segunda-feira, 15 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21079: Consultório militar do José Martins (51): Fontes arquivísticas para o João Crisóstomo, que vive em Nova Iorque, procurar o nome (e, eventualmente, o paradeiro) do Luís Filiipe, que foi soldado-cadete, do 1º turno de 1964, COM, EPI, Mafra: Escola Prática de Infantaria, Arquivo Geral do Exército, Arquivo Histórico-Militar, Liga dos Combatentes... Há três capitães milicianos com este nome, Luís Filipe Fernandes Tavares (BART 6524/74, Angola); Luís Filipe Rolim Oliveira (BCAV 8323/74, Angola); e Luís Filipe Galhardo Lopes Ponte (CART 3572, Moçambique)

1. Mensagem do José Martins, nosso colaborador permanente, ex.fur mil trms, CCAÇ 5, Gatos Pretos (Canjadude, 1968/70), ex-técnico oficial de contas, reformado, residente em Odivelas, com mais de 4 centenas de referências no nosso blogue:


Data: 10/5/2020
Assunto - Em busca do Luís Filipe, soldado-cadete. CMO, 1º turno de 1964, EPI, Mafra

Caro João Crisóstomo (*)

Votos de que tudo esteja bem contigo e família.

Acerca da busca que fazes há 50 anos relativamente ao Luís Filipe [, sold cadete, CMO, 1º turno de 1964, EPI; Mafra,], só com os elementos de que dispões é um pouco curto para iniciar uma busca.

Há as seguintes hipóteses:

A – Escola Prática de Infantaria (EPI)

Foi desactivada a 1 de Outubro de 2013 para dar lugar à actual Escola das Armas, que se mantém nas antigas instalações da EPI em Mafra.

Se ainda conservarem as Ordens Regimentais, poder-se-ia pedir o nome completo e naturalidade de todos os elementos que incluam no nome completo “Luís Filipe”.

Se já não as tiverem em seu poder, devem estar no Arquivo Geral do Exército, faltando saber se já se encontram tratadas arquivisticamente, e com possibilidade de consulta.
https://www.exercito.pt/pt/quem-somos/organizacao/ceme/cmdpess/df/ea

B – Arquivo Geral do Exército 

Além de possuírem uma secção para a recolha e tratamento das Ordens Regimentais, têm a responsabilidade do arquivo dos processos individuais de todos os militares que serviram no exército desde meados do Século XIX, à excepção dos oficiais do quadro permanente.

Porém, para se poder consultar os processos, é necessário ter o nome completo, data de nascimento e naturalidade, elementos que, entretanto, se procuram.

https://www.exercito.pt/pt/quem-somos/organizacao/ceme/vceme/dhcm/arqgex

C – No comentário ao post, o Luís Graça dá a entender que o Luís Filipe, em 1967, não tinha ido ao ultramar. Nesse caso, poderia ter sido chamado como capitão.

Dei uma passagem pelos livros das unidades enviadas para Angola, Guiné e Moçambique, que só referem nomes a partir de Capitão, e encontrei os seguintes Capitães Milicianos cujo nome próprio é LUIS FILIPE e com os sobrenomes de:

Fernandes Tavares (BArt 6524/74, Angola)

Rolim Oliveira (BCav 8322/74, Angola) e

Galhardo Lopes Ponte (CArt 3572, Moçambique)

Será algum destes?

Caso tenha servido no ultramar, como Alferes ou Capitão, temos o AHM:

D – Arquivo Histórico Militar

Como, muito provavelmente, o Luís Filipe serviu no Ultramar integrado num batalhão ou companhia, se se souber qual foi a unidade, poder-se-ia consultar a História da Unidade, onde se registavam todos os factos, inclusive, a constituição dessa unidade.

Registe-se que nem todas as unidades elaboraram a história ou resumo de factos.

https://www.exercito.pt/pt/quem-somos/organizacao/ceme/vceme/dhcm/ahm

E – Liga dos Combatentes


Esta associação criada em 1924 e tutelada pelo Ministério da Defesa Nacional, após o golpe do 28 de Maio de 1926, agregou os combatentes da Grande Guerra, expedicionários no tempo da II Grande Guerra e combatentes do Ultramar.

É de inscrição facultativa e, mesmo nas três hipóteses colocadas, nem todos aderiram à organização. Se o Luís Filipe se tivesse inscrito na Liga, sempre se poderia ter um contacto com o Núcleo em que se inscreveu que, naturalmente, seria o mais perto do seu local de residência.

https://www.ligacombatentes.org.pt/contactos

Estas são algumas dicas, mas a base de partida é muito estreita.

De qualquer forma, dispõem.

Abraço do Zé Martins (**)

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Notas do editor:


(**) Último poste da série > 3 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20702: Consultório militar do José Martins (50): Par de duas condecorações de um Capitão do Regimento de Caçadores

Guiné 61/74 - P21078: Notas de leitura (1289): “Amílcar Cabral, Vida e morte de um revolucionário africano”, por Julião Soares Sousa; edição revista, corrigida e aumentada, edição de autor, 2016 (4) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Março de 2017:

Queridos amigos,
Trata-se neste texto da evolução do pensamento de Cabral nos seus últimos anos de vida, das atividades desenvolvidas tanto no campo diplomático, na vida do partido como na atividade operacional. Cabral desenhou a manobra que conduzisse à criação do Estado da Guiné e encostasse o regime de Lisboa à parede, após o reconhecimento da independência da Guiné-Bissau. Aqui também se fala nas lutas internas e nas tensões que irão desembocar no seu assassinato.
Não me canso de dizer que este trabalho é uma das maiores referências da historiografia, a despeito das discordâncias sobre certos olhares de Julião Soares Sousa. Não posso entender a importância que se atribui a Momo Touré, é para mim incompreensível que se aluda a uma vitória militar no Como, se fale em milícias para defender régulos e na exclusiva política de bombardeamentos de Schulz.
Reparo que a africanização da guerra se iniciou, sem equívocos, com Louro de Sousa, se intensificou com Schulz (basta lembrar as unidades militares que se constituíram no seu tempo no CIM, de Bolama e a formação de milícias cumpria outra lógica que a de proteger régulos). E, como direi mais adiante, as teses agora levantadas sobre o assassinato de Cabral adensam a bruma e a camuflagem sobre algo que muitos guineenses recusam como evidência: foram combatentes da primeira hora, e guineenses, que assassinaram Cabral.

Um abraço do
Mário


Amílcar Cabral visto por Julião Soares Sousa:
Uma biografia incontornável, agora revista e aumentada (4)

Beja Santos

“Amílcar Cabral, Vida e morte de um revolucionário africano”, edição revista, corrigida e aumentada, edição de autor, 2016: tenho para mim que é a biografia do líder histórico do PAIGC, escrita em língua portuguesa, que nenhum estudioso ou interessado na história da Guiné-Bissau ou nas lutas de libertação que ali se travaram pode dispensar. Nenhum outro investigador de Amílcar Cabral coligiu tanta documentação, desfez mitos e quimeras e enquadrou com perspicácia e isenção o homem, a sua ideologia, a sua causa, nos tempos e na circunstância em que atuou e em que perdeu vida, assassinado pelos seus próprios companheiros de luta.

Estamos no auge da luta armada, Cabral vai se confrontado com a política de Spínola “Por uma Guiné melhor”, consigna que se traduzia em habitação, educação, saúde e alguns desafios sociais par a população guineense. Basta recordar que entre 1969 e 1973 foram construídas mais de 8 mil casas, mais de 60 aldeias melhoradas e milhares de pessoas reagrupadas dentro de uma estratégia que procurava cortar cerce a pressão de guerrilheiros, apara trocar alimentos e obter informações. Como recorda o autor, no domínio das comunicações, foram alcatroadas mais de 500 quilómetros de estradas e no setor da saúde construíram-se e recuperaram-se mais de 50 postos sanitários. As escolas primárias viram duplicar o número de alunos. Entre 1963 e 1974, de modo a proteger o arroz das águas salgadas, foram construídos cerca de 650 diques. Para encontrar uma reposta, Cabral procurou incrementar a produção do Sul e em todas as parcelas onde a presença da guerrilha e populações tivesse uma certa estabilidade e procurou denodadamente ajuda internacional para melhorar a oferta dos Armazéns do Povo.

Com a luta armada a soprar de feição, e após o abandono decidido por Spínola de várias posições, o PAIGC avançou com reformas político-militares e administrativas. Recorde-se que o abandono de Béli e de Madina do Boé fez estender a influência do PAIGC em direção à região do Gabu e ter um domínio quase total da margem direita do rio Corubal; o Corredor de Guileje passou a ser patrulhado pelas tropas especiais e o aquartelamento de Guileje passou o ser o símbolo da presença portuguesa no Sul. Aumentava o espaço de influência do PAIGC e redobravam os problemas. Cabral apostava no combate ao analfabetismo e estimulou a criação de escolas e a difusão de educação nas chamadas áreas libertadas; no domínio da saúde, apareceram postos sanitários, hospitais regionais e setoriais e clínicas ortopédicas, quer no interior do território, quer na Guiné Conacri e no Senegal.

O autor estudou atentamente não só o quadro ideológico em que evoluiu o pensamento de Cabral ao longo da luta armada, como estudou as diferentes movimentações do lado português para obter informações, contar com agentes duplos e infiltrar os seus homens. Repetidamente se ouve falar em Momo Touré como líder de insurreições. Momo era um combatente da primeira hora, foi preso e depois dado como reabilitado. Era empregado de mesa num restaurante de Bissau, o Pelicano. Continua-se sem entender como vários estudiosos falam de Momo Touré como o líder desencadeador da atmosfera envenenada que se vivia em Conacri, em 1972, e como ele preparou a insurreição que culminou no assassinato de Cabral. Tenho para mim que na ausência de provas factuais sobre a organização do complô e o que o inspirava, usa-se miticamente o nome de Momo Touré como se este tivesse dotes político-ideológicos suficientes para mobilizar quem foi mobilizado. Quanto muito, seria um cabeça de turco, tal como nos aparece Inocêncio Cani. Os investigadores continuam perplexos com a falta de provas sobre os autores morais, parece que tudo se sumiu pelo chão abaixo, os documentos dos interrogatórios, a recolha de provas a que teriam procedido as diferentes comissões de inquérito. Nesse sentido, é bem fácil especular sobre os alegados autores morais. Cabral sabia das tensões, ao modelizar a estrutura do PAIGC a partir de 1970 tentava duas coisas ao mesmo tempo: uma descentralização centralizada e livrar-se dos clichés e conotações socialistas e comunistas. Não podendo abrir uma frente de guerra em Cabo Verde, aproveitou esses quadros qualificados, virão a ter uma extraordinária importância nos acontecimentos de 1973: basta pensar nos nomes de Osvaldo Lopes da Silva, Manecas, Silvino da Luz, Agnelo Dantas, entre tantos outros. Cabral sabe que há cansaço entre os seus combatentes, desenvolve de 1971 para 1972 uma extraordinária ofensiva diplomática junto da ONU, da OUA, percorre continentes a denunciar a situação da Guiné, pede à URSS armamento moderno, difunde em todos os auditórios a originalidade revolucionária guineense. Julião Soares Sousa, bem a propósito, também nos fala da como Cabral procurava extrair lições dos graves erros ocorridos depois das muitas independências africanas, estava atento aos riscos do neocolonialismo.

Cabral fora líder incontestado na direção da luta pela libertação das colónias portuguesas. Agora a guerra evoluíra nas três frentes, as suas relações com Eduardo Mondlane estavam eivadas de tensões ideológicas, o MPLA ocupava uma posição modesta no teatro angolano. Enquanto se envolve nessa ofensiva diplomática desenha também a estratégica militar, exige aos seus quadros maior atividade operacional e propõe mesmo a guerrilha urbana. O autor lembra que de 1969 a 1971 houve ataques a Bafatá, Bissau, Bolama e Gabu, mas com consequências mínimas.

Entra-se numa nova fase, a de procurar a proclamação do Estado da Guiné, era uma etapa que segundo o líder fundador iria mudar tudo, Portugal ficaria num grande dilema: sair da ONU e ficar fora da lei ou ficar, reconhecendo a independência do país. Julião Soares Sousa também observa que Cabral pretendia levar a cabo entre Setembro/Outubro de 1972 uma esmagadora ofensiva sobre Guileje e escreve:  
“O objetivo visado era Guileje mas com manobra de diversão sobre Guidage, no Norte, e Gadamael, no Sul, de modo a atrair a atenção as tropas portuguesas e assim atingir o objetivo primordial que era a conquista de Guileje vital do ponto vista logístico e para a segurança das populações do setor de Balana. O aquartelamento de Guileje, na frente de Balana/Quitáfine, era na opinião de Amílcar Cabral, o mais bem fortificado aquartelamento português em 1972. As unidades portuguesas aí estacionadas (duas companhias e infantaria, unidades de cavalaria e artilharia) tinham por missão impedir a utilização da principal via de reabastecimento das forças do PAIGC, a partir de Kandjafra, que aparecia nas cartas militares como Corredor de Guileje. Por isso, o líder do PAIGC estava absolutamente convencido de que com a queda de Guileje tudo à volta cairia. Fazia mesmo depender a derrocada do regime colonial na Guiné de uma eventual queda deste importante campo fortificado, pois aliviaria a pressão do exército português na zona da fronteira, precipitando o desenvolvimento de ações militares e abrindo novas perspetivas para a resolução do conflito”.
Mas entendeu-se não haver condições para essa ofensiva, ela só terá lugar depois do PAIGC possuir mísseis terra-ar. Em simultâneo, na ONU fazia-se mais uma tentativa para Portugal negociar com os movimentos de libertação nacional.

Nesta fase da narrativa, o historiador introduz o novo serviço de informações a cargo de Alpoim Calvão, fala-se em alegados contactos de Cabral com a oposição ao regime de Sékou Touré e estamos agora no olho do furacão das crises internas. Assim se chega ao assassinato de Cabral em Conacri.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21054: Notas de leitura (1288): “Amílcar Cabral, Vida e morte de um revolucionário africano”, por Julião Soares Sousa; edição revista, corrigida e aumentada, edição de autor, 2016 (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P21077: Álfum fotográfico do Zeca Macedo, com dupla nacionalidade cabo-verdiana e americana (ex-2º tenente fuzileiro especial, DFE 21 (Cacheu e Bolama, 1973/74) - Parte I



Guiné > Região de Cacheu > Cacheu > DFE 21 (1973/74) > Regresso de uma patrulha em LDP (Lancha de Desembarque Pequena... Na foto de cima, o Zeca Macedo é o segundo, em primeiro plano, a contar da esquerda para a direita. O grosso dos fuzileiros do DFE 21 era de origem guineense. E houve graduados fuzilados pelo PAIGC, a seguir à independência.

Fotos (e legendas): © Zeca Macedo (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Fotos do álbum do  Zeca Macedo [ex-2º tenente fuzileiro especial, DFE 21 (Cacheu e Bolama, 1973/74), nascido na Praia, Santiago, Cabo Verde, em 1951, e a viver nos Estados Unidos, onde é advogado; é membro da nossa Tabanca Grande desde 13/2/2008; tem dupla nacionalidade, americana e cabo-verdiana; aqui na foto à esquerda, no navio escola Sagres, com a esposa Goretti; o casal já nos honrou com a sua presença em Monte Real, em dois encontros nacionais da Tabanca Grande (2016 e 2017)... Tem cerca de duas dezenas de referências no nosso blogue.

Mandou-nos uma dezena de fotos da sua comissão no DFE 21, num ficheiro em formato pdf, mas que, infelizmente, são de fraca qualidade. Vamos tentar resolver o problema, pedindo-lhe uma 2ª via.


2. Em 2016, quando nos encontrámos pela primeira vez, em Monte Real, demo-conta, eu e o Zeca Macedo, de que já nos conhecíamos de "outra encarnação"...

Heureca!... (Penso que foi ele que me reconheceu.) Em, 1971, o Zeca Macedo, que tinha saído da Escola Naval e aguardava a entrada em outubro na Escola de Fuzileiros Navais, trabalhou nas férias grandes no parque de campismo da Praia da Areia Branca, Lourinhã. 

Tinha também, na altura, uma prima na Lourinhã. a trabalhar na Câmara Municipal, no posto de turismo. Era presidente da edilidade, o arquitecto Lucínio Guia da Cruz (1914-1999).

[Lourinhanse, Lucínio Cruz formou-se em Formado em Arquitetura pela Escola de Belas Artes do Porto (1941); em 1942, começou a trabalhar no Gabinete do Plano de Obras da Praça do Império; na sequência desta colaboração, participou na Comissão Administrativa do Plano de Obras da Cidade Universitária de Coimbra; passou depois a rabalhou no Gabinete de Urbanização Colonial (GUC), depois, rebatizado GUU- Gabinete de Urbanização do Ultramar , em 1951; era um arquiteto do regime do Estado Novo (, autor por exemplo do projeto da Faculdade de Medicina de Coimbra),  o que não nos impede de reconhecer qualidade técnica e estética a algumas das suas obras, onde se incluem, por exemplo, notáveis edifícios deixados na Guiné-Bissau: o hospital de tisiologia (mais tarde, Hospital Militar 241), o edifício dos CTT, a estação metereológica de Bissau, o Mercado Central, o projeto da Cãmara Municipal, que não chegou à fase de construção...]
  
Penso que também foi nessa altura, no verão de 1971, tinha eu regressado da Guiné em março de 1971, que estivemos juntos, eu,  ele, e outros cadetes da Escola Naval: lembro-me do  Rafael Sardinha Mendes Calado, meu amigo, irmão do meu cunhado Cristiano Calado (, ambos de Alter do Chão),  capitão de mar e guerra de administração naval, hoje reformado; e ainda do Agostinho Ramos da Silva, vive-almirante de classe de marinha; bem como de outros cadetes, na altura, cujo nomes não fixei...)

Em 2017, eu e o Zeca Macedo voltámos ao passado, em Monte Real, por um breve momento...  De origem cabo-verdiana, ele conhece naturalmente (e é amigo de) diversos antigos  combatentes e dirigentes do PAIGC contra os quais combateu no TO da Guiné. Seria o caso, por exemplo, do antigo presidente da República de Cabo Verde, Pedro Pires. Mas, quando se encontram, não gostam de falar do passado, o que se entende: a guerra colonial / guerra de libertação foi uma fractura muito grande na nação cabo-verdiana...E ainda há feridas por sarar, ao fim de quase meio século, lá e cá, como na Guiné-Bisssau...ou na diáspora lusófona.

Foi bom também o Zeca Macedo ter trazido, além da simpatiquíssima esposa Goreti, outro casal, o mano Agnelo e a cunhada Delfina. Os quatro estiveram juntos, connosco, em Monte Real, em 2016 e 2017, e esperamos tê-los cá de novo, num próximo encontro, talvez em 2021.

O irmão, Agnelo Macedo, é  capitão de mar e guerra, na reserva, de seu nome completo Agnelo António Caldeira Marques Monteiro de Macedo: foi antigo diretor do Centro de Apoio Social de Lisboa do Instituto de Ação Social das Forças Armadas (2013-2016).

Para os dois camaradas, vai um alfabravo muito especial. "Mantenhas" também para as esposas, Goretti e Delfina.


Contacto do Zeca Macedo:

Jose J. Macedo, Esquire | Law Offices of Jose J. Macedo
392 Cambridge Street, Cambridge, MA 02141
Tel. (617) 354-1115 | Fax (617) 354-9955
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domingo, 14 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21076: Blogpoesia (681): "Chave de fendas", "A última noite" e "A primeira noite", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana:


Chave de fendas

Objecto minúsculo e discreto, tecido de aço,
Dotado da força, quase infinita
Duma alavanca potente.
Remove a teimosia com suas garras.
Capaz de erguer o mundo.
Quebra as cascas.
É arguta.
Busca na noz só o miolo.
Arma escondida.
Se ostenta branda no seu gume atroz.
Quem a tem consigo é capaz de desandar o mundo.
Escancara os cofres e abre as algemas.
Desafia as cadeias e abre as cancelas.

Cuidado!
A chave de fendas faz dum anão um gigante,
bom ou ladrão...

Mafra, 7 de Junho de 2020
8h58m
Jlmg

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A última noite

Durmo hoje a última noite na casa de Mafra.
Um sonho que acaba.
Sonhamo-la como um ponto de encontro da família total.
À beirinha do mar e do campo.

Os ventos da vida nos arrastam para longe.
Netos e filhos. Apelos ingentes.
Que não se podem negar.
O coração perdeu em favor da razão.
Não fazia sentido mantê-la.
Mas dói que se farta.

Um lenitivo:
Uma família jovem e numerosa a vai saborear…

Ouvindo a 7.ª sinfonia de Beethoven
10 de Junho de 2020
21h35m
Jlmg

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A primeira noite

Pela derradeira vez fechei a porta da velha casa.
Carreguei no carro os últimos caixotes e vim para a casa nova.
Um T0 duma moradia em turismo de habitação.
Tomamos a primeira refeição
– O jantar.
A dona presenteou-nos com um bolo caseiro feito por si.
E uma garrafa de “Redondo”. Carrascão.
Estamos cansados, mas felizes.
Uma nova etapa se abre.
Uma lição recebemos desta contingência dolorosa e inesperada.
Despimos a casa dum recheio mirabólico.
O que se vai acumulando no compra-compra.
Compra-se e não se usa.
Tivemos de nos desfazer de tudo porque ninguém apareceu para comprar.
Só a satisfação de nos ver livres já recompensou.
Temos só o que coube no carro.
Somos ricos porque temos a liberdade de avançar para Berlim.

Ericeira, 11 de Junho de 2020
20h49m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21051: Blogpoesia (680): "Nem sol a mais", "Minha alma é uma viola" e "Terror do sexo...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P21075: Manuscrito(s) (Luís Graça) (185): por favor, não destruam o que resta da caixinha de Pandora, porque nela ainda está o segredo da nossa salvação, a Esperança, o veneno do mal que nos liberta do mal


Estátua de Pandora (1861), 
de Pierre Loison (1816-1886). 
Paris, palácio do Louvre. 
Cortesia de Wikimedia Commons





A Caixinha de Pandora


por Luís Graça


Os deuses criaram a primeira mulher,
e puseram-lhe o nome de Pandora.
Diziam os gregos antigos que fora por castigo,
como presente envenenado,
oferecido aos homens,
a quem Prometeu, o titã, tinha dado o fogo,
roubado aos céus.

Na sua fabricação,
à imagem e semelhança dos deuses,
trabalharam Hefesto e Atena,
sob as ordens do próprio Zeus,
e com o auxílio do resto do Olimpo.

Cada dividindade se esmerou
e lhe deu uma qualidade:
a graça,
a beleza,
a meiguice,
a paciência,
a compaixão,
a persuasão,
a generosidade,
a inteligência emocional,
a sensibilidade,
a sensualidade,
o sexto sentido,
a graciosidade na dança,
a arte da sedução,
o erotismo,
o talento para a cozinha,
a destreza para os trabalhos manuais,
o amor maternal…

Porém Hermes, o pérfido

inocolou, às escondidas,  no  coração de Pandora,
(, quiçá com a cumplicidade do próprio Zeus,)
o vírus da traição,  da mentira, da intriga, do ciúme e da intolerância.

Zeus, o colérico e vingativo pai dos deuses
e de todas as demais criaturas,
mandou então a sua obra-prima
para a terra, qual cavalo de Tróia.
Epimeteu, irmão de Prometeu, estava por este avisado:
- Do céu nunca virá nada de bom!
Nunca aceites nenhum presente divino…

Deslumbrado com a sua beleza,
Epimeteu tomou Pandora como esposa.
Em casa, ele tinha uma misteriosa caixa
que outrora lhe enviara o céu.
Pandora fora instada a nunca a abrir,
em circunstância alguma.
Mas a curiosidade feminina foi superior às suas forças.
Outros dizem
que era... o seu dote de casamento,

um presente envenenado.

… Lá dentro, na caixa de Pandora,
estavam todos os males,
todos os cavaleiros do apocalipse
a fome, a guerra, a morte
 e todas as doenças
a começar pela peste, a pior das doenças,
que haveriam de afligir a humanidade,
até ao fim dos séculos dos séculos…
sem esquecer todas as sementes do mal:
a estupidez, o fanatismo, a intolerância, o ódio, o racismo. 

Mas, no fundo da caixa, ficou ainda
um resto do recheio original,
o único elemento que não se chegara a libertar,
porque Pandora, assustada,
ainda conseguira fechar a tampa,
na derradeira fracção de segundo …
E esse elemento era… a Esperança,
disfarçada de mal !

Apesar do erro, terrível,  irreparável,
Pandora vai permitir aos homens,
empunhar com orgulho o archote de fogo
que lhes dera Prometeu,
manter acesa a luz ao fundo do túnel,
manter vivo esse outro fogo do conhecimento e da paixão,
dominar alguns dos piores males
que estiveram prestes a destruir a humanidade,
todos os holocaustos e pandemias,
conquistar o direito ao futuro,
lutar contra a doença e a morte,
alimentar a esperança,
combater o fatum, a condenação ao absurdo,
levá-los, enfim, aos seres humanos
a superar as limitações da sua condição animal...

Com Pandora, não somos definitivamente criaturas divinas,
nem obras-primas da criação,
somos assumidamente seres livres,
humanos,
frágeis,
vulneráveis,
mortais,
bons e maus,
fortes e fracos,
mas donos do nosso destino.

Com Pandora, tornámos irrisórios os deuses,
libertámos criadores e criaturas,
deixámos a suburbanidade do Olimpo,
humanizámos a vida,
hospedámo-nos no sistema solar,
começámos a escrever a história, 
com muitos erros e crimes, é verdade,
mas escrevemos,
e  ganhámos a terra como nossa casa comum,
conhecemos a vertigem e o sabor
da aventura e da liberdade...


Pandora, nossa mãe negra, branca, amarela, vermelha...
mãe de todas as cores do arco-íris,
Não, Pandora, não és a fonte de todos os males,
não és o pecado original,
és afinal “a que tudo dá",
em grego.


Com Pandora somos fogo e estopa,
mas já não vem o diabo... e assopra!
Para quê o diabo,
se voltámos a ter, de volta,
a caixinha de Pandora,
agora domada e explicada às criancinhas,
e outrora mortal brinquedo dos deuses ?

Por favor, não destruam 
o que resta da caixinha de Pandora,
porque nela ainda está o segredo da nossa salvação, 
a Esperança, o veneno do mal que nos liberta do mal...


Lisboa, 8/3/2010. 
Versão 2, Lourinhã, 13/6/2020

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Guiné 61/74 - P21074: Parabéns a você (1822): Francisco Silva, ex-Alf Mil Art da CART 3492 e CMDT do Pel Caç Nat 51 (Guiné, 1971/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 11 de Junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21065: Parabéns a você (1821): Fernando Tabanez Ribeiro, ex-2.º Tenente da Reserva Naval (Guiné, 1972/73)

sábado, 13 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21073: Os nossos seres, saberes e lazeres (397): Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (8) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Novembro de 2019:

Queridos amigos,
É a despedida de Ravello, uma despedida em beleza, com vistas panorâmicas em Villa Cimbrone na sua composição eclética, muito ao gosto do romantismo fim de século, registaram-se alguns elementos de extraordinária beleza da pequena catedral, apanhou-se um autocarro até Amalfi, daqui uma viagem de autocarro em que o viandante andou bem apertado a olhar um permanente precipício até Nápoles.
E na manhã seguinte, sem perda de tempo, subiu-se a um ponto alto, um castelo maciço, andou-se à volta de vários bastiões, parecem proas de transatlânticos, muito respeitinho, naquela prisão esteve Leonor da Fonseca Pimentel, "A Portuguesa de Nápoles", ler as suas biografias permite conhecer o mais obscuro da mentalidade fanática e perceber como se comportou na agonia o absolutismo e perceber perfeitamente que os famosos domínios pontifícios iam em breve desaparecer com a chegada de Garibaldi. Mas, acima de tudo, o que se tem mais satisfação em oferecer ao leitor, é uma Nápoles frondosa, a toda a volta.
Que disfrutem!

Um abraço do
Mário


Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (8)

Beja Santos

Villa Cimbrone, espero que o leitor se recorde, é distinguida pelo Guia Michelin com três estrelas. A vila foi construída no início do século XIX por Lorde William Bechett em estilo eclético, daí entrar-se por uma alameda enorme, cercada de parques, fica-se logo com a tentação de andar a bisbilhotar de um lado para o outro, impõe-se a disciplina e vai-se em direção a Belvedere, adornado com bustos em mármore, é o tal panorama de cortar a respiração, e depois saltita-se pelas diferentes áreas do parque, são seis hectares primorosamente tratados, temos aqui a botânica e a cultura de Inglaterra incrustadas num ponto do Mediterrâneo, edificação do fim do século XIX até início do século XX. Cimbrone vem do termo latino cimbronium, lugar de vegetação luxuriante onde se produz da melhor madeira para uso naval. Há muito para ver, nestas edificações ecléticas que encontramos no claustro, na cripta, na diferente estatuária, nas réplicas de tempos, nas grutas, nos terraços, em plenas avenidas. Deixa-se aqui uma pequena amostra.





Finda a visita, o viandante vai-se despedir da catedral de Ravello, fundada no século XI e remodelada no século XVIII. Tem uma esplêndida porta de bronze, os painéis datam do século XII. O Guia Michelin confere duas estrelas ao púlpito pela sua espantosa variedade de motivos e animais fantásticos, obra do século XIII. É de encher as medidas! Adeus Ravello, a peregrinação dirige-se de novo para Nápoles.




Não é um transatlântico, é Castel Sant’Elmo, uma estrutura maciça com bastiões. Oiçam o que o viandante encontrou num guia:  
“Nos anos 30 do século XIV, os governantes Angevinos (entenda-se, da Casa de Anjou) fomentaram uma onde de construção no monte Vomero a oeste de Nápoles – a construção da Certosa di San Martino e o aumento e reconstrução da vizinha residência fortificada de Belforte, que tinha sido aditada pela família de Carlos I de Anjou, desde 1275. No século XVI, Pedro Scriba, um importante arquiteto militar da época, transformou o castelo do século XIV para a sua atual configuração de estrela de seis pontas. Por causa da sua posição estratégica, Castel Sant’Elmo tornou-se sob Pedro de Toledo o ponto central do novo sistema de defesa de Nápoles. Foi usado como prisão, um preso célebre foi Tommaso Campanella e os revolucionários de 1799, daqui partiu para o cadafalso Leonor da Fonseca Pimentel. A entrada tem o brasão de Carlos V. O complexo é usado hoje para exposições temporárias e eventos culturais”.
Como é de supor, das muralhas de Castel Sant’Elmo tem-se uma espetacular vista de 360º de Nápoles e da baía.




A Portuguesa de Nápoles, Leonor da Fonseca Pimentel, executada em 1799.




Visitado o Castel Sant’Elmo, parte-se para a Cartuxa e para o Museu Nacional de S. Martinho. Esta imagem não vem a despropósito. Se pouco resta do domínio bizantino ou da dinastia aragonesa, se há bastante património relativo à vice-realeza espanhola e aos Bourbon, a monumentalidade da arquitetura é impressionante. Numa pequena secção de rua podem ser vistas marcas de várias épocas, mas as marcas do classicismo novecentista são eloquentes, casas que são verdadeiros palácios, a atestar conforto e marcas da distinção, o que aqui se mostra multiplica-se por milhares, e a arquitetura ao longo da baía é magnificente, como se Nápoles quisesse dizer a toda a Itália que a sumptuosidade não se circunscreve às ricas cidades de Roma e Milão, ela é a rainha do Sul, sem dúvida.


(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21048: Os nossos seres, saberes e lazeres (396): Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (7) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P21072: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (14): Pequenos caprichos - II: Concurso Provincial de Angola

Pedras Negras de Pungo Andongo


1. Em mensagem do dia 3 de Junho de 2020, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos esta Boa memória da sua paz, mais uma a relembrar os seus bons tempos vividos em Angola


BOAS MEMÓRIAS DA MINHA PAZ - 13

PEQUENOS CAPRICHOS II

Concurso Provincial de Angola

Ainda saboreávamos a aventura do concurso de pesca de Santo António do Zaire, e já se falava na representação Cabindense a participar no Concurso Provincial, a realizar junto à Praia da Caotinha, entre Lobito e Benguela. E, modéstia à parte, apostava-se muito numa participação honrosa. Éramos 3: os irmãos Neves (Campeões de Badmington) e eu.

Fomos apetrechados do melhor que havia. Boas canas (e fortes), fio especial e chumbeiras de modelos estudados/alterados, fundidas nas Oficinas Gerais. E mandei fazer uma mala, tipo caixão, de madeira pau-santo, cheia com um bloco de esferovite, com espaço vazio adaptado para o encaixe da cana e seus apetrechos. Ah! E estreámos umas camisas alusivas ao povo Fiote de Cabinda.

Quando o motorista do Mercedes Presidencial nos levou ao aeroporto, teve o cuidado de me transmitir que o Senhor Presidente mandou dizer que todos os dias enviasse informações, via telex.

No aeroporto fomos elucidados de que o pesadíssimo caixão não era necessário e que nos garantiam os necessários cuidados com o manuseamento de todo o material desportivo.

De Luanda para sul, seguimos em autocarro especial, com grande número de participantes, fiscais e dirigentes. Lembro-me bem de ter visto aquelas enormes fazendas, bem trabalhadas e visíveis ao longo da estrada.

Também me lembro que seguimos um percurso por forma a visitarmos alguns pontos de maior interesse. É pena que a minha memória, hoje, não possa especificar melhor esses importantes locais. Uma coisa fixei bem: as Pedras Negras do Pungo Andongo. Belas, gigantes e misteriosas, elas são património paisagístico invulgar.

Pedras Negras de Pungo Andongo

Por aqui, na região de Pungo Andongo, é bem marcante a imagem da Rainha Ginga, a quem atribuem (erradamente) as suas pegadas nas rochas. Reinou com forte oposição aos portugueses, entre 1620 e 1680 (data da sua morte)

Uma imagem da Gabela

A Restinga do Lobito é deslumbrante

Voltei ao sul de Angola e aqui, em Benguela, cheguei a assistir a um filme neste anfiteatro ao ar livre

Nunca tinha assistido a um frenesim igual. Corria-se de um lado para o outro, numa excitação invulgar. Parecia que algo de transcendental estava para acontecer. Fomos assistir (de longe) ao sorteio, na reunião de delegados. Alguém pôs a questão de que não havia isco nem peixe para fazer engodos. Tanto no Lobito como em Benguela, haviam “esgotado/açambarcado/boicotado” todo o pescado. Alguém, do Lobito, teve pena de nós e deu-nos 2 sardinhas para os três pescadores.

Foi neste local que organizaram o concurso, talvez escolhido pela sua singela beleza e não pelas desejadas condições para a pescaria.

Quando chegámos ao local, nem queríamos acreditar. Tudo nos surpreendeu e tudo nos correu mal.

Íamos a pensar em pescar peixes grandes e ao fundo, mas logo notámos ser impossível. Via os concorrentes a pescar peixinhos pequeninos na margem e não acreditava. Pensei que com os meus lançamentos para longe, iria naturalmente apanhar algum peixe de jeito. Enganei-me redondamente. As águas eram baixas e cheias de rochas, onde sempre se prendiam as chumbeiras.
Quem assistia, até ria do nosso esforço.
Lá foram as chumbeiras e as sardinhas. Desistimos e fomos assistir à luta dos outros.

Precisamente no pesqueiro ao meu lado direito, reinava o vencedor. Comodamente sentado, trabalhava com uma cana comprida, com fio 0,16 e um pequeno anzol. Nem utilizava o carreto. Levantava a cana e um dos seus TRÊS colaboradores metia o berbigão no anzol. O pescador deixava-o cair entre o cardume em luta, devido ao constante bombardeio de engodo, lançado por outro colaborador. O peixe era recolhido pelo mesmo que metia o isco. O outro colaborador fazia a ligação com o pequeno camião, carregado de material. Havia mais 6 colaboradores que trabalhavam com os outros dois pescadores da mesma equipa. Em pequenos intervalos, um deles, preparava pormenorizadamente outra cana, para possível troca imediata.

Fomos assistindo, conversando e sempre em tons amistosos. Por volta das 11h15, o pescador, oriundo da região de Aveiro, resolveu entrar numa de camaradagem e ofereceu isco igual para eu poder também pescar. Lá me adaptei o melhor que pude, até porque seria difícil pescar sem lançamento e sem chumbo, porque o meu fio era 0,55 e não corria. Bem, o certo é que ajustei de tal forma o meu esquema que passou a dar bons resultados. Quando soou o apito final ao meio dia, eu tinha tirado 62 peixes. O vencedor, meu vizinho, que ganhou com 221, interpelou-me com um sorriso amarelo:

- Foda-se, se lhe tenho dado o isco mais cedo, você ganhava!

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Nota: - O homem, que demonstrou ser muito competitivo, já era idoso e apoiava-se fortemente nos colaboradores.

Ah! Mas ainda consegui ficar num “honroso” “cagagésimo” 6.º lugar.

José Ferreira
(Silva da Cart 1689)
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21049: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (13): Pequenos caprichos - I: Concurso de Pesca na foz do rio Zaire

Guiné 61/74 - P21071: (In)citações (163): Sermão antirracista do Padre António Vieira: "Cada um é da cor do seu coração" (seleção: António Graça de Abreu)

Padre António Vieira (séc. XVII). Cortesia de
Biblioteca Municipal Anselmo Braamcamp Freire,
Santarém
1. Mensagem de António Graça de Abreu [ ex-alf mil, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), membro sénior da Tabanca Grande, com cerca de 260 referências no nosso blogue]

Sugiro este texto para publicação no blogue (*)



SERMÃO ANTIRRACISTA
do Padre António Vieira

Do SERMÃO XX do Rosário

"Cada um é da cor do seu coração."
Padre António Vieira


ELOGIO DA COR PRETA (**)

O segundo, e segunda causa da grande distinção, que fazem entre si, e os Escravos, os que se chamam Senhores, é, como dizíamos, a cor preta. Mas se a cor preta pusera pleito à branca, é certo que não havia de ser tão fácil de averiguar a preferência entre as cores, como a que se vê entre os homens. 

Entre os homens dominarem os Brancos aos Pretos é força, e não razão, ou natureza. Bem se vê, onde não tem lugar esta força, nem a cor é vencida dela. Quando os Portugueses apareceram a primeira vez na Etiópia, admirando os Etíopes neles a polícia Europeia, diziam: "Tudo o melhor deu Deus aos Europeus, e a nós só a cor preta". Tanto estimam mais que a branca a sua cor. 

Por isso, assim como nós pintamos aos Anjos brancos, e aos Demónios, negros; assim eles por veneração aos Anjos pintam negros, e aos Demónios por injúria, e aborrecimento, brancos. 

Deixando porém os que podem parecer apaixonados, ninguém haverá que não reconheça, e venere na cor preta duas prerrogativas muito notáveis. A primeira, que ela encobre melhor os defeitos, os quais a branca manifesta, e faz mais feios; a segunda, que só ela não se deixa tingir de outra cor, admitindo a branca a variedade de todas; e bastavam só estas duas virtudes para a cor preta vencer, e ainda envergonhar a branca. 

Mas das cores só os olhos podem ser juízes. Vejamos o que eles julgam, ou experimentam. Os Filósofos buscando as propriedades radicais, com que se distinguem estas duas cores extremas, dizem que da cor preta é próprio unir a vista, e da branca disgregá-la, e desuni-la. Por isso a brancura da neve ofende, e cega os olhos. 

E não é isto mesmo o que com grande louvor dos Pretos, e não menor afronta dos Brancos, se acha em uns, e outros? Dos pretos é tão própria, e natural a união, que a todos os que têm a mesma cor, chamam Parentes; a todos os que servem na mesma casa, chamam Parceiros; e a todos os que se embarcaram no mesmo navio, chamam Malungos. 

E os Brancos? Não basta andarem meses juntos no mesmo ventre, como Jacó, e Esaú, para se não aborrecerem; nem basta serem filhos do mesmo pai, e da mesma mãe, como Caim e Abel, para se não matarem. 

Que muito logo, que sendo tão disgregativa a cor branca, não caibam na mesma Congregação os Brancos, com os Pretos?

Padre António Vieira
[ Lisboa, 1608 — Salvador, 1697]

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Notas do editor:

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21070: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento, ex-Fur Mil Art) (18): Um pequeno desentendimento

Xime - 1.º Sargento Vaz à direita, depois Furriéis Nascimento e Soares


1. Em mensagem do dia 9 de Junho de 2020, o nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art, CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) manda-nos mais uma recordação da sua CART, hoje a estória de um pequeno desentendimento com um 1.º Sargento da sua Companhia.


RECORDAÇÕES DA CART 2520

UM PEQUENO DESENTENDIMENTO

Durante as nossas refeições na messe de sargentos no Xime, várias das nossas conversas originavam acesos debates sobre qualquer assunto que viesse à baila. Normalmente o 1.º Sargento Vaz como pessoa mais velha e mais "sabida" queria ter sempre razão em qualquer tema que eventualmente gerasse alguma controvérsia.

E, como era habitual, num certo dia à hora de almoço houve uma acesa das nossas conversas. Concluída a minha refeição saio para ir equipar-me para fazer uma coluna a Bambadinca, dou a volta ao edifício e vou mandar uma bocas pela janela que dava para o interior da nossa messe, mas o 1.º Sargento Vaz num gesto algo maldoso ou irreflectido atira com um copo de vinho através da rede mosquiteira que vem tingir de tinto a minha camisa.

A minha reacção foi imediata, corro para a nossa casa de banho, encho um balde de água que servia de autoclismo no nosso sanitário, dirijo-me à janela, que do exterior não dava para vislumbrar quem estava dentro e zás lá vai disto.

Dirijo-me de imediato para os meus aposentos e já à esquina do edifício ouço o 1.º Sargento enfurecido berrar:
-  Nosso furriel, vá você comer a sopa. - Voltei-me, vejo-o e dá para perceber que está pior que pólvora.

Equipado e pronto, vou cumprir a minha missão da qual voltaria ao fim do dia. Durante este tempo não deixei de pensar no assunto, com receio de que o 1.º Vaz pudesse fazer alguma participação ao Capitão Maltez e eu ficasse em maus lençóis. Chegado ao Xime os meus camaradas tentaram me infernizar com um "tás lixado", para não dizer outra coisa.

Tomo um banho tropical reparador, descanso um bocado e é chegada a hora de jantar. Dirijo-me à minha mesa, os lugares normalmente eram os mesmos, sento-me para tomar a minha refeição, até que chega o representante máximo da classe de Sargentos. Fico na expectativa, mas da sua boca não saiu uma palavra sobre o assunto. Confesso que o homem foi impecável, voltámo-nos a dar bem como se nada tivesse passado.

Depois do serviço militar nunca mais voltei a encontrar-me com o 1.º Sargento Vaz, gostava de lhe ter dado um abraço e também de lhe pedir desculpas pelas garrafas vazias que atirava para cima do telhado dos seus aposentos, quando às tantas da noite voltava duma ronda ou vagueava pelo aquartelamento. Sei que já partiu para outra jornada.

José Nascimento
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20920: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento, ex-Fur Mil Art) (17): Um condutor zeloso e cumpridor do seu dever

Guiné 61/74 - P21069: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (6): A funda que arremessa para o fundo da memória

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Maio de 2020:

Queridos amigos,
Aqui vos deixo mais um episódio em que a realidade emparelha com a ficção, torce-se e retorce-se tempos, lugares, pessoas e situações, um amplo ecrã que abarca a Guiné, Bruxelas e Lisboa, dois cinquentões que se deixam envolver numa barafunda que, imagine-se, começa numa Bruxelas da II Guerra Mundial, uma criança judia recolhida, hoje intérprete de profissão, filhos já crescidos, ela disponível para amar, e aparece-lhe aquele sujeito que veio com o pretexto de uma insinuante história de amor, com a guerra da Guiné ao fundo, os dois já embarcaram, como por magia, nessa aventura da escrita e nessa aventura dos primeiros encontros, sabe-se lá se não está para aparecer a mais inesperada das paixões...

Um abraço do
Mário


Esboços para um romance – II (Mário Beja Santos):
Rua do Eclipse (6): A funda que arremessa para o fundo da memória

Mário Beja Santos

Chère Annette, respondo prontamente à sua linda missiva, que li e reli com imenso prazer. Quando olho para estas fotografias que tenho vindo a acumular ao longo dos anos, quando posso calcorrear Bruxelas sozinho ou na companhia de amigos, interrogo esta ironia de frequentar lugares, ao longo de vinte anos, e a Annette a viver ali tão perto. Quando os programas de trabalho me permitem ter para mim um dia de fim de semana, e o tempo está de feição, vagueio por essa Bruxelas que já teve casco histórico e que mudou de pele para tapar o Rio Senne, enquanto se fazia ligação ferroviária entre Bruxelas Central e Bruxelas Midi, eu vejo as fotografias antigas, e posso perceber que se fez implodir uma arquitetura em nome do progresso. As imagens que junto são apontamentos de curiosidade. Na primeira, aparece um antigo armazém de vinhos e as Armas de Portugal, a propósito do Vinho da Madeira, era muitíssimo apreciado neste Norte da Europa; igualmente imagens que bem conhece, têm a ver com os alfarrábios, os CD’s e depois imagens de arquitetura, pormenores que me cativam; e quis o destino que um dia passasse pela Rua do Eclipse, aqui está um edifício que não é muito longe do seu apartamento.



Fachada da Igreja de Nossa Senhora do Bom Socorro, Bruxelas




Falávamos da minha primeira viagem para o Cuor, eu sentia-me fascinado por aquele caminho frondoso que vai de Finete para Canturé, cheia de poilões e cajueiros, mas ia muito inquieto pelo estado degradado em que encontrei Finete, além disso não apreciara as explicações dadas pelo comandante da milícia, um sujeito vaidosão que rapidamente me apercebi que saía pouco para patrulhar, faltava-lhe genica e sentido de liderança para manter o destacamento altamente seguro, como se veio a comprovar.

Eu não quero perder o sentido cronológico, ele é indispensável para que a Annette me possa ajudar no desenvolvimento da trama do romance, se a história tem pés para andar. Mas conto-lhe um episódio que ocorreu mais de um ano depois de eu viver no Cuor, e é por isso que envio um extrato da carta para se aperceber do teatro em que ocorreu um drama. Eu estava há uma semana em Finete, a acompanhar as obras dos dois novos abrigos, punha-se uma nova segunda fieira de arame farpado, substituía-se a que estava completamente apodrecida, as estacas onde se prendia o arame farpado tinham caído. Levara comigo um conjunto de militares vindos de Missirá. E quando se anunciava o fim da tarde, inopinadamente, como deve ser na circunstância de uma guerra de guerrilhas, informei que íamos montar uma emboscada na região de Malandim, era suposto que os grupos de abastecimento do PAIGC por aqui passassem, vindos da outra margem do Geba, ainda não conversámos acerca das populações sobre duplo controlo, era este o caso, do outro lado havia um local chamado Mero, onde a população de Madina e Belel trocava produtos, obviamente que informações.

Quase no lusco-fusco dispôs-se uma linha de cerca de vinte homens na horizontal, com atiradores nos extremos, a ver nos dois sentidos, fiquei em cima do trilho, anoiteceu, começaram a ouvir-se os ruídos próprios da floresta, movimentos de javalis, o piar das aves, o murmurar das águas do rio Geba. À minha direita estava um bravo soldado, Mamadu Camará, a quem julgo dever a vida, mais tarde contarei a história. Estávamos naquela letargia, aquela infindável espera, tinha anunciado que regressaríamos pela meia-noite, quando, pouco passava das sete horas, Mamadu ergue-se e grita, manda parar, levanto-me e é nesse instante que alguém que vinha seguramente em marcha apressada me abalroa, tinha a espingarda em riste, alvejei, o vulto cai a meus pés, isto enquanto se ouve uma restolhada de gente a fugir, veio-se a apurar que era uma coluna de abastecimento vinda da outra margem, largaram os mantimentos para se escapulirem pela mata. A meus pés, envolta num pano amarelado, jazia uma mulher, estava morta. É nisto que um dos meus auxiliares africanos, homem que fizera estudos em Bissau, sabe-se lá porquê, perdeu as estribeiras e começou aos gritos “Branco assassino!”, “Branco assassino!”, os outros camaradas procuravam acalmá-lo, toda aquela conversação ocorria em crioulo, e aquela acusação feria-me e trespassava-me como ferro em brasa, como era possível alguém que me via todos os dias, inserido num quartel com centenas de civis, procurando cuidar de todos com os modestíssimos recursos ao meu alcance, com as melhores relações com o régulo e com a população em geral, perder a tramontana e vociferar tão descabelada acusação?

Regressamos a Finete, pedi ao meu amigo Bacari Soncó que fosse tratar da recolha do corpo enquanto eu seguia para Bambadinca com o conjunto de homens que trouxera de Missirá, incluindo quem me acusava de ser branco assassino. Na sede do batalhão, os oficiais já tinham jantado, dirigi-me ao comandante, dizendo que se tratava de um assunto grave, precisava que ele tomasse uma decisão urgente, fomos então para o seu gabinete onde expus a situação. Ele tentava fazer uma leitura benévola, era tudo uma questão de nervos, o caso ajeitar-se-ia com o regresso à razão. A minha leitura era completamente diferente, fora desautorizado, não excluía a questão dos nervos, mas aquele homem tinha que ser detido, e prontamente, há normas no comportamento militar inabaláveis, se assim não fosse considerar-me-ia enxovalhado e desautorizado, e se o comandante insistisse na dita serenidade e palmadinhas nas costas no dia seguinte eu regressaria definitivamente a Missirá, tinha perdido as condições de comando. A discussão prolongou-se, ninguém perdeu as estribeiras, e então o comandante tomou a decisão de deter o militar. A Annette não pode imaginar o meu estado de espírito enquanto regressava a Finete e aqui estive. Dias depois, em plena parada de Missirá, tinha ordem de serviço com os dias de prisão daquele militar, sabia ser do domínio público toda aquela ocorrência e queria transmitir quer aos meus militares quer à população que fora insultado, que estava no Cuor para defender aqueles guineenses de todas as idades, e que esperava que nada de semelhante se voltasse a repetir. Anunciei que aquele militar ia regressar ainda naquele dia a Missirá, que o receberia de braços abertos, como manda a camaradagem e que queria que ele fosse muito bem acolhido por todos, ponto final numa história lamentável, todos tínhamos colhido o ensinamento. Como aconteceu, o meu relacionamento não foi afetado, ele foi um dos meus convidados para o meu casamento, em abril de 1970, está bem sorridente no filme que se fez, ao lado do Cabo Barbosa e do médico Joaquim Vidal Saraiva.

A que propósito vem esta história, Annette? Todos os anos, praticamente todos os anos, ele vem a Portugal fazer um tratamento. Esteve cá há dias, telefonou-me, recebi-o em casa, os camaradas merecem o melhor dos acolhimentos, falámos de tudo e está previsto que dias depois de eu regressar de Bruxelas aqui vai acontecer um almocinho de bacalhau para seis velhos combatentes, a velha guarda está firme. Foi a coincidência de datas, o facto de eu ter aqui a imagem dele à mão que me levou a desrespeitar a cronologia, saltei de agosto de 1968 para o presente.

Estou ansioso para me encontrar consigo. Concordo com as suas sugestões, tudo depende do tempo. Estive a pensar na sua proposta de envolvimento da história, já que começou a contar as suas origens, como foi acolhida, com poucos meses, por uma família católica residente em Marolles, ainda havia o espetro dos judeus belgas serem deportados, quando descobertos. Acho curioso para a trama narrativa e para se ir progressivamente adensando o clima passional, nessa altura, penso eu, já se passou por toda a experiência da minha guerra na Guiné, e manda a ficção que estamos disponíveis para um amor verdadeiro.

Penso que vai receber esta carta depois de eu aí chegar, ela tinha que seguir, impetuosa, pelas recordações que me trouxeram, confidências a que a Annette tem direito, já que é cúmplice neste enredo forjado pelas rodas do destino. Afetuosamente, Paulo Guilherme


Mamadu Camará


Há uns anos atrás, quando estava a preparar a edição de História(s) da Guiné-Bissau, tive a dita da fotógrafa Andrea Wurzenberger me ter oferecido um conjunto de imagens soberbas tiradas na Guiné-Bissau. Usei uma delas na contracapa, simbolizava o caminhar para a luz da esperança, aqui se publica uma outra imagem dessa coleção, com o meu profundo agradecimento.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21043: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (5): A funda que arremessa para o fundo da memória

Guiné 61/74 - P21068: Fauna e flora (12): José Carvalho, Barão do K3: "leopardo" (Panthera pardus) e não "onça" (Panthera onca) ou "jaguar", que só existe no "Novo Mundo"? ...Mas na Guiné-Bissau sempre ouvimos falar em "onças", até há emissões de selos...


Guiné > Região do Oio > CCAÇ 2753 (BráBironque, Madina Fula, Saliquinhedim e Mansabá, 1970/72) > "Um felídeo, que tropeçou numa das armadilhas NT, nas imediações do destacamento" [de Bironque ou Madina Fula]. Foto do álbum do alf mil  José Carvalho. 

Foto (e legenda): © José Carvalho (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário do editor Luís Graça ao poste P21057 (*):

Belíssimas fotos, ótimas legendas... Prometo ler com toda a atenção... Mas, para já, destaco o enorme interesse documental deste álbum... Obrigado, grande Barão do K3!...

Em Bironque e Madina Fula parece que apanhaste o tempo seco... Sei o que é o terrível pó vermelho, das colunas logísticas, que fiz de Bambadinca ao Saltinho, via Mansambo e Xitole... Mas também para o Xime, antes da nova estrada alcatroada (que já não conheci)...

E também posso avaliar o que é viver em "Bu...rakos" como estes... E muito pior era o tempo das chuvas...

Quanto à foto nº 7, que me chamou particular atenção: tu que és médico veterinário, diz-que que felídeo é esse... É um belíssimo e portentoso animal que teve o azar de cair nas vossas armadilhas...

Para mim é um leopardo (Panthera pardus), e não uma "onça" (Panthera onca) ou "jaguar", que só existe no "Novo Mundo"... Mas na Guiné-Bissau sempre ouvi falar em "onças", até há emissões de selos... Está na lista vermelha  das espécies ameaçadas. A atual situação é "vulnerável", mas na Guiné-Bissau devem restar muitos poucos casais, devido à guerra, à desflorestação, à caça furtiva e à pressão humana (**)

Um abraço afetuoso do
Luís
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(**) Último poste da série > 17 de janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3751: Fauna & flora (11): O babuíno da Guiné ou... cabrito pé de rocha (Vitor Junqueira)