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sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23603: Notas de leitura (1493): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte VIII: A visita de uma delegação do Movimento Nacional Feminino, em fevereiro de 1966: "O senhor capitão hoje está cheio de sorte, há meses que não via uma mulher branca, hoje vê duas"

 
Guiné > Região de Cacheu > CCAÇ 2367/BCAÇ 2845, "Os Vampiros" (Olossato, Teixeira Pinto e Cacheu, 1968/70) >  2 de maio de 1969  > O nosso camarada, membro da Tabanca Grande (e da Magnífica Tabanca da Linha), Miguel Rocha, ex-alf mil inf, na altura a fazer as funções de comandante da companhia,  aqui a "tabaquear o caso",  com a presidente do Movimento Nacional Feminino, Cecília Supico Pinto  (1921-2011) (a menos de um mês do seu 48º aniversário natalício)... O nosso camarada "indaga da possibilidade de obter mais uns maços de tabaco para os rapazes da sua Companhia" (*)... Mas o caixote está quase vazio... e o que restava já tinha destino... Até o tabaquinho era rateado...

O caixote tem uma marca ou um logo, "INTAR", que hoje a maior parte dos nossos leitores já não é capaz de decifrar: INTAR - Empresa Industrial de Tabacos, SARL... Foi nacionalizada, juntamente com a Tabaqueira (grupo CUF): as  duas empresas tabaqueiras detinham praticamente a totalidade do mercado nacional de cigarros. Em 30 de junho de 1976,  foi criada a Tabaqueira - Empresa Industrial de Tabacos, EP (que já não existe, ou melhor é ums subsidriária de uma multinacional).

Esta cena (a da foto acima)  foi recordada pelo Miguel Rocha, em poste ainda recente (*). E nele acrescentou:

(...) "no ano do I Centenário do nascimento (30/05/1921) de Cecília S. Pinto, em sua memória, e com profundo respeito e admiração pela sua pessoa e sua obra, não esquecendo todas as outras Senhoras do MNF, muitas delas Mães de jovens mobilizados para as frentes de combate, venho aqui deixar meu testemunho de eterna gratidão pelo apoio dado aos combatentes na sua inegável qualidade de 'portadora de afectos' " (!) (...).(*)

Foto (e legenda): © Miguel Rocha (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné  > Região de Tombali > Nhala > 10 de março de 1974 > Visita da líder do  Movimento Nacional Feminino > A Cilinha, aqui já com 53 anos feitos, de óculos escuros, e sempre impecavelmente vestida e penteada,  olha directamente para a objectiva do fotógrafo.  Ela sabia que, ali no "cu de Judas", era o alvo de todas as atenções... Era uma mulher, branca, de personalidade forte, corajosa, elegante e vistosa sem ser bonita.  Em 1974, já tinha o "respaldo político" que tinha no tempo de Salazar...

A seu lado o comandante de batalhão de Aldeia Formosa, ten cor inf Carlos Alberto Simões Ramalheira, e o cap mil inf Domingos Afonso Braga da Cruz (1946-1987), cmdt da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513/72,  que estava em Nhala, tendo estado também em Aldeia Formosa e Cumbijã. (A 1ª Companhia passou por Buba e Mampatá; a 3ª estava em Aldeia Formosa.)

Foto (e legenda): © António Murta  (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Estas duas fotos, com uma diferença de cinco anos,  servem para ilustrar uma outra visita, do MNF, realizada en 1966,  três anos e oito anos antes (respetivamente),  ao capitão Cristo e aos seus bravos de Bedanda, e reconstituída no livro de memórias do cap inf Aurélio Manuel Trindade (n. 1933) ("Panteras à Solta", de Manuel Andrezo, ed. autor, 2010, pp.  340-342), de que temos publicado diversas notas de leitura (**)

A visita a Bedanda está descrita em  três páginas deliciosas que servem para comprovar que a Cilinha e o seu Movimento Nacional Feminino (MNF) estavam longe de ser consensuais e até queridos, aos olhos de muitos militares, não só milicianos (que eram os mais críticos), como  também de uma parte dos  oficiais do quadro permanente, sobretudo os mais jovens.

Os militares de Bedanda (onde estava a 4ª CCAÇ, companhia de guarnição normal da província)  é contemplada por uma rápida e inesperada  visita de duas senhoras do  MNE, que vêm de Bissau, de DO-27 (presume-se), acompanhadas de um alferes.  

O autor não a identifica, mas a protagonista desta história da visita (que  "acabou por não dignificar em nada o MNF", pág. 340), era seguramente a Cecília Supico Pinto (mais conhecida por "Cilinha" pelos "rapazes" que prestavam serviço no ultramar). 

A visita deve ter ocorrido em fevereiro de 1966, na época seca (a primeira vez que ela foi à Guiné,  à sua "Guinezinha") (***), e não em junho de 1966 (já na época das chuvas, como sugere o cap Cristo, traído  certamente pela memória, ao dizer que já tinha 11 meses de comissão). 

Na mesma altura, a CCAÇ 736, em Cufar (1965/66), comandanda pelo cap inf  (Carlos Alberto Wahnon Mourão da) Costa Campos recebeu a visita da  delelegação do MNF, constituída pela  Cecília Supico Pinto e  a Renata da Cunha e Costa, aqui documentada pelo nosso Mário Fitas, ex-fur mil op esp,  no poste P8371 (****)

O cap Cristo terá sido pouco "oficial e cavalheiro" no trato com as senhoras, dirão alguns... No livro é irónico, para não dizer sarcástico e até truculento, na descrição e apreciação que faz da visita (é certo que muitos anos depois, mais de 40 anos depois):

Primeiro "hipotecaram um avião" (sic), um recurso sempre escasso e dispendioso naquela época e, para mais, no sul da Guiné, e depois "os resultados da visita foram menos que nulos porque foram negativos". 

(...) Depois da visita ficaram convencidos de que as senhoras quiseram ver, com
os seus próprios olhos, uns macacos que levavam vida de cão, algures no sul da Guiné, sem as mínimas condições e péssima alimentação (...)  Negritos nossos].           

Num aquartelamento onde faltava tudo ou quase tudo, abastecido penosa e perigosamente uma vez por mês, por via fluvial, a visita das senhoras do MNE, de mãos vazias, podia parecer um insulto gratuito. E, para a tropa nativa, deveria ser algo de intrigante e exótico:

(...) Quanto a frescos, muito raramente os comiam. Combatiam os guerrilheiros, dia e noite, sendo mais os dias de contacto com a guerrilha do que o contrário. Não por acaso dizia-se que Bedanda era uma ilha cercada pela guerrilha. Na opinião dos oficiais da Companhia de Bedanda as senhoras queriam levar no seu palmarés, para contarem às amigas durante os chás-canastas, que tinham estado no sul da Guiné, numa Companhia onde o perigo era constante. Para elas isso era bom, para a tropa era um frete (...) (pág. 340).

"Frete": eis talvez o termo mais apropriado, para  caracterizar a atitude dos homens de Bedanda face à visita meteórica das duas senhoras do MNF. Esta opinião seria compartilhada por alguns comandantes de subunidades no mato, comandantes operacionais como o cap Cristo que davam o "litro e meio" e pouco ou nada recebiam em troca, dos  seus superiores hierárquicos (comando de setor, comando de agrupamento e senhores de Bissau). 

O cap Cristo, pessoa civilizada e militar aprumado, mas frontal, cumpriu naturalmente os seus deveres de hospitalidade, "oferecendo-lhes o que tínham: cerveja, uísque e conservas",  sem esquecer a  água... que era ingerível. Em contrapartida, elas nada tinham para ofecerer, para além das palmadinhas nas costas, dos sorrisos postiços e da exibição... da cor da pele:

(...) A visita tinha sido mal planeada. Uma visita deste tipo deve ser acompanhada de algumas lembranças, bolas de futebol, por exemplo, ou rádios, jogos de damas, isqueiros, cartas, algo que possa servir para atenuar o isolamento destes homens. Nada disso foi oferecido à Companhia pela delegação do MNF. 

As ofertas foram exclusivamente bate-estradas [aerogramas, na gíria da tropa, LG] que divididos pelo efectivo, davam três exemplares a cada militar. Era muito pouco para uma visita que se supunha ter por finalidade dar alguma alegria e apoio aos militares. O capitão pediu outros materiais ao MNF que nunca foram recebidos (...) [Negritos nossos] . 

No decurso da visita, o cap Cristo verificou que "uma das senhoras era mais extrovertida do que a outra. Falava muito com toda a gente, e na sala de oficiais sentou-se em cima duma mesa com as pernas a baloiçar e a saia um pouco subida, parte das coxas à mostra" (...) (pág. 340).  

Este diálogo entre os dois (a senhora só pode ser a Cilinha que, nessa altura, em fevereiro de 1966, já tinha 45 anos), reconstituído muitos anos depois, merece ser transcrito (pág. 341). É um belo naco de prosa castrense:

(...) "- Senhor capitão, há quanto tempo está aqui?

─ Onze meses, minha senhora. [Ele queria dizer sete meses, desde julho de 1965, fez mal as contas. LG ]

─ Já foi à metrópole depois de ter chegado à Guiné?

─ Ainda não. Quando cheguei vim logo para Bedanda e daqui só tenho saído para o mato. Nem a Bissau fui.

─ Então hoje está cheio de sorte.

─Não sei porquê. Só se for por ter visitas. Para quem está isolado da civilização como nós estamos, as visitas são sempre bem-vindas e dão-nos muito prazer e alegria.

─ Era disso que eu estava a falar. E as de hoje são visitas especiais. Desde há onze meses que não via uma branca e hoje teve oportunidade de ver duas.

─ É verdade minha senhora. Nesse ponto tem razão. Já não via uma mulher branca há onze meses e daqui a pouco nem sei como elas são. Hoje vejo duas brancas e duma delas vejo as pernas até às coxas. Mas como deve calcular, isso é muito pouco. Quem está aqui no mato, na situação em que nós estamos, precisa e merecia mais do que ver brancas. E a esse respeito, como sabe, estamos a zero.

─ O senhor capitão é muito exigente.

─ Não, minha senhora. Primeiro não exijo nada, nem sequer a vossa visita. Segundo, tenho trinta anos e sempre ouvi dizer que um homem é um homem e um bicho um bicho. Além disso não sou de pau. Tenho as minhas necessidades como todos os homens e o instinto mais apurado pelas dificuldades por que tenho passado no que a nossa conversa subentende.

─ Compreendo a sua situação mas mais nada posso fazer.

─ De qualquer maneira muito obrigado pela intenção e pela boa vontade.

─ Senhor capitão, está na hora de me ir embora e acredite que deixo Bedanda com pena, e também sofro com a vida de isolamento que vocês aqui levam. Tudo o que puder fazer por vocês, farei. Gostaria, se me permitisse, de me despedir dos seus soldados à moda do MNF. (...)


A despedida da líder do MNE, perante a companhia formada na parada,  foi, para surpresa de todos, feita com um valente assobio à cabreiro da Serra da Estrela:

(...) ─ Pedi ao vosso capitão para me despedir de vocês. Gostei de estar aqui convosco, estas horas, tenho pena de não poder estar mais tempo. Daqui a pouco é noite e o avião não pode levantar voo. Tenho que estar hoje em Bissau. Sei que são uma boa tropa, valentes combatentes. Estou contente por isso e deixo-vos a minha solidariedade, amizade e respeito, bem como a de todas as mulheres portuguesas que se sentem felizes por saberem, que mesmo em más condições, os soldados portugueses cumprem com eficiência as suas missões. Se me permitirem vou-me despedir “à MNF”. (...)

E o autor não deixa o leitor com água no bico, descreve o modo da despedida com detalhe e sentido de humor:

(...) Ao dizer isto, a senhora leva dois dedos à boca e solta um assobio que faria inveja a muitos pastores. Toda a companhia ficou sem saber com reagir. Esperavam tudo menos os assobio. Conseguiu surpreender. O mais surpreendido parecia ser o capitão que olhou para a senhora com uma cara de basbaque que metia aflição (...) Negritos nossos]

A seguir, o capitão  e os restantes oficiais  acompanharam as senhoras até à pista, como mandavam as boas regras da etiqueta militar. Embasbacados, "ele e os alferes ficaram na pista até o avião desaparecer no horizonte". (...) (pág. 342).

Caros leitores, digam lá se não é um texto de antologia? Parabéns ao autor. Não estamos habituados a esta lhaneza e desassombro na escrita, por parte dos militares da sua geração, oriundos da Escola do Exército... Tiro-lhe o quico, meu general!...


Guiné > s/l > Fevereiro de 1966 > Cecília Supico Pinto, então com 44 anos, na sua primeira viagem à sua "Guinezinha",  falando para um grupo de militares; em segundo plano, um dos seus "braços direitos", também elemento da comissão central do MNF,  [Amélia] Renata [Henriques de Freitas] da Cunha e Costa.  

Fotograma do vídeo (6' 43'') da RTP Arquivos > 1966-02-01 > Cecília Supico Pinto visita Guiné (Com a devida vénia...)
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Notas do editor:



Último poste da série > 9 de setembrro de  2022 >  Guiné 61/74 - P23601: Notas de leitura (1492): "Diário Pueril de Guerra", por Sérgio de Sousa; Editoral Escritor, 1999 (1) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 11 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23069: Fotos à procura de... uma legenda (163): Uma imagem relativamente rara, esta, de uma cançonetista, de minissaia, a atuar em Jabadá, por volta de 1969/70


Guiné > Região de Quínara > Sector de Tite > Jabadá  > CCAV 2484 (1969/70) >  Uma cantora actuando para as nossas tropas, numa iniciativa seguramente do Movimento Nacional Feminino. Foto do Manuel Antunes, ex-sold cond auto, CCAV 2484, Os Dragões de Jabadá (*)


1. É uma foto relativamente rara, que nos enviou o Manuel Antunes, dos "Dragões de Jabadá" (*).  Os espectáculos, em quartéis do mato, realizados pelo Movimento Nacional Feminino, com cançonetistas da metrópole, relativamente conhecidos, como a Flobela Queiroz,  não estão bem documentados no nosso blogue. 

A única exceção é o Conjunto Académico João Paulo, que tem vários referências no blogue (**). Mas os seus elementos, originalmente estudantes, estavam a cumprir o serviço militar. 

Facto desconhecido para muitos dos nossos leitores, foi a Cecília Supico Pinto  quem "conseguiu que os músicos do 'Conjunto João Paulo' cumprissem o serviço militar actuando no mato em digressões pelas 'províncias' ", revelação feita na sua biografia, escrita por Sílvia Espírito Santo ("Cecília Espírito Santo,o rosto do Movimento Nacional Feminino, Lisboa, A Esfera dos Livros, 2008, pp. 144). 

Ela sabia, de resto, da experiência norte-americana na II Guerra Mundial, da importância que podia ter, sobre o moral das tropas em África, as atividades de natureza lúdica, como os espetáculos musicais ao vivo, feitos por artistas em voga, vindos da metrópole. 

Não sabemos quem era a artista (vd. foto supra) que está de costas, a atuar em Jabadá, c. 1969/70. Talvez algum leitor a consiga identificar e sobretudo queira comentar, "acrescentando uma legenda à foto" (***).

Houve muito boa gente, do mundo do espectáculo, incluindo a Amália Rodrigues, que colaborou com o Movimento Nacional Feminino, quer na edição dos famosos discos de Natal (1971 e 1973), quer participando inclusive em digressões pelos quartéis do mato ou em concertos na metrópole para angariação de fundos.

Além dos músicos do Conjunto Académico João Paulo, talvez o caso mais conhecido terá sido o da cançonetista (e actriz)  Florbela Queiroz.

A Florbela Queiroz (nascida em Lisboa, em 1943) não sei se passou pela Guiné, mas diz ela que andou no mato 8 meses, em 1967 e 1968. "Nunca fui tão respeitada por toda a gente. Eu era nova, tinha 21 anos, era uma miúda gira, e andava lá no mato no meio dos soldados, comi da ração deles. Foi a época em que mais me realizei" (cit. por Sílvia Espírito Santo - "Cecília Supico Pinto: o rosto do Movimento Nacional Feminino". Lisboa, A Esfera do Livro, 2008, pág. 144).




O João Paulo Agrela, ao centro, o fundador do grupo. Está fardado, e era furriel, tendo morrido em 23/4/2007, mas o elemento mais conhecido do grande público era o vocalista Sérgio Borges (1943-2011).


Guiné > Zona leste > Geba > CART 1690 > 24 de agosto de 1968 > O conjunto musical João Paulo em digressão pela Guiné... Tal como no caso de  outros artistas populares na época, como a Florbela Queiroz, a digressão à  Guiné do Conjunto Académico João Paulo era uma  iniciativa do Movimento Nacional Feminino (MNF). Este  conjunto fez digressões também por Angola e Moçambique, durante a guerra colonial, além de países estrangeiros como os EUA. (Por exemplo, um ano depois, estavam em Moçambique a atuar para o BART 2838, 1968/70).

Foto (e legenda): © Alfredo Reis (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas dfa Guiné] (*)

2. Relativamente ao Conjunto Académico João Paulo... Foram fundadores do grupo, madeirense, pioneiro da música "rock" em Portugal (a par de Os Sheiks, Os Conchas, Chinchilas, Duo Ouro Negro, Quarteto 1111 e Demónios Negros, entre outros) os seguintes elementos:   

(i) João Paulo Agrela (1942-2007) (teclas);
(ii) Carlos Alberto Lomelino Gomes (guitarra) falecido no Funchal em 2020);
(iii) Rui Brazão (guitarra ritmo);
(iv) Ângelo Moura (baixo);
(v) José Gualberto (bateria, falecido em 2004);
(vi) e Sérgio Borges (1943-2011) (vocalista).  

Não sabemos se todos estes participaram nesta digressão à Guiné, em 1968 ou se estavam na altura a cumprir o serviço militar na Guiné... Três ou quatro elementos do grupo passaram pelo EPI (Mafra), onde fizeram a recruta, no turno de setembro de 1966... Como se vê, dois anos depois  ainda estavam na tropa... Do tempo de Mafra, ficou a canção (pouco conhecida) O Salto (disponível no You Tube).

O grupo extingiu-se em princípios da década de 1970.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 10 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23066: Tabanca Grande (531): Manuel Antunes, ex-Soldado Condutor Auto da CCAV 2484 - "Dragões de Jabadá" (Jabadá, 1969/70)... Senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 858

(**) Vd., por exemplo, 

25 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15406: (Ex)citações (302): O conjunto João Paulo, em 1968, em Susana... No fim do concerto apanhámos com umas valentes morteiradas (Domingos Santos, ex-fur mil, CCAÇ 1684, Susana e Varela, 1967/69)

22 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15395: (Ex)citações (300): (i) Conheci de perto, em Alhandra, o Conjunto Académico João Paulo... Ouvi-os ensaiar vezes sem conta... Fiquei farto... Mesmo assim preferia-os a eles a ter que ouvir, até à exaustão, nos "rangers", em 1966, o "Sambinho Chato" e o "Et Maintenant" (Mário Gaspar); (ii) link com a canção "O Salto" (EPI, Mafra, 1966) (Inácio Silva)

21 de novembro de  2015 > Guiné 63/74 - P15389: (Ex)citações (299): Atuação do Conjunto Académico João Paulo, no "600", em Bissau, em abril de 1968 (Manuel Coelho, ex-mil trms, CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68)

domingo, 16 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22911: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XXII: Os torneios de futebol e a Cilinha que não veio, e a notícia do 25 de Abril que só chegou a 26...



Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Cumbijã >  CCAV 8351 (1972/74), "Os Tigres do Cumbijã" > > 1974 > Festejando, condignamente, a conquista do último lugar do torneio de futebol inter pelotões bebendo uísque na minúscula taça. Da direita para a esquerda: Afonso, Belinha (o homem que ia sempre na dianteira do pelotão com a sua pica), Costa e mais camaradas do 2,º pelotão.

Foto (e legenda): © Joaquim Costa (2021). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 2 > Guiné > Região de Tombali > Nhala >  2ª CCaç / BCaç 4513 (1973/74) > Domingo, 10 de março de 1974 > Visita da Cilinha ao aquartelamento de Nhala, escoltada por um grupo de fuzileiros.  Após a visita, a Cilinha é acompanhada até às viaturas para o regresso.  Cortesia do António Murta.

Foto (e legenda): © António Murta  (2015). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
 






O ex- furriel mil Joaquim Costa: natural de V. N. Famalicão,
vive hoje em Fânzeres, Gondomar, perto da Tabanca dos Melros.
É engenheiro técnico reformado.
Já saiu o seu livro de memórias (, a sua história de vida),
de que temos estado a editar  largos excertos, por cortesia sua.
Tem um pósfácio da autoria do nosso editor Luís Graça (*)


Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XXII (**)

 

Atividades lúdicas… e Grândola, Vila Morena! 



Os dias estavam a tornar-se cada vez mais enfadonhos, com muitos de nós a riscar pauzinhos na parede da caserna por cada dia que passava, tal qual um prisioneiro.

Bem se esforçava o Furriel Formosinho, acabado de chegar à companhia carregando às costas a sua G3 e o seu violão, em levantar o moral das tropas com as suas serenatas noturnas cantando canções do “reviralho” e outras fora da caixa. Foi marcante e muito importante para todos nós a sua chegada ao Cumbijã,  trazendo para além do violão,  a sua irreverência e alegria contagiantes.

Sentíamos aqui como nunca a falta do dia das lavadeiras. Era aqui, neste “buraco” no fim do mundo, que estes momentos seriam importantes para quebrar um pouco as rotinas diárias de: Patrulhas, flagelações, minas, cerveja durante o dia e whisky durante a noite.

Aqui não havia população e a roupa era enviada para as nossas lavadeiras de Aldeia Formosa na coluna diária do transporte de água.

Desde a chegada ao Cumbijã, embora me continuasse a lavar a roupa, nunca mais vi a minha simpática e eficiente lavadeira.

Aqui, a única alegria a que tínhamos direito era a chegada do correio.

Até a "Cilinha" (Presidente do Movimento Nacional Feminino), não obstante a sua coragem, não teve a suficiente para visitar o Cumbijã, preferindo o aquartelamento vizinho de Nhala, dias antes do 25 de Abril de 74.  Obviamente era um hotel de 5 estrelas em comparação ao nosso parque de campismo selvagem!!! 

Teria sido um momento memorável ver a “Cilinha” tomar banho nos nossos chuveiros, com água a saber a gasóleo e com vistas privilegiadas para a horta do Zé Carlos e para todo o destacamento. Acredito que era mulher para o fazer sem nenhum constrangimento!

A própria RTP nunca ousou visitar-nos para gravar as históricas mensagens dos soldados transmitidas religiosamente no dia de Natal. Ainda chegaram a sugerir irmos a Aldeia Formosa fazer as gravações. Declinámos o convite, com o argumento que só fazíamos as gravações na nossa casa (Cumbijã).

Até os Capelães desconheciam este buraco tendo-nos honrado uma única vez com a sua presença com a celebração de uma missa. Dia histórico no Cumbijã, apesar da pouca audiência. Situação que o Capelão aproveitou para não mais aparecer (não quero ser injusto já que há relatos que confirmam a importância destes “homens de Deus” em diferentes locais do território da Guiné demonstrando grande humanismo e coragem).

Contudo, havia escola com alguns graduados a prepararem um grupo de soldados para realizarem o exame da 4ª classe. Exame esse que se realizou no Cumbijã com a deslocação de um professor primário, creio que de Bissau.

Reza a história que a coisa não estava a correr nada bem aos examinandos pelo que foi necessário simular um ataque ao destacamento, fazendo dois disparos de obus com o professor a fugir em pânico, deixando tranquilamente acontecer a ajuda aos nossos bravos soldados e acabando todos, obviamente, por passar.

Durante este período até deu para fazermos um torneio de futebol, onde a minha equipa (o meu pelotão) ficou num honroso 5.º lugar, ou seja, o último! Contudo, não deixamos de protestar o último jogo já que fomos claramente “roubados”. 

Sendo este o último jogo do dia, estava próxima a hora em que aconteciam as flagelações de canhão sem recuo do IN. Faltavam uns 3 minutos para acabar o jogo quando ouvimos uma grande explosão que fez levantar uma grande nuvem de pó, fazendo supor que estávamos na presença de uma nova flagelação, seguida da debandada de todos os jogadores para as valas. Situação aproveitada por um “cacimbado” da equipa adversária, retendo a fuga por uns segundos. introduzindo a bola na nossa baliza deserta antes de fugir. Como a equipa adversária equipava de vermelho o árbitro validou o golo averbando nós mais uma derrota.

A explosão não foi mais um ataque do IN mas sim o rebentamento de granadas antigas, já sem espoleta, que tinham sido colocadas, num buraco, fora do arama farpado para serem destruídas por simpatia com o lançamento de uma granada (???) para o monte de toda aquela sucata. Um pequeno incêndio junto às mesmas acabou por antecipar a sua destruição. Sendo evidente alguma negligência, felizmente, tudo não passou de um grande susto, sem consequências de maior… a não ser as desportivas!

Não obstante estas rotinas sentia-se no ar que o PAIGC estava a preparar novas incursões estilo Guileje, Gadamael e Guidage, com o apoio dos países amigos. Especulava-se que o PAIGC tinha já garantida a utilização de carros de combate e eventualmente aviação.

Foi neste clima de tensão que, um belo dia,  tivemos conhecimento pela “Maria Turra” (uma emissão de rádio do PAIGC, sediada na Guiné-Conacri e que nós muitas vezes ouvíamos), de um golpe de estado em Lisboa. 

Como sempre acontece nos conflitos militares, da propaganda à realidade vai a distância do céu ao inferno pelo que demos a importância de sempre às notícias difundidas por esta emissora - algum fumo de um pequeno incêndio!

Contudo, na tarde do dia 26, vinha eu com a minha cerveja e o meu "Norte Desportivo" na mão, quando o Martins se vira para mim e me diz, de forma perentória:
- Costa! Há mesmo “merda” em Lisboa.

[Sempre fui alvo de “chacota” por ler o "Norte Desportivo" (já que “gente fina” lia  "A Bola" – um dos muitos órgãos... oficiosos do Benfica), que o meu irmão Manuel esporadicamente me enviava. Este jornal, o único que falava do FCP, fazia o impensável (dado os meios da altura) de. aos domingos, quando ainda o pessoal estava a sair dos campos de futebol, já o ardina o está a vender à saída, com os resultados finais, com a constituição das equipas e respetivos comentários aos jogos. Os comentários eram feitos de véspera, e os resultados colocados muitas das vezes à mão. 90% dos comentários acabavam por bater certo, o que convenhamos, era uma boa média…]


Consolidado o 25 de Abril,  e estando nós já no fim da comissão, não obstante a alegria esfuziante que reinava, preocupava-nos a possibilidade de alguma anarquia bem como a nossa retenção na Guiné (já com a comissão no fim), já que as palavras de ordem nas ruas de Lisboa eram: "Nem mais um soldado para as colónias!"...

Com todos estes desenvolvimentos só tomei conhecimento que havia feito anos (27 de Abril), na segunda quinzena de Maio ao ler um aerograma vindo de casa, acompanhado do "Jornal de Notícias" com imagens das grandiosas manifestação do 1º de Maio.

Felizmente, ao contrário de outros teatros de guerra, de a ferro e fogo passámos para uma paz quase total.

As hostilidades cessaram, sem que nenhuma instituição, organização ou hierarquia (de um lado ou do outro) o decretasse. Em alguns locais houve mesmo encontros entre a nossa tropa e grupos armados do PAIGC, com abraços e festa conjunta.

Dá que pensar !...dá que pensar !…

Nota: Vai-se lá saber porquê, e para quê, fui eleito pelos meus pares como delegado do MFA, em representação da companhia. Manga de ronco! Ainda estou a pensar se hei-de colocar este cargo (que nunca exerci) no meu currículo!

(Continua)



Capa  do livro do Joaquim Costa, "Memórias de Guerra de um Tigre Azul: O Furriel Pequenina, Guiné: 1972/74". Rio Tinto, Gondomar, Lugar da Palavra Editora, 2021, 180 pp.(*)

O livro, saído neste último Natal de 2021, aguarda a melhor oportunidade para a sua apresentação ao público. Mas podem desde já serem feitos pedidos ao autor: valor 10 € (livro + custas de envio), a transferir para o seu NIB que será enviado juntamente com o livro. 

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22828: Notas de leitura (1401): "Adeus... até ao meu regresso": livro de memórias fotográficas de 56 antigos combatentes, naturais de Vila Real, incluindo o Miguel Rocha, ex-alf mil inf, CCAÇ 2367/BCAÇ 2845, "Os Vampiros" (Olossato, Teixeira Pinto e Cacheu, 1968/70) - Parte I

 

Feliz capa do livro "Memórias fotográficas da guerra colonial: Angola, Guiné, Moçambique, 1961-1974". editado pelo Grupo Vila-Realense de Ex-Combatentes do Ex-Ultramar. Coordenação: Carlos Almeida e Duarte Carvalho. Vila Real, 2021, 191 pp. Foto da capa: Guiné, 1966, coleção de José Ferreira Barros.


1. Chegou-nos, pelo correio, um exemplar desta obra, com dedicatória, oferta do nosso camarada Miguel Rocha, membro da Tabanca Grande desde 21/11/2019, natural de Vila Real, a residir em Oeiras: 

"Para o amigo Luís Graça com um abraço do transmontano Miguel Rocha, 12/12/20212". (Às vezes, ele brinca com a região da sua naturalidade, dizendo-me: "Olha, é o Rocha, o transmontano, não o alentejano"!... Na Tabcanca da Linha, onde o conheci, eu achava que ele era alentejano,  por ser amigo, vizinho e companheiro de mesa do Manuel Macias, que, esse, sim, é da Aldeia Nova de São Bento, Serpa...)


O Miguel é um dos 56 ex-combatentes, naturais de Vila Real, que passaram pelos teatros de operações de Angola, Guiné e Moçambqiue, entre 1961 e 1974, e quiseram agora partilhar as fotos dos seus álbuns, numa bonita iniciativa que, se não é inédita, tem  grande mérito e pode até servir de exemplo (contagiante) para outros grupos.

O pretexto são os 60 anos do início da guerra do ultramar / guerra colonial e o objetivo desta obra é singelo, mas nem por isso digno de realce: dar a conhecer "retalhos do nosso dia-a-dia" destes homens, uma valiosa contribuição, afinal, para a"pequena história" que tem de (ou deve...) ir a par da "grande história" com a H... 

É uma homenagem também aos 15 vila-realenses que perderam a vida neste conflito, e cuja memória é lembrada, todos os anos, a 1 de dezembro, por este grupo de ex-combatentes.

Grato ao Miguel e demais camaradas que congregaram esforços para a materialização deste projeto, deixo aqui alguns excertos da obra, numa primeira nota de leitura.

Mandei há dias ao Duarte Carvalho a seguninte mensagem:

 "Duarte, parabéns pelo vosso trabalho (e em especial pelo teu). O Miguel Rocha já teve a gentileza de oferecer ao blogue um exemplar do vosso livro e vamos dar-lhe o devido destaque, com menção da lista de autores, e ficha técnica, e reprodução de algumas fotos (uma de cada TO).

Peço desculpa por não ter publicado, em tempo oportuno, o teu convite . Houve um lapso na gestão do correio. Mas farei referência à cerimónia. Vejo que fazes falta aqui no nosso blogue e na nossa Tabanca Grande. Aceita o convite para te juntares a esta comunidade virtual, dos amigos e camaradas da Guiné, e onde já estão camaradas transmontanos como o MIguel e outros,


Em 24 de novembro passado, o Duarte Carvalho mandara-nos a notícia (e o convite) do lançamento da obra:

"Dia 1 de Dezembro de 2021 pelas 15h30 nos claustros do antigo Governo Civil de Vila Real. Apresentação do álbum de fotografias “ADEUS…ATÉ AO MEU REGRESSO”. Memórias fotográficas de 56 Vila-Realenses que participaram na Guerra Colonial (1961/1974). Apresentador: Eduardo Varandas."

Sublinhe-se, com apreço, o apoio a esta obra (ou o patrocínio), dado por diversas instutuições e empresas locais: Câmara Municipal de Vila Real, Junta de Freguesia de Vila Real, Liga dos Combatentes - Núcleo de Vila Real, CIMAGOM, realcópia, CA - Crédito Agrícola e Adega Vila Real.

Reprodução do preâmbulo:






Guiné- Bissau > 1968-70 > Coleção Miguel Rocha:  Dois irmãos na Guiné, Carlos Jorge Ribeiro Rocha, e Miguel José Ribeiro Rocha. Foto Iris (Bissau), outubro de 1969.


Guiné> 1968-70 > Coleção Miguel Rocha: s/d, s/l >  O Miguel 


Guiné > 1968-70 > Coleção Miguel Rocha: s/d, s/l >  O Miguel é o primeiro da esquerda  

O Miguel Rocha foi alf mil inf, CCAÇ 2367/BCAÇ 2845, "Os Vampiros" (Olossato, Teixeira Pinto e Cacheu, 1968/70).  O irmão Carlos esteve no sul, na região de Tombali, em Aldeia Formosa (1969/71), segundo informação (telefónica) do mano. Vive em Vila Real.

(Pág. 87)


segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Guiné 61/74 - P22762: Notas de leitura (1396): "Cartas de Amor e de Dor", por Marta Martins da Silva; Saída de Emergência, 2021, com prefácio do general Pezarat Correia (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Novembro de 2021:

Queridos amigos,
As toneladas de correio que ligavam diariamente os militares às suas famílias é material que pouco pesa na historiografia das guerras que travámos em África. Eram predominantemente aerogramas, mas não faltavam cartas e bilhetes-postais, eram uma âncora afetiva tão poderosa que alguns escritores registaram e ainda nos tocam profundamente as descrições da chegada do correio. Marta Martins Silva desvela o papel desta correspondência através de uma significativa reportagem de investigação que começara pela narrativa das madrinhas de guerra e que ela agora prolonga com talento com o recurso a livros, documentos avulsos e muitas entrevistas. Foi hábil quando nos dá uma sinopse das cartas na I Guerra Mundial, para termos um termo de comparação com tudo o que se seguiu a partir de 1961, é óbvio que a narrativa afetiva alcançou outra dimensão mas a jornalista primou pelo cuidado de demarcar eflúvios amorosos, estados de saudade, dissimulações para não dar à família preocupações sobre as hostilidades da guerra, das cartas de dor, porque quem combatia também iria ser confrontado com anúncios de mortes, houve mentes perversas que endereçaram cartas anónimas e houve quem, por carta, soubesse que tinha perdido familiares ou o seu maior amigo. O mínimo que se pode pedir a Marta Martins Silva é que continue a explorar este lado obscuro da vida íntima dos antigos combatentes enquanto é tempo, para que a historiografia não fique meramente confinada a factos documentais irrefutáveis (e refutáveis) e se sinta o pulsar e o estado de ânimo de quem escreveu aquelas toneladas de correspondência que enchiam a vida daqueles jovens de camuflado de promessas de esperança.

Um abraço do
Mário



Cartas de Amor e de Dor, por Marta Martins Silva (1)

Mário Beja Santos

Descobriu na sua atividade jornalística na revista Domingo do Correio da Manhã, através de desabafos de antigos combatentes, que há uma vertente de guerras gradualmente sumidas na memória dos portugueses que merece ser revitalizada, é constituída por aerogramas, cartas, bilhetes-postais, folhas de apontamentos, fotografias, é um acervo de consulta marginal pelos historiadores e investigadores dos diferentes países envolvidos. No entanto, são documentos onde podemos aquilatar a vida emocional desses jovens, abruptamente retirados de um ambiente familiar, de uma profissão ou dos estudos, e que vazam na escrita o que descobrem em novas paragens, nem sempre contidos nas saudades, por vezes discretos na narrativa da hostilidade permanente, perguntando pela família e pelos amigos, disfarçando os estados de alma com descrições pacíficas sobre a comida, a vida do quartel, omitindo, tanto quanto possível, quem morre e quem se sinistra. Marta Martins Silva procura veios novos para interpretar o universo psicológico destes jovens vestidos de camuflado. Começou por os pôr a conversar com as madrinhas de guerra, e agora, em "Cartas de Amor e de Dor", Desassossego, chancela do grupo Saída de Emergência, 2021, parte de cartas da I Guerra Mundial, fala-nos do ano de 1961 em Portugal, explica a não-iniciados os dados fulcrais do Serviço Postal Militar e então entramos numa grande torrente, primeiro a do amor, os parentes mais próximos, as namoradas e as mulheres e todo este ímpeto epistológrafo desagua numa dor que não se pode esquecer, os pais que reclamam o corpo do filho, a carta que anuncia a morte de um amigo muito querido num outro teatro de guerra, as cartas anónimas infamantes. Uma verdadeira surpresa, esta reportagem com investigação descobre algumas pepitas de ouro e seguramente que contribuirá para que o olhar dos historiadores e investigadores deixe de ficar indiferente a estas toneladas de correspondência.

O General Pezarat Correia logo chama a atenção no prefácio de que o foco da obra é o drama humano da guerra na forma de correspondência, exalta o modo como a autora contextualiza a época e o ambiente, ela tem uma preocupação maior, a lembrar ao leitor, sobretudo das novas gerações, que aqueles soldados que regressavam não eram os mesmos homens que tinham partido. A importância para o estudo da História também não escapa ao prefaciador, logo a evolução do estado de espírito, as formas patrioteiras de 1961 vão-se apagando com a guerra prolongada. Direi da minha parte que há um outro ângulo da correspondência militar que merece a melhor atenção de quem investiga: a evolução do estado de espírito ao longo dos dois anos de comissão e que bem se espelha na quantidade do que se escreve à chegada ao teatro de operações, como o cansaço se torna indisfarçável, quase intolerável a atitude de inquietação nos últimos meses, é uma escrita agitada, um tanto sintética, o correspondente paira entre dois mundos, mesmo inconscientemente sabe que quando chegar ao lugar onde tão ansiosamente o esperam ele é outro.

Estamos na I Guerra Mundial, a primeira carta da Maria para o António é escrita num Portugal ceifado pela gripe pneumónica, já houvera a cena apocalítica de La Lys, a autora fala-nos de África, onde igualmente combatemos, do Serviço Postal, temos um padre jornalista, José Ferreira de Lacerda, fundou o jornal "O Mensageiro", em Leiria, em 14 de julho escreve ao amigo: “Agora estão as granadas a rebentar a uns 500 metros de onde estou. Não vejo o efeito porque não tenho tempo a perder, mas sinto os franceses a passar debaixo da janela do meu quarto a retirarem das proximidades dos rebentamentos. Os alemães, com os tiros que fazem neste momento, não matam a milésima parte. Tenho três feridos da minha freguesia, um gravemente, mas todos por desastre. Se quiser amanhã de manhã ver os efeitos das granadas, venha daí. Agora não, que é perigoso!”. Cumprimenta o padre José Ferreira de Lacerda, alferes capelão-militar da 3ª Brigada de Infantaria. E ficamos conhecedores de quem foram as primeiras madrinhas, tem a palavra um prestigiado arqueólogo, Afonso do Paço, é uma correspondência que acompanha quem ficou prisioneiro dos alemães e há um alferes de infantaria, João Valadares Costa, prisioneiro na Alemanha que pede à sua boa mamã conservas, manteiga, marmelada, chocolate, bolacha, mas também bacalhau grosso, alho, cebola, pimenta e muito mais, tudo que deve ser remetido bem-acondicionado e fechado. “Peço que também me mandem umas alparcatas, uma escova de dentes boa, e duas pastas Couraça, sabonetes e sabão”. Há quem escreva aos maridos com a euforia de o saber vivo, aproveitando a circunstância para falar dos palavrões que o sogro profere, já supunham que o seu querido homem tinha batido a bota: “Porque o teu pai já te andava a fazer os funerais do que tu tinhas em nossa casa, era a tua roupa que queria ir buscar a nossa casa. Quer com respeito aos dois relógios ele assenhorou-se de ambos, diz ele que não me dá nenhum”. Há quem foi combater a França e por lá ficou constituindo família, a autora fala mesmo em histórias edificantes. E temos o Armistício e o Comité de Socorros aos Militares. E assim chegamos a 1961, um dos primeiros que parte para Angola, Etelvino da Silva Baptista escreveu no seu diário: “Embarco ao meio-dia. Não posso descrever o que me custou a partida. Ainda muito depois de perdermos a costa de vista havia muitos camaradas que choravam. A bordo havia música por todos os lados para nos distrairmos. Andei a percorrer todos os cantos do navio. São 10,20 vou-me deitar. Estou a lembrar-me muito especialmente da Isabel e apetece-me chorar, mas não posso”.

A autora contextualiza os acontecimentos que preludiam o início da guerra de Angola, para o Estado Novo 1961 foi um ano horrível. Sufocada a tentativa de mudança de regime, Salazar manda partir para Angola, rapidamente e em força, dá-nos troços de cartas de mães e mulheres a pedir cautelas, temos aqui cartas deles com arroubos patrióticos, o esforço de recuperação das povoações abandonadas e ocupadas pela UPA, era a reconquista do Norte de Angola. Desta feita, temos um novo modelo de Serviço Postal Militar, cuja génese aparece filiada ao Movimento Nacional Feminino, esta instituição procura zelar pela situação de militares doentes ou pão de família, é inevitável a referência a Cecília Supico Pinto para se entender a criação do aerograma e como este foi peça fundamental na correspondência dos militares durante a guerra. Marta Martins Silva fala-nos do apelo que este Movimento lançou para o apoio aos militares através da figura da Madrinha de Guerra. Algum desse correio tornar-se-á conhecido, como aquele que o escritor António Lobo Antunes enviou à sua mulher Joana, deu origem ao livro D’este viver aqui neste papel descripto: “Nesta terra tenho enterrado os melhores meses da minha vida e, se calhar, também, a maior parte dos anos da minha velhice. Isto gasta por dentro como um cancro. E o que mais me custa é o coeficiente do absurdo desta aventura. É um preço caro o que estou a pagar para poder um dia viver aí. E tu, então, casada com uma espécie de fantasma! Pai de uma criança que não conheço, marido de uma mulher com quem não posso falar e a quem não posso tocar. Condenado a uma horrível solidão. Condenados os dois a uma horrível solidão”.

E agora, sim, vão começar a jorrar as cartas de amor.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE NOVEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22743: Notas de leitura (1395): "Nunca digas adeus às armas: os primeiros anos da guerra da Guiné", de António dos Santos Alberto Andrade e Mário Beja Santos, Lisboa, Edições Húmus, 2020: um livro escrito com autoridade (João Crisóstomo, Nova Iorque)

domingo, 6 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22260: Fotos à procura de... uma legenda (151): Cecília Supico Pinto, em Có, em 2 de maio de 1969, distribuindo sorrisos e maços de cigarros da INTAR...


Guiné > Região de Cacheu > CCAÇ 2367/BCAÇ 2845, "Os Vampiros" (OlossatoTeixeira Pinto e Cacheu, 1968/70) >  2 de maio de 1969  > O nosso camarada, membro da Tabanca Grande (e da Magnífica Tabanca da Linha), Miguel Rocha, ex-alf mil inf, na altura a fazer as funções de comandante da companhia,  aqui a "tabaquear o caso",  com a presidente do Movimento Nacional Feminino, Cecília Supico Pinto (a menos de um mês do seu 48º aniversário natalício)... O nosso camarada "indaga da possibilidade de obter mais uns maços de tabaco para os rapazes da sua Companhia" (*)... Mas o caixote está quase vazio... e o que resta já tem destino...O caixote tem uma marca, "INTAR", que hoje a maior parte dos nossos leitores já não é capaz de decifrar...

Recorde-se que nos bons velhos tempos da indúsria tabaqueira (que fez alguns milionários e milhões de cancerosos), havia em Portugal uma situação de quase monopolio: a produçao era dominada por "A Tabaqueira", criada em 1927 por Alfredo da Silva (o fundador da CUF), a empresa líder do mercado nacional, produzia e vendia marcas de cigarros, nossas conhecidas, como Provisórios, Definitivos, Águia, Kentucky, 20 20 20, High-life, Porto, Ritz, Sintra, Monserrate ou Kayak. A sua concorrente era a INTAR (sucessora da Companhia Portuguesa de Tabacos), responsável por marcas como Estoril, Kart ou Marialvas.
 
Em 13 de maio de 1975, a Tabaqueira e a INTAR foram nacionalizadas. A empresa pública Tabaqueira - Empresa Industrial de Tabacos, E.P., criada a 30 de Junho de 1976, resultou da fusão, numa única empresa, de A Tabaqueira, SARL e da INTAR - Empresa Industrial de Tabacos, SARL. (Estas duas empresas tabaqueiras detinham praticamente a totalidade do mercado nacional de cigarros).

A cena acima retratada foto, foi recordada pelo Miguel Rocha, em poste  recente (*). E nele acrescentou:

(...) "no ano do I Centenário do Nascimento (30/05/1921) de Cecília S. Pinto, em sua memória, e com profundo respeito e admiração pela sua pessoa e sua obra, não esquecendo todas as outras Senhoras do MNF, muitas delas Mães de jovens mobilizados para as frentes de combate, venho aqui deixar meu testemunho de eterna gratidão pelo apoio dado aos combatentes na sua inegável qualidade de 'portadora de afectos' " (!) (...).(*)

Foto (e legenda): © Miguel Rocha (2021). Todos os direitos reservados. [Edição elegendagem complementa: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Desafio aos leitores (**), nomeadamente fumadores e ex-fumadores: vamos lá "tabaquear o caso" (como dizia o meu amigo e cunhado, alentejano, que a morte levou recentemente do nosso convívio)...

Vamos lá sentarmo-nos à mesa, à volta de um copo (mas sem o cigarrinho, sff...) e falar sobre a INTAR... Diz-vos alguma coisa ? Uma dica: fabricava uma marca de cigarros que, segundo a publicidade (enganosa), dava "quilómetros de prazer"... (Ou, se calhar, dava mesmo, que o prazer não é coisa que se possa objectivar, medir, avaliar, comparar...)


(**) Último poste da série >1 de maio de  2021 > Guiné 61/74 - P22160: Fotos à procura de... uma legenda (143): a continência à(s) bandeira(s) (Valdemar Queiroz)

Guiné 61/74 - P22258: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte IXb: Porto Gole: 3 de março de 1966, ataque IN, e visita da "Cilinha"

Cecília Supico Pinto (Lisboa, 1921 - Cascais, 2011) > Aqui na sua casa de Cascais, c. 2002/2006.  Foto gentilmente cedida pela sua biógrafa Sílvia Espírito Santo, que há dias, em 30 de maio passado, nos enviou esta foto (inédita). com autorização para a publicar no Blogue, e dizendo: "Por curiosidade, a Cilinha faria hoje 100 anos. Assinalei a data no meu Instagram (silmariavargas) com uma foto que lhe tirei."

 Visitou a Guiné pelo menos por 4 vezes (1966, 1969, 1973 e 1974)...A sua biógrafa diz que foram cinco...

Foto (e legenda): © Sílvia Espírito Santo (2021. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região do Oio > Porto Gole > CCAÇ 1439 (1965/67) > Fevereiro de 1966 > Cecília Supico Pinto, presidente do Movimento Nacional Feminino, na sua 1ª visita à Guiné, então já com 44 anos (ia fazer 45 em 30 de maio de 1966).


Guiné > Região do Oio > Porto Gole > CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) > 1966 > O “cais” de Porto Gole funcionava assim: o "barco de abastecimentos” (e outros) tinham de chegar quando a maré estava cheia. E depois de devidamente seguro (a uma árvore ou a um poste ) esperava-se pela maré vazia quando o barco ficava em seco para fazer o descarregamento, como se pode verificar na foto…. Como havemos de esquecer coisas destas?


Guiné > Região do Oio > Porto Gole > CCAÇ 1439 (1965/67) > O João Crisóstomo e o Henrique Matos, o primeiro comandante do Pel Caç Nat 52 (1966/68), junto ao monumento comemoratvo dos 500 anos da chegada de Diogo Gomes ao Rio Geba

Fotos (e legendas): © João Crisóstomo (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação da publicação das memórias do João Crisóstomo, ex-alf mil, CCAÇ 1439 (1965/67)



CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, 
Porto Gole e Missirá, 1965/67) : a “história” 
como eu a lembro e vivi 
(João Crisóstomo, luso-americano,
ex-alf mil, Nova Iorque)

Parte IXb:  Março de 1966: A CCaç 1439 em Enxalé (e seus destacamentos de Porto Gole e  Missirá) (*)

Dia 3 de Março de 1966:  Ataque  do IN a Porto Gole, antecedida da visita da presidente do Movimento Nacional Feminino em fevereiro 


(Continuação)

Porto Gole  teve sempre importância estratégica, desde os primeiros contactos dos portugueses como o atesta aí  um monumento lembrando os 500 anos  da chegada dos portugueses ao local. Embora não apresentasse um cais no sentido literal da palavra, apresentava algumas facilidades naturais que possibilitavam  o local como  ponto de  abordagem e de reabastecimentos.  Tomando vantagem da subida e descidas das marés do Geba, os  “fuzileiros” e os  barcos da Casa Gouveia e outros usavam este local

Lembro que para ajudar a passar o tempo fizemos um "espaço de lazer" junto dum edifício que servia de dormitório; dos cibes, de que havia abundância, fizémos mesas e bancos; uma árvore frondosa fornecia a apreciada sombra. E nas paredes do dito dormitório colamos fotos de todos os tamanhos , géneros e gostos, a maioria das quais, à falta de melhor , eram tiradas de revistas, jornais ou de qualquer outra origem que nos fosse dado aproveitar. 

Foi neste local que demos as boas vindas à presidente do Movimento Nacional Feminino Sra Cecília Supico Pinto, a "Cilinha", trazida de Bissau num barco de fuzileiros e depois numa lancha de borracha no dito cais, margens do Geba. (**)

Embora nunca me furtasse a qualquer tarefa ou actividade militar sempre que tal fosse preciso, não me oferecia como voluntário nem me prestava para iniciativas de carácter militar. Por outro lado não deixava de tomar partido de qualquer situação ou de facilidades que se oferecessem para mim ou os que tinha ao meu cuidado. 

Lembro ter contactado algumas vezes, por exemplo em 17 de Outubro de 1965 o Movimento Nacional Feminino pedindo o envio de presentes para o Natal dos meus soldados e letras de canções . (Já aqui publiquei excertos de de duas cartas recebidas: vd. poste P22087) (**)

O Rio Geba era um permanente convite/ desafio. Por isso construímos uma jangada, feita com tábuas e quatro bidões para a pesca e lazer; mas para pesca penso que nunca foi usada; felizmente haviam em Porto Gole dois pescadores que de vez em quando traziam e nos vendiam algum peixe do rio. Muitas vezes sucedeu não trazerem nada, argumentando não haver peixe , mas nós suspeitávamos que, forçados ou de boa vontade, nesses dias tinham deixado o peixe nas mãos do IN. Um deles viria a ser apanhado armado mais tarde, durante numa operação na qual perdeu a vida. 

Antes disso eu, com uma irresponsabilidade de que ainda hoje me admira e que atribuo a tê-lo feito de cabeça no ar sem pensar nada no que poderia acontecer, meti-me numa "grande mas estúpida aventura”, neste Rio Geba, que podia ter tido um trágico fim para mim e todos os que estavam comigo. Dois dos participantes desta aventura eram estes dois pescadores. (Post 61/74- P17686).(***)


 Guiné > Região do Óio > Porto Gole > CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) >  1966 > Rio Geba > Eu, ao comando de um "sintex"...


Guiné > Região do Óio > Porto Gole > CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) >  1966 > Rio Geba > A nossa “jangada” feita supostamente para pescar, mas que acabou por servir apenas de brinquedo recreativo… Na foto, aos remos eu e o João (?) ( natural da zona do Oeste, não me lembro exactamente, mas creio ser do Ramalhal, Bombarral) que era o “padeiro” do destacamento. Alguém sabe do paradeiro dele? E o outro tripulante… há alguém que o possa reconhecer?  

Fotos (e legendas): © João Crisóstomo (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Durante a nossa estadia na Guiné, Porto Gole viria a ser atacado duas vezes, a 3 de Março de 1966 e a 20 de Agosto do mesmo ano 1966.

Passo a transcrever o relato do primeiro, como consta neste relatório. O segundo ataque de 20 de Agosto será transcrito mais tarde, uma vez que estou tentando seguir este meu relato/memórias seguindo a ordem cronológica com que aparece nesse relatório.

(...) "No dia 3 de Março de 1966 o IN atacou com uma força muito considerável o destacamento de Porto Gole, tendo utilizado como predominante o morteiro 82 e 60. Foram assinalados 33 rebentamentos de morteiro 82 dentro do destacamento. As NF reagiram com valentia tendo causado ao IN baixas confirmadas em número não estimado, que posteriormente por informações se soube haver 10 feridos." (...)

As NT tiveram uma baixa, o Alf Mil Carlos Maldonado (morto em combate), depois de ter demonstrado ser um oficial de valor. Foi com decorado a título póstumo.

Foi distinguido igualmente o 1º cabo Enf. Dionísio Lopes Ferreira, o qual revelou além de ser um elemento muito competente, com sangue frio e coragem. Foi louvado por  Sua Excia o Comandante Militar.

Da reacção das NT ao ataque IN a Porto Gole mereceu o seguinte elogio do Exmo Comandante do BCaç 697:

(...) " Peço transmita o meu agrado à tropa do destacamento de Porto Gole pelo excelente comportamento durante o ataque IN na noite de 3/4 do corrente, em que mais uma vez confirmaram a boa impressão que tenho da tropa madeirense”. (...)

(Continua)
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Notas do editor:


18 de maio de 2021 > Guiné 61/74 - P22210: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte VIII: A partir de outubro de 1965, em Enxalé e seus destacamentos, Porto Gole e Missirá

2 de maio de 2021 > Guiné 61/74 - P22163: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte VII: Um mês em Bambadinca, de 7 de setembro a 9 de outubro de 1965

24 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22131: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte VI: O baptismo de fogo no Xime (17/8/1965, e a Op Avante, ao Buruntoni (em 29-30/8/1965) com os primeiros mortos

12 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22098: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte V: Destino: Xime.... E um levantamento de rancho que acabou à bofetada...

12 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22097: Guiné 61/74 - P22051: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte IV: Composição orgânica: na sua maioria, praças naturais da Madeira, e oficiais e sargentos do Continente

30 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22051: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte III: Na ilha da Madeira, a partida para o CTIG no T/T Niassa, em 2/8/1965

19 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22017: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte II: Do seminário a Mafra [EPI], Beja e Lamego [CIOE]

9 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P21985: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) : a “história” como eu a lembro e vivi ( João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte I: afinal, não consegui esquer...

(**) Vd. poste de 9 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22087: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (85): respondendo ao pedido de colaboração da doutoranda Sílva Espírito-Santo, biógrafa de Cecília Supico Pinto (João Crisóstomo, Nova Iorque)


Vd. também poste de 27 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19831: Álbum fotográfico de João Crisóstomo, ex-alf mil inf, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) - Parte IV: a vida em Porto Gole