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sábado, 20 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23540: Memória dos lugares (442): Rio Cacine, Cafal, Cananima, ontem e hoje

 

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Praia fluvial e aldeia piscatória de Cananima, na margem direita do rio Cacine, em frente a a vila de Cacine. (*)


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Praia fluvial e aldeia piscatória de Cananima, na margem direita do rio Cacine,  Canoas.(*)


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Praia fluvial e aldeia piscatória de Cananima, na margem direita do rio Cacine, Construção de canoas. (*)

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Cacine > Cacine, na margem esquerda do Rio Cacine > 2 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1-7 de Março de 2008) > Visita ao Cantanhez dos participantes do Simpósio > Rio Cacine, perto do cais de Cacine: Tarrafo...


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Era domingo, para nós, participantes (a maior parte estrangeiros...) do Simpósio Internacional de Guiledje, de visita ao sul do país... mas não para o pescador, que precisa de remendar as redes e ir à pesca..


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > A simpatiquíssima Cadidjatu Candé (infelizmemte já falecida, segundo informação do Zé Teixeira), da comissão organizadora do Simpósio Internacional de Guileje e colaborada da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, servindo um fabuloso arroz com filetes de peixe do Cacine e óleo de palma local, que tem fama de ser o mais saboroso do país, devido à qualidade da matéria-prima e às técnicas e condições de produção (artesanal). Na imagem, um diplomata português, o nº 2 da Embaixada Portuguesa, que integrou a nossa caravana (e cujo nome, por lapso, não registei, lapso de que peço desculpa).

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Um dos pratos que foi servido no almoço de domingo, aos participantes do Simpósio Internacional de Guileje, foi peixe de chabéu, do Rio Cacine, do melhor que comi em África... Durante a guerra colonial, na zona leste, em Bambadinca, só conheci conhecíamos o desgraçado peixe da bolanha..


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Cacine > Cacine, na margem esquerda do Rio Cacine > 2 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008) > Visita dos participantes ao sul > Depois de um belíssimo almoço em praia fluvial e porto piscatório de Cananima, na margem direita do Rio Cacine, houve um grupo de cerca de 30 valentões (e valentonas) que se meteram numa canoa senegalesa, motorizada, de um pescador local, e aproveitaram a tarde para visitar a mítica Cacine.  Sem coletes salva-vidas!... A distância entre as as duas margens ainda é grande... A canoa a motor, carregada de pessoal, terá levado meia hora a fazer a travessia...


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Cacine > Cacine, na margem esquerda do Rio Cacine > 2 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008) > Visita dos participantes ao sul > O nosso amigo, o saudoso  Leopoldo Amado (1960-2021) , historiador, um dos organizadores do Simpós
o e conferencista, veio encontrar aqui um antigo condiscípulo de liceu, hoje administrador de Cacine (sector de Quitafine).


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Cacine > Cacine, na margem esquerda do Rio Cacine > 2 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008) > Visita dos participantes ao sul > Está na hora do regresso a Cananima... O pessoal deixa Cacine, já ao fim da tarde, de sapatos na mão, para tomar o seu lugar na canoa... Em primeiro plano, a Maria Alice Carneiro e o antigo embaixador cubano, na Guiné-Conacri, Oscar Oramas (estava lá, quando foi assassinado, em 1973, o fundador e dirigente histórico do PAIGC)..

Fotos  (e legendas): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima >  9 de Dezembro de 2009 > c. 18h >  Pescador e canoa da aldeia piscatória de Cananima, na margem direita do Rio Cacine, frente a Cacine. (**)

Foto  (e legenda): © João Graça (2009). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Região de Tomvali > Rio Cacine > Praia de Cafal, na margem direita do rio > 2022 > De costas, em primeiro plano, o padre Carlos, dos missionários  Oblatos da Maria Imaculada, que chegaram aqui há 10 anos, acrescentando  Cacine às duas missões ja existentes, a de Antula, Bissau, e a de Farim. Em Cacine têm duas escolas, uma em Cafal e outra em Quitafine  (que tem 270 alunos). O padre Costa conversa com os mototaxistas, que são o único transporte motorizado que aqui existe (para além das canoas)...


Guiné-Bissau > Região de Tomvali > Rio Cacine > Praia de Cafal, na margem direita do rio > 2022 > Um dos mototaxistas com uma T-shirt "made in China"...


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cacine > 2022 > Uma loja de roupa

Fotos (e legendas) de Andre Cuminatto (2022), "Além-Mar" (revista dos Missionários Combonianos), abril 2022, pp. 44-45 (com a devida vénia)


1. Estivemos aqui há 12 anos, andámos por aqui (e comemos, ao almoço o belíssimo peixe do rio Cacine, um fabuloso chabéu de peixe), por altura  de uma visita ao Cantanhez, em 2 de março de 2008, no âmbito do Simpósium Internacional de Guileje (Bissau, 1-7 de março de 2008). E escrevemos (*):

(...) A região de Tombali, com pouco mais de 3700 km2 (o que representa cerca de 10,3% do território da Guiné) e pouco mais de 90 mil habitantes (7,1% do total) tem grandes potencialidades, devido ao seu património ambiental e cultural, ainda insuficientemente conhecido e valorizado pelos próprios guineenses. A jóia da coroa é o massiço florestal do Cantanhez e os dois rios principais que o atravessam, o Cumbijã e o Cacine. (...)

(...) Cananima é uma praia fluvial e um aldeia piscatória. Gente de vários pontos, desde os Bijagós até à Guiné-Conacri, vêm para aqui trabalhar na actividade piscatória. No entanto, é preciso saber gerir os recursos do rio e do mar com sabedoria... A sobre-exploração de certas espécies pode ser um desastre... Por outro lado, as infra-estrututuras de apoio à pesca são precárias ou inexistentes. (...)

(...) No estaleiro naval artesanal, de Cananima, também se constroem barcos, segundo os modelos tradicionais. A matéria-prima, a madeira, é abundante. Abate-se uma árvore centenária para fazer uma piroga. Felizmente, as pirogas não são feitas em série. E hoje há, também felizmente, restrições ao abate de árvores no Cantanhez. O problema são, muitas vezes, os projectos megalómanos e inconsistentes, que acabam por morrer na praia, como estas embarcações senegalesas que viemos aqui encontrar. (...)

(...) Em frente, do outro aldo do rio, fica Cacine, que tem muito que contar, aos nossos camaradas do exército e da marinha... Alguns deles ficaram por aqui, enterrados e abandonados... A guerra e as suas memórias estão por todo o lado, não nos largam. (...)

(...) A areia não é fina, as águas não são azuis, nem a paisagem é a mais bela do mundo, mas tudo depende dos olhos com que se olha, dos ouvidos com que se ouvem, das emoções com que se capta o instante, o efémero, o diferente (..).

(...) É preciso salvar o Cantanhez, dando uma chance às crianças de Tombali. Projectos como o ecoturismo, ou o turismo de natureza, podem vir a ser um factor dinamizador de mudanças, a nível local e regional. (...)

(..) A diversidade étnico-linguística e cultural da Guiné-Bissau, em geral, e do Tombai, em particular, não deve ser vista como uma obstáculo, mas sim como um factor potenciador da cidadania e do desenvolvimento... Os demónios étnicos não podem é dormir descansados na Caixinha de Pandora... Combatem-se com as armas da saúde, da educação, da democracia, da integração, do desenvolvimento económico, social e cultural... (...)


2. Há dias lemos na revista "Além-Mar" um interessante artigo, "Evangelho e promoção social na Guiné-Bissau: Cacine, Missão Escolar", edição de abril de 2022 (pp. 43-45)... Tomamos a liberdade de reproduzir aqui este excerto do viajante e jornalista italano, Andrea Cuminatto.

(...) Na orla, entre as vacas que lambem o sal deixado pela maré alta, há também, um grupo de pescadores. Um é da Serra Leoa, outro da Libéria e ainda outro do Gana. Vêm da vizinha Guiné: sairam de Conacri,  com dois barcos de pesca e foram vistos a pescar, surpreendidos sem autorização nas águas da Guiné-Bissau. Há doze dias que estão à espera no pequeno cais de cimento que o seu chefe envie o dinheiro para pagar a multa do resgaste e poder zarpar. 

Até para os pescadores locais não é fácil tirar algo destas águas. Desde que os Coreanos compraram os direitos de pesca, a maior parte da captura é congelada  e enviada para a Ásia. E assim as pirogas,  feitas de madeira muito leve de ' fromager', tão ágeis nestas águas plácidas, descansam na areia, carregando pouquíssimos peixes nas panelas de Cacine. Estamos satisfeitos com o arroz, pelo menos não falta" (...) 

A vila de Cacine tem hoje 2 mil habitantes. E já nada é como dantes... (***)
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sexta-feira, 16 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22377: Tabanca Grande (521): Manuel Domingos Ribeiro, ex-Fur Mil Art MA da CART 6552/72 (Cameconde, Cacine, Cabedu e Catió, 1972/74) que se senta no lugar 844 do nosso Poilão


1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano, Manuel Domingos Ribeiro, ex-Fur Mil Art/MA da CART 6552 (Cameconde, Cacine, Cabedu e Catió, 1973/74), com data de 15 de Julho de 2021:

Sou Manuel Domingos Carneiro Ribeiro, natural de Rio Tinto, Concelho de Gondomar, morador na freguesia de Cête, Concelho de Paredes, Distrito do Porto.

Ex-Furriel Mil Atirador de Artilharia/Minas e Armadilhas e pertenci à CART 6552.

Fui mobilizado para servir na ex-Província Ultramarina de S. Tomé e Príncipe em Outubro de 1972, mas fui desviado para a Guiné em Maio de 1973, onde estive até 7 de Setembro de 1974.

Junto, como é da praxe 2 fotografias, uma atual e outra do tempo da Guiné - Cameconde, Cacine, Cabedu e Catió.

Sou seguidor do blog desde 2011, mas só agora consegui tentar inscrever-me.

Junto com a minha foto do tempo da Guiné a bordo de uma lancha da Marinha com destino a Cacine, seguem mais duas de Cameconde.

Sem mais de momento
Os cumprimentos
Manuel Ribeiro


Fur Mil Manuel Domingos Ribeiro a caminho de Cacine.
Manuel Domingos Ribeiro, "hoje"
Vistas parciais de Cameconde

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2. Nota do coeditor:

Caro Manuel Domingos,
Muito bem-vindo à tertúlia, em nome de quem te deixo desde já um abraço. Ficas com o lugar n.º 844, à sombra do nosso Poilão, "sítio" onde poderás publicar as tuas memória escritas e fotografadas.

Quase ias perdendo a grande oportunidade da tua vida. Já viste o desperdício de uma comissão de serviço em S. Tomé, quando a Guiné estava aqui tão perto? Também não sei o que esperavas, sendo Atirador e tendo o curso de Minas e Armadilhas, e tudo, o que ias fazer para uma ilha paradisíaca, armadilhar coqueiros? Fazer tiro ao alvo?

Agora a parte séria. A vossa Companhia foi para Cameconde (subsector de Cacine) quando aquilo estava mesmo muito quentinho. Não nos queres dar o teu testemunho daqueles últimos dias, já que a CART 6552 ali permaneceu até à entrega do aquartelamento ao PAIGC?

Parece que o vosso destino era entregar aquartelementos porque após a retirada de Cameconde foram para Cabedu, onde também passaram o testemunho ao PAIGC. De tudo isto nos poderás falar e enviar fotos dos momentos mais marcantes do fim da nossa permanência na Guiné.

Uma nota de rodapé para te dizer que, morando tu no Grande Porto, tens perto de ti a Tabanca dos Melros, com sede e Museu na Quinta dos Choupos, em Fânzeres/Gondomar, onde no segundo sábado de cada mês a malta se reune para conviver a apreciar deliciosos almoços servidos pelo nosso camarada Gil Moutinho, ele próprio ex-Fur Mil Piloto que sobrevoou os céus da Guiné. Como os tempos vão conturbados é melhor confirmares.

E pronto, aqui fica o abraço dos editores deste Blogue com a certeza da nossa disponibilidade para dar estampa às tuas memórias e fotos dos teus, e nossos, tempos de combatentes à força.

CV

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21302: Notas de leitura (1300): “Castelos a Bombordo, Etnografias de Patrimónios Africanos e Memórias Portuguesas”, coordenação de Maria Cardeira da Silva; edição do Centro em Rede de Investigação em Antropologia, 2013 (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Junho de 2017:

Queridos amigos,
Trata-se de um projeto de investigação financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, revisitar rotas que ligam historicamente Portugal a alguns países árabes e islâmicos (Marrocos, Mauritânia), alargando-se depois a outros países africanos (Senegal, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique) investido na análise de memórias, nostalgias e outros recursos patrimoniais.
Creio que para muitos haverá surpresa sobre o que se pode entender como a memória de presença portuguesa nesta região que hoje pertence ao Senegal, foi presença influente e depois diluiu-se, permitindo a intrusão francesa sobretudo a partir dos anos 1830, nesta tão fértil região de comércio.
Muita gente de Ziguinchor sentiu-se atraiçoada pelas negociações luso-francesas, foi um taco a taco diplomático em que Portugal teve a ilusão que ao entregar esta parcela de território ia receber vastas compensações, tudo fantasia.

Um abraço do
Mário


No Casamansa, à procura de memórias portuguesas

Beja Santos

“Castelos a Bombordo, Etnografias de Patrimónios Africanos e Memórias Portuguesas”, coordenação de Maria Cardeira da Silva, edição do Centro em Rede de Investigação em Antropologia, 2013 é uma publicação associado a um projeto financiado pela Fundação para Ciência e Tecnologia, projeto que visa analisar reconfigurações étnicas e novas figurações identitárias em territórios pisados pelos portugueses e onde confluíram povos africanos das mais diferentes proveniências. É um projeto aliciante onde se fala de Marrocos, até de Marrocos no Brasil, de Portugal nos confins sarianos, do Casamansa, da ilha de Moçambique e até do primeiro cruzeiro de férias de colónias a bordo do paquete Moçambique, em 1935. Francisco Leitão é o autor do texto intitulado Existências e Utilizações Contemporâneas da Casamansa Portuguesa.

O autor começa por nos recordar que desde meados do século XV e início do século XVI, Portugal estabeleceu uma presença comercial na costa ocidental africana, assente no comércio de escravos, baseada na fundação de feitorias. Os portugueses chegaram a Casamansa principalmente interessados no ouro, no marfim e nos escravos. A partir de meados do século XVI, percorriam a área compreendida entre o rio Cacheu e a Gâmbia na senda destes comércios. Em troca dos escravos, nesta época, os portugueses traziam ferro, vinhos, algodão, cavalos, contaria da Índia, entre outros. O manuscrito de Valentim Fernandes não deixa dúvidas quanto ao facto de, 50 anos depois da sua descoberta, o rio Casamansa ser já frequentemente utilizado para o comércio pelos portugueses. Tudo se irá alterar com a evolução do comércio de escravos, com a descoberta e exploração da América que se irá expressar num dos mais famosos sistemas de comércio triangular (Lisboa – Santiago – Bissau ou Cacheu – Maranhão – Lisboa), que veio contribuir para o papel fulcral de Cabo Verde na influência portuguesa na região da Senegâmbia.

Desenvolve-se uma comunidade de lançados em Ziguinchor, em 1621 a povoação tinha 15 casas de comerciantes portugueses, uma igreja, um padre e muitos cristãos locais. Nos anos seguintes, a vila tornar-se-á no principal entreposto de troca no rio entre luso-africanos e bainuncos. Mais tarde, Ziguinchor será classificada como presídio dependente da capitania de Cacheu. Recorde-se que o objetivo destes presídios era proteger a rota vertical de escravos que ligava regiões do interior da atual Gâmbia a Cacheu e Bissau.

Mais observa o autor que a maioria dos dados atualmente disponíveis sobre a história do Casamansa e Ziguinchor saltam de 1645 diretamente para 1846 ou mesmo 1886, quando Ziguinchor é cedida a França. No período intermédio existe pouca ou nenhuma documentação. Sabe-se, no entanto, que gentes de Cabo Verde tinham grande influência sobre a costa Norte-Ocidental africana mas não se sabe como esta presença se coordenava com a presença portuguesa europeia. Em 1623, um holandês em Cacheu dividiu ali o comércio em dois tipos: aquele que era realizado com a metrópole e o que era feito com os que viviam na ilha de Santiago. No século XVII, Cacheu era muito visitada por embarcações provenientes, não só de Cabo Verde, mas também de Sevilha e de Portugal.

Em toda a literatura não existem praticamente referências a Casamansa e Ziguinchor, ou porque não há registos históricos ou porque não foram suficientemente investigados. Paradoxalmente, Casamansa é repetidamente referida como uma zona de influência portuguesa. Também não se ignora que os séculos XVII e XVIII foram um período de enfraquecimento da presença portuguesa. Seja como for, por volta de 1760, cresceu o ascendente luso-africano sobre Ziguinchor e o controlo português-europeu, aos poucos os luso-africanos foram substituindo os portugueses em lugares representativos. Mas no início do século XIX, encontramos Ziguinchor administrativamente órfã, nas mãos de uma burguesia portuguesa de origem cabo-verdiana e com ligações à Guiné. É um tempo em que o cargo de capitão passava de pai para filho, uma espécie de domínio dinástico que diz bem do abandono a que estava votada esta remota extensão do império português. Economicamente, a vila vivia de um comércio de pouca envergadura e à margem dos fluxos internacionais de troca.

Em sentido inverso à remota presença portuguesa, os franceses entram em cena nos anos 30 do século XIX, compram terrenos no rio e em 1838 principiam os trabalhos para se instalarem definitivamente em Sédhiou (em português Sedjo). Recrudescem os conflitos na região, acirram-se as disputadas de soberania que implicaram repetidas trocas de bandeiras, multas, alguns encerramentos e represálias sobre as populações. Os franceses, a partir de Goré, começam a insistir na anexação de Ziguinchor, movidos pela sua localização geográfica associada a motivações comerciais. Isto passa-se ao tempo em que não estão delimitadas as fronteiras entre o Senegal e a Guiné Portuguesa. Com a Convenção Luso-Francesa de 12 de Maio de 1886, Portugal cede oficialmente Ziguinchor e a região do Casamansa, recebe em troca o rio Cacine e direitos de pesca na Terra Nova. Em 1901, a população mestiça, cabo-verdiana e bainunco-descendente, com conexões a Bissau e falante de crioulo é relocalizada num bairro novo, periférico. É aqui que vão ficar os sinais da presença portuguesa. Para o autor distinguem-se, com segurança, quatro vetores da influência portuguesa no Casamansa: a situação geográfica e a proximidade com a antiga Guiné Portuguesa, os permanentes intercâmbios com Cacheu; os lançados, juntamente com os explorados e os comerciantes, funcionaram como agentes de disseminação de uma cultura portuguesa proveniente da metrópole: a população cabo-verdiana manteve um contacto próximo e regular com o continente e provavelmente com o Casamansa; por fim, os fenómenos de reprodução e evolução local, caso da língua e religião. Escreve o autor: “Esta reprodução foi mais acentuada em Ziguinchor e, pelo que apurei no terreno, a Leste desta vila, na região das atuais aldeias de Sindone e Adeane”.

A presença colonial francesa procurou passar uma esponja sobre o passado português. Mas qual é a realidade que o estudioso observou? Ele escreve: “Hoje, em Ziguinchor, reside uma população espacialmente concentrada que mistura influências bainunco e cristã que continua a utilizar o crioulo como língua principal de comunicação. O crioulo é falado por uma grande parte da população idosa de algumas zonas de Casamansa e o fluxo constante de migrantes da Guiné-Bissau contribui permanentemente para o reativar (…) A presença portuguesa relaciona-se intimamente com a história da etnia bainunco. Os bainuncos são a população autóctone e foram, em tempos, a etnia dominante de Casamansa. Tornaram-se virtualmente extintos, já que foram absorvidos ou conquistados por outros grupos”.

A memória portuguesa paira sobre o fenómeno separatista na região. Ainda é comum o uso da alegação que Casamansa não é francesa (e, logo, senegalesa) mas sim portuguesa (e logo, independente ou ligada, de alguma forma, à Guiné-Bissau). Trata-se de um discurso que predomina em jovens intelectuais independentistas muçulmanos de etnia diola.

Para o auto onde a existência portuguesa é mais evidente é nos edifícios e também a referência, muito frequente, de que foram os portugueses que colonizaram a ilha de Carabane, uma aldeia histórica que simboliza, talvez mais que qualquer outra, a presença colonial francesa em Casamansa, já que foi capital desta sub-região administrativa da África ocidental francesa. Há uma outra via de ligação ao passado português, a qual possui uma conotação que não poderia ser mais negativa: Ziguinchor, nas palavras de quase todos os casamansenses, é um nome que tem origem no português “cheguei e chorei” – a reação emocional à função esclavagista da vila (Ziguinchor foi um presídio esclavagista português) – que, por corrupção fonética, teria formado o nome da cidade. Outra observação do autor é que há inúmeros lugares na região onde alguém pode passar por nós e nos cumprimentar com um “bom dia” foneticamente tão português como se estivéssemos em Alfama.

A finalizar o seu trabalho o autor discreteia sobre o papel da memória e como a história não destruiu certos mecanismos coletivos, plurais e individualizados. Casamansa revela-se uma sociedade de memória, as utilizações do passado português por ali pululam, e ninguém sabe qual o seu destino. E deixa-nos uma frase sibilina: o remexer e vasculhar positivista e historiográfico do passado é o privilégio de um presente que não se agita facilmente. Para meditar.


A capa e contracapa deste livro é um verdadeiro achado, trata-se do tabuleiro do jogo “Cruzeiro ao Mundo Português”, da Majora, um género de jogo da Glória com as parcelas do império, começando pela viagem até à Índia e acabando na Torre de Belém. A Guiné era simbolizada pela fortaleza de Cacheu.

Ziguinchor
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Nota do editor

Último poste da série de 24 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21289: Notas de leitura (1299): “Capitães do Fim… Uma radiografia estatística”, por António Inácio Correia Nogueira; Chiado Editora, 2017 (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21248: Historiografia da presença portuguesa em África (226): Aleixo Justiniano Sócrates da Costa - Um outro olhar sobre a Guiné em 1885 (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Dezembro de 2019:

Queridos amigos,
São artigos de leitura irrecusável, e por motivos sólidos. Aleixo Justiniano Sócrates da Costa foi um médico militar goês que prestou serviço em Cabo Verde e na Guiné, documentou-se, escrevia muitíssimo bem, e neste texto até se destaca os parágrafos que ele reserva à descrição das tempestades, é do melhor naturalismo literário que se pode imaginar. Veja-se como ele consagra fronteiras, exatamente um ano antes de Portugal ter chegado a um acordo com a França. Já vários investigadores observaram que se é verdade que perdemos toda a soberania na bacia do Casamansa e recebemos a península de Cacine, um presente inesperado, o tratado deu uma configuração à presença portuguesa onde até agora essa presença não passara de uma pura ilusão. Impossível fazer-se aqui mais do que uma pura resenha aos bastos conhecimentos deste facultativo do Ultramar, veremos no próximo texto o enquadramento que ele deu à agricultura e ao comércio e às propostas que apresentava para ultrapassar o estado de profundo subdesenvolvimento em que se encontrava a colónia.

Um abraço do
Mário


Um outro olhar sobre a Guiné em 1885 (1)

Beja Santos

O seu nome é Aleixo Justiniano Sócrates da Costa, era médico militar goês, prestou serviço em Cabo Verde e na Guiné, sócio ordinário da Sociedade de Geografia de Lisboa e nos boletins da instituição, 4.ª série, n.ºs 2, 3 e 4, de 1885, lançou-se ao trabalho para descrever aos seus confrades da Sociedade de Geografia, o que era a Guiné. Há pontos que são verdadeiramente importantes, veja-se o que era para este facultativo a superfície da colónia:
“O distrito, hoje província, da Guiné Portuguesa, que devia abranger todo o litoral da costa ocidental de África e ilhas adjacentes, desde Cabo Verde até à Serra Leoa, compunha-se há pouco tempo dos concelhos de Bissau, Bolama e Cacheu, com suas dependências. Ao Concelho de Bissau pertencem o presídio de Geba, a ilha de Orango, nos Bijagós, e alguns pontos do Xime e S. Belchior no rio Geba. Fá e Ganjarra, que se acham abandonados desde 1861, estão situados no mesmo rio.
O Concelho de Bolama, hoje sede do Governo, é constituído pela ilha do mesmo nome, com a das Galinhas e com os territórios do rio Grande e do rio Tombali. O Concelho de Cacheu abrange a povoação do mesmo nome, o presídio de Farim, no rio de S. Domingos, o presídio de Zinguinchor, no rio Casamansa, as aldeias de Bolor, Jefunco e Varela, na margem direita da barra de Cacheu, e a de Mata e Putama, na esquerda”.
Definição curiosa, para quem gosta de estudar a Guiné é agora possível comparar o que se admitia ser a Guiné em 1885 e qual o território que a Convenção Luso-Francesa, de 12 de maio de 1886, veio a reconhecer à soberania portuguesa.
É um médico que estudou e percorreu várias regiões. Procura ser rigoroso quando fala da população gentílica da ilha de Bissau, e dá pormenores sobre Antula, Bandim, Intim, Bigemetá, Buim, Cumeré, Prabis, Quixete, Safim e Torre.
O seu comentário sobre Geba tem igualmente muito interesse: “É principalmente neste desgraçado presídio, quase totalmente abandonado pelo Governo, que os selvagens executam as mais escandalosas pilhagens. É sobre eles que o gentio faz recair toda a sua fúria e sanha. As guerras entre Fulas e Mandingas, e a indiferença com que o Governo olhou essas guerras, promoveram a ruína desse importantíssimo ponto da Guiné.
A povoação de Geba é aprazível pela frescura dos bosques que a revestem. Tendo de comprimento 2 milhas e de largura 1. Apesar da pequenez da sua área é de magna importância, porque pode dizer-se que é o primeiro centro comercial da Senegâmbia”.

Comentando o bombardeamento da ilha de Orango às ordens do Governador Agostinho Coelho, o autor pede a maior firmeza e severidade: “Na Guiné não há que recuar, não há que parar. Ou tudo, ou nada. O gentio ali há-de ser sempre insolente e sempre para temer enquanto não levar a lição severa e geral que lhe sirva de escarmento”.

Não é peco a dissertar sobre o que quer que seja: a instrução, a incúria na educação da mulher, o estado do catolicismo no território, a idolatria, o islamismo, o estado em que se encontram os edifícios públicos, as deploráveis condições hígio-sanitárias da vila de Bissau. Recorda-se ao leitor que já aqui se fez menção quanto à existência nos Reservados da Sociedade de Geografia de um documento de Aleixo Justiniano Sócrates da Costa sobre a vila de Bissau, é documento obrigatório para qualquer investigador ou interessado em conhecer com profundidade a Guiné antes da sua autonomização em 1879.

Este médico goês é por vezes capaz de uma muito boa prosa poética, é possuidor de um invejável vigor naturalista. A propósito da meteorologia, vale a pena reproduzir na íntegra o que ele diz sobre os temporais da Guiné:
“São majestosos os temporais na Guiné. São medonhas aquelas convulsões da natureza que, ali, grande em tudo, até nos horrores da tempestade, patenteia o seu imenso vigor e se expande em toda a sua altiva e orgulhosa beleza.
Surdo rumor das vagas revoltas, que nas costas se torcem e se revolvem convulsivas, como se as fustigasse a asa procelosa do génio das solidões, ocultos estremecimentos, rugidos que se não sabe de onde partem, preludiam o conflito dos elementos irritados, que se vão dar tremendo recontro na amplidão do espaço e dos mares.
Nuvens de densa negrura, ou de cor acobreada, reverberando baços e fulvos clarões, vão-se acastelando entre Norte e Sudeste, correndo em direcção contínua ao vento, que sibila horríssono.
Súbito, medonho ribombo anuncia que o trovão rompe a batalha. É o clarim da tempestade. Para logo os relâmpagos sulcam ininterruptos a tenebrosa densidade do caos, e o eco medonho dos trovões, percutindo o espaço, um após outro, abala a natureza inteira em tremenda convulsão.
Se é noite, o denso negrume da atmosfera não deixa divisar uma única estrela. A lua, de instante em instante encoberta pelas tétricas nuvens que se debatem no espaço, apenas envia à terra lívidos clarões.
Acalma-se em seguida o vento. As nuvens, até ali condensadas ou encapeladas em rolos sobrepostos, estendem-se pelo horizonte, e, subindo finalmente, formam um arco semelhante ao Íris. No vão deste arco fuzilam amiudados relâmpagos, acompanhando o ribombo incessante dos trovões, e do meio desta traiçoeira calma levanta-se rijíssimo Nordeste, que em seguida refresca, e salta para Este e Sudeste. Então, como derradeira manifestação da pavorosa convulsão da natureza, as nuvens rasgam o bojo lívido e prenhe de electricidade, e torrentes de aguaceiro se despenham em catarata, inundando a terra. É o parto do cataclismo. Cessam as convulsões.
Vão-se rareando as descargas eléctricas. O trovão já não abala os polos. O vento, enfraquecido pela chuva ronda ao Sul, já muito bonançoso e soprando só as bafagens; e quando chega ao quadrante Sudeste decai em calmaria. Descansam os elementos e respira a natureza.
É de uma hora a hora e meia a duração ordinária deste imponente espectáculo.”

(continua)


Carnaval de Bolama, "Grupo Cultural Bolama Nobo"
Retirado do Pinterest, rede social, com a devida vénia

Bissau, depois da tempestade Fred, em 2015
Imagem retirada de Novas da Guiné-Bissau, com a devida vénia
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21227: Historiografia da presença portuguesa em África (225): Os Banhuns da Guiné: num romance e na etno-história (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21207: Historiografia da presença portuguesa em África (224): Viagem à Guiné, para definir as fronteiras, 1888 (4) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Dezembro de 2019:

Queridos amigos,

Dou como totalmente incompreensível o silenciamento de um texto tão precioso, redigido no exato momento em que tomávamos posse da península de Cacine e entregávamos a bacia de Casamansa à França.
O Capitão-de-Fragata Costa Oliveira é minucioso e não esconde a paixão desta descoberta guineense.

Deixa-nos um excelente relato sobre o chão Felupe. Alerta as autoridades para a importância do presídio de Bolor, era preciso muita firmeza para manter os Felupes respeitosos à presença portuguesa, cita Marques Geraldes que combatera com bravura Mussá-Moló na região do Geba, era indispensável "um severo corretivo àqueles selvagens, ocuparmos novamente o antigo presídio de Bolor".

E conclui, como bom marinheiro: "Será bom não esquecer que para auxiliar esta ou qualquer outra expedição que tenha de operar à beira-mar são indispensáveis as lanchas a vapor adequadas a esta perigosa navegação e um navio de guerra de maior lotação, que possa com o fogo da sua artilharia e escaleres armados, proteger o embarque e desembarque das forças militares e auxiliares".

E há outro dado fundamental deste documento: a Guiné não estava pacificada nem a Norte, nem no Centro, nem no Sul, e bem sabemos os sustos com que se vivia dentro das muralhas de Bissau, com os Grumetes e os Papéis prontos para as escaramuças. São dados que se pretendem silenciar quando se fala na nossa presença de cinco séculos na Guiné Portuguesa...

Um abraço do
Mário


Viagem à Guiné, para definir as fronteiras, 1888 (4)

Beja Santos

O Boletim da Sociedade de Geografia, 8.ª Série, N.º 11 e 12, 1888-1889, traz um importantíssimo trabalho do Capitão-de-Fragata Eduardo João da Costa Oliveira, sócio da Sociedade de Geografia e que fora o comissário português encarregado de estudar a demarcação das fronteiras à luz da Convenção Luso-Francesa.

É um documento precioso, na minha modesta opinião, um dos mais valiosos sobre a época em referência. Como se poderá ver neste e textos subsequentes. Costa Oliveira fora nomeado para dar execução ao tratado assinado por Portugal e a França, parte com o adjunto, um antigo secretário-geral da Guiné, o Sr. Augusto César de Moura Cabral.

O comissário português para a demarcação das fronteiras da Província da Guiné, em consonância com a Convenção Luso-Francesa de 1886, deixou-nos um esplêndido relato das suas incursões, repleto de observações vivacíssimas e considerações políticas de inestimável valor político. A Província de Cacine subiu até ao Corubal, vemo-lo agora no Geba, onde escreve:

“O futuro da Senegâmbia está ligado ao rio Geba. Geba e Dandum são pontos estratégicos e importantes do sertão, e, se fossem convenientemente guarnecidos e defendidos, assim como Sambel Nhantá, S. Belchior e outros pontos no Corubal, à sombra dessa protecção, havia de desenvolver-se rapidamente”.

Relata com imensa intensidade um ataque de formigas, bebe água como uma sanguessuga, um guineense resolve o problema preparando-lhe uma beberragem com sabão. Sente-se fascinado pela floresta, pelos rios e rias, é recorrente em exclamativas, assim: “É formosíssimo o sertão de Buba!”.
Estão agora a caminho de Contabane e não esconde a sua atração por todo este fascínio:

“Quem vê a Guiné de fora, e conhece somente os seus mangais e os lodos das suas extensas planícies, morbíficas e pestilenciais, não pode sequer imaginar as belezas que o seu interior encerra. Cursos de água cristalina correm em todas as direcções e sentidos; grandes manadas de gado vacum pastam sossegadamente na erva viçosa e fresca de seus vastos prados, matizados pelas cores variegadas de mimosas boninas; campos cultivados pela mão da mulher africana que, com o filho às costas e vergada sob o peso das costas cheias de maçarocas de milho, lá vai a caminho da povoação; florestas impenetráveis aonde abundam o ébano, o mogno, o pau-sangue e tantas outras madeiras apreciadas na Europa; caça variada e em prodigiosa quantidade, enfim, um encanto para quem pela primeira vez pisa o interior do tão cobiçado continente negro!

E dizem ser pobre a Guiné!

Pois será pobre um país onde a vegetação é tão vigorosa e rica; aonde há milhares de cabeças de gado bovino e lanígero; aonde vive o elefante em numerosos rebanhos; aonde há mel, cera e oiro nativo; aonde a árvore-da-borracha é vulgaríssima, e como que a completar todo este esplendor, rios enormes e navegáveis por onde se podem conduzir todas estas riquezas às capitais? Não, não pode ser! A Guiné é rica, muito rica, mas… desconhecida, e tanto basta!”.

Voltam a Buba, e a sua narrativa quase que ganha um cunho épico, vê-se que tem o condão para a literatura de viagens:

“Cobertos de pó e lodo, com o fato esfarrapado pelos acerados espinhos das florestas e extenuados de fadiga, entrámos em Buba, aonde éramos esperados pelos membros da Comissão Francesa, Comandante da Praça e destacamento, Capitão Bacelar, nosso companheiro de trabalhos, e muitos indígenas que, com verdadeira curiosidade infantil, se acotovelavam e apertavam para verem mais de perto os viajantes portugueses.

Buba, cabeça do concelho de Bolola, magnificamente situada na margem direita do rio Grande, defendida pelo lado de terra por forte paliçada e onze peças de artilharia e duas metralhadoras – mas sujeita a qualquer insulto pelo lado do rio – com um clima relativamente saudável, foi uma estação comercial florescente, quando a mancarra era cultivada naquela região”.

A terceira e última parte da sua viagem começa com algumas explorações na ilha de Bolama e depois partem para Carabane – Casamansa – Zinguinchor, que eram territórios portugueses que foram ocupados pelos franceses. Sobre a ilha de Carabane observa:

“A ilha é pequena e pantanosa. Ao NE e sobre areia fina e branca edificaram os franceses, em 1836, a povoação, que pouco tem prosperado. Apenas se notam uns três edifícios construídos à europeia, o posto ou residência do administrador, as casas Blanchard, Maurel Frère & Cª. e a residência do missionário. Na retaguarda do posto estende-se um vasto pântano, exalando continuamente miasmas paludosos. Há um posto aduaneiro, dirigido por europeus, e parece-me ser importante o movimento comercial. Carabane está abaixo de tudo quanto vimos na Guiné!”.

Seguidamente, temos uma descrição do Casamansa em que Costa Oliveira dá a palavra a Brosselard, o comissário francês. De facto, esta viagem formalizava a tomada de posse da região do Casamansa pelos franceses. Insista-se na riqueza dos pormenores, a sua narrativa, é bem perceptível, envia recados para os governantes de Lisboa. Por exemplo, explica a importância do presídio de Bolor e a necessidade de intensificar a presença portuguesa em chão Felupe.

É um texto irresistível:

“Naquele país sem outeiros nem vales por toda a parte se navega (e navegando se vai a toda a parte), por entre muralhas impenetráveis de viçosíssimos mangues que tapam as margens, sotopostos às verdes palmeiras de dez castas diferentes, aos corpulentos poilões, aos elevados cedros e a mil outras espécies de árvores tão antigas como o solo onde se prendem.

A perspectiva exterior da Guiné é, pois, encantadora; mas assim como entre essas ramagens floridas se aninham venenosas serpentes, também à sombra desse arvoredo parrado se aspiram miasmas que ameaçam morte; tudo está em resistir ao primeiro combate: a vitória fica segura para sempre.

É nesses plainos intermináveis e paludosos da Guiné Portuguesa que correm os rios de S. Domingos, de Geba ou Corubal, o Grande de Bolola, o Tombali, o Cumbijã e o Cacine, e seus muitos braços e esteiros que neles desaguam.”

É neste contexto que nos fala das ruínas do presídio de Bolor, em chão Felupe, e o porto de Bolor, deploravelmente em ruína. E observa:

“De toda a nossa Guiné, é esta a posição mais saudável e para lá vão convalescer os doentes de Cacheu, por ser um solo de areia desassombrado de matas em derredor e exposto às direcções frescas do mar”.

A mensagem que deixa nas suas conclusões é como que uma sacudidela aos governantes, aos políticos, enfim, aos vindouros:

“A Guiné é rica ou não é. Se é rica e pode ter ainda um futuro brilhante, dê-se-lhe o que for preciso para a fazer desenvolver. Se não é rica e o défice cresce anualmente em progressão assustadora, ceda-se à França”.

O capitão-de-fragata deixa-nos um testemunho espantoso da sua viagem em que concebeu uma carta da Guiné com várias limitações, circunscreve a topografia aos pontos por onde passou, mas é um documento riquíssimo. E a sua mensagem final tem algo de pungente, um território rico e fértil entregue à indiferença.







Extratos da Carta da Guiné Portuguesa, elaborada pelo capitão-de-fragata Eduardo João da Costa Oliveira.
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21191: Historiografia da presença portuguesa em África (223): Viagem à Guiné, para definir as fronteiras, 1888 (3) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21191: Historiografia da presença portuguesa em África (223): Viagem à Guiné, para definir as fronteiras, 1888 (3) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Dezembro de 2019:

Queridos amigos,
Esta viagem à Guiné do Capitão-de-Fragata Cunha Oliveira merecia reedição, é uma narrativa de viagens de muitíssima qualidade, com pormenores raros, vão primeiro à região de Cacine, sobem até ao Corubal e depois ao Casamansa. É uma missão histórica, é a tomada de soberania da península de Cacine e a entrega a França de todo o estuário do Casamansa. Julga-se oportuno, neste contexto, de voltar a documentos extraordinários constituídos pelos boletins da Sociedade de Geografia da época e descrever como se tomou posse do Forreá, graças ao espírito indómito do governador Pedro Inácio de Gouveia, alguém também possuidor de excelentes qualidades literárias, será ele que enviará para o Ministro da Marinha e do Ultramar aquele portentoso relato da viagem do Alferes Marques Geraldes até ao Casamansa, onde foi resgatar, atravessando todos os perigos de florestas e populações desconhecidas, mulheres raptadas em S. Belchior, junto do rio Geba.
Que bem escreviam estes homens e como é doloroso ver esta documentação a empoeirar-se nas bibliotecas!

Um abraço do
Mário


Viagem à Guiné, para definir as fronteiras, 1888 (3)

Beja Santos

O Boletim da Sociedade de Geografia, 8.ª Série, N.º 11 e 12, 1888-1889, traz um importantíssimo trabalho do Capitão-de-Fragata Eduardo João da Costa Oliveira, sócio da Sociedade de Geografia e que fora o comissário português encarregue de estudar a demarcação das fronteiras à luz da Convenção Luso-Francesa. É um documento precioso, na minha modesta opinião, um dos mais valiosos sobre a época em referência. Como se poderá ver neste e textos subsequentes. Costa Oliveira fora nomeado para dar execução ao tratado assinado por Portugal e a França, parte com o adjunto, um antigo Secretário-Geral da Guiné, o Sr. Augusto César de Moura Cabral.

Como a comissão portuguesa e o próprio Capitão-de-Fragata Costa Oliveira irão passar pelo Forreá, talvez seja útil fazer-se aqui uma referência a uma comunicação à Sociedade de Geografia de Lisboa, oriunda de Bolama, e com data de 1 de novembro de 1882 e que tem a ver com a posse do Forreá. Este território fora entregue à Coroa Portuguesa no dia 27 de outubro e os autores da notícia escrevem impantes:
“É de tão grande alcance económico e político para a nação portuguesa este facto, que aos sócios da Sociedade de Geografia não lhes cabe no seu ânimo deixar de transmiti-lo à Sociedade, de que são aqui representantes.
Raiou agora nova época de felicidade para a Guiné Portuguesa com a entrega do território do Forreá, entrega devida ao muito zelo e incansável desvelo que o nosso consórcio e actual Governador, Pedro Inácio de Gouveia, tem manifestado na sua ilustrada administração, sempre cheia de abrolhos, os quais contudo com tenacidade e muita energia tem sabido vencer.
É sabido que os Fulas-Pretos e Fulas-Forros são raças irreconciliáveis, sendo aqueles em tempo escravos destes; a sua emancipação foi meditada e o governo português em tempo, mais por humanidade e menos por política, protegeu os Fulas-Pretos, sendo assunto debatido em território, onde a Coroa Portuguesa não tinha jurisdição efectiva.
Daqui nasceu uma hostilidade mais ou menos constante do lado dos Fulas-Forros contra a bandeira portuguesa, levando um dos chefes a dizer que ainda havia de servir-se do pau da bandeira portuguesa para com ele cozinhar.
Ao pau da bandeira vinham agarrar-se os Fulas-Pretos que esperavam emancipar-se. Daqui nasceu a paralisação do comércio, sendo preciso mais tarde fazer-se um tratado entre o governo português e os chefes Fulas-Pretos, Forros e Futa-Fulas.
Este tratado foi celebrado em Bolama, em Julho de 1881, vindo apenas representantes dos régulos.
O gentio cumpre, quando cumpre; as conveniências aconselhavam-no a tratar efectivo o tratado, porém, o governo português não se lhes tinha manifestado de uma maneira enérgica e temida, para que oferecesse sérias garantias, e de uma vez para sempre.
Passado tempo, o tratado estava esquecido e os Fulas-Forros atacavam as feitorias portuguesas e sem nenhum respeito nem medo de serem castigados.

O actual Governador, vendo que só uma lição severa podia consolidar o nosso poderio e que só pelo receio das nossas armas podia o gentio recear-se e sujeitar-se, enviou uma expedição à tabanca do Mamadu Paté, que em 28 de Setembro a atacou com o melhor êxito, destruindo aquela, classificada invencível, fortaleza gentílica.
Depois de uma tão completa e pronta aniquilação do prestígio do gentio do Forreá, estando tudo a postos para o ataque à tabanca de Ugui, corrido de medo, o seu régulo principal, veio pedir a paz, sujeitando-se a pagar uma indemnização de guerra conducente com as exigências naturais e bem pensadas do governador da província.
O nosso ilustre consórcio, o Governador, foi ainda intransigente quando se lhe pedia que a paz fosse feita ou fora da praça de Buba ou entrando o régulo na praça acompanhado da gente, talvez em número de mil homens armados.
Ao bom nome da bandeira portuguesa, que ele aqui representa, nada disto convinha, e ainda o nosso actual Governador, carácter enérgico e de fina compreensão, não permitiu transigência com aqueles usos, verdadeiros abusos, e o poderoso régulo viu-se obrigado a entrar com apenas vinte homens da guarda de honra, acompanhados dos seus chefes, e não esqueceu a ameaça de que só assim se poderia realizar a paz e inteira sujeição à Coroa Portuguesa.
Um emissário do governo seguiu o Futa acompanhado de um régulo do Forreá, a significar a paz ao chefe Almani, para que as suas caravanas de comércio possam seguir incólumes através deste território, e num curto período veremos chegar à praça de Buba os ricos produtos naturais que outrora tanto enriqueceram aquele mercado”.
E quem assina o documento exalta os incansáveis esforços do Governador Pedro Inácio de Gouveia.

A comissão portuguesa, em março de 1888, bem como a comissão francesa, partiram para Kandiafara, ao alcançar a ribeira Queúel, as abelhas atacaram a caravana, e o autor comenta:
“O burro saltava, corria, deitava-se no chão, espojava-se, parecia doido!”.
Dado ao pormenor, observa:
“As fortificações do gentio na Guiné são extremamente curiosas. As habitações ou cubatas são dispostas circularmente. Em torno delas constroem uma espécie de muralha com altos e grossos troncos de árvores das espécies mais resistentes, pau-carvão, pau-ferro, cibes, etc. E a dois metros pouco mais ou menos de distância, e pela parte de fora, uma segunda estacaria de troncos mais delgados e menos unidos, mas cobertos de ramos de plantas espinhosas. Grossos portões de madeira fecham estas tabancas. Tudo nos leva a supor que estas tabancas, assim construídas e ainda com o fosso interior para abrigo dos defensores, são consideradas inexpugnáveis, e que os gentios só atacam povoações abertas ou mal defendidas”.

É neste contexto que o Capitão-de-Fragata procede a uma minuciosa descrição das guerras no Forreá, mas acrescentando que a extensão das guerras alastrou com o envolvimento dos Beafadas. Em 15 de março, as duas comissões determinaram as posições geográficas do rio Cogon e no dia seguinte rumaram para Kolibá, e o autor esclarece:  
“Corubal, Kolibá, Kokoli e Koli são diferentes nomes do mesmo rio, dados nas diversas zonas onde corre. É sempre um grande rio de duzentos a trezentos metros de largura. Passa por Kadé, e dizem nascer numas altas montanhas do Futa-Djalon; é fundo, navegável muitas milhas pelo sertão dentro e despenha-se de quatro metros de altura próximo de Cussilinta”.

(continua)
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Notas do editor

Poste anterior de 15 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21171: Historiografia da presença portuguesa em África (220): Viagem à Guiné, para definir as fronteiras, 1888 (2) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 20 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21187: Historiografia da presença portuguesa em África (222): Tratados, convenções e autos firmados entre as autoridades portuguesas e os representantes dos povos da Guiné (1828-1918) - Resposta a comentários de Cherno Baldé, Luís Graça e Valdemar Queiroz (Armando Tavares da Silva, historiador)

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21176: Historiografia da presença portuguesa em África (221): Tratados, convenções e autos firmados entre as autoridades portuguesas e os representantes dos povos da Guiné (1828-1918) - III e última Parte (1882 -1918) (Armando Tavares da Silva)


Guiné > Bissau > Vista da fortaleza da Amura.  Fonte: Valdez, Francisco Travassos - "África Ocidental : notícias e considerações : dedicadas a Sua Magestade Fidelíssima El-Rei O Senhor Dom Luiz I". Lisboa : Imprensa Nacional, Tomo I, 1864,  406 p., gravuras. Imagem do domínio público.


Guiné > Bissau > s/d > Vista do interior da fortaleza da Amura... Do lado direito, os seculares poilões que povoavam o interior da fortaleza, alguns dos quais chegaram aos nossos dias. Do lado esquerdo, a antiga casa do Comando demolida em 1911 para no mesmo lugar se construir novo edifício. Origem: Fototeca da Sociedade de Geografia de Lisboa.


Guiné > Bissau > c. 1912 > Vista do interior da fortaleza da Amura: edifício do comando militar...  


Guiné > Bolama > c. 1912 ] > Primitiva ponte-cais... À direita, em segundo plano o palácio do governador. [Bolama foi capital da província até 1943].


Guiné > Região de Cacheu > Cacheu > c. 1912 ] >  Antiga Fortaleza.


Imagens do domínio público: cortesia de Armando Tavares da Silva. Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça / Camaradas da Guiné

As três últuimas imagens são provenientes de: Carlos Pereira,” La Guinée Portugaise”, Lisboa, 1914.

Imagens: cortesia de Armando Tavares da Silva


1. Mensagem do nosso grã-tabanqueiro de Armando Tavares da Silva: 

[ foto   à esquerda:  (i) engenheiro, historiador, prof catedrático aposentado da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra; 

(iii) "Prémio Fundação Calouste Gulbenkian, História da Presença de Portugal no Mundo" (, atribuído pelo seu livro “A Presença Portuguesa na Guiné — História Política e Militar — 1878-1926”); 

(iv) presidente da Secção Luís de Camões da Sociedade de Geografia de Lisboa]

Date: domingo, 12/07/2020 à(s) 23:42

Subject: Guiné - Tratados



Caro Luís,
Capa do livro
"A Presença Portuguesa na Guiné:
História Política e Militar: 1878-1926”

 Já várias vezes que tenho visto no blogue a afirmação que pouco se conhecia (e conhece) sobre a Guiné. 

Esta falta de conhecimento poderá levar-nos a interpretações ou juízos errados ou precipitados, os quais podem surgir dentro dos mais variados contextos, e que levem a concluir "que precisamos de mais e melhor investigação historiográfica sobre pontos de contacto comuns entre nós, Portugal e a Guiné".

Ora, os Tratados e Convenções que no decorrer dos tempos foram firmados entre as autoridades portuguesas e os representantes dos povos da Guiné inserem-se precisamente naqueles "pontos de contacto". 

 E é para melhor conhecimento daqueles contactos e melhor conhecimento da evolução histórica da relação estabelecida, que elaborei uma lista (que considero exaustiva) daqueles "Tratados e Convenções". 

São 76 no total e tiveram lugar durante quase um Século (entre 1828 e 1918). 

Segue em baixo a respectiva relação [ III e última Parte , de 1882 a 1918]. 

 Os seus textos estão disponíveis em referências conhecidas, e que poderão ser consultadas por quem se interessar por aprofundar aquele conhecimento.

Com um abraço

Armando Tavares da Silva
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Tratados, convenções e autos firmados entre as autoridades portuguesas e os representantes dos povos da Guiné (1828-1918):
lista organizada por Armando Tavares da Silva

III e última Parte  (1882-1918)

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1882, 11 Fevereiro  
Bordo do Guiné                    
Tratado de paz, amizade e obediência do régulo de Gam Pará,  representado por Senne Dabri
1882, 11 Fevereiro  Bordo do Guiné                      Tratado de paz, amizade e obediência entre o régulo de Jabadá, Bambi Jai e o governo da província da Guiné Portuguesa [, Pedro Inácio de Gouveia, 1881-1884]
1882, 30 Junho Geba                            Tratado de paz, amizade e obediência entre o régulo de Indorná, Dembel Alfabacár, e o governo da Província da Guiné Portuguesa 
 1882, 27 Outubro Buba                     Tratado de submissão, obediência e vassalagem do régulo do Forreá, Bakar Kidaly 
1883, 5 Abril      
Ilha de Djeta                          
Tratado de paz, amizade e obediência com o rei das Ilhetas, Adjú Pumol, na presença do comandante militar de Bissau, capitão Carlos Maria de Sousa Ferreira Simões 
1885, 16 Abril  Escuna Forreá                         Auto de vassalagem do rei das Ilhetas, Jepomon, perante os delegados do governo da província
1885, 15 Junho  Cacheu                              Auto de perdão aos gentios de Cacanda,  representados, entre outros, por Calotarcô, rei de Bernim e Ampanamacá, fidalgo de Bassarel, perante o capitão Carlos Maria de Sousa Ferreira Simões
1885, 4 Dezembro Buba                             Tratado de paz entre os fulas e beafadas por intervenção do governo e respectiva documentação anexa 
1886, 3 Dezembro  Buba                             Tratado de obediência e vassalagem ao governo por Iáiá, régulo do Forreá, Labé, Cabú e Cadé
1887, 4 Abril    Farim                          Tratado de paz, obediência e vassalagem à Coroa Portuguesa, prestada pelo rei de Dembel, senhor do chão de Faladu, perante o secretário-geral Augusto Cezar de Moura Cabral 
1891, 14 Fevereiro  Bissau                          Auto de submissão e vassalagem do régulo de Antula, Incamundé, feito em Bissau na presença do comandante militar, tenente Julio Cezar Barata Feio
1892, 2 Maio    Geba                             Auto de vassalagem a pedido do régulo de Cabomba, Denbá Methá
1892, 4 Maio    Geba                              Auto de vassalagem a pedido do régulo de Cocé, Sambel Cumbandi e seus fidalgos 
1892, 7 Maio    Geba                           Auto de vassalagem a pedido do régulo de Corubal, Damão Jábú e seus fidalgos, estando presente o secretário-geral Cezar Gomes Barboza
1892, 28 Agosto Buba                         Auto de vassalagem a pedido do régulo de Cabú e Forreá, Mamedi-Paté-Coiada, acompanhado dos seus conselheiros e chefes principais das tabancas dos dois territórios, e na presença do tenente Sebastião Casqueiro
1893, 27 Março Bissau                          Auto de vassalagem a pedi do do régulo de Chime [Xime,] e seus vassalos, perante o comandante militar, capitão Zacharias de Souza Lage
1894, 22 Julho Bissau                          Auto de submissão e obediência do régulo de Cassine [Cacine,],  perante o governador Luis Augusto de Vasconcellos e Sá  [1891-1895]
1895, 9 Março Cassine                          Auto de submissão e obediência do régulo de Cassine perante o comandante do presídio de Buba, tenente Annibal Augusto da Silveira Machado Júnior 
1895, 10 Abril  
Barro (Farim)         
Auto de vassalagem a pedido do régulo de Barro,  perante o comandante militar de Farim, tenente Jayme Augusto da Graça Falcão 
1898, 31 Janeiro  Bolama                            Acordo entre o governador Álvaro Herculano da Cunha [1899-1900] e o alferes de 2.ª linha Cherno Cali, chefe do Forreá 
1898, 23 Março Bolama                           Auto da Audiência concedida pelo governador Álvaro Herculano da Cunha a representantes das tribos de Cayó [ Caió]
1899, 13 Maio Bolama                            Auto de preito e homenagem prestado ao governo portuguez pelo régulo de Intim, Tabanca Soares e seus grandes
1903, 4 Maio  Bissau                           Auto de vassalagem prestado pelo chefe dos balantas de Pache, Bembeça, e seus grandes,  perante o comandante militar de Bissau, Manoel José do Sacramento Monteiro
1909, 14 Agosto Bissau                             Auto de vassalagem prestado pelos régulos de Intim, Bandim e Antula perante o governador Francelino Pimentel  [1909-1910], no edifício da residência
1918, 6 Janeiro Bolama                            Auto de submissão prestado pelos régulos de Bina (Canhabaque), perante o governador da província [Carlos Ivo de Sá Ferreira, 1917-1919]

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[Atualizámos a grafia de alguns topónimos conhecidos, como por exemplo Ziguinchor, Canhabaque, Xime, Cossé, Cacine; vêm indicados entre parênteses retos. O editor LG] 

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Nota do editor:

 Último poste da série > 15 de julho de 2020 >  Guiné 61/74 - P21171: Historiografia da presença portuguesa em África (220): Viagem à Guiné, para definir as fronteiras, 1888 (1) (Mário Beja Santos)