Liberdade ou evasão: O mais longo cativeiro da guerra
Autor: António Lobato
Colecção: Memória do Tempo
Editor: Rui Rodrigues
Editora: Erasmos
Local: Amadora
Ano: 1995
Nº páginas: [6], 187, [27]
Foto da capa: © ERASMOS e António Lobato
2. No dia 22 de Maio de 1963, houve uma colisão entre dois aviões da FAP, quando em missão de ataque ao solo, na ilha do Como, e após um deles ter sido atingido por fogo IN.
Depois do toque, um dos aviões despenha-se em plena selva, tendo morrido o piloto e o outro faz uma aterragem de emergência numa bolanha, tendo o piloto sido capturado e maltratado por elementos do PAIGG.
O sobrevivente, o Sargento Pil Av Lobato, é levado, ferido, para a Guiné Conacri onde lhe é dada a hipótese de escolha entre a deserção da Força Aérea Portuguesa ou a prisão nas cadeias dos PAIGC.
Quem é este homem ?
António Lobato, minhoto, natural de Melgaço, foi um dos percursores da Força Aérea na Guiné:
(i) Iniciou o seu curso de pilotagem em Setembro de 1957, em S. Jacinto, Aveiro;
(ii) Embarcou para a Guiné em Julho de 1961, onde nem sequer havia infraestruturas para a Força Aérea;
(iii) Depois de muito trabalho, sem condições, em Setembro do mesmo ano acaba-se de montar o primeiro T6, que descola da pista de Bissalanca, tendo aos comandos o António Lobato.
Foi este o início da sua guerra, nas sua próprias palavras.
Depois de inúmeras operações nos céus da Guiné, no dia 22 de Maio de 1963, aconteceu o acidente durante uma missão na Ilha do Como.
Após a queda do avião, acidente de que saiu praticamente ileso, mal pôs os pés em terra foi atacado e ferido com gravidade por cerca de duas dezenas de naturais, armados com catanas.
Começa assim o seu calvário. É levado de acampamento em acampamento até chegar à presença de um jovem guerrilheiro da Zona Sul, Nino Vieira, que o informa de que o seu destino será Conacri.
Já neste país, desembarca em Sansalé onde os seus ferimentos são tratados. Embarcado no navio Bandim, recentemente capturado aos portugueses, segue viagem até Victória onde é desembarcado, seguindo depois por terra até Boké e daqui finalmente para Conacri.
Aqui é-lhe proposto que faça uma declaração à rádio contra a política ultramarina de Salazar, comprometendo-se a nunca mais combater em África pelas Forças Armadas Portuguesas, tendo como contrapartida a liberdade em qualquer país do Leste para trabalhar ou estudar. Como recusasse a proposta foi encarcerado na Maison de Force de Kindia, em condições no mínimo desumanas. Estava-se entretanto no dia 17 de Junho, decorridos 27 dias sobre o acidente.
Muitos anos de cativeiro e três tentativas de fuga, a última das quais proporcionando uma semana de liberdade.Recapturado, António Lobato e os companheiros de fuga são reconduzidos à prisão, de onde saem finalmente, e em definitivo, no dia 22 de Novembro de 1970, libertados durante a Operação Mar Verde, planeada e conduzida pelo Comandante Alpoim Calvão.
São muitas as peripécias vividas e descritas, assim como o susto que apanharam no dia em que lhes é servido frango assado ao almoço e lhes é franqueada a porta para o recreio. Saem receosos de ter chegado a hora da execução, mas afinal era para serem fotografados pelo célebre fotógrafo húngaro, Bara István.
Guiné-Conacri > Conacri > Instalações do PAIGC > 1970 > Prisioneiros portugueses, fotografados pelo fotógrafo húngaro Bara István (nascido em 1942).
Fonte / Source: Foto Bara > Fotogaleria (com a devida vénia / with our best wishes...)
Vou transcrever parte da página 168, onde António Lobato compara dois tipos de comportamentos entre os seus sequestradores.
Referindo-se ao chefe dos sentinelas da Maison de Force de Kindia, o Koda, apelida-o de racista e como tendo um ódio de morte aos prisioneiros, cuja sorte são as ordens emanadas pelos dirigentes do PAIGC, para que a vida lhes seja poupada.
Diz então António Lobato:
- O comportamento deste homem não pode servir de exemplo para qualificar os outros guerrilheiros do PAIGC e muito menos uma parte dos seus responsáveis. De entre estes, merecem especial referência, Fidelis Cabral, Aristides Pereira, Joseph Turpin e o 'Tio Lourenço', não só pela sua moderação, sensatez e sabedoria, mas sobretudo, pela força do humanismo que deles emana e se repercute em quantos, por razões comuns ou mesmo contrárias, se encontram à mercê das suas decisões. São os homens bons do presente, mas sem dúvida também os do futuro.
Mas, para se ter uma ideia mais precisa do que passou em cativeiro o Tenente António Lobato, nada melhor que ler o seu livro. A descrição dos longos dias de caminhadas pelo mato da Guiné, após a sua captura, das tentativas de fuga, das condições de vida na prisão, em cubículos de dimensões reduzidas, e do poder da resistência física e mental que ele conseguiu manter naquelas condições adversas, resistindo estoicamente durante sete anos e meio, tocam o leitor até à última página.
Obra quase no limite da ficção, até pela odisseia em que se transformou a libertação colectiva dos prisioneiros portugueses em Conacri.
Sendo a Operação Mar Verde um segredo de Estado, António Lobato é obrigado a assinar um documento onde se compromete a não revelar a verdade e, em entrevista à Televisão (previamente gravada), transforma a sua libertação numa fuga individual bem sucedida. Por que o fez, poderão saber no livro.
O sobrevivente, o Sargento Pil Av Lobato, é levado, ferido, para a Guiné Conacri onde lhe é dada a hipótese de escolha entre a deserção da Força Aérea Portuguesa ou a prisão nas cadeias dos PAIGC.
Quem é este homem ?
António Lobato, minhoto, natural de Melgaço, foi um dos percursores da Força Aérea na Guiné:
(i) Iniciou o seu curso de pilotagem em Setembro de 1957, em S. Jacinto, Aveiro;
(ii) Embarcou para a Guiné em Julho de 1961, onde nem sequer havia infraestruturas para a Força Aérea;
(iii) Depois de muito trabalho, sem condições, em Setembro do mesmo ano acaba-se de montar o primeiro T6, que descola da pista de Bissalanca, tendo aos comandos o António Lobato.
Foi este o início da sua guerra, nas sua próprias palavras.
Guiné> Vista aérea da Base Aérea 12> Bissalanca
Um DC6 no Aeroporto de Bissalanca.
Fotos retiradas do Blogue dos Especialistas da BA12, Guiné 1967/74, com a devida vénia
A Missão, o acidente e a capturaUm DC6 no Aeroporto de Bissalanca.
Fotos retiradas do Blogue dos Especialistas da BA12, Guiné 1967/74, com a devida vénia
Depois de inúmeras operações nos céus da Guiné, no dia 22 de Maio de 1963, aconteceu o acidente durante uma missão na Ilha do Como.
Após a queda do avião, acidente de que saiu praticamente ileso, mal pôs os pés em terra foi atacado e ferido com gravidade por cerca de duas dezenas de naturais, armados com catanas.
Começa assim o seu calvário. É levado de acampamento em acampamento até chegar à presença de um jovem guerrilheiro da Zona Sul, Nino Vieira, que o informa de que o seu destino será Conacri.
Já neste país, desembarca em Sansalé onde os seus ferimentos são tratados. Embarcado no navio Bandim, recentemente capturado aos portugueses, segue viagem até Victória onde é desembarcado, seguindo depois por terra até Boké e daqui finalmente para Conacri.
Aqui é-lhe proposto que faça uma declaração à rádio contra a política ultramarina de Salazar, comprometendo-se a nunca mais combater em África pelas Forças Armadas Portuguesas, tendo como contrapartida a liberdade em qualquer país do Leste para trabalhar ou estudar. Como recusasse a proposta foi encarcerado na Maison de Force de Kindia, em condições no mínimo desumanas. Estava-se entretanto no dia 17 de Junho, decorridos 27 dias sobre o acidente.
Muitos anos de cativeiro e três tentativas de fuga, a última das quais proporcionando uma semana de liberdade.Recapturado, António Lobato e os companheiros de fuga são reconduzidos à prisão, de onde saem finalmente, e em definitivo, no dia 22 de Novembro de 1970, libertados durante a Operação Mar Verde, planeada e conduzida pelo Comandante Alpoim Calvão.
São muitas as peripécias vividas e descritas, assim como o susto que apanharam no dia em que lhes é servido frango assado ao almoço e lhes é franqueada a porta para o recreio. Saem receosos de ter chegado a hora da execução, mas afinal era para serem fotografados pelo célebre fotógrafo húngaro, Bara István.
Guiné-Conacri > Conacri > Instalações do PAIGC > 1970 > Prisioneiros portugueses, fotografados pelo fotógrafo húngaro Bara István (nascido em 1942).
Fonte / Source: Foto Bara > Fotogaleria (com a devida vénia / with our best wishes...)
Vou transcrever parte da página 168, onde António Lobato compara dois tipos de comportamentos entre os seus sequestradores.
Referindo-se ao chefe dos sentinelas da Maison de Force de Kindia, o Koda, apelida-o de racista e como tendo um ódio de morte aos prisioneiros, cuja sorte são as ordens emanadas pelos dirigentes do PAIGC, para que a vida lhes seja poupada.
Diz então António Lobato:
- O comportamento deste homem não pode servir de exemplo para qualificar os outros guerrilheiros do PAIGC e muito menos uma parte dos seus responsáveis. De entre estes, merecem especial referência, Fidelis Cabral, Aristides Pereira, Joseph Turpin e o 'Tio Lourenço', não só pela sua moderação, sensatez e sabedoria, mas sobretudo, pela força do humanismo que deles emana e se repercute em quantos, por razões comuns ou mesmo contrárias, se encontram à mercê das suas decisões. São os homens bons do presente, mas sem dúvida também os do futuro.
Mas, para se ter uma ideia mais precisa do que passou em cativeiro o Tenente António Lobato, nada melhor que ler o seu livro. A descrição dos longos dias de caminhadas pelo mato da Guiné, após a sua captura, das tentativas de fuga, das condições de vida na prisão, em cubículos de dimensões reduzidas, e do poder da resistência física e mental que ele conseguiu manter naquelas condições adversas, resistindo estoicamente durante sete anos e meio, tocam o leitor até à última página.
Obra quase no limite da ficção, até pela odisseia em que se transformou a libertação colectiva dos prisioneiros portugueses em Conacri.
Sendo a Operação Mar Verde um segredo de Estado, António Lobato é obrigado a assinar um documento onde se compromete a não revelar a verdade e, em entrevista à Televisão (previamente gravada), transforma a sua libertação numa fuga individual bem sucedida. Por que o fez, poderão saber no livro.
Foto do Tenente Lobato quando, no passado dia 31 de Maio de 2008, os Especialistas da Força Aérea, que serviram na Guiné, o homenagearam com o respeito que ele nos merece. Junto e ladeando-o estão o Victor Barata e o Carlos Wilson, organizadores deste evento.