quinta-feira, 2 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21129: O nosso livro de visitas (205): Gonçalo Inocentes (Matheos), autor do livro "O Cântico das Costureiras: crónicas de uma vida adiada, Guiné, 1964/65", a lançar proximamente pela editora ModoCromia ...



"O Cântico das Costureiras: crónicas de uma vida adiada, Guiné, 1964/65", próximo livro de Gonçalo Inocentes (Matheos).

Lê-se na contracapa: "Há um tempo / Que afinal durou tanto tempo / Que o tempo que então durou / Durou pra todo o tempo" (GM)

Na capa vem um pequeno resumo biográfico do autor: "Gonçalo Inocentes (Matheos): Nasceu em Angola; fez-se em Santarém, na Escola Agrícola e Escola Prática de Cavalaria; curtiu-se em três guerras; ex-técnico agrícola, ex-combatente, ex-piloto de linha aérea, ex-marinheiro".

A editora é a ModoCromia (telef.  +351 263047605; telem +351 917215523); tem página no Facebook.

1. Mensagem do nosso camarada Gonçalo Inocentes, próximo membro da Tabanca Grande, com data de 23/06/2020,  10h20:


Meu caro, não nos conhecemos, embora tivéssemos vivido bem perto.

Sou Gonçalo Inocentes e estive também na Guiné [, em 1964/65].

Dessa passagem irá sair em breve um livro que está já a ser impresso. Datas ainda não tenho. É cedo, com tudo o que se está a passar.

Penso que será interessante para o Blogue, pois sendo um relato de guerra está fora de todos os clássicos.

Logo que tenha datas, enviarei convite. Penso que será a melhor forma de nos conhecermos.
Em anexo envio imagem da capa.

Os meus melhores cumprimentos

GM

2. Resposta do editor LG, com data de 23/06/2020, 13h25

Ok, Gonçalo, teremos muito gosto (, além da obrigação,) em divulgar o teu livro. Não queres mandar mais umas linhas sobre a tua pessoa, e nomeadamente sobre o teu tempo da Guiné (posto, companhia, batalhão...) ? E, já agora, uma págima ou duas, um "cheirinho" do livro (para além da capa) ?!

Fica bem. E estás, desde já convidado, para integrar a nossa Tabanca Grande. Podes ser o próximo, o nº 810, a sentar-se à sombra do nosso poilão...Manda 2 fotos (uma do antigamente, outra mais ou menos atual).

Um alfabravo,

Luís Graça
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quarta-feira, 1 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21128: Efemérides (329): "17 de junho, o Dia da Consciência", o historial de uma causa em que o mundo (, o Vaticano incluído,) relembra o exemplo inspirador do diplomata português Aristides de Sousa Mendes (João Crisóstomo, Nova Iorque)




Carta de 5 de dezembro de 2018, do secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin,em resposta ao João Crisóstomo.




Carta de João Crisóstomo, para Sua Santidade o Papa Franscisco, com data de 3 de abril de 2019



Fotos (e legendas): © João Crisóstomo (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Mensagem do João Crisóstomo [, aqui na foto com o Secretário de Estado do Vaticano, cardeal  Pietro Parolin, em agosto de 2017]

Date: sábado, 27/06/2020 à(s) 17:56

Subject: Historial do 'Dia da consciência"


17 de Junho :  Historial do "Dia da Consciência"

por João Crisóstomo

 Conhecedores do meu envolvimento  neste assunto, alguns amigos têm-me sugerido, com insistência, que,  para esclarecimento dos interessados mas menos informados no nosso grande humanista Aristides de Sousa Mendes, eu faça um resumo, um historial,  de como se chegou a este feliz momento  de vermos o dia  17 de Junho  aceite  pelo papa Francisco como "Dia da Consciência"  e o reconhecimento deste  nosso herói pelo Vaticano. 

É isso que me proponho fazer, sem ridículas intenções de qualquer autopromoção, mas também sem pretensões de falsa modéstia.

Não vou  fazer um historial do  reconhecimento de Aristides de Sousa Mendes em geral, mas vou-me cingir ao que directa ou indirectamente está relacionado com o "Dia da Consciência".

 O acaso, se tal existe, levou a  que uma pessoa amiga em 1996 me falasse  de Aristides  como meio de melhor me envolver no assunto de Timor Leste. Vinte e um anos mais tarde seria o  meu envolvimento com Timor Leste  que me  ajudaria   no caso de Aristides de Sousa Mendes.  

Até esse  ano de 1996, Aristides de Sousa Mendes era para mim um herói desconhecido.  No momento, contudo, em que o conheci e me apercebi da sua grandeza, decidi fazer o possível para acabar com  este geral desconhecimento deste nosso grande humanista.

Já no ano 2000, na grande exposição,  "Visas for Life", nas Nações Unidas,  Aristides de Sousa Mendes foi o  diplomata de destaque neste evento e  o dia de abertura oficial foi propositadamente escolhido para coincidir com o dia do aniversário  da   sua morte. 

Acrescento que o filme documentário " Diplomats for the Damned",   do History Channel [. Canal História],  teve de ser refeito - e assim aconteceu - para incluir com o maior destaque o nosso herói que havia sido "esquecido". 

Nesta altura  vim a saber que, para honrar Aristides de Sousa Mendes, o 17 de Junho  tinha sido  o dia escolhido para  a  inauguração  de uma estátua e uma  praça com o seu nome em Bordéus,França.  

Fazia  sentido, pensei eu: foi esse o dia em que o cônsul Sousa Mendes mostrou o que era e que fez dele  o modelo  e a inspiração que iria a ser para todos os que viriam no futuro a ter dele conhecimento. A partir desse dia,  foi essa a data e essa a vertente  a que comecei a dar maior destaque nos vários eventos que ia promovendo para apresentar Aristides de Sousa Mendes.

 Entre estes  devo salientar os acontecimentos levados a efeito em 2004. Porque Aristides era católico e  explicou o  seu procedimento como  tendo sido motivado  pela sua consciência de cristão, tentei dar a vertente católica a estes acontecimentos. 

Juntei-me à International Raoul Wallenberg Foundation  (pois a Fundação Sousa Mendes US só viria a aparecer em 2010/11) e entre as muitas dezenas de acontecimentos nessa semana de Junho de 2004, 34 desses foram missas, celebradas na maioria pelos  prelados máximos   em 22 países mundo fora.

Esta  era também uma maneira mais eficiente de dar a conhecer o nosso herói, pelo elevado número directo de pessoas a ouvir falar dele, como pela cobertura mediática, como felizmente aconteceu.  

Em 2010 celebrávamos os 70º aniversários da capitulação da Fança na II Guerra Mundial e o desse  acto corajoso de salvamento de refugiados por Aristides de Sousa Mendes, cônsul de Portugal em Bordéus.  

De novo houve celebrações em vários países,  e da mesma maneira que tinha sido feito em 2004 - em que o Senhor Cardeal Don Renato Martino tinha presidido a uma missa solene na Basílica de Trastevere - eu pedi e teve lugar uma concelebração de quatro cardeais em Roma para lembrar  a acção do antigo cônsul de Portugal em Bordéus. 

Essas  missas eram pedidas sob o tema de agradecimento ao Senhor por nos ter dado o exemplo inspirador de Aristides de Sousa Mendes e  outros, especialmente o diplomata brasileiro Luis Martins de Sousa Dantas,  de coragem e humanismo  gémeos dos de Aristides Sousa Mendes.   

Esta concelebração em Roma  foi notícia  espalhada pelo mundo pela Agencia Zenith, e eu achei que era uma boa altura para  pedir ao Vaticano, na pessoa do Sr. Cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado, que declarasse  17 de Junho  como o "Dia da Consciência".  

Esta expressão "Dia da Consciência" - e não "Dia da Desobediência" ou "Dia de Acção de Graças" - foi escolhida e resultou duma conversa telefónica com Mariana Abrantes que ma sugeriu como mais  apropriada. E em boa hora o fez. A partir daí foi sempre como "Dia da Consciência" que  se ficou a chamar o dia 17 de Junho. No mesmo ano, no Canadá, o "Dia da Consciência" foi apresentado no Parlamento pelo  representante federal Mario Silva que  introduziu  uma resolução nesse sentido.

Entretanto, esta primeira carta/pedido ao Vaticano não teve qualquer resposta. A chegada do papa Francisco e do novo Secretário de Estado deu-me esperanças de que o meu pedido  tivesse melhor recepção e em 2014, depois de me ter aconselhado com Sua Eminência Cardeal Renato Martino, decidi tentar de novo, desta vez em carta  de 6 de Março endereçada  directamente  ao Papa Francisco.

Para surpresa minha  esta carta, mesmo registada,  perdeu-se  no correio. Explicaram-me   que tinha sido enviada por engano para a  Inglaterra… e por mais voltas, queixas  e insistências minhas, nunca foram capazes de a encontrar.  Decidi enviar outra carta e a esta também não recebi resposta, pelo que pedi então mais uma vez o auxílio de  Sua Eminência Cardeal Renato Martino que, em email de 11 de Abril de 2014, me instruiu para mandar a carta para ele e que ele garantia a entrega  da carta no seu destino.  

Quando chegou Junho, eu ainda não tinha qualquer resposta. Consegui o  número  de telefone de Monsenhor Peter Wells, assistente do Secretário de Estado,  a quem consegui chegar. Contactei-o por email a 2 e a 10 de Junho. Como nada resultava,  pedi ao Sr. Cardeal Renato Martino que lhe desse uma chamada telefónica: com certeza que ele daria mais importância a uma chamada dum Cardeal  do que todos os telefonemas  e emails meus…. Mas a resposta desejada sobre o 17 de Junho não chegou. Chegou, contudo,  a explicação de que a minha carta tinha chegado  atrasada demais para poder ser considerada.

Em Julho desse ano o Supreme Court of USA  [, o Supremo Tribunal dos EUA,] decidiu em favor de "direitos de consciência" dos indivíduos  e eu, satisfeito com essa decisão, aproveitei para contactar Monsenhor  Peter Wells e preparar o terreno para o ano  seguinte. A 7 de Julho perguntava se devia enviar a carta imediatamente. Que não, que devia esperar uns meses e enviar a carta apenas uns meses antes "just a few months before, lest it fell in the cracks". 

  A 17 de Janeiro 2015, enviei então nova carta  por  ocasião da celebração do 75º aniversário da ocupação da França  e do acto humanista do então cônsul de Portugal em Bordéus. Num email para Monsenhor Peter Wells informei-o que  a carta tinha já passado por Milão e "is currently in transit to the destination". 

A 23 de Fevereiro, Monsenhor Peter Wells informava-me que as minhas cartas tinham chegado ao escritório do Papa Francisco. Mas "Ele está em retiro e com certeza que me  darão a sua resposta quando voltar". Mas nada sucedeu. A 15 de Março  "lamentava" não ter notícias para me dar, mas que me daria conhecimento se houvesse alguma novidade.

No dia seguinte,  em  carta postal só  chegada no fim do mês,  deu conhecimento da sua chegada, mas que "devido à agenda litúrgica de Sua Santidade não era possível responder afirmativamente ao meu pedido". 

Foi nesta altura que tive conhecimento de que o Vaticano tinha tido um outro contacto relacionado com Aristides de Sousa Mendes: João Correa  recebeu uma carta acusando a recepção do seu livro "Sousa Mendes, le Consul de Bordeaux"  que o autor lhes tinha enviado. 

Em Julho de 2013 fui, turista,  a Roma  com a minha esposa e aproveitei para fazer algumas visitas. Uma das que eu tencionava fazer era a Monsenhor Peter Wells. Mas, entretangto, ele tinha sido nomeado Níncio na África do Sul  onde já se encontrava. Em 2018, foi um dos Núncios (junto com Don Celestino Migliore, em Moscovo), que participaram  nas celebracões de 17 de Junho desse ano. 

 Em Agosto de 2017, ao verificar que as crianças nas montanhas de Timor Leste precisavam de ajuda, resolvi enviar uma carta ao papa Francisco pedindo-lhe uma carta de apoio pois,  pensava eu, com uma carta sua de apoio a causa das crianças esquecidas  seria ouvida com mais atenção. 

Dias depois, recebi um telefonema do Vaticano, de que Sua Eminência Cardeal Pietro Parolin queria saber mais detalhes sobre esta minha carta e instruia-me a ir  falar com ele ao Vaticano. Sua Eminência  estava sobremaneira interessado no assunto de Timor, mas manifestou o seu interesse também sobre Aristides de Sousa Mendes de quem falei, argumentando  eu que o seu exemplo era inspirador e devia ser conhecido como meio de despertar as consciências no mundo confuso em que vivemos.  

No ano seguinte, numa carta em que o assunto de Timor era tema principal, Sua Eminência  não deixou de me informar ter celebrado a missa de 17 de Junho com a sua intenção.

 Esta foi uma oportunidade que eu  não podia  deixar de aproveitar. E, conhecedor, agora, que a sensibilidade do Papa Francisco era partilhada  de igual maneira pelo seu Secretário de Estado, em Janeiro de 2018 pedi a sua participação na celebração de 17 de Junho, que eu, como em anos anteriores,  tencionava coordenar em muitos países simultaneamente,  como uma ocasião para lembrar "everyone in the world  of the need to follow one's conscience".  

Para  que o Vaticano  compreendesse  o muito interesse do que eu  expunha, eu assinei esta carta não só em meu nome, como coordenador do projecto 'Dia da Consciência,  mas em nome de várias organizações, a quem contactei nesse sentido, nomeadamente IRWF, LAMETA, Sousa Mendes Foundation US, Observatório internacional de Direitos Humanos, Fundação Aristides de Sousa Mendes - Portugal, e o Comité de Homenagem a Aristides de Sousa Mendes em França. 

O facto de o mundo atravessar uma crise moral de grandes proporções como todos sabemos e sentimos  é  facto que  não podia ser esquecido como argumento. O mundo precisa realmente de algo que o faça despertar para evitar um cataclismo do qual dificilmente o mundo sobrevirá. 

A 3 de Abril de 2019, dia do aniversario da morte de Aristides, seguia nova carta  ao Papa Francisco em termos bem explícitos  e angustiantes: 

"Today's world seems to be getting out of control everywhere"… "I am coming to ask for your blessing and support … to awaken people's conscience and to call to action our duty to abide by it, to stop what seems  a run to madness... Reminding the world of the week of June 17 1940 and of Aristides de Sousa Mendes could be this catalyst... The world needs this … and the Catholic Church could be the one promoting and encouraging this "conscience awakening". 

[Tradução para português: "O mundo de hoje parece estar a ficar fora de controle em todos os lugares. (...) Venho pedir sua bênção e apoio ... para despertar a consciência das pessoas e chamar à ação o nosso dever de cumpri-la, para parar o que parece ser uma corrida para a loucura. .. Lembrar ao mundo a semana de 17 de junho de 1940 e o exemplo Aristides de Sousa Mendes podendo ser esse o catalisador ... O mundo precisa disso ... e a Igreja Católica pode ser ela a promover e incentivar esse 'despertar da consciência' "]

Numa carta posterior,  a 17 de Junho de 2019, para Sua Eminência Cardeal Pietro Parolin, continuei perseverante lembrando que "Dire situations...  demand equivalent/appropriate measures" e  pedia o favor de uma resposta para as minhas cartas.

Sua Eminencia não deixou de me ouvir. A 11 de Setembro  o seu assistente, em vésperas de partir para novo posto,  enviou-me uma mensagem  dando-me  a conhecimento  que o assunto das minhas cartas não estava esquecido: 

"Cardinal Parolin has asked me to reply on his behalf to your letters, sent over the course of the last months, to assure you that your proposal regarding the "Day of Conscience" is currently under study."

[Tradução para português: "O cardeal Parolin pediu-me para responder em seu nome às suas cartas, enviadas ao longo dos últimos meses, para lhe garantir que a sua proposta sobre o 0Dia da Consciência', está atualmente em estudo."]

  Eu tentava  alimentar este propósito para que o  assunto não  arrefecesse. A 4 de Fevereiro de 2020 o processo de " impeachment" de President Trump ofereceu-me uma oportunidade de lembrar a Sua Santidade e a Sua Eminência o quanto este assunto era relevante e oportuno: 

"Today was a remarkable and historical day: In the Senate of USA, during the trial of President Donald Trump, senator Mitt Romney  who in  previous elections was the Presidential candidate for the Republican Party, taking the floor invoked his  duty to Our Lord above all other considerations to  follow his conscience  and casted a courageous dissent  vote, instead of abiding by the dictates of his party..."  

[Tradução para português: "Hoje foi um dia memorável  e histórico: no Senado dos EUA, durante o julgamento do presidente Donald Trump, o senador Mitt Romney, que nas eleições anteriores [de 2012]  tinha sido o candidato presidencial pelo Partido Republicano, ao tomar a palavra invocou p seu dever, para com  Nosso Senhor acima de todos os outros considerações,  de seguir a sua consciência e deu um voto de dissidência corajoso, em vez de respeitar os ditames de seu partido ... "]

 Mais tarde, a 22 de Março,  recebia um outro email de Sua Eminência:

"Sorry for not giving any reply to your numerous letters, the last of which you sent at the beginning of last February,  about the Day of Conscience project" (...). Unfortunately, the project has not been studied yet by our Office,..  I hope to be able to send you a definite answer without further delays.  I apologize for this inconvenience and I rely on your understanding. May God bless you.  Have a good Sunday! Pietro Parolin".  

[Tradução para português: "Desculpe por não responder às suas numerosas cartas, a última das quais  enviada  início de fevereiro passado, sobre o projeto do Dia da Consciência" (...) Infelizmente, o projeto ainda não foi estudado pelo nosso gabinte...  Espero poder lhe enviar uma resposta definitiva sem mais demoras. Peço-lhe  desculpas por esse inconveniente e confio na sua compreensão. Que Deus o abençoe. Tenha um bom domingo! Pietro Parolin ".]

Finalmente, no dia 17 de Junho de 2020,  o Papa Francisco começava a sua Audiência Geral  lembrando  17 de Junho  como  o "Dia da Consciência" e o exemplo inspirador do diplomata português Aristides de Sousa Mendes. 

Foi muito gratificante  verificar que tudo valeu a  pena.  E mais ainda será  se em consequência e seguimento de tudo isto  houver  um esforço continuado e  perseverante para um despertar de consciências para os muitos problemas que afligem o mundo de hoje.  Se assim suceder,  esse  será o maior e melhor  legado de Aristides de Sousa Mendes para cada um de nós e para o mundo inteiro.

João Crisóstomo, Nova Iorque

Guiné 61/74 - P21127: Historiografia da presença portuguesa em África (216): A imprensa na Guiné, numa tese de doutoramento de Isadora de Ataíde Fonseca, denominada “A Imprensa e o Império na África Portuguesa, 1842-1974" (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Dezembro de 2019:

Queridos amigos,
Uma boa surpresa, todo o conteúdo desta tese de doutoramento referente à imprensa na África Portuguesa, entre 1842 e 1974.
Por razões compreensíveis, o foco foi sempre a Guiné, aparecem salientados os aspetos da sua imprensa insignificante e no Estado Novo em nenhuma circunstância molestou o regime. A autora recomenda que não se menorize o papel dos Boletins Oficiais. Como ela escreve, "a partir do século XX e até 1974, o papel primordial dos Boletins Oficiais foi manter a sociedade informada dos atos oficiais dos governos coloniais. Os Boletins foram uma fonte de informação privilegiada para os jornalistas, que através dos conteúdos oficiais denunciavam políticas e práticas governativas ou davam o seu apoio à gestão dos governos coloniais. Estes boletins contribuíram ainda para manter a população letrada das colónias informada".
E lembra ainda que "em Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe e na Guiné, ao longo do Estado Novo, na maior parte do período, existiu apenas um jornal, quando em Moçambique e Angola existia uma diversidade de títulos".
Nas conclusões, a autora enfatiza os aspetos da semelhança de toda esta imprensa: era de perfil político, dirigido às elites e com a propriedade vinculada às forças sociais e ao Estado; a atividade jornalística estava articulada à militância política, a profissionalização jornalística foi sempre insipiente; no Estado Novo, a intervenção do Estado foi sempre forte.

Um abraço do
Mário


A imprensa na Guiné, numa tese de doutoramento do Instituto de Ciências Sociais (2)

Beja Santos

A tese de doutoramento de Isadora de Ataíde Fonseca, denominada “A Imprensa e o Império na África Portuguesa, 1842-1974" (acessível pelo link https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/15605/1/ulsd069555_td_Isadora_Fonseca.pdf), é um documento que revela estudo e tratamento seguro de uma temática que tem vindo a ser abordada fragmentariamente. A Guiné e a sua imprensa, pelo rigor de análise da autora, merecem aqui o devido realce.

No texto anterior, deu-se primazia à contextualização histórica proposta pela autora, foi referida a imprensa na Guiné na Monarquia Constitucional, e já na alvorada da República verificou-se que o Boletim Oficial continuava a ser o único canal de informação impressa na Guiné. Só em 1920 apareceu o Ecos da Guiné, Quinzenário Independente Defensor dos Interesses da Província, teve vida efémera; a Voz da Guiné surgiu em 1922, apresentava-se como quinzenário republicano independente. Observa a autora que o periódico vinha regularmente em defesa das medidas políticas do Governador Velez Caroço. Em 17 de agosto de 1924, em Bissau, saiu o número 1 do Pró-Guiné, Órgão do Partido Republicano Democrático, reproduzido na imprensa nacional, editou apenas quatro números, em todos eles usou sempre o tom elogioso com o Governador. Fazendo o ponto da situação da imprensa na Guiné durante a I República, a autora sublinha que a imprensa na colónia não se consolidou, ao contrário do que aconteceu nas demais colónias portuguesas em África, justifica o facto pela fraqueza das elites na Guiné, o incipiente desenvolvimento económico e social da colónia e o prolongamento das guerras de pacificação. E recorda que os três jornais foram iniciativas de funcionários públicos, pequenos comerciantes e políticos locais que dependiam da Imprensa Nacional para reproduzir os periódicos. Nunca apareceu um jornal africano que defendesse os interesses dos povos nativos, como veio a acontecer nas demais colónias portuguesas em África. Foi uma imprensa que nunca possuiu um espaço de expressão, reivindicação e negociação política, dado o facto de a propriedade da imprensa estar ligada apenas às elites portuguesas. É bem notório o controlo dos conteúdos pelo governador. Os jornalistas eram funcionários públicos, políticos e comerciantes, não auferiam rendimentos desta atividade jornalística.

Estamos já noutro patamar, o Estado Novo. Vale a pena ouvir a autora:  
“A partir de 1930, com as políticas centralizadoras do governo autoritário, os portugueses passaram a dominar o comércio, tendo à frente o BNU e a Casa Gouveia, fortemente ligados o primeiro à Sociedade Comercial Ultramarina e a segunda à CUF. No interior do território foram instalados postos estatais dedicados à compra do amendoim, do arroz e do óleo de palma, entre outros, produzidos pelos africanos. As finanças da colónia dependiam dos recursos metropolitanos e dos aumentos dos impostos. Os efetivos militares diminuíram a partir de 1928, correspondeu à necessidade de se limitar os gastos. Em 1930, surgiu em Bissau a primeira tipografia privada e entre 1930-1931 foram publicados vinte números do Comércio da Guiné, o último saiu a 18 de abril e coincide com a inclusão de um movimento insurreto na Guiné, ligado à resistência na Madeira, a designada Revolução Triunfante”.

A capital é transferida para Bissau, em 1941, e dois anos depois apareceu o Arauto, Dilatando a Fé e o Império, jornal mensal, dirigido pelo Padre Afonso Simões, com redação e administração na Residência Missionária de Bolama. Não faltavam conteúdos religiosos e informativos, tudo cuidadosamente elaborado para não haver sanções da censura. Vejamos agora a imprensa que surgiu depois. Entre 1950-1954, a Secção Técnica de Estatística publicou o mensário Ecos da Guiné, periódico oficial de divulgação das atividades do governo, com textos escritos pelos funcionários públicos que exaltavam a ação colonial portuguesa na Guiné. Em 1950, o Arauto tornou-se diário, mudou de diretor, passou a ser o Padre José Maria da Cruz, dava-se destaque às notícias da metrópole, todos os eventos do governo local e nacional eram destacados. A partir de 1958, o jornal passou a designar-se O Arauto. E assim chegámos à década de 1960, quando foi revogado o Estatuto do Indigenato, a atmosfera de descolonização geral em África obrigava o Estado Novo a maquilhar a sua política, O Arauto é um defensor intransigente da política do regime, aparecem comentários como este num número de setembro de 1962: É já conhecido o recente acordo, levado a efeito entre Álvaro Cunhal, Mário Pinto de Andrade, Marcelino dos Santos e um representante de Humberto Delgado, de que resultou a elaboração de um programa que prevê, praticamente, a entrega das províncias ultramarinas, com total independência, às organizações daqueles elementos comunistas e a criação de metrópole de uma república popular. Eram aproveitadas as opiniões nacionalistas de toda a ordem, caso dos artigos de Dutra Faria que visitara a Guiné e publicara um conjunto de textos no jornal ligado à política de Salazar, o Diário da Manhã. E a autora diz-nos que na sua última fase os conteúdos de O Arauto estiveram centrados no noticiário internacional, com textos de combate ao comunismo e em artigos sobre os países que apoiavam Portugal. Além dos boletins das Forças Armadas, não há mais notícias sobre a Guiné. A última edição conhecida de O Arauto saiu em abril de 1968, dois meses depois Spínola desembarcava em Bissau. Entre 1968-1970 circulou o semanário Notícias da Guiné, Boletim do Centro de Informação e Turismo, o jornal não apresentava ficha técnica a indicar os seus responsáveis e os seus textos não eram assinados. Tema permanente era a publicação do Boletim das Forças Armadas e repetidamente eram anunciadas no jornal as medidas governamentais. Por exemplo, em agosto de 1969, o jornal trazia uma longa reportagem sobre os “terroristas arrependidos”, entre eles Rafael Barbosa. As atividades do governador e comandante-chefe são uma constante informativa. A última edição conhecida do Notícias da Guiné é de 22 de março de 1970.

E a autora recorda o acontecimento cultural de maior significado, entre janeiro de 1946 e abril de 1963, o Centro de Estudos da Guiné Portuguesa publicou o Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, publicação de caráter científico, com estudos de divulgação no campo da História, da Etnografia, das Artes e da Literatura. Ainda hoje é de consulta obrigatória.

Procedendo a uma síntese da imprensa na Guiné durante o Estado Novo, a autora lembra que o regime não precisou de fazer uso da censura e da perseguição contra a imprensa e o jornalismo, pois não existia uma imprensa que questionasse, criticasse ou se opusesse às políticas autoritárias. Os jornais sucumbiam por falta de estrutura empresarial. Lembra que a colónia esteve treze anos sem um jornal até que surgiu o Arauto, que era propriedade da Igreja. “Não se sabe quem foram e quantos eram os jornalistas na Guiné, pois os textos dos jornais não eram assinados e os títulos não tinham fichas técnicas”.

A tese de doutoramento de Isadora de Ataíde Fonseca é uma investigação de grande significado, permite conhecer as dinâmicas da imprensa e do jornalismo nos territórios da África Portuguesa, arriscado era o desafio, o resultado tem o sabor de um bom acontecimento para a historiografia guineense.
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Notas do editor

Vd. poste anterior de 24 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21107: Historiografia da presença portuguesa em África (214): A imprensa na Guiné, numa tese de doutoramento de Isadora de Ataíde Fonseca, denominada “A Imprensa e o Império na África Portuguesa, 1842-1974" (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 30 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21123: Historiografia da presença portuguesa em África (215): o jovem Amílcar Cabral, finalista de engenharia agronómica, saudando o regresso das chuvas e da esperança, após quatro anos de seca, fome e tragédia, escreveu: "A bem de Cabo Verde, pelo bom nome e pela glória de Portugal" (sic), a rematar um artigo publicado no nº 1 do Boletim de Informação e Propaganda, outubro de 1949

Guiné 61/74 - P21126: Da Suécia com saudade (74): A raposa, as uvas e... o solstício do verão na Tabanca da Lapónia (José Belo)


Tabanca da Lapónia > "O solstício do verão, sempre!...Nestas curtas mas fantásticas semanas do Sol da meia-noite, o lugar para se estar será sempre a Laponia! O Key West [, na Florida,]  está “guardado” para quando começar a escurecer por aqui...e então não são unicamente umas curtas semanas. Um grande abraço. J. Belo, 28/6/2020"

Foto gentilmente cedida por J. Belo [e editada pelo Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de José Belo [, régulo da Tabanca da Lapónia, a mais setentrional das tabancas da Tabanca Grande;  o sueco mais português do mundou ou o "tuga" mais assuecado da nossa tertúlia]


Date: domingo, 28/06/2020 à(s) 16:44
Subject: A raposa e as uvas

Um pequeno anexo ao...vírus. (*)

Sendo um facto a não existência de paraísos terrestres, a Suécia,  como outras sociedades, tem as suas limitações aqui, ali e acolá.

Sem ter qualquer procuração jurídica para defender o  reino sueco, ou qualquer interesse pessoal, sinto no entanto que alguns agem mais com o coração do que com razões factuais ao compararem o liberalismo e a social democracia da moderna Suécia com o nacional socialismo da Alemanha nazi dos anos trinta/quarenta.

As realidades actuais suecas não se espelham de modo algum nelas.

Dispondo de uma muito forte economia com avultados excedentes orçamentais, existem condições que criam possibilidades de regalias sociais quase inacreditáveis noutros países.

Quanto a mim, é de salientar o apoio à educação. Apoio que permite uma mobilidade social ascendente aos que nascem em situações mais desfavorecidas.

Educação gratuita desde o infantário até ao fim de um curso universitário, ou técnico equivalente. Todos os auxiliares, livros e materiais de estudo incluídos, assim como um empréstimo bancário estatal aos estudantes universitários, em condições de reembolso muito vantajosas, que lhes permite viver independentes da economia familiar até terminarem os seus estudos.

Infelizmente, cria-se em alguns,  em relação a estas realidades escandinavas, a atitude da raposa da fábula ao olhar as apetitosas uvas inatingíveis... Estão verdes!

Mas as uvas não são inatingíveis,  se as sociedades se organizarem e trabalharem para lá chegar com políticas eficientes e dirigentes competentes.

Um abraço do J. Belo

2. Nota do editor LG:

Fábulas de Esopo > A Raposa e as Uvas

Chegando uma Raposa a uma parreira, viu-a carregada de uvas maduras e formosas e cobiçou-as. Começou a fazer tentativas para subir; porém, como as uvas estavam altas e a subida era íngreme, por muito que tentasse não as conseguiu alcançar. Então disse:
— Estas uvas estão muito azedas e podem manchar-me os dentes; não quero colhê-las verdes, pois não gosto delas assim.

E, dito isto, foi-se embora.


... Moral da história:  É fácil desprezar aquilo de que não se consegue alcançar...

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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21117; Da Suécia com saudade (73): A raposa, as uvas e... o vírus (José Belo)

Guiné 61/74 - P21125: Parabéns a você (1832): Silvério Lobo, ex-Soldado Mecânico Auto do BCAÇ 3852 (Guiné, 1971/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 30 de Junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21121: Parabéns a você (1831): Manuel Maia, ex-Fur Mil Inf do BCAÇ 4610 (Guiné, 1972/74)

terça-feira, 30 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21124: Estórias avulsas (99): Histórias de Porto Gole e encontro com um médico guineense no Hospital do Barreiro (Acácio Mares, ex-Fur Mil Inf)

Vista de Bissau - Guiné-Bissau
Com a devida vénia a dnoticias.pt


1. Mensagem do nosso camarada Acácio Mares (ex-Fur Mil Inf da 1.ª Comp/BCAÇ 4612/72, Porto Gole, 1972/74), com data de 27 de Junho de 2020:

Boa tarde camarada Carlos
Recordei mais uma história que passo a contar.

Estava a organizar uma patrulha e disse ao soldado das milícias para ir à frente com o pica. Respondeu que não ia porque não tinha medo de mim, que só ia com outro furriel porque quando não ia ele tirava dente e punha dente e tinha manga de medo eu puxa e não tiro dente.

Estava em Porto Gole e havia um homem que pertencia à Casa Gouveia (CUF) e que recebia produtos para a CUF, amendoim e ráfia. Tinha cinco filhos aos quais eu dava pão com manteiga. Há pouco tempo fui ao Hospital do Barreiro e fui atendido por um médico de cor que em conversa me disse ser natural da Guiné-Bissau,  Porto Gole. Eu disse-lhe que tinha lá estado e  vim a saber que ele era filho do António da Casa Gouveia e que lhe tinham posto o nome Alfredo da Silva em homenagem ao patrão da CUF. Eu tinha uma foto com ele e os irmãos que posteriormente lhe entreguei, ficando ele muito sensibilizado com a situação.

Guiné-Bissau - Exterior do Forte de São José da Amura
Com a devida vénia a Tripadvisor

Camarada, fui à Guiné mais ou menos há 7 anos, que desgraça a avenida que vem do Palácio até ao porto, tudo com grandes buracos, nem um camarão nem ostras havia, tudo desapareceu. O Grande Hotel queimado, Amura igual o Pelicano também. As ruas com sucata.

Eu falei demais, revoltado com o que vi, entretanto estava perto um sujeito de nome António que até me ameaçou.
Fui falar com um português que lá estava há anos que me sugeriu que fosse para Varela. Assim fiz, na volta fui logo direto ao aeroporto pensando que desta já me tinha safado.

Por hoje é só, até que me lembre de outra situação.

Abraço
Acácio Mares
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20961: Estórias avulsas (98): Histórias do vovô Zé (2): História da Carochinha, contada em confinamento, em homenagem à D. Virgínia Teixeira e ao Senhor Jotex (José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp)

Guiné 61/74 - P21123: Historiografia da presença portuguesa em África (215): o jovem Amílcar Cabral, finalista de engenharia agronómica, saudando o regresso das chuvas e da esperança, após quatro anos de seca, fome e tragédia, escreveu: "A bem de Cabo Verde, pelo bom nome e pela glória de Portugal" (sic), a rematar um artigo publicado no nº 1 do Boletim de Informação e Propaganda, outubro de 1949



Capa do mensário "Cabo Verde: Boletim de Propaganda e Informação", Praia,  nº 1, ano I, 1 de outubro de 1949. Propriedade da Imprensa Nacional, 20 pp. Diretor:  Bento Benoliel Levy  (Preço de capa: 2$50)






















Artigo da autoria de Amílcar Lopes Cabral, futuro engenheiro agrónomo, e fundador e líder do PAIGC: "Algumas considerações acerca das chuvas", pp. 5-7.




Cabo Verde: Boletim de Propaganda e Informação, Ano I, nº 1, 1 de outubro de 1949. 

Notícias sobre as chuvas de setembro de 1949.  Há cinco anos que não chovia no arquipélago (!) (p. 7)
Fonte: Hemeroteca Digital, CM Lisboa (com a devida vénia)

 [Fixação de texto para efeitos de reprodução neste blogue: LG]

1. O novo governador de Cabo Verde  (1949-1953), Carlos [Alberto Garcia] Alves Roçadas (, major  de infantaria, licenciado em medicina,  e sobrinho do gen José Augusto Alves Roçadas, 1865 - 1927)  foi o "inspirador" deste orgão da imprensa cabo-verdiano (1949-1964). 

Era propriedade da Imprensa Nacional de Cabo Verde, e tinha como diretor Bento Benoliel Levy (Praia, 1911- Lisboa, 1991),  um político e jornalista, de origem judia sefardita,  afeto ao regime do Estado Novo e defensor (intransigente) da sua política ultramarina.

Bento Levy. Fonte:
Assembleia da República
Bento Levy era licenciado em Direito (Ciências Jurídicas) pela Universidade de Lisboa (1939). Teve uma carreira político-administrativaa feita na Praia, Santiago, Cabo Verde:

(i) administrador du concelho da Praia (1941);

(ii)  vohal do Conselho do Governo (1942); 

(iii) chefe des serviços de administração civil (1946);

(iv)  presidente do Conselho fiscal da caixa geral dos reformados;

(v) presidente do Centro Cultural de Sotavento;

(vi) diretor  técnico da  Imprensa Nacional de Cabo Verde (1948);

(vii) substituto do juiz de direito  da Comarca de Sotavento  (1949-1961);

(viii) diretor do Serviço de propaganda e informação; diretor do Centro de Informação e Turimos de Cabo Verde; fundador et presidente du Rádio Clube de Cabo Verde....

(ix) enfim, deputado à Assembleia Nacional por Cabo Verde (União Nacional, 1961-1965 / 1969-1973), onde abordou por várias veses o problema da seca e da fome.

Para além de responsabilidade pela criação deste Boletim (1949), foi também fundador da Rádio Clube de Cabo Verde (1944); e, mais tarde, fundador do semanário O Arquipélago (1962).

O Boletim foi definido, logo de início como um " jornal de todos [e para todos], em que cada ideia construtiva terá cabimento (...), necessita[ndo], como é óbvio, de colaboração - colaboração de todos quantos de algum modo se interessam por Cabo Verde, ou porque aqui nasceram, ou porque aqui viveram, ou por cá passaram como simples curiosos, ou ainda porque, como portugueses, se acham lígados a esta parcela do Império, para o desenvolvimento e progresso da qual todos devemos contribuir."


É expressament referido que "a ideia desta iniciativa [é] devida a Sua Ex.a o Governador da colónia [, foto acima], que honra o Boletim com um editorial a todos os títulos notável, dando o exemplo e incitanto quantos possam contribuir para se fazer mais e melhor por Cabo Verde" (...).

(...) "É essa colaboração que se pede, pois dela depende a continuação de tão útil, como indispensável elemento de vida da colónia. (...)".

2. E logo no primeiro número surgem nomes, como o do jovem Amílcar Cabral, que de modo algum se podem considerar como "alinhados" com o regime. Veja.se o teor do artigo que acima reproduzimos: Amílcar Cabral ia fazer 25 anos em 12/9/1949, e estava a estudar agronomia em Lisboa, curso que vai concluir em 1950, e cuja escolha estará relacionada com a trágica seca e fome de 1941/43, período que concidiu com a comissão de serviço militar de alguns dos nossos pais (em São Vicente e no Sal).

Filho de pai cabo-verdiano de ascendência guineense, Juvenal Lopes Cabral, professor, e de mãe guineense, de ascêndencia caboverdiana, Iva Pinhel Évora, o Amílcar tinha nascido em Bafatá, em 1924, onde o seu pai fora colocado à época.

Com os oito anos de idade, em 1932, vem com a família para Cabo Verde. Completaria o ensino primário em Santa Catarina, na ilha de Santiago. No Mindelo, São Vicente, termina o curso liceal em 1943, no Liceu Gil Eanes. Tem um primeiro emprego na Imprensa Nacional (1944), já na Praia, Santiago. Ganha uma bolsa de estudos e vai para Lisboa em 1945. Estuda no Instituto Superior de Agronomia (ISA), ode conhece a futura esposa, flaviense. Convive com futuros dirigentes nacionalistas africanos, na Casa dos Estudantes do Império, tais como Agostinho Neto, Marcelino dos Santos e Mário de Andrade.

Em 1941/43 e em 1947/48, Cabo Verde tinha sofrido mais um ciclo de devastadoras secas, com trágicas consequências: dezenas de milhares de mortos, crise económica e social, emigração forçada (nomeadamente para S. Tomé e Príncipe, mas também para a Guiné.).. Em agosto e setembro de 1949, as chuvas (abundantes) voltam a cobrir as ilhas de "palha verde"...

É neste contexto, e na expetativa (moderada) de "mudança de rumo" do governo das ilhas, que deve ser lido este e outros artigos desta revista mensal, que se começa a publicar justamente em outubro de 1949 (e vai durar até 1964, tendo tido um certo impacto na vida cultural, social, intelectual e literária e do arquipélago, apesar do seu alinhamento político-ideológico com o regime de Salazar).
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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21107: Historiografia da presença portuguesa em África (214): A imprensa na Guiné, numa tese de doutoramento de Isadora de Ataíde Fonseca, denominada “A Imprensa e o Império na África Portuguesa, 1842-1974" (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P21122: Memórias de um Soldado Maqueiro (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS / BCAÇ 2845) (13): Álbum fotográfico - Parte VI

1. Mensagem do nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70) com data de 29 de Junho de 2020:

Bom dia Carlos Vinhal
Aqui dou início a mais uma semana, enviando para a Tabanca, o meu Álbum de Fotos n.º 6.
Desejo a todos os Tertulianos uma excelente semana, em especial para os Chefes de Tabanca.
Obrigado pela atenção e trabalho que tens e por me aturares.
Um Abraço,
Albino Silva



(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21104: Memórias de um Soldado Maqueiro (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS / BCAÇ 2845) (12): Álbum fotográfico - Parte V

Guiné 61/74 - P21121: Parabéns a você (1831): Manuel Maia, ex-Fur Mil Inf do BCAÇ 4610 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 29 de Junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21118: Parabéns a você (1830):José Firmino, ex-Soldado At Inf da CCAÇ 2585 (Guiné, 1969/71) e Santos Oliveira, ex-2.º Sarg Mil do Pel Mort Ind 912 (Guiné, 1964/66)

segunda-feira, 29 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21120: Notas de leitura (1291): “BC 513 - História do Batalhão”, por Artur Lagoela, edição de autor, Junho de 2000 (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Abril de 2017:

Queridos amigos,
Quem contesta a importância primacial da leitura da história dos batalhões como documentação-base para a historiografia da guerra colonial, leia a história do BCAÇ 513 e converse depois connosco.
Desembarcam em Julho de 1963, é-lhes destinado um vasto Sul, em turbamulta, a guerrilha devasta, intimida, executa os contestatários. As incumbências que lhe estão cometidas têm um peso enorme: instalar um destacamento em Guileje, outro em Colibuia, irradiar a partir de Aldeia Formosa, interditar o trânsito do inimigo da área do Forreá para o Incassol, patrulhar e emboscar no eixo Buba-Nhala e na estrada Buba-Aldeia Formosa.
Temos aqui relatos que infundem respeito, que deixam bem claro o caos em que se encontra toda região Sul em 1963 e como numa fase de arranque do PAIGC foi possível confrontá-lo com escassos recursos. Quando ali chegaram, Guileje estava totalmente ao abandono e as forças do PAIGC controlavam totalmente Ganturé, Sangonhá, Cacoca, Cameconde e Campeane, bem como o Cantanhez.
Um relato épico, inesquecível.

Um abraço do
Mário


BCAÇ 513, a divisa era “Ceder Nunca” (1)

Beja Santos

Dentro da minha rede de apoios, a Biblioteca da Liga dos Combatentes tem lugar cimeiro. O responsável pela biblioteca, sempre prestável, quando o informo das minhas devoluções também me informa que encontrou mais umas coisinhas, é tudo uma questão de ir ver. Uma das novidades foi a história deste Batalhão, documento que desconhecia inteiramente: BC 513, História do Batalhão, por Artur Lagoela, edição de autor, Junho de 2000. A surpresa começa logo na dedicatória de oferta:  
“De todos nós, combatentes do BCAÇ n.º 513, que prestou serviço na Guiné entre Julho de 1963 e Agosto de 1965, daqueles que por lá perderam a vida e daqueles que voltaram deixando lá parte dela, aqui fica um muito pouco de nós e um grande reconhecimento que os combatentes sabem ter por quem nunca os esquece. Mas a nossa história, essa, ficará sempre por contar. Ela seria o enorme somatório de todas as histórias, de todos nós, amalgamadas com todos os nossos sentimentos, todas as nossas indignações, angústias, inquietações, desesperos, raivas, medos, coragens, esperanças, desilusões, amizades, amores, tudo isso unido pela fortíssima argamassa que é a irmandade que nasce e perdura para sempre entre aqueles que foram combatentes. Vosso, muito grato, José Filipe da Cunha Fialho Barata, ex-alferes miliciano sapador”.

O BCAÇ 513, diz-se logo no pórtico, não foi uma unidade organizada na metrópole e preparada em conjunto numa única unidade mobilizadora. Apenas havia sido determinada a constituição de um Comando de Batalhão e respetiva CCS, com destino a Moçambique. Na antevéspera do embarque teve-se conhecimento da mudança de destino, a Guiné. Embarcam no Niassa em 17 de Julho de 1963, com as Companhias de Artilharia 494, 495 e 496, e o BCAV n.º 490 com as suas companhias 487, 488 e 489. Chegados a Bissau, logo se descobriu a falta de instalações com o mínimo de condições para alojar o pessoal, viveram um pouco aos baldões até que em 26 de Agosto seguiram para Buba. Houvera entretanto alterações no dispositivo militar, resultante da divisão de zona Sul, então na totalidade incluída na zona de ação do BCAÇ n.º 237. Dera-se a designação de Setor E, e a partir de Janeiro de 1965 passou a ser designado por Setor S2, com sede em Buba e abrangendo os subsetores de Buba, Cacine, Aldeia Formosa e mais tarde ainda os novos subsetores de Gadamael, Sangonhá e Guileje. O BCAÇ n.º 513 foi constituído na Guiné com a incorporação das três referidas Companhias de Artilharia, estava em Buba a CCAÇ n.º 411, houve também reforços com um Pelotão de Reconhecimento de Cavalaria, um Pelotão FOX. Recorde-se que o comandante da CART n.º 494 era o então Capitão Alexandre Coutinho e Lima, protagonista cimeiro da retirada de Guileje, em Maio de 1973. O Comando ficou em Buba, uma companhia partiu para Cacine, outra para a Aldeia Formosa, outra para Ganjola, no setor de Catió, onde se instalou provisoriamente.
E escreve-se na história do batalhão:  
“O facto mais grave foi o enfrentar logo no início de comissão a falta de instalações, muitas delas completamente destruídas, outras não possuindo mais que palhotas. As tropas viveram sempre nas piores condições imagináveis. Tiveram de construir paliçadas, abrigos para as armas e para o pessoal, que progressivamente foi necessário transformar em abrigos à prova de morteiro, pistas para a aviões a fim de não se ficar sujeito à única ligação mensal pelo barco dos reabastecimentos”.
E somos informados do inimigo existente, dispunha-se em três importantes zonas de concentração: a região de Incassol, nas margens do rio Corubal (Gã Gregório), a região de Forreá nas margens do rio Cumbijã e a região de Cacine na orla marítima (Campeane). Era tida como zona isenta de atividade inimiga a região da Aldeia Formosa – Contabane.

Era fundamental trabalhar na recuperação do “Chão Fula”. E escreve-se:  
“O regresso das populações às tabancas abandonadas só foi possível colocando um destacamento militar avançado na direção mais perigosa (Colibuia). O mesmo será necessário fazer quando se progredir na direção de Guileje, instalando nesta localidade um novo destacamento. Este sistema de dispersão de efetivos só seria possível desde que houvesse uma força móvel capaz de acorrer prontamente a qualquer ponto atacado. Por essa razão se manteve em Aldeia Formosa o pelotão FOX”. Era igualmente reconhecimento como imperativo paralisar o trânsito na fronteira Sul da Guiné. A tentativa de perfuração da CART n.º 496 em direção a Campeane não funcionou. Toda a região está bastante comprometida pelos terroristas e a progressão das tropas necessita sempre de apoio aéreo e de apoio terrestre dado por autometralhadoras”.

E o relatório elenca o que foi a recuperação do Chão Fula. O autor enquadra a situação:
“Junto à fronteira Sul e tendo como fulcro a tabanca da Aldeia Formosa (Quebo) uma vasta região encontrava-se habitada quase exclusivamente por povos de raça Fula tendo um importante chefe religioso, Cherno Rachide. Abrangendo os regulados de Contabane, Forriá e Guileje, corresponde a uma extensão de fronteira de mais de 40 quilómetros. Iniciada em princípios de 1963 a ação de grupos armados do PAIGC, sem que esses povos de raça Fula se tivessem deixado subverter na fase anterior de aliciamento, foram imediatamente atacados e expulsos das tabancas situadas nas linhas de infiltração escolhidas para passagens de pessoal e material, em especial no corredor de Guileje – Mejo – Nhacobá – Buba – Fulacunda. Atacada, incendiada e saqueada a tabanca de Salancaur Fula, onde se encontrava o régulo de Guileje, espalhou-se o pânico entre todos os povos desse regulado, fugindo uns para a República da Guiné, outros para Bedanda e ainda outros para Contabane e Aldeia Formosa. A tabanca do Mejo e outras próximas viriam também mais tarde a ser incendiadas e destruídas. Todas as casas de construção europeia pertencentes a comerciantes de Salancaur Cul e Bantel Silá foram destruídas. Em Maio de 1963 era chacinado em Samenau um sobrinho de Cherno Rachide e Cumbijã era atacada, ficando completamente incendiada e destruída. Assim avançou o IN na destruição das tabancas que lhe opunham dificuldades a caminho de Buba”.

O autor releva a ação de um pelotão da CCAÇ 41 e um pelotão de Reconhecimento de Cavalaria, Pelotão FOX, que foi incutindo respeito ao IN e dando confiança às populações. Nesse tempo os guerrilheiros ainda não dispunham de minas anticarro embora fizessem largo uso de fornilhos, que tinham pouco sucesso, porque eram comandados à distância. A viragem da situação ocorre com a instalação da CART n.º 495 em Aldeia Formosa, seguindo-se a instalação de um destacamento em Colibuia, em Outubro de 1963. Em Dezembro desse ano iniciou-se a preparação para a recuperação de Cumbijã. Em 4 de Fevereiro de 1964, uma enorme coluna auto, encabeçada pelo Pelotão FOX 888 e um grupo de combate da CART 495 procedeu à reocupação de Guileje. Tropas e população começaram do zero a ocupação de um dos mais importantes locais da fronteira Sul, sobre o ponto de vista militar. No mês seguinte começou a construção de um aquartelamento em Mejo e com a sua ocupação estavam criadas as condições necessárias para atingir Salancaur Fula e efetuar a ligação com Cumbijã através de Nhacobá e Samenau, completando-se a reinstalação dos povos Fulas das tabancas que tinham sido forçados a abandonar.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21099: Notas de leitura (1290): “Amílcar Cabral, Vida e morte de um revolucionário africano”, por Julião Soares Sousa; edição revista, corrigida e aumentada, edição de autor, 2016 (5) (Mário Beja Santos)