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sexta-feira, 22 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19611: Efemérides (300): 21 de julho de 1973, o último Dia da Cavalaria comemorado no CTIG, ainda com Spínola, em Bula, num sábado de copiosa chuva africana


Guiné > Região do Cacheu > Bula > 21 de Julho de 1973 > Dia da Cavalaria > O Gen Spínola passa revista às tropas acompanhado pelo Brigadeiro Alberto Banazol, comandante militar.


Guiné > Região do Cacheu > Bula > 21 de Julho de 1973 > Dia da Cavalaria >  O desfile das Panhard

Fotos (e legendas): © Leonel Olhero (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  Já aqui falámos do nosso camarada José Ramos, ex-1º cabo condutor de Panhard AML, do EREC 3432, que esteve em Bula, de 1972 a 1974. Sentou-se à sombra do poilão da Tabanca Grande, em 4 de outubro de 2018, no lugar nº 778. Vive na Lourinhã e é coordenador da ação social da Liga dos Combatentes-Núcleo de Torres Vedras;

 Recorde-se que ele é o fundador e editor do blogue Panhard Esquadrão de Bula, Guiné 1963-1974. Desse blogue, reproduzimos, com a devida vénia, o último poste publicado, com data de 17 de março de 2019.

DIA DA ARMA DE CAVALARIA - 1973

Sob um copioso dia de chuva africano, no ano de 1973, voltou a comemorar-se em Bula, com a presença de altas individualidades e delegações de algumas unidades da arma presentes no TO, o Dia da Cavalaria.

Do livro "Ultrajes na Guerra Colonial",  do ex-Fur Mil de Cavalaria Leonel Olhero [, também do EREC 3432 e membro da nossa Tabanca Grande,]  respigamos partes sobre este dia, do seu diário de comissão.


"Bula, 21 de Julho, sábado. Dia da Cavalaria. 

Vieram. Spínola, o velho e poderoso. (...) E  com fanfarra, e tudo!, as cerimónias aconteceram debaixo de impetuosa chuva (...)


(...) Houve muita pompa!, e manga de ronco! Desfilaram também Panhards e estandartes de batalhões da arma, errantes pela Província.

(...) Acabaram os festejos com a final de um torneio de futebol, que decorria ainda, quando na estrada de Binar milícias foram emboscadas. Um morreu. Houve feridos e entre eles um soldado enfermeiro branco."


Na interessante leitura dos textos deste camarada podemos encontrar outros acontecimentos, narrados na primeira pessoa, que refletem o melhor e o pior da sua comissão, mas que são também um testemunho, para as gerações futuras, dos muitos acontecimentos que todos os que vivemos esses tempos enfrentávamos.

Mal sabíamos que seria a ultima vez que o Dia da Cavalaria se celebraria na Guiné. (***)
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Notas do editor:


(**) Vd. poste de 22 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19036: Blogues da nossa blogosfera (105): Panhard, Esquadrão de Bula, Guiné 1963-1974, criado e editado por José Ramos, ex-1º cabo cav, EREC 3432 (1972/74)

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19051: Agenda cultural (650): Homenagem na Casa do Alentejo, Lisboa, sábado, dia 29, aos bonecos e aos bonecreiros de Estremoz, uma arte recentemente classificada como "património cultural imaterial da humanidade"



Casa do Alentejo, Lisboa, sábado, dia 29 > Homenagem aos bonecos e aos bonecreiros estremocences. 


1. Uma terra simpática, do nosso Alentejo, que tem na "produção do figurado em barro" uma arte com mais de 3 séculos, classificada no final do ano de 2017, pela UNESCO, como "património cultural imaterial da humanidade"... 

É um dos ex-libris do nosso Alentejo, que precisa ser conhecido, divulgado, acarinhado, protegido e... celebrado!... São meia dúzia os artesãos, os "bonecreiros", ativos. E mais de uma centena as figuras, já inventariadas, que saiem das mãos dos/das barristas, incluindo o "soldado montado a cavalo"... Ou não fosse Estremoz com tradições militares, sede do Regimento de Cavalaria nº 3 , o qual durante a Guerra do Ultramar  mobilizou, só por si,  cerca de 42 mil homens (!), organizados em 2 esquadrões de reconhecimento, 42 batalhões e 17 companhias independentes de cavalaria, que combateram nos 3 TO, Angola, Guiné e Moçambique.

Terra de gente valente e sacrificada, morreram na guerra do ultramar 25 estremocences, dos quais 8 no TO da Guiné. È também um pretexto para os homenagear e honrar a sua memória... Um pretexto para visitar a Casa do Alentejo onde os não-alentejanos também são bem vindos, de alma e coração.

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Nota do editor:


quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Guiné 61/74 - P18904: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca...é Grande (108): O Carlos Silvério, nosso futuro grã-tabanqueiro... n.º 783... Encontrei-o na Lourinhã e ele contou-me o seu... "segredo" ... Também me disse que morou em Bissau, na rua do "Chez Toi", quando lá esteve, casado, com a Zita, em 1972/73...


Oeiras > Algés  > 35.º almoço-convívio da Tabanca da Linha > 18 de janeiro de 2018 >  "O Carlos Silvério, meu amigo, camarada, vizinho e conterrâneo... Veio com a Zita. O casal é lourinhanense... 'Periquitos', na Tabanca da Linha. Ele, furriel miliciano,  da CCAV 3378, andou pelo Olossato e por Brá, antes de a gente fechar as portas da guerra, entre abril de 1971 e março de 1973. A Zita esteve com ele em Bissau... Já o convidei meia dúzia de vezes para se sentar à sombra do nosso poilão... Mas ele diz que prefere o sol... Lugares ao sol..., não temos na Tabanca Grande, só à sombra... Espero que ele ainda entre ao 7.º convite... Ficou a ponderar: parece que o problema é a foto... fardada. Enfim, temos que compreender e respeitar quem tem alergias às fardas" (*)...

Foto: © Manuel Resende (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Encontrei, este domingo passado, o meu amigo e camarada Carlos Silvério (**). Tinha vindo à missa da tarde, aqui na igreja da Lourinhã. Perguntei-lhe pela saúde da sua esposa Zita,  bem como  pelo padre Batalha, prior da freguesia de Ribamar onde ele mora (, e que é um grande amigo da Guiné-Bissau)... Um vai passando melhor, a outra, lá vai lidando (mal) com os seus problemas de coluna... Bem diz o povo: "Até aos quarenta bem eu passo, depois dos quarenta, ai a minha perna, ai o meu braço!"...

Como não podia deixar de ser, sempre que o reencontro, voltei a perguntar-lhe, pela enésima vez, quando é que ele tem pronta (leia-se: digitalizada...) a tal foto do tempo da tropa ou da guerra... Garantiu-me que sim, que a foto já está digitalizada pela sua filha e só ainda não a mandou porque está à espera do nº... 783 para formalmente pedir a inscrição no blogue...

Porquê este "fétiche", esta obsessão com o n.º 783?... Nós só vamos no n.º 776 (***). Faltam, portanto, 7 números para chegarmos ao 783, altura em que ele se quer inscrever... Em boa verdade, e ao ritmo de entrada de novos membros da Tabanca Grande, só daqui a dois ou três meses é que ele nos dará a honra da sua presença, sentando-se então à sombra do nosso poilão...

Ele já tinha feito essa confidência ao nosso coeditor Carlos Vinhal. E, respeitando a sua vontade, vamos ter mesmo que honrar seu pedido. Que é uma ordem, tratando-se de uma camarada da Guiné, e para mais filha da Lourinhã... Vamos então reservar esse número, o 783, para ele.

Vamos lá explicar melhor, para que não se pense que é um capricho dele... O 783 era o seu número de soldado-instruendo na recruta, em Santarém. Acabada a recruta, e quando ele se preparava para ir uns dias de férias, andava a passear com a sua Zita nas ruas de Santarém, quando passa rente a um major de cavalaria... Distraído com a namorada, mal deu conta dos galões amarelos do oficial superior que lhe fez a tangente... Mas ainda foi a tempo de se virar e de lhe bater a pala... O major continuou o seu caminho, mas, matreiro ou sacana, foi dar uma volta e, logo mais à frenre,  virou em sentido contrário  para o apanhar de frente. O Carlos desta vez não foi apanhado desprevenido e fez-lhe, corretamente, a devida continência... Mas o senhor oficial estava mesmo determinado em lixá-lo. Tirou-lhe o número (o 783) por causa da desatenção anterior.

Resultado: quando o Carlos Silvério chegou ao quartel, já tinha a participação do major... Enquanto o  resto do pessoal (cerca de 400)  foi gozar unsmerecidos  dias de licença em casa, o Carlos ficou de castigo no quartel... Seguindo depois diretamente, de Santarém para Tavira,  para o CISMI, numa penosa viagem de comboio que levou toda a noite, ...

Compreensivelmente, o Carlos Silvério "ficou com um pó" aos oficiais de cavalaria, em geral, e aos majores, em particular, nunca mais se esquecendo do seu azarento n.º 783 da recruta em Santarém. Ele é primo do tenente general reformado Jorge Manuel Silvério, nascido em Ribamar, em 1945, e já lhe contou em tempos esta peripécia que o deixou desgostoso em relação à instituição militar...

Está, pois,  explicado o "mistério" do n.º 783... e o desejo de só entrar para a Tabanca Grande depois do n.º 782...

2. Também me disse que gostou muito de ler a minha "short story" sobre o "Chez Toi" (****). Ele morava em Bissau, depois de vir do Olossato, com a Zita, já casado, justamente na rua do "Chez Toi"... Já não se lembra do nome da rua, só sabe que ia dar à  messe dos sargentos da Força Aérea (*****).

De resto, era complicado sair e entrar, numa rua "mal afamada" como aquela, sobretudo de noite, para uma jovem branca, casada, como era o caso da Zita.

Ficamos a saber, pelo depoimento do Carlos Silvério, que o "Chez Toi" existia (ou ainda existia) em 1973/74... Ele e a Zita costumavam ir ao Pelicano jantar e também comer ostras numa casa ali perto.. Eram 25 pesos uma travessa... Também costumavam comprar camarão, acabado de apanhar no Rio Geba, às vendedeiras locais que por ali passavam...

Boa noite, Carlos, fica registado o teu pedido e é hoje divulgado o teu desejo de seres o nosso grã-tabanqueiro n.º 783... Esperemos que, rapidamente, apareçam seis camaradas ou amigos da Guiné para perfazermos o teu número. Fica aqui a nossa promessa: o 783 fica reservado para ti!...

Um beijinho para a Zita, com votos de rápidas melhoras.
Um alfabravo para ti.

(LG)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 22 de janeiro de  2018  > Guiné 61/74 - P18241: Convívios (839): 35º almoço-convívio da Tabanca da Linha, Algés, 18/1/2018 - As fotos do Manuel Resende - Parte II: Tudo gente magnífica... "Caras novas", com destaque para o pessoal da CART 1689, camaradas dos escritores Alberto Branquinho e José Ferreira da Silva

(**)  Último poste da série > 15 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17474: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca ... é Grande (108): Na Lourinhã, fui encontrar o ex-1º cabo at inf Alfredo Ferreira, natural da Murteira, Cadaval, que foi o padeiro da CCAÇ 2382 (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1968/70)... e que depois da peluda se tornou um industrial de panificação de sucesso, com a sua empresa na Vermelha (Luís Graça)

(***) Vd. poste de 2 de agosto de 2018 >  Guiné 61/74 - P18891: Tabanca Grande (466): Manuel Gonçalves, ex-alf mil manutenção, CCS / BCAÇ 3852, Aldeia Formosa, 1971/73; ex-aluno dos Pupilos do Exército, transmontano, vive em Carcavelos, Cascais. Senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 776.

(****) Vd. poste de  4 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18895: Estórias de Bissau (18): Uma noite no Chez Toi: o furriel Car…rasco, meu anjo da guarda... (Luís Graça)

(*****) Segundo o nosso amigo Nelson Herbert,  jornalista guineense  que para a América, era aí que ele e os putos seus amigos brincavam com o seu "primeiro carro de rolamentos", utiliziando para o efeito o "declive que ia dos serviços metereológicos/Boite Cabaret Chez Toi... no cimo da então nossa rua, Engenheiro Sá Carneiro [, subsecretário de Estado das Colónias, que visitou a Guiné em 1947, ao tempo do Sarmento Rodrigue]"...  Essa rua era "a mesma da Praça Honório Barreto, do Hotel Portugal, do Café Universal, do Restaurante ou Pensão Ronda... já agora que ia dar ao cemitério, passando lateralmente pelo hospital" e indo dar "à messe dos Sargentos [da Força Aérea]"...

quinta-feira, 9 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17121: Consultório militar do José Martins (21): Trabalho de investigação do Aspirante de Cavalaria Pedro Nuno Guilhermino Marçal Lopes sobre "A tipologia das Unidades Mobilizadas pela Arma de Cavalaria durante a Guerra de África (1961-1974)" (Academia Militar, 2014)


Capa do trabalho de investigação do Aspirante de Cavalaria Pedro Nuno Guilhermino Marçal Lopes



O NOSSO BLOGUE COMO FONTE DE INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO

Foto à esquerda: José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), nosso colaborador permanente, autor da série "Consultório Militar".

Já não me recordo quando e como foi: se o pedido foi enviado à Tabanca Grande, ou se o interessado, no caso um Aspirante-Aluno, da Academia Militar - Curso de Cavalaria, Pedro Lopes, me contactou por e-mail pessoal.

Sei que houve troca de e-mails, entre ambos, quando o mesmo preparava o “Relatório Científico Final do Trabalho de Investigação Aplicada” no ano de 2014.

Escolheu estudar e desenvolver, como tema do seu trabalho de curso,  “A Tipologia das Unidades Mobilizadas pela Arma de Cavalaria durante a Guerra de África (1961-1974)”.

Pela minha experiência sei que foram largas horas que dedicou ao seu trabalho, nomeadamente nas pesquisas às várias Histórias das Unidades, que teve de consultar, sobre as forças de Cavalaria que operaram nos três teatros: Unidades de Reconhecimento, Polícia Militar e “tipo Caçadores”.

Sobre o trabalho, quem seria melhor para o apresentar, que o seu autor? É o resumo do trabalho, que transcrevo:

O presente Trabalho de Investigação Aplicada encontra-se subordinado ao tema “A Tipologia das Unidades Mobilizadas pela Arma de Cavalaria durante a Guerra de África (1961-1974)”. O principal objetivo é a caracterização da tipologia das unidades de Atiradores, de Reconhecimento e Polícia Militar, mobilizadas pelas unidades territoriais de Cavalaria da metrópole, para os Teatros de Operações de Angola, Guiné e Moçambique, durante a Guerra de África (1961-1974).


Numa primeira fase tratamos de contextualizar o leitor com a temática da Guerra de África, começando com a situação Portuguesa de então, no cenário internacional, passando pelas principais características da guerra subversiva e terminando com o papel da Arma de Cavalaria neste conflito.

Na segunda fase, relativa à mobilização de Unidades de Reconhecimento, inicialmente é apresentado o dispositivo da Arma de Cavalaria, e as principais Unidades Mobilizadoras. De seguida são apresentados os dados da mobilização de Unidades ao longo do tempo para os três Teatros de Operações, juntamente com o esforço relativo de cada unidade mobilizadora. No final são abordadas as principais viaturas que equiparam este tipo de Unidades, e é feita uma síntese conclusiva do capítulo.

À semelhança do terceiro capítulo, também no quarto são analisados os dados de mobilização e o esforço das Unidades Mobilizadoras, mas desta, das Unidades do tipo Atiradores. Na síntese conclusiva deste capítulo é demonstrado o esforço relativo de mobilização comparativamente às Armas de Infantaria e Artilharia.

Em seguida são apresentados os dados de mobilização das unidades de Polícia Militar, de forma semelhante aos capítulos anteriores.

Na fase final do trabalho são respondidas as questões derivadas e central, que nos indicam as Unidades Mobilizadoras, tal como o esforço relativo de cada tipo de unidades, para cada Teatro de Operações.

Conheci o autor pessoalmente quando, ocasionalmente, nos encontrámos no Arquivo Histórico Militar, que aproveitámos para trocar impressões sobre o trabalho que estava a organizar. Fiquei com a certeza de que seria um trabalho a não perder, mas a que só agora tive acesso, através de um alerta do Luís Graça.

Ainda não o li totalmente. (Poderão encontrar, em anexo, as listas das unidades e subunidades de Cavalaria mobilizadas para o TO da Guiné: Apêndices F - Batalhões; G - Companhias; H - Esquadrões de Reconhecimento; I - Pelotões de Reconhecimento;  J - Companhias de Polícia Militar; e K - Pelotões de Polícia Militar.)

Porém estou certo de que, quer pelo autor, quer o seu orientador, Tenente-Coronel de Artilharia Pedro Alexandre Marcelino Marquês de Sousa, Oficial Superior da Arma de Artilharia e Professor História na Academia Militar, quer por outros Oficiais que lhe transmitiram o seu saber e dedicação à causa castrense, este trabalho é um “louvor” aos antigos combatentes, que o autor não se esqueceu de lembrar e agradecer:

“A todos os ex-combatentes que mantêm acesa a chama da nossa história através dos seus contributos nos blogs relativos à guerra colonial, em particular ao camarada José Martins“ (p. iii).

Amigos e camaradas, caros leitores do nosso blogue, poderão, e deverão, ler este trabalho disponível, em formato pdf (119 pp., com anexos),  no RCAAP - Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal:

José Marcelino Martins
Odivelas, 7 de Março de 2017
___________

Nota do editor:

Último poste da série > 22 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17074: Consultório militar do José Martins (20): Pelotão de Reconhecimento AML/Panhard 1106 (Guiné, 1966/68)

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16726: (De)Caras (52): Um bravo do meu pelotão, o 1.º cabo apontador Manuel Lucas dos Santos: evocando aqui uma delicada escolta a uma coluna que, em 16 de maio de 1973, foi do Pelundo a Jolmete resgatar 6 cadáveres (Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, Pel Rec Daimler 3089, Teixeira Pinto, 1971/73)



Lisboa > Cais da Rocha Conde dfe Óbidos > 11 de outubro de 1973 > Regresso no T/T Niassa > Alguns dos  bravos do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73) > Da esquerda para a direita, (i) José Eduardo Alves, (ii) Gonçalo Garcia Pedroso (condutor da viatura Daimler, aqui referida nesta crónica), (ii)  David da Silva Miranda (1º cabo mecânico, de óculos escuros), (iv) Lino Pereira Barradas, (v) Manuel Lucas dos Santos (1º cabo, assinalado com um retângulo a verde, o protagonista da história que se conta a seguir, natural de Açor, Góis), e (vi) José Gabriel Caloira.


Lisboa > Cais da Rocha Conde dfe Óbidos > 11 de outubro de 1973 > Regresso no T/T Niassa > O resto dos bravos do pelotão, que acompanharam o seu comandante no regresso a casa: da esquerda para a direita, Manuel Teque da Silva, Ademar Peres Marques, Luís Soares da Silva e Fernando Cândido Silva.


Guiné  > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Janeiro de 1972 >  A “oficina” do Pelotão Rec Daimler 3089.  É visível o 1º cabo mecânico David Miranda que fazia o "milagre" de manter as viaturas sempre operacionais. O pelotão chegou  a ter duas ou três Daimlers, vindas da sucata de Bissau, para "canibalizar". Ao trabalho do Miranda muito ficou a dever o sucesso do Pelotão. O pelotão conseguia ter as cinco viaturas operacionais, do princípio ao fim da comissão, foi um ponto de honra para o seu comandante. Estavam equipadas com a metralhadora MG 42, e circulavam sem a torre giratória. O problema das Daimlers não era o motor mas o sistema de transmissão... A boa conservação das viaturas e das MG 42 era fundamental para a sua operacionalidade e fiabilidade...


Guiné  > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Fevereiro de 1973 > O 1º cabo apontador Manuel Lucas dos Santos, no regresso de uma viagm a Caió


Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73)

Fotos (e legendas): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Esta crónica chegou-nos à caixa do correio em 6 de junho passado. Faz sentido publicá-la agora,  depois da edição do último poste relativo ao álbum fotográfico do autor, Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73), adido ao BCAÇ 3863 (1971/73). 

É um texto inédito, escrito a pensar no nosso blogue, a partir da reconstituição de memórias do ex-1º cabo cav, Manuel Lucas dos Santos. Datado de junho de 2016, não faz parte dos textos (poemas e crónicas) do  livro recente do Francisco Gamelas:  "Outro olhar - Guiné 1971-1973" (Aveiro, 2016, ed. de autor, 127 pp.+ ilust; preço de capa 12,50 €). (*).

Entenda-se também este texto como uma homenagem a todos os camaradas da arma de cavalaria (Pel Rec, EREC...) que alinhavam com os infantes em  colunas  como esta, a seguir descrita, delicada, não isenta de riscos e com momentos de grande tensão (**).

Nesta crónica há uma referência ao condutor Pedroso, o Gonçalo Garcia Pedroso (vd. foto acima), outro dos bravos do Pel Rec Daimler 3089. Iam duas Daimlers na coluna, uma à frente e outra atrás.

Segundo esclarecimento adicional do autor da crónica, e depois de voltar a falar com o Manuel Lucas dos Santos, ele confirmou a data e acrescentou o seguinte:
(i) estas seis mortes (civis ou na maior parte civis), foram contados um a um por ele;
(ii) resultaram de um ataque do PAIGC ao aquartelamento no momento em que população e militares assistiam a uma sessão de cinema ao ar livre;
(iii)  o capitão da companhia de Jolmete foi depois transferido para a companhia africana (, a  CCAÇ 16, ) que estava em Bachile...

O Manuel Lucas dos Santos, há uns largos anos, encontrou-se com o antigo capitão de Jolmete, num casamento, e tiveram ocasião de recordar estes tristes acontecimentos. Acresce ainda dizer que o troço Pelundo-Jolmete era "picada", não era alcatroado, e estava-se já no início da época das chuvas...

Nessa altura estava no Pelundo o BART 6521/72:
(i) mobilizado pelo RAL 5 (Penafiel);
(ii) partiu em 22/9/1972 para o TO da Guiné;
(iii) regressou em 27/8/1974;
(iv) esteve sediado  no Pelundo;
(v) cmdt: ten-cor art Luís Filipe de Albuquerque Campos Ferreira.

Em Jolmete esteve a 3ª C /BART 6521/72 (de 27/9/19721 a 27/8/1974). Teve 2 cmdts: cap mil art Luís Carlos Queiroz da Silva Fonseca; e  cap mil inf  Edmundo Graça de Freitas Gonçalves. Na Tabanca Grande, temos poucos camaradas deste batalhão.

Desconhece-se, por outro lado, as razões que terá levado comandante de batalhão a integrar a coluna a Jolmete e pedir o apoio do Pel Rec Daimler 3089, que estava adido a outro batalhão, o BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73). (LG)


2. Sob o signo do medo

por Francisco Gamelas (com Manuel Lucas dos Santos)

Cedo, por volta das oito da manhã, acabados de regressar do pequeno almoço, depois de já termos feito a escolta da coluna que seguia para Bissau até ao Pelundo, entrou na caserna um mensageiro com uma convocação: o nosso Comandante [, do BCAÇ 3863,] requer a presença do 1º Cabo que substitui o Alferes Gamelas. 

Corria o dia 16 de maio de 1973. O nosso Alferes estava em Bissau à procura de peças para as Daimlers, no cemitério de viaturas semidestruídas que ali havia. Depois da saída do mensageiro, olhei os meus camaradas e comentei: quem é que andou a fazer merda ontem à noite? Ninguém se acusou. 

Respirei fundo, agarrei coragem e lá fui para o covil, como rês a caminho do matadouro. Boa coisa não seria. À porta semiaberta do gabinete, enquanto fazia a continência, pronunciei a fórmula da praxe: dá-me licença meu Comandante? O Tenente Coronel já se encontrava sentado à secretária, de semblante pensativo e preocupado. Não parecia zangado, apenas apreensivo, respondendo em voz baixa, como era seu timbre, mas de forma suave: entre nosso Cabo. Fique à vontade. 

Por detrás das lentes dos óculos os seus olhos miúdos começaram por me sondar durante alguns segundos. Deveria ser visível a minha inquietação e o Comandante ponderava as suas palavras. Ontem, no Jolmete, sede duma companhia do Batalhão do Pelundo, deu-se uma flagelação muito forte do inimigo. Houve vários mortos cujos corpos é preciso resgatar para seguirem para Bissau. 

Com uma breve pausa avaliou o efeito das suas palavras. Não sei o que viu no meu semblante, mas, depois da surpresa, uma inquietação, filha do medo, ia tomando conta do meu espírito. O Comandante continuou. O Senhor Comandante do Pelundo solicitou-me ajuda para ir ao Jolmete resgatar os cadáveres. Perguntou se haveria possibilidade das Daimlers poderem fazer parte da escolta. Pareceu-me bastante preocupado, nosso Cabo

A preocupação dele era visível. Fez outra pausa para me olhar bem nos olhos espreitando uma reacção. Desde quando estes gajos gastavam tanto latim para darem as suas ordens? Nosso Cabo, tenha prontas duas Daimlers para integrarem a escolta ao Jolmete dentro de vinte minutos, seria tudo quanto era necessário para que a ordem se cumprisse sem mais delongas. 

Estas falinhas mansas eram como facas afiadas a penetrarem de mansinho pelo ventre da minha inquietação. Permaneci calado. O nosso Cabo não acha que os devemos ajudar? Perguntou, sem parar de me fitar. Desta vez, o tom já foi mais incisivo, ainda que permanecesse dentro do cordial, mesmo com uma certa dose de intimidade, o que me desconcertava. O Comandante estava a fazer de mim alguém suficientemente importante para ter voto na matéria, o que me inquietava porque nunca tal tinha acontecido, nem seria normal acontecer. Não era este o ADN do relacionamento comando versus subordinados. 

O cerco apertava-se e não tinha como fugir a dar uma resposta. Quem sou eu, meu Comandante, para fazer avaliações. O Pelotão Daimler fará o que o meu Comandante determinar. Um muito leve sorriso acompanhou uma pequena, mas visível descompressão do seu semblante. Estava satisfeito com o evoluir da situação, o mesmo será dizer, que estava satisfeito com os resultados da sua estratégia de abordagem. O Senhor Comandante do Pelundo [, BART 6521/72,]  pode então contar com a ajuda das Daimlers na deslocação ao Jolmete? 

Foi uma pergunta a meio caminho duma afirmação. Limitei-me a articular o óbvio: o meu Comandante sabe que o Pelotão Daimler só está ao serviço deste Batalhão. Contudo, se o meu Comandante entender prestar uma ajuda solidária ao nosso Comandante do Pelundo, o Pelotão Daimler está pronto para cumprir a sua parte.

Desta vez o sorriso foi franco e a descompressão evidente. Óptimo, nosso Cabo. Vou então dizer ao Senhor Comandante do Pelundo que pode contar com duas esquadras dentro de uma hora no Pelundo - e levantou-se para dar por terminada a conversa. 

Ainda arranjei coragem para articular: o meu Comandante desculpe, mas gostaria de fazer um pedido... E ele: Diga lá nosso Cabo. O tom permanecia cordial.  Pretendia que o Senhor Comandante do Pelundo nos garantisse um rebenta-minas a abrir a coluna. Ser uma Daimler a fazer esse papel não seria justo e era um desperdício de uma metralhadora, em caso de problemas. O Comandante, já de pé, olhou-me como que admirado e retorquiu: Compreendo. Tem toda a razão. O nosso Cabo pode contar com a viatura rebenta-minas. 

Fiz a continência, e, de novo, articulei a fórmula aplicável: o meu Comandante dá-me licença que me retire? Resposta:  Dentro de uma hora esteja pronto para partir para o Pelundo, nosso Cabo. Por instruções do nosso Capitão das Informações, que teve a “gentileza” de me informar que era provável haver contacto com o inimigo, a Daimler da frente – a minha - foi reforçada com uma segunda metralhadora e respectivas fitas de munições, para além de mais umas quantas granadas. Que não fosse por falta de fruta que perdêssemos a contra-dança. 

Chegámos ao Pelundo cerca das dez e trinta, onde já nos esperava, no meio da parada, o Tenente Coronel Comandante do Batalhão, que imediatamente se acercou de nós. Obrigado por terem vindo nosso Cabo. E a estupefacção continuava. Este comportamento não era nada normal. Já almoçaram? Perguntou o Comandante. Às dez e meia da manhã ainda ninguém almoçou, pelo que, meio a sorrir respondi: não meu Comandante, viemos com ração de combate. Retorquiu: Vou já mandar preparar um bom almoço para vocês,

E assim foi. Dentro de umas dezenas de minutos, estávamos todos a almoçar, como raramente tivemos oportunidade de o fazer ao longo de toda a comissão. Contudo, a inquietação era mais que muita. Todos os sinais indicavam que a deslocação iria ser bastante perigosa. Se tivermos que morrer, morreremos de bandulho cheio, comentei sarcástico. 

Cerca do meio dia, começámos a organizar a coluna. Ao deparar com o Comandante, perguntei-lhe pela viatura rebenta-minas, que, essa sim, era a minha grande preocupação. O Comandante, apontando com o braço, disse sorridente: olhe ali nosso Cabo. Lá estava uma Berliet atulhada de sacos de areia até acima. Até aqui tudo bem. Siga a marinha e alma até Almeida. Percebi que o Comandante também iria integrar a coluna, o que, por não ser comum, somava alguns pontos a seu favor. 

Pusemo-nos em marcha pelas doze e trinta. Connosco, seguiam na coluna mais seis unimogs com soldados armados. Entre eles seguia o Comandante do Pelundo. A ligação ao Jolmete fazia-se por uma sequência de picadas, em alguns percursos apenas visíveis nos trilhos das rodas das viaturas, onde o vermelho da terra se deixava ver. Nesses trilhos elas seguiam sozinhas, sem necessitar do volante. O resto era vegetação, com capim da altura de um homem a roçar nas laterais. Digamos que poderíamos ser “pescados à mão”. Pedroso, deixa a Berliet afastar-se um bocado, disse para o camarada condutor quando iniciámos a marcha - a nossa Daimler seguia em segundo lugar na coluna. Se houver merda, teremos, assim, mais algumas hipóteses de reagir. 

O trajecto era de cerca de vinte e cinco quilómetros, que foi percorrido debaixo de uma enorme tensão, a baixa velocidade. O que nos corria nas veias era pura adrenalina. Sem qualquer peripécia no percurso, lá chegámos ao nosso destino em pouco mais de uma hora.

O cenário que encontrámos era desolador: destruição e caos, com semblantes fantasmáticos a espreitar pelos cantos. Os seis corpos já estavam alinhados nas macas à nossa espera. Vim a concluir que a Berliet, afinal, não carregava só sacos de areia, também trazia as "salgadeiras" para os cadáveres. Mau sinal. Não iríamos ter rebenta-minas no regresso, quase de certeza. Não seria lógico que a viatura com os corpos voltasse a fazer de rebenta-minas. Foi o que aconteceu. 

Depois dos caixões fechados e do Comandante ter terminado a observação do local e falado com os seus oficiais, regressámos ao Pelundo. Desta feita já não vai haver viatura rebenta-minas, nosso Cabo, teve a “gentileza” de me informar o Comandante. Pedroso, sempre a abrir. Quem quiser que nos siga. Apesar do repto, demorámos a chegar quase o mesmo tempo que tínhamos gasto na ida. A Berliet não poderia acompanhar um ritmo mais enérgico. 

Por volta das cinco e meia estávamos em Teixeira Pinto, sãos e salvos, já depois do grosso da coluna ter ficado no Pelundo. Agora, era só esperar que os níveis de adrenalina descessem, que a serenidade possível recuperasse os seus níveis normais. Entretanto, no que respeita ao horrendo observado no Jolmete, não houve borracha eficaz que o apagasse. Até hoje.

Quanto aos “estranhos” comportamentos dos Comandantes, continuam a fazer-me cócegas nos neurónios. Digamos que, com o medo à mistura, comum a todos nós, a alma humana tem destes comportamentos desalinhados.

Aveiro, junho de 2016
Francisco Gamelas
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Comentário do autor

Este episódio foi-me contado pelo então 1º Cabo do meu Pelotão Daimler Manuel Lucas dos Santos – o narrador da crónica - que, na minha ausência, assumia o seu comando (o meu 1º Sargento estava destacado no Cacheu com duas esquadras do pelotão). 

Durante estes últimos anos, em que, quase sempre, nos nossos almoços anuais este episódio vinha à baila, comecei a dar-lhe alguma importância, mas, sem verdadeiramente compreender as motivações do comando para os seus tão incomuns comportamentos. Até que parei para reflectir.

Será que as Daimlers seriam solicitadas se o Tenente Coronel do Pelundo  [BART 6521/72] não integrasse a coluna?  Obviamente que não: nunca o foram, assim como a enormidade de seis unimogs com tropa armada. Nas minhas colunas para o Cacheu e para Bissau, iam dois.

 E a atitude do Tenente Coronel de Teixeira Pinto [BCAÇ 3863], como se explica? No caso de existirem sarilhos graves com as Daimlers e os seus ocupantes, eles teriam que constar no relatório da acção e alguém em Bissau [leia-se: o gen Spínola] iria perguntar o que é que as Daimlers estavam lá a fazer. Não acredito que fosse a decisão favorável de um 1º Cabo em participar na escolta que ilibasse o Comandante de sérias responsabilidades.

Visto deste prisma, o episódio passa a ter algum interesse, pelo que aqui to deixo à tua apreciação para eventual publicação no teu blogue. (**)
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Notas do editor:

domingo, 21 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14775: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte I: Chegadas e partidas...


Porto > RC 6 > Abril de 1970> O Pel Rec Daimler 2046,  na passagem à disponibilidade (1): O Jaime Machado é o quarto, a contar da esquerda para a direita, na segunda fila. A composição incial ds subunidade eram 14 elementos, em maio de 1968.



Porto > RC 6 > Abril de 1970> O Pel Rec Daimler 2046,  na passagem à disponibilidade (2): o porta-estandarte



T/T Niassa > Viagem de regresso, Bissau-Lisboa, abril de 1970


T/T Niassa > Viagem de regresso, Bissau-Lisboa, abril de 1970


T/T Niassa > Viagem de regresso, Bissau-Lisboa, abril de 1970


T/T Niassa > Viagem de regresso, Bissau-Lisboa, abril de 1970


 Guiné > Bissau > fevereiro de 1970 >  O cargueiro Rita Maria, atracado no porto, visto da LDG que veio do Xime com o pessoal do Pel Rec Daimler 2046 (que irá ficar em Bissau ainda dois ou três meses, antes de regressar à metrópole)


Guiné > Bissau > fevereiro de 1970 > Porto: ao fundo do lado esquerdo, a fortaleza da Amura, e do lado direito, o cais acostável e o edifício das alfândegas... È mais provável que a foto tenha sido feita a partir ds LDG que chegava a Bissau, vinda do Xim


Guiné > Bissau > Porto > fevereiro de 1970 > Porto fluvial do Xime, tirada "à medida que nos afastavamos,  transportados na LDG para Bissau"



Guiné > Bissau > Porto > s/d > Não temos a certeza se a chegada da LGD a Bissau, vinda do Xime, tendo à esquerda a ilha de Rei



Guiné > Rio Geba > Fevereiro de 1970 > Viagem de LDG,  de regresso, do Xime a Bissau,  funa a comissão de serviço em Bambadinca


Guiné > Rio Geba > Fevereiro de 1970 > Viagem de LDG,  de regresso, do Xime a Bissau,  finda comissão de serviço em Bambadinca


Guiné > Rio Geba > Fevereiro de 1970 > Viagem de LDG,  de regresso, do Xime a Bissau,  finda a comissão de serviço em Bambadinca


Guiné > Rio Geba > Fevereiro de 1970 > Viagem de LDG,  de regresso, do Xime a Bissau,  finda a comissão de serviço em Bambadinca



Guiné > Rio Geba > Fevereiro de 1970 > Viagem de LDG,  de regresso, do Xime a Bissau,  funa a comissão de serviço em Bambadinca... Tanto a LDG 101 [Alfange] como a LDG 104 [Montante] estavam equipadas com 2 peças Oerlikon de 20 mm  


Guiné > Rio Geba > Fevereiro de 1970 > Viagem de LDG,  de regresso, do Xime a Bissau,  finda a comissão de serviço em Bambadinca


 Guiné > Rio Geba > Xime > Fevereiro de 1970 > Viagem de regresso a Bissau...Tendo em conta que o fotógrafo está em terra,  a foto diz respeito à chegada ao Xime da LDG que depois transportou o pessoal do Pel Rec Daimler 2046 até Bissau.


Fotos (e legendas): © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Inícío da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Jaime Machado, ex-alf mil cav,  Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70). Vive ma Senhora da Hora, Matosinhos.

 Alguns dados sobre o  Pelotão de Reconhecimento Daimler  n.º 2046 (*):

(i)  teve como unidade mobilizadora o Regimento de Cavalaria n.º 6, no Porto;

(ii)  foi organizado em 13 de Março de 1968, sendo  destinado a reforçar a guarnição normal da província da Guiné;

(iii) os exercícios de IAO  foram efetuados nas regiões limítrofes da cidade do Porto em conjunto com mais nove pelotões da mesma especialidade, todos com o mesmo destino, o TO da Guiné:

(iv) após o gozo dos dez dias de licença regulamentares,  embarcou no T/T Niassa, no cais da Rocha de Conde de Óbidos,  em Lisboa,  no dia 1 de Maio de 1968; 

(v) aportou a Bissau  a 6 de maio; 

(vi) na manhã do dia seguinte foi o pessoal do Pel Rec Daimler  2046 transferido para uma LDG [possivelmente a 101, Alfange ], tendo seguido diretamente pelo rio Geba, até ao Xime;;

(vii) seguiu depois em coluna auto para Bambadinca onde ficou ao serviço do comando do BART 1904 (Bambadinca, 1967/68) (rendido em setembro de 1968 pelo BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70):

(viii) O Pel Rec Daimler 2046 tinha inicialmente a seguinte composição (14 elementos): 

Cmdt, alf mil cav Jaime de Melo R. Machado;
2º srgt cav, Jose Claudino F. Luzia
1º cabo cav, apontador de Daimler, José Óscar Alves Mendes
1º cabo cav, apontador de Daimler, João Manuel R Jesus
1º cabo cav, apontador de Daimler, Manuel Maria S. Alfaia
1º cabo cav, apontador de Daimler, João de Jesus Cardoso
1º cabo cav, apontador de Daimler, José Ferreira Couceiro
1º cabo SM, mecânico, Germano de Oliveira Fonseca
Soldado cav, condutor Daimer, António José Raposo
Soldado cav, condutor Daimer, Aníbal José dos A. Duarte
Soldado cav, condutor Daimer, Joaquim Pinho Marques
Soldado cav, condutor Daimer, José do Nascimento Lázaro
Soldado cav, condutor Daimer,  Arlindo da Conceição Silva
Soldado cav, condutor auto,Manuel Moreira Tavares

(ix) Baixas sofridas:  em 2/12/1968 foi evacuado para o HM 241, por doença, o 1.º cabo n.º 07731167 Mamuel Maria Serra Alfaia;  em 19/12/1968 foi o mesmo militar evacuado para o HMDIC, não tendo regressado ao pelotão;  em 1/4/1969 apresentou-se nesta subunidade,  para o substituir, o 1.º cabo n.º 12950268, António Luís dos Reis; em 22/9/1969 baixou ao HM 241 o 2.º Sargento n.º 51517311 José Claudino Fernandes Luzia; em 29/9/1969 foi evacuado para o HMP não tendo sido substituído.

(x)  Finda a comissão, em fevereiro de 1970, esta subunidade regressou à metrópole, no mesmo T/T Niassa, em abril de 1970.

(Continua)

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sexta-feira, 3 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14432: Notas de leitura (699): “Elefante Dundum – Missão, testemunho e reconhecimento”, por João Luíz Mendes Paulo, edição de autor, 2006 (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Junho de 2014:

Queridos amigos,
O Major Mendes Paulo chega a Piche e volta a sonhar com carros de combate, material satisfatório para aquelas picadas sem fim daquele ermo do Leste. Spínola apoia-o, o Ministério da Defesa Nacional entrava o processo, dá-lhe viaturas Chaimite com armas que encravavam, desapontamento maior não podia haver.
E segue-se a ação Mabecos, um desastre, um monumento à incompetência dos seus superiores. Ele decide pôr termo à carreira militar. É punido e louvado, algo que eu também experimentei.
O mais edificante deste livro não é o amor aos carros de combate, é o apreço que ele denota em cada página pelos seus soldados.
Não percam esta leitura.

Um abraço do
Mário


O senhor M5A1: A história prodigiosa do Elefante Dundum (2)

Beja Santos

O Major Mendes Paulo quando chega à Guiné é colocado em Piche, recorda os carros de combate M5A1, que usara com sucesso em Nambuangongo.

Em “Elefante Dundum, Missão, Testemunho e Reconhecimento”, edição de autor, 2006, este oficial de Cavalaria descreve ao pormenor como lhe negaram esse sonho, oferecendo-lhe em alternativas viaturas Chaimite, que se revelaram inadequadas ao terreno. Será na Guiné que irá descobrir que a sua carreira militar chegou ao fim.

Descreve o dispositivo do Batalhão colocado em Piche e com elevado sentido de humor conta como os soldados respondiam de forma sugestiva e humorística à falta de meios. Um pórtico assinalava o “Aeroporto Internacional de Canquelifá”; neste destacamento havia o Largo do Patacão, mas também o beco das necessidades e uma tabuleta colocada numa chapa de bidão:

Noites Festivas de Canquelifá
Programa
Rajadas de Longo Alcance
Corrida para as Valas
Concurso de Palavrões
Salva de Foguetões e Morteiros
Pirotecnia Variada
Com a simpática colaboração do PAIGC

Não demorou a que Mendes Paulo entrasse em litígio com o CAOP 2, ver-se-á adiante o seu desfecho. Confrontado com os graves problemas a que eram sujeitas as colunas auto, obrigadas a laboriosas picagens para a deteção de minas, Mendes Paulo apercebe-se que os M5A1 fariam ali um jeitão. E dá-se a circunstância de Spínola, informado das propostas de Mendes Paulo para trazer carros de combate para a Guiné, convocou de urgência para Bissau. O Comandante-Chefe começou a conversa nos seguintes termos: “Vamos direitos ao assunto. Preciso de blindados para manter abertos os itinerários principais. Empenhamos cada vez mais meios aéreos para garantir a segurança. Dizem que não há mais blindados e que já compraram tudo o que podiam. Conte lá essa história dos M5A1 no norte de Angola”. Mendes Paulo contou.

Vem até Lisboa e dirige-se até ao Ministério da Defesa Nacional. Começaram a chover as objeções: cada revisão de um M5A1 custaria mais de 200 contos e, pior do que tudo, eram material NATO. Mendes Paulo protesta, aquilo é material obsoleto. Há depois uma conversa entre Spínola e o interlocutor de Mendes Paulo. O Ministro da Defesa Nacional manda fornecer quatro viaturas Chaimite e preparar pessoal apropriado.

E começaram a surgir problemas com armamento: as metralhadoras HK-21 encravavam, pediu para se usarem as Browing-30, iguais às do M5A1, responderam que não, que era material NATO. Mendes Paulo sente saudades dos M5A1, com tudo no sítio – metralhadoras, canhão, rádios, intercomunicação, motor auxiliar e até, luxo máximo, giro estabilizador e rotação da torre elétrica hidráulica. Onde as Chaimite davam provas francamente positivas era na capacidade anfíbia, mas não tinham armamento capaz nem rádios eficientes. Na demonstração em João Landim, em fevereiro de 1971, as Chaimite desiludiram, o espetáculo foi um fiasco, salvou-se a demonstração da capacidade anfíbia. Enfim, foram mais cinco blindados para reforçar os parcos meios do Esquadrão de Bafatá.

O azedume com o CAOP 2 era notório e patente. E é nisto que surge a ação Mabecos. Tratava-se de uma ação de artilharia, o BCAV 2922 devia fornecer a devida escolta às peças. Estudaram-se os itinerários e o apoio aéreo. Os planos pareciam em boa conformidade, o CAOP 2 adia a ação. Para Mendes Paulo, tinha-se perdido a surpresa, o inimigo ia perceber qual era a missão, acabava o segredo, estariam à espera da força que ia sair de Piche. Ordens e contraordens. Para agravar a situação, rebentou uma granada numa caserna, morreram três homens. Caía a tarde quando começou a ação Mabecos.

Não demorou a terem pela frente os guerrilheiros do PAIGC, é um bigrupo fortemente armado. Rebentam granadas por toda a parte. Os artilheiros guineenses de Canquelifá abrem fogo com o 14, em tiro direto. Vai por ali tropa novata. O IN acaba por retirar. O soldado Duarte Dias Fortunato será feito prisioneiro pelo PAIGC, será libertado depois dos acordos de 1974, mas salvou da morte certa o seu comandante, o Alferes José Augusto Rodrigues. O IN vinha com vontade de destruir toda aquela artilharia, e depois daquele vendaval de fogo, retiraram com mortos e feridos e um elemento valioso, um soldado português capturado. As tropas reagrupam-se. O autor descreve a situação:
“Desloquei-me às apalpadelas até ao improvisado posto de socorros, na caixa de um dos Unimog. Felicito o 1.º cabo Louro.
- Como está o alferes Rodrigues? É grave?
- Cego deve ficar, tem várias feridas de estilhaços, estão lá dentro…
- Ele sabe?
- Desconfia.
- E o estado dos outros?
- O Faria é o pior, continua a perder muito sangue. Os outros safam-se.
Fiquei ali, era a primeira vez que falava com o Alferes Rodrigues depois da emboscada. Lembrava-se do Fortunato a disparar a G3 de rajada, os guerrilheiros a avançarem aos gritos. Acordou com o Louro a arrastá-lo para a bolanha e a dar-lhe morfina. Tentei animá-lo, já passou, ia ficar bom, era mais o susto.
- E o outros?
É espantoso: ligadura na cara, braço ao peito, a primeira preocupação era com os seus homens”.

E vem o mais condoído, comovente parágrafo desta bela obra, o momento em que se toma a decisão irrevogável de fechar o livro da carreira militar:

“Era a noite mais longa de todas as noites. Os três mortos em Piche, a emboscada, o sofrimento do alferes Rodrigues e dos outros feridos. Depois, a raiva de ter previsto o que aconteceu. Como podemos ter crédito perante o nosso pessoal quando todos os que tinham dois dedos de testa viram os erros cometidos?

A missão é imperativa. Aprendi, ensinei, cumpri. Expliquei muitas vezes que nos pode parecer estranha uma determinada missão e, no entanto, quem a ordenava teria mais dados e saberia o que estava a fazer. Até aqui nunca tinha posto este princípio em causa.

Noite fora, senti uma vida inteira a passar em ritmo lento. Das primeiras memórias, correndo pela horta da aldeia do Gavião, despreocupado e feliz, quando caçar um grilo na sua toca era o alvo apetecido de cada dia; até Cascais, com cinco filhos e uma mulher que amava – tudo aparecia filmado à minha frente. A correria virou marcha, com a tropa sempre em primeiro lugar. Casámos em julho, em março seguinte já estávamos em Goa, num distante quartel de Valpoy. E depois Moçambique, Angola e agora a Guiné, com a Beira e a academia nos intervalos.

Que estás tu aqui a fazer, no meio da noite, numa bolanha perdida, com nove canhões, bouum, bouum, bouum, a cada minuto? Monco caído, moral em baixo, orgulho ferido, quiseste armar em bom e comandar a escolta dos nossos coronéis, convencido de que ias dar uma lição ao PAIGC…
Primeira ilação: os supostos comandantes nunca iriam comandar, fosse na ficada, de avião ou no quartel. Segunda ilação: nunca devia ter contado com o apoio aéreo. Terceira: teria de confiar apenas na nossa tropa e experiência – e aqui a maior revolta, por ter iniciado a ação a uma hora contrária a todas as normas, quer de ordem operacional, quer de segurança”.

E Mendes Paulo chega à vida civil. O livro está profusamente ilustrado, é um registo pessoal que todas as suas comissões e do seu desvelo incontido aos carros de combate.

E não esqueçamos o Elefante Dundum a propósito do carro elefante que apanhou de surpresa a UPA/FNLA. Livro empolgante, sem margem de dúvida.
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Nota do editor

Poste anterior de 30 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14418: Notas de leitura (698): “Elefante Dundum – Missão, testemunho e reconhecimento”, por João Luíz Mendes Paulo, edição de autor, 2006 (1) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 30 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14418: Notas de leitura (698): “Elefante Dundum – Missão, testemunho e reconhecimento”, por João Luíz Mendes Paulo, edição de autor, 2006 (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Junho de 2014:

Queridos amigos,

É a história de um sonhador, um militar visionário que acreditou que podia levar carros de combate para os trópicos. Os M5A1, velhos tanques da II Guerra Mundial, fizeram sucesso em Nambuangongo.

Mendes Paulo escreve uma narrativa aliciante, crónicas da sua vida de criança até à Guiné, onde arrumou as botas, e mudou de vida. Insistiu que podia levar os M5A1 para a Guiné, argumentou em vão, deram-lhe viaturas Chaimite, inadequadas.
Irá descrever, com imensa dor, a operação Mabecos, em fevereiro de 1971, foi o canto do cisne nos seus sonhos.

Elefante Dundum lê-se de um só sorvo, é prosa autêntica, não há para ali sinceridade remendada.
O senhor M5A1 fez muitíssimo bem em escrever este seu testemunho que fica para a história.

Um abraço do
Mário


O senhor M5A1: 
A história prodigiosa do Elefante Dundum (1)

Beja Santos


A obra intitula-se “Elefante Dundum – Missão, testemunho e reconhecimento”, por João Luíz Mendes Paulo, edição de autor, 2006. É uma narrativa que se devora como um livro de aventuras, o Major Mendes Paulo regista imagens da sua infância no Ródão, no Colégio Militar, na Academia, na Índia, em Moçambique, em Angola, na Guiné, onde voluntariamente pôs termo a uma briosa carreira militar. Explica o nome da obra:

“Elefante Dundum foi o nome dado pelos guerrilheiros nacionalistas da FNLA a uma máquina que surgiu imprevistamente em Nambuangongo e deu brado. Que feitiço, medo e sentir lhes provocou tão evocativo nome de batismo? Para os soldados portugueses, o Elefante Dundum era um cavalo de ferro, com lagartas e torre, cheiro a óleo e nome de mulher… esta é a história dos carros e combate M5A1, velhos tanques da II Guerra Mundial que a determinação e ousadia de um oficial do Exército fez resgatar à sucata, e dos homens que então se fizeram protagonistas construindo a aventura dos únicos carros de combate que participarem em ações de guerra em toda a história do Exército português”.

Spínola enviará Mendes Paulo a Lisboa para resgatar vários M5A1 que seriam destinados a região de Piche. Lisboa indeferiu, era armamento cedido pela NATO, desculpas de mau pagador, no mais pechincheiro mercado do armamento mundial encontrava-se esta pseudo-sucata a preço de saldo. Em contrapartida, foram viaturas Chaimite para Bissau. A seu tempo se falará do assunto.

O Major Mendes Paulo desvela-se, é homem que não tem rebuço na transparência, expõe sentimentos íntimos, é mesmo ternurento, arranca a sua prosa com se estivesse movido pelo estro poético:

“A primeira imagem é de um cão grande, malhado de branco e preto e que se chamava Tejo. Ele era grande e eu pequeno porque conseguia montá-lo sem tocar com os pés no chão. Ainda nem andava na escola. Atrás da casa havia uma serra enorme que acabava no Penouco, uma parede redonda e branca que se via cá de baixo”. 

E um dia vai para o colégio militar, para ele um tempo muito bonito, vê-se que guarda as melhores recordações. A seguir a carreira das armas, a Cavalaria está-lhe no goto, cavalos e máquinas, blindados Fox, tanques M-47. E em janeiro de 1959 é mobilizado para Goa. Em março de 1961, em Valpoy, o tenente Mendes Paulo, que vai regressar, finda a sua comissão deixa escrito algumas recomendações para o novo comandante, destaco:

“Os tempos movem-se ao sabor das políticas e um dia também podemos ficar sem Goa. Se tal acontecer podem mudar os governos, mudar a política, mas o nome de Portugal, a religião cristã, a boa relação com todos, não mudará na memória dos goeses nem na longa história comum”.

Na Academia Militar encontra pela primeira vez os carros de combate ligeiros designados por M5A1. Não será amor à primeira vista, ficará como amor serôdio. E em março de 1963 é mobilizado para Moçambique, CCAV n.º 570. Em 1965, a FRELIMO está a desencadear as hostilidades, o capitão Mendes Paulo tem muito orgulho na sua CCAV n.º 570. Regressa e teve que acompanhar as terras que pertenciam a um tio em Sarnadas e Ródão, vê-se que não desgostou. Volta ao convívio com os M5A1 em Beirolas, está de novo colocado na Academia Militar. Congemina como pode aplicar os M5A1 na guerra africana, faz exposições, há muitas objeções, que os carros eram velhos, se aqueciam aqui, nunca iriam aguentar climas mais quentes, rebate essa argumentação. É mobilizado para Angola no BCAV nº 1927, lá vão os M5A1, chegarão a Nambuangongo. Os Elefantes Dundum entram na guerra, têm nome de mulheres: Milocas, Gina, Licas. Rádio Brazzaville diz cobras e lagartos destas máquinas, Mendes Paulo tem a cabeça a prémio. João Medina, na sua História de Portugal, deixará uma referência a estas máquinas insólitas nas guerra dos trópicos:

“… os cavaleiros deitaram mão de todos os seus dotes para manterem a tradição e darem vida nova a velhas autometralhadoras Fox do tempo 2.ª guerra e conseguiram até, embora isso seja raramente referido, utilizar no Norte de Angola, carros de combate! Um capitão diligente conseguiu vencer a burocracia e as más-línguas e levar consigo tanques M5A1, exatamente iguais aos que os canadianos haviam utilizado na conquista de Paris aos alemães”.

Mendes Paulo frequenta o curso de oficial superior, a seguir é promovido a Major e mobilizado para a Guiné com o BCAV n.º 2922, é o oficial de operações. O batalhão vai operar a partir de Piche, vasto território onde cabem Canquelifá e um destacamento em Dunane; no eixo norte, Cambor era também importante; em caso de ataque, a artilharia de Piche podia alcançar Cambor e a de Canquelifá chegava a Dunane. E escreve:

“No eixo Leste era Piche, Ponte Caium, Camajabá e Buruntuma. Ponte Caium dependia da Companhia de Piche, Camajabá da de Buruntuma, mais uma vez meia dúzia de homens-soldados comandados pelos alferes. Ponte Caium tinha de ser rendida a cada três semanas pela necessidade de géneros e água, mas também – talvez acima de tudo – porque seria esse o máximo de tempo que, psicologicamente, o destacamento podia aguentar. Ainda hoje quando me dizem que estiveram na Guiné e conheceram Leste eu costumo perguntar: - Como era Ponte Caium? Se me dizem que era o maior ‘buraco’, uma ponte com trinta metros de comprimentos, dois abrigos à entrada e dois à saída, dia e noite passado nos limites do espaço, do tempo, na expetativa do ataque – quando este começava, já estavam cercados por todos os lados porque ali não havia milícias nem tabanca, nem pista de aviação ou possibilidade de retirada…”.

Descreve também Piche: era um quartel novo, com razoáveis instalações para a CCS e para mais duas companhias operacionais. Tinha água canalizada e gerador elétrico, era bem melhor que Nambuangongo. O primeiro ataque foi para nos testar. Vieram pela pista de aviação com morteiros 82, RPG-7, metralhadoras pesadas e as inevitáveis Kalash e PPSH. Apesar de todas as recomendações anteriores, foi um festival de fogo-de-artifício. As instalações do quartel incluíam trincheiras, base de fogos do morteiro 81, três peças 11,4 e as habituais casernas, messe, cozinha e posto de socorros, tudo rodeado por arame farpado, com a respetiva Porta de Armas. A povoação de Piche envolvia o quartel do lado Sul e todo o perímetro da povoação era protegido por abrigos enterrados, 13 ao todo, em ligação com as trincheiras, com holofotes, metralhadoras e contacto via telefone e rádio para o posto de comando. Em caso de ataque, só os tais abrigos da periferia abriam fogo, quando atacados diretamente ou à ordem, para alvos já referenciados”.

Buruntuma estava dias e noites inteiras debaixo de fogo dos morteiros 120, retaliava-se com os morteiros 107, os nossos maiores morteiros. Ocorre um ataque brutal a 25 de novembro de 1971. Dois dias depois, Spínola aterra num Dornier na pista de Buruntuma. Manda juntar todo o pessoal, milícias e população. Nesse momento seis Fiat G-91, rasam Kandica, e depois ouviram-se enormes rebentamentos em Sofá, a base do PAIGC. Spínola falou às populações locais: - "Viram o que aconteceu? Agora vão dizer aos do lado de lá que se tornam a fazer outro ataque com morteiros, mando o dobro dos aviões e o dobro das bombas!”

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14411: Notas de leitura (697): "Império Ultramarino Português", Empresa Nacional de Publicidade, 1950 (2) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 26 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12900: Brochura, "Deveres Militares", SPEME, 2ª ed, 1969 (Fernando Hipólito): Parte IV: Quando os solípedes ganhavam aos bípedes em mimos, carinhos e cuidados: art. 96º do antigo RDM








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Continuação da reprodução da brochura "Deveres Militares"... A lista dos deveres de um militar é (ou era) longa...Publicamos hoje os deveres dos plantões... às cavalariças (artº 96º do RDM que estava em vigor do nosso tempo)...

Parece que, na tropa, o solípede (leia-se, o animal que tem um só casco ou uma só unha em cada membro inferior) ganhava ao bípede (ou seja, a besta que andava em dois pés ou que se deslocava sobre as duas patas posteriores)...em mimos, carinhos e cuidados!

E a propósito de cavalos e cavaleiros há muitos dichotes, ditados, provérbios... populares. Aqui vão algums de que eu gosto mais: (i) As manhas do cavalo só as sabe seu dono; (ii) Cavalo com quatro pés cai, quanto mais só quem tem dois; (iii) Cavalo que há-de ir à guerra, não corra bobo nem o abane a égua; (iv) Coices de garanhão, para égua carinhos são; (v) Em compar cavalo e escolher mulher, fecha os olhos e encomenda-te a Deus; (vi) Enquanto o meu tiver besta, para que quero cavalo ? ; (vii) Cavalo, mulher e arma não se emprestam; (viii) Não cavalgues em potro, nem gabes tua mulher a outro; (ix) A soldado novo, cavalo velho;: (x) Quanto maior é a besta, maior o coice....

O nosso saudoso RDM foi substituído pelo atual RDM - Regulamento de Disciplina Militar, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 142/77, de 09ABR, com diversas alterações. (Entro em vigor em 10 de abril de 1977, e foi promulgado pelo então Presidente da República António Ramnalho Eanes)

Imagens: Fonte: "Deveres Militares", 2ª edição, SPEME, 1969. A 1ª edição é de 1963. E há uma 4ª edição de 1973.


1. O documento chegou-nos, digitalizado, por intermédio do Fernando Hipólito e César Dias.  O Fernando Hipólito [, foto atual à direita, ] é o nosso novo grã-tabanqueiro, com o nº 650... Passou pelo CISMI, Quartel da Atalaia, Tavira, 3º turno, 1968. Foi fur mil, CCAÇ 2544, Angola, 1969/71. Esteve a maior parte do tempo no leste, em Lumege. Há um blogue sobre Lumege e a malta que por lá passou. E onde o Fernando Hipólitio colabora. Já lhe pedi uma foto atual, "decente", para substituir esta, do "Correio da Manhã"..

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Nota do editor:

Postes anteriores da série:

19 de março de 2014 > Guiné 63/74 - P12856: Brochura, "Deveres Militares", SPEME, 2ª ed, 1969 (Fernando Hipólito): Parte I: Os dez primeiros deveres de um militar...
20 de março de 2014 > Guiné 63/74 - P12859: Brochura, "Deveres Militares", SPEME, 2ª ed, 1969 (Fernando Hipólito): Parte II: Era longa a lista dos nossos deveres militares (e curta a dos direitos): Aí vão mais, do 11º ao 20º

23 de março de 2014 > Guiné 63/74 - P12885: Brochura, "Deveres Militares", SPEME, 2ª ed, 1969 (Fernando Hipólito): Parte III: Será que a lerpa, jogada no CTIG, nas longas noites de insónia, violava o nº 21º do art. 4º do RDM - Regulamento de Disciplina Militar, então em vigor ? Ou as bebedeiras de caixão à cova... não caíam sob a alçada do nº 24 º ?