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quarta-feira, 16 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6601: Elementos para a caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (6): Povoações sob controlo IN; Recursos; Clima e meteorologia; Dispositivo e actuação da guerrilha (Benjamim Durães / J. Armando F. Almeida / Luís Graça)



Guíné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > BART 2917 (1970/72) >  O RPG 2 , uma das temíveis armas usadas pela guerrilha no Sector... Parte do armamento apreendido, era usado depois pelos Pelotões de Milícia... Segundo o autor das fotos, o Benjamim Durães, Fur Mil Op Esp, Pel Rec Inf, "o guineense,  de óculos escuros,  é um soldado milícia,  de nome Demba Baldé,  que era filho do Régulo do Xitole, pertencia à Companhia de Milícias e foi adstrito ao Pel Rec da CCS; os militares brancos são todos do Pelotão de Sapadores da CCS; os africanos ao fundo são da população de Amedelai; o Capitão é o Passos Marques, da CCS [e membro da nossa Tabanca Grande].... As fotos foram tiradas em Amedelai, numa vistoria ao armamento"...

Fotos: © Benjamim Durães (2010). Direitos reservados


[Continuação da publicação de excertos do Cap II da História do BART 2917, Bambadinca, 1970/72 - Documento classificado como "reservado" - , segundo versão policopiada gentilmente cedida ao nosso blogue pelo ex-Fur Mil Trms Inf, José Armando Ferreira de Almeida, CCS/ BART 2917, Bambadinca, 1970/72, membro da nossa Tabanca Grande; cotejada igualmente com a versão, em suporte digital, corrigida e melhorada pelo Benjamim Durães; é um excerto desta última versão que se publica aqui hoje. Fixação / revisão de texto / bold a cores / título: L.G.] (*)



Fonte:  BART 2917. HU- Cap II, pp. 5 a 10A.
________________

Situação Geral

a) Terreno (...)
b) Aglomerados populacionais (...)


3) – POVOAÇÕES SOB O CONTROLO IN


- Os aglomerados populacionais que a seguir se indicam são os que,  existindo antes do início de subversão, se localizam na área sob controlo IN e são os de maior população, o número de habitantes que para cada um se indicam foi estimado com base em relatórios de notícias, relatórios de interrogatórios e RVIS.

- MADINA

-Localizada em (MAMBONCÓ 8G-1), estima-se possuir 1.500 habitantes

- CANCODEA BEAFADA

-Localizada em (XIME 1G-2) com uma população estimada em 500 habitantes

- CANCODEA BALANTA

-Localizada em (XIME 1F-3) com uma população estimada em 500 habitantes.

- MINA

-Localizada em (XIME 1I-6) com uma população estimada em 100 habitantes.

Há referências de ali se localizar o Comando do Sector 2.

- PONTA JOÃO DA SILVA

-Localizada em (FULACUNDA 8I-5) com uma população estimada em 1.000 habitantes.

- PONTA LUÍS DIAS

-Localizada em (FULACUNDA 8G-3) com uma população estimada em 1.000 habitantes.

- SATECUTA

-Localizada em (XIME 4E-1) com uma população estimada em 300 habitantes.

- MANGAI

-Localizada em (FULACUNDA 7G-8) com uma população estimada em 700 habitantes.

- BANIR

-Localizada em (MAMBONCÓ 8H-9) com uma população estimada em 400 habitantes.


c) - RECURSOS

- Os principais recursos económicos do SECTOR são:

- FLORESTAS

- Com o fornecimento de madeira (na área do XITOLE há grande quantidade de bissilon) e coconote.

- Antes do início do terrorismo a madeira era muito explorada, existindo várias serrações que, hoje em dia, com excepção da serração de BAMBADINCA, se encontram abandonadas. Presentemente apenas são exploradas as rachas de cibe.

- AGRICULTURA

- Esta é, de um modo geral, de subsistência (arroz, milho e funcho), com excepção de cana-de-açúcar e da mancara.

- DESTILARIAS

- Presentemente só existem duas destilarias de cana-de-açúcar no SECTOR DO BART, uma em BAMBADINCA e uma outra em PONTA BRANDÃO.

- SOLO

- Na área do SECTOR DO BART existem muitas bolanhas ricas, verificando-se no entanto que estas, com excepção das do ENXALÉ, NHABIJÕES e FINENTE, ou estão abandonadas (SAMBA SILATE, SÃO BELCHIOR, SALIQUINHÉ, etc.) ou são exploradas por populações sob controlo IN (todas as bolanhas da margem direita do RIO CORUBAL e margens do RIO MALAFO).


- CRIAÇÃO DE GADO

- Embora haja em certa quantidade gado bovino este no entanto, no SECTOR não pode ser considerado um recurso económico na medida em que não é explorado. É considerado sinónimo de riqueza, avaliando-se a riqueza da família pelo número de cabeças que possui. Somente em certas ocasiões especiais como por exemplo, “choros”, é que uma ou mais reses são abatidas para consumo.

- Existe no entanto outro tipo de gado, porcos, cabritos e galinhas que é explorado economicamente, sendo por conseguinte considerado como fonte de receita.





Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Destacamento da Ponte do Rio Udunduma > Uma manada de vacas, cambando o Rio Udunduma... Possivelmente pertencentes a uma notável fula da região (Amedalai, por exemplo, que era a tabanca mais perto)... Só com muita relutância os fulas vendiam cabeças de gado à tropa...´O gado era, tradicionalmente, um "sinal exterior de riqueza", um símbolo de "status" social...

Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados



d) – CONDIÇÕES CLIMÁTICAS E METEOROLÓGICAS

- A zona de acção do BART 2917, como todo a Província da GUINÉ, tem um clima quente e húmido característico das regiões tropicais em que apenas se assinalam duas estações, a “quente” ou das “chuvas”, que começa em meados de MAIO e se estende até meados de NOVEMBRO, e a estação a “seca” e “fresca”, durante o restante período do ano.

- Na época das chuvas a humidade atmosférica é bastante elevada e a temperatura média, à sombra, oscila entre 26 e 28 graus centígrados.

- A pluviosidade é superior em média a 2.000 m/m, sendo os meses de JULHO e AGOSTO, os que registam maior número de dias de chuva. A pluviosidade na ZONA DE ACÇÃO é menor do que no litoral e sul da Província.

- As temperaturas médias da época seca não vão além de 24 graus centígrados sendo meses mais frescos os de DEZEMBRO e JANEIRO.

- No que respeita a temperaturas, podemos dividir o ano nos seguintes quatros períodos:

- PERÍODO FRESCO

- No qual se verificam amplitudes térmicas elevadas e que abrange os meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro.

- PRIMEIRO PERÍODO QUENTE

- Durante os meses de Março, Abril e Maio, em que as variações térmicas são ainda de certo vulto especialmente nos meses de Março e Abril.

- PERÍODO DAS CHUVAS

- Que se estende pelos meses de Junho, Julho, Agosto e Setembro.

- SEGUNDO PERÍODO QUENTE

- Abrange os meses de Outubro, Abril e Novembro.

- A época das chuvas faz-se anunciar pelos chamados “TORNADOS”, característicos pela grande velocidade do vento enorme turbulência, que quase sempre provocam estragos avultados descobrido edifícios, inutilizando instalações eléctricas, derrubando antenas de rádio, etc..

- Nos meses “frios” do ano – Dezembro e Janeiro – as cerradas neblinas matinais prolongam-se normalmente até à 10,00 horas.

2 - INIMIGO

a) – FORMAS DE ACTUAÇÃO

- O IN tem actuado ofensivamente sobre as NT minando os itinerários e flagelando os aquartelamentos, tabancas em A/D (Auto Defesa) e meios navais que se deslocam no RIO GEBA nas áreas de PONTA VARELA e MATO DE CÃO. De um modo geral todas as flagelações têm demorado cerca de 5 minutos, são feitas a horas que não permitem, ou dificultam a intervenção das F. A., e nelas o IN tem demonstrado fraca agressividade.

Pelo contrário, tem-se mostrado fortemente aguerrido quando as NT penetram nos seus redutos, quer emboscando-as nos seus acessos, quer armadilhando-os, quer flagelando intensamente as NT.

- Admite-se que tenha uma rede de informadores no seio da população por nós controlada.

- Não há indícios que o IN tenha feito colectas entre a população que controlamos embora seja de admitir a sua “colaboração” nos “choros” de familiares realizados nas zonas sob controlo IN.

b) - ORGANIZAÇÃO

- Parte do Sector L-1, com excepção do Regulado do ENXALÉ e da parte Oeste do Regulado do CUOR, corresponde na divisão territorial do IN ao Sector 02, também conhecido por região do XITOLE (hoje incluída na Frente XITOLE/BAFATÁ) e cujo comando está localizado na área de MINA.

Nesta região o IN mantém uma estrutura político-administrativa organizada, numa vasta área correspondente aos Regulados do XIME e BISSARI, a partir donde irradia a sua actividade de guerrilha que se caracteriza por ataques e flagelações aos aquartelamentos e destacamentos das NT, às tabancas em A/D, e aos meios navais no RIO GEBA “estreito”, emboscadas e colocação de engenhos explosivos nos itinerários.

- A Zona do Sector L-1 que engloba o Regulado do ENXALÉ e a parte Oeste do Regulado do CUOR, está incluída na Frente MORÉS-NHACRA.

Nesta zona a actividade IN está principalmente orientada para as áreas fora dos limites do Batalhão, embora ultimamente se tivesse manifestado sobre o CUOR, nomeadamente em MATO DE CÃO.

c) – EIXOS OU LIMITES DE INFILTRAÇÃO

- Podem-se considerar os seguintes:

1) – Do exterior para o interior do SECTOR;

- Corredor de GUILEGE / CANTURÉ / FIOFIOLI

- Corredor de GUILEGE / FARENÁ BALANTA / FIOFIOLI

- Corredor de GUILEGÉ / UANÁ PORTO / PONTA LUÍS DIAS

- Corredor de MANTÉM / QUEBÁ JILÃ / MANSONA / MANSOMINE

- Corredor de CHÃO NALU / GANTURÉ / RIO MALAFO / CHEREL / BUMAL / LAMEL ou SITATÓ

- Corredor de QUIRAFO/DUÁ/CULOBO/GALO e CORUBAL/MINA

2) – No interior do SECTOR

- Corredor de MINA / GÃ JÚLIO / GALO CORUBAL / ZONA DO XITOLE

- Corredor de MINA / GÃ JÚLIO / BIRO / MANSAMBO

- Corredor de MINA / GONEGE / MANSAMBO

- Corredor de BURUNTONI / GONEGE / BOLÓ / MORICANHE

- Corredor de BURUNTONI / CHICAMIEL / DEMBA TACÓ / BADORA

- Corredor de BURUNTONI / CHICAMIEL / TAIBATÁ / BADORA

- Corredor de BURUNTONI / CHACALI / AMEDALAI / BAMBADINCA

- Corredor de BURUNTONI / MADINA COLHIDO / XIME

- Corredor de BURUNTONI / CHACALI / AMEDALAI / BAMBADINCA

- Corredor de BURUNTONI / CHACALI / PONTA COLI

- Corredor de BURUNTONI / GUNDAGUÊ BEAFADA / PONTA VARELA

- Corredor de PONTA JOÃO DA SILVA / PONTA DO INGLÊS / POINDON

- Corredor de MADINA / CABUCA / PONTA LUÍS / ENXALÉ

- Corredor de MADINA / SINCHÃ CORUBAL / MATO CÃO / FINETE

- Corredor de BANIR / QUEBÁ JILÃ / SANCORLÃ / MISSIRÁ / FINETE

- Corredor de MADINA / IARICUNDA / SÃO BELCHIOR.

d) – DISPOSITIVO DO IN

- Nas zonas que o IN efectivamente controla no SECTOR, implantou uma organização e hierarquias paralelas Administrativa-Militar cuja estrutura em pormenor é ainda mal conhecida.

Na primeira, definida pelo RIO CORUBAL, entre a foz do RIO BURUNTONI e RIO PULON, por uma linha imaginária que une a foz deste último à nascente do RIO BURUNTONI e por este rio até à sua foz, está referenciada a existência do Comissário Político PEDRO LANDIM que com as FARL  controla toda a população civil, sendo JORGE JOÃO BICO aparentemente o Comandante Militar da mesma Zona, esta está, dentro da organização IN, incluída na FRENTE BAFATÁ-XITOLE, SECTOR 02, e dispõe dos seguintes efectivos:

- Um Grupo, Comandado por MAMADU TURÉ na área de TUBACUTA.

- Um Grupo, Comandado por INCUDE na área de GÃ JÚLIO.

- Um Grupo, Comandado por MÁRIO MENDES  (**) na área de SATECUTA.

- Estes quatros Grupos permutam entre sí com frequência as áreas em que actuam.

- Dispõe o IN ainda na zona, em permanência, de um Grupo Especial de Bazookas comandado por VITORINO COLUNA COSTA, normalmente estacionado na área de GÃ JOÃO e de um Grupo de Sapadores comandado por MÁRIO NANCASSA.

Frequentemente o IN balanceia os meios da Frente BAFATÁ-XITOLE com os da Frente do QUINARA pelo que na situação de esforço sobre a Frente BAFATÁ-XITOLE (incluí toda a zona do Sector L-1 a sul do RIO GEBA) os efectivos indicados podem ser substancialmente reforçados.


- Na segunda área que compreende a área do REGULADO DO CUOR a norte dos RIO QUEBÁ JILÃ e RIO PASSA, e a área do REGULADO DO ENXALÉ para Oeste da linha ENXALÉ-MADINA, está referenciado o Comissário Politico LOURENÇO, e o Comandante Militar OSVALDO MÁXIMO VIEIRA que aparentemente, como membro do BUREAU do Partido, exerce o controlo de cúpula, em ambas as hierarquias Militar e Civil.Esta área está dentro da Frente MORÉS-NHACRA em que se situa toda a Zona do SECTOR L-1 a Norte do RIO GEBA e além dos diversos elementos da FAL dispõe em permanência dos seguintes núcleos das FARP:

- Um Bi-Grupo na área de MADINA-ENXALÉ comandada por IMBADE.

- Um Grupo destinado a atacar barcos e possivelmente localizado no CUOR.

- Dois Morteiros da Bateria de BESSUNHA.

- Um Grupo de Sapadores comandados pelo ARMANDO.

- Ainda nesta Frente, mas fora da Zona de Acção do Batalhão e com possibilidade de nele intervir, dentro do normal balanceamento de efectivos que o IN utiliza, estão referenciados os seguintes Grupos:

- Um Bi-Grupo comandado por FAI TURÉ.

- Um Bi-Grupo comandado por CAMARÁ.

- Um Bi-Grupo comandado por INFANDA NAMENA.

- Uma Bateria não identificada.

- Um Grupo de Foguetões comandado por AGNELO DANTAS.

- Todos estes efectivos pertencem ao C.E. 199 C/70 das FARP.

e) – POSSIBILIDADES

- O IN tem as seguintes possibilidades no SECTOR L-1:

1 – Reforçar os efectivos existentes na região XIME / BISSARI com unidades vindas da frente Sul especialmente da região do QUINARA.

2 – Reforçar os efectivos existentes na área MADINA / BELEL por unidades da região de SARA/SARAUOL região a que se encontra intimamente ligada operacional e logisticamente.

3 – Prover às necessidades de alimentação com os produtos cultivados pela população, nas bolanhas situadas na área que domina.

4 – Obter reabastecimentos

5 – Obter informações.

6 – Recrutamento de pessoal destinados aos Grupos Armados.

7 – Executar acções de terrorismo (sabotagem e destruições).

8 – Manter as acções de fogo sobre os aquartelamento das NT sobre os quais vem actuando do antecedente e orientar a sua acção a novas povoações.

9 – Utilizar novas linhas de infiltração que:

- Do BOÉ conduzam aos Regulados do XIME e BADORA através da faixa Norte do Regulado do CORUBAL.

- Da área do XIME/BISSARI conduzam à Estrada BAMBADINCA/BAFATÁ.

10 – Efectuar acções de barragem à navegação dos RIO CORUBAL e RIO GEBA em especial a W do XIME, na área de PONTA VARELA.

11 – Resistir nos seus redutos quando atacados pelas NT.

12 – Armadilhar e emboscar os acessos aos seus acampamentos.

13 – Colocar engenhos explosivos nos itinerários mais frequentemente utilizados pelas NT.

f) – AGRESSIVIDADE
- É aguerrido quando atacado nos seus redutos e é apoiado por grande potência de fogo. No entanto as suas acções ofensivas não se caracterizam por uma grande agressividade, sendo em geral pouco duradoiras.


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Notas de L.G:

(*) Vd. postes anteriores da série:

17 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6413: Elementos para a caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (1): Populações controladas pelas NT e pelo PAIGC, ao tempo do BART 2917 (1970/72) (José Armando F. de Almeida / Luís Graça)


20 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6437: Elementos para a caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (2): O Fula, a sua lealdade,o seu preço (José Armando F. de Almeida / Luís Graça)

30 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6499: Elementos para a caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (3): Quando Mandinga já não quer dizer turra, mas quando ainda não se esquecem os desmandos feitos pelas NT no início da guerra (J Armando F. Almeida / Luís Graça)

2 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6519: Elementos para a caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (4): Os balantas; as diversas individualidades (J. Armando F. Almeida / Luís Graça)

8 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6557: Elementos para a caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (5): A zona de acção do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e os seus principais aglomerados populacionais (Benjamim Durães / J. Armando F. Almeida / Luíos Graça)

(**)  Segundo informação do António Duarte (da 3ª terceira geração de quadros metropolitanos da CCAÇ 12, e membro da nossa Tabanca Grande), o "Mário Mendes, comandante de bi-grupo na zona do Xime, foi morto numa acção da CCaç 12 no final de 1972: numa deslocação feita para lá de Madina Colhido, foi abatido pelo apontador de HK21 do 4º pelotão".

Comentário do poste de 24 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5878: PAIGC: um curioso croquis do Sector 2, área do Xime, desenhado e legendado por Amílcar Cabral (c. 1968) (Luís Graça)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6374: Recortes de imprensa (25): Há 40 anos o Papa Paulo VI recebia em audiência privada, em 1 de Julho de 1970, Amílcar Cabral, Agostinho Neto e Marcelino dos Santos (Luís Graça)






Título de caixa alta do Diário de Notícias, de 5/7/1970, fazendo-se eco da indignação da "Nação Portuguesa"... Alguém se lembra das repercussões deste caso no TO da Guiné ? 



Com cinco dias de atraso, o Diário de Notícias, jornal afecto ao regime de então, e que tinha à sua frente o inefável  Dr. Augusto de Castro, dava a notícia, que caiu que nem uma bomba nos restritos círculos políticos da época, segundo a qual o Papa Paulo VI tinha recebido, no Vaticano, em audiência, os três chefes dos principais movimentos que combatiam Portugal em África, mais exactamente em Angola, Moçambique e Guiné, respectivamente Agostinho Neto (MPLA), Marcelino dos Santos (FRELIMO) e Amílcar Cabral (PAICG)…

Tratou-se de um audiência “privada” (de que de resto não encontrei registo fotográfico: o Vaticano terá procurado ser cauteloso e discreto), ocorrida no dia 1 de Julho de 1970. Os três dirigentes nacionalistas encontravam-se em Roma, por ocasião da "Conferência Internacional de Solidariedade com os Povos das Colónias Portuguesas”…

Como seria de esperar, o Governo Português reagiu como tinha que reagir:  ou seja, de maneira consequente com a sua política do "orgulhosamente sós", mostrando-se indignado e chamando a Lisboa o seu representante na Santa Sé. Em vão: a diplomacia do Vaticano não deu satisfação às exigências de reparação (moral) à Nação fidelíssima… Os tempos eram outros e, senão os novos ventos, mas pelo menos a nova brisa que soprava do Concílio Vaticano II, não desapareceu com a morte  do popularíssimo Papa João XXIII.

Já em 1964, a deslocação de Paulo VI, a Bombaím, na Índia, tinha causado mal estar entre os fiéis do regime de Salazar. Em 1967, Paulo vem discretamente a Fátima como peregrino. Em 29 de Outubro desse ano redige a Carta Apostólica Africae Terrarum (Terras de África). Entre diversos públicos-alvo, há uma mensagem para os novos dirigentes políticos, saídos das independências, cujo teor também não deve ter agradado aos sectores mais intransigentes do regime em matéria de política ultramarina:

(…) A Voi, Governanti d’Africa, la grave responsabilità di operare per il consolidamento delle istituzioni sorte con l’indipendenza dei vostri Paesi. A voi compete il rinnovare e l’interpretare, in senso moderno, gli antichi valori della tradizione africana. Da voi dipende il formulare, il perfezionare e l’eseguire la legislazione sulla quale si ordina la vita presente dell’Africa. In ciò Noi siamo sicuri che vi guiderà sempre il desiderio del vero bene del popolo. Siate cercatori della pace, pronti al dialogo e ai negoziati più che alla rottura e alla violenza, memori della tradizione sociale più autentica dell’antica Africa, che era quella di trattare. (…)

Mas em 1970 a diplomacia portuguesa terá sido apanhada de surpresa. A audiência papal (mesmo privada...) a três inimigos declarados do “colonialismo português”,  deixou o Governo de Marcelo Caetano em estado de choque. Não eram apenas inimigos políticos: eram homens que chefiavam movimentos de luta armada...As repercussões internacionais deste acontecimento só poderiam ser negativas. Internamente, legitimavam e encorajavam ainda mais as vozes da oposição democrática (e não só) que reclamavam soluções políticas para o conflito ultramarino.

A imprensa portuguesa “situacionista” amplificou os ecos dessa indignação. O título de caixa alta do Diário de Notícias, de 5/7/1970,  era sugestivo. O Papa é acusado de “receber terroristas responsáveis pela chacina de milhares de cristãos” (sic).

Nessa altura eu estava em comissão de serviço na Guiné... Já não me recordo exactamente se em  Julho de 1970 estava de férias, na Metrópole, ou se estava em Bambadinca… Presumo que a notícia tenha caído mal no CTIG, na própria entourage de Spínola, empenhado no sucesso da política “Para uma Guiné Melhor”.

Provavelmente, nesta altura ainda havia alguns ilusões sobre a liderança política de Marcelo Caetano … Deopis da fraude eleitoral de Outubro de 1969,  poucos teriam ilusões sobre a "primavera política" marcelista... Entre as revistas e jornais que eu recebia (entre eles, o Comércio do Funchal e o Notícias da Amadora…), tenho a ideia de que o assunto (a audiência papal aos três dirigentes nacionalistas) terá passado, com discrição, no “exame prévio” (nova designação da censura)… Mas julgo que a notícia, em si,  não teve grandes repercussões no meio militar, quer entre os oficiais do quadro quer entre os milicianos… Em contrapartida, este sucesso diplomático foi habilmente explorado por Amílcar Cabral e pela propaganda do PAIGC.

Diga-se, en passant, que qualquer coincidência entre a edição deste poste e a visita,  de Estado,  iniciada hoje (e que vai até ao dia 14), pelo Papa Bento XVI ao nosso país, é mera coincidência. Por razões estatutárias, não devemos (nem podemos) discutir aqui questões da actualidade política dos nossos dois países, Portugal e a Guiné.  Neste caso, trata-se apenas de uma efeméride, relevante para a historiografia da guerra colonial. (*)  (LG)

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Nota de L.G.:


sábado, 8 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6345: Em busca de ... (130): Três militares, três velhos amigos do meu tempo de infância, em Bissau: os gémeos Mário e Chico e o futebolista Lino (Nelson Herbert, filho de Armando Duarte Lopes, atleta da UDIB)

 1. Mensagem do nosso amigo, nascido na Guiné, e hoje residente nos EUA, jornalista da VOA (Voice of America), Nelson Herbert, ou Nelson Lopes, filho do futebolista, de origem caboverdiana, Armando Duarte Lopes, que jugou no UDIB - União Desportiva e Internaconal de Bissau e depois foi funcionário da administração dos portos da Guiné, em Bissau  (tendo estado destacado dois anos  em Bambadinca por volta de 1969 e depois em  1971/72) (*)

Data: 6 de Maio de 2010 14:45
Assunto: Perdidos e Chados !

Já que nisso de "perdidos e achados", no bom sentido é claro, o blogue tem sido profícuo, a vez desta é minha! E o propósito é o de tentar localizar três velhos amigos, referências da minha infância na Guiné.

Quanto aos dois primeiros, ignoro pois a respectiva graduação na altura. São gémeos de nome de baptismo Mário e Chico (Francisco, obviamente). Foram meus vizinhos na antiga Rua Engenheiro Sá Carneiro, a mesma da messe dos sargentos da Força Aérea e do famoso Cabaret ou Boite Chez Toi... Também a rua dos Serviços Metereológicos !

Desconheço se terão estado numa outra "Frente" [de guerra], conheci-os pois em Bissau e ambos habitavam um quarto alugado numa residência mesmo em frente da Messe dos Sargentos.

De tal forma afectos aos vizinhos e à minha familia em particular, ainda me recordo de, nos anos 70 (72/73), a familia toda, na altura de férias em Lisboa,  ter sido presenteada com uma visita dos irmãos gémeos (na altura já com a comissão militar concluída na Guiné), acompanhados pela respectiva mãe...que no fundo quis conhecer a família africana que tanto afecto tinha dedicado aos filhos na Guiné. Um gesto simpático de gente nobre ! 

Foi pois a última vez que os vi... tinha eu uns 10/11 anos!  E,  como devem calcular volvidos todos esses anos, nunca é demais reaver o requinte de amizades do género... Para que no mínimo se fique a saber ... que nem tudo o tempo levou !

Mas a propósito deste par de gémeos e relativamente ao que vou apelidar aqui de "critérios de chamada à tropa",  uma dúvida andou por todos estes anos "apipocando-me" a mente. Tal qual a experiência do Private Ryan [, referência ao filme Saving Private Ryan, de Spielberg, 1998] como é que funcionavam as coisas, quando tal "dever" se via confrontado com casos de irmãos, (neste caso, por sinal gémeos),  em idade de incorporação militar ? "Apanhavam" todos pela mesma bitola, como foi o caso ?


Guiné-Bissau > Bissau > s/d > O emblemático edifício da sede da UDIB - União Desportiva Internacional de Bissau onde jogou à bola o pai do Nelson Herbert, Armando Duarte Lopes.

Imagem: Cortesia de Nelson Herbert (2009)

A terceira figura de referência incontornável da minha infância foi,  por sinal,  um dos meus ídolos da arte de jogar a bola. Militar e futebolista da UDIB, destacou-se na arte da marcação de cantos directos... ao golo ! Era quase que infalível, quando Lino (assim o ficámos a conhecer) era chamado a bater tais lances de bola parada, como soi hoje dizer-se na gíria desportiva !
Meu vizinho nos anos 70, nos tempos livres sempre arranjava tempo para organizar e orientar o time da meninada do meu bairro. Terminada a comissão militar, ainda chegou a ser futebolista profissional em Portugal. Integrou, com Lemos (ex-futebolista do Futebol Clube do Porto, então em comissão militar na Guiné) a celebre selecção da Provincia da Guiné, na altura reforçada por militares da então "Metrópole" que se bateu, sem complexos com a então equipa principal do Futebol Clube de Porto, do peruano Teófilo Cubilas, Rudolfo e Rolando !

Estarão porventura estas três personalidades navegando pelo blogue ou porventura alguém que saiba do paradeiro dos mesmos ?

Mantenhas

Nelson Herbert
USA
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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 15 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5109: Meu pai, meu velho, meu camarada (18): Do Mindelo a... Bambadinca, com futebol pelo meio (Nelson Herbert / Luís Graça)

(...) 1- O meu velho entrou para a tropa a 15 de Agosto de 1943. Fez a recruta e o treino militar em Chã de Alecrim [, a nordeste da cidade do Mindelo, Ilha de S. Vicente, Cabo Verde].,

Depois do juramento da bandeira (será esse o termo ?) é transferido para Lazareto e São Pedro [, na parte oeste, sudoeste da ilha].

Lembra-se perfeitamente do corpo expedicionário vindo da então Metrópole. Termina o serviço militar em Janeiro de 1945. Frequenta , como vários outros nativos crioulos, o Curso de Sargentos Milicianos, graduação a que entretanto dificilmente os nativos chegavam...

Participou de forma rotineira nos tais exercicios físicos da tropa, na Praia da Matiota ... (que melhor lugar para um exercício matinal!). Já naquela altura era futebolista do Amarante Futebol Clube, um dos históricos clubes de Mindelo. Ainda se recorda, e bem, da argumentação semanal para conseguir a devida licença da tropa, para os treinos e jogos do fim de semana...

Alias, é pois o futebol que o acaba por levar à então Guiné Portuguesa, para jogar na UDIB - União Desportiva e Internaconal de Bissau.

2- Sobre a passagem dele, por Bambadinca... Mandatado pela JAPG [, Junta Autónoma dos Portos da Guiné,], foi ele quem implanta e organiza a administração local (serviço de escrituração -seré esse o termo) do porto local. Finda essa fase de estruturação da funcionalidade do porto local, é chamado à sede (Porto de Bissau) e em substituição é despachado um outro colega.

Lembra-se do batelão Poana , de umas 100 toneladas, e que, sob escolta da tropa, fazia o trajecto Bambadinca-Bissau e vice-versa com carga militar e civil (esta último sobretudo gado para os matadouros em Bissau). E, era segundo ele, na gestão "da hora e da vez de cada um " na utilização da embarcação, que surgiam os inevitáveis "atritos" com a tropa .

Durante esse período (uns dois anos passados em Bambadinca entre 1969 e 1971/72 ) nós, os filhos (seis), por questões de segurança, tivemos que nos manter em Bissau. Lembro-me entretanto da nossa mãe, tê-lo visitado uma ou duas vezes em Bambadinca e de lá ter regressado, de avião, um dia após um ataque da guerrilha! [, em 28 de Maio de 1969]. (...)


(**) Vd. último poste da série: 2 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6293: Em busca de... (129): Valente de Sousa, ex-Fur Mil da 3.ª Equipa do Grupo Comandos "Os Centuriões" (Luís Rainha)

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6335: O Spínola que eu conheci (19): "Fiquei francamente mal impressionado com a visita à Companhia sediada em Mansambo" (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)



Guiné > Região Leste > Mansambo > CART 2339 (1968/69), Os Viriatos > 1969 > O Humberto Reis, Fur Mil Op Esp, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71),junto ao monumento aos mortos da CART 2339   pertencente ao BCAÇ 2852 (1968/1970), e que foram os construtores de Mansambo.  Em Novembro de 1970, aquando da visita de inspecção do Gen Spínola, a subunidade de quadrícula era a CART 2714, pertencente ao BART 2917 (Bambadinca, 1970/72),  reforçada com um 1 Esq do Pel Mort 2106, e com menos um pelotão (que foi reforçar o Xime).

Foto: © Humberto Reis (2005). Direitos reservados.









Guiné > Região Leste > Mansambo > CART 2339 (1968/69), Os Viriatos> Fotos Falantes II > S/ legenda > O nosso general adorava andar de helicóptero... Mas possivelmente não nunca terá ido numa simples coluna auto,como esta, na Estrada (?)  Bambadinca- Mansambo - Xitole, na época das chuvas...  O inferno, na terra... 


Fotos: © Torcato Mendonça  (2006). Direitos reservados.


Continuação da publicação do  Despacho do Com-Chefe, de 7/1/1971,  relativo à visita de inspecção ao BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), um documento de 12 páginas (*)


5. Visita a Mansambo em 18Nov70 

- Fiquei francamente mal impressionado com a visita à Companhia sediada em
Mansambo.

Foram notadas as seguintes anomalias:

-O Alferes Comandante interno da Companhia desconhecia em absoluto o plano de defesa, a actuação do IN na área e a própria situação de alguns postos de combate.

- As casernas abrigos apresentam-se totalmente inoperacionais; não há postos de combate nem tão pouco valas.

-As metralhadoras estão mal instaladas e em posições que não lhe permitem tirar rendimento de tiro.

- As bazookas e os morteiros estavam igualmente mal instalados, não se podendo de forma alguma extrair deles rendimento aceitável.

- O plano de fogos de morteiro está deficientemente elaborado. No campo da execução de tiro a ligação telefónica PC/abrigos apresenta-se totalmente inoperante; no interrogatório feito à guarnição depreendeu-se que em caso de ataque o tiro era feito “a olho”, dado que a guarnição não acreditava na eficácia do planeamento.

- Ainda no âmbito da defesa, verificou-se a construção dos balneários à frente dos abrigos, o que elimina totalmente a já precária utilização destes.

- Em resumo: a defesa do aquartelamento está estruturalmente errada na concepção e apresenta-se inoperante na execução.

-No âmbito das instalações do pessoal, verificou-se a existência duma sala de oficiais bem instalada e com requintes de decoração, a contrastar flagrantemente com a acomodação dos soldados. Foi ordenada a imediata resolução deste problema.

Neste particular o comportamento do comando da Companhia revela-se francamente negativo, tanto mais que foi chamada a atenção de todos os Comandos para a constante atenção que deve merecer o bem-estar dos soldados.

- No tocante à alimentação foram detectadas várias deficiências, nomeadamente batatas e frescos estragados (pp. 3/5).


6. Visita a Afiá e Candamã em 18Nov70 (**)

- Estas duas tabancas encontravam-se totalmente abandonadas.

Os respectivos comandantes da milícia responsáveis pela defesa não têm a mais pequena noção do que lhes compete fazer em caso de um ataque organizado. Estas tabancas encontram-se praticamente entregues a si próprias, guarnecidas por pessoal inapto e sem instrução.

- Na revista de armamento, as armas apresentavam-se em péssimas condições de limpeza, pelo que foram retiradas algumas como castigo.

- A rede de amare farpado encontra-se destruída e os campos de tiro tapados com capim.

- Não há abrigos para as populações e os antigos abrigos abatidos não foram reconstruídos.

- Os professores queixam-se da carência de cadernos, esferográficas, lápis, quadros pretos e cola.

-Os comandantes da milícia queixaram-se da falta de catanas para procederem à capinagem; quanto à limpeza de armamento queixaram-se que a Companhia não lhes fornecia óleo para o efeito.

- Em resumo: Estas duas tabancas encontram-se à mercê de ataques IN reunindo as melhores condições para serem totalmente aniquiladas.

Salienta-se que estas duas tabancas já estiveram devidamente instruídas e mentalizadas parta uma eficiente defesa. (p. 5)



[ Revisão / fixação de texto: L.G.]

Próximo ponto > 7. Visita a Xime em 12Dez70

Observ. de L.G.:

 É estranho que, na véspera da Op Mar Verde (invasão de Conacri, em 22 de Novembro de 1970), Spínola ande a fazer "visitas de rotina" em pleno interior do CTIG...

De qualquer modo, depois de 18 de Novembro (visita a Mansambo, Afiá e Candamã), há um interregno... O general volta a zona leste, para estas visitas de inspecção, no dia 12 de Dezembro de 1970 (Xime), Dembataco, Taibatá,  Enxalé, Nhabijões  (a 15), e por fim Amedalai, Finete e Missirá (a 19)... 

Spínola fará, no Xime, duras críticas ao Comando do BART 2917, por causa da violentíssima emboscada que tivemos (a CART 2715, a CAÇ 12 e outras forças) na Ponta do Inglês, causando-nos 6 mortos e 9 feridos graves (Op Abencerragem Candente).


____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 6 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6327: O Spínola que eu conheci (17): A visita de inspecção ao Xitole e às tabancas em autodefesa de Sinchã Madiu, Cambesse e Tangali em 16 de Novembro de 1970 (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)

(**) Tinham cerca de 200 habitantes cada uma. Candamã era a sede do regulado de Corubal.  Mansambo não tinha população, a não ser os guias e as suas famílias.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6326: O Spínola que eu conheci (16): A visita de inspecção ao BART 2917 e suas subunidades, Sector L1, Bambadinca, de 16 de Novembro a 19 de Dezembro de 1970 (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)




1. Pela mão do Benjamim Durães e do Jorge Cabral, chegou ao nosso blogue a cópia de um documento, de 12 páginas, dactilografadas, em papel timbrado do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, assinado pelo Comando-Chefe, António Sebastião Ribeiro de Spínola, General (local e data: Bissau, 07/01/71). Trata-se de um despacho, resultante da “visita de inspecção ao BART 2917” (sediado em Bambadinca, 1970/72). A cópia tem um número de arquivo 33.80, presumivelmente atribuído pelo Arquivo Histórico-Militar.

Tendo nós os três pertencido àquela unidade (caso do Benjamim Durães) ou a subunidades adidas (CCAÇ 12, no meu caso; Pel Caç Nat 63, no caso do Jorge Cabral, um dos "inspeccionados"), achámos que poderia  ter alguma “piada”, para nós e para muitos outros camaradas que estiveram em (ou passaram por) Bambadinca e outros lugares aqui citados, a divulgação desta peça, mas também com vista a  um melhor conhecimento não só das dificuldades enfrentadas pelo dispositivo militar no Sector L1 / Zona Leste, como da própria personalidade e estilo de liderança do Com-Chefe, suas preocupações e prioridades na época, etc. Como é sabido por quem esteve na Guiné nesta época, Spínola fazia gala de aparecer, de helicóptero,  em qualquer sítio ou a qualquer hora do dia, para desespero (e terror) dos comandantes de unidades e subunidades.

Vamos transcrever o documento, na íntegra, por partes, sem intenção de fazer qualquer juízo de valor sobre o objecto das críticas de Spínola que visitou o Sector L1, entre 16 de Novembro e 19 de Dezembro de 1970, e muito menos dos oficiais que comandavam o BART 2917 e as suas subunidades. No nosso blogue, evitamos a tentação da fulanização. Podemos acrescentar uma ou outra nota, apenas para esclarecimento ou informação complementar, entre parênteses rectos. Em todo o caso, convirá dizer que é possivelmente em resultado desta visita inspectiva que o Com-Chefe manda,  para comandar o BART 2917, em princípios de Fevereiro de 1971 (se não erro),  um homem da sua inteira confiança (apesar de ser de infantaria...), o Ten Cor João Polidoro Monteiro (e que tanto eu como o Jorge Cabral e o Paulo Santiago conhecemos bem, eles dois melhor do que eu, já que terminei a comissão mês e meio depois da sua chegada a Bambadinca).

O despacho é constituído por 15 pontos. Eis um sumário: 

Visita de inspecção ao BART 2917 [Comando: principais deficiências e anomalias]. Visita a Xitole em 16Nov1970. Visita às tabancas de Sinchã Madiu, Cambesse e Tangali em 16Nov1970. Visita a Mansambo em 18Nov1970. Visita a Afiá e Candamã em18Nov1970. Visita a Xime em 12Dez1970. Visita Dembataco em 15Dez1970. Visita a Taibatá em 15Dez1970. Visita a Amedalai em 19Dez1970. Visita Enxalé em 15Dez1970. Visita a Nhabijões em 15Dez1970. Visita a Finete em 19Dez1970. Visita a Missirá em 19Dez1970. Conclusão.




Folha de rosto do despacho. Imagem digitalizada: Luis Graça & Camaradas da Guiné (2010). 


Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné  > Despacho 

Assunto – Visita de inspecção ao BART 2917


1.Terminei a visita de inspecção ao BART 2917 nos termos da minha directiva nº 62/68 de 23Dez68.

Foram visitados respectivamente: (i) o Comando do Batalhão em Bambadinca; (ii) as companhias sediadas em Xitole, Mansambo e Xitole; (iii) os destacamentos de Ponte do Rio Pulom (Ponte dos Fulas), Enxalé e Missirá; (iv) o reordenamento de Nhabijões; (v) as tabancas em autodefesa de Sinchã Madiu, Cambesse, Tangali, Candamã, Afiá, Dembataco, Taibatá, Amedalai e Finete.


2. Na esfera do Comando do BART 2917, além das anomalias verificadas nas suas subunidades, foram notadas seguintes deficiências:

- No quadro da misão operacional atribuída ao BART verifica-se que o Comando do BART centralizou o planeamento operacional, não respeitando o que se encontra determinado e afectando sensivelmente o rendimento operacional das suas subunidades.

- Não tem sido exercida uma eficiente acção de reconhecimento nas áreas fulcrais ou suspeitas, com vista a concluir sobre a presença ou ausência do IN nas mesmas áreas e seu potencial.

- Os comandantes de Companhia não têm sído devidamente orientados nem assistidos, nem tão pouco controlada a sua acção. 

- É confrangedor verificar-se o total abandono em que se encontra a defesa das tabancas. Anota-se um total desinteresse sobre as “autodefesas” da maioria das tabancas do sector, em especial no que se refere a planos de defesa, instrução das milícias e da população.

- Os planos de defesa dos quartéis das Companhias encontram-se na generalidade mal elaborados.

- De uma maneira geral as subunidades do Batalhão descuraram a defesa dos núcleos populacionais onde estão sediadas, não cumprindo a missão que lhe está atribuída. 


[ Fixação / revisão de texto / título: L.G.]


Continua > Próximo ponto: Visita ao Xitole e as tabancas de Sinchã Madiu, Cambesse e Tangali em 16 de Novembro de 1970.

____________

Nota de L.G.:

(*) Último poste da série > 29 de Abril de 2010 >  Guiné 63/74 - P6277: O Spínola que eu conheci (15): Muito obrigado pelas palavras que proferiu em S. Domingos (Bernardino Parreira / Plácido Teixeira)


segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5241: Controvérsias (50): O estranho caso dos três desertores da base naval de Ganturé (Serafim Lobato)

Guiné > Região do Cacheu > Rio Cacheu > Ganturé-Bigene > "NRP Sagitário: 20-12-71. Feliz Natal".O fotógrafo estava lá... Uma foto muito feliz (uma das melhores fotos da guerra colonial!), do Cmdt A. Rodrigues da Costa, gentilmente disponibilizada pelo ex-1º Tenente RN Manuel Lema Santos, membro da nossa tertúlia e webmaster do sítio Reserva Naval.

Da base naval de Ganturé, desertaram 3 grumetes, em 1970. Um caso, que ainda está longe de estar esclarecido, segundo Serafim Lobato, antigo oficial da Reserva Naval que estava nessa altura em Ganturé, tal como o Comandante Calvão. Petite histoire, mas mesmo assim, um caso polémico nomeadamente em relação a dois dos desertores, Ilberto Alfaiate e António Pinto que, infelizmente, não nada poderão acrescentar, de viva voz, porque estão mortos. Resta-nos localizar o José Armindo Sentieiro e convencê-lo a ser ele a contar a sua própria história (*), que parece estar mal contada, tanto pelo nosso lado como pelo lado PAIGC.

Foto: © Manuel Lema Santos (2006) (com a devida vénia ao Cmdt A. Rodrigues da Costa). Direitos reservados.


1. Comentário de Serafim, ex-jornalista de O Público, hoje reformado, e antigo oficial da Reserva Naval, colocado ontem no Poste P2097 (*)

(i) Este comentário peca por tardio. Confesso não ser um visitante assíduo do blogue.

Chamo-me Serafim Lobato. Fui jornalista, hoje reformado, e, na altura da deserção dos grumetes era oficial fuzileiro especial e estava sedeado em Ganturé, tal como eles.

A sua deserção deu-se meia dúzia dias da minha chegada àquela base naval, situada nas margens do rio Cacheu, dois quilómetros para sul da sede do Comando Operacional 3 que, então, era comandado pelo capitão-tenente Alpoim Calvão,que veio a ser o comandante da citada operação[ Op Mar Verde, invasão de Conacri, 22 de Novembro de 1970].

Fui uma testemunha.

Já agora, mea culpa, eu apenas referi a existência de dois desertores e, nisso, Fernando Barata tem razão, eram três. A memória vai falhando.

Os desertores pertenciam a um pelotão independente de fuzileiros navais, que faziam as tarefas logísticas naquela base. Tinham sido punidos pelo comando do COP 3 e estavam a capinar o exterior da mesma, por delitos cometidos. Não eram meninos de coro que debitavam slogans contra a guerra.

Aliás, na ocasião, o comandante Calvão não ficou preocupado com a deserção.

O que me levou a arrebitar as orelhas quando soube que ele [,o Ilberto Alfaiate,] estava a ser "o informador" privilegiado no terreno da Op Mar Verde. Mais arrebitado de orelhas fiquei depois de saber que ele morrera atropelado.

A morte do segundo homem [, o António Pinto,] foi-me transmitida por um oficial participante na Op Mar Verde, próximo do Comandante Calvão, [oficial esse] que já morreu. Eu estava convencido de que era o Pinto, mas, também, poderia ser o Sentieiro.

(ii) Na realidade, fazendo, agora, uma pesquisa na Net sobre a Mar Verde, cujo 40º aniversário passa em 2010, surgiu-me esta informação-comentário no seu blogue de um senhor Fernando Barata (*), muito preocupado com a eventual "especulação" saída num artigo do jornal O Público.

O panfleto do PAIGC, que ele vos entregou, eu tive, na minha posse, um idêntico. Dias depois da deserção, umas largas dezenas foram deixadas em Ganturé. Acrescento uma informação: eu ouvi-os depois na rádio do movimento guerrilheiro [ a Rádio Libertação, em Conacri,] dissertando [sobre] a sua deserção.

(Respeito todos aqueles que desertaram da guerra, como respeito todos aqueles, que, sinceramente, a defenderam e o afirmam publicamente).

Só que a razão da deserção desses homens - que diziam estar contra a guerra, Alfaiate reafirmou-o na rádio PAIGC em Conacri - não se coadunam com o facto descrito pelo comandante Calvão no seu livro De Conakry ao MDLP, no qual assinala que o citado Alfaiate (um dos desertores), libertado pelo PAIGC e colocado em Paris, fora capturado, mas que "ao mesmo tempo se entregou voluntariamente às nossas autoridades, vindo de Conakry há três semanas" (p. 70).

Ora, eu sei por fontes que participaram na Op Mar Verde, que a bordo dos navios que zarparam para a capital guineense em 1970 não ia somente o Alfaiate, mas, pelo menos, um outro.

Eu pensei que era o Pinto, mas podia ter sido o Sentieiro.


(A notícia de que o Pinto apareceu ligado à LUAR e, posteriormente, à segurança do Vasco Gonçalves não me convence, à priori, do seu antifascismo. Os partidos de esquerda estavam cheios de infiltrados).

O Calvão, no livro, chama a Alfaiate "colaborador de valor". Ou seja, sabia coisas. E a Op Mar Verde foi um fracasso político e estratégico.

De recordar que as conversações das autoridades portuguesas com a "oposição" ao regime de Seku Turé, o principal visado da Mar Verde, ocorreram em Paris - onde estava o Alfaiate - e alguns cúmplices do golpe em Conacri eram colaboradores do antigo Presidente da República da Guiné. Ora, Alfaiate foi para Paris, com a conivência do PAIGC e, certamente, de Turé.

Foi o próprio Calvão (****), que me confirmou, em entrevista, que o Alfaite falecera "num desastre de automóvel", e ele [ou isso ?] acontecera antes do 25 de Abril.

(iii) Claro que isto hoje é História. Ora a História da Guerra Colonial não foi limpa, também foi uma guerra suja.

Serafim Lobato

[Revisão / fixação do texto / bold a cor / título: L.G.]

__________

Notas de L:G.:

(*) Vd. poste de 12 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2097: Em busca de... (11): José Armindo Sentieiro, ex-fuzileiro, o único sobrevivente dos três desertores de Ganturé (Fernando Barata)

(...) Por altura da passagem do 30.º aniversário da operação Mar Verde pela pena de [o jornalista] Serafim Lobato, apresentou o jornal Público um artigo evocando a efeméride. Por attachment estou a enviar-te um subtítulo desse mesmo trabalho (Duas estranhas deserções que acabaram em morte).[Recorde de imprensa, digitalizado, sem data: Novembro de 2000. Artigo assinado por S.L.]

Pedia-te que regressasses ao Poste n.º 1496 do nosso Blogue [**]. Nele está o panfleto que te fiz chegar e no qual o PAIGC refere terem-se entregue, não dois mas sim três fuzileiros, concretamente, António Pinto, José Sentieiro e Ilberto Alfaiate.

A notícia [do Serafim Lobato] procura especular quanto à morte estranha, já em Portugal, num acidente rodoviário, do Ilberto Alfaiate e igualmente refere que “o segundo desertor também faleceu em condições não muito claras”.

No Poste n.º 1560 [***], o João Tunes relata ter conhecimento que o António Pinto faleceu há quatro anos. Por outro lado o artigo do Público tem data de Novembro 2000. Assim sendo a sua morte teria ocorrido há mais de sete anos. Mas, não é essa discrepância que é importante. O importante seria ouvir o fuzileiro que resta: José Armindo Sentieiro, para que este esclarecesse em que condições se deu a deserção. Quem poderá ajudar a localizar o Sentieiro? (...)

(**) Vd poste de 4 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1496: PAIGC - Propaganda (2): Notícia da deserção de três fuzileiros navais (Fernando Barata)

(***) Vd. poste de 3 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1560: Questões politicamente (in)correctas (25): O ex-fuzileiro naval António Pinto, meu camarada desertor (João Tunes)


Vd. também poste de 12 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2098: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (14): Proposta retirada (João Tunes / João Bonifácio)


(****) Alpoim CALVÃO (e não Galvão) como aparece, erradamente, em vários postes do nosso blogue (e, aliás, noutros sítios, na Net), por vulgar erro de simpatia. As nossas desculpas ao próprio, que foi nosso camarada da Marinha, de seu nome completo Guilherme Almor de Alpoim Calvão. Tão rápido quanto possível iremos corrigir esse lamentável erro.

Vd. Wikipédia > Guilherme Almor de Alpoim Calvão

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P4954: Convívios (162): Convívio da CCAÇ 2797 – Cufar 1970/72, dia 4 de Outubro de 2009 em Figueiró dos Vinhos (Luís de Sousa)


1. Mensagem do nosso Camarada Luís de Sousa, ex-Sold Trms, CCAÇ 2797 (Cufar 1970-72), que nos enviou uma mensagem solicitando a divulgação da confraternização anual da sua companhia:

Camaradas e Amigos,

Aqui estou eu de novo, a pedir a publicação da data da Confraternização da minha CCAÇ 2797, que esteve em Cufar, 1970/72, e do Pelotão de Canhões S/Recuo 2199, que se vai realizar, este ano, a 4 de Outubro, em Figueiró dos Vinhos.

A organização está a cargo do ex-Furriel Almeida, que pode ser contactado pelo telefone 236 552 551, ou pelo telemóvel 919 500 144.

Com os nossos agradecimentos, aquele abraço amigo,
Luís de Sousa
Sold Trms da CCAÇ 2797
__________
Nota de MR:

Vd. último poste da série em:


terça-feira, 8 de setembro de 2009

Guiné 63/74 – P4919: Estórias do Luís Guerreiro (1): Luís Manuel Nunes Guerreiro: Emboscada na estrada Pirada - Bajocunda em 04JUL1970



1. O nosso Camarada Luís Guerreiro, Ex-Fur Mil CART 2410 e Pel Caç Nat 65 (Gadamael e Ganturé, 1968/70), enviou-nos a seguinte mensagem em 7 de Setembro de 2009:

Camaradas,

Depois de alguma ausência, achei hoje pertinente falar sobre o Pel Caç Nat 65, aonde cheguei em Jan/70 e permaneci até Agosto/70, com o fim da comissão.


O grupo era composto por cerca de 35 soldados nativos (valentes, destemidos e todos bem conhecidos na zona leste pelo inimigo) e 7 continentais.

Tem sido com interesse que tenho seguido as crónicas do José Manuel Dinis da CCaç 2679, pois os nossos caminhos cruzaram-se em Piche, Buruntuma e Bajocunda, aonde menciona diversas vezes o Pel 65.

Na sua chegada na coluna de Nova Lamego para Piche, e que teve como escolta o Pel. Fox e o Pel 65, aonde menciona que era comandado por um cromático alferes que deambulava de pistola à cinta, empunhando uma moca com um lenço amarelo, esclareço que o dito alferes se chamava Monteiro, e esse era o seu equipamento preferido mesmo em patrulhamentos.


Estivemos implicados no ataque de 27FEV1970 á base de Kandica, retaliando o ataque a Buruntuma, aonde o Pel 65 permaneceu cerca de um mês, antes de ser tranferido para Bajocunda.

Também menciona, o apontador do morteiro, que chegou a levar este cheio de vinho durante uma saida para o mato,é verdade, chama-se Ismael, era cabo, e um excelente operador do morteiro 60, embora por vezes se encontrasse sob os efeitos do álcool, era bom rapaz e excelente combatente.

Sobre a emboscada na estrada de Pirada-Bajocunda, foi no dia 4 de Julho 1970, e passo a descrevê-la:

Emboscada na estrada Gabú – Pirada - Bajocunda


Nesse dia o Pel 65, teve como missão fazer uma coluna a Nova Lamego, para buscar o correio.

Sendo eu o responsável pela coluna, por volta das 07h00, saímos de Bajocunda pela estrada de Pirada.

Chegados ao Gabú esperamos pelo avião e, quando o correio nos foi distribuido, fiz os preparativos para regressar.

Um alferes da CArt 2438, que tinha vindo no avião, perguntou-me se podia vir na nossa coluna, ao que eu repondi que sim, avisando-o que ia pela outra estrada que não passava em Pirada, ao que ele me retorquiu que, essa estrada, se encontrava em piores condições.

Disse-lhe então que se queria vir com o meu grupo, era por aquela estrada porque, por experiência própria, não gostava de passar duas vezes seguidas pelo mesmo sítio.


Mais informei que se encontrava ali uma coluna de civis, aonde se juntou um Grupo de Combate dos Comandos Africanos (G.C.A.), para seguir para Bajocunda, pela estrada de Pirada mas, mesmo assim, o alferes resolveu vir connosco.

Chegados a Bajocunda, e quando me encontrava a depositar os sacos do correio, ouviu-se um verdadeiro tiroteiro, para os lados da tabanca de Tabassi, na estrada de Pirada.

O capitão da CArt 2438, que se encontrava junto a mim, perguntou o que seria aquilo, indaguei se ele tinha homens fora, ao que me disse que não.

Pensei logo que seria uma emboscada à coluna de civis e ao G.C.A.

A emboscada estava, na realidade, montada para o meu Pel 65, porque devem ter sabido que nós tínhamos saido e, normalmente, regressavávamos pela mesma estrada.

Em Bajocunda não havia conhecimento da coluna de civis.
















Aspectos dos resultados da emboscada na estrada de Pirada-Bajocunda















Aspectos dos resultados da emboscada na estrada de Pirada-Bajocunda

Saí imediatamente com o meu grupo de combate e, à chegada junto da referida coluna, deparamos com uma viatura civil a arder com o corpo do condutor calcinado pelo fogo, só se vendo os ossos (como se pode ver nas fotos que envio).

O Grupo dos Comandos Africanos sofreu duas baixas, um cabo miliciano de transmissões e um soldado.

Tenho mais para contar sobre o meu Pel 65, mas como esta história já vai longa ficará para outra vez.

Cumprimentos,
Luis Guerreiro
Fur Mil da CART 2410 e do Pel Caç Nat 65

Legendas das 4 primeiras fotos:

1 - Bajocunda

2 - Buruntuma, capela e monumentos das companhias

3- Piche porta de armas

4 - Buruntuma, o Pel.65 em patrulhamento

Fotos e legendas: © Luis Guerreiro (2009). Direitos reservados.
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Notas de MR:

Este poste é o primeiro desta série.

Vd. postes anteriores deste autor em:

23 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3086: Memórias dos Lugares (10): Gadamael, CART 2410, 1968/69, Parte I (Luís Guerreiro, Montreal, Canadá)

23 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3087: Memórias dos Lugares (11): Gadamael, CART 2410, 1968/69, Parte II (Luís Guerreiro, Montreal, Canadá)