pela avó materna do autor, quando o viu fardado pela primeira vez. Foi ela, de resto, quem o criou. ]


59º Capítulo  > AS NOTAS DE IMITAÇÃO E A PSIQUE

É apenas em finais de Agosto [de 1973] que me refiro a um pequeno acontecimento relacionado com a guerra.

Um grupo de milícias (nome dado a combatentes locais voluntários) veio participar connosco numa operação e é nessa altura que me apercebo doutra espécie de guerra. A guerra psicológica. Saibam o que levaram para o mato.

26 de Agosto de 1973:

“Como normalmente faço quando completo mais um mês aqui te envio um postal que acho encantador, espero que gostes também. Essa imitação é de uma nota de mil escudos da Guiné, é para guardar como recordação. Essas notas são feitas para serem espalhadas pelo mato para convencer alguns “turras” a entregarem-se, é uma das psicologias adoptadas pelo nosso governo a ver se convencem que o nosso lado é melhor”.

Esclareço que essa nota pedia aos homens do mato para se entregarem às tropas portuguesas e entregarem a sua arma, em troca de dinheiro e comida.

(Tive o prazer de oferecer a nota de mil escudos, a que me refiro, ao núcleo de ex-combatentes da cidade da Lixa, concelho de Felgueiras, estando exposta na sua sede).

Rapidamente voltei à música e à literatura.

O Silva, o tal de Almada mas que eu dizia ser de Lisboa, foi telegrafista. Era o tipo do Racal. Foi com ele que comecei a gostar de Lisboa, indo ao ponto de mesmo hoje lamentar não viver na capital.

Conversávamos muitas vezes sobre a diferença entre a cidade e a aldeia e não minto se disser que também com o Silva de Lisboa ou de Almada,  como queiram, aprendi a desenvolver-me em alguns aspectos, de forma a evoluir intelectualmente. Foi ele quem me pôs a ouvir Isaac Haies [1942-2008]e a gostar de Soul, Blues e Jazz. Também com ele aprendi o código dos radiotelegrafistas. Um Alfa Bravo para todos.


60.º Capítulo > INACREDITÁVEL

Registado no meu mapa de correspondência, em Setembro de 1973, e só para a Amélia, enviei 33 cartas e aerogramas, além de um postal de aniversário. Ela não recebeu nenhuma correspondência.

Em Outubro do mesmo ano, enviei 34; ela recebeu 5.

Não posso afirmar categoricamente qual foi a razão do desaparecimento do meu correio, mas tudo se vai complicar para mim e creio que, para todos nós, após eu ter enviado para o jornal O Século um artigo de opinião da minha autoria.

O texto não foi publicado no jornal e nem sei se lá chegou. Mesmo assim, decidi divulgá-lo pelo quartel. Foi este texto.

CONVERSAS EM FAMÍLIA.

Fulacunda Guiné

Nós precisamos de apoio moral, não queremos ser uma “série” que dominada, apenas trabalha com as pernas, precisamos de nos sentir apoiados e livremente dirigidos.

Nós temos receio de expor problemas, porque nos sentimos coibidos na presença dos nossos superiores e então, exteriorizamos em massa; apoiando-nos uns nos outros aquilo que sentimos.

Os nossos superiores em minha opinião, deviam dizer “os meus homens” mais vezes, mas como um pai diz “os meus filhos”.

A nossa família é de facto uma família? Se é, porque não temos mais conversas?

A hierarquia militar não nos permite um lugar-comum. No entanto haveria a meu ver, uma melhor ligação entre superiores e subordinados se os primeiros vivessem mais de perto com os seus homens.

Não haverá possibilidades de uma Maior união entre todos os “Serrotes”?

Será muito pedir que sejamos tratados como homens que somos?

União na terra entre homens de boa vontade.

José Claudino da Silva 

1.º Cabo N.º 158532/71

PENSEM E ACREDITEM SE QUISEREM! O CASTIGO POR CAUSA DISTO FOI MUITO GRAVE.

Em Outubro de 1973 eu soube, através duma rádio, que diziam emitir de Argel, que a Guiné tinha declarado a independência no dia 24 de Setembro de 1973 em Medina do Boé. Se assim fosse, eu estava a lutar num país estrangeiro.

Sem precisar de transcrever nada, tal a irrelevância do que escrevi nesses dias, somente um caso que na altura me pareceu um tanto ou quanto invulgar. Quero partilhar:

“Antes de te falar romanticamente quero informar-te que hoje veio aqui um helicóptero e nele vinham duas moças pára-quedistas brancas foram para uma operação no mato e por causa do nevoeiro tiveram de aterrar aqui. Com estas duas, são três as mulheres brancas que vi em Fulacunda. Quando puderam partir levaram correio, espero que desta vez recebas”.

Pela primeira vez fiquei a saber que na Guiné havia mulheres pára-quedistas a intervir em combate.
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P18798: (Ex)citações (338): Quem não sabe beber, que beba m..., dizia um durão de Bambadinca... Mas, camaradas e amigos, era mesmo m... a famosa "água de Lisboa" que nos chegava aos nossos quartéis para matar a nossa dor e a nossa sede... (Luís Graça / Virgílio Teixeira)



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Otubro de 2010 > Restos arqueológicos... uma garrafa de Bussaco (sumo de ananás ou laranja), marca que era (e ainda é) comercializada pela Sociedade de Refrigerantes Buçaco, Lda, empresa familiar fundada em 1921... Mas podia ser uma garrafa de vinho verde Casal Garcia, ao "ventre da guerra" não faltava anda do "uísque escocês" à "água de Lisboa"... Foto do nosso saudoso Pepito (1949-2012).

Foto (e legenda): © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018). Todos os direitos reservados


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 (1972/73) > Legenda: "Nesta foto está o Figueiral em frente (ao meio) de óculos escuros e a comer uma cabritada com a garrafa de Casal Garcia à frente. Eu estou do lado esquerdo da foto, com o frigorífico atrás de mim. De costas para a foto está o Pinto Carvalho. Do lado direito da foto, em primeiro plano está o Alferes Bastos, o homem do obus (Alf de Artilharia) e logo a seguir, portanto à esquerda do Figueiral, está um segundo tenente de que não me recorda o nome. Era habitual haver um abastecimento via barco por mês e que vinha sempre escoltado pela Marinha, ficando o Oficial instalado lá no quartel [, em Bedanda, na margem esquerda do Rio Cumbijã]"

Foto (e legenda): © António Teixeira (1948-2013) / Blogue Luís Graça & Caramadas da Guiné (2013). Todos os direitos reservados



 1. Um camarada nosso, que passou como eu por Bambadinca,  era pouco ou nada tolerante para com as bedeiras... dos outros, sobretudo quando mexiam com a sua "área de conforto"...  Costumava ele comentar, com ar sarcástico, nessas ocasiões em que o deus Baco falava mais alto que os outros deuses todos do Olimpo:  "Quem não sabe beber, que beba... merda!"... 

O adágio ficou, e acho que se tornou um dos 10 anti-mandamentos  do bar de Sargentos de Bambadinca... (O primeiro devia ser, se bem me lembro: "O camelo só bebe de oito em oito dias,  não sejas camelo"...).  Afinal, aprendemos a "beber", e a beber com conta, peso e medida, nessa grande escola que foi a tropa e a guerra... em matérias de álcoois etílicos... (Claro que hoje o mandamento é outro, por razões de saúde: Não sejas burro, sê camelo, bebe muita água...).

Também não vou citar, por razões óbvias, o nome do meu querido camarada... até porque é meu amigo e vizinho... e faz parte do 'quadro de honra' da Tabanca Grande!... Mas por outro lado, se ele me ler, e como sei que ele tem sentido de humor, não me vai por certo levar a mal... Nem ele nem ninguém, incluindo os "meninos copos de leite" que também os havia, embora poucos, no meu tempo...

Cardinas, cadelas, carpantas, carapantas, carraspanas, pifos, pielas, tosgas, bezanas, narsas, bubas, borracheiras... afinal, quem não as/os apanhou?  Do sacristão ao capelão, do básico ao senhor major, do furriel ao capitão, do corneteiro ao escritas... quem não apanhou o seu "pifozito"? 

Pretextos não faltavam: o calor, a distância, as saudades, a depressão, a solidão, a camaradagem, a festa, a guerra, a morte... E meios para matar a sede e a dor também não faltavam, do uísque ao vinho do Porto, da "água de Lisboa" até ao "vinho de cana", mesmo intragável que este fosse  para o palato mais avariado do "tuga"...

Uma ressalva: nunca se bebia sozinho, ninguém apanhava cardinas sozinho, era tudo ao molhe e fé em Deus... Uma garrafa era para se partilhar... Uns aguentavam-se melhor do que outros, os "velhinhos" tinham mais treino ou mais manhas do que os "periquitos"... Primeira regra de oiro: nunca faças misturas... Enfim, são tudo histórias para contar... aos bisnetos, se a gente lá chegar aos netos e depois aos bisnetos...

Os nossos soldados fulas, que eram abstémios por prescrição da sua religião muçulmana, bem nos avisavam: "Eh, furriel, água de Lisboa, manga de cabeça grande"!... O que eles não sabiam era que a "água de Lisboa" que chegava aos rios e braços de mar da Guiné, do Geba ao Cacine, do Corubal ao Cacheu, era mesmo uma... "merda". Ou uma "zurrapa", uma palavra que continuamos usar para dizer vinho mau, estragado ou que sabe mal...

Não se sabe muito bem qual a origem da palavra, mas pode ser do castelhano... "Zurrapa" [s. f., quer dizer, segundo o dicionário de castelhano, "brizna o pequeña porción de materia que se halla en los líquidos y que poco a poco se va sentando y formando poso" (...): "el café está lleno de zurrapas"].

"Vinho a martelo", também se dizia na época... Estava na moda, quando regressei da Guiné, o "vinho a martelo", uma mistura hidroalcoólica que era depois "queimada" nas destilarias da região, às claras ou às escondidas...

Também se falava em "vinho batizado" com água do cais do Beato, no estuário do Tejo... Era ali que ficavam os grandes armazéns de conhecidos comerciantes de vinhos,  a granel, que terão feito belas  fortunas a mandar pipas de vinho marado para o preto e para o tuga...

Costuma-se, de resto, citar, com ou ou sem rigor histórico, um destes homens que fizeram fortuna no tempo em que beber vinho era dar de comer a um milhão de portugueses... Terá feito questão de lembrar, antes de morrer, aos herdeiros, filhos e netos, o segredo do sucesso da sua vida e dos seus negócios "Não se esqueçam, meus filhos, que das uvas também se faz vinho"... A história pode ser anedota, mas encerra uma verdade cruel...


2. Vinho de uvas, e bom... quem o bebeu na Guiné? Poucos, afinal, porque o bom era raro e caro... Mas temos aqui, no nosso blogue, alguns "expertos" nesta matéria... E que já aqui falaram há dias "de cátedra"sobre o tema (*)... 

Vamos lá recuperar alguns dos seus comentários, seria um pena "perdê-los" (**).

(i) Virgílio Teixeira:

(...) O que eu me lembro eram todas as bebidas alcoólicas, de todo o tipo até às mais caras, nem preciso de dizer os nomes pois era de tudo. O tabaco a mesma coisa, desde o Português Suave até ao Gitane e outras. Bebidas só me lembro das seguintes que eram misturadas com o álcool. Águas Perrier, Vichy, ambas francesas, e Castelo Portuguesa, para misturar com o Whisky. Depois a Tónica da Schweppes para o Gin, normalmente Gordon's.

Outras bebidas, tipo Fanta também me lembro, Laranjinha ou Laranjina C, Cocas, eu não era cliente destas bebidas doces. A laranjada Convento não me parece ter visto. Quase nem me lembro de que marca era a cerveja, normal ou bazuca, Sagres ou Cristal? Água apenas raramente bebia, só mesmo misturada com whisky e muito gelo.

Vinhos verdes também tinha, mas mandava vir para mim, de Bissau ou da Metrópole. Com isto fazia inveja e inimizades com os oficiais superiores que bebiam aquela zurrapa das pipas de vinho branco feito a martelo e misturadas com água do Rio Geba. Ninguém se embebedava com aquilo, além disso era servido 'ao quente'.

As latas de que falei de frutas da África do Sul, isso havia muita lata, mas não sei o nome de nenhuma marca, lamento. Estas latas, também nós a utilizávamos, como 'tipo chuveiro'. Na casa de banho, havia um bidão de 500 litros, do gasóleo, depois enchia-se diariamente de água que vinha dos camiões, como não havia sistema de chuveiro, utilizávamos estas latas de frutas para deitar pela cabeça abaixo e assim tomava-se o banho. Muito mais tarde inventou-se um sistema de os bidões ficarem por cima do telhado, uns tubos,  umas grelhas e uma torneira e lá tínhamos os chuveiros, um luxo. Só que no banho de fim de tarde era uma desilusão, a água saia muito quente, pois estava exposta ao sol, não servia. Então voltamos ao bidão no WC, para os banhos da tarde, e para os da manhã já servia o chuveiro, pois durante a noite não baixava mais do que 20º, talvez. Enfim, histórias. (...)

(ii) Tabanca Grande Luís Graça:

(...)" aquela zurrapa das pipas de vinho branco feito a martelo e misturadas com água do Rio Geba" (...). Dizes bem, Virgílio.

Foi na Guiné que eu, e muitos de nós, aprendemos a conhecer o "vinho verde branco"... Marcas como a Aveleda, as Três Marias, o Gatão, o Lagosta... eram muito procuradas. E eram caras, quase tanto como um garrafa de uísque novo... Aquela "trampa", gazeificada, fresca, sabia "pela vida"... E os otários pagavam 35 pesos por uma garrafa!... Um luxo!...

Ora, eu hoje suspeito que muito do vinho verde que a gente lá bebia era feito "a martelo"... Uma parte seria da minha região, a Estremadura Oeste, que tinha vinhos brancos, de baixo grau alcoólico... e que seguiam para o Porto, em camiões-cisterna, para depois serem misturados com os verdes, gaseificados e exportados para a Guiné, para a tropa, para o "tuga", para o "preto".

Hoje sou produtor de vinho verde, uma aventura que me aconteceu por via... uterina. E sei um pouco mais da história do vinho verde... Nos anos 60, pouco vinho branco se fazia, na região demaracada, a maior do país... talvez 10% no total... O forte era o "tinto", muito dele oriundo de "produtores diretos" como o Jaquet  (lê-se "Jaquê"...),  que resistiam a tudo o que eram doenças e não precisava de "tratamento"... Hoje é proibido, felizmente...

Fizeram-se grandes fortunas com os "engarrafados" e os "entalados", durante a "guerra do Ultramar".. Infelizmente é assim, em todas as guerras... O "vinho verde" (mas também as "conservas de peixe") foi o "volfrâmio" de alguns, poucos, que encheram os bolsos com a nossa fome e a nossa sede...

Nós, o Zé Soldado, fez a guerra, comeu e bebeu merda... Como sempre, em todas as guerras...


(iii) VirgílioTeixeira:

(..)" aquela zurrapa das pipas de vinho branco feito a martelo e misturadas com água do Rio Geba" (...)

Quero esclarecer que bebi muita daquela zurrapa, era vinho branco escuro, sem sabor, misturado com gelo, ou ao natural, com um pouco mais de álcool. O vinho verde, esse, mandava vir de vez em quando, e bebia mesmo na messe fazendo natural inveja, digo eu agora, mas não era essa a ideia.
Aquela zurrapa, normalmente, dava volta aos intestinos, e as diarreias e outros males intestinais eram devido também a esse vinho, isto para 'pessoas mais delicadas'!!!

Li que a malta da Intendência, brancos e pretos, nos barcos com os abastecimentos, furavam as pipas, bebiam metade e emborrachavam-se e depois para pôr ao nível juntavam água do rio, e por vezes álcool etílico e assim enganavam as tropas. E fizeram-se,  como bem dizes grandes fortunas às custas disto, mas quem nesse tempo pensava nisso? Eu não.


(iv) Tabanca Grande Luís Graça:

Também aprendemos a beber o "Mateus Rosé"... Em dia de festa, lá se puxava pela nota e mandava-se vir um "Mateus Rosé"... Que chique!... O dinheiro escorria, sujo e feio, era o "patacão da guerra"...


(v) Virgilio Teixeira:

Havia nos vinhos verdes vários tipos de 1.ª classe:

Em primeiro o Casal Garcia - já o bebia antes da tropa, e ainda hoje está na moda - o Gatão, o Aveleda e o Lagosta,  tudo dentro do mesmo nível.
Depois os 3 Marias, eram garrafas de 2.ª classe, eram de 1 litro, e não era de rolha, mas sim de cápsula. Vendia-se muito em Bissau, quando ia comer ao Zé d'Ámura os passarinhos fritos com molho picante, ele servia esse vinho e bebia-se uma garrafa num abrir e fechar de olhos. Os outros eram servidos nos melhores restaurantes, portanto mais caros, talvez fossem ao preço de uma garrafa de whisky da tropa.

O Mateus Rosé nunca bebi isso na Guiné, porque pensava que era doce. Aliás só comecei a beber cá depois da tropa, quando casei em 1970; lembro-me bem que nos dias 25 de cada mês - data do meu casamento e dia de receber o pré no meu emprego - ia a um restaurante na Povoa de Varzim - O Ricardo, hoje é mais um Tourigalo - comer uns camarões tigre fritos com piripiri, quando eles ainda eram relativamente baratos, e bebíamos uma garrafa de Mateus Rosé, e até fiz uma pequena coleção delas vazias. Coisas do passado.

(...) Transcrição de uma passagem do que escrevi no meu livro (inédito), acerca do vinho, copiei agora, e não está longe do que tinha dito atrás.

A mistura que faziam nas barcaças, era com água salgada, não era álcool etílico como disse, aliás se eles o tivessem bebiam mesmo álcool puro, penso eu!

O vinho gelado em garrafa e as invejas na messe de oficiais: Durante muito tempo eu mandava vir da metrópole caixas de vinho verde branco que era nessa altura o célebre Casal Garcia em garrafa ou então o Aveleda em botijas tipo garrafão redondas. E mais tarde vinha mesmo do comércio local de Bissau, caixas e caixas de vinho verde. 

O que era servido na messe de oficiais era de pipa, e era rasca, muito fraco, era misturado com água salgada e fazia-se negócio com ele, mas ainda bebi muito quando não havia outro e sinto ainda hoje esse cheiro e sabor, pois normalmente não estava gelado nem fresco por falta de frio nos frigoríficos, e por isso as canecas com essa bebida que vinham para a mesa eram acrescentadas de blocos de gelo das arcas, mais fácil de conseguir e por isso era meio vinho e meio água. 

Eu não gostava nada daquilo. Sinto ainda o sabor amargo desse líquido de cor castanha a que chamavam de vinho branco. As minhas garrafas eram metidas na arca frigorífica, e para mim vinha uma garrafa com vinho geladinho, às vezes até era mesmo congelado, e a pingar no copo, aquilo fazia uma inveja de morte a todos, mas em especial ao meu inimigo especial, o major Henriques, que no meio da refeição perguntava alto onde é que eu arranjava esse vinho, ao que eu respondia que o comprava com o meu dinheiro, mas ele insistia que isso custava muito, e eu lá lhe respondia que em vez de deixar a maior parte do meu vencimento em casa, ficava sim com ele todo na Guiné, e então preferia comer e beber bem em vez de ter dinheiro para quando regressasse, pois nem sequer sabia se regressava ou não. (...)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 25 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18777: Fotos à procura de...uma legenda (106): "As sobras do rancho da tropa"... e as latas de conservas, "made in Portugal", que as crianças levavam à cabeça (Valdemar Queiroz / Museu de Portimão / Virgílio Teixeira)

(**) Último poste da série > 16 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18640: (Ex)citações (337): A propósito das deserções nas fileiras do PAIGC, há um provérbio africano que diz "Todos os cães podem ser bravos, mas são mais bravos dentro das suas moranças", o mesmo quer dizer, dentro dos seus "chãos" (Cherno Baldé, Bissau)

Guiné 61/74 - P18797: Parabéns a você (1464): Silvério Lobo, ex-Soldado Mec Auto do BCAÇ 3852 (Guiné, 1971/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 30 de Junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18793: Parabéns a você (1463): Manuel Maia, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4610 (Guiné, 1972/74)

sábado, 30 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18796: Convívios (864): VIII Encontro da CCAÇ 1586, "Os Jacarés" (Piche, Ponte Caium, Nova Lamego, Béli, Madina do Boé, Bajocunda, Copa, Canjadude, 1966/68): os cinquenta anos do regresso, comemorados em 19 de maio p.p., em Abrantes (Jorge Araújo)



(1966) - Destacamento da Ponte do Rio Caium - militares da CCAÇ 1586 (Foto do camarada ex-furriel Aurélio Dinis, com a devida vénia).

Guiné > CCAÇ 1586 (1966-1968) «Os Jacarés» [Piche - Ponte Caium - Nova Lamego - Béli - Madina do Boé - Bajocunda - Copá - Canjadude]


- VIII ENCONTRO -

ALMOÇO/CONVÍVIO COMEMORATIVO DOS CINQUENTA ANOS DO REGRESSO

– Abrantes, 19 de Maio de 2018 –

[Texto do editor Jorge Araújo]


1. – INTRODUÇÃO

Os ex-combatentes da CCAÇ 1586 [Companhia de Caçadores 1586 «Os Jacarés»] reuniram-se no passado dia 19 de Maio, na cidade de Abrantes, para concretizarem mais um Encontro/Convívio entre camaradas que cumpriram o seu Serviço Militar no TO da Guiné, nos já longínquos anos de 1966/1968.

Este Encontro – o VIII consecutivo – juntou também familiares do colectivo mobilizado no Regimento de Infantaria n.º 2 [RI 2], com relevância para as duas gerações mais novas (filhos e netos), onde se recuperaram e cruzaram memórias desses tempos difíceis, de alto risco físico e psicológico, em que era obrigatório conviver com todas as incertezas, tensões e emoções produzidas por cada uma das diferentes missões que lhes foram sendo atribuídas ao longo dos cerca de vinte e dois meses de guerra.

Para além do objectivo supra, este VIII Encontro/ Convívio anual da CCAÇ 1586 tinha, ainda, um significado muito especial para todos, pois estava associado a uma efeméride: as comemorações do «cinquentenário» do regresso da Unidade à Metrópole (Lisboa), ocorrido a 15 de Maio de 1968, após cumprida a sua missão no CTIGuiné (1966-1968), conforme testemunha a imagem postada acima.

Quanto à minha participação neste Encontro, ela resultou de um convite muito sentido feito pela Comissão Organizadora, na medida em que me voluntariei para ajudar à (re)constituição da sua História, pois no volume 7.º da CECA [Comissão para o Estudo das Campanhas de África], consta que [da CCAÇ 1586] “não existe História da Unidade”.



2. – BREVE SÍNTESE HISTÓRICA DA CCAÇ 1586 NO CTIGUINÉ

A Companhia de Caçadores 1586 [CCAÇ 1586] foi formada e mobilizada no Regimento de Infantaria n.º 2 [RI 2], em Abrantes, tendo embarcado no Cais da Rocha, em Lisboa, a 30 de Julho de 1966, sábado, zarpando rumo à PU da Guiné [Bissau] a bordo do N/M “UÍGE”.

Concluída a viagem iniciada em Lisboa, que demorou seis dias, este contingente metropolitano desembarca em Bissau a 4 de Agosto de 1966, quando o conflito armado registava já três anos e meio.

É destacada para o sector do Batalhão de Caçadores 1856 [BCAÇ 1856], assumindo quatro dias depois [dia 8] a responsabilidade do subsector de Piche [Região Leste do território], substituindo dois GrComb da Companhia de Caçadores 1567 [CCAÇ 1567], e guarnecendo o Destacamento da Ponte do Rio Caium [imagem abaixo] com um GrComb, até 21 de Setembro desse ano.

A partir desta data assumiu, ainda, funções de Unidade de Intervenção na Zona de Nova Lamego, reforçando diversas localidades, nomeadamente: Nova Lamego, Béli e Madina do Boé, entre Outubro 1966 e Maio 1967.

Em 6 de Abril de 1967 foi rendida no subsector de Piche, assumindo o subsector de Bajocunda no dia seguinte [7Abr1967], rendendo a Companhia de Caçadores 1417 [CCAÇ 1417] e guarnecendo Copá com um GrComb, mantendo-se integrada no dispositivo de manobra do Batalhão de Caçadores 1933 [BCAÇ 1933] e posteriormente do Batalhão de Caçadores 2835 [BCAÇ 2835].

Entre 28 de Outubro e 4 de Dezembro de 1967, integrou com um GrComb o sector temporário de Canjadude. Foi rendida no subsector de Bajocunda a 27 de Abril de 1968 pela Companhia de Caçadores 1683 [CCAÇ 1683], embarcando em Bissau, de regresso ao continente, a 9 de Maio de 1968, 5.ª feira, a bordo do N/M “NIASSA”, com a chegada a acontecer a 15 de Maio de 1968, 4.ª feira [vidé P18518].



3. – O PROGRAMA SOCIAL DO VIII ENCONTRO/CONVÍVIO - ABRANTES


A Comissão Organizadora deste ano esteve a cargo de uma dupla de camaradas – o Eduardo Santos, de Lisboa, e o Manuel Casimiro, de Tomar, que delinearam um programa social adequado à efeméride.

De modo a sinalizar a presença da CCAÇ 1586, em Abrantes, o Encontro iniciou-se com a concentração dos ex-combatentes – Oficiais, Sargentos e Praças – a ter lugar na Porta d’Armas do Regimento de Infantaria 2 [RI 2]. De seguida, no interior do Quartel, em cerimónia plena de grande significado, o então Cmdt da CCAÇ 1586, Cap António Marouva Cera [hoje, Coronel aposentado], procedeu ao descerrar de uma placa alusiva ao acto, onde constam as datas que balizam a sua Missão Ultramarina – a da partida e a da chegada da Guiné.

Concluída a primeira parte do programa, seguiu-se a organização do cortejo automóvel até ao Restaurante «Quinta d’Oliveiras», onde decorreu o almoço. Para dar sentido ao convívio, este foi reforçado com a degustação de diferentes alimentos colocados à disposição dos presentes, combinados com alguns líquidos e muitas histórias num itinerário de episódios com mais de meio século. A ementa, que se apresenta ao lado, foi preparada para uma centena de participantes, os quais não deixaram de dar o seu contributo para aquela que foi a opinião geral: – A FESTA ESTEVE ÓPTIMA.

Por último, e antes das despedias até ao IX Encontro, a realizar em Maio de 2019, cantou-se os PARABÉNS por este aniversário “redondo”, brindando com espumante a um ano de muitas felicidades e saúde para todos, acompanhado com uma fatia do bolo.


Bolo comemorativo dos cinquenta anos do regresso da CCAÇ 1586 do CTIG, principal efeméride deste VIII Encontro – Abrantes 2018.


4. – HISTÓRICO DOS ENCONTROS

Os Encontros anuais da CCAÇ 1586 foram iniciados no ano de 2011 em Abrantes, cidade onde a Unidade foi mobilizada no Regimento de Infantaria 2 [RI 2]. Desde esse ano até ao presente estão já gravados oito eventos, organizados sempre no mês de Maio, opção fundamentada em relação à data do seu regresso à Metrópole [Lisboa].

Eis, a sequência cronológica dos encontros realizados.










Até ao próximo Encontro… até 18 de Maio de 2019.

Com um forte abraço de amizade
Jorge Araújo
14JUN2018.

[Mensagem de 17 do corrente; Caro Luís, espero que tenhas feito uma óptima viagem.

Na sequência do amável convite formulado pela Comissão Organizadora do VIII Encontro/Convívio da Companhia de Caçadores 1586 (CCAÇ 1586), que aceitei, realizado no passado dia 19 de Maio de 2018 em Abrantes, assumi a responsabilidade pela elaboração de um pequeno relatório alusivo à sua Festa, que anexo para publicação.

De referir que este Encontro anual, o VIII consecutivo, coincidiu com a comemoração do cinquentenário do regresso desta Unidade à Metrópole, depois de cumprida a sua Missão Ultramarina no CTIGuiné (1966/1968).

Aproveitei, ainda, para fazer o seu "Histórico de Encontros" já organizados.

Boa semana. 


Um abraço, 
Jorge Araújo.]
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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18781: Convívios (863): Encontro do pessoal da CCAÇ 2701, com homenagem ao seu Comandante, Capitão Clemente, ocorrido no passado dia 16, em Braga (Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf)

Guiné 61/74 - P18795: (De) Caras (111): O 1º srgt trms ref, Henrique A. Mendes, CART 797 (Tite e Nhacra, 1965/67)



Foto nº 1> O 1º srgt trms, Henrique A. Mendes, em Tete, Moçambique, 1971 ("Penso que seja em Tete, onde ele passou mais tempo").


Foto nº 2 >  Em São  Gonçalo, Açores, com mais dois militares, em 1977



Foto nº 3 > Em São Gonçalo, Ponta Delgada, Açores, com a filha Sandra Mendes, bebé, em 1979.


Fotos (e legendas: © Sandra Mendes (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Sandra Cristina Ferreira Alves Mendes, com data de ontem, às 15h55

Transmitirei na integra esta sua resposta (*).  E tentarei junto do "Mendes" (, meu pai sempre gostou de ser tratado por Mendes,) saber mais informações.

Ele seguiu mesmo a vida militar, sempre, até ser obrigado a reformar-se pelo tempo, como por outras razões.

Quanto à vida familiar, ele próprio, só se casou após o 25 de abril (, em 1976) e os filhos apenas vieram em 1979 (eu) e o meu irmão (1983).

Sempre fui muito agarrada ao pai, eu  era "o soldado dele", já que cresci no quartel de São Gonçalo, Ponta Delgada, Açores.

Eu sempre o conheci como 1º sargento e ele responde sempre, que sempre foi sargento, gosto de picá-lo...

Pelo que o Luís me diz, deve ter sido, na Guiné, quando ele estudou para 1º sargento... (suponho eu).

Ele bem teima comigo que era sargento... (ele sempre foi sargento!)

De cabeça está perfeitamente bem. Agradeço e manterei contacto.

Envio-lhe uma foto que tenho,  até no meu facebook, do meu pai... no ultramar.. penso que seja em Tete, Moçambique... onde ele passou mais tempo. Esta é de 1971. A outra foto é de 1979, em São Gonçalo, Ponta Delgada, Açores., comigo bébé.. E tem outra também,  em São Gonçalo, com ele  e outros militares-

2. Comentário de LG:
Obrigado, Sandra. Pelo que me contas, conheces bem a vida da tropa, já que cresceste em ambiente militar, no Campo Militar de São Gonçalo.  Ficaremos à espera de notícias do teu pai, e em particular memórias do tempo da Guiné e da malta da CCAÇ 797 (Tite e Nhacra, 1965/67). Faz-lhe bem recordar. Porque recordar é viver duas vezes.
Vejo pelo teu Face que nasceste em Ponta Delgada, em 3 de maio de 1979. E vives e trabalhas, presentemente em Vila Franca de Xira.  E que pela ascendência és ribatejana do lado do pai (Salvaterra de Magos) e estremenha do lado materno (Cadaval). É isso ? Então o teu pai (e nosso camarada) não é açoriano, fez a vida a militar depois do 25 de Abril nos Açores... Bate certo ?
Podes mandar, por email, um pequeno resumo das andanças do pai pelo Ultramar (Índia, Macau, Angola, Guiné, Moçambique...). Se ele se quiser juntar a nós, que formamos um Tabanca Grande, ficaríamos encantados... Mas tu também podes representá-lo muito bem... Temos aqui bastantes familiares de camaradas nossos, e alguns, como tu, aparecem porque os pais já não têm jeito nem pachorra para aprender a lidar com estas coisas da Internet, afinal já yão elementares como saber mandar e receber um email... Fica aqui o convite...
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P18794: Os nossos seres, saberes e lazeres (274): De Aix-en-Provence até Marselha (6) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 20 de Abril de 2018:

Queridos amigos,
Dia destinado a visitar o maior palácio gótico, nove Papas se sucederam em Avignon no século XIV.
Palácio e fortaleza, símbolo do poder temporal e espiritual, por aqui se deambula com a noção de que o fausto e as riquezas há muito se exauriram, ficaram frescos inultrapassáveis, tudo mais no interior é uma sombra do passado. Palácio de esplendor mas seguramente um pesadelo na História do Cristianismo, houve Papas e antipapas a excomungarem-se uns aos outros. A cidade guarda o seu esplendor, é também motivo turístico por duas razões: não se pode visitar Avignon sem ir à ponte de St-Bénézet e no verão os amantes do teatro têm aqui um ponto de encontro inexcedível, o festival para onde convergem as maiores trupes do mundo inteiro.

Um abraço do
Mário


De Aix-en-Provence até Marselha (6)

Beja Santos

O dia vai ser dedicado a Avignon, Património da Humanidade, o que já estamos a ver é a residência onde viveram sete Papas durante 68 anos. Foi uma quezília com motivos políticos sórdidos, um rei endividado que precisava de aniquilar o credor, a Ordem do Templo, para isso havia que contar com um beneplácito papal, um francês aceitou assinar essa sentença que destruiu a ordem religiosa com maior poder económico e financeiro da Idade Média. Em 1309, Clemente V decidiu instalar em Avignon a capital da cristandade e no ano seguinte dissolveu a Ordem do Templo. É o Papa de Avignon, e a razão de ser desta espantosa construção, um palácio que se confunde com um castelo fortificado.



O viandante vai munido do guia Michelin e no turismo recolheu alguma informação. Avignon ou Avinhão é uma cidade com história, em Roma vivia-se uma grande instabilidade, para aqui veio Clemente V ajudar Filipe o Belo a cometer uma patifaria, o seu sucessor João XXII escolheu definitivamente a cidade para sede do Papado, ergueram-se casas luxuosas, novas igrejas, apareceram comerciantes, diplomatas e juristas. Mesmo quando Avignon entrou em declínio depois do Papa regressar a Roma, houve aquele período dos antipapas, e resta dizer que no século XX, mais propriamente em 1947, Jean Vilar aqui instituiu um festival de reputação mundial.


A residência que os Papas construíram no século XIV foi uma das maiores construções fortificadas do seu tempo. Hoje, maioritariamente, as salas estão vazias, mas há traços inequívocos da grande pompa que aqui existiu. Iniciou-se a construção da fortaleza papal, o Palácio Velho, no tempo de Bento XII. Mais tarde, com Clemente VI ampliou-se a construção, o chamado lado sul do palácio. A arquitetura do Palácio dos Papas é austera, mas muito funcional. É curioso constatar que quando, nos finais do século XIV, os Papas regressaram a Itália, utilizaram o esquema de Avignon tanto nas novas residências que aí ergueram, como até na ampliação do Vaticano. No Palácio Velho as funções públicas agrupavam-se em torno do pátio interior, circundado por galerias abertas. No ponto mais elevado ergue-se a Torre Trouillas, albergava adegas, cavalaria e servia de sala de armas. No lado sul estendiam-se os aposentos privados do Papa naquela a que se dá o nome de Torre do Papa ou Torre dos Anjos, e que albergava o seu quarto de dormir e o escritório privado, o studium.



Como o viandante tem um escasso sentido de orientação, nestas coisas de andar com a mole humana parece uma maria-vai-com-as-outras, já não sabe bem se está na Ala do Conclave, no Grande Refeitório, na Sala de Audiências, e muito mais há para ver e dizer, finalmente acaba por se deslumbrar com a decoração de que hoje restam raros fragmentos, perdeu-se a ver frescos de uma enorme beleza, o quarto de dormir do Papa é um espaço incomparável.


O que vemos aqui são detalhes desses belíssimos frescos, a caça com falcão, um encantador de pássaros e uma cena de pesca num viveiro, irresistível não fixar tais imagens.




Desiluda-se quem pensa que Avignon é só o palácio dos Papas, há belíssima arquitetura, e há um ícone, impossível não ir visitar, a ponte de Avignon ou Pont St-Bénézet com a capela de S. Nicolau. Paga-se o bilhete à entrada e vem a história, tem todos os ingredientes para ser lenda. Em 1177, St-Bénézet, então um jovem pastor, agindo por inspiração divina, deu-lhe para começar a construir a ponte, trabalho jamais acabado, recebeu beneficiações, mas também grandes destruições, foi deixada ao abandono até ao século XIX, então restauraram os quatro últimos arcos. Vem nos guias turísticos que a ponte teria cerca de 900 metros, destinada a peões e cavalos, estendia-se ao longo de 22 arcos, atravessava o Ródão. A canção Sur le pont d’Avignon corre o mundo inteiro, imprescindível deambular por aqui, para receber bênçãos e para perceber até onde pode ir a fé e a tenacidade.



Mesmo em frente ao palácio dos Papas temos um edifício de 1619, a Casa da Moeda, fachada de três pisos, com rés-do-chão rusticado e nos pisos superiores decorações em relevo pesadas, com as armas dos Borghesa.


Avignon tem museus, mas convém controlar a bulimia cultural, toca a passear pelos jardins e saborear a cidade. É nisto que se depara o viandante a melodia extraída de um realejo de rua, com o seu exuberante tocador. Assim o viandante se despede, volta a apanhar comboio para Arles, tem amanhã um dia em cheio.


(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18770: Os nossos seres, saberes e lazeres (273): De Aix-en-Provence até Marselha (5) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18793: Parabéns a você (1463): Manuel Maia, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4610 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 29 de Junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18789: Parabéns a você (1462): José Firmino, ex-Soldado At Inf da CCAÇ 2585 (Guiné, 1969/71) e Santos Oliveira, ex-2.º Sarg Mil, Pel Mort Ind 912 (Guiné, 1964/66)

sexta-feira, 29 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18792: (De)Caras (110): O ex-fur ou 2º srgt de transmissões da CCAÇ 797 / BCAÇ 599 (Tite e Nhacra, 1965/67), hoje com 84 anos, 1º srgt trms ref (Sandra Mendes, filha)


Guiné > Região de Quínara > Tite > CCAÇ 797 (Tite e Nhacra, 1965/67) > Grupo de furriéis e sargentos > O infortunado limiano Júlio Lemos é o primeiro, da primeira fila, ao centro, "aninhado"...



Guiné > Região de Quínara > Tite > CCAÇ 797 (Tite e Nhacra, 1965/67) > Grupo de furriéis e sargentos > O nº  14 é o Henrique Alves Mendes (ou Henrique A. Mendes), na altura fur ou já 2º sargento de transmissões, segundo testemunho da filha, que publicamos a seguir.

Foto (e legenda: © Mário Leitão (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Sandra Cristina Ferreira Alves Mendes 

Data: 27 de junho de 2018 às 14:55
Assunto: Identificação de foto: Guiné 61/74 - P18080 (Guiné >Região de Quínara> Tite>1965> CCAÇ797: (CCAÇ 797 / BCAÇ 599) 4ª foto: Nº 14

Olá, boa tarde,

Tenho vindo a seguir a vossa página há já uns anos: https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

O meu pai reformado do exército, do ramo de Transmissões, passou pelo inicio de Macau, Índia e todo o Ultramar.

É uma pessoa que sempre fez segredo do tempo do Ultramar e sempre fez questão de "fugir" aos encontros. Trocando apenas cartas com alguns dos "colegas" dessa altura, grande parte são do Norte pelo que fui apercebendo-me enquanto crescia, e sendo uma ave rara em relação ao contacto com as novas tecnologias

Existe uma publicação vossa, de 13/12/2017, onde ele aparece. E no seguimento de uma conversa que ele estava a ter desse tempo (são raras as vezes), mostrei-lhe uma foto onde ele aparece e onde o vosso grupo questiona as pessoas da foto.

Dessa foto, até ao momento, apenas consigo identificar o meu pai. (Ele próprio indicou que podiam identificá-lo na foto...)

Guiné 61/74 - P18080 (Guiné >Região de Quínara> Tite>1965> CCAÇ 797: (CCAÇ 797 / BCAÇ 599): 4ª foto:  o  n.º  14 - Henrique Alves Mendes (aparece muitas vezes como Henrique A. Mendes).

Na altura ele diz que já era 1.º sargento 46182355- Henrique Alves Mendes (mas sei que ainda não o era, sendo furriel à data da foto).

Pertenceu, como 1.º sargento, ao a STM - Destacamento Moçambique. Esteve em vários locais, entre eles, Tete.

Quanto à vossa questão (Guiné 63/74 - P12016) sobre as mortes por afogamento dos furriéis em 12/8/1965 no rio Louvado, referiu que não se lembrava disso.

Da entrega do material à FRELIMO, ele indicou, que foi quem fez a lista/relação dos materiais a entregar à FRELIMO.

Como estou a tentar recuperar a história que ele sempre escondeu de todos (...),  para compreender algumas situações e "mazelas" de que padece, e que os médicos pensam ser resultado de acidentes no ultramar, tenho vindo a estudar um pouco a história do STM e,  em conversa com ele, tentando confirmar alguns dados.

Não sei se a identificação da foto será relevante, mas deixo aqui o nosso contributo.

Com os melhores cumprimentos,
Sandra Mendes
Filha de 1º Sargento Henrique Alves Mendes (n. 08-04-1934)


2. Resposta do editor LG:

Sandra, obrigado por nos contactar... O seu pai é um camarada nosso que nos merece todo o respeito, até por ser bastante mais velho que a generalidade daqueles que fazem e leem este blogue... Em geral, os capitães e sargentos do quadro era 12 a 14 anos mais velhos que nós, milicianos e praças... O seu pai está com 84.. Ao tempo da CCAÇ 797,  teria já 31/32 anos... Dê-lhe um alfabravo (ABraço) nosso com votos de saúde e longa vida.

Todos nós, de um maneira ou de outra, estamos a sofrer as sequelas, físicas e/ou psicológicas,  daquela guerra... O seu pai decidiu seguir a vida militar, e seguramente com grande sacrifício da família... Não conheci o seu pai, muito menos a malta da companhia dele, a CCAÇ 797 (Tite e Nhacra, 1965/67)... Ele esteve lá num tempo e lugar bem duros... Tiveram um grande capitão, o Carlos Fabião (que fez três comissões na Guiné)... Eu estive lá, Guiné, relativamente perto de Tite, em Bambadinca, na zona leste, contígua à região de Quínara, mas já em 1969/71. E lembro-me de ter ajudado o meu 1.º sargento, Fragata, com explicações de português, para poder frequentar a Escola Central de Sargentos, em Águeda...

Na foto em questão, e que reenvio, com mais resolução, o seu pai
está num grupo de furriéis (milicianos) e sargentos (do quadro). Em geral nas companhias havia dois segundos sargentos e um 1.º sargento, do QP (Quadro Permanente)... As divisas do furriel são 3 V apontados para baixo. A do 2.º sargento são 3 V apontados para cima. A do 1.º sargento, são 4 V apontados para cima.... Pela foto que lhe envio, a maior parte dos camaradas são furriéis, milicianos, o seu pai parece ter divisas de 2º sargento... O 1.º sargento da companhia, a CCAÇ 797, parece ser o camarada que está na segunda fila, de pé, de óculos, a contar da esquerda para a direita... O seu pai, de perfil, está em em 7.º lugar e tem debaixo do braço dois grossos volumes... Podem ser livros de estudo...

Foi muito importante identificar o seu pai. E pode ser que, com a sua sábia ajuda, ele nos forneça mais alguns elementos sobre o Júlio Lemos, o fur mil, que ele devia conhecer muito bem, que morreu afogado, juntamente com o 1º cabo Ferreira, no rio Louvado... Estes elementos são importantes para todos nós porque não queremos que nenhuma camarada nosso fique na "vala comum do esquecimento"... O Mário Leitão, nosso camarada, acaba de publicar um livro com as histórias de todos os limianos, os naturais de Ponte de Lima, que morreram na guerra colonial. O Júlio Lemos é um deles... Vou pôr a Sandra em contacto com o Mário Leitão... Ele inclusive já falou com dois elementos desta lista de contactos da companhia:

Abílio Abrantes, telef 238 691 390;
José Bayó, tm 917 291 778;
Jorge Duarte, tm 962 397 036;
Santos Costa, tm 917 415 288.

Infelizmente, nenhum deles faz parte da nossa Tabanca Grande.

Quanto ao resto, e à história que me conta (e que não publicamos aqui).. Bom, somos um blogue de amigos e camaradas da Guiné, não somos juízes de ninguém, não julgamos nem condenamos ninguém... Pelo contrário, procuramos ajudar quem precisa...

Já que o seu pai (e nosso camarada) nos autoriza, vamos identificá-lo, neste poste e neste blogue (**). Se a Sandra tiver histórias ou fotos dele, e se quiser publicá-las no nosso blogue, ficar-lhe-íamos gratos. Espero que esta minha mensagem também ajude a Sandra (e nós) a aproximar-se mais do seu pai, e nosso camarada.

Um beijo, os filhos dos nossos camaradas nossos filhos são...
Luís Graça
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de  13 de dezembro de  2017 > Guiné 61/74 - P18080: Em busca de... (284): Veteranos da CCAÇ 797, "Os Camelos" (Tite e Nhacra, 1965/67), comandada pelo cap inf Carlos Fabião, e em especial os 8 elementos da secção do fur mil Júlio Lemos Pereira Martins, do 1º Gr Comb, comandado pelo alf mil inf Américo de Melo Pinto Lopes (Mário Leitão, autor do livro em 
elaboração "Heróis limianos da guerra do ultramar")

(**) Último poste da série > 26 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18679: (De) Caras (108): A história da Kalash apanhada pelos Kimbas a um "Don Juan" do PAIGC, contada pelo António Ramalho, o "pira" da CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71), que andou sempre com "gente aprumada e de alto gabarito"...

Guiné 61/74 - P18791: Blogpoesia (573): Mulher (ou lembranças da minha terra), de Júlio Corredeira (Mário Santos, ex-1.º Cabo Especialista MMA da BA 12)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Santos (ex-1.º Cabo Especialista MMA da BA 12, Bissalanca, 1967/69), com data de 17 de Junho de 2018:

Caro amigo Carlos.
Desta vez, celebrando a vida na poesia, envio-te um poema (com foto a condizer com o tema da palavra) do meu camarada e amigo ex-piloto aviador Júlio Corredeira. que cumpriu comissão em terras de Angola no AB4 em Henrique de Carvalho.
Grande amigo e poeta sensível na palavra.
Esperemos que gostem...

Abração
Mário Santos

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MULHER (ou lembranças da minha terra)

São invernos frios, sem parente ou amigo
São giestas por companhia...
No escano velho, calor do seu abrigo.

É o peso de uma vida
O resto de um viver
É uma lágrima caída
No olhar do seu sofrer

Votada a tetro e frio esquecimento
E sem qualquer auxílio para o seu mal...
Vai morrendo abraçada ao sofrimento.

JC
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Nota do editor

Último poste da série de 24 de Junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18774: Blogpoesia (572): "Festa das ventanias", "Lagoa de Melides" e "Pérolas na vidraça", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728