terça-feira, 5 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19551: Convívios (887): XXXVI Encontro Nacional dos ex-Oficiais, Sargentos e Praças do BENG 447 - Brá, 1964-1974, a levar a efeito no dia 11 de Maio de 2019, na Tornada, Caldas da Rainha (Lima Ferreira, ex-Fur Mil do BENG 447)

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DOS EX-OFICIAIS, SARGENTOS E PRAÇAS DO BENG 447, BRÁ, 1964-1974

DIA 11 DE MAIO DE 2019

TORNADA - CALDAS DA RAINHA


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Nota do editor

Último poste da série de 23 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19520: Convívios (886): Encontro do pessoal do BCAV 3846, a levar a efeito no próximo dia 17 de Março de 2019, no Cartaxo (Delfim Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf.º)

Guiné 61/74 - P19550: Agenda cultural (674): Convite para a apresentação do livro "Orando em verso II", de Joaquim Mexia Alves, dia 30 de Março de 2019, pelas 15h00, no Mosteiro de Santa Clara - Monte Real (Joaqim Mexia Alves)

C O N V I T E



1. Mensagem do nosso camarigo Joaquim Mexia Alves (ex-Alf Mil Op Especiais da CART 3492/BART 3873, Xitole/Ponte dos Fulas; Pel Caç Nat 52, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão e CCAÇ 15, Mansoa, 1971/73) com data de 4 de Março de 2019:

Meus amigos
O meu segundo livro está editado e até já começou a ser vendido. No entanto a apresentação do mesmo só será feita no dia 30 de Março.

Estão todos convidados para a apresentação do meu livro "Orando em Verso II".

A receita da venda deste livro, (depois de deduzidas as despesas de edição), será inteiramente entregue às Irmãs Clarissas de Monte Real, para ajudar as obras do Mosteiro que recentemente construíram em Timor.

O livro pode ser adquirido também enviando um mail para orandoemverso@gmail.com e na resposta serão dadas todas as indicações para o poder receber em casa.
Ainda restam alguns, poucos, exemplares do primeiro livro, "Orando em Verso", cuja receita de venda foi e é entregue à Paróquia da Marinha Grande para a construção do Centro Pastoral de imensa necessidade para a paróquia. Pode ser adquirido também com envio de mail para o mesmo endereço electrónico acima referido.

Muito obrigado a todos pelo vosso apoio e colaboração.

Envio também convite e poster feitos pela Paulus para o evento.
Se quiserem colocar nos blogues respectivos agradeço e as Irmãs Clarissas também.

Abraços amigos e gratos do
Joaquim Mexia Alves
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Nota do editor

Último poste da série de1 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19541: Agenda cultural (673): Entrudo Chocalheiro, Podence, Macedo de Cavaleiros, 2-5 de março de 2019... Porque A Vida São Dois Dias, e o Carnaval São Três... E Portugal Não é Só Lisboa ... E Eu Vou Lá Estar!... (Luís Graça)

segunda-feira, 4 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19549: Estórias avulsas (93): Histórias do vovô Zé (1): As nossas andorinhas (José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp)

1. O nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), em mensagem do dia 22 de Fevereiro de 2019, enviou-nos uma bonita história sobre as andorinhas. Conversa entre avô e netos que nos devia sensibilizar a todas a preservar a natureza.


Histórias do vovô Zé

As nossas andorinhas

https://youtu.be/QrrawrmJkOM

Passados mais de setenta invernos, lá vinha de novo mais uma ansiada primavera. Das coisas boas do inverno pouco havia a recordar. Não fora a quadra natalícia, por excelência a dos dias de maior aconchego e afecto familiar, e apenas recordaríamos a chuva teimosa, o frio penetrante e os dias pequeníssimos daquela estação anual.

A primavera era anunciada com a chegada das andorinhas e o friorento vôvô-Zé, sempre ansioso, passava o tempo a olhar o céu na expectativa de as ver chegar. Ele sabia que todos os anos por volta do dia 20 de Março elas se instalavam no seu espaço, para dar início a mais um admirável ciclo das suas vidas. Para ele, até parecia que, com a chegada das andorinhas, lhe estava garantido mais um ano de vida. Nos últimos anos, talvez devido ao aquecimento global da Terra elas, por vezes, têm vindo mais cedo uns dias. Foi o caso daquele ano em que coincidiu a chegada da primeira andorinha, na última semana de Fevereiro, precisamente com o dia de mais um aniversário do avô Zé.
Mal os netos chegaram para a festa do aniversário, já o avô babado lhes contava a grande novidade:
- Já chegou a primeira andorinha, a exploradora! Acordei cedo a ouvi-la chilrear poisada no fio eléctrico que passa diante da janela do meu quarto. Ela não se calou enquanto não me viu feliz a dar-lhe as boas-vindas.
- E as outras, vôvô-Zé, quando chegam? – Perguntava o pequeno Dudu (de 6 anos). Logo ele a quem o avô costumava levantar várias vezes para, pasmado de curiosidade, espreitar os ninhos.
- Esta apenas vem cá dormir mas não todas as noites. Penso que vai ver se encontra locais disponíveis para os demais familiares. Alguns deles devem ser bem longe daqui. No ano passado, tivemos aqui cinco ninhos com cinco filhotes, excepto um que teve só quatro. Fazendo as contas, vemos que a exploradora vai ter muito que fazer. O que lhe vale é que devem chegar para a ajudar mais duas ou três dentro de poucos dias.


Mais interessada em pormenores, a Kika (de 9 anos), uma excelente aluna na escola primária, parecia querer enriquecer os conhecimentos que já possuía nessa matéria. E questionava:
- Mas, ó vôvô-Zé, assim já devíamos ver mais andorinhas. Onde andam as outras?
- Olha, tenho a certeza absoluta que temos descendentes daqui da nossa Casa dos Aidos, espalhados pelo norte de Portugal. Às vezes penso até que também estão na Galiza. Há já uns anos, fiquei a dormir numa pensão em S. João da Pesqueira e, de manhã, querendo admirar melhor aquela lindíssima paisagem duriense, subi a um ponto alto da povoação, que ficava dentro de uma vinha. Fiquei tão satisfeito que não queiras saber. Um pequeno grupo de andorinhas, a chilrear, fez círculos sobre mim, tal e qual como me costumam fazer aqui no quintal, quando chegam. Fiquei convencido de que elas me conheciam.

Entusiasmados com o tema, seguiram para o alpendre para verem se a andorinha lá estava. Até as gémeas Rita e Carmo, com três anitos apenas, lá seguiam os mesmos passos curiosos.
- Aquele ninho continua destruído. Já não me lembro o que aconteceu – Observou o Dudu.
- Foi devido a um ataque do milhafre. Não foi, vôvô-Zé? Lembrou a Kika.
- Sim, foi num dia em que ouvimos as andorinhas a gritar muito. Lembro-me que o Malhadinho saltou de repente dos meus joelhos e correu para a varanda. Ao segui-lo, ainda vi o milhafre a fugir. Descemos ao alpendre e encontrámos três filhotes novinhos, ainda com as penas pequenas. Haviam caído dois, ali, dentro da gamela do moinho eléctrico e um, aqui, no chão.

Ao ver a muita atenção dos quatro irmãos, filhos da Ana e do Abel, o avô continuou:
- Quando peguei nesses filhotes, os pais choravam e pediam muito para que eu tivesse muito cuidado com eles. Vi que um dos ninhos estava vazio, arranjei-o com as palhas mais finas e mais fofinhas, caídas do seu e coloquei-os lá dentro. E eles, caladitos, lá ficaram muito quietinhos. No ano seguinte, quando as andorinhas haviam chegado, fui vê-las pousadas sobre os arames, antes de decidirem começar a trabalhar. Algumas aproveitaram para me olharem atentamente, talvez para saberem se estava a ficar muito velho ou verem se estava doente. Porém, duas delas fugiram cheios de medo, a gritar devido à minha aproximação e eu afastei-me para não as incomodar. Já no jardim, vejo-me sobrevoado pelas quatro andorinhas que quase me tocaram. Para mim, fiquei com a certeza de que os pais já tinham explicado aos filhos que fora este velhote quem os salvara no ano anterior. Acenei-lhes com um gesto de simpatia e elas lá foram subindo aos esses e a chilrear de satisfação.
- Mas, ó vôvô-Zé, não foram três as que salvaste? – Observou a Kika.
- Sim. É natural que uma tenha morrido. Talvez, aquela que caiu ao chão. Também te digo que muitas não aguentam as grandes viagens que fazem até África. Por outro lado, são muitas as que morrem por comerem mosquitos envenenados por alguns produtos químicos que são espalhados para desinfecção dos campos e para limpeza das ruas. Antigamente só se usavam adubos caseiros e produtos orgânicos, biodegradáveis e bastante seguros.

Entretanto, chegaram as duas netas de Vila do Conde, filhas da Beatriz e do Zé-Tó. Após algum entusiasmo neste reencontro, já se ouve a Inês de 12 anos (uma intelectual em potência), a neta mais velha, a explicar:
- É verdade. Há dias a minha professora esteve a explicar várias coisas sobre esse assunto. Agora, procura-se gananciosamente a reprodução intensiva através de produtos sintéticos que até são nocivos para a saúde e para a natureza. Por sua vez, os nossos governantes, na ânsia de mostrar as ruas e caminhos limpos, também aplicam pesticidas desmesuradamente. Com as chuvas, dá-se o arrastamento desses produtos para os rios e fontes, provocando o seu envenenamento e, também, o desaparecimento dos peixes e de outros seres vivos úteis à natureza.

A irmã Francisca de 10 anos (a super- activa), sempre agarrada à Kika, também ajudou no tema e lembrou que na Casa do Couto, do avô David e da avó Maria José, de Barcelos, também existem ninhos de andorinhas.


Nesta Casa dos Aidos, onde nasceu a avó Gilda, ela lembra-se bem do alpendre com mato para fazer estrume e dos aidos do gado à volta, no rés-do-chão da casa. Talvez devido às moscas ali produzidas, esse tipo de casas de lavoura, sempre tinham ninhos por perto, debaixo das varandas. Agora, que o gado já não existe, nem os matos no alpendre (cimentado), as andorinhas continuam a vir fazer os seus ninhos. Pensamos que isso se deve ao seu sentido de posse, de defesa das suas tradições e da sua afectividade à casa dos seus antepassados. Normalmente, elas são merecedoras da nossa grande admiração e de toda a simpatia. Diz-se, até, que as casas com andorinhas são abençoadas. Muitas dessas casas já não as têm, porque alguém as perseguiu ou mal tratou. Pois, aqui, elas mandam. Sim, elas é que são donas desta casa. Se esta casa tem mais de duzentos anos, imagine-se quantas gerações delas, já cá passaram. E se elas vivem em média cerca de 7 anos, teremos mais de 30 gerações em equiparação, o que, transferido para a nossa média de vida de 70 anos, daria qualquer coisa como 2.100 anos!


Em Julho e Agosto, as andorinhas novas sobem para apanhar os ventos marítimos. É o período de preparação/musculação para poderem seguir a grande viagem continental. E à medida que a data de partida se aproxima, elas reúnem, para organizar essa grande viagem colectiva. Primeiramente reúnem aqui a sua família mais chegada, umas 25 ou mais e, depois, umas 80 a 100. Talvez, já com os familiares mais afastados, que vêm descendo do norte. Depois, juntam-se muitas centenas junto da igreja matriz, ocupando extensões enormes de fios eléctricos, durante cerca de dois dias.


O vôvô-Zé ainda acrescentou:
- Já me tenho levantado da cama para vê-las em reunião madrugadora, a planearem a sua longa viagem. É impressionante a sua educação e a disciplina democrática que elas nos mostram. Estão todas sobre os arames da antiga ramada e voltadas para o centro do alpendre. Só se ouve uma a “falar” que, por sua vez, “dá a palavra” a outra e… a outra. Um dia ouço algumas a “avisar” de que está alguém a espreitar. Mas, a chefe deve tê-las acalmado, informando-as de que eu não lhes faria mal algum. Fui buscar a máquina e quando procurava uma boa posição para as fotografar, elas partiram e devem ter suspendido ou terminada a assembleia.
- Mas, ó vôvô-Zé, por que é que elas vão embora, se nós não lhes fazemos nenhum mal?- Lamentava-se o Dudu.
- Porque com o frio do inverno não existem moscas e mosquitos e elas precisam de comer muitos. Por isso, vão para a África passar o nosso inverno e que lá faz muito calor.



Já voltado para os filhos, nora e genros que se juntaram, o vôvô-Zé comentava:
- Em Setembro, podemos continuar a sentir o clima agradável e a ouvir os vários pássaros teimando no prolongamento dos dias felizes do Verão. Porém, quando as andorinhas partem, parece que tudo muda e que já nada é como dantes. Sinto um ligeiro calafrio que se irá acentuar nos meses de inverno e que só me “ressuscitará” a partir de finais de Fevereiro, não por celebrar mais um aniversário mas, isso sim, por ver chegar de novo as nossas andorinhas.
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Nota do editor

Último poste da série de16 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19105: Estórias avulsas (92): Triste memória de guerra (Abel Santos, ex-Soldado At Art da CART 1742)

Guiné 61/74 - P19548: Notas de leitura (1155): Guinea-Bissau, Micro-State to ‘Narco-State’, por Patrick Chabal e Toby Green; Hurst & Company, London, 2016 (3) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Novembro de 2016:

Queridos amigos,
Na sequência das análises que se tem feito a um importante livro que é uma homenagem a um grande investigador, Patrick Chabal, dois autores apreciam as instituições da sociedade rural e a sua proverbial estabilidade que agora estão em mudança graças a vários fatores: a arbitrariedade dos preços do caju, a crescente procura de trabalho no exterior, a ameaça de segurança alimentar (entenda-se o risco e não haver comida para todos, até agora tem havido, a ameaça permanente é a subnutrição).
Outros dois autores dão-nos um quadro bem curioso do pluralismo religioso e da convivência interétnica, que permite a previsão de que não há condições para a presença avassaladora do terrorismo e fundamentalismo islâmico.
Por último, outro autor aborda a descriminação de género, um dos aspetos mais grotescos do incumprimento das promessas de Amílcar Cabral, isto quando a mulher combateu ao lado do homem, destemidamente, na luta de libertação.

Um abraço do
Mário


Guiné-Bissau: de Micro-Estado a Narco-Estado (3)

Beja Santos

“Guinea-Bissau, Micro-State to ‘Narco-State’”, por Patrick Chabal e Toby Green, Hurst & Company, London, 2016, é constituído por um acervo de estudos dedicados à memória de Patrick Chabal, falecido em Janeiro de 2014, e que idealizou até ao fim dos seus dias a organização desta obra com Toby Green. Obra constituída por três partes (fragilidades históricas; manifestações da crise e consequências políticas da crise) convocou nomes importantes da historiografia da Guiné-Bissau no plano internacional como Toby Green, Joshua B. Forrest, Philip J. Havik, entre outros.

A introdução e a primeira parte, dedicada às fragilidades históricas, motivaram os dois primeiros textos.
Iniciamos hoje a segunda parte, centrada nas manifestações de crise. Marina Padrão Temudo e Manuel Bivar Abrantes retomam a questão da estabilidade social e do modo de viver rural. Tenha-se em conta o que outros autores já referiram: o caráter suave do Estado da Guiné-Bissau, a sua ineficácia no processo de elaboração de políticas, o seu gradual desfasamento fazer chegar as instâncias do PAIGC à sociedade rural, aos poucos a participação política foi-se restringindo; foram exíguos os investimentos na agricultura, soçobraram as medidas de nacionalização do import/export e a nacionalização das terras não passou de uma utopia. Para estes dois autores as sociedades rurais guineenses foram resilientes, fizeram frente aos desaires do Estado, resistiram às suas prepotências e irresponsabilidades com a política agrícola. Mas o conflito político-militar de 1998-1999 apanhou as sociedades rurais já na monocultura do caju, as deslocações maciças de população desestabilizaram as formas de viver, uma coisa é a pobreza com alimentação e mesmo focos de subnutrição, outra coisa é subitamente as tabancas do interior serem confrontadas com insegurança alimentar. Até recentemente, estes pequenos agricultores e os ponteiros conseguiam uma harmonia precária entre a comida de subsistência e a produção de troca e a exportação, nomeadamente o caju.

Está devidamente estudado que a intervenção colonial não desarticulou, dentro de certos limites, este precário equilíbrio nas sociedades rurais. O amendoim foi o produto de exportação por excelência entre 1846 e 1974. Houve igualmente exportação de arroz para a Europa, que se iniciou na década de 1930, a guerra de libertação inverteu esta tendência. Distinguem-se fundamentalmente os modos de sobrevivência alimentar dos povos animistas (com os Balantas e os Manjacos à cabeça) dos muçulmanos. Seja como for, é na diversidade étnica que se encontram formas complementares destes sistemas de modo de vida que integram cereais, coconote, óleo de palma, arroz, com uma correspondente economia de troca, onde pode entrar carne, pescas, frutos e outros produtos. A guerra de 1998 levou a que mais de 200 mil guineenses urbanos tenham procurado refúgio nos campos, houve que encontrar acolhimento e amortecimento ao choque de providenciar comida em tão grandes quantidades aos refugiados. Os autores abordam o fenómeno das pontas exploradas ao tempo em que houve financiamentos durante o processo de ajustamento estrutural, agravou as desigualdades sociais e criou uma nova elite política e financeira que, de um modo geral não pagou ao Estado os créditos concedidos pelas linhas generosas desse dinheiro vindo do exterior. Os autores fazem uma análise demorada das mudanças sociais que se estão a operar na vida comunitária cuja evidência é a explosão migratória, a perda da autoridade dos mais velhos e o crescente número de casamentos interétnicos. A monocultura do caju está a revelar-se um desastre, os agricultores estão cada vez mais dependentes de compradores que jogam com as baixas cotações do mercado internacional, a Índia está a tornar-se um feroz competidor e o mercado dos cereais é cada vez mais instável. As mudanças em curso estão a reduzir a solidariedade nas comunidades rurais.

Bem curioso é o artigo de Ramon Sarró e de Miguel de Barros sobre a convivência entre credos religiosos, entre crentes monoteístas e animistas. É crescente a presença da religião na esfera pública e o pluralismo de opiniões é uma moeda corrente. Os autores dão como exemplo a povoação de Enxalé onde há 8 diferentes línguas, uma mesquita, uma igreja católica, um templo protestante, neopentecostais e balobeiras, membros do movimento profético Kyang-yang, onde se misturam elementos simbólicos do Islão, da cristandade e da religião Balanta. Eles analisam historicamente o mapa religioso da Guiné-Bissau a partir das etnias, das práticas religiosas, para concluir que até ao presente têm funcionado com sucesso todos os processos de mediação entre convicções religiosas, acentuando que em pleno conflito político militar todos os atores se reuniram fazendo um apelo à paz.

O último artigo é da responsabilidade de Aliou Ly que analisa as relações de género na Guiné-Bissau destacando que todas as promessas de Cabral no campo da promoção da mulher têm sido ignoradas pelos sucessivos poderes, ao longo de 40 anos. A mulher continua marginalizada do sistema político, o seu contributo nas estruturas sociais e económicas está praticamente limitado ao trabalho braçal e a obedecer sem reticências ao homem, estão sub-representadas no sistema educativo, administrativo e nas instituições políticas de todo o tipo. Estuda o impacto da marginalização da mulher na Guiné pós-independente, a despeito de muitas licenciadas que se impõem no mundo dos negócios. As leis contra a discriminação de género não são respeitadas, é notória a resistência masculina como se mantêm inúmeras desigualdades de classe e étnicas que agravam a condição da mulher. Nos primeiros anos da independência ainda se falava nas heroínas como Titina Sila, referindo-se sempre com respeito mulheres como Francisca Pereira ou Carmen Pereira. O autor atribui responsabilidades a este fenómeno discriminatório logo à governação de Luís Cabral, teria começado aqui o círculo vicioso da desigualdade de género e da imposição da ordem masculina. Os homens emigram para os países limítrofes, as mulheres ficam com cada vez mais trabalho na tabanca e na vida familiar. O paradoxo de tudo é que Amílcar Cabral tinha prometido que se construiria um país com igualdade e melhor vida para todos.

O próximo e último artigo centra-se na diáspora guineense depois de 1998, as consequências políticas da crise e o aparecimento do Narco-Estado e Toby Green apresenta as suas conclusões.

(Continua)
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Notas do editor

Poste anterior de 25 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19526: Notas de leitura (1153): Guinea-Bissau, Micro-State to ‘Narco-State’, por Patrick Chabal e Toby Green; Hurst & Company, London, 2016 (2) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 1 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19543: Notas de leitura (1154): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (75) (Mário Beja Santos)

domingo, 3 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19547: Blogpoesia (610): "De tristezas e alegrias", "De bico no chão" e "Não sou marinheiro", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Póvoa de Varzim - PasseioAlegre
Com a devida vénia a "O Poveiro"


1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


De tristezas e alegrias

Fazem parte de sua história, tristezas e alegrias.
Lisboa nasceu dum feliz encontro e ousadia.
Seduzido pela beleza, assentou arraiais aqui Ulisses, há muitos séculos.

Misto de saudade, audácia e de sonho.
Deixou o Mediterrâneo tacanho e lançou-se ao mundo.
Com vontade de regressar. Prometera.

Chegado ao oceano imenso, virou para o norte.
Sempre rente à costa.
Logrou um rio largo de que não sabia o nome.
Avançou nele.
Duas margens sumptuosas. Verdes.

Quando o viu alargar demais, receou ir dar ao mar.
Atracou e subiu a colina.
Que haveria de se chamar a Mouraria.

E, desarmado, ali se instalou com a comitiva.
Tão afáveis as gentes que vieram saudá-los que nunca mais tiveram coragem de se ir embora.
Excepto, Ulisses.
Para cumprir o juramento de amor à sua esposa. Penélope.
Assim nasceu Lisboa que deu ao rio o lido nome que ainda mantém.

Ouvindo Carlos Paredes

Bar Castelão em Mafra, 26 de Fevereiro de 2019
8h40m
Jlmg

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De bico no chão

Pareço um pião, rombudo,
às voltas, de bico no chão.
Ando e cirando.
Velas ao vento.
Moinho parado no alto do monte.

Não adianta clamar.
A chuva ou vem ou não vem.
Por mais que se reze.
A terra está seca.
Uma sede maluca.
Arde e não seca.

Se não fosse o passado
A dizer como é,
Morria de susto.

Às duas por três,
Rebentam os céus,
Se desfazem em água,
O chão floresce
E a vida retorna.

dia cinzento

Bar "Caracol", arredores de Mafra,
27 de Fevereiro de 2019
9h20m
Jlmg

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Não sou marinheiro

Não sou marinheiro mas vivo do mar.
Me cura seu sal.
Me adormece acordado.
Faz-me feliz.
Me põe a sonhar.

Não sou nada sem ele.
Me reviro de dor quando não o oiço bramir.
Companheiro de sempre.
Desde menino a chorar.
Minha Mãe me levava,
ao romper da manhã.

Dois mergulhos gelados
pelas mãos do banheiro.
Garantiam-me rijo
por um ano a viver.

Póvoa de Varzim, que saudades eu tenho.
Do Agosto-Verão, à beira do mar.

Aqueles rochedos medonhos,
revestidos de conchas,
Me guardam segredos,
nas vazias marés.
Mexilhões com fartura.
Nunca mais acabar.
Jantaradas de graça.
Como sabiam a sal.

Nunca fui marinheiro.
Como eu gosto do mar!...

Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 24 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19524: Blogpoesia (609): "Parecemos diferentes", "Tardes de Lisboa" e "Renovar...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P19546: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte V: Catió, o quartel e a vida da tropa


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > O João em cima de Daimler, uma autometralhadora ligeira.


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Messe de oficiais em Catió. Jogando King. O cor Matias supervisiona a jogatana.


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Qartel: o armazém de combustíveis


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > O "artista"... bem "emoldurado"

Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Com o Cabo Quarteleiro Mourão, responsável pelo armazém da Companhia


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Café do  libanês Jassi em Catió: quatro alferes, da esquerda para a direita: Sasso, Gonçalves, Cardoso e eu.


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) >  Na esplanada do Café do  libanês Jassi.


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Escrevendo para casa no meu quarto, partilhado com o cap Alexandtre-



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) >  "Fazendo turismo" nos arredores de Catió. O João Sacôto em primeiro plano, na base do bagabaga.


Fotos (e legendas): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





1. João Gabriel Sacôto Martins Fernandes, de seu nome completo... Foi alf mil da CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66). Trabalhou depois como Oficial de Circulação Aérea (OCA) na DGAC [Direção Geral de Aeronáutica Civil]. Foi piloto e comandante na TAP, tendo-se reformado em 1998.

Estudou no Instituto Superior de Ciencias Económicas e Financeiras (ISCEF, hoje, ISEG) . Andou no Liceu Camões em 1948 e antes no Liceu Gil Vicente. É natural de Lisboa. É casado. Tem página no Facebook (a que aderiu em julho de 2009, sendo seguido por mais de 8 dezenas de pessoas). É membro da nossa Tabanca Grande desde 20/12/2011.


2. Continuação da publicação do seu álbum fotográfico: no poste anterior publicámos as primeiras fotos da vila de Catió, que era sede de circunscrição.

Lembre-se que a CCAÇ 617 esteve em Catió de 1 março de 1964 até 22 de setembro de 1965, altura em que assume a responsabilidade do susector do Cachil, por troca com a CCAÇ 728. Será rendida pela CCAÇ 1424, em 16 de janeiro de 1966, preparando.se depois para regressar à metrópole.

Quanto à operação Tridente, o João esclareceu-nos o seguinte:

"(...) Ainda bem que perguntas, para não haver mal entendidos, que detesto. Nós tínhamos acabado de chegar a Bissau (éramos uns “maçaricos” muito inexperientes), a nossa companhia teve uma participação na operação Tridente muito reduzida, creio que unicamente com uma secção de apoio logistico, comandada pelo furriel Carlos Cruz, também nosso tabanqueiro." (...)

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Nota do editor:

Ýltimo poste da série > 28 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19539: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte IV: Catió: as primeiras impressões

sábado, 2 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19545: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXIV: Memórias do Gabu (III)



Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Dezembro de 1967 > Foto nº 7 > A ‘Porta de Armas’ das instalações do Quartel. Junto ao local de entrada, uma legenda da BCAÇ 1856 (Nova Lamego, 1965/67).  Junto de mim (oficial de dia) o alf.mil inf Carneiro. 


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Dezembro de 1967 > Foto nº 7A  > A ‘Porta de Armas’  do Quartel. O oficial de dia, Virgílio Teixeira, e o alf mil inf Carneiros, sentados num monumento erigido à  memória  do BCAÇ 1856 (Nova Lamego, 1965/67). 


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Janeiro de 1968 > Foto nº 10 > Uma casa nova e moderna com cobertura de telha. Como cidade em desenvolvimento, as casas faziam-se a bom ritmo, para o local.
Foto captada em Nova Lamego, em Janeiro de 1968.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) >  Dezenbro de 1967 > Foto nº 2 >  Casa de pasto, tasca, um local de comer, ‘ O Geraldes’. Pode ver-se o Geraldes, da direita para a esquerda, o 3º de camisa aberta, ao meu lado.  Do outro meu lado, o Sargento Parracho (acho que era de Aveiro) e tinha chegado da Madina do Boé, era da CCAÇ 1589, e lá vinha com os seus ‘autos de destruição’ para serem aprovados.  Os outros comensais são civis, comerciantes.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Dezembro de 1967 > Foto nº 8 > Uma noite de festa da população local. Não me lembro que festa se trata, possivelmente por alturas do Natal, é noite e a foto foi feita sem o flash.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Outubro de 1967 > Foto nº 11 > Na esplanada do Clube do Gabu com o seu ‘Patrão’. Estamos ali num fim de tarde, o furriel Rocha, e um 1º cabo escriturário. O omem da camisa branca, cabo-verdiano, era o dono e patrão do estabelecimento, só não consigo lembrar-me do nome dele, era um gajo porreiro.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > 4º trimestre de 1967 > Foto nº 5 > No cimo de um monte bagabaga com alguns camaradas. Era uma foto imprescindível, num local de milhares de montes bagabaga.  No cimo sou eu e o soldado condutor ‘O Ermesinde’. Em baixo o Furriel Carvalho e outros.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Dezembro de 1967 > Foto nº 6 > Rua principal num dia de chuva torrencial, um lamaçal.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Outubro de 1967 > Foto nº 12As nossas amigas e lavadeiras, na Fonte de Nova Lamego. Estas eram as nossas bajudas e as nossas lavadeiras, as melhores amigas, sem dúvidas.

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, chefe do conselho administrativo, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); é economismita e gestor, reformado; é natural do Porto; vive em Vila do Conde. (*)



CTIG/Guiné 1967/69 - Álbum de Temas:

T061 – IMAGENS DO GABU – NOVA LAMEGO

PARTE III (*)

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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19540: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXIV: Memórias do Gabu (II)

Guiné 61/74 - P19544: Os nossos seres, saberes e lazeres (310): Viagem à Holanda acima das águas (14) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Novembro de 2018:

Queridos amigos,
Deixo-vos as imagens da visita às coleções do Museu Municipal de Haia, o museu é riquíssimo, logo o edifício, caso ímpar da arquitetura Arte Deco, o arquiteto H. Berlage deixou aqui uma das suas obras-primas.
Depois o acervo de Mondrian, as coleções permanentes, as exposições apuradíssimas. E havia a paga de um domingo sombrio que aqui se viveu em 1978, logo a inquietação que deixou Piet Mondrian, do alto dos então 33 anos ele julgava que os grandes artífices e feiticeiros das Artes Plásticas do século XX tinham as suas coordenadas máximas em Picasso e Matisse, ver assim Mondrian provocou sério abalo que chegou aos tempos de hoje, pois Mondrian estende pontos para a arquitetura, gera mais sobressaltos no cruzamento das linhas, das formas e das cores.
Mas nisto das artes, os gostos não se discutem.
E a viagem vai continuar.

Um abraço do
Mário


Viagem à Holanda acima das águas (14)

Beja Santos

Continua a visita ao Museu Municipal de Haia, desta feita a um núcleo expositivo que fala do passado nas praias do Mar do Norte. O viandante não resistiu a captar esta fotografia, é a espontaneidade e a alegria lavar pernas e pés, a moral não permitia mais, tempos depois viriam os fatos de banho da cabeça aos pés, mesmo os homens taparão o tronco. Mas naquele exato momento as mentalidades só autorizavam esta felicidade que a fotografia regista.





O que chama a atenção? São obras eivadas de naturalismo, são cores nórdicas, um tanto soturnas, mesmo no verão a claridade é caprichosa e arredia, veja-se aqueles céus no belíssimo quadro centrado no veleiro, vejam-se as crianças a brincar e tome-se em consideração a nesga de mar sombrio, no fundo do horizonte.


O átrio do museu é uma obra-prima de azulejaria, tem tanto de espaçoso como repousante, aqui os visitantes amesendam, lêem livros e jornais, preparam-se para novas acometidas, ver exposições, rejubilar com as coleções de valor extraordinário ou, pura e simplesmente, deleitar-se com estes pormenores da Arte Nova, olhem só para esta fonte um tanto espampanante mas de um cromatismo tão equilibrado, tão ajustado.


Como resistir a estes aracnídeos da Louise Bourgeois, uma escultura que nada tem de terrificante, pelo contrário são pernas elegantíssimas, contempla-se e venera-se o espantoso talento de uma grande escultora da nossa contemporaneidade.


Quando aqui esteve em 1978 o viandante apreciou imenso a reconstituição de um espaço desse estilo decorativo que só virá a ser substituído pela Arte Deco. Belíssima composição, uma integração de leitura acessível, há reconstituições de ambientes que nos lavam a alma. Esta é uma delas.





Primeiro, temos uma obra de Constant Permeke, um artista um tanto inclassificável, um espantoso alterador de formas, parece trabalhar em paralelo com a Arte Naif. E depois, estes espantosos quadros de Francis Bacon, uma espantosa figura que reformatou o figurativismo, há sempre figuras que se torcem e retorcem, por vezes rostos convulsivos, troncos e membros que parecem estar submetidos a jogos de espelhos, e muitas vezes cores sanguinárias contrastando com o cor-de-rosa onírico. Aqui esteve o viandante especado, não tem pejo em dizer que esta arte o deixa estarrecido, estas torções que parecem tão brutais para que a evidência salte à vista.


Estávamos num tempo em que o museu que se prezasse no Norte da Europa tinha que exibir Monet, Gauguin ou Matisse, e este museu de Haia não faltou à regra. O viandante vinha encadeado pelo Francis Bacon, saudou esta dança e despediu-se da bela coleção do museu de Haia.


E mesmo à saída não resistiu a mostrar estas formas revolucionárias, de alto a baixo, luz por todos os lados, linha e profundidade, uma genial simplicidade esquemática que tornou este museu um paradigma da interligação de todas as artes. Por isso é que Piet Mondrian tem aqui a sua casa-mãe.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19521: Os nossos seres, saberes e lazeres (309): Viagem à Holanda acima das águas (13) (Mário Beja Santos)