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segunda-feira, 3 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17201: Consultório militar do José Martins (22): Em busca de informações sobre o local de sepultura do Fur Mil Raul da Conceição Severino da CART 527, falecido em campanha na Guiné em Junho de 1963 (José Martins)




1. Em mensagem do dia 27 de Março de 2017, o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70),  mandou-nos um texto com o resultado da sua busca para tentar responder à nossa amiga Maria Bonança, que recorreu ao nosso Blogue na esperança de encontrar o local onde estará sepultado o corpo do Furriel Miliciano Raul da Conceição Severino, falecido na Guiné em Junho de 1963:


EM BUSCA DE INFORMAÇÕES

Em 23 de Fevereiro p.p., o nosso administrador/editor Luís Graça, recebeu a seguinte mensagem:

Sr. Luís,
Sou dos Açores e era noiva dum furriel miliciano que fazia parte do grupo dos Açores, mas era natural de Flor da Rosa no Alentejo.
Faleceu em Junho de 1963 e foi enterrado na Guiné. Cheguei a ver a campa, mas não faço ideia do que lhe aconteceu, se o corpo veio para Portugal ou se ficou lá. O nome era Raul da Conceição Severino e tinha 25 anos.
Será fácil saber o que aconteceu?
Agradecida
Maria Bonança

Encaminhada a mensagem, foi necessário consultar, inicialmente, os meus arquivos pessoais.
Foi consultada a respectiva ficha editada nos livros da CECA – Mortos em Campanha e uma consulta à ficha da Unidade. Na ficha da Unidade nada constava e, para tornar mais difícil, a Unidade em apreço não tem, no Arquivo Histórico Militar, qualquer História da Unidade.
Restava apenas, levar ao conhecimento da nossa leitora, o resultado do que, eventualmente, teria acontecido:

Caro Luís
Segue o que consta nos registos:

Raul da Conceição Severino
Furriel Miliciano Atirador, número de identificação militar não referido, solteiro, filho de Domingos Severino e Maria Luísa da Conceição, natural da freguesia de Flor da Rosa, concelho do Crato. Foi mobilizado no Regimento de Artilharia Ligeira n.º 1, em Lisboa, para a Companhia de Artilharia n.º 527, que chegou à Guiné em 4 de Junho de 1962 e deslocada para Teixeira Pinto, em 25 de Junho de 1963, para reforçar o Batalhão de Caçadores n.º 239, com vista à realização do patrulhamentos e batidas na região de Binar.
Consta que faleceu em 18 de Julho de 1963, vítima de acidente de viação, não constando o local do acidente.

Foi trasladado para o Cemitério de Oeiras, e encontra-se no Ossário nº 59, da Liga dos Combatentes, no mesmo cemitério.

Dado a Unidade não ter História da Unidade, qualquer outro elemento informativo, só consultando o processo individual do militar, no Arquivo Geral do Exército.

Nota: Elementos retirados da Resenha Histórica Militar das Campanhas de África, 7.º volume (página 439) e 8.º volume – Livro 1 (página 32).

José Marcelino Martins
23 de Fevereiro de 2017

A possibilidade do corpo deste nosso camarada ter sido inumado, inicialmente na Guiné, e posteriormente trasladado para a Metrópole, não está excluída, já que era prática do Exército desde há muitos anos, e que foi reforçada pela Circular n.º 5/PJ, da 1.ª Repartição do Estado-Maior do Exército, datada de 27 de Fevereiro de 1961.

Quem quiser aprofundar esta matéria, pode consultar a série de textos de minha autoria, intitulada “Os Últimos Anos da Guerra da Guiné Portuguesa (1959/1974)”, especialmente o Poste 13670[1] sobre TOMBADOS EM CAMPANHA, publicados no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

O texto foi publicado em nove postes.

Odivelas, 7 de Março de 2017.
José Marcelino Martins
____________

Notas do editor:

O nosso camarada António Medina, que foi Furriel Miliciano na CART 527, poderá eventualmente acrescentar alguma coisa, quanto a pelo menos ao local e às condições do acidente que vitimou o Raul Severino.

[1] - Vd. poste de 30 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13670: Os Últimos Anos da Guerra da Guiné Portuguesa (1959/1974) (José Martins) (3): Recenseamento, Inspecção e Distribuição de Pessoal; Os Tombados em Campanha e Os Que Foram Agraciados

Último poste da série de 9 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17121: Consultório militar do José Martins (21): Trabalho de investigação do Aspirante de Cavalaria Pedro Nuno Guilhermino Marçal Lopes sobre "A tipologia das Unidades Mobilizadas pela Arma de Cavalaria durante a Guerra de África (1961-1974)" (Academia Militar, 2014)

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16202: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (16): "The last but the least", o último mas não o menor dos poetas desta primeira antologia da poesia guineense... Luís Sales de Oliveira (pp. 34/35), natural de Mondim de Basto, encerra com chave de ouro este livrinho que reuniu 24 poemas de 11 poetas, 4 da Guiné-Bissau, 3 de Cabo Verde e 4 de Portugal...



Tavira > CISMI > Igreja de São Francisco > Grupo coral do CISMI > c. 1972 >  "Não foi assim tão mau [, o CISMI,] e na verdade até se tornou agradável pertencer ao dito coro. Só lamento de não me lembrar dos nomes da malta, talvez com exceção de um guitarrista de farto bigode, que acho se chamava Jales. Poderá ser que apareça algum nosso Tertuliano que se lembre desta foto" .(*)

O Henrique Cerqueira é o da terceira fila de óculos escuros, assinalado a vermelho... O guitarrista Jales [, Luís Jales, assinalado a amarelo ], com aquela guedelha e bigode (!), de repente pareceu-nos mesmo um sósia do Paul McCartney, um dos Beatles... (LG)

Foto © Henrique Cerqueira (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luísn Graça % Camaradas da Guiné]]








O Luís Manuel Jales de Oliveira, mais conhecido por "Ginho", em Mondim de Basto, sua terra natal, por onde corre o Tâmega, o seu "rio sagrado" e a sua "fonte de inspiração"... No dia do lançamento [, 28 de maio último,] do seu último livro "Mondim de Basto" (edição de autor, 2016), rodeado de duas fãs, nada mais nada menos do que as suas duas filhas. Margarida e Ana Luisa...

O "Ginho", surpresa das surpresas, é o poeta Jales de Oliveira,  "estudante, natural do Porto", que encerra com chave de ouro o 1º (e único) número, o "Poilão"" da coleção "caderno de poesias", . editado por iniciativa do Grupo Desportivo e Cultural (GDC) dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino (BNU), em Bissau, a escassos meses do "fim do império"...


Foto; Cortesia do autor cuja página no Facebook viemos a descobrir (e, com ela,  o paradeiro do poeta do Tâmega... e do Cacine!)...





Detalhe da capa da brochura Caderno de Poesias "Poilão", edição limitada a cerca de 700 exemplares, policopiados, distribuídos em dezembro de 1973 e fevereiro de 1974, em Bissau. (*)







Indice da antologia que reuniu  24 poemas de 11 poetas (4 guineenses,  3 caboverdianos e 4 metropolitanos, neste último caso militares em serviço no TO da Guiné, em 1973-74).  

Os guineenses são: Pascoal d' Artagnan,  Atanásio Miranda, Tavares Moreira, António Baticã Ferreira. Nascidos em Cabo Verde temos Mário Lima,  Manuel Ribeiro  e Eunice Borges... Os de Portugal: Albano de Matos,  Valdemar Rocha, Armando Lopes e Jales de Oliveira.


E considerada pelos estudiosos da literatura dos países lusófonos,  a primeira antologia da poesia guineense. Trata-se de uma  edição rara,  dada a sua reduzida tiragem na época, e o facto de a pequena brochura ter sido policopiada a stencil.

É da mais elementar justiça recordar, mais uma vez aqui, que esta pequena aventura editorial só foi possível graças à cooperação e boa vontade de um civil e de um militar, que viviam em finais de 1973 e princípios de 1974 em Bissau:


(i) o Aguinaldo de Almeida, caboverdiano, funcionário do BNU, infelizmente já falecido; era o coordenador da secção cultural do Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do BNU - Banco Nacional Ultramarino, Bissau [, foto à esquerda];

e (ii) o nosso camarada Albano Mendes de Matos (hoje ten cor art ref; tenente art, GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74; "último soldado do império". natural de Castelo Branco, vive hoje no Fundão; é poeta, romancista e antropólogo)   [foto à direita].

O Aguinaldo de Almeida foi colega e amigo do nosso António Medina [ex-fur mil inf, CART 527, Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65; natural de Santo Antão, Cabo Verde, foi funcionário do BNU, Bissau, de 1967 a 1974; vive hoje nos EUA].

O poeta que publicamos hoje. o último da antologia (**), mas não o menos importante, é o nosso grande tabanqueiro, Luís Jales de Oliveira, que se senta à sombra do poilão da nossa Tabanca Grande desde 21/1/2008 (!) (**),... e em 9/10/2014 dei-nos notícias de um extenso comentário ao poste P12784 (*) em que vem confirmar que o "beatle" do coro do CISMI era mesmo ele... Lu´+is Jales, como era conhecido na tropa, transmontano dos quatro costados, e não açoriano (, como pensava o Henrique Cerqueira).

O [Luís] Jales de Oliveira era fur mil trms inf, Agrup Trms de Bissau e CCAÇ 20 (Bissau e Gadamael Porto, 1972/74), companhia africana. Diosse-nos ele que "na Ccaç 20 servi às ordens do Tenente Tomás Camará, dos comandos, que foi ferido em combate e, depois, às ordens do Capitão Sisseco, também dos comandos, que o veio substituir", já não tendo conhecido o Saiegh, que, suponho, terá sido nomeado já depois de eu deixar a Companhia".

Continua a escrever e a publicar. Dentro em breve voltaremos a dar notícias dele e  dos seus livros.








__________________

Notas do editor:


(*) Vd. poste de 1 de março de  2014 >  Guiné 63/74 - P12784: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (18): Tavira, o CISMI e o meu "santo sacrifício da missa dominical"... Fazia parte do coro [da Igreja de São Francisco] para ter direito a uns "desenfianços" (Henrique Cerqueira, ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74)


(**) Vd. postes anteriores da série (que começou a publicar-se em 23/9/2014):

13 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12974: Memórias dos últimos soldados do império (1): “Bate estradas” histórico, escrito à minha filha em 1973, e uma redacção da minha neta, vinte anos depois (Albano Mendes de Matos)

13 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12975: Memórias dos últimos soldados do império (2): A aventura do "Caderno de Poesia Poilão", de que se fizeram 700 exemplares, a stencil, em fevereiro de 1974, em edição do Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do BNU (Albano Mendes de Matos)

23 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13641: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (1): Pássaro tecelão, de Albano de Matos, p. 5
25 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13647: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (2): "Párti um peso" e "Canção de Mamã Negra", de Albano de Matos, pp. 6/7

27 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13657: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (3): "Mãos", "Balantão" e "Cachimbêro", três poemas do poeta maior desta antologia, natural de Farim, Pascoal d' Artagnan [Aurigema] (1938-1991), pp. 9/11

3 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13683: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (4): "Vem à minha tabanca" e "Música que foi cantada", dois poemas de Atanásio Miranda, guineense, à época funcionário das alfândegas, pp. 12/14

7 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13703: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (5): dois poemas do caboverdiano Mário Lima, "Retrato de Maria Caela" e "Menina Santomense"....Quem teria sido essa mulher fatal, caboverdiana, Maria Caela, que um dia saltou no cais do Pidjiguiti ?

9 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13713: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (6): Homenagem a Mário Lima e Aguinaldo de Almeida, já falecidos, meus colegas do BNU, em Bissau (António Medina, ex-fur mil inf, CART 527, Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65; natural de Santo Antão, Cabo Verde, vive hoje nos EUA)

20 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13771: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (7): Quem seria a Maria Caela, cuja ascensão e queda o poeta Mário Lima cantou ? (António Medina / Amadeu Lopes da Silva)

24 de outubro de DE 2014 > Guiné 63/74 - P13796: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (8): Respondo a algumas perguntas: (i) o poeta Pascoal D' Artagnan, que era filho de mãe balanta e pai italiano; e (ii) o 'making of' do livrinho (Parte I)

25 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13798: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (9): o 'making of' do livrinho (Parte II)


15 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16092: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (13): três poemas de Valdemar Rocha, militar de transmissões em Santa Luzia, premiado nos Jogos Florais da UDIB (1972)

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15802: Inquérito 'on line' (35): Lista de problemas no CTIG em setembro de 1963, segundo o Com-Chefe Louro de Sousa...Camarada, vota nos que concordares (Resposta múltipla)


Guiné > Região do Oio > CART 527 (1963/65) > Olossato > Julho de 1963 > Fardas novas, capacete de aço, os graduados equipados com a pistola metralhadora FBP: em primeiro plano,  asecção do António Medina (e ele, na ponta, do lado direito). Nota do AM: "Vasculhando os meus arquivos encontrei a foto que faço juntar, que diz respeito à mata em Olossato. Eramos todos maçaricos na altura, com a farda ainda nova. Quem tirou a foto não me lembro."... Está bastante estragada, do lado esquerdo, pelo que teve de ser recortada e editada... (LG).

Foto (e legenda): © António Medina (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Camaradas e amigos/as:

Há um artigo do José Matos (historiador, membro da nossa Tabanca Grande, filho de um camarada nosso já falecido), sobre o início da guerra na Guiné, que não devem perder: cliquem aqui.

Em setembro de 1963, o Com-chefe Louro de Sousa fez uma exposição ao poder (político e militar) em Lisboa... Apontou uma série de problemas que na já altura se punham, dificultando a nossa resposta (militar e política) à "guerra subversiva"...

Estes pontos são um pretexto para o inquérito de opinião desta semana... Temos ideia que os problemas de 1963, com que se defrontava Louro de Sousa (1963/64), não eram muitos diferentes dos problemas dos anos seguintes, com Schulz (1964/1968), Spínola (1968/73) e Bettencourt Rodrigues (1973/74)... 

Vejam o questionário, podem dar mais do que uma resposta: No blogue, "on line", no canto superior esquerdo... Até sexta-feira, dia 4 de março, às 17h36.

Abraço dos editores

_____________


2. "LISTA DE PROBLEMAS NO CTIG,  LOGO EM 1963 (LOURO DE SOUSA)... VOTA NOS QUE CONCORDARES" [Resposta múltipla]

Resultados preliminares (n=23)

1. Deficiente instrução das tropas e quadros  > 18 
(78%)

6. Instalações inadequadas  > 16 
(69%)

7. Cansaço das NT, sempre ansiosas por acabar a comissão e voltar para a metrópole  >16 (69%)

2. Deficiente equipamento das unidades no terreno > 15 
(65%)

4. Abastecimento (material, munições, víveres e água)  > 
(39%)

3. Falta de pessoal / insuficiência de efetivos  > 
(28%)

5. Falta de enquadramento / aproveitamento militar dos guineenses  > 
(21%)

8. Outros problemas não referidos acima (pelo Com-chefe Louro de Sousa) > 
(17%)

Votos apurados: 23 

Data e hora em que o fecha o inquérito:  4 de março de 2016, 17h36

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Nota do editor:

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15751: (De)caras (30): Vencendo o medo, a estigmatização e a hipocrisia social gerados pela doença oncológica: mensagens de apoio à coragem e diginidade do nosso camarada António Eduardo Jerónimo Ferreira


Coimbra > IPO (Institituto Português de Oncologia)  > 2015 > Foto tirada durante a quinta sessão de quimioterapia no IPO de Coimbra: o nosso camarada António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493/BART 3873, Mansambo, Cobumba eBissau, 1972/74). Tem um blogue, Molianos.  (Molenos ou "Molianos" é uma povoação da freguesia de Évora de Alcobaça, concelho de Alcobaça).

Foto (e legenda): © António  Eduardo Ferreira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]


Gestor de ausências 

É o tempo que não volta. 

A saúde que nos abandonou. 

Aquela mulher que um dia nos olhou ternamente, 
mas não deixou o seu contacto.

Alguns amigos que supunhamos ter, 
ao mais leve estremecer se evaporaram. 

Alguém que disse sim com a voz… 
e não com o pensamento. 

O passarinho que todos os dias cantava à nossa janela, 
e o gato, um dia, devorou. 

O nosso amigo que um dia uma mina destroçou. 

O caminho por onde passávamos, 
já lá não está. 

Alguém, que era único, 
e um dia a morte levou. 

Ainda há quem diga, 
ele já nada faz. 


António Eduardo Ferreira



1. Seleção de 10 comentários ao poste P15737  (*) (incluindo mensagens  enviadas para o correio interno da Tabanca Grande) (**):


(i) Maria Arminda [Santos]: 

Olá, António Ferreira. Parabéns por esse espírito lutador e de esperança que revelou no seu depoimento. É um desabafo e uma lição de vida. Entre camaradas e amigos que passaram por dificuldades na mesma guerra, faz todo o sentido trazer ao conhecimento de todos, o seu estado de saúde. Fez muito bem. Para quê esconder, uma doença que cada vez está mais presente nas nossas vidas e que quando se revela há que a encarar com serenidade, fé e esperança?!.. Apesar de tudo por que passou, veja que está e continuará a estar entre nós.

Alguém disse que "há um cancro adormecido em cada um de nós" e que um dia, desperta!... Há três anos em (2012) o meu despertou, ou por outra, um feliz acaso permitiu-me o conhecimento da sua existência e que felizmente foi retirado a tempo e sem consequências. Não necessitei de nenhum tratamento adicional, mas apenas a vigilância periódica, que ainda se mantêm. Penso que irei ter alta após a próxima colonoscopia, que aguardo não revelar alterações.

Devemos todos fazer os exames de rotina que nos forem aconselhados, pois há bastante sucesso, em muitos casos.

Desejo-lhe a continuação de uma boa recuperação.

Um abraço amigo,
Mª Arminda Santos.


(ii) Tony Borié (EUA):

Olá, António. Também sou António, também fui afectado com a doença de câncer, também me submeti ao tratamento de radiação e outros tratamentos que me deixavam sem forças e atormentado, às vezes desejando e tendo atitudes não muito comuns num combatente que fomos, mas no fundo resisti, com tu vais resistir e, vais viver muitos anos, és um combatente e isso faz-te diferente, bebeste água da bolanha e resististe, ouviste tiros dirigidos a ti e aos teus companheiros e resististe, sofreste a amargura de viver em zona de combate e resististe, portanto esta fase menos feliz da tua vida é somente a vivência de outra guerra, onde vais sair com vida, tornar a conviver normalmente com a família e amigos, e com vontade, entre outras coisas, de escrever as tuas vivências para os teus companheiros de guerra que te admiram!

Um abraço de esperança, companheiro António.
Tony Borié


(iii) António Medina (EUA):

Olá. Luís: acabei de ler o teu mail relacionado com a doença do câncer que está afectando muitos dos nossos camaradas da Guerra da Guine.

Fui vítima do câncer da próstata há cerca de três anos atrás, gracas a Deus foi visto a tempo e hora, hoje me sinto curado de acordo com a opinião dos médicos que me assistiram durante aquele período turbulento da minha vida.

Apanhei 48 sessões de radioterapia, nunca até hoje tomei sequer um comprimido por nunca me ter sido indicado. O Hospital Oncológico Dana Farber em Boston me mantem sob vigilância, apresentando-me de seis a seis meses para uma avaliação não só pelo toque rectal mas também pelas diferentes análises a que me sujeito. Fica sempre alguma mazela como assim a ereção. Mas sinto-me porreiro e opino a qualquer um que não faça da doença um tabu, deve comunicá-lo abertamente e actuar quanto mais depressa possível procurando assistência médica. Tratando é que se encontra a cura.

Melhoras a todos aqueles que sofrem dessa maldita enfermidade.

Um abraço,
A. Medina



Boa tarde, Luis Graça. Estive na Guiné-Bissau de 1966 a 1968 (Mansabá, BCAV 1897).

Em 2009 foi-me descoberto um cancro (linfoma). O mundo caiu na minha cabeça , mas com a ajuda de um excelente oncologista, das medicações , da família e amigos, estou aquí , mas em alerta para que não retorne .

Precisamos ter fé. Abraços,
Armandino

(v) Mário Beja Santos:

Caro António Eduardo Ferreira, um blogue de camaradas da Guiné é um anfiteatro adequado para tu te exprimires com a autenticidade com que o fizeste. Faço parte de uma organização onde se agrupam mais de duas dezenas de associações de doentes crónicos: esclerose múltipla, traumatizados cranioenceláficos, Alzheimer, doenças reumáticas, doentes da próstata, doentes reumáticos, e por aí adiante. 

Aqui há uns mese atrás entrei lampeiro numa conferência internacional sobre multimorbilidade e envelhecimento. Um colega de ocasião achou estranho eu estar com ar tão afoito, não sei se ele estava à espera que eu me arrastasse com canadianas ou tivesse um ombro mais alto do que outro. Expliquei que era doente crónico como ele, que há 20 anos ou mais tomo sulfato de glucosamina para travar a degenerescência das cartilagens dos joelhos, tenho tido sorte; expliquei-lhe igualmente que tomo três comprimidos diariamente para aplacar as dores na perna esquerda, sequela da segunda operação que fiz à L4. 

E lá procurei dizer-lhe que é preciso ter sorte, já Napoleão Bonaparte dizia que gostava de ter generais aguerridos mas que em batalha preferia que eles tivessem acima de tudo sorte. Isto para dizer que também nos habtiuamos ao sofrimento e que é um dos mais negros preconceitos não dizer a verdade sobre o nosso estado de saúde, esse silêncio acaba por nos fazer sofrer mais. E hoje muitos cancros estão a ser debelados, desde o da mama ao da próstata. 

Espero que na vida tu tenhas pelo menos tanta sorte como eu tenho tido e recebe um abraço do
Mário




Camarada António Ferreira: este teu depoimento não é uma queixa, um desabafo, um "fado da desgraçadinha". Pelo contrário é um depoimento de um HOMEM! Observado de outro ângulo - é, até, boa literatura.

Dizes (e muito bem!) que há quem esconda a doença, como se isso diminuisse a condição de homem (ou mulher), como se afectasse a honra da família, como se fosse um mal peganhento, contagioso, uma coisa porca e extra-terrestre.

Pois, Vinicius de Morais, no seu célebre poema, no qual refere a grande proliferação da doença (nas suas variadíssimas nuances...), chega a afirmar que "até Deus tem câncer!".

Recebe um GRANDE e FORTE abraço do
Alberto Branquinho



(vii) Luís Graça:

António Eduardo Jerónimo Ferreira, emocionei-me, primeiro, com (e depois orgulhei-me de) o teu testemunho!...

Ès digno da nossa geração (sofrida mas corajosa) que esteve na Guiné e fez a guerra da Guiné... O teu depoimento é também uma pedrada no charco da hipocrisia (social) que rodeia a doença oncológica no nosso país... Hipocrisia, estigmatização e discriminação...

Quem disse que o teu testemunho não tem nada a ver connosco, o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné ?  Hoje já falamos em neoplasia, cancro... Há uns anos atrás nem sequer a palavra nos atrevíamos a pronunciar: fulano tal morreu de doença incurável... Felizmente que hoje a maior parte dos cancros são curáveis e a taxa de sobrevivência é elevada...

Tenho um filho, que é psiquiatra, e que é nosso grã-tabanqueiro, que escolheu ir trabalhar no IPO de Lisboa... Precisamos, todos, de reforçar a rede de apoio psicossocial ao doente oncológico!... Acredito que temos, neste momento, muitos camaradas nossos em sofrimento, a lidar e a lutar contra esta doença!... Estes precisam do carinho, apoio e solidariedade de todos nós... Afinal, a nossa vida tem sido um picada cheia de minas e armadilhas!...O cancro espreita-nos a todos!...

O meu amigo Sobrinho Simões, uma autoridade mundial na matéria, diz que um em cada dois dos portugueses vai ter um cancro em 2050... E que isso não é nenhuma tragédia, é o preço que temos de pagar por viver cada vez mais anos...

Um xicoração fraterno, António Eduardo!... Bebo um copo à sua saúde, à tua convalescença, à tua coragem, à tua dignidade, á tua camaradagem!... Luís

PS - Por que é que o raio do cancro haveria de ser um tabu ? Por que é que não haveria de ser um dos tópicos do nosso blogue ? Se as balas da russa Kalashnikov e os "rockets" chineses das RGP não nos mataram, a nós, felizardos, que fomos à guerra e regressamos a casa, sãos e salvos, com maiores ou menores mazelas, se alguma coisa haveremos de morrer, se calhar de cancro, quem sabe ?!.. Pois que não seja,  ao menos,  de morte macaca, e que quando a malvada chegar, para nos cobrar o bilhete de viagem para o "outro lado donde não se regressa", que seja ao menos com lucidez e dignidade!...



És de facto um exemplo ao dar a cara sobre uma coisa que muitos escondem.

És igualmente um exemplo pela coragem que demonstras, pois nunca é fácil a entrada nesses hospitais e menos ainda quando se vai a uma consulta, o primeiro impacto é complicado, mas ao encararmos de frente o problema e aceitá-lo, tal como se apresente, torna mais fácil a vida e os tratamentos.

És um lutador e espero que recuperes rapidamente.
Um abraço,
BS

(ix) Francisco Baptista:

Amigo António Ferreira:  obrigado pela lição de optimismo e coragem que nos dás,  não só aos que sofrem desse mal mas também a todos e são tantos que têm familiares ou amigos atingidos por ele.
Pela tua coragem psicológica e intelectual tu demonstras ser um guerreiro que não esmorece na luta e ainda arranjas forças para dares alento a outros que necessitem. O teu texto é um hino à vida e merecia ter uma divulgação maior do que a deste blogue para ser lido por mais gente a quem por vezes falta o ânimo que a ti te sobra.

Desejo-te também as tuas rápidas melhoras e ai dando notícias.

Um grande abraço,
Francisco Baptista.


Força, António,  e a resignação com enfrentaste sobre rodas as minas e as emboscadas na Guiné. 

Enfrentando as atribulações da vida, o homem poderá sofrer derrotas, mas não será vencido! 

Estou certo do restabelecimento da tua saúde e hoje vou beber por ela.

Aquele abraço,
Manuel Luís Lomba
´______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 11 de fevereiro de 2016 >  Guiné 63/74 - P15737: Blogoterapia (274): Portas estreitas da vida onde nem sempre se consegue passar (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto, CART 3493, Mansambo, Fá Mandinga, Bissau, 1972/74)

(...) A minha doença foi diagnosticada nos últimos meses do ano de dois mil e quatro, seguiram-se cinco meses de espera e a cirurgia em fevereiro do ano seguinte, hoje talvez esperasse menos tempo, passados cerca de dois meses, fui sujeito a trinta e cinco tratamentos de radioterapia, reagi sempre bem, os efeitos secundários foram quase inexistentes. Ao longo destes anos continuei sempre a ser seguido no IPO de Coimbra.

No início do ano passado [, 2015,] os valores tumorais estavam demasiado altos, foi então que foi decidido que tinha de fazer quimioterapia o que aconteceu a partir do início do mês de abril, seguiram-se dez tratamentos com intervalos de três semanas. No início fiquei um pouco assustado,  atendendo ao que ouvia falar acerca dos possíveis efeitos secundários, no primeiro dia fui acompanhado por uma pessoa de família ao tratamento, a viagem é de aproximadamente cem quilómetros de minha casa até ao hospital, nas restantes nove sessões a que fui sujeito entendi que não era necessário ir alguém comigo.

Tudo foi menos complicado que eu imaginava (...). Terminadas as dez sessões, fim do tratamento, senti um alívio enorme próprio de quem passou por mais uma porta estreita da vida, daquelas que nunca se sabe se conseguimos passar, os efeitos secundários comparando com o que acontece a algumas pessoas foram poucos,  o que me permitiu continuar a fazer uma vida quase normal, com exceção do dia do tratamento, todos os outros continuei a fazer a caminhada como antes fazia, de aproximadamente uma hora. (...)

Hoje assino com o nome completo,
António Eduardo Jerónimo Ferreira

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14953: Blogoterapia (272): Segredos... de confessionário, precisam-se!... Neste nosso querido mês de agosto, baixa a G3, camarada, e conta-nos uma daquelas histórias que só se costumam contar na véspera da morte, para "alívio da consciência"....


Guiné > Região do Oio > CART 527 (1963/65) > Olossato > Julho de 1963 &gt Fardas novas (camuflado em vez da farda amarela), capacete de aço,  os graduados equipados com a pistola metralhadora FBP... Em primeiro plano, o fur mil António Medina,  com a sua secção. "Ainda guerra era um crinaça" (LG)...

Foto (e legenda): © António Medina (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: LG]


1. Mensagem enviada pelo editor LG, pelo correio interno, a toda a Tabanca Grande:

Assunto: Segredos... de confessionário, precisam-se!

Amigos/as e camaradas:

Todos temos, se não pecados, pelo menos pecadilhos que nunca confessámos a ninguém, muitas vezes apenas por falta de interlocutores ou de ocasião ou de ambiente, e não tanto por autocensura ou receio da censura dos outros... 

Refiro-me a "pecados e pecadilhos, grandes e pequenas patifarias", cometidos no tempo da tropa e da Guiné...

Recentemente veio aqui ao "confessionário" o veteraníssimo António Medina contar-nos como é que andou três dias "desenfiado" em Bissau, por causa de uns primos que tocavam no conjunto "Ritmos Caboverdianos", sujeito a apanhar uma porrada das grandes por violação grave dos seus deveres militares...

Estávamos em meados de 1964 e o que valeu ao Medina, que já não era "pira", já andava "apamhado do clima",  foi um taxista, seu patrício, que o levou de volta, de Bissau  até Teixeira Pinto, por mil pesos, sem qualquer escolta (!)... A única arma que o Medina levava debaixo do assento da viatura era a sua FBP... Em João Landim deu boleia a uma mulher que vendia ostras, e que ele já comnhecia do Cacheu (onde estava destacado)... E lá seguiu a "coluna solitária" até ao Canchungo: o Medina, a mulher, o taxista... A história, completa, está aqui neste poste recente, P14945

Já se ouviram aqui histórias espantosas que seria uma pena ficarem para sempre no "segredo dos deuses", o mesmo é dizer, perderem-se ... São histórias que  seguramente nunca chegaram (nem chegarão) ao Arquivo Histórico-Militar, não sobrevivendo ao "guardião da memória", que é cada um de nós... Claro que nenhuma delas vem "alterar" a visão final da História com H grande... Mas essa será sempre mais pobre sem as nossas histórias com h peqeueno...

 Estou-me a lembrar, por exemplo, do primeiro poste que publicámos nesta série, há 7 (sete) anos atrás (!)... Merece ser "revisitado" o poste, do Mário Dias, P3543

Este mês de agosto, de férias para alguns, à beira-mar, sob o efeito (dissolvente) da canícula, presta-se à escrita descontraída e relaxada... Pode ser que no meio da "pescaria" das nossas memórias, surja algum segredo que não seja de polichinelo (daqueles que toda a caserna já sabe...).

Ficamos na expectativa, em época de defeso, de sermos surpreendidos pelos nossos amigos/as e camaradas da Guiné que se sentam à sombra do sereníssimo e inspirador poilão da Tabanca Grande,,,

Boa saúde, melhor lazer... Luís Graça e equipa editorial.

PS - Em agosto, o Carlos Vinhal (CV) lá continuará no seu "posto de combate", O LG e o EMR vão a banhos... O VB continuará a publicar as suas surpreendentemente frescas  memórias da "Guiné, ir e voltar"... Para todos/as, um querido mês  de agosto!
______________________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 29 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14809: Blogoterapia (271): Não sabia que o tempo passava tão depressa (Juvenal Amado)

(**) Postes anteriores da série:

29 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14945: O segredo de... (19): António Medina (ex-fur mil, CART 527, 1963/65, natural de Cabo Verde, mais tarde empregado do BNU, e hoje cidadão norte-americano): Desenfiado em Bissau por três dias, por causa dos primos Marques da Silva, fundadores do conjunto musical "Ritmos Caboverdeanos"... Teve de se meter num táxi, até Teixeira Pinto, que lhe custou mil pesos, escapando de levar uma porrada por "deserção"!

(...) Sentindo-me eufórico pelos uísques e cervejas, perdi a noção da responsabilidade que tinha nos meus ombros, apontando o nosso cabo Augusto como comandante da coluna e ordenando que de imediato seguissem viagem. Que à chegada informasse o alferes daquela minha decisão e que voltaria logo assim me fosse possível. (...)

26 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13046: O segredo de... (18): O ato mais irresponsável nos meus dois anos de serviço como soldado de artilharia (Vasco Pires, ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72)

(...) Decorria o ano de 1970, quando cheguei a Bissau, no BAC1 (ou já seria GA7?), que era Comandado por um controverso Oficial Superior de Artilharia, a quem a caserna dera o codinome de "Paizinho", entre outros, que vou me abster de mencionar. (...)

28 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12648: O segredo de... (17): O maior frio da minha vida (Fernando Gouveia)

(...) Presentemente não se pode considerar propriamente um segredo mas, na altura em que  os factos aconteceram, tive que me abster de falar nesse assunto para eventualmente não sofrer represálias dos meus superiores, instrutores, na classificação final da especialidade, determinante para a mobilização, ou não, para a guerra. (...)


25 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12632: O segredo de... (16): Ricardo Almeida (ex-1.º cabo, CCAÇ 2548 / BCAÇ 2879, Farim, K3 / Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71): Como arranjei uma madrinha de guerra, como lhe ganhei afeição e amor, e como por causa da minha
terrível doença fui obrigado a tomar uma dramática de decisão de ruptura... A carta de amor pungente que ela me escreveu, em resposta..

(...) Esta recordação que nunca apago da mente nem do coração, reporta-se a uma madrinha de guerra à qual devo gratidão eterna pelo apoio moral e psicológico que me deu enquanto combatente, doente com uma moléstia terrível, redundando isto num amor fraterno, solidário e muito apego à vida que ela me transmitia tanto nas cartas que me escrevia, como depois pessoalmente, como quando trocámos promessas de vida em comum e casamento, testemunhado no interior duma capela pelo santo que lá existia e que parecia concordar com a nossa decisão. (...) 


(...) No meu tempo de Guiné, mais propriamente aquando da minha passagem pela Secção de Justiça do Depósito de Adidos em Brá no ano de 1973, procedi a algo que, na altura a ser descoberto, no mínimo constituiria matéria do foro do direito penal militar, mas do qual ainda hoje não me arrependo por considerar que, em consciência, procedi de forma a aliviar um sofrimento desnecessário de um camarada. (...)

(...) Também fiz o curso de Minas e Armadilhas, em Tancos, ainda em 1971. Encartado, licenciado, nunca mais esqueço uma barras de trotil, amarelinhas, cilíndricas que roubei e escondi na cozinha da minha casa, em Benfica, com uns detonadores e cordão lento guardados no outro lado, na sala, à espera de fazer umas bombas para ajudar a rebentar com o regime.  Santa e perigosa ingenuidade! (...)

(...) Uma das primeiras operações (a segunda, depois de uma ida ao Óio) que o Amadú fez, integrado no Grupo Fantasmas, do Alf Saraiva, foi no meu conhecido Buruntoni, no Xime, em 11 de Novembro de 1964. Na véspera, o grupo deslocara-se de barco, de Bissau até ao Xime. A 11, andaram toda a noite, a corta-mato, com um guia local. Como era quase inevitável, nas matas do Xime, o guia perdeu-se. O objectivo era um acampamento da guerrilha. Chegaram ao Buruntoni por volta das 7h00, quando o sol já ia alto… Deparam-se, entretanto, com um “rapazito de 8 ou 9 anos” (...)


(...) Uma das primeiras operações (a segunda, depois de uma ida ao Óio) que o Amadú fez, integrado no Grupo Fantasmas, do Alf Saraiva, foi no meu conhecido Buruntoni, no Xime, em 11 de Novembro de 1964. Na véspera, o grupo deslocara-se de barco, de Bissau até ao Xime. A 11, andaram toda a noite, a corta-mato, com um guia local. Como era quase inevitável, nas matas do Xime, o guia perdeu-se. O objectivo era um acampamento da guerrilha. Chegaram ao Buruntoni por volta das 7h00, quando o sol já ia alto… Deparam-se, entretanto, com um “rapazito de 8 ou 9 anos” (p. 91). (...)

18 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5670: O segredo de... (11): Um ataque a Bissau, uma bravata do Hoss e do Django (Sílvio Fagundes Abrantes, BCP 12, 1970/71)

(...) Vou contar a história real dum ataque a Bissau feito em 1971. Um dia, eu e o meu amigo Julião Pais dos Santos (o Django), pensámos em atacar Bissau... Dito e feito. Mas faltava a estratégia. Depois de alguns dias a pensar na estratégia, finalmente chegou a luz ao fundo do túnel. (...)


24 de setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5529: O segredo de... (10): António Carvalho (ex-Fur Mil Enf, CART 6250, Mampatá, 1972/74): Os tabefes dados ao Bacari

(...) Desde há algum tempo tenho vindo a pensar que nem sempre éramos correctos no nosso relacionamento com os civis e que essa faceta raramente ou nunca tem sido aqui objecto de qualquer relato. Parecendo-me que esta perspectiva da nossa (con)vivência com a população também faz falta à verdadeira história da guerra do ultramar ou colonial, eis-me aqui a falar de mim, falando dos meus pecados (...)

21 de outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5138: O segredo de... (9): Fur Mil J. S. Moreira, da CCAV 2483, que feriu com uma rajada de G3 o médico do BCAV 2867 (Ovídio Moreira)

(...) O meu irmão, José dos Santos Moreira, [Fur Mil,] fez parte da CCAV 2483, Cavaleiros de Nova Sintra, BCAV 2867 [, Comando e CCS em Tite]. Em 1969 feriu a tiro de G3 o Cap Médico do batalhão.Regressou a Portugal em 28 de Dezembro de 1969. Teve baixa de serviço por incapacidade física em Março de 1970. Foi julgado no Tribunal Militar Territorial do Porto, em Novembro de 1973. Libertado depois do 25/4/74. (...)

24 de setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5006: O segredo de... (8): Joaquim Luís Mendes Gomes: Podia ter-me saído caro aquele pontapé no...

(...) Eu era um simples Aspirante a Oficial. Não tinha culpa de levar a sério a minha posição. Já tinha estado no RII 19 no Funchal nos meus primeiros meses de activo depois do curso de Oficiais Milicianos em Mafra. Destacado para Évora para preparação da Companhia que me iria levar para o Ultramar, eu levava as minhas responsabilidades muito a sério. Se era para ser Oficial de Dia ao Batalhão, era mesmo Oficial de Dia.(...)


(...) Apesar de me terem advertido para a eventual polémica a propósito da revelação da entrega de gasóleo ao PAIGC , surpreendeu-me a quantidade e agressividade dos comentários produzidos. Vou tentar clarificar as coisas. (...)

11 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4936: O segredo de... (6): Amílcar Ventura: a bomba de gasóleo do PAIGC em Bajocunda...

(...) Amigos e Camaradas Editores, há muito que quero contar um facto real que se passou comigo e o grupo do PAIGC da minha zona de guerra que era Bajocunda, mas como é um facto que pode ser sensível a alguns Camaradas de blogue. (...)


4 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4461: O segredo de... (5): Luís Cabral, os comandos africanos, o blogue Tantas Vidas... (Virgínio Briote)

(...) Das nossas lides bloguísticas eu sabia, talvez há mais de dois anos, que o meu amigo e camarada Virgínio Briote acalentava a secreta esperança de um dia poder entrevistar (ou ter uma conversa franca com) o Luís Cabral... Fez várias tentativas. Em vão. Até que a morte do histórico dirigente do PAIGC, ocorrida há dias em Lisboa, veio fechar-lhe a última porta (...)

11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3598: O segredo de... (4): José Colaço: Carcereiro por uma noite

(...) Numa das saídas das explorações que nos eram confiadas, foi apanhado um guerrilheiro e feito prisioneiro. Quando o pessoal chegou, já era noite. Não eram horas de entregar o prisioneiro à PIDE. Então o capitão lembra-se da brilhante ideia, como o Colaço está de serviço permanente ao posto rádio, fica a guardar o prisioneiro. Ordens são ordens e não há que contestar. (...) 

6 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3578: O segredo de... (3): Luís Faria: A minha faca de mato

(...) Tinha-a comprado no Porto. Era equilibrada adaptava-se muito bem à minha mão, éramos inseparáveis e até dez passos o lançamento não falhava o alvo. Levantou 1032 minas, mas nunca chegou a ser usada em/contra alguém. Um dia, numa operação na zona de P. Matar, embrulhei (amos) forte e feio. (,,,)

30 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3544: O segredo de... (2): Santos Oliveira: Encontros imediatos de III grau com o IN

(...) Tinha acabado de receber notícias trágicas acerca da morte dos meus dois amigos de infância. Isolava-me e chorava e este sentimento de perda prolongou-se por alguns dias.  O poiso escolhido era o topo da paliçada, onde fingia estar a fazer a vigilância habitual, embora perfeitamente exposto. Apetecia-me morrer. Foi terrível. P3143: Blogoterapia (62): A minha vida morreu; morreram os meus amigos (Santos Oliveira) (...)

30 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3543: O segredo de ... (1): Mário Dias: Xitole, 1965, o encontro de dois amigos inimigos que não constou do relatório de operações

(..) Estando com o meu grupo de comandos no Xitole, sensivelmente em meados de 1965, fomos fazer uma patrulha de reconhecimento pois o inimigo há muito mostrava sinais de intensificar a sua actividade na região. Porém, as informações eram escassas. Desconhecia-se com precisão por onde andavam os guerrilheiros e as possíveis localizações dos acampamentos. Por tal facto, foi-nos dada a missão de efectuar um reconhecimento ofensivo, tentando localizar o destruir o inimigo. (...)

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14950: Fotos à procura de... uma legenda (59): Os manos Marques da Silva, fundadores do conjunto musical "Ritmos Caboverdeanos", em digressão por Bissau e Dacar, em junho de 1964, que iam "tramando", sem o quererem, o primo António Medina...


Foto da capa do primeiro disco ("Mornas e coladeras"), em vinil, de 45 rotações, editado pelos "Ritmos Caboverdenos", na Alemanha, nos anos 60. Cortesia de Discogs.com. Legenda do primo António Medina: da esquerda para a direita, Djack de Felicia, viola baixo (1);  Lulu Marques,  acordeão (2);  Djosa Marques, bateria (3); Tony Marques,piano (4); e Humberto Bettencourt, violo solo (5).


1. Mensagem, de hoje, do António Medina (*)

[ o nosso camarada, veteraníssimo,  Antonio Medina, ex-fur mil inf, CART 527, Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu,Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65; natural de Santo Antão, Cabo Verde, foi funcionário do BNU, Bissau, de 1967 a 1974; vive hoje nos EUA desde 1980; tem dupla nacionalidade, portuguesa e norte-americana; é nosso grã-tabanqueiro desde 1/2/2014]


Luís:

Dando seguimento ao teu pedido de identificação dos elementos dos "Ritmos Caboverdeanos",  vê a seguir da esquerda para a direita (**):

(1) Djack de Felicia, viola baixo; foi empregado da Camara Municipal de S. Vicente; já falecido.

(2) Lulu Marques [da Silva], acordeão, já falecido;

(3) Djosa Marques [da Silva], bateria, já falecido;

(4) Tony Marques [da Silva], piano, reside em New York;

(5) Humberto Bettencourt, violo solo, meu antigo colega do liceu e da tropa.

Falta aqui o vocalista, Longino Baptista. Os três Marques da Silva são todos meus primos e antigos proprietários do Cinema Eden-Park, em S. Vicente.

Um abraço, Medina

_____________

(**) Ùltimo poste da série > 6 de julho de  2015 > Guiné 63/74 - P14841: Fotos à procura de... uma legenda (58): Varela, 1955: o arquiteto Luís Possolo [1924-1999], o felupe e o "teco-teco"...

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14945: O segredo de... (19): António Medina (ex-fur mil, CART 527, 1963/65, natural de Cabo Verde, mais tarde empregado do BNU, e hoje cidadão norte-americano): Desenfiado em Bissau por três dias, por causa dos primos Marques da Silva, fundadores do conjunto musical "Ritmos Caboverdeanos"... Teve de se meter num táxi, até Teixeira Pinto, que lhe custou mil pesos, escapando de levar uma porrada por "deserção"!




Capa e contracapa do disco de 45 rotações,  em vinil,  um EP gravado na Alemanha,  o primeiro, do conjunto Ritmos Caboverdeanos: "Mornas e Coladeras". (c. década de 1960). Label: Teldec ‎– T 75536, Teldec ‎– 45-9/64216, Teldec ‎– RC 1/67.

Cortesia de Discogs.com




1.  Mensagem, de 24 do corrente,  do António C. Medina:


[, foto à direita, o camarada Antonio C[ândido da Silva] Medina, ex-fur mil inf, CART 527, Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu,Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65; natural de Santo Antão, Cabo Verde, foi funcionário do BNU, Bissau, de 1967 a 1974; vive hoje nos EUA desde 1980; é nosso grã-tabanqueiro desde 1/2/2014]


Prezado camarada Luis:

Em anexo estou remetendo a descriçãoo de uma minha loucura praticada aquando da minha vida militar em Cacheu.

Se achares conveniente publicá-la no Blogue te agradeço. Diz o que tiveres por conveniente.

Um abraço do Medina


2. LOUCURA... DE UM MILICIANO

por António C. Medina


Em Junho de 1964 andava o terceiro pelotão da CART 527,  destacado em Cacheu, quando numa bela tarde se recebeu instruções para,  no dia seguinte, de manhã cedo, eu apanhar a estrada com o meu grupo que nos levaria a Bissau para um reabastecimento de géneros alimentícios.

Anteriormente, era a Manutenção Militar,  sediada em Bissau, que distribuía e transportava os géneros para o mato para serem entregues aos vaguemestres das companhias que tivessem mais fácil acesso e menos riscos. Desde que o inimigo se mostrou nas estradas atacando nossas colunas, deixaram de o fazer e passou a ser o transporte garantido sob escolta dos operacionais. a quem cabia essa dura tarefa.

Tudo a postos com homens, viaturas e material de guerra, bem de manhãzinha deixamos Cacheu,  chegando a Bissau em boa hora para se carregar as GMC e os Unimog. O critério adoptado era quem chegasse primeiro seria o primeiro a ser reabastecido com batatas, folhas de bacalhau, vinho, azeite, farinha, latarias, grades de cerveja, etc, etc, para o sustento dos militares.

Também se aproveitava para se dar uma passeata pela cidade, tomar algumas cervejas com acompanhamento de saborosos camarões ou ostras cozidas na esplanada dos senhores Espada e Veralonga, apreciar um frango de churrasco com limão e malagueta do Restaurante Santos, comprar alguma coisa de interesse pessoal como máquina fotográfica, aparelhos de rádio alimentados a pilhas, lindas colchas, objectos de uso caseiro, bibelôs vindos de Macau, garrafas de whisky de especial qualidade e outros mais objectos que constituissem novidade e boa prenda para os familiares, tudo a preço convidativo, e pago com escudos da Guiné, notas e moedas emitidos pelo Banco Nacional Ultramarino (BNU), arbitrariamente conhecido pelo nativo como “pesos“ desde os primórdios da época colonial.

Aconteceu que logo assim à nossa chegada, por ter patrícios amigos trabalhando no BNU, aí me desloquei para os cumprimentar, tomando conhecimento da estadia de três primos direitos que faziam parte do conjunto musical  "Ritmos Caboverdeanos" (*)  em digressão ao Senegal e Guiné. Estavam eles hospedados em casa de um patrício,  empregado do BNU. Como é obvio,  procurei-os de imediato  e a partir daí a malta meteu-se em copos e petiscos, como por exemplo um suculento e caseiro pitch-patch (sopa de ostras com limão e malagueta), e depois conversa fiada, música de Cabo Verde, variada e tão bem interpretada por serem eles exímios tocadores.

Curtia eu o ambiente,  matando saudades da terra, quando o nosso primeiro cabo Augusto me localizou e me informou que tudo estava preparado para seguirmos viagem para Teixeira Pinto, pois já se fazia tarde e teríamos de atravessar ainda o rio Mansoa pela jangada em João Landim, antes que a maré vazante nos surpreendesse.

Sentindo-me eufórico pelos uísques e cervejas, perdi a noção da responsabilidade que tinha nos meus ombros, apontando o nosso cabo Augusto como comandante da coluna e ordenando que de imediato seguissem viagem. Que à chegada informasse o alferes daquela minha decisão e que voltaria logo assim me fosse possível.

Passei tres dias em Bissau “numa boa”, como hóspede estive na Pensão Chantre, na Praça do Liceu Honório Barreto, vestido à civil com calças e camisa do colega furriel miliciano Autilío Goncalves,  da CCAÇ 412.  da zona leste, de férias em Bissau. Assisti e participei de um baile no campo de basquetebol do BNU,  como convidado especial dos meus primos Marques da Silva (**).

O ultimato chegou precisamente ao fim da tarde desse terceiro dia, o nosso capitão conseguira uma ligação para o BNU e,  falando com o empregado que o atendeu e me conhecia,  pediu a ele que me informasse da situação de “DESERTOR” a que eu estava sujeito se não me apresentasse no dia SEGUINTE EM TEIXEIRA PINTO (!), que logo de seguida também teria de comunicar o assunto ao Comando do Batalhão de Bula [, ten cor Hélio Felgas].

A consciência veio à tona ficando eu envolvido pelo medo e com receio de apanhar uma pena de prisão e ser transferido par zona mais perigosa como castigo. No dia seguinte decidi ir ao Quartel General,  em Santa Luzia, saber se haveria alguma coluna que estivesse indicada para Teixeira Pinto e pudesse eu aproveitá-la. A informação foi negativa, que já não tinham mais viagens para o interior,  o que me alarmou um pouco.

Procurando na minha mente uma solução e,  com uma calma aparente, cerca do meio dia resolvi aproximar-me de um taxista estacionado na Praça Honório Barreto, dizendo-lhe que precisava de um transporte urgente para Teixeira Pinto. Que era eu militar, que tinha perdido a coluna que saira de manhã cedo mas que impreterivelmente teria de me apresentar naquela mesma tarde ao quartel. 

Fez-me diversas perguntas, como era a estrada, se nada tinha acontecido,  ao que sempre respondi negativamente. Ponderou ele por alguns longos minutos, notou ele durante a conversa que era eu cabo-verdiano,  acabando também por me confessar que era natural da Praia,  Cabo Verde,  e assim se estabeleceu uma dupla confiança. Me aliviei um pouco quando me disse que receberia mil pesos (escudos da Guiné),  o que de imediato liquidei por antecipação.



Guiné > Cópia de uma nota de cem escudos (ou "pesos",  emitida pelo BNU (Banco Nacional Ultramarino), em circulação no meu tempo (c. 1969/71)... Julgo que já existissem no tempo do António Medina (c. 1963/65). Foram 10 notas como esta que ele teve de pagar a um taxista, seu patrício, que ganhou o dia,  levando-o de volta, em junho de 1964, ao quartel onde estava a CART 527, em Teixeira Pinto, depois de uma "deserção" de 3 dias em Bissau... Mil pesos dava para comprar 10 garrafas de uísque velho... (LG)

Imagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2006).


De nome Daniel, simpático, conversador, encheu o depósito do automóvel. Fomos à Pensão Chantre onde troquei as roupas do Autílio por calções e camisa de caqui sem divisas, com o miolo descoberto. À saída pedi à senhora,   minha patrícia e proprietária,  dona Antoninha,  que me desse a minha [pistola metralhadora] FBP  que lhe confiara para guardar em local seguro, o que ela prontamente assim fez,  para depois ser escondida debaixo do assento traseiro do automóvel. 

Guiné, Região do Oio,
Olossato, 1963. CART 527. Fur mil
António Medina, equipado
de pistola metralhadora FBP
Ocupando o assento ao lado do condutor, partimos para a nossa viagem aventura. À chegada a João Landim para se atravessar o Mansoa,  notei a presença de uma nativa de cesto à cabeça, já minha conhecida em Cacheu por vender ostras e camarões no quartel,  pelo que lhe ofereci uma boleia, ocupando o banco traseiro. Logo após o arranque do automóvel, já na outra margem com estrada de terra batida,  pedi então ao condutor que não parasse por razão alguma e que mantivesse uma boa velocidade mais que a habitual mas que lhe permitisse manobrar o automóvel  com segurança.

E assim lá fomos,  debaixo de uma grande tensão,  à espera de sermos emboscados a qualquer momento, o que não aconteceu. Horas depois entrávamos em Teixeira Pinto pela avenida principal, visitando uma pequena cervejaria local para nos refrescarmos com uma Sagres cada um,   antes da minha entrada triunfal (?) no quartel. O táxi tomou então o caminho de regresso sem qualquer incidente até chegar em Bissau.

E O NOSSO CAPITÃO ?

Preparado para ouvir um grande raspanete desse meu comandante, com justa razão vi nele cara de poucos amigos, adiantando ele em me chamar a atenção de já termos sido emboscados naquela mesma estrada, acrescentando que o meu procedimento de aventura indicava que já estava eu APANHADO  (expressão usada para os malucos no exército), desculpando-me eu com a presença dos meus familiares em Bissau, há já  algum tempo sem contacto.

Tinha eu ainda de seguir para Cacheu onde me encontrava aquartelado, ao que ele ordenou que me levassem sob escolta reforçada com duas autometralhadoras, sem nunca tão pouco se referir uma só vez ao assunto de deserção. Estava eu perdoado por tamanha loucura e falta de cumprimento das ordens dos meus superiores.

Meu Comandante, presto-lhe a devida vénia por tamanha compreensão e que Deus o proteja.


2. Comentário de LG:

António, como tive ocasião de to dizer, por email,  é uma história que merece título de caixa alta!... Temos, de há muito (desde 30 de novembro de 2008), uma série chamada "O segredo de...". 

É uma "espécie de confessionário" onde cada de nós pode vir "confessar" pequenos/grandes segredos que tem guardado na "caixinha de Pandora" que é a memória (**)...

Contigo já lá vão 19 postes. Podiam ser mais,  se alguns dos nossos camaradas não se acanhassem, com receio (hoje, injustificado) de serem objeto de crítica ou censura por parte dos seus pares... Como sabes, uma das nossas regras de ouro é não "julgar" o comportamento de nenhum camarada, vivo, incluindo os nossos comandantes operacionais...

Nem sempre é fácil respeitar e fazer respeitar esta regra fundamental do nosso blogue. No teu caso, dá para perceber que o teu coração foi bem mais forte  que a razão... Não ganhaste para o "susto" quando o teu capitão te chamou "à terra", ou mlehor, "à pedra"... Mas deste uma lição de desenrascanço, à boa maneira portuguesa... "All's well that ends well", tudo está bem quando acaba bem...

Arranjei, na Net, esta raridade, que é a capa do primeiro EP que os teus primos gravaram [vd. fotos acima]... Era um conjunto musical, os "Ritmos Caboverdeanos",  bem cotado na época, ao ponto de vir tocar a Dacar, Bissau, Lisboa.... Faz-me o favor de completar a legenda com os nomes dos músicos, na foto abaixo...

E obrigado pela tua partilha... É menos um segredo na tua "caixa de Pandora"... Ficas, por certo, mais aliviado e nós, mais "ricos", em termos de informação e conhecimento sobre aquele tempo e lugar que nos coube na lotaria da história!

Abraço grande!... Luís
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Notas do editor:

(*) António Marques da Silva ("Tony Marques", piano) era um dos fundadores do conjunto "Ritmos Caboverdeanos", da ilha de São Vicente. Havia mais dois irmãos: Lulu Marques (acordeão) e Djosa Marques (bateria)...



Os irmãos Tony Marques (piano) e Djosa Marques (bateria) parecem estar bem identificados, pelo nosso editor LG,  na capa do seu primeiro disco.  O terceiro mano Marques da Silva era o Lulu Marques (acordeão), que pode bem ser o elemento que está à direita do baterista. Restantes elementos: Djack Felicia (viola baixo),  Humberto Bettencourt (viola solo) e  Longino Baptista (voz).

O conjunto está representado em Cap Vert : anthologie 1959-1992 = Cape Verde : anthology 1959-1992 [Paris : Buda Musique, (1992?) ] onde estão representados alguns dos melhores intérpretes da música caboverdiana da segunda metade do séc. XX:

Fernando Quejas; Amândio Cabral; Djosinha; Mité Costa; Titina; Bana; Luis Rendall; Humbertona; Tututa; Taninho; Chico Serra; Morgadinho; Luís Morais; Frank Mimita; Frank Cavaquim; Jon Spedinha; Norberto Tavares; Zézé di Nha Reinalda; Zeca di Nha Reinalda; Caetaninho; Travadinha; Cesária Évora; Celina Pereira; Dany Silva; Boy Ge Mendes; Centaurus; Ritmos Caboverdianos; Voz de Cabo Verde; Conjunto Kola; Tubarões; Bulimundo; Grupo Cultural Mantenha; Finaçon; Cabo Verde Show.

 (**) Últimos cinco postes da série >

26 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13046: O segredo de... (18): O ato mais irresponsável nos meus dois anos de serviço como soldado de artilharia (Vasco Pires, ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72)

23 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12627: O segredo de... (15): Processo concluído (Augusto Silva Santos)

5 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12545: O segredo de... (14): António Graça de Abreu (,ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74): Também fiz o curso de Minas e Armadilhas, em Tancos, ainda em 1971... E até sonhei um dia em ser... bombista!

Primeiro poste da série:

30 de novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3543: O segredo de ... (1): Mário Dias: Xitole, 1965, o encontro de dois amigos inimigos que não constou do relatório de operações