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terça-feira, 8 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20217: Jorge Araújo: ensaio sobre as mortes de militares do Exército no CTIG (1963/74), Condutores Auto-Rodas, devidas a combate, acidente ou doença - Parte III




Foto 1 – Uma das duas GMC's da CCAÇ 423 (São João e Tite: de 22Abr1963 a 29Abr1965) danificadas por efeito do rebentamento de mina anticarro/fornilho colocada na estrada Nova Sintra – Fulacunda. A primeira, em 03 de Julho de 1963 (4.ª feira), no sítio de Bianga. A segunda, em 18 de Julho de 1963 (5.ª feira), no mesmo itinerário. Na sequência destas ocorrências, registaram-se, no total, oito baixas [Vd. quadro acima]




 O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, 
CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, 
indigitado régulo da Tabanca de Almada; 
tem mais de 225 registos no nosso blogue.


ENSAIO SOBRE AS MORTES DE MILITARES DO EXÉRCITO, NO CTIG (1963-1974), DA ESPECIALIDADE DE "CONDUTOR AUTO RODAS": COMBATE, ACIDENTE, DOENÇA (PARTE III)





1. – INTRODUÇÃO


Continuamos a divulgar e a analisar os resultados apurados nesta investigação, tendo por objecto de estudo o universo das "baixas em campanha" de militares do Exército, e como amostra específica os casos de mortes de "condutores auto rodas", ocorridas durante a guerra no CTIG (1963-1974), identificados na literatura "Oficial" publicada pelo Estado-Maior do Exército, conforme demos conta no P20126, o primeiro desta séria.

No segundo – P20179 (*), para além da apresentação de mais quadros e gráficos estatísticos, incluímos os primeiros cinco "casos", escolhidos de forma aleatória, onde foram descritos os contextos e alguns dos factos que podem servir de explicação para cada um dos episódios. Como já referimos anteriormente, esta opção aleatória teve por critério de escolha: datas diferentes, bem como locais, épocas e missões, de modo a fazer-se, se possível, uma análise comparativa entre os acontecimentos.
Porque não o fizemos no fragmento anterior por razões de gestão do espaço, o que irá acontecer agora, retornamos às duas ocorrências (fotos 1) que ficaram na historiografia da guerra como tendo sido as primeiras, por efeito de rebentamento de minas/fornilhos, as quais originaram as oito mortes do quadro acima.

Para esse efeito, socorremo-nos das memórias do camarada Gabriel Moura, do Pel Mort 19, escritas no livro de 2002 - «Tite: 1961/1962/1963, Paz e Guerra» - de que é autor.

Na obra citada, é referido que o Comando em Tite, na sequência do pedido urgente de socorro que lhe foi enviado por uma coluna militar que vinha de S. João, para patrulhar a zona de Buba e Fulacunda, faz sair um pelotão em seu auxílio.

O pedido de ajuda estava relacionado com a missão atribuída à força em trânsito [CCAÇ 423] onde "uma viatura com cerca de 20 militares foi apanhada por uma carga de explosivos [TNT] colocados no chão, projectando a viatura [GMC] a cerca de 30 metros, ficando curvada pela potência dos explosivos que detonou [Deve ser a de 18Jul63]. (…)

"A distância a que se encontravam do nosso aquartelamento [Tite] ainda era de umas dezenas de quilómetros e as restantes viaturas, que não foram apanhadas pela explosão da mina anticarro, não tinham condições de continuar uma vez que não sabiam se havia mais minas colocadas. A nossa missão era bater todo o caminho até lá, fazendo uma inspecção do chão e das margens no sentido de evitar qualquer ataque ou emboscada preparada. O barulho da detonação, apesar da hora a que se deu, era já noite, talvez cerca de 23 horas, foi ouvido em Tite como se de uma coisa próxima se tratasse, quando de facto era a uma distância considerável, tal era a potência do engenho." (pp 91-92).


2. – ANÁLISE DEMOGRÁFICA DAS MORTES DE MILITARES DO EXÉRCITO, NO CTIG (1963-1974), DA ESPECIALIDADE DE "CONDUTOR AUTO RODAS": COMBATE-ACIDENTE-DOENÇA (n=191)


Recordamos que a análise demográfica incluída nesta investigação, e as variáveis com ela relacionada, foi feita a partir dos casos de mortes de militares do Exército durante a guerra no CTIG (1963-1974), da especialidade de "condutor auto rodas", identificados nos "Dados Oficiais", elaborados pela Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974), 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II, Guiné; Livros 1 e 2; 1.ª Edição, Lisboa (2001).




Para contextualizar a análise estatística desta narrativa, lembramos que no estudo foram apurados cento e noventa e um casos de mortes de "condutores auto rodas", do Exército, durante a guerra no CTIG (1963-1974).

Deste universo, as causas de morte foram estratificadas em três variáveis categóricas: combate - acidente - doença, em que na variável "combate" foram registados 112 (58.6%) casos; seguida pela variável "acidente", com 57 (29.9%) casos e, finalmente, a variável "doença", com 22 (11.5%) casos, conforme se indica no gráfico acima.

 



Quanto à variável categórica "combate", o estudo mostra que existem três causas principais (factores) para as mortes:  (i) "em combate" (operações/emboscadas); (ii)  "por minas" (explosivos); e  (iii) "por ataque ao quartel" (aquartelamentos/destacamentos/instalações militares).

Das 112 causas de morte "em combate" (58.6%), n=69 (61.6%) foram "por "contacto" com o IN; n=31 (27.7%) por engenho explosivo e n=12 (10.7%) por consequência de "ataque" IN ao quartel, conforme representação gráfica acima.


3. – MAIS ALGUNS EPISÓDIOS E CONTEXTOS ONDE OCORRERA

MORTES DE CONDUTORES AUTO RODAS ["CAR"] POR EFEITO
DE REBENTAMENTO DE "MINAS"



Neste ponto, continuamos a observar um dos principais objectivos deste trabalho, onde, para além dos números, se recuperam algumas memórias, sempre trágicas, quando estamos em presença de perdas humanas. Assim, e em homenagem a todos os camaradas que tombaram em campanha, apresentaremos, de seguida, mais quatro "casos" (do total de trinta e três), enquadrados pelos contextos conhecidos.

Como principal fonte de consulta, foi utilizado o espólio do blogue, ao qual adicionámos, ainda, outras informações obtidas em informantes considerados privilegiados.


3.6 - 03 DE JUNHO DE 1965: A SEGUNDA BAIXA DE UM "CAR" POR MINA - O CASO DO SOLDADO DOMINGOS JOÃO DE OLIVEIRA CARDOSO, DA CCAÇ 508, ENTRE PONTA VARELA E O XIME



A segunda morte em "combate" de um condutor auto rodas do Exército, por efeito do rebentamento de uma mina ("bailarina") [categoria de "minas"], foi a do soldado Domingos João de Oliveira Cardoso, natural de São Cosme, Gondomar, ocorrida em 03 de Junho de 1965, 3.ª feira, no itinerário entre a Ponta Varela e o Xime. O soldado 'Car' Domingos Cardoso pertencia à CCAÇ 508, uma Unidade mobilizada pelo RI7, de Leiria, chegada a Bissau a 20Jul1963, sob o comando, interino, do Alferes Augusto Cardoso.

Durante a sua comissão de dois anos (20Jul63 a 07Ago65), o contingente da CCAÇ 508 cumpriu importantes missões em dez locais diferentes, como sejam: Bissorã (Ago63-Mai64 - treze meses - sendo substituída pela CART 643); Barro e Bigene (Ago63-Dez63), Olossato (Dez63-Mai64), Bissau e Quinhamel (Set64-Mar65), Bambadinca (Mar65-Abr65, sendo substituída pela CCAV 678) e Galomaro, Xime e Ponta do Inglês (Abr65-Ago65).

Porém, a sua última missão em zona operacional iniciou-se em Março de 1965, com dezoito meses de comissão, ao ser transferida para Bambadinca, onde ficou instalado o Comando, sob a liderança, desde Jul64, do Cap Francisco Xavier Pinheiro Torres Meirelles, assumindo este a responsabilidade do respectivo subsector, com Gr Comb destacados em Xime e Galomaro e ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 697, designado a partir 11Jan65 por Sector L1, sediado, à época, em Fá Mandinga, sob o comando do Tenente-Coronel Mário Serra Dias da Costa Campos.

Em 16Abr65, a CCAÇ 508, ao ser substituída pela CCAV 678, foi deslocada para o Xime, tendo assumido a responsabilidade do respectivo subsector, criado nessa data, com grupos de combate destacados em Ponta do Inglês e Galomaro.



Recordo que o tema relacionado com os factos ocorridos em 03 de Junho de 1965, perto da Tabanca de Ponta Varela, na estrada Xime-Ponta do Inglês (infogravura acima), local onde se verificaram quatro baixas no contingente da CCAÇ 508, como consequência de ter sido accionado um engenho explosivo, já foi devidamente abordado em narrativas anteriores, estas associadas com a morte do Cap Francisco Meirelles (1938-1965), tendo como principal fonte de consulta e análise, o livro publicado em sua memória pela sua família (pp 8-11). [vidé P19597; P19613; P19640; P19656 e P19687].



Foto 2 – Ponta Varela (Xime), 03JUN1965. Momento antes da explosão que originou quatro mortes nos efectivos da CCAÇ 508. O Cap Francisco Meirelles (à esquerda) junto do Domingos Cardoso que, segundo julgo saber, era o seu condutor. [P19640]


Entretanto, neste contexto, é oportuno recuperar alguns factos que estiveram ligados às suas mortes, enquadrando-os na situação particular do camarada Domingos Cardoso.

Sabe-se hoje, pela literatura consultada, que a visita de uma equipa de reportagem da Radiotelevisão Portuguesa {RTP] ao Xime, constituída pelos técnicos Afonso Silva (operador) e Luís Miranda (realizador) tinha por objectivo principal recolher imagens e depoimentos sobre a detecção de minas. Tal interesse nascera do facto de naquela zona – Xime-Ponta Varela-Ponta do Inglês – ser muito frequente a colocação de engenhos explosivos por parte dos guerrilheiros do PAIGC, comprovado pelas cerca de quatro dezenas de minas detectadas e levantadas pelas NT, entre Março e Maio de 1965.

Coube essa particular missão ao capitão Francisco Meirelles, na qualidade de Cmdt da CCAÇ 508, ficando decidido que a mesma teria lugar no dia 03 de Junho de 1965, 3.ª feira. Como combinado, as forças destacadas para a missão, os repórteres da RTP e alguns oficiais superiores responsáveis pelo Sector L1 deram início ao compromisso assumido superiormente.

Logo ao 2.º km do Xime, o primeiro percalço: foi detectada uma mina anticarro  [mina A/C]  [foto 3, ao lado]. Como os trabalhos de levantamento da mina demorassem, o capitão Francisco Meirelles propôs ao major Abeilard Martins, 2.º Comandante do Batalhão 697 [BCAÇ 697], irem a pé até à tabanca de Ponta Varela, pois queria mostrar a conveniência da sua reocupação pelos nativos, em regime de auto-defesa, reocupando-se dessa forma uma região muito fértil. Ficariam assim os Comandos a dispor de mais um ponto de observação e de vigilância, e também dificultada a colocação de minas naquela zona.

A sugestão foi aceite. Partiram, então, aqueles oficiais, juntamente com o major Afonso, do Estado Maior do Comando Chefe, que acompanhava os operadores da TV, com o régulo da tabanca de Ponta Varela, com alguns pisteiros indígenas e com duas ou três secções que seguiam nos flancos. Percorridos os 4 ou 5 kms que distam de Ponta Varela, foi esta povoação observada minuciosamente bem como os pontos de defesa e apreciado o panorama do Canal do Geba e dos planos que o ladeiam.

Como fosse perto do meio-dia foi iniciado o caminho do regresso ao Xime. A umas centenas de metros da tabanca de Ponta Varela rebentou repentinamente uma mina antipessoal [, mina A/P], vulgo "bailarina". A mina ao rebentar ocasionou a morte instantânea do soldado condutor auto rodas Domingos João de Oliveira Cardoso, do 1.º cabo José Maria dos Santos Corbacho, natural de São Pedro e Santiago, Torres Vedras e o soldado indígena Braima Turé, natural do Xime. O capitão Francisco Meirelles ficou gravemente ferido na garganta e no tórax, vindo a falecer vinte minutos após a explosão.

Em função da violência da detonação, os corpos dos dois primeiros militares foram sepultados no Cemitério de Bafatá.


3.7 - O CASO DO SOLDADO 'CAR' ALBERTO TEIXEIRA SANTOS, DO PEL REC DAIMLER  1077, EM 28.OUT.1966, ENTRE CAMECONDE E CACINE


A morte em "combate" do soldado condutor auto rodas Alberto Teixeira dos Santos, natural de Vidago, Chaves, ocorreu no dia 28 de Outubro de 1966, 6.ª feira, durante a «Operação Renascença», por efeito do rebentamento de uma mina, no itinerário Cameconde-Cacine, quando as forças no terreno procediam ao socorro de alguns feridos provocados por outros engenhos explosivos, nomeadamente minas A/P, e depois de ter sido detectada e levantada na mesma zona uma mina A/C.

O soldado "CAR" Alberto Teixeira dos Santos pertencia ao Pelotão de Reconhecimento Daimler 1077 (Fev66 a Nov67), Unidade sem qualquer referência no blogue.

Daí que, para a elaboração deste fragmento foi utilizada, como principal fonte de consulta, a literatura Oficial publicada pelo Estado-Maior do Exército, elaborada pela Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974), 6.º Volume, Aspectos da Actividade Operacional, Tomo I, Guiné, Livro 1, 1.ª Edição, Lisboa (2014), p417, à qual adicionámos outras informações pontuais para alargar o âmbito temático.



 «OPERAÇÃO RENASCENÇA» - 28 DE OUTUBRO DE 1966


A operação em título foi programada pelo Batalhão de Caçadores 1861 (BCAÇ 1861) [18Ago65-17Abr67], sob a liderança do TCor Inf Alfredo Henriques Baeta, Unidade que sucedera ao BCAÇ 600, em 25Ago65, assumindo a partir desta data a responsabilidade do Sector Sul 2 [S2], com sede em Buba e abrangendo os subsectores de Aldeia Formosa, Guileje, Gadamael, Sangonhá, Cacine, (cuja sede passou para Cameconde no início de Dez66) e Buba. A partir de 23Out66, foi reforçado com uma companhia [CCAÇ 1477], que se instalou em Mejo.

A realização desta operação no dia 28Out66, no território de Quitafine, previa, sobretudo, acções ofensivas nas regiões de 'Cambeque' - 'Cassaprica' - 'Cabaz Balanta' - 'Cabaz Sosso' e 'Caboma', e outra acção secundária na direcção de 'Cabonepo', localidades indicadas na infografia abaixo.

Para cumprir esses objectivos, foram mobilizadas as seguintes forças:


► CCAÇ 779 (28Abr65-20Jan67) do Cap Inf José Manuel da Silva Viegas. Assumiu a responsabilidade do subsector de Cacine desde 10Jun65, por troca com a CART 496, com um destacamento em Cameconde, para onde já deslocara um Gr Comb em 08Jun65, e que seguidamente foi reforçado com um segundo Gr Comb. Ficou integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 600 e depois do BCAÇ 1861.

► CCAÇ 1477 (26Out65-27Jul67) do Cap Inf Waldemar Sesinando Monteiro Batista (1.º) e Cap Inf José Alberto Cardeira Rino (2.º). Assumiu a responsabilidade do subsector de Sangonhá desde 14Jan66, após a sobreposição com a CART 640, com dois Grs Comb em Sangonhá e Cacoca, respectivamente. Ficou integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1861 e depois do BART 1896.

► CCAÇ 1488 (26Out65-01Ago67) do Cap Inf António Manuel Rodrigues Cardoso. Em 12Out66, por rotação com a CCAÇ 1438, terminou o deslocamento para Colibuia, iniciado em 29Set66, com um Gr Comb destacado em Nhala, a fim de reforçar o BCAÇ 1861 na missão de execução de um plano de emboscadas continuadas no corredor de Guileje, em coordenação com outras subunidades.

► CCAÇ 1567 (13Mai66-17Jan68) do Cap Mil Inf João Renato de Moura Colmonero. Unidade de reforço na manobra do BCAÇ 1861.

► Para além das Unidades acima, participaram, ainda, o PSap do BCAÇ 1861 e o Pel Rec Daimler 1077, bem como os apoios de Artilharia, Aéreo e Naval.




Mapa da região de Quitafine, onde decorreu a «Operação Renascença»



Desenrolar das acções (síntese):


Em 28 de Outubro de 1966, 6.ª feira, deu-se início à «Operação Renascença». À saída de Tanene, o IN emboscou as NT, tendo retirado perante a reacção destas. Próximo de Cameconde, foi detectada uma mina A/P  de salto e fragmentação, que foi rebentada no local. A cerca de 1 km de Cabaz Balanta explodiram várias minas A/P que causaram às NT seis feridos.

Na progressão para Caboma, na sequência do contacto com o IN, foi-lhe capturada uma espingarda e material diverso, do qual resultou 1 morto e outras baixas prováveis. Na orla da bolanha de Caboma foram destruídas oito casas de mato. Quando seguiam para Cabaz Sosso, as NT foram emboscadas, sofrendo um morto (guia nativo) e cinco feridos. Na reacção, o IN sofreu um morto e a captura de duas granadas de mão.

A cerca de cinquenta metros para além de Caboxanquezinho foi detectada e levantada uma mina . Alguns metros depois as NT accionaram duas minas A/P  implantadas no meio da picada e simultaneamente, já no interior da mata, dois fornilhos causaram às NT quatro mortos e dez feridos. Os cinco mortos eram elementos da CCAÇ 799, de recrutamento local, a saber: Amadú Baldé e Sacamissa Quetá, de Fulacunda; Alfa Djaló, da Ilha Formosa; Gale Jaló, de Bafatá e Opa Colubali, de Catió.

Quando se socorriam os feridos foi accionada nova mina A/P , a poucos metros da mina mina A/C anteriormente levantada, sofrendo as NT mais um morto – o soldado condutor auto rodas Alberto Teixeira dos Santos, do Pel Rec Daimler 1077 – e mais dois feridos.

Depois desta narrativa, sempre muito difícil de descrever e mais ainda de comentar, importa agora dar conta de uma outra, esta bem mais interessante e relevante no contexto da guerra.

Embora não seja caso único, em função de experiência feita, o desenrolar da «Operação Renascença» permitiu sinalizar os valores da solidariedade, da camaradagem e do companheirismo, entre outros, em defesa da vida, que era uma das duas faces da mesma moeda naquele contexto.

A história é a do soldado condutor auto rodas José dos Santos Pedrosa, da CCAÇ 1567. Este, ao aperceber-se de que a sua Unidade tinha apenas um 1.º cabo "maqueiro", logo se ofereceu como voluntário para ajudar o seu camarada sempre que fosse preciso. Ao ter conhecimento da sua disponibilidade, o seu Cmdt - Capitão João Colmonero - concordou com a troca, deixando este de actuar como condutor.

Ora, em função do seu desempenho na «Operação Renascença», foi-lhe atribuída uma condecoração – a medalha de Mérito Militar, bem como concedido um louvor, cujo teor se transcreve:


"Louvado [José dos Santos Pedrosa] porque não sendo um elemento da especialidade de  enfermagem, mas possuindo alguns conhecimentos do mesmo ramo, graças à sua vontade e intuição para tal, foi no decurso da OPERAÇÃO RENASCENÇA um óptimo auxiliar do pessoal enfermeiro, acorrendo a todos os lugares onde era preciso, indiferente ao perigo que a sua constante movimentação o expunha; foi ainda já na viagem de regresso das NT, após a operação, o mesmo elemento incansável, indo buscar, no fundo do seu Ser energias quase impossíveis de admitir, para com a sua acção proceder à recuperação física dos elementos mais necessitados: demonstrou com este sublime exemplo a sua solidariedade para com os camaradas, sendo o soldado Pedrosa, já antecedentemente apontado como militar cumpridor e correcto, merecendo a estima de camaradas e superiores". - Ordem de Serviço 261 de 22/11/1966 do BCaç 1876/CCaç 1567 [cuja divisa era: "No exemplo estará nossa glória".]

Fonte: combatentesdeavintes.blogspot.com/2011/03/jose-dos-santos-pedrosa-guine.html


3.8 - O CASO DO SOLDADO 'CAR' MANUEL PINTO DE CASTRO, DA CART 1661, EM 16.SET.1967, ENTRE PORTO GOLE E MAMBONCÓ


A morte em "combate" do soldado condutor auto rodas Manuel Pinto de Castro, natural de Lobão, Vila da Feira, a nona na "categoria de minas", verificou-se no dia 16 de Setembro de 1967, sábado, no cruzamento de Mansoa, na Estrada de Mamboncó-Porto Gole, por efeito do rebentamento de uma mina A/C, ocorrida no regresso de uma coluna realizada a Porto Gole visando, por um lado, deixar um graduado que estava em trânsito para cumprir o seu período de férias na metrópole, e, por outro, aproveitar essa oportunidade para transportar alguns géneros alimentícios e medicamentos para o destacamento de Bissá.

O soldado "CAR" Manuel Castro pertencia à CART 1661 (06Fev67 a 19Nov68) comandada pelo Cap Mil Luís Vassalo Namorado Rosa (1.º); Alf Mil Art Fernando António de Sá (2.º) e Cap Art Manuel Jorge Dias de Sousa Figueiredo (3.º).

Do ponto de vista da missão, esta Unidade deslocou-se para Fá Mandinga em 06Fev67, para substituir a CCAÇ 818 e realizar um curto período de adaptação operacional, sob a orientação do BCAÇ 1888, a ter lugar nas regiões do Xime, Enxalé e Xitole até 08Mar67.

Após rotação, por fracções, com a CCAÇ 1439, a CART 1661 assumiu em 03Abr67 a responsabilidade do subsector de Enxalé, com Gr Comb destacados em Missirá, Porto Gole e Bissá, mantendo-se integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1888 e a partir de 01Jul67 do BCAÇ 1912, por alteração dos limites dos sectores daqueles Batalhões.


Para historiar esta ocorrência foram importantes as consultas ao livro (Diário do autor) do camarada Abel de Jesus Carreira Rei «Entre o Paraíso e o Inferno: De Fá a Bissá: Memórias da Guiné, 1967/1968», edição de autor. Lousa. 2002, conforme capa ao lado.

Analisados os apontamentos explícitos no diário (livro) do Abel Rei, redigidos no dia 16 de Setembro de 1967, sábado, em Bissá, retivemos alguns detalhes:

"Às nove e tal da manhã dava-se o primeiro grande "acidente" da companhia [CCaç 1661]. Balanço quatro mortos, sendo dois brancos e dois pretos, e mais treze feridos graves; uma viatura em pedaços; e diversos materiais estragados!"

Os mortos foram: soldado 'Car' Manuel Freitas de Castro, da CART 1661, natural de Lobão, Vila da Feira, e o furriel Álvaro Maria Valentim Antunes, do Pel Caç Nat 54, natural de São Lourenço, Portalegre, ambos continentais, e do recrutamento local, Mamadu Jamanca e Adulai Sissé, do Pel Caç Nat 54, ambos naturais de Bissorã.

Continua: "Uma viatura "pisava" a primeira mina. E íamos fazer oito meses, que nós andávamos a pisar estradas da Guiné! A coluna [foi] feita para levar o furriel "meu vizinho" à Metrópole, em férias – ou melhor, até Porto Gole, para daí seguir para Bissau – trazia-mos géneros e medicamentos, indo tudo pelos ares.

"Morreu o condutor de nome [Manuel Pinto de] Castro, bastante meu amigo e o comandante da coluna, e meu amigo também, furriel [Álvaro Maria Valentim] Antunes, que conhecia a Marinha Grande, tendo já lá trabalhado, pelo que me contou um dia. (…)

"De salientar o espírito de sacrifício com que andaram os sete quilómetros que faltavam até cá [Bissá], mesmo debaixo de fogo, trazendo a notícia de tão grave acontecimento, vindo um deles, o cabo nativo Ananias, com uma perna aberta e os ossos à mostra e um pulso partido, além de outros também bastante amassados, pois andaram pelos ares, e caíram de qualquer maneira, ficando ainda alguns debaixo da viatura que se virou ao contrário, ao lado do buraco, com mais de três metros de diâmetro, originado pela explosão da mina."

Sobre a possibilidade e interesse em publicar uma foto desta ocorrência, dos contactos realizados concluímos que dela não existem registos, o que se lamenta.

Sobre este acontecimento ver, também, o P4858.

 

3.9 - O CASO DO SOLDADO 'CAR' MANUEL DOS SANTOS CRAVO, DA CART 2340, EM 26.MAR.68, ENTRE JUMBEMBEM E CUNTIMA

 

A morte em "combate" do soldado condutor auto rodas Manuel dos Santos Cravo, natural de Febres, Cantanhede, ocorreu às 22h20 do dia 26 de Março de 1968, 3.ª feira, por efeito do rebentamento de uma mina A/C, no itinerário Jumbembem e Cuntima, durante o deslocamento da força militar que ia participar na «Operação Onça Parda - 26 e 27 de Março'68». Para além desta baixa, verificada na última viatura da coluna, ficaram feridos mais doze elementos dessa força, dos quais três considerados graves.

O Manuel Cravo pertencia à CART 2340, do Cap Mil Art Joaquim Lúcio Ferreira Neto, cuja comissão decorreu entre 15Jan68, chegada a Bissau, e 03Nov69, embarque para a Metrópole (Lisboa). Esta Unidade deu início à sua actividade operacional em 23Jan68, assumindo a responsabilidade do subsector de Canjambari, com dois Grs Comb no destacamento de Jumbembem, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1932 e depois do COP 3.

Para a elaboração deste ponto foram fundamentais os relatos publicados no P2075 «História da CART 2340» pelo seu Cmdt, ex-Cap Mil Joaquim Ferreira Neto, do qual retiramos a imagem abaixo.

 


Foto 4 - O Unimog da CART 2340 destruído por mina A/C, do P2705, 
com a devida vénia.

(Continua)


Fontes Consultadas:

 Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2001); pp 23-569.

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 2; 1.ª edição, Lisboa (2001); pp 23-304.

Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.
Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

28Set2019
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Nota do editor:

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Guiné 61/74 - P20179: Jorge Araújo: ensaio sobre as mortes de militares do Exército no CTIG (1963/74), Condutores Auto-Rodas, devidas a combate, acidente ou doença - Parte II


Foto 1 – Estado em que ficou a GMC da CCAÇ 423 (São João e Tite: de 22Abr1963 a 29Abr1965) por efeito do rebentamento de uma mina/fornilho [a segunda da historiografia da Guerra], colocada na estrada Nova Sintra - Fulacunda, accionada em 18 de Julho de 1963 (5.ª feira), de que resultou a morte do Ten Mil Inf Carlos Eduardo Afonso de Azevedo, natural de Nossa Senhora do Carmo, Luanda (Angola).

Recorda-se que a primeira mina/fornilho accionada no CTIG ocorreu às 09h00 do dia 03 de Julho de 1963 (4.ª feira), no mesmo itinerário acima, no sítio de Bianga, tendo-se verificado quatro baixas no contingente da CCAÇ 423, a saber: 1.º cabo António Augusto Esteves Magalhães, natural de Amares; soldado Alberto dos Santos Monteiro, de Soutelo, Rio Tinto, Gondomar; soldado José Isidro Marques, de Alguber, Cadaval, e o fur Inf Hércules Arcádio de Sousa Lobo, natural de Nossa Senhora das Dores, Ilha do Sal (Cabo Verde). Este último militar seria evacuado para o HMP, em Lisboa, vindo aí a falecer em 16 do mesmo mês. Foi sepultado no Cemitério do Alto de São João, em Lisboa [Poste P17522]


Mapa do itinerário entre Nova Sintra e Fulacunda, assinalando-se BIANGA como sendo o local onde foi accionada a primeira mina/fornilho da historiografia da Guerra no CTIG.





O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, indigitado régulo da Tabanca de Almada; tem 225 registos no nosso blogue.



ENSAIO SOBRE AS MORTES DE MILITARES DO EXÉRCITO, NO CTIG (1963-1974), DA ESPECIALIDADE DE "CONDUTOR AUTO RODAS": COMBATE, ACIDENTE, DOENÇA (PARTE II)


1. – INTRODUÇÃO

No poste  P20126 (*)  demos início à divulgação e análise dos primeiros resultados obtidos no novo projecto de investigação, tendo por objecto de estudo o universo das "baixas em campanha" de militares do Exército, e como amostra específica os casos de mortes de "condutores auto rodas", ocorridas durante a guerra no CTIG (1963-1974), identificados na literatura "Oficial" publicada pelo Estado-Maior do Exército.

Recordo que,  para além da colecta e organização quantitativa dos dados, um outro objectivo incluía a possibilidade de os completar com partes de algumas narrativas históricas, produzidas por cada um dos sujeitos nelas envolvidas, com recurso às memórias postadas no blogue e a outras que, por via do seu aprofundamento, encontrámos em diversos lugares. Estas serão abordadas nos diferentes fragmentos.

A opção por esta "especialidade" do organograma da organização militar foi influenciada pelo facto da primeira morte em combate ter sido a de um "condutor auto rodas" – Veríssimo Godinho Ramos, natural de Vale de Cavalos, Chamusca – episódio ocorrido durante o ataque ao aquartelamento de Tite, em 23 de Janeiro de 1963, quando este cumpria o seu serviço de vigia noturno, contexto abordado no primeiro poste.

Porque se trata, como referido, de um "ensaio", o resultado final pode vir a ser alterado em função de outras informações complementares que possam surgir após a avaliação realizada por cada um de vós. A esta situação acresce, ainda, o facto de existirem registados, nos Dados Oficiais, óbitos onde consta somente o posto do militar falecido.

2. – ANÁLISE DEMOGRÁFICA DAS MORTES DE MILITARES DO EXÉRCITO, NO CTIG (1963-1974), DA ESPECIALIDADE DE "CONDUTOR AUTO RODAS": COMBATE-ACIDENTE-DOENÇA (n=191)

A análise demográfica desta investigação, e as variáveis com ela relacionada, incidiu sobre os casos de mortes de militares do Exército da especialidade de "condutor auto rodas", ocorridas durante a guerra no CTIG (1963-1974), e identificados nos "Dados Oficiais" publicados pelo Estado-Maior do Exército, elaborados pela Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974), 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II, Guiné; Livros 1 e 2; 1.ª Edição, Lisboa (2001).

O tratamento estatístico, iniciado no primeiro fragmento, continuará a ser representado por gráficos e
quadros de distribuição de frequências, simples e acumuladas, conforme se indica em cada um dos títulos. 

Considerando a análise apresentada no primeiro fragmento, o estudo mostra que dos 191 indivíduos que constituíram a população deste estudo, 178 (93.2%) dos casos eram soldados, enquanto 13 (6.8%) casos eram 1.ºs Cabos [gráfico acima].

Deste grupo populacional, verifica-se que o número total de condutores auto rodas do Exército que morreram no CTIG (1963-1974), 171 (89.5%) eram militares continentais, enquanto 20 (10.5%) eram do recrutamento local. Quanto ao número de continentais, 162 (94.7%) eram soldados e 9 (5.3%) eram 1.ºs cabos. No âmbito do recrutamento local, 16 (80%) eram soldados, enquanto 4 (20%) eram 1.ºs cabos. (Gráfico a seguir)



3. – ALGUNS EPISÓDIOS E CONTEXTOS ONDE OCORRERAM MORTES DE CONDUTORES AUTO RODAS ["CAR"] POR EFEITO DE REBENTAMENTO DE "MINAS"

Neste ponto, em homenagem a todos os camaradas que tombaram em campanha - reforçada com os comentários do poste anterior - foram recuperadas algumas narrativas históricas sobre cada um dos cinco "casos" identificados neste fragmento (do total de trinta e três casos), bem como dos seus contextos conhecidos. 

Como principal fonte de consulta, foi utilizado o espólio do blogue, ao qual adicionámos, ainda, outras informações obtidas em informantes considerados privilegiados.

Do total de 191 mortes de condutores auto rodas apuradas no período em análise (1963-1974), (n=112) tiveram origem no conceito de "combate" (58.6%), dividido por três categorias: (n=67) em "contacto" (emboscadas…) (59.8%), (n=33) por "minas" (engenhos explosivos…) (29.5%) e (n=12) em "ataque ao quartel" (aquartelamento, destacamento..) (10.7%), conforme se indica no quadro abaixo. [Nota: este quadro foi corrigido em função da análise dos registos oficiais quando comparados com a descrição das narrativas].




Quadro 1 – Quadro das causas de morte em "combate" de condutores auto rodas do Exército, por ano e por categorias (1963-1974) – (n=112)




Lista dos trinta e três "condutores auto rodas" que tombaram por efeito de "minas e/ou explosivos" durante o período em análise.


3.1 - 05 DE NOVEMBRO DE 1963: A PRIMEIRA BAIXA DE UM "CAR" POR MINA A/C - O CASO DO SOLDADO DOMINGOS RODRIGUES TORRES, DA CCAÇ 510, ENTRE XITOLE E BAMBADINCA

A primeira morte de um condutor auto rodas, do Exército, em "combate", por efeito do rebentamento de uma mina anticarro [categoria de "minas"], foi a do soldado Domingos Rodrigues Torres, natural de Santa Maria Maior, Viana do Castelo, ocorrida em 05 de Novembro de 1963, 3.ª feira, no itinerário entre o Xitole e Bambadinca (Sector L1).

Pertencia à CCAÇ 510, do Cap Inf João Fernandes da Ressurreição, cuja comissão decorreu entre 20Jul63, chegada a Bissau, e 07Ago65, embarque para a Metrópole (Lisboa). Do ponto de vista da missão, esta Unidade, em 10Ago63, assumiu a responsabilidade do sector de Xitole, então criado, com um Gr Comb destacado em Saltinho, tendo substituído os efectivos da CCAÇ 412 (09Abr63-29Abr65, do Cap Inf Manuel Joaquim Gonçalves Braga) ali estacionados e ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 506 e depois do BCAÇ 697. Por períodos variáveis, destacou forças para guarnecer outras localidades e pontos sensíveis da sua zona de acção [ZA], nomeadamente Quirafo, Camamungo, Cossé, Galomaro e a ponte do rio Pulom, entre outras. Os seus Grs Comb tomaram parte em acções de reforço das guarnições de Canquelifá, Ponta Varela e Ponta do Inglês. Em 16Jul65, foi rendida pela CCAÇ 818 [26Mai65-08Fev67, do Cap Inf José Manuel Pires Ramalho (1º) e do Cap Inf Humberto Amaro Vieira Nascimento (2º)], recolhendo a Bissau, onde permaneceu até ao embarque.

Porque nada consta no espólio de memórias publicadas no blogue, acerca da CCAÇ 510, tomei a iniciativa de recuperar uma imagem do mesmo itinerário Bambadinca-Xitole onde ao longo do conflito foram accionadas várias minas, como foi o exemplo seleccionado.


Foto 2 – Uma viatura civil, na Estrada (de terra batida) Bambadinca-Mansambo-Xitole, transportando cunhetes de granadas e, em cima, pessoal civil.

[Nessa mesma estrada, em 18 de Setembro de 1969, 5.ª feira, uma GMC da CCAÇ 2590 (CCAÇ 12; do camarada Luís Graça), com três toneladas de arroz, foi destruída por uma mina anticarro na ponte do rio Jago. Este itinerário, com cerca de trinta quilómetros, era a única via terrestre por onde se faziam as colunas logísticas de reabastecimento. [Poste P7354 e foto do Humberto Reis, com a devida vénia].


3.2 - O CASO DO SOLDADO 'CAR' PAULO LIMA, DO PRECD 1129, EM 12.FEV.68, ENTRE CHÉ-CHE E CANJADUDE


A morte em "combate" do soldado condutor auto rodas Paulo Lima, do Pelotão de Reconhecimento Daimler 1129, ocorrida em 12 de Fevereiro de 1968, 2.ª feira, por efeito do rebentamento de uma mina anticarro, accionada no itinerário entre o Ché-Che e Canjadude (Sector Leste), consta do espólio de memórias publicadas no blogue [P13437], sendo considerada, do ponto de vista cronológico, como a décima sexta baixa registada na categoria de "minas".
Tendo em consideração os objectivos do presente trabalho, recuperámos, a propósito desta ocorrência, o que consta no "Diário da CART 1742", da autoria de Mário dos Anjos Teixeira Alves, 1.º Cabo Corneteiro, à qual lhe adicionámos mais algumas informações consideradas complementares.

Nos seus registos do dia 12Fev68, é referido o seguinte:

"Chegou a companhia [CART 1742, "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, de Set67 a Mai69, sob o comando do Cap Mil Inf Álvaro Lereno Cohen] da escolta a Béli, que fica na zona de Madina [do Boé]. No regresso, hoje de manhã, entre o Ché-Che e Canjadude, uma mina rebentou debaixo de uma das Daimler [do PRecD 1129; Nova Lamego, Ago66 a Mai68]. Morreu o condutor [Paulo Lima, natural de Cepões, Lamego] e o apontador ficou gravemente ferido, eram do pelotão Daimler [1129], que estavam prestes a ir embora. O IN não ataca a escolta, porque a aviação faz [fez] segurança voando sobre o trajecto que era percorrido pela companhia."



Foto 3 - A Daimler do P13437, com a devida vénia.


3.3 - O CASO DO SOLDADO 'CAR' ARMINDO RIBEIRO DE SOUSA, DA CÇAÇ 1792, EM 14.JUL.68, ENTRE ALDEIA FORMOSA E BUBA


De acordo com o tratamento de dados realizado neste "ensaio", a morte em "combate" do soldado condutor auto rodas Armindo Ribeiro de Sousa, natural de Caramos, Felgueiras, pertencente à CCAÇ 1792 [02Nov67-20Ago69; do Cap Mil Art António Manuel Conceição Henriques (1.º)], ocorrida em 14 de Julho de 1968, domingo, no decurso da coluna de reabastecimentos entre Aldeia Formosa e Buba, foi a décima nona baixa na categoria de "minas" e aconteceu a quinhentos metros de Uane, na Região de Tombali.

A descrição desta ocorrência consta na resenha histórica do Batalhão de Caçadores 2834 [BCAÇ 2834; Buba (15Jan68-23Nov69) do TCor Inf Carlos Barroso Hipólito], em documento elaborado pelo 1.º Cabo Escriturário Francisco dos Santos Gomes, e disponível no sitio: https://guine6869. wordpress.com/historia-do-bcac2834/

Nele encontrámos o seguinte relato:

"Em 14 de Julho de 1968 [domingo], durante a coluna de reabastecimentos Aldeia Formosa/ /Buba/Aldeia Formosa, foi accionada pela 1.ª viatura da CCAÇ 1792 uma mina anticarro, na estrada Sare Donha causando 3 mortos (1 Sarg) e três feridos às NT e a destruição da viatura. [Os mortos foram: Soldado "CAR" Armindo Ribeiro de Sousa; Fur Inf Carlos Alberto de Sampaio e Melo Valente, de Izeda, Bragança e o Caç Nat Mamadu Uri Bari, de Aldeia Formosa]. Quanto às causas da morte do Caç Nat é mencionado de que este accionou uma mina anticarro, com dispositivo antipessoal, ficando pulverizado."



No decurso da presente investigação, encontrámos no poste  P5304 «As minhas memórias da guerra» do camarada Arménio Estorninho, uma fotografia de Aldeia Formosa, com data de Julho de 1968, pertencente à CCAÇ 1792, com uma viatura destruída por mina anticarro.



Foto 4 – Aldeia Formosa (Quebo) – Julho de 1968. A viatura destruída por mina a/c. Esta (?) era a da Rádio de Transmissões, tendo ocasionado a morte do Operador [Será que foi o Soldado Radiotelegrafista Joaquim Barreira, do PRecFox 2022? Na sua ficha de óbito consta a data de 24/07/68, um dia antes da indicada no poste. Era natural da Freguesia do Socorro, Lisboa. É referido, ainda, que a mina anticarro foi accionada em Bolola]. Será que estamos a sinalizar a mesma situação? 


3.4 - O CASO DO SOLDADO 'CAR' MANUEL JOSÉ COELHO PARREIRA, DA CART 2439, EM 07.OUT.69, ENTRE DUNANE E CANQUELIFÁ

Este episódio, de que resultou a morte em "combate" do soldado condutor auto rodas Manuel José Coelho Parreira, natural de Faro do Alentejo, Cuba, da CART 2439 [Canquelifá; 15Nov68-05Out70, do Cap Mil Art António Regêncio Martins Ferreira (1.º)] – a vigésima quinta baixa de um 'CAR' na categoria de "minas" – é-nos relatado pelo furriel João Maria Pereira da Costa, da CCS/BART 2857 (Piche; 15Nov68-05Out70, do TCor Art José João Neves Cardoso), nos seguintes termos:

"No dia 07 de Outubro de 1969 [3.ª feira], pelas 06h30, saiu de Canquelifá para Dunane, uma coluna, como sempre, precedida por uma equipa de picadores, acompanhada de dois Grs Comb da CART 2479, um que ficou ao longo do itinerário montando segurança, outro que acompanhou até ao limite do subsector. Nada de anormal foi notado, tendo a coluna e o pessoal da segurança, regressado ao Aquartelamento, cerca das 12h00.

"Às 15h00, nova coluna saiu de Canquelifá para Dunane, decorrendo o percurso sem incidentes. Mas, no regresso, a cerca de 2 km do Aquartelamento, uma segunda viatura accionou uma mina anticarro reforçada, tendo ficado quase destruída, e gravemente feridos todos aqueles que nela seguiam. O rebentamento foi ouvido no Aquartelamento cerca das 16h30..


Foto 5 – Blogue do BART 2857, com a devida vénia


"Depois chegava uma viatura GMC que vinha à testa da coluna, e que passara no local sem accionar a mina, informando do que sucedera e pedindo socorros, pelo que saiu, imediatamente uma força constituída por um Gr Comb, duas Secções de Picadores e Pessoal de Enfermagem, tendo-se cruzado com um Unimog que trazia alguns feridos, pois ficara um, no local do desastre, entalado debaixo da viatura. Montada a segurança, iniciou-se uma picagem da zona, ao mesmo tempo que se libertava dos destroços, o ferido que faltava socorrer.

"Depois, já quase noite, ao reorganizar-se a coluna de regresso, um Unimog accionou outra mina anticarro, não detectada, sobre a qual já haviam passado várias viaturas, daí resultando mais feridos e a destruição daquela. Finalmente posta em movimento, uma coluna regressou ao Aquartelamento pelas dezanove horas, com cinco baixas, quatro da CART 2439, sendo um o soldado condutor Manuel José Coelho Parreira e os restantes, o 1.º cabo enf.º José Manuel Justino Laranjo, de São José da Lameirosa, Coruche; o soldado Joaquim Teixeira de Carvalho, de Solveira, Montalegre; e o soldado Manuel de Jesus Ferreira, de Cristelo, Barcelos, e, ainda, o soldado de Recrutamento Local, Satoné Colubali, natural de Bentém, Nova Lamego, da CART 2479."-



Foto 6 – Blogue do BART 2857,  com a devida vénia.


3.5 - O CASO DO SOLDADO 'CAR' MANUEL GUERREIRO JORGE, DA CCS/BCAÇ 2852, EM 16.OUT.69, ENTRE FINETE E MISSIRÁ

Esta última circunstância, seleccionada para constar no presente fragmento, está relacionada com a morte em "combate" do soldado condutor auto rodas Manuel Guerreiro Jorge, natural de Santana da Serra, Ourique, ocorrida no dia 16 de Outubro de 1969, 5.ª feira, por efeito do rebentamento de uma mina anticarro, na zona de Canturé, na Estrada Finete-Missirá, durante o regresso de uma coluna de reabastecimento realizada pelo PCaçNat 52, entre o destacamento de Missirá e Bambadinca.
O condutor Manuel Jorge pertencia à CCS/BCAÇ 2852 [30Jul68-16Jun70, do TCor Inf Manuel Maria Pimentel Bastos (1.º)], unidade que, ao render o BART 1904 (18Jan67-31Out68, do TCor Art Fernando da Silva Branco), em 16Out68 assumiu a responsabilidade pelo Sector L1, com sede em Bambadinca, abrangendo os subsectores de Xime, Xitole e Bambadinca. Este condutor estava em missão de serviço do PCaçNat 52, cujo Cmdt era, então, o Alf Mil Beja Santos (Missirá e Bambadinca, 1968/1970), que seguia nessa coluna e que viveu um "monumental sobressalto", como se pode inferir da descrição que o próprio partilhou no blogue no P2270 «Operação Macaréu à vista – Parte II: e de súbito uma explosão, uma emboscada, um caos…». 

Sugiro a sua leitura na íntegra, pela impossibilidade de a repetir neste contexto. 


Foto 7 – O Beja Santos, Cmdt do PCaçNat 52, acompanhado com mais alguns militares da sua unidade, num Unimog conduzido por um dos condutores auto rodas da CCS do BCaç 2852, dias antes da ocorrência. Foto do P2270, do camarada Beja Santos, com a devida vénia.

Do "diário" desse dia, elaborado pelo camarada Beja Santos, retive o seguinte:

"A 16 de Outubro [de 1969], a coluna que parte de Missirá para Bambadinca vai à procura de mantimentos e combustível, para que não haja problemas logísticos momentosos para quem nos vem substituir. Prevê-se a chegada iminente do PCaçNat 54; um Gr Comb da CCaç 12 vai nesse dia a Mato de Cão; as populações civis de Missirá e Finete estão sem arroz; muitos dos soldados do PCaçNat 52 andam à procura de quartos em moranças na tabanca de Bambadinca; passo horas a apresentar-me junto dos senhorios e dos comerciantes locais como fiador na compra de camas e colchões. (…) É uma manhã que pronuncia o fim das chuvas, um céu azul de cobalto e despido de quaisquer nuvens caindo ao fundo na cobertura vegetal cor garrafa escuro, as picadas estão secas, o capim ergue-se louro como se fosse trigo. (…) Passa-se por Canturé; há árvores em flor; os picadores estão prudentes tal a densidade da vegetação; tal a poeira que se levanta no estradão. (…)

"Passamos a manhã numa roda-viva; sou fiador não sei quantas vezes; subo ao quartel; há conversas na engenharia; requisitam-se peças para o 'burrinho' [Unimog] (…). Depois é a compra de comida; deixo o Alcino Barbosa a regatear com os vagomestres. Logo a seguir ao almoço vou a Afiá comprar arroz, regresso com oito sacos. Junto ao paiol, pegamos em vários cunhetes de munições; as nossas operações logísticas estão finalmente concluídas. (…)

"No regresso: a travessia da bolanha é penosa; o "404" vai ajoujado com bidões, sacos de arroz, caixas de tudo, desde cerveja a esparguete. O entardecer encaminha-se perigosamente para o ocaso. O condutor Manuel Guerreiro Jorge, que veio esbaforido desde o Geba até Finete, sempre a fintar os buracões da bolanha com um peso anormal de mercadorias, fuma nervosamente um cigarro e pede-me para partirmos cedo, estamos mesmo a entrar no lusco-fusco. (…) No guincho à frente está Cherno Suane; sigo ao lado de Manuel Guerreiro Jorge [o condutor]; estamos ladeados por Alcino Barbosa e Arlindo Bairrada. No alto, sentado no bidão vai Mamadu Djau com a bazuca nas pernas. O condutor está cada vez mais nervoso com a semiescuridão que desce. Apaga o último cigarro e pergunta-me: - A que velocidade vamos, meu alferes? 

Peço-lhe, atendendo à segurança que julgo existir, "que vá a toda a velocidade até um pouco depois de Canturé; a seguir é que temos problemas, a picada está escorregadia até ao pontão de Caranquecunda. E a viatura parte à desfilada. Exactamente quando a recta de Canturé está no fim, um estrondo medonho levanta o "404"; os fios eléctricos silvam; a viatura afocinha na agonia; oiço o primeiro urro do condutor que pisou a mina anticarro: há a surpresa dos transportados; sou cuspido; sinto os óculos voarem; uma massa quente e ácida cega-me o olho direito; quer o destino que eu salte de escantilhão com a G3 na mão direita."

Esta foi a última coluna de reabastecimento do Pel Caç Nat 52 em Missirá, pois seria substituído dias depois pelo Pel Caç Nat 54, sendo esta a vigésima sexta morte de um condutor auto rodas por efeito do rebentamento de uma mina anticarro, de seu nome: Manuel Guerreiro Jorge.


Foto 8 – O Fur Op Esp Humberto Reis (à esquerda) e o Alf Mil António Manuel Carlão (à direita), do 2.º Gr Comb da CCaç 12, examinando o estado em ficou o Unimog depois de ter accionado a mina anticarro em Canturé, estrada Finete-Missirá, em 16 de Outubro de 1969, de que resultou a morte do condutor auto rodas Manuel Guerreiro Jorge, natural de Santana da Serra, Ourique. Foto do P2270, do camarada Humberto Reis, com a devida vénia.

Nota: Os cinco "casos" descritos no presente fragmento, e os que se seguirão, não respeitam a ordem cronológica global das ocorrências. Esta opção, aleatória, teve por critério de escolha as diferentes datas, locais, épocas e missões, de modo a fazer-se, se possível, uma análise comparativa entre os acontecimentos.

Continua …

Fontes Consultadas:

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 1; 1.ª edição, Lisboa (2001); pp 23-569.

 Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro 2; 1.ª edição, Lisboa (2001); pp 23-304.

 Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.
Jorge Araújo.
09SET2019
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domingo, 16 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17586 Tabanca Grande (441): António Abrantes: foi cadete em Mafra, em julho de 1961, com o Manuel Alegre, Arnaldo de Matos e outros, sendo o Ramalho Eanes tenente; foi alferes mil, CCAÇ 423 (São João e Tite, 1963/65); senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 748.


Foto nº 1 



Foto nº 2 


Foto nº 3 


Foto nº 4


1. Mensagens, de 8 do corrente,  do novo grã-tabanqueiro, António Abrantes, que se vai sentar à sombra do nosso poilão, nº lugar nº 748. Foi alf mil inf, CCAÇ 423 (São João e Tite, 1963/65) (*)

Camaradas:

Só agora reparei que não enviei certos dados necessários:

(i) Fui Alferes Miliciano de Infantaria, especialidade de Armas Pesadas e,  como era dos que tinham melhor classificação e dada a especialidade,  não seria mobilizado.

(ii) Estava a dar instrução de Morteiros, em Viseu, quando a mês e meio de acabar o tempo normal fui mobilizado e para uma Companhia de Cacadores !

(iii) A minha Compannhia, a CCac 423, foi a ultima a ir por terra para o Sul da Guiné ,saindo de Bissau, Nhacra, Mansoa, Mansaba, Bafatá, Xitole, Aldeia Formosa, Buba, onde pernoitamos, Fulacunda, Brandão, Nova Sintra e, dada impossibilidade de chegarmos a S João, desvio para Tite para ao outro dia irmos até ao Enxudé (Porto de Tite ) onde embarcamos numa draga (a Geba) para,  numa viagem atribuladam  passarmos ao lado de Bissau e já no canal de Bolama nos aproximarmos do Continente, e com água pela cinta desembarcamos em S João . 

(iv) Como o IN não contavam  aqui não houve tirosM esses, os tiros começaram com uma emboscada no célebre "cruzamento de Buba" e acompanharam - nos várias vezes até Nova Sintra;

(v) De São João  vim evacuado para o HMP em Lisboa , tendo regressado a Guiné e ficado, como era o alferes com mais antiguidade, coocado na 4ª  Rep  do QG como Adjunto do Chefe de Transportes.

(vi) como curiosidade a minha medalha das campanhas da Guiné (felizmente sem ser herói) é a única que tem na legenda "Guiné 63-64-65-66-67". 

Um Grande Abraço a todos os Camaradas.


2. Nova mensagem do nosso novo membro da Tabanca Grande:

Pedias-me alguns dados meus: 

(i) estou reformado,  dada a provecta idade;

(ii) fui apanhado na Universidade e enfiado em Mafra, na EPI, em 31 de Julho de 1961;

(iii) no curso de oficiais milicianos (COM),  éramos, como eu costumo dizer (na paródia), "eu, o Manuel Alegre, o Arnaldo Matos (MRPP) e mais 493":

(iv) o general Eanes era lá tenente;

(v) depois de passar à disponibilidade,  arranjei emprego ligado a produtos farmacêuticos e acabei a licenciatura como estudante- trabalhador...

Um grande abraço a todos os camaradas, coma esperança de também poder ficar a sombra do poilão da Tabanca Grande.

Nota: Tenho poucas fotografias mas a seu tempo mandarei mais algumas (se me for permitido) bem como algumas "estórias" passadas na Guiné.

Aqui vão as legendas:

Foto do  aspiarnte a oficial miliciano .Antonio Manuel de N. R. Abrantes , pouco antes de embarcar [Foto nº 2]

Foto tirada em Tomar, vê-se parte do meu pelotão, com o malogrado Furriel Hércules Arcádio de Sousa Lobo, da 3ª secção (ainda cabo miliciano) [Foro nº 2] 

Foto tirada em Bissau, a única que possuo com qualidade razoável [Foto nº 3]

Toto  mais recente [Foto nº 4]

3. Comentário do nosso editor LG ao poste P17552 (**):

Caro camarada António:

É uma honra ter, no blogue da Tabanca Grande, um representante dos bravos da CCAÇ 423. Até agora, não havia ninguém que representasse condignamente esta subunidade.

Não leves a mal que a gente se trate por tu, à boa maneira romana: afinal fomos e continuamos a ser camaradas de armas, no sentido forte do termo.

Fica desde já, o convite para te sentares à sombra do nosso poilão. Temos um lugar livre, o nº 748... Só precisamos, de acordo com os nossos regulamentos, de duas fotos tuas, uma dos heróicos tempos de Quínara e outra atual... E dois parágrafos de apresentação: já sabemos quem foste, pode-nos dizer quem és hoje, onde vives, o que fazes... Estás, por certo, reformado mas não "arrumado": precisamos de ti para cobrir esse ano de 1963, e os seguintes... Há falta de documentação fotográfica, de testemunhas, de histórias, etc.

Posso continuar a contar contigo ?

O precioso "comentário" que me mandaste sobre a maldita mina ou fornilho do dia 3/7/1963 (há 54 anos!) foi transformada em poste, como podes ver aqui.

Tens o meu email ou do Carlos Vinhal, para nos contactar, de futuro.
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 30 de junho de  2017 > Guiné 61/74 - P17527: Tabanca Grande (440): Alfredo Roque Gameiro Martins Barata (1938-2017), ex-alf mil médico, CCAÇ 675 (Binta e Guidaje, 1964/66), nosso grã-tabanqueiro nº 747... Mais um camarada que não queremos que fique na vala comum do esquecimento

(**) Vd. poste d e29 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17522: (De) Caras (88): O fur mil inf Hércules Arcádio de Sousa Lobo, natural da ilha do Sal, Cabo Verde, foi gravemente ferido pelo primeiro fornilho acionado no CTIG, às 9h00 do dia 3 de julho de 1963, na estrada São João-Fulacunda, vindo a morrer no HMP, em Lisboa, no dia 16, devido às graves queimaduras. Eu era o comandante da coluna (António Manuel de Nazareth Rodrigues Abrantes, ex-alf mi inf, CCAÇ 423, São João e Tite, 1963/65)

quinta-feira, 29 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17522: (De) Caras (81): O fur mil inf Hércules Arcádio de Sousa Lobo, natural da ilha do Sal, Cabo Verde, foi gravemente ferido pelo primeiro fornilho acionado no CTIG, às 9h00 do dia 3 de julho de 1963, na estrada São João-Fulacunda, vindo a morrer no HMP, em Lisboa, no dia 16, devido às graves queimaduras. Eu era o comandante da coluna (António Manuel de Nazareth Rodrigues Abrantes, ex-alf mi inf, CCAÇ 423, São João e Tite, 1963/65)


Guiné > Zona de Quínara > Tite > BCAÇ 237 (Tite,  julho de 1961/outubro de 1963) > CCAÇ 423 (São João e Tite, abril de 1963/  abril de 1965) > O estado em que ficou a GMC sinistrada devido ao rebentamento de um  fornilho na estrada entre Nova Sintra e Fulacunda, em 18 de julho de 1963, qual vitimou  o tenente mil inf Carlos Eduardo Afonso de Azevedo, natural de Angola. Pertencia à CCAÇ 423.

Quinze dias antes, a 3 de julho de 1963, tinha sido aciocinado, no mesmo troço, o primeiro fornilho da história da guerra na Guiné, de que uma das vítimas foi o fur mil inf Hércules Arcádio de Sousa Lobo, natural da ilha do Sal, Cabo Verde, também da CCAÇ 423.

A CCAÇ 423 foi mobilizada pelo RI 15, esteve em São João e Tite, entre abril de 1963 e abril de 1965. Comandante: cap inf Nuno Gonçalves Basto Machado. Esteva adida ao BCAÇ 237 (Tite, julho de 1961 / outubro de 1963)

Foto : Cortesia de; © Sol da Esteva  editor do blogue Acordar Sonhando (2011). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Canmaradas da Guiné]



1. Comentário (*)  do ex-alf mil António Abrantes, da CCAÇ 423  (São João e Tite, 19763/75):

Data: 27 de junho de 2017 às 23:12

Assunto: Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P9507: Em busca de... (184): Camaradas do Fur Mil Hércules de Sousa Lobo, natural da ilha do Sal, Cabo Verde, gravemente ferido pelo primeiro fornilho acionado no CTIG, em julho de 1963, na estrada São João-Fulacunda (Maria Luísa Sousa Lobo)

Enviado do meu iPad

Gostaria de poder entrar em contacto convosco mas não tenho conseguido e isto especialmente no que respeita à primeira mina/fornilho colocada na Guiné, mais concretamente em Bianga, a poucos kms de Fulacunda, na estrada S.João - Nova Sintra - Fulacunda. 

Infelizmente era eu, ex- alferes miliciano, António Manuel de Nazareth Rodrigues Abrantes, o comandante da força da CCAÇ 423, sediada em S. João, que, no regresso da deslocação a Fulacunda, sofreu este rebentamento, mais ao menos no mesmo local onde na véspera tinha sido emboscado debaixo de uma forte chuvada.

 O rebentamento ocorreu às 9h00 do dia 3 de julho de 1963, debaixo do depósito de uma GMC e vitimou vários militares do meu pelotão, entre eles o furriel miliciano inf Hércules Arcádio de Sousa Lobo, que viria a falecer cerca de 13 a 15 dias depois em Lisboa [, mais exatamente em 16 de julho de 1973], devido às graves queimaduras sofridas.  (**)

O relatório desta operação foi, como é óbvio, enviado para o Comando do Batalhão estacionado em Tite [BCAÇ 237]. Posteriormente e já vários anos depois enviei cópia para a Liga dos Combatentes da qual sou sócio. 

A propósito de Tite, a foto da GMC que dizem ser da primeira mina é tirada em Tite, é da segunda mina, a qual vitimou [, em 18 de julho de 1963]  o tenente mil inf Carlos Eduardo Afonso de Azevedo. Isto porque esta [GMC]  tinha capota de lona pela qual foi projectado o referido tenente que, contrariamente ao referido, não faleceu no local mas sim em Tite. (***)

A GMC da primeira mina [, 3 de julho de 1963,]  tinha capota rígida sobre a qual eu havia mandado instalar uma metralhadora Breda.. 

Um Grande Abraço a todos os camaradas,
António Abrantes
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Notas do editor:


(...)  José Marcelino Martins disse...

Furriel Miliciano Atirador Hérculçes Arcádio de Sousa Lobo
:  Mobilizado no Regimento de Infantaria nº 15 - Tomar, para a Companhia de Caçadores nº 423. Solteiro, filho de Emídio Sousa Lobe e Cacilda Sousa Lobo, natural da freguesia de Nossa Senhora das Dores, concelho do Sal, em Cabo Verde. Faleceu no Hospital Militar Principal, em Lisboa, no dia 16 de Julho de 1963, vitima de ferimentos em combate, provocados pela explosão de um fornilho em 3 de Julho de 1963, na estrada Nova Sintra - Fulacunda. Foi inumado no cemitério do Alto de São João.

(CECA- 8º volume - livro 1 - página 31/3) (...)


Abreu dos Santos (senior) disse...

... ajudas de memória: (...) deflagração de um fornilho que causa às NT duas baixas mortais instantâneas (Soldados apontadores-de-metralhadora Alberto dos Santos Monteiro e José Isidro Marques), e cinco feridos graves pouco depois heli-evacuados para o HM241- Bissau, onde ainda naquele mesmo dia vem a falecer o 1º Cabo Ap Met António Augusto Esteves de Magalhães; os outros três feridos graves são aerotransportados para o HMP-Estrela, onde dois sucumbem aos graves ferimentos, em 16Jul63 o Furriel miliciano Atirador Hércules Arcádio de Sousa Lobo, e em 20Jul63 o Soldado Atirador Alpoím Pereira Rodrigues.

Na 5ª feira 18Jul1963, um pelotão daquela mesma subunidade, comandado pelo Tenente miliciano de infantaria Carlos Eduardo Afonso de Azevedo, quando em deslocação-auto entre Tite (sede do BCac237) e Nova Sintra, é alvo da deflagração de outro fornilho que causa às NT a morte instantânea do citado oficial, e do Soldado Ap Met José Rato Casaleiro, e ferimentos graves ao Soldado Ap Met Joaquim da Silva Bento Jorge, heli-evacuado para o HM241 onde vem a falecer decorridos onze dias. (..:)