quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21682: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (24): A Tabanca de Faro deseja a todos os Camaradas das Tabancas espalhadas pelo País um Feliz Natal e Próspero Ano Novo (José António Viegas)


Faro > Tabanca de Faro > 2º Encontro anual > 20 de maio de 2017 > Foto parcial do grupo de participantes cujo total era da ordem dos 75.

Foto: © José António Viegas  (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do José António Viegas, um dos régulos da Tabana de Faro / Algarve
 
Data: quarta, 23/12/2020 à(s) 17:15
Assunto: Boas Festas 

A Tabanca de Faro deseja a todos os Camaradas das Tabancas espalhadas  pelo País um Feliz Natal e Próspero Ano Novo e que o bicho fuja para longe.

Um Abraço

Zé Viegas
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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de dezembro de  2020 > Guiné 61/74 - P21680: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (23): Os meus/nossos três Natais no CTIG (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp/ranger, CART 3494 / BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74)

Guiné 61/74 - P21681: Historiografia da presença portuguesa em África (244): "Fernão Gomes e o monopólio do resgate da Guiné", no Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa de Maio e Junho de 1938 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Fevereiro de 2020:

Queridos amigos,
No tempo em que se iniciou a presença portuguesa na costa ocidental africana, ganhou acuidade a consolidação de redes comerciais. Aquilo que se chama Senegâmbia, teve uma presença sui generis, os lançados ou tangomaus, os entrepostos onde os mercadores, nomeadamente da ilha de Santiago, tinham um papel determinante. O contrato de arrendamento que D. Afonso V estabeleceu com Fernão Gomes trouxe benefícios recíprocos, avançou-se muito a partir da Serra Leoa, Fernão Gomes enriqueceu e reverteu muitos milhares de reais nos cofres do rei, bem como deu bastante dinheiro ao Príncipe D. João, que tinha a feitoria de Arguim.
A literatura de viagens exprime claramente a natureza do comércio que se fazia com os diferentes reinos desta costa africana, basta ler Cadamosto, Lemos Coelho, André Donelha, entre outros. Estes reinos africanos tinham uma prática multisecular de vender escravos e por isso vamos encontrando nestes relatos a descrição do valor de um cavalo por um número de escravos (podia ir de 7 a 14).
As explorações de Fernão Gomes foram utilíssimas nos planos de D. João II, avançava-se paulatinamente pela costa de África, está em marcha o plano e chegar às Índias.

Um abraço do
Mário


Fernão Gomes e o monopólio do resgate da Guiné

Mário Beja Santos

No Boletim da Sociedade de Geografia de maio e junho de 1938, o insigne historiador comandante A. Fontoura da Costa publicou um curioso artigo sobre Fernão Gomes e o papel que desempenhou nas viagens pela costa africana. A Guiné, ou rios da Guiné de Cabo Verde, ou Senegâmbia, entrou em meados do século XV numa teia de rotas comerciais que obedeciam, no caso português, a uma política comercial de monopólio régio. A política afonsina, com expedições a Marrocos e guerras com Castela, vai exaurindo os cofres públicos, daí ter-se adotado contratos de exploração da costa africana, foi o que aconteceu com o contrato celebrado com Fernão Gomes. Enquanto a colonização, sempre ténue e muitas vezes fora da alçada da Coroa, fica entregue aos lançados, a ilha de Santiago passa a ter um papel preponderante já que os seus navios e mercadorias navegam desde o Cabo Verde até à Serra Leoa. Estes comerciantes tinham poderes limitados: apenas lhes era permitido movimentar os produtos do arquipélago, algodão e cavalos. Os moradores da Ilha do Fogo ocupavam-se quase exclusivamente da produção de algodão e na tecelagem de roupas, produtos transportados para a Ilha de Santiago e daí à costa da Guiné, eram utilizados para o resgate de escravos.

Observe-se que os lançados também se ocupavam do comércio de troca entre mercadorias europeias e produtos africanos. Nessas trocas, os europeus compravam couros, marfim, cera, goma, âmbar, anil, ébano, escravos e algum ouro. Está documentada a presença destes lançados, inclusive fora do território da atual Guiné-Bissau, estavam presentes nas regiões do Senegal e do rio Gâmbia.

Os comerciantes estavam proibidos de ir à feitoria de Arguim. Em 12 de junho de 1466, D. Afonso V concedera aos moradores de Santiago o privilégio de comerciarem em toda a costa da Guiné, com exceção de Arguim. As mercadorias que trouxessem, após o pagamento dos impostos régios, poderiam ser vendidas a quem os comerciantes entendessem. Esta carta de privilégio visava, em grande medida, incrementar a colonização do arquipélago. No entanto, embora o povoamento de Santiago fosse de reconhecida necessidade, a exploração da costa, para além dos limites até então atingidos, não era menos. Em 1469, D. Afonso V arrendou a Fernão Gomes, por 200 mil reais por ano, os tratos e resgates da Guiné, com a condição de que em cada um destes cinco anos fosse obrigado a descobrir cem léguas para Sul, mas “com limitação que não resgatasse em a terra firme defronte das ilhas de Cabo Verde por ficar para os moradores delas” (João de Barros, Ásia, 1, parte II, capítulo II). Será um contrato que irá provocar atritos mas que trará resultados práticos na exploração da costa africana. É neste contexto que se deve ler o artigo de Fontoura da Costa:
“Fernão Gomes, poderoso negociante de Lisboa, foi um dos maiores aventureiros quatrocentistas, desses que sempre aparecem quando estão vazios os cofres de Estado – então confundidos com os do rei. O arrendamento a Fernão Gomes constituiu um dos mais lucrativos monopólios que a nossa História regista.
1 – O comércio da Guiné: consistia ele principalmente em ouro, marfim, escravos, gatos de algália (almíscar), malagueta e quaisquer especiarias;
2 – Contrato de 1469: não foi ainda encontrada a carta régia do contrato com Fernão Gomes, cujas principais cláusulas são citadas por alguns cronistas, entre os quais João de Barros. O clausulado preceituava a dita rende de 200 mil reais, em cada um dos cinco anos de vigência do contrato, ficava excluído o comércio na costa da Guiné, fronteira às ilhas de Cabo Verde e no Castelo de Arguim, o comércio de marfim ficava reservado para o rei e havia a obrigação do arrendatário em mandar descobrir anualmente cem léguas de costa, desde a Serra Leoa”
.

Examinando o contrato, Fontoura da Costa observa que os economistas divergem muito quanto à equivalência do real afonsino (1469) em moeda atual, não é possível encontrar correspondência em escudos. O comércio no castelo de Arguim pertencia ao príncipe D. João, o qual depois o cedeu a Fernão Lopes por cem mil reais anuais. A fortaleza de Arguim, na ilha do mesmo nome, começada a edificar por D. Henrique, só foi concluída depois da morte do infante. Quanto ao descobrimento anual de cem léguas da costa desde a Serra Leoa, o historiador recorda que os Descobrimentos, com D. Henrique, haviam terminado na Serra Leoa em viagem de Pêro de Sintra. Mas este navegador, já com D. Afonso V, ainda chegara até pouco além do Cabo Mesurado, a cerca de 44 léguas da Serra Leoa. Marcando esta cláusula o início dos novos descobrimentos na Serra Leoa, parece querer indicar que ainda era pouco conhecida a costa que Pêro de Sintra descobrira. E escreve:
“Fernão Gomes escolheu os melhores mareantes de então para o cumprimento desta importante e perigosa cláusula, a qual permitiria estender o conhecimento de toda a costa até ao Cabo de Catarina, indo até às ilhas do Golfo de Biafra. Foi Soeiro da Costa o primeiro navegador que logo em 1470, por mandado de Fernão Gomes, encetou os novos descobrimentos; foi ele até ao Cabo das Três Pontas, descobrindo portanto toda a Costa da Malagueta, que vai desde o Cabo Mesurado até ao Cabo das Palmas. O seu nome ficou ligado ao rio do Soeiro, a cuja barra os ingleses ainda chamam Soeiro bar. Soeiro da Costa deve ter regressado ao reino ainda em 1470, trazendo no seu navio grande porção de malagueta”.

Temos depois o aditamento ao contrato de 1469, por ele ficou também Fernão Gomes com o monopólio do resgate da malagueta, pagando mais cem mil reais anuais de renda. E operaram-se novos descobrimentos, até 1473. João de Santarém e Pêro Escobar, com os pilotos Martins Esteves e o afamado Álvaro Esteves, de 1471 a 1472, vão até ao Cabo Formoso, descobrindo também as ilhas de São Tomé, de Santo Antão (depois Príncipe) e do Ano Bom. A seguir, em 1472-1473, Fernando Pó começou os descobrimentos para além do Cabo Formoso.

O artigo de Fontoura da Costa publica a carta de prorrogação do contrato com Fernão Gomes do arrendamento do resgate da Guiné, refere ainda a continuação dos Descobrimentos até à descoberta do rio do Gabão, 1473-1474.

Este comércio da Guiné era extremamente próspero, o que levou D. Afonso V a conceder a Fernão Gomes honras de nobreza de novas armas. O fim dos Descobrimentos à responsabilidade de Fernão Gomes datam de 1475, chegara-se a mais de 600 léguas da Serra Leoa. E diz Fontoura da Costa que estando hoje esquecido o nome de Fernão Gomes, os descobridores ao seu serviço têm os seus nomes bem lembrados:
Soeiro da Costa, Fernando Pó, Loupo Gonçalves, João de Santarém, Escobar. Fernão Gomes era riquíssimo, nobre, considerado com respeito pela sociedade lisboeta, conselheiro régio nomeado em 1478. E termina o autor dizendo que “foi ele um dos raros a quem honras com proveito não fazem mal ao peito”
Carta da Ilha de Santiago, da autoria de Joannes van Keulen, datada de 1635
“A Mina", detalhe de mapa do século XVI
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21651: Historiografia da presença portuguesa em África (243): Revista Estudos Ultramarinos, 1959 - n.º 2 - Como se escrevia sobre a luta de libertação em pleno Estado Novo (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P21680: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (23): Os meus/nossos três Natais no CTIG (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp/ranger, CART 3494 / BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74)


Foto 1 > Ponta Coli (1972) > situada na estrada Xime-Bambadinca > local de muitas memórias do colectivo da CART 3494, tais como: (i) Local do "baptismo de fogo" dos elementos do 4.º Gr Comb, em 22 de Abril de 1972, em acção dirigida pelo Cmdt Mário Mendes (1943-1972); (ii) local da primeira baixa (a única em combate), em 22 de Abril de 1972, a do fur mil art Manuel da Rocha Bento (1950-1972): (iii) Local da segunda emboscada sofrida por elementos do 4.º Gr Comb, em 01 de Dezembro de 1972, devido a acção dirigida pelos Cmdts Mamadu Turé e Pana Djata. (iv) Local da recolha de cadáveres de dois guerrilheiros participantes na emboscada acima, incluídos no grupo de assaltantes (ou de assalto), e das suas respectiva armas: uma Kalashnikov (AK47) e um RPG. Os seus corpos foram inumados no cemitério de Bambadinca.

 

O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger,CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, ainda no ativo; tem cerca de 270 referências no nosso blogue.

BOAS FESTAS

em tempo de pandemia "COVID-19"

RECORDAR É… TORNAR PRESENTE!

OS TRÊS NATAIS DA MISSÃO ULTRAMARINA NO CTIG


Mobilizada pelo Regimento de Artilharia Pesada [RAP 2], da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, a Companhia de Artilharia 3494 [CART 3494], a terceira Unidade de Quadrícula do Batalhão de Artilharia 3878 [BART 3873], do TCor António Tiago Martins [1919-1992], embarcou em Lisboa, no Cais da Rocha, a 22 de Dezembro de 1971, 4.ª feira, a bordo do N/M «NIASSA», rumo ao TO do Comando Territorial Independente da Guiné [CTIG], numa altura em que o conflito armado contabilizava nove anos.

A sua chegada ao Cais do Pidjiguiti, em Bissau, ocorreu a 29 de Dezembro, 4.ª feira.


 

Foto 2 > Cais da Rocha > Lisboa > 22 de Dezembro de 1971 > N/M «NIASSA». Mais um contingente de cerca de mil e quinhentos jovens milicianos rumo ao TO do CTIG. [foto do álbum do António Bonito, fur mil da CART 3494], com a devida vénia.


1.º NATAL (1971) a BORDO DO «NIASSA»

Ao terceiro dia de uma viagem de seis, mas que era só de ida pois o regresso não tinha data marcada, teve lugar a consoada de 1971, realizada em pleno Alto Mar, talvez na linha imaginária de Santa Cruz de Tenerife, no Oceano Atlântico Norte.

 



Foto 3 > Cais do Pidjiguiti > Bissau > 29 de Dezembro de 1971 > N/M «NIASSA». Desembarque do contingente metropolitano da foto 2. [foto do álbum do António Bonito, fur mil da CART 3494], com a devida vénia.

2.º NATAL (1972) NO XIME

Decorrido um ano da sua missão ultramarina no CTIG que, pode aceitar-se, coincidiu com a comemoração da primeira festa natalícia fora do contexto familiar do colectivo da CART 3494, esta a bordo do «Niassa», este voltou a sentir o ambiente simbólico dessa secular celebração religiosa anual, nomeadamente os membros da família cristã.


Esta segunda reunião natalícia, que por tradição cultural sempre foi considerada de relevante significado espiritual, incluindo o meio militar, foi organizada no Aquartelamento do Xime, espaço físico onde ficou instalada durante catorze meses a partir do qual operacionalizava as diversas acções diárias que lhe haviam sido confiadas.


Esta cerimónia, ainda que não tenha sido possível reunir todo o contingente da Unidade, pois 2.º Gr Comb estava destacado no Enxalé, sempre ajudou a elevar um pouco mais o ânimo individual, reforçando a solidariedade e o companheirismo entre os seus pares, valores importantes num contexto geográfico considerado de excepcional importância estratégia para a mobilidade da logística militar, e de civis, entre Bissau e a restante Região Leste, o primeiro por via marítima (rio Geba) e depois por meio rodoviário (e vice-versa) e, por isso mesmo, de grande exigência e rigor, logo de elevada inquietação e labor nos múltiplos desempenhos.

 


Foto 4 > Xime > Natal/1972. Alguns dos militares participantes no almoço/convívio, distribuídos por mesas colocadas na Messe de Oficiais.

 


Foto 5 > Xime > Natal/1972. Em primeiro plano; de pé, António Costa [1.º C]; José Pacheco [20.º Pel Art]; Jorge Araújo e Mário Neves [Furriéis].

 


Foto 6 > Xime > Natal/1972. Da esquerda para a direita: 1.º Sarg Orlando Bagorro [, morreu em 2018]; 1.º Sarg Carlos Simões; Alferes Manuel Gomes [morreu em 2014; metade do rosto]; Alferes José Araújo [-2012]; Alferes Maurício Viegas [20.º Pel Art]; D. Idalina Carvalho Pereira Jorge Martins; esposa do Cmdt BART [1923-2011]; TCor António Tiago Martins [1919-1992; Cmdt BART 3873]; Cap Mil Luciano Costa [3.º Cmdt da CART 3494] e Alferes Serradas Pereira [de costas].


3.º NATAL (1973) EM MANSAMBO


Já com vinte e quatro meses de comissão, mas agora em Mansambo, para onde seguimos em Março do mesmo ano, por troca com a CART 3493, realizou-se a 3.ª reunião natalícia, num tempo que ainda não era possível prever ou "adivinhar" o regresso ao Continente (à Metrópole), o qual só se veio a concretizar nos primeiros dias do mês de Abril de 1974, ou seja, a três semanas do «25 de Abril».

 


Foto 7 > Mansambo > Ceia de Natal/1973. Da esqª para a dtª: Serradas Pereira [Alferes]; António Costa, de pé [1.º C]; Luciano Costa [Cap Mil, 3.º Cmdt da 3494]; Lobo da Costa [Alferes]; João Manuel Sousa Teles [Major; 2.º Cmdt do BART 3873]; Carvalhido da Ponte [Furriel] e Cláudio Ferreira, de costas [Furriel].

 


Foto 8 > Mansambo > Ceia de Natal/1973. Da esqª para a dtª: Carola Figueira [1950-2017; Furriel]; António Costa, de pé [1.º C]; Orlando Bagorro [-2018; 1.º Sarg]; Serradas Pereira [Alferes]; Luciano Costa [Cap Mil 3.º Cmdt da 3494]; Jorge Araújo, de pé [Furriel]; Lobo da Costa [Alferes] e João Manuel Sousa Teles [Major; 2.º Cmdt do BART 3873].

 


Foto 9 > Mansambo > Natal/1973. Mesa 1 [esq.]: Abílio Oliveira; mesa central [esq/dtª]: João Godinho; Mendes Pinto; Sousa Pinto [1950-2012] e Benjamim Dias; mesa 3 [dtª]: Carvalhido da Ponte e Jorge Araújo – todos furriéis.

Termino esta pequena resenha histórica natalícia enviando a todos os camaradas tertulianos da nossa TABANCA GRANDE, e aos leitores assíduos do nosso blogue, os meus votos de BOAS FESTAS, ainda que o cenário de pandemia provocada pelo «coronavírus» nos imponha algumas restrições. Nós, os ex-combatentes, sabemos bem, por experiência própria, o que significa o conceito de "confinamento".

BOM NATAL E UM MELHOR 2021

Muitas Felicidades.

 

Com um forte abraço de amizade, e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

20DEZ2020.

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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de dezembro de  2020 > Guiné 61/74 - P21677: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (22): Natal Santo que a todos nos abraça... (João Afonso Bento Soares, maj gen ref)

Guiné 61/74 - P21679: (In)citações (174): Apesar de agnóstico, ainda conservo, na cabeceira, um crucifico-talismã que alguém deixou na tabanca onde eu pernoitava: Ká pudi larga mezinho qui pudi salvar kurpu (Luís Mourato Oliveira, o último comandante do Pel Caç Nat 52, Mato Cão e Missirá, 1973/74)



Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca > Missirá > Pel Caç Nat 52 > 1974 > O crucifixo, em bronze (ou liga de bronze), dos anos 60/70, que trouxe, do destacamentp, depois da sua entrega ao PAIGC em agosto de 1974... Alguém, um graduado, deixou-o na tabanca onde eu pernoitava.

Foto (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (202'). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Comentário do Luís Mourato Oliveira, o último comandante do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74), e que vive presentemente na Lourinhã (*)

Obrigado, Zé Viegas,  por partilhares estas memórias. 

O Pelotão Caçadores Nativos 52 foi desmobilizado em Missirá. Vivemos o 25 de Abril de 1974 neste destacamento e a esperança num regresso rápido a Portugal nasceu nesta tabanca.

As imagens que tenho não são muito diferentes das agora publicadas embora a destruição que apresentam as várias edificações tenham sido reparadas. O depósito de géneros que também era depósito de material de guerra também ficou "destelhado" no período da permanência do Pel Caç Nat 52, não devido a uma flagelação porque nada sofremos aqui, mas nas chuvas, um tornado descontente com a arquitetura do edifício levantou o chapeado de zinco por inteiro e depositou-o com o estrondo de uma queda de 10 metros no meio do que seria a parada.

Com a guerra a arrefecer depois do 25 de Abril, o nosso quotidiano não era exigente e as tarefas militares limitavam-se à segurança do destacamento que o Pelotão partilhava com o grupo de milícias local e todas as acções no exterior foram suspensas.

Foi em Missirá que me foi pedida autorização para elementos do PAIGC visitarem a tabanca para o que dei de imediatamente o meu acordo. (**)

A guerra estava terminada e tinha a grande preocupação do que seria o futuro dos meus camaradas soldados portugueses (infelizmente esquecidos) do recrutamento local e procurei assim que se adaptassem a uma nova realidade para a qual não estavam preparados.

Com a minha juventude e capacidade de sonhar também espectava que o conhecimento pessoal com os antigos inimigos amenizasse o que seria o relacionamento futuro com a nova ordem social.

Recebemos então uma delegação do PAIGC, partilhámos bebidas e trocámos de armamento para as fotografias que imortalizam o momento. Posteriormente combinámos um jogo de futebol com o ex-inimigo, agora adversário no jogo da bola e como o resultado não estava a nosso favor e não admitia perder muito menos naquelas circunstâncias fui para a baliza e invertemos e resultado embora tenha ficado com algumas mazelas.

Também fomos convidados a assistir a um grande comício do PAIGC e estivemos presentes. Recordo com mágoa as lágrimas do Jalique Baldé, guia extraordinário que nos livrou de cair numa emboscada a 24 de Dezembro de 1973 em Mato de Cão. Detetou o IN no trilho pelo qual nos deslocávamos e que vinha na nossa direcção. Caíram eles na emboscada imediata que montámos.

De Missirá mantenho ainda, apesar de agnóstico, um cruxifixo que alguém deixou na tabanca onde pernoitava, que trouxe para Portugal e que mantenho na cabeceira. 

Desconheço a razão porque o faço e considero ser pouco racional este hábito e até pensei levá-lo na minha missão de voluntariado em 2018,mas como a ideia era deixá-lo em Missirá onde aliás não cheguei a ir, procurei deixá-lo em Portugal.

Ká pudi larga mezinho qui pudi salvar kurpu.(***)
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(**) Vd. postes de;

9 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18504: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, ago 73 /ago 74) (27): Visita de uma delegação do PAIGC a Missirá, em julho de 1974, no âmbito dos acordos de cessar-fogo - Parte I

12 de abril de  2018 > Guiné 61/74 - P18517: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, ago 73 /ago 74) (27): Visita de uma delegação do PAIGC a Missirá, em julho de 1974, no âmbito dos acordos de cessar-fogo - Parte II: Dando uma oportunidade à paz, depois de oito anos de guerra: os últimos dias dos bravos do pelotão

(***) 1 de dezembro de  2020 > Guiné 61/74 - P21598: (In)citações (173): Padre José Marques Henriques, com 44 anos de vida sacerdotal na Guiné-Bissau, sobretudo como missionário mas também como capelão militar (menos de 6 meses, a seguir ao 25 de Abril): convite para integrar a Tabanca Grande (João Crisóstomo, Nova Iorque)

Guiné 61/74 - P21678: Parabéns a você (1912): Albano Costa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 4150/73 (Guiné, 1973/74); Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS do STM/QG/CTIG (Guiné, 1968/70); Felismina Costa, Amiga Grã-Tabanqueira e José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2679 (Guiné, 1970/71)




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Nota do editor:

Último poste da série de 22 de Dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21673: Parabéns a você (1911): Miguel Vareta, ex-Fur Mil Comando da 38.ª CComandos (Guiné, 1972/74)

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21677: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (22): Natal Santo que a todos nos abraça... (João Afonso Bento Soares, maj gen ref)


Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 2885 (1969/71) > 1969 > O cap eng trms, STM, Bento Soares, à direita, à civil,  com o alf graduado capelão José Torres Neves. São conterrâneos, ambos naturais de Meimoa, Penamacor.

Foto (e legenda): © João Afonso Bento Soares (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Mensagem de João Afonso Bento Soares ex-capitão eng trms, STM / QG / CTIG (1968/70), hoje maj gen ref, nosso grã-tabanqueiro nº 785]

  
Data: domingo, 20/12/2020 à(s) 18:18
Assunto: Boas Festas e Pergunta 

Caro Amigo Luís Graça:

1 - Acabo de ler o último mail da Nossa Tabanca, com muitos votos de Boas Festas para todos nós, aos quais gostosamente me associo, retribuindo para todos os companheiros e suas Famílias, com uns meus  dizeres de modesto bardo, alusivos à sempre linda Quadra que atravessamos (abaixo e em anexo):


Cascais, São Domingos de Rana, Natal 2020


NATAL SANTO

Natal Santo que a todos nos abraça
É festa da Família em união,
É onda de amor que nos trespassa
Deixando ver no outro, um nosso irmão.

É o sol quente beijando a vidraça,
É calor da lareira, é tição,
É como vinho, despejada a taça,
Que enrija a alma, adoça o coração.

Por mais anos que viva lembrarei
O encanto que tem a Consoada,
A mesa posta, o lume, o sentimento…

Oh! Deus Menino – também Cristo Rei:
Contigo aqui estamos, de mão dada,
Fruindo a Graça do Teu Nascimento.

João Afonso

2. Aproveitava esta ocasião para lhe pedir o envio, caso seja possível, do e-mail do co-tabanqueiro Ernestino Caniço que vejo referido no mail. 

Isto peço, porque queria contactá-lo para o estimular a produzir o apontamento (para o que se terá prontificado a fazer) alusivo ao Pe Capelão José Torres Neves

 O meu interesse deriva do facto de ele ser meu conterrâneo (aldeia de Meimoa) e eu, enquanto Capitão Comandante do STM - Guiné, o ter visitado em Mansoa, num fim de semana em 1969- ver foto anexa com ele, estando eu à paisana.

O forte e sempre mui amigo abraço

Maj Gen João Afonso Bento Soares

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Nota do editor:

Último poste da série >  22 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21676: Boas Festas 2020/21 (21): "A Covid/19, a tecnologia e o Natal"; poema de Paulo Salgado, ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721

Guiné 61/74 - P21676: Boas Festas 2020/21 (21): "A Covid/19, a tecnologia e o Natal"; poema de Paulo Salgado, ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721


1. Mensagem do nosso camarada Paulo Salgado (ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72), autor dos livros, "Milando ou Andanças por África", "Guiné, Crónicas de Guerra e Amor" e "7 Histórias para o Xavier", com data de 21 de Dezembro de 2020, com um poema alusivo à quadra que atravessamos:


A COVID/19, A TECNOLOGIA E O NATAL

Hoje não passamos as mãos pelos rostos das crianças
nem beijamos os rostos dos que amamos.


A distância é longa parece perto aqui à nossa frente.
A tecnologia a diminuir o longe ideia enganadora.
Nos écrans vemos os peritos de saúde
e o pai natal entra a medo.
Não é o pai natal que conhecíamos.


No presépio José coloca a máscara
e a Senhora amamenta o menino com mil cuidados.
José pede aos reis: - mandai beijos de longe
e deixai os presentes à entrada da estalagem.
A vaca e o burrito lançam calor, mais afastados.


Esquecemos a piedade pelos que morrem
e vamos visitar os tristes encurralados
que desaparecem e poucos de nós se condoem.
São números longínquos, mas tão próximos.

A árvore de natal ilumina, teimosa, os rostos ansiosos
De meninas e meninos:
ah! os presentinhos!
Os mais velhos espreitam de longe, desejosos
De encantadores sorrisinhos.

Hoje não passamos as mãos pelos rostos das crianças
nem beijamos os rostos dos que amamos.
Apenas ouvimos Bach e Chopin.


Paulo Salgado – Bom Natal de 2020 (apesar de tudo)
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de Dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21674: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (20): A ONGD Afectos com Letras, em nome das crianças, adolescentes e mulheres que apoia na Guiné-Bissau

Guiné 61/74 - P21675: O meu Natal no mato (46): Depois do ataque a Missirá, na noite de 22 de dezembro de 1966, pouco havia para consoar... O meu caçador nativo Ananias Pereira Fernandes foi à caça, e fez um arroz com óleo de chabéu que estava divinal... O pior foi quando, no fim, mostrou a cabeça do macaco-cão... (José António Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54, Enxalé, Missirá e Ilha das Galinhas, 1966/68)


Foto nº 2 A - O furriel mil Viegas, do Pel Caç Nat 54


Foto nº 1A - O alferes mil Freitas, da CCAÇ 1439, natural do Funchal


Foto nº 1 > Palhota dos Furriéis e o Alf Freitas da CCAÇ 1439


Foto nº 3 > Sítio do Unimog


Foto nº 4 > Depósito de géneros


Foto nº 1 > A nossa segunda residência


Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Missirá > Pel Caç Nat 54 > 1966


Fotos (e legendas): © José António Viegas (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso amigo e camarada José António Viegas [ fur mil do Pel Caç Nat 54, passou por vários "resorts" turisticos em 1966/68 (Mansabá, Enxalé, Missirá, Porto Gole, Bolama, Ilha das Cobras e, o mais exótico de todos, a Ilha das Galinhas, na altura, colónia penal); vive em Faro; é um dos régulos da Tabanca do Algarve; tem mais de 40 referências no nosso blogue]:


Data - segunda, 21/12, 23:58

Assunto . Missirá, 22 de Dezembro de 1966



22 de Dezembro 1966. 22h30 da noite estavam os 3 Furriéis conversando á espera do sono, eis que atravessa a palhota uma saraivada de balas incendiárias, tracejantes,  explosivas, um pouco acima dos mosquiteiros.

Fui pegar na G3,  meio vestido, a caminho do abrigo.  A palhota já ardia, no caminho duas morteiradas certeiras entram no depósito de géneros alimentícios, acertando no bidão de óleo e de azeite o que provocou um fogo de artifício. 

Já no abrigo ajudo o meu cabo a municiar a MG [42, a célebre metralhadora do exército alemão na II Guerra Mundial], no meio daquele fogacho ele diz que ouve falar espanhol, presume-se que estavam lá Cubanos .
,
O ataque já ia avançado e as nossas munições escasseando, o único Unimog que tínhamos estava debaixo de um embondeiro [, "cabaceira", em crioulo] e caia morteiradas junto, com as palhotas na maioria a arder.

Parecia Roma vista de Babandica , o condutor da CCAÇ 1439 arranca debaixo de fogo e põe o Unimog a trabalhar para o retirar da zona de fogo. Como ele estava a escape livre,  a barulheira foi muita e o IN, pensando que eram reforços, retirou.  Este soldado condutor foi condecorado com medalha de guerra de 4ª classe. 

Tendo ido montar emboscada em Mato Cão,  já calculando que a CCAÇ 1439, sediada em Enxalé,  viria em nosso socorro,  o que aconteceu,  e como tal caíram debaixo de fogo, não havendo feridos do nosso lado. Houve um tiro caricato no Furriel Monteirinho,  do Pel Caç Nat 52,  do Alf Matos [, o açoriano Henrique José de Matos Francisco] , que lhe passou no meio das nádegas deixando somente queimaduras. 

Ao nascer do dia, feito o balanço, tivemos dois mortos na população e alguns feridos ligeiros e muitas palhotas destruídas, alguns de nós ficaram só com a roupa que tínhamos no corpo.

Aproximava-se a véspera de Natal, e para o  rancho pouco havia... O meu cabo nativo Ananias Pereira Fernandes sugeriu que ia tentar caçar qualquer coisa e caçou,  arranjou óleo de chabéu e arroz e cozinhou uma maravilha que todos na messe gostaram, mas quando chegou a altura de mostrar o troféu,  a cabeça do macaco cão,  houve quem não aguentasse o estômago... Guardei essa caveira do macaco por anos.

E foi este o primeiro Natal na Guiné do Pel Caç Nat 54.

Foto 1 - Palhota dos Furriéis e o Alf Freitas da 1439
Foto 2 - A nossa segunda residência
Foto 3 - Sítio do Unimog
Foto 4 - Depósito de géneros

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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18137: O meu Natal no mato (45): Um Natal antecipado: 23 de dezembro de 1967 em Gadamael Porto (Mário Gaspar), ex-fur mil art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

Guiné 61/74 - P21674: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (20): A ONGD Afectos com Letras, em nome das crianças, adolescentes e mulheres que apoia na Guiné-Bissau


Cartão de Boas Festas da ONGD Afectos com Letras


1. Mensagem da ONGD Afectos com Letras, com sede em Pombal [, tem página no Facebook]


Data - 20/12/2020, 12:06 (há 1 dia)
Assunto - Boas festas



Em nome das crianças, adolescentes e mulheres 
que apoiamos na Guiné-Bissau, 
deixamos votos de Boas Festas 
e que 2021 vos receba 
com muitos Afectos, saúde, solidariedade, 

Guiné 61/74 - P21673: Parabéns a você (1911): Miguel Vareta, ex-Fur Mil Comando da 38.ª CComandos (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 20 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21664: Parabéns a você (1910): José Casimiro Carvalho, ex-Fur Mil Op Esp da CCAV 8350 e CCAÇ 11 (Guiné, 1972/74) e José Botelho Colaço, ex-Soldaddo TRMS (Guiné, 1963/65)

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21672: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (19): lembrando o meu primeiro Natal no mato, em 1969, emboscado, no corredor de Sitató, na fronteira com o Senegal... (Eduardo Estrela, ex- fur mil at inf, CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71)



Eduardo Estrela: vive em Cacela Velha, (en)cantatada por Sophia, 
e que pertence a Vila Real de Santo António

1. Mensagem de Eduardo Estrela [ ex- fur mil at inf, CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71]

[O nosso editor LG pertenceu, juntamente com ele, ao 3º turno do CSM,  em Tavira, ele era da 3ª companhia, e eu da 4ª Companhia; partimos no mesmo dia, 24/5/1969, para o CTIG, no T/T Niassa, ele integrando a CCAÇ 2592, eu a CCAÇ 2590, futuras CCAÇ 14, de tropas mandingas, e eu a CCAÇ 12, de tropas fulas, respetivamente; ele seguiu para o CIM de Bolama, eu para o CIM de Contuboel: disse uma coisa interessante: a CCAÇ 14 não era etnicamente homogénea: tinha dois pelotões de mandingas, um de manjacos e outro de felupes, acabando depois por fazer trocas com as companhias africanas: os manjacos devem ter ido, por exemplo, para a CCAÇ 16: a lógica era pôr as tropas locais a defender o seu "chão"... Estivemos um bom bocado ao telefone a recordar estas peripécias da vida; tem 3 filhas, vai passar o Natal sozinho com a esposa, porque a saúde é quem mais ordena...]

Data: quinta, 17/12/2020 à(s) 22:45

Assunto: Boas Festas

Boa noite, Luís!

Do Sul, mando um fraterno abraço a todos os tabanqueiros, desejando um bom Natal e melhor Ano Novo, na companhia das famílias e amigos. Cuidemo-nos, façamos dos "abrigos " das máscaras, da higienização das mãos e da distância física, a nossa e dos outros defesa. O vírus anda á solta e compete-nos como operacionais que fomos e somos, emboscá-lo e destruí-lo.

Natal de 1969. Manhã de 24 de Dezembro. Três grupos de combate, dois da CCAÇ 2549 e um da CCAÇ 14, saem para o mato para interditaram os carreiros de infiltração do corredor de Sitató. O grupo da 14 é o meu. Habitualmente saem dois grupos de combate por períodos de 48 horas, permanentemente, mas porque é Natal e há informação de movimentos do PAIGC na zona, saímos mais reforçados.

Executamos os procedimentos habituais montando emboscadas nos terceiro e segundo carreiros de infiltração utilizados pelas forças dos guerrilheiros, não há contacto, passa-se o dia e a noite de 24 e no dia 25 por volta das 9,30 da noite, quando estávamos instalados para descansar um bocado, rebenta um brutal bombardeamento ao aquartelamento de Cuntima.

O PAIGC tinha instalado as armas pesadas no Senegal, junto á linha de fronteira e cá vai disto. A noite estava escura e a luminosidade dos rebentamentos era impressionante. Felizmente foi mais o barulho e a imagem das granadas a estoirar do que os danos físicos e materiais provocados.

Esse foi o meu/nosso primeiro Natal passado na Guiné. O confinamento vai obrigar-nos a ter cuidados redobrados e a não termos toda a família connosco, mas hão-de vir melhores dias e vamos poder usufruir outra vez em pleno, das coisas boas da vida que nos rodeia. 

Guiné 61/74 - P21671: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (18): recordando o meu Natal no mato, em Piche, 1970 (Hélder Sousa, ex-fur mil trms TSF, Piche e Bissau, 1970/72)



Guiné > Região de Gabu > Piche > BCAV 2922 (1970/72) > Jantar de Natal de 1970 > Em primeiro plano, uma travessa de leitão... A cerveja era Cristal... Dos comensais, reconheço da esquerda para a direita, os Furriéis Mouta (Cripto), Pacheco (Trms da CCS), Hernâni (no topo da mesa) , eu e, à minha esquerda,  o Ferreira (Trms da CCav 2749)-



Guiné > Região de Gabu > Piche > BCAV 2922 (1970/72)  >  Jantar de Natal de 1970 > Um brinde!...  (com Martini ?)...Em primeiro plano, do lado esquerdo o Luís Borrega, de camuflado (CCav 2749) (, infelizmente já falecido, em 2013) e à direita o Herlander (Vagomestre da CCav 2749), sendo que os restantes são os que estão na outra foto. os Furriéis Mouta (Cripto), Pacheco (Trms da CCS), Hernâni (no topo da mesa), eu e, à esquerda,  o Ferreira (Trms da CCav 2749).


Fotos (e legendas): © Hélder Sousa(2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Hélder Sousa, (ex-fur mil trms, TSF, Piche e Bissau, 1970/72):

Foto atual à esquerda: 

(i) é membro da nossa Tabanca Grande desde  10 de abril de 2007; 

(ii) nosso colaborador permanentem, tem cerc de 170 referências no nosso blogue;

(iii) foi Furriel Miliciano de Transmissões, do STM, cumprindo a comissão de serviço na Guiné entre 9 de Novembro de 1970 e 10 de Novembro de 1972, tendo estado cerca 7 meses em Piche (ao tempo do BCAV 2922, 1970/72 e o resto da comissão ao serviço do Centro de Escuta e de Radiolocalização do Agrupamento de Transmissões da Guiné;

(iv) natural de Vila Franca de Xira, mora em Setúbal, é engenheiro ténico;

(v) tem página no Facebook.


Data:20/12/2020, 18h02
Assunto: Texto para o Natal, no Blogue.

Caros amigos

A propósito do Natal e das nossas memórias sobre estas efemérides e para enquadramento nesta "campanha" de "Natal em rede", aqui envio um texto que na sua maioria foi publicado na "Tabanca do Centro" e de que obtive o consentimento para esta republicação "corrigida e melhorada".
O texto vai acompanhado das fotos referidas e de uma foto minha mais recente,

Aproveito também a ocasião para endereçar os meus votos de "Boas Festas" e a esperança de que o "Novo Ano" possa ser um "Ano Novo", com o retomar dos nossos "encontros".

Abraços
Hélder Sousa


OS MEUS NATAIS NA GUINÉ 

por Hélder Sousa

É normal e natural que encontremos memórias das coisas que se passaram quando as respetivas datas nos “batem à porta”. Por isso, muito recentemente, encontramos aqui no Blogue as memórias das “partidas” ou das “chegadas” que muitos camaradas nos relataram, tendo em conta a data do Natal e que agora é mesmo, também, objecto das recordações de como essa época, essas festividades foram passadas ou vividas durante a nossa permanência em terras da Guiné.

Deste modo, e tendo em conta dar o meu contributo para o conhecimento de como os meus Natais, principalmente o que fará agora 50 anos, ocorrido em 1970, foram vividos, fui repescar um texto que escrevi a propósito disso para a “Tabanca do Centro”, com a devida vénia e autorização de “pessoa amiga”, que aqui utilizo com os acrescentos que, entretanto, introduzo.

Ora, tendo chegado à Guiné em Novembro de 1970 e regressado em Novembro de 1972, é certo que os Natais de 1970 e de 1971 foram passados durante esse período e como por essas épocas não estive de férias, é então certo que foram passados lá.

O problema é que tenho pouca memória desses eventos. O Natal de 1970 foi passado “no mato”, em Piche, onde estive agregado ao BCAV 2922 desde o início de Dezembro desse ano até quase ao fim da Maio do ano seguinte.

Desse Natal de 1970 muito pouco relembro. Procurei apoio de memória em dois camaradas que estiveram comigo no CSM em Santarém e que integravam o referido Batalhão, os então Furriéis Fernando Boto e Herlander Almeida mas nada consegui que me pudesse ajudar.

O Boto disse-me que, após a Guiné, “apagou” todas essas memórias e que não me poderia valer. O Herlander foi no mesmo sentido, que não se lembra praticamente de nada, mas que agradece tudo o que eu tenho feito (escrito) e que, em certa medida, também o ajuda.

Quem poderia ser mais contributivo era o Luís Borrega, também membro da “Tabanca Grande” mas, entretanto, já falecido. Quando vivo, foi um dos impulsionadores de encontros e convívios entre o pessoal das várias Companhias desse Batalhão e mesmo de encontros parcelares. Portanto, por aí, também nada consegui.

Contudo, tenho umas fotos que o Borrega em tempos me facultou e que julgo terem sido desse Natal de 1970 e de aqui junto duas delas.

Na que diz “Jantar Natal 1970” em que se vê uma travessa com leitão, reconheço da esquerda para a direita, os Furriéis Mouta (Cripto), Pacheco (Trms da CCS), Hernâni, eu e o Ferreira (Trms da CCav 2749) à esquerda.

Na foto que diz “Brinde”, que se passa na mesma mesa, tem agora em primeiro plano do lado esquerdo o Luís Borrega, de camuflado (CCav 2749) e à direita o Herlander (Vagomestre da CCav 2749), sendo que os restantes são os que estão na outra foto.

Não me recordo de pormenores mas tenho a ideia que foi uma noite passada com alegria, nesse jantar, com a protecção adequada no exterior. Depois, no recato, em solidão, os pensamentos voaram para longe, para junto dos familiares tentando visualizar como estariam de saúde e como estariam celebrando essa ocasião.

Já o Natal de 1971 foi passado em Bissau.

Estava de serviço no meu turno na “Escuta” que, recordo bem, era das 19:00 de 24 às 01:00 já do dia 25 de Dezembro.

Por tal motivo não participei no jantar coletivo que ocorreu na Messe de Sargentos do QG em Santa Luzia, que contemplava o “velho” bacalhau, pois comi mais cedo e tive direito a um reforço alimentar, composto por duas sandes de queijo e fiambre e uma lata de leite com chocolate, holandês. Dadas as circunstâncias não tenho nenhuma foto ilustrativa.

Recordo apenas que durante a solidão do turno tive tempo, muito tempo, para me interrogar sobre o que fazia ali, sobre o que e como seria o futuro após o fim da comissão, sobre o que e como poderia fazer para contribuir para que aquela guerra não se prolongasse indefinidamente.

Hélder Sousa
Fur Mil Transmissões TSF
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Guiné 61/74 - P21670: Notas de leitura (1330): A Operação Tridente: Quando o delírio se disfarça de objetividade na reportagem (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Dezembro de 2020:

Queridos amigos, 

Nesta preocupação de juntar todas as peças inerentes ao conflito guineense, encontrei esta reportagem da Felícia Cabrita na revista do Expresso comemorativa dos vinte anos da publicação. 

É impossível não ficar estupefacto não só pelo tom da escrita, é o desmazelo pela verdade histórica disfarçado nessa ilusão de ouvir uns e os outros, esboça-se uma atmosfera apocalíptica e insinua-se permanentemente que houve para ali uma derrota, tinha que acontecer o que aconteceu, já que o decisor político só queria é que desaparecesse da cena internacional a atoarda de que o PAIGC possuía território que indiciava a independência. Operação caríssima e escola de aprendizagem - para quem tinha a honestidade de tirar lições de uma guerra de guerrilha, tal como o Como provou. 

Não sei exatamente para que servem estas reportagens, se para provar que a repórter esteve lá e cá ouviu gente, mas seguramente que não fica um quadro idóneo das etapas essenciais da operação. E, como sempre, tudo aparece inscrito em sede militar, como se de facto a Operação Tridente não tivesse sido, do princípio ao fim, uma decisão de Lisboa, que temeu a atoarda da república independente e que achou demasiado tempo, aqueles mais de 70 dias, que durou a operação, deve-se ter tido receio de que estava para ali um Vietname. 

O que verdadeiramente aconteceu ainda pode ser contado por muito boa gente que seguramente não se revê nesta enxurrada de delírio que saiu do punho de Felícia Cabrita.

Um abraço do
Mário


A Operação Tridente: Quando o delírio se disfarça de objetividade na reportagem

Mário Beja Santos

A Revista Expresso comemorativa dos 20 anos do jornal foi um acontecimento editorial, ainda hoje é um documento de consulta. O número especial incluía uma reportagem de Felícia Cabrita sobre a Operação Tridente, profusamente ilustrada, imagens cedidas da operação propriamente dita e testemunhos do presente. 

Trinta anos depois, aquela que é considerada a operação de maior envergadura de toda a guerra colonial merecia um tratamento mais digno, menos hipóteses e presunções e uma redação menos pesporrente e chocarreira. A jornalista achou que era conveniente dar um toque à Norman Mailer ou Hemingway, e dá-nos logo um parágrafo em tom épico: 

“Os soldados tinham abandonado a metrópole de alma limpa, sem saberem muito bem o que era a guerra, estavam até ufanos por se livrarem da açorda e da azeitona no pão e dos míseros testões da jorna. E trocaram sem regatear enxada e martelo por arma. Com as primeiras baixas, depressa se esqueceram que não era de bem matar e entregaram-se ao mister da guerra, ganharam expediente em cortar orelhas e dedos e a torturar gente indefesa. Ainda não tinham passado pela hora da verdade quando os segredos se revelaram, a valentia a impropério. 

Em 1964, mil e tal homens partiram para ocupar uma ilha que era já lenda. Levaram no bolso as suas santas, multiplicaram devoções, mas Deus da sua morada não olha para outros caminhos. Eles tornaram-se farrapos, durante dois meses e meio intérpretes de uma missão falhada. Os habitantes da ilha tenebrosa ficaram de pé até ao fim, muitos morreram, mas a morte o que é senão incerteza? Os que ficaram mantiveram-se insurretos, contentes com o mundo e as suas leis, entregaram-se à dança e à festa, fizeram galas de sangue que ofertaram ao Irã…”.

A repórter esqueceu-se de dizer que o governo de Lisboa estava muito incomodado com a propaganda que o PAIGC destilava em meios internacionais de que possuía território dentro da colónia, decretou aos comandos em Bissau a erradicação de tal presença, organizou-se operação, veio mesmo o Ministro da Defesa, Gomes de Araújo. 

Essa mesma propaganda do PAIGC irá fazer constar anos a fio que houve derrota das tropas portuguesas, que as populações afetas ao PAIGC e as suas milícias não arredaram pé, alimentaram o mito com o mais completo despudor. Acontece que a Operação Tridente está bem repertoriada, e até se inclui na documentação capturada uma carta de Nino Vieira a pedir apoio a outros camaradas da região Sul, quando o coronel Fernando Cavaleiro percorrer a ilha no fim da operação as populações e milícias tinham atravessado o canal, à cautela, e regressaram quando as tropas portuguesas ficaram circunscritas, no extremo da ilha, ao destacamento de Cachil. 

A importância do Como, avisadamente os investigadores têm-no dito, cedo desapareceu, e não só aprendeu quem não quis, o Como tem como significado o bate-e-foge, um dos cânones da guerrilha.

Mas isso não tinha importância para o tom megalómano da reportagem. Corriam rumores sobre os efetivos posicionados no Como: que era uma base central, que tinha abrigos antiaéreos, hospital, búnqueres, centenas de guerrilheiros, pura fantasia, está historicamente demonstrado que os efetivos do PAIGC ainda dispunham de escasso material, ainda não havia armamento antiaéreo, as minas surgirão pouco depois, a guerrilha ainda está num estado incipiente.

Procura-se dar o lado da guerrilha, a exploração a que Manuel Brandão sujeitava as populações: 

“Os agricultores entregavam arroz e os animais por tuta e meia, ou então recebiam géneros, trapos e aguardente de cana. No fim do ano estavam sempre a contas com a administração portuguesa. O comerciante adiantava os 150 escudos do imposto de cabeça, dinheiro que os indígenas pagavam depois a triplicar ou a trabalhar de borla nas suas plantações. Poucos se atreviam a atropelar as leis de Brandão. Se alguém era apanhado a negociar em Catió, esperava-o o tanque coberto de óleo de palma até ao pescoço, muitos escorregavam na gordura espessa e morriam”

E emerge o lendário Nino, as peripécias da sua fuga, a sua capacidade de subversão chegou ao Como, Brandão foi escorraçado e as lojas saqueadas. No Como, quando se inicia a Operação Tridente estarão escassas duas dezenas de guerrilheiros, há oito armas e quatro granadas, Pansau Ná Isna ausentara-se do Como na véspera da Operação Tridente. E começa o desembarque, precedido de bombardeamento aéreo. 

“O tenente-coronel Fernando Cavaleiro tinha como missão isolar Como das restantes ilhas, para cortar o abastecimento da guerrilha, conquistar a população e garantir que se instalasse posteriormente a autoridade civil”

Adivinha-se um terreno áspero, a ilha tem uma superfície de 210 quilómetros quadrados, mais de metade zona de tarrafe. Há desembarques em paz e outros debaixo de tiroteio. E novamente a jornalista se socorre do tom apocalítico: 

“O médico sente o desespero dos soldados. Havia quem metesse um pé ou um braço fora do abrigo para ser alvejado, e mesmo quem descarregasse a arma no corpo. Outros inventavam doenças e muitos enlouqueciam. Ele estava à beira do esgotamento e pedia ao comandante para o substituir”

Mais adiante, a jornalista pretende dar-nos um quadro de como nasce um herói, o brutamontes irado: 

“Na Guiné, quando viu os primeiros mortos e apanhou um estilhaço no olho, depressa se tornou um selvagem. Uma vez limpo o sarampo a meia dúzia de mulheres, fazia coleção de orelhas, outra vez apeteceu-lhe violar uma velha. Antes desta operação era homem para cortar cabeças se tivesse tido oportunidade, mas depressa da experiência do Como confessa que perdeu a afoiteza. Naquele dia, cercado por todos os lados, só pensava em fugir, esconder-se, escapar ao inferno”.

Os guerrilheiros também não passam de gente desalmada, aos olhos da repórter, têm acesso aos corpos de soldados portugueses, roubam fardas e um anel e até o retrato de uma namorada. A guerrilha resiste, as mulheres têm comportamento heroico, avisam os homens de que dali não saem. O contingente português debilita-se: 

“Passados quinze dias, cavalaria, fuzileiros e paraquedistas estavam reduzidos a 60% dos efetivos. 68 homens tinham sido evacuados e os outros pareciam penitentes bêbados atacados por todas as doenças tropicais”

A repórter fala do fuzileiro José Marques que viu gente morrer ali ao pé, viu mesmo um camarada dar um tiro no pé para se ir embora, tal era o desatino que até pensou em matar o seu comandante, Alpoim Calvão, e confessa à jornalista que a partir desta operação nunca mais bateu bem da cabeça.

Momentos há em que a jornalista aceita a lucidez de descrever a guerra de guerrilhas, tal qual ela é, mas a tentação miserabilista e apocalítica é mais forte, e bumba, temos agora a apatia ou o paroxismo: 

“Em emboscadas viu soldados a cavar buracos para se esconderem. Enfiavam o rosto na terra e disparavam ao acaso. Um alferes que estava meio pirado fazia malabarismos com três laranjas debaixo de fogo. E Jaime Segura, que não tinha queda para batalhas sem glória, aborreceu-se de morte. Infelizmente esqueceu-se de levar os dados de póquer, por isso entretinha-se no rio a pescar com granadas. Enquanto o Bretão, tinha ido para a Guiné por ter contas a ajustar com a PIDE não se lavava num gesto de contestação. Estava tão encardido que passava as tardes a fazer o jogo do galo no peito com um pau de fósforo”.

No meio de todas estas hecatombes, são avançados alguns dados. A operação ficará na História como a batalha mais longa e cara do Exército Português. 

“Gastaram 356 bombas, 719 foguetes, 40944 balas. O vinho correu com fartura, o álcool foi o refrigério para o medo. Os cofres do Estado sofreram um arrombo de 290 mil contos. Em meados de março, passados quase dois meses e meio de terem desembarcado, as chefias militares começam a pressionar Fernando Cavaleiro, que garantia o sucesso da operação”.

Os contingentes retiram a 20 de março. Para a repórter, a sentença da desgraça é inapelável: 

“As derrotas são osso duro de roer, partiam sem ocupar a ilha, sem conquistar a população e sem deixar a autoridade civil. Nove mortos e quarenta e cinco feridos graves era o saldo de uma batalha sem glória (…) Salazar também tirou as suas conclusões, e uns meses depois o governador da Guiné e o responsável militar eram substituídos. Mas, num ponto da ilha, encurralados entre o rio e a mata, ficava, durante dois anos, uma companhia a apodrecer”.

À distância de todos estes anos, interroga-se como foi possível o Expresso publicar esta mistela de dislates.

Atenção, mais tarde, Felícia Cabrita voltará ao Como acompanhada de Nino Vieira e voltaremos a esta mesma toada de loucura, medo e mortandade. Tudo isto para dizer que o melhor é ler a documentação sobre o que foi a Operação Tridente e perceber que não passou de uma escola de aprendizagem. E não vale a pena estar a incriminar militares ou a enxovalhá-los, a decisão da Operação Tridente partiu de Lisboa. 

Quando um dia os investigadores se decidirem a consultar os arquivos dos Ministérios do Ultramar e da Defesa seguramente que serão confrontados com uma revelação que todos teimam em iludir: as grandes decisões militares dos três teatros de operações tinham aval político. O regime não pode sair ileso das decisões que tomou.

Início da reportagem de Felícia Cabrita, título com mais equívoco não podia haver

Desembarque das tropas no início da Operação Tridente

Protagonistas da Operação Tridente, muitos anos depois

Protagonistas da Operação Tridente, do lado do PAIGC

Regresso da Operação Tridente

Às vezes, era possível comer em sossego na Operação Tridente

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Nota do editor

Último poste da série de 14 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21644: Notas de leitura (1329): "Madrinhas de guerra, A correspondência dos soldados portugueses durante a Guerra do Ultramar", de Marta Martins Silva, prefácio de Carlos de Matos Gomes; Edições Desassossego, 2020 (Mário Beja Santos)