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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P22962: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte XXVI: Antigua Guatemala, Guatemala, 2016







Guatemala, Antigua Guatemala, 2016


Fotos (e legenda): © António Graça de Abreu (2021) Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da série "Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo", da autoria de António Graca de Abreu [, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74. (*)



António Graça de Abreu

Escritor e docente universitário, sinólogo (especialista em língua, literatura e história da China); natural do Porto, vive em Cascais; autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); é membro da nossa Tabanca Grande desde 2007, tem já três centenas de referências no blogue.



Antigua Guatemala, Guatemala, 2016


por António Graça de Abreu

Texto e fotos recebidos em 23/10/2021


Nesta América Central, 2016, venho por aí acima, 130 quilómetros desde o Oceano Pacífico, subindo montes, por estradas rasgadas nas encostas de montanhas vulcânicas que se elevam até aos 4.000 metros. Só no caminho, aqui à volta, passamos por quatro vulcões, o Pacaya, o Água, o Fuego e o Acatenango.

A Guatemala tem a particularidade de contar com trinta e um vulcões, quatro deles activos. É, por isso, um país ciclicamente sujeito às calamidades naturais, tremores de terra, erupções vulcânicas com a lava escorrendo por penhascos e desfiladeiros, devorando, ao avançar, terras férteis, vilas e aldeias. 

Para além de todos os desvairos da natureza, os guatemaltecos estão igualmente sujeitos às infindáveis loucuras dos homens. Entre 1960 e 1996 a Guatemala, maior do que Portugal com 190 mil quilómetros quadrados de superfície, viveu tempos de quase permanente guerra civil, em lutas fratricidas por efémeros poderes que se calcula terem provocado 200 mil mortos.

A cidade de Antigua, conhecida localmente como La Antigua, foi fundada por colonizadores espanhóis em 1543, como escrevi encravada entre vulcões. Foi a primeira capital do país, quase totalmente destruída por um terramoto, seguido de grandes inundações, em 1773. Nessa altura construíu-se uma nova capital, a actual cidade de Guatemala, na planura de um vale, mais segura e de mais fáceis acessos, a 50 quilómetros de distância.

Parto à descoberta da Antígua Guatemala, património Mundial pela Unesco. Uma urbe colonial traçada em quadrícula, ruas pavimentadas com um velhíssimo empedrado, casas térreas com pátios interiores quadrados, à moda andaluza, jardins com buganvílias, água a correr, espaços frescos para viver e habitar. Duas dezenas de igrejas e capelas, treze conventos, tudo edificado há três ou quatro séculos, algumas construções já muito arruinadas. É o testemunho dos tempos de Espanha e da fé cristã assumida pelo povo desta terra onde a morte precoce e inesperada espreitava a cada esquina. Implorava-se a protecção de Cristo ou da Virgem Maria, pedia-se um pouco de felicidade em vidas breves, ansiava-se por um descanso eterno. Ingratos, sinuosos, inesperados os caminhos do Céu.

Na Antigua Guatemala metade da população é constituída por pessoas da etnia maia e os traços identitários de cada um saltam à vista. Não contaminados por sangue espanhol, ou europeu, os maias têm a pele mais escura, o cabelo muito negro e liso, os narizes aquilinos, os olhos grandes, encovados que me pareceram sempre tristes. Vestem, no entanto, roupas coloridas em trabalhados entrançados de lã. São a gente mais pobre e desfavorecida da Guatemala, um país onde me dizem que uma dúzia de famílias muito ricas controlam quase toda a produção de açúcar, café, bananas e borracha, as principais exportações do país. Será mesmo assim?

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 24 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22935: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte XXV: Berlim, Alemanha, 1969

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22524: Agenda cultural (782): Apresentação, pelo cor Vasco Lourenço, na Feira do Livro de Lisboa, sexta-feira, dia 10, às 15h00, do livro de Moisés Cayetano Rosado, "Salgueiro Maia: das Guerras em África à Revolução dos Cravos" (Edições Colibri, 2021, 210 pp.)

 

Convite das Edições Colibri, que nos chegou por intermédio do nosso camarada Mário Gaspar: apresentação do livro de Moisés Cayetano Rosado, "Salgueiro Maia: das Guerras em África à Revolução dos Cravos" (2021, 210 pp.).  Data e local: 10 de setembro de 2021, sexta-feira, às 15h00, na Feira do Livro de Lisboa, Auditório Nascente, Parque Eduardo VII, Lisboa


Trata-se da tradução portuguesa da edição original em espanhol, “Salgueiro Maia – de las Guerras en África a la Revolución de los Claveles y su Evolución Posterior”.

"Moisés Cayetano Rosado, o autor da obra Salgueiro Maia, tem a particularidade de poder olhar, de forma mais distanciada e desapaixonada, os acontecimentos que narra nesta obra diferentemente de autores portugueses que se têm dedicado aos temas da Descolonização, do 25 de Abril e da ação e personalidade do Capitão Salgueiro Maia.

"É um historiador, interventivo e corajoso, na busca da verdade histórica e da defesa e salvaguarda da cultura do seu país, mas também apaixonado pelo seu país vizinho – Portugal – participando na organização de inúmeros eventos literários e culturais.
Nasceu em La Roca de la Sierra (Badajoz, Espanha), em 1951. É licenciado em Filosofia e Ciências da Educação. Mestre em Instrução Primária e tem doutoramento em Geografia e História." (Fonte_ Wook)
.

Sinopse do livro (excerto do prefácio, do Presidente da República, Prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa):

“Foi há quarenta e dois anos!

Um homem em cima de uma Chaimite. Que interpela o poder que está a cair, enquanto o novo poder tarda em chegar.

Simples. Sem ambições de mando ou de glória.

Que ali está porque sente dever cumprir aquela missão militar, que é também e acima de tudo cívica.

Que não pensa um segundo sequer no simbolismo daquela presença, nem no significado histórico daquele momento.

Que, terminada a missão, regressa ao quartel, para voltar a ser o que era. Com a naturalidade de quem não reclama louros, nem aspira a celebridade.

À sua maneira, Salgueiro Maia deu expressão a um povo e a uma maneira de ser e de viver ao longo dos séculos. (…)

Salgueiro Maia foi o retrato desse povo, que é o que Portugal tem de melhor. (…)

Foi esse povo que fez Portugal. E, nele, os soldados de Portugal. Sem ele e eles os chefes mais ilustres não teriam triunfado, os políticos mais brilhantes não teriam vencido, os empreendedores mais visionários não teriam criado.”


Fonte: Edições Colibri, página no Facebook

quarta-feira, 9 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22268: Historiografia da presença portuguesa em África (266): O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (3) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Outubro de 2020:

Queridos amigos,
As Actas da Sociedade de Geografia de Lisboa põem-nos no centro das preocupações de uma assembleia compósita onde não faltavam os principais políticos, figuras da aristocracia, cientistas, empresários e banqueiros e meros entusiastas na nova formulação do nacionalismo imperial assente em África. Ali se faziam proposta para trocar colónias, para formar uma administração colonial capaz e esclarecida, propunham-se estátuas, projetos hidrográficos, levantamentos, estudos sobre comércio e indústria, discutia-se calorosamente os tratados portugueses com a Grã-Bretanha, e de igual forma se defendia o Meridiano de Greenwich. Aqui se cita alguns elementos de uma circular enviada aos sócios sobre o que era a Sociedade de Geografia, a sua ligação a toda a sociedade por se considerar depositária de um bem público, o museu estava a constituir-se, aceitava-se uma parceria com o Jardim Zoológico, subvencionava-se uma nova exploração de Capelo e Ivens, aqui configurados como heróis nacionais.
Vamos ver que surpresas nos vai oferecer a Sociedade de Geografia, estamo-nos a aproximar da Conferência de Berlim.

Um abraço do
Mário


O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (3)

Mário Beja Santos

Que grau de utilidade podemos encontrar no estudo das grandes preocupações dos sócios da Sociedade de Geografia de Lisboa naqueles anos entusiásticos em que se procurava alicerçar o III Império Colonial, radicado em África? Analisar o funcionamento de um grupo de pressão para onde convergiam figuras de topo do rotativismo político, cientistas, empresários e até um elevado número de nacionalistas que acreditavam ardentemente que a Sociedade de Geografia era a sede habilitada para dar voz aos interesses imperiais. É por isso que estamos não à volta do boletim, publicação onde caprichavam estudos e documentos apresentados pelos sócios, nós aqui estamos a acompanhar as sessões para tentar perceber as motivações concretas de todos os sócios e ver como estas propostas chegavam ao Governo, entravam na arena política ou faziam mesmo parte da discussão pública.

Estamos na sessão de 20 de janeiro de 1883, e o sócio José Ferreira de Almeida apresenta a seguinte proposta: “A Sociedade de Geografia de Lisboa, tendo em vista o melhor aproveitamento, civilização e progresso dos domínios coloniais portugueses; no interesse do país e da humanidade, e no intuito de uniformizar o regime administrativo e tornar mais eficazes os meios de ação de que o país dispõe, seguindo-se a norma que o Governo de Sua Majestade acaba de adotar com relação aos territórios banhados pelo Zaire e o Forte de S. João Baptista de Ajudá: Propõe: 1.º  - A troca do domínio de Timor pelo de Fernando Pó cedido à Espanha pela Convenção de Março de 1778; 2.º -  A cessão à França do domínio da Guiné compreendido nos paralelos de 10º 12´ e 13º e 10´ ; pelo domínio francês do Gabão, levando a fronteira da nossa província de Angola de 5º 12´ sul à fronteira norte do domínio francês ao norte do Equador. A proposta foi enviada para a Comissão Africana. Também durante esta sessão se falou num concurso com um prémio de 100 mil reis para um estudo sobre as relações comerciais entre Portugal e as suas colónias, tendo em vista o alargamento dessas relações a fim de que a indústria nacional se desenvolva e aproveite para consumo dos seus produtos nos mercados coloniais".
António Augusto de Aguiar, um dos Presidentes da Direção da Sociedade de Geografia de Lisboa

Na sessão do mês seguinte foi aprovada uma proposta de se proceder ao levantamento hidrográfico da costa e possessões portuguesas, e particularmente das costas, portos e rios da província de Angola. Na sessão do mês seguinte quem a preside é o Conselheiro António Augusto de Aguiar pois Barbosa du Bocage fora nomeado Ministro da Marinha e Ultramar. Fala-se das ingerências da Grã-Bretanha na questão do Niassa, “os ingleses davam-se ares de pertencer-lhe, como se tinham dado de o ter descoberto”.

Na sessão de finais de Abril elaborou-se e aprovou-se parecer sobre a questão do meridiano universal, reconhecendo-se que o meridiano de Greenwich é a situação mais prática, a Sociedade de Geografia vota por este meridiano como universal para origem da contagem das longitudes. Mas havia na época muitas consultas, no caso português incluía-se o Real Observatório Astronómico da Ajuda. Na reunião seguinte surgiu a proposta de promover por meio de uma subscrição a ereção de uma estátua colossal do Cabo de S. Vicente ao Infante D. Henrique e que o lançamento da primeira pedra devia já ocorrer no ano de 1884. A questão do Zaire, que deu origem a um tratado entre Portugal e a Grã-Bretanha é matéria de grande debate. Nas sessões seguintes ocupam grande espaço as expedições de Capelo e Ivens.

No ano seguinte, logo na sessão de março é criada a Secção Asiática da Sociedade de Geografia de Lisboa e nas eleições António Augusto de Aguiar passa a presidente da Direção. Neste tempo, a Sociedade reinstalara-se na Travessa da Parreirinha, N.º 5, 1.º andar e envia-se uma circular aos sócios de onde se destacam os seguintes parágrafos:
“Nós somos uma modesta Sociedade de homens que estimam e servem a ciência e o nome português; a nossa casa é uma oficina pobre, um centro despretensioso de estudo e de convívio útil, sustentado principalmente pelas nossas pequenas cotas mensais. Não é um grémio de luxuoso passatempo, nem o nosso fim comum é cuidarmos do nosso conforto e recreio.
Rigorosamente, à cavalheirosa e discreta dedicação de todos os nossos consócios fica entregue a guarda e a polícia da nossa casa, como naturalmente lhes pertence também a guarda e defesa do nosso bom nome social. Por enquanto, pelo menos, a casa da Sociedade não poderá estar aberta ordinariamente senão desde as 10 horas da manhã até às 4 horas da tarde, e desde as 8 até às 12, precisas, da noite, todos os dias. A nossa casa não é um clube. Julgamos por isso escusado observar que não podem ser consentidos nela nenhuns jogos ou diversões alheias à índole e à lei da Sociedade, como também o não podem ser nenhumas discussões e operações de propaganda religiosa e política (quem consultar a lista dos sócios poderá verificar esta versatilidade de ocupações, desde o banqueiro Francisco Oliveira Chamiço, fundador do Banco Nacional Ultramarino, até um conjunto elevado de funcionários públicos).
Na nossa casa havemos de nos encontrar, conversar, estudar, permutar as nossas ideias e as nossas informações, sempre num convívio sereno e grave, a que nunca deixará de estar presente a ideia da nossa honra e do nosso dever comum.
Considerando as vantagens científicas do estabelecimento de um jardim científico em Lisboa, as íntimas relações deste empreendimento com os fins da sociedade, e os próprios sentimentos, neste sentido manifestados pelos nossos consócios, mas considerando também que os novos e consideráveis encargos sociais nos recomendavam a mais severa economia e o mais escrupuloso retraimento no sentido da concessão gratuita das nossas salas e serviços, temos acordado com a sociedade promotora daquele jardim de estudo, composta da sua maioria de consócios nossos, e que na nossa casa se instalou e tem funcionado até hoje, que ela continue na nossa sede, mantida a recíproca independência e sem prejuízo do nosso expediente e serviços.
Está começada a instalação do nosso museu, graças à dedicação de alguns dos nossos consócios; procura ser, em parte, um museu de estudo e aplicação industrial e comercial, principalmente no que importa às relações comerciais. Vem aqui a propósito submeter à consideração de V. Exas. a ideia em que estamos, de franquear ao público, em certos dias, a nossa casa, para exame e estudo das nossas coleções.
A Sociedade de Geografia é filha legítima da iniciativa particular”
.

Falou-se acima de que Capelo e Ivens era um tema dileto por causa das suas explorações, veja-se o que se escreveu numa das sessões:
“O Sr. Presidente informou a Assembleia de que ia entregar aos senhores Capelo e Ivens, em véspera de partirem para uma nova exploração na África Ocidental, a bandeira que os acompanhará na sua primeira expedição ao continente africano. E acrescentando algumas palavras de elogio e de estímulo aos ilustres exploradores, dirigiu-se com os secretários para a mesa onde se achava a bandeira, entregando-a aos senhores Capelo e Ivens, erguendo-se toda a assembleia e vitoriando calorosamente aqueles consócios. Deixou-se claro que a expedição africana se devia em grande parte à Sociedade de Geografia. Roberto Ivens agradeceu comovido em seu nome e de Ermenegildo Capelo, disse que aquela bandeira já testemunha e será companheira de uma missão de paz e de ciência. ‘O Sr. Serpa Pinto, tomando a palavra despediu-se comovido dos seus antigos companheiros e lembrou à Mesa a urgência de formar uma comissão de vigilância para se ocupar exclusivamente dos dois exploradores enquanto eles estivessem no desempenho da sua nobre missão”.

(continua)
Fachada comum da Sociedade de Geografia de Lisboa e do Coliseu dos Recreios
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Nota do editor

Último poste da série de 2 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22249: Historiografia da presença portuguesa em África (265): O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (2) (Mário Beja Santos)

sábado, 5 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22256: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte VIII: Mosteiro de Yuste, Estremadura, Espanha, 2003



Foto nº 1 > Mosteiro de São Jerónimo de Yuste, Estremadura, Espanha



Foto nº 2 > Mosteiro de Yuste, Estremadura, Espanha: leito de morte de Carlos V (1500-1558)



Foto nº 3 > Mosteiro de Yuste, Estremadura, Espanha: 
 Isabel de Portugal (1503-1539), filha de D. Manuel, irmã do nosso D. João III, mãe de Filipe II

Texto  e fotos enviadas em 21/5/2021, pelo António Graça de Abreu  



1. Continuação da série "Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo" (*), da autoria de António Graca de Abreu [, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74.

Escritor e docente universitário, sinólogo (especialista em língua, literatura e história da China); natural do Porto, vive em Cascais; é autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); "globetrotter", viajante compulsivo com duas voltas em mundo, em cruzeiros.

É casado com a médica chinesa Hai Yuan, natural de Xangai, e tem dois filhos dessa união, João e Pedro; é membro da nossa Tabanca Grande desde 2007, tem mais de 275 referências no blogue.

 

Mosteiro de Yuste, Estremadura, Espanha, 2003


Primavera de 2003. Subo a encosta por antigos caminhos, entre carvalhos e castanheiros, bosques de zimbro e azinheiras. No jardim, uma velha nogueira deu sombra a Carlos V, amigo de Fernão de Magalhães, monarca das Espanhas, imperador do Sacro Império Romano-Germânico.

O mosteiro de São Jerónimo, do ano de 1415, jaz hoje alquebrado na Estremadura castelhana, rasgado, construído com pedra da montanha. Aposentos reais, a igreja, um claustro gótico, outro renascentista.

Venho ao encontro do rei-imperador Carlos V, envelhecido, decrépito, a doença, a gota, o bem e mal de viver e governar. O augusto soberano viu morrer a sua Isabel portuguesa, filha de D. Manuel, irmã do nosso D. João III, mãe de Filipe II, tão jovem, tão formosa, tão amada, tão cedo de partida. Ficou o sucessor, Filipe, príncipe para todos os poderes, para todos os reinos, para todas as virtudes.

Neste mosteiro de Yuste, o quarto de Carlos V. Desde há quinhentos anos, panos negros e dourados permanecem suspensos nas paredes frias. Ao fundo, a porta para a igreja e a cama do rei voltada para o altar de Deus, o monarca preparando-se para a última viagem, ao encontro da esposa, Isabel de Portugal.

Simplicidade solene nos espaços da vida e da morte.

Regresso ao jardim. Carlos e Isabel na brisa da tarde. Dois cisnes negros deslizam no lago.

António Graça de Abreu

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 Nota do editor:

Último poste da série > 27 de maio de 2021 > Guiné 61/74 - P22227: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte VII: Peru, Lima, fevereiro de 2020

sexta-feira, 26 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22040: Da Suécia com saudade (89): Filhos de portugueses mas... desconhecidos em Portugal - Parte III: João Rodrigues Cabrilho, o primeiro navegador e explorador europeu a chegar à costa californiana, c. 1542/43 (José Belo)




EUA > Califórnia > A memória do navegador e explorador João Rodrigues Cabrilho... Para além da autoestrada ao longo da costa californiana, esta ponte também tem o seu nome... Foi o primeiro europeu a explorar a costa californiana... Há um monumento nacional ao Cabrilho em San Diego, Califórnia...

Fotos: Cortesia de José Belo (2021)



1. Mensagem de José Belo, o nosso luso-sueco, cidadão-do-mundo, membro da Tabanca Grande, que reparte a sua vida entre a Lapónia (sueca), Estocolmo e Key-West (Florida, EUA). Foi nomeado por nós régulo (vitalício) da Tabanca da Lapónia...

Data: sábado, 20/02/2021 à(s) 15h42

Assunto: Mais um português famoso nos States ... quase desconhecido em Portugal: João Rodriguez Cabrillo (*)



João Rodrigues Cabrilho
(Cabril, Montalegre, c. 1499 - Novo Mundo, Califórnia, 1543)

 

Tal como ao Magalhães, 
os espanhóis também o querem para só si, ao Cabrilho 
(efígie acima)...


João Rodrigues Cabrilho (ou Cabrillo, para os espanhóis)  foi um soldado e explorador português ao serviço de Espanha.

É famoso nos Estados Unidos, mormente na Califórnia, por ter sido o primeiro europeu a explorar a costa norte-americana do Oceano Pacífico em 1542/43.

A sua nacionalidade ainda hoje é objecto de  disputa entre portugueses e espanhóis. (#)
 
Está demonstrado ter sido filho de família portuguesa, mas, segundo os espanhóis, nascido em Espanha (Palma del Rio),  a 13 de Marco de 1499 (ou 1475).

No entanto, nas Beiras portuguesas mais de uma localidade afirma ser a terra de nascimento do navegador Cabrillo, e que familiares com esse nome ainda por lá vivem. Certo é que foi educado em Espanha, sendo de origens humildes.

Ainda muito jovem terá navegado para as Índias Ocidentais fazendo parte de uma grande armada de 30 navios e 2500 soldados que colonizou Cuba.

Em 1519 foi enviado para o México com a missão de aprisionar o então revoltado Hermán Cortez que tinha desobedecido a ordens reais aquando da conquista do reino Azeteca. Esta missão foi mal sucedida devido a popularidade de Cortez junto dos seus homens, tendo Cabrillo juntado-se a Cortez no assalto à capital azeteca de Tenochtitlán (Hoje, Cidade do México).

Depois da derrota dos azetecas juntou-se à expedicão militar de Pedro Alvarado na área geográfica dos actuais México do Sul, Guatemala, e El Salvador.

Em 1530 Cabrillo tornou-se imensamente rico com a exploração de minas de ouro na Guatemala. 
Desde um porto da costa guatemalteca controlava as exportações e importações para Espanha, não só a partir da Guatemala mas também de outros locais do Novo Mundo.

Aplicou pesados impostos às populações locais, e usou muitos dos habitantes masculinos como mineiros escravos, ao mesmo tempo que entregava os elementos femininos da população, também como escravas, aos seus marinheiros e soldados. Conscientemente, quebrou deste modo todo o tecido social e familiar da vasta região.

Crê-se ter sido neste período que terá tido uma companheira indígena, e que desta relação terão resultado dois filhos.

Em 1532, já famoso e com enorme fortuna, voltou a Espanha onde se casou, em Sevilha, com Beatriz Sanchez de Ortega. Ela acompanhou-o de volta à Guatemala e o casal teve dois filhos.

Neste período, Cabrillo foi contactado por António de Mendoza, então Vice-Rei da Nova Espanha, para explorar a costa americana do Pacífico na esperança de serem encontradas cidades ricas a saquear e uma possível passagem marítima entre os Oceanos Pacífico e Atlântico.

Recebeu também instruções para procurar encontrar-se com Francisco Vasquez de Coronado, então enviado por via terrestre desde o Atlântico em direção ao Pacífico.

Cabrillo construiu com capital próprio o navio almirante da expedição (o San Salvador), colocando-se deste modo em posição óptima para beneficiar de possíveis relações comerciais a serem estabelecidas ou tesouros encontrados.

 A 24 de Junho de 1542 partiu do actual porto de Manzanilha/México com o navio almirante acompanhado de dois outros, o Vitória e o San Miguel. Quatro dias depois encontraram uma baía que constituía um excelente porto de abrigo (hoje San Diego Bay).

Seguidamente exploraram as ilhas situadas junto à costa da Califórnia, Santa Cruz, Catalina e San Clemente, ao mesmo tempo foram encontrando inúmeras pequenas povoações ao longo da costa. (Curiosamente os espanhóis só voltaram a estas áreas em 1769 (!), fazendo-se então acompanhar de soldados e missionários.)

A expedição continuou rumo ao Norte tendo atingido um local que denominaram Cabo de Pinos (actual Point Reyes). Então os temporais do Outono obrigaram-nos a voltar para o Sul até à Baía de Los Pinos (actual Monterey Bay).

Neste local da costa, e devido aos densos nevoeiros aí normais, não descobriram a entrada da Baía da Actual cidade de San Francisco (San Francisco Bay). Este erro foi repetido por numerosos navegadores nos dois séculos seguintes, precisamente devido aos densos bancos de neblinas locais. A expedição regressou a San Miguel onde passou o Inverno.

Na véspera do Natal foram atacados por guerreiros indígenas (Tongva). Procurando ajudar os seus homens, Cabrillo escorregou e caiu sobre algumas pedras ponteagudas. O ferimento posteriormente gangrenou, morrendo Cabrillo a 3 de janeiro de 1543. Julga-se estar sepultado na ilha de Catalina.

A expedição voltou a navegar ao longo da costa rumo ao Norte. Atingiu, segundo se julga, a costa do actual Estado Norte Americano do Oregon. Regressaram então para a Natividad em Abril de 1543.

Esta expedição de Cabrillo não atingiu os seus objectivos quanto a encontrar ricas cidades costeiras. Também não foi encontrada a mítica passagem marítima do Pacífico para o Atlântico.

O encontro com o explorador terrestre Coronado também não se deu. No entanto demarcou uma vastíssima área da Costa Norte Americana a partir do México, que o Reino de Espanha viria a ocupar e colonizar dois séculos mais tarde.
 
(#) Vd. Wikipedia (em português: vd. também versão em inglês):

(...) A nacionalidade Portuguesa de João Rodrigues não oferece dúvidas, pois é o próprio cronista e Chefe das Índias Espanholas, D. António Herrera y Tordesillas, que na sua "Historia General de los hechos de los Castellanos en lás Islas y tierra firme del Mar Oceano" o confirma, ao dizer ter D. António de Mendonça aprestado os navios "São Salvador" e "Victoria" para prosseguirem na exploração costeira da Nova Espanha "y que nombrô por Capitan dellos a Juan Rodriguez Cabrillo Português, persona muy platica en las cosas de la mar " (...) embora alguns biógrafos e historiadores, em especial Harry Kelsey, afirmem que Cabrillo tenha nascido em Sevilla (Andaluzia) em data incerta.

Na freguesia de Cabril, concelho de Montalegre, há a "Casa do Galego" (origem aliás sugerida pelo seu apelido), onde alegadamente Cabrilho nasceu, como é afirmado em placa comemorativa. O investigador João Soares Tavares, após pesquisa morosa em Portugal, Espanha, México e Guatemala, apresentou dados comprovativos nos seus livros, que o navegador é português natural de Lapela (Cabril) do concelho de Montalegre.(...)
_________________

Nota do editor:

terça-feira, 24 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21577: Consultório militar do José Martins (55): Loures e a Guerra Peninsular (Parte II)


Em mensagem do dia 22 de Novembro de 2020, o nosso camarada José Martins (ex-Fur Mil TRMS, CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), dedica o seu "Consultório" ao Concelho de Loures e à Guerra Peninsular. Publica-se hoje a segunda e última parte.








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Nota do editor

Poste anterior de 23 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21573: Consultório militar do José Martins (54): Loures e a Guerra Peninsular (Parte I)

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21573: Consultório militar do José Martins (54): Loures e a Guerra Peninsular (Parte I)


Em mensagem do dia 22 de Novembro de 2020, o nosso camarada José Martins (ex-Fur Mil TRMS, CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), dedica o seu "Consultório" ao Concelho de Loures e à Guerra Peninsular. Publica-se hoje a primeira de duas partes.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21470: Consultório militar do José Martins (53): o Estatuto do Antigo Combatente: isenção das Taxa Moderadoras na utilização dos serviços de saúde

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P20965: FAP (116): O último ano do Fiat G-91 - II (e última) Parte (José Matos)



Fig. 9 - O primeiro Fiat G.91 a ganhar a nova pintura verde escura para evitar o míssil. Infografia: Paulo Alegria. 


O último ano do Fiat G.91 na Guiné
por José Matos
,

[Publicado originalmente na
Revista Militar N.º 4 – abril 2020, pp. 395-414-
Cortesia do autor e editor]





José Matos [, foto à direita]: 

(i) investigador independente em História Militar, tem feito pesquisas sobre as operações da Força Aérea na Guerra Colonial portuguesa, principalmente na Guiné;

(ii) é  colaborador regular em revistas europeias de aviação militar e de temas navais;

(iii) colaborou nos livros “A Força Aérea no Fim do Império” (Lisboa, Âncora Editora, 2018) e "A Guerra e as Guerras Coloniais na África Subsariana" (Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2019);

(iv) é autor, com Luís Barroso, do livro, a sair brevemente, "Nos meandros da guerra: o Estado Novo e a África do Sul na defesa da Guiné" (Lisboa, Editora Caleidoscópio, 2020).

(v) é  membro da nossa Tabanca Grande desde 7 de setembro de 2015, tendo cerca de 3 dezenas e meia de referências no nosso blogue]


II (e última parte) (*)

Operações nocturnas 

As missões de Fiat à noite são executadas com luzes de posição apagadas. Esta restrição implicava que a força atacante não fosse superior a 2 caças e que a actuação, no local de acção, obedecesse a um rígido sistema de escalonamento em altitude, tanto na fase da entrada como na da saída dos passes de tiro e à selecção de um ponto em terra bem conhecido para a reunião e regresso à base, dos aviões.

Quanto ao apoio, este era relativamente fácil de prestar, porque o clarão do disparo das armas da guerrilha, denunciava a sua posição no terreno. No local de acção, o primeiro jacto a entrar tinha, por isso, grande probabilidade de infligir danos ao inimigo. Fizeram-se saídas desta natureza a favor de Gadamael Porto e outra em apoio de Cufar.[33]

Em relação ao C-47, foi engendrado um visor a partir de um derivómetro usado no DC-3 Skymaster, que media ângulos na horizontal e na vertical. Ao fim de alguns voos gerou-se uma tabela de tiro e a aeronave entrou em acção, a coberto da noite. O avião adaptado era, habitualmente, usado em missões de reconhecimento fotográfico e tinha, por isso, uma abertura no dorso inferior traseiro, para instalação da máquina fotográfica. Era por essa abertura que os militares a bordo lançavam manualmente bombas de 15 kg. Os voos eram habitualmente feitos a 10 000 pés (3000 metros) fazendo bombardeamento de área. [34] 


A estreia do C-47 nesta função acontece em Setembro de 1973 com 3 acções/3 saídas nocturnas, continuando em Novembro com 5 acções/5 saídas e em Dezembro com 12 acções/12 saídas.[35]

Podemos agora ver pela análise dos SITREPS (“Situation Report”) da época que o número de acções aéreas de ataque do G.91 aumenta de forma consistente a partir de Agosto de 73, atingindo o pico máximo em Outubro (126 acções).[36]





Fig 6 - Fiat G-91: ações aéreas de ataque (1973)


A partir da análise do gráfico [Fig nº 6], constatamos que o número de missões ATIP (Ataque Independente Preparado) é significativo, a partir de Julho (49) sendo durante o resto do ano superior ao mês de Março, ou seja, antes do aparecimento do míssil. As missões ATAP (Ataque de Apoio Próximo) atingem um pico em Maio/Junho, durante a crise militar de Guidage, Guileje e Gadamael, baixando depois durante o resto do ano. Quanto às missões ATIR (Ataque Independente em Reconhecimento) desaparecem praticamente durante o ano.

Ataques a Kandiafara 

Em Agosto, o Tenente-Coronel Fernando de Jesus Vasquez substitui o Major Pedroso de Almeida no comando do GO1201. Um mês depois da sua chegada, os Fiat são empenhados em várias missões de bombardeamento a Kandiafara, na Guiné-Conakry. Estas missões começam no início de Setembro e intensificam-se a meio do mês, quando os “Tigres” bombardeiam esta base várias vezes, apesar da forte oposição das antiaéreas.[37] Num destes ataques, a 20 de Setembro, é morto um oficial cubano, o Tenente Raúl Pérez Abad, que apoiava as forças do PAIGC.[38]

Entretanto, a 1 de Setembro, a Força Aérea perde mais um G.91, mas, desta vez, por razões desconhecidas. O Fiat 5416 era pilotado pelo Capitão Carlos Wanzeller e participava numa missão de bombardeamento em apoio a uma helicolocação, usando bombas de 750 libras (340 kg). 


Durante o passe de bombardeamento e após largar a primeira bomba, o avião de Wanzeller enrola bruscamente para a esquerda até uma posição invertida, ficando o piloto sujeito a uma aceleração excessiva e sem controlo do avião. Após a perda momentânea de consciência, Wanzeller ejecta-se, sendo recuperado posteriormente por um helicóptero que procedia às helicolocações. Na investigação que é feita ao acidente não se consegue apurar o motivo da perda de controlo do avião, ficando o piloto ilibado de qualquer responsabilidade. [39]

No seguimento deste incidente, o Comando da Zona Aérea solicita a substituição do Fiat acidentado, sendo decidido que o avião 5439, previsto sair de IRAN 
[Inspect and Repair As Necessary] em Fevereiro de 1974 para a BA5, seja atribuído à ZACVG. 

No entanto, o chefe da 3ª Repartição do Estado-Maior da Força Aérea (EMFA), Coronel Costa Gomes (um veterano da guerra na Guiné), salienta “que tal decisão irá afectar a já difícil situação da Base Aérea nº 5, no que respeita à preparação operacional de pilotos de G.91 para o Ultramar.” 

Atendendo que a BA5 dispunha apenas de 5 Fiat (3 disponíveis) e que, provavelmente, todas as futuras substituições só poderiam ser realizadas recorrendo aos restantes aviões que estavam em Monte Real, Costa Gomes considera oportuno que seja revisto o problema da preparação operacional em Fiat na BA5, cada vez com menos aviões para essa função. [40] O problema agrava-se no mês seguinte com a perda de outro caça na Guiné.


Ejecção na selva 

A 4 de Outubro, os “Tigres” perdem o Fiat (5409), no norte da Guiné, na região de Jagali, a sul do rio Cacheu, perto da mata do Tancroal. Na manhã desse dia, dois G.91 descolam da BA12 rumo ao norte, pilotados, respectivamente, pelo Capitão Alberto Cruz e pelo Coronel Lemos Ferreira, na altura Comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné (ZACVG). Cada avião transportava nas asas 2 bombas de fragmentação de 200 Kg e 4 bombas de demolição de 50 Kg, além das munições habituais nas metralhadoras do nariz. 


O tempo estava encoberto por nuvens altas, mas a zona suspeita distava apenas 50 quilómetros de Bissau e em 15 minutos de voo a parelha estava sobre a mata do Tancroal à procura de vestígios da guerrilha. O ponto de convergência de alguns trilhos suspeitos é assumido como alvo e a zona é de imediato bombardeada pelos dois aviões. Os dois jactos atacam o alvo de forma desfasada no tempo para que cada um possa vigiar a recuperação do outro e avisá-lo em caso de disparo do míssil e atacar o local de lançamento. 


Depois de largadas as bombas, o Capitão Alberto Cruz mergulha em ângulo de picada de 60º para metralhar a posição suspeita e de repente sente um grande estrondo e percebe que qualquer coisa de grave aconteceu ao G.91. O avião vibra com tanta violência que o piloto bate constantemente com o capacete na “cannopy” e a consola do Fiat mostra luzes acesas por todos os lados. De repente, o G.91 entra numa espiral descontrolada e o piloto perde completamente a visão à sua volta e decide ejectar-se. 


A ejecção ocorre a cerca de 400 nós (740 km/h), ou seja, muito perto do limite do cabo de disparo do pára-quedas de abertura que é de 470 nós (870 km/h). É uma ejecção violenta, tão violenta que o piloto perde o capacete e os sentidos, durante algum tempo, e sofre também uma forte compressão na coluna. A descida até ao solo é rápida. Em pouco mais de 15 segundos, o piloto aterra na floresta, mas fica pendurado numa árvore a cerca de 5 metros do solo. 


Perante a situação, deixa o paraquedas deslizar suavemente até que a cerca de 2 metros de altura cai desamparado no chão. Logo de imediato sente dores nas costas, além de um joelho dorido e de perda de visão no olho esquerdo, magoado durante a ejecção. Mas a velha cadeira Martin-Baker salvou-lhe a vida. Recupera da queda e ouve vozes dos guerrilheiros ou da população; discretamente desloca-se a custo para uma clareira, onde fica à espera de ser recolhido. [Fig. nº 7]




Fig. 7 - Capitão Alberto Cruz na Guiné.

Crédito fotográfico: Alberto Cruz 



O líder da parelha alerta Bissalanca e dois Fiat de prevenção acompanhados por dois helicópteros Alouette III armados com canhões de 20 mm partem imediatamente da base para fazer a recuperação. O primeiro G.91 chega rapidamente ao local, mas com receio de ser localizado pela guerrilha, o piloto não emite qualquer sinal luminoso. 

Passados 35 minutos, os Alouette III começam a sobrevoar a área e é nessa altura que o Capitão Cruz lança um flare que é visto por um dos helicópteros, sendo então recuperado. De regresso à base, é elaborado o relatório do que se passou em que o motivo do incidente é atribuído a “causas indeterminadas”. 


De facto, o Coronel Lemos Ferreira que estava no outro Fiat não viu qualquer míssil e o Capitão Cruz fica com a ideia de que pode ter sido o painel das metralhadoras do lado esquerdo que se abriu durante o voo, pois na inspecção que tinha feito antes de levantar voo tinha notado alguma folga neste painel. 

A suspeita do piloto leva a FAP a consultar o construtor do avião (a Dornier), que informa que “os painéis laterais de armamento já se abriram, em alguns casos, mas durante a fase de descolagem” existindo nesses casos “uma tendência de o avião enrolar para o lado oposto ao da abertura, tornando-se crítico o controlo direccional. A firma construtora especificou que no caso particular da perda do painel lateral de armamento em voo, o centro de gravidade deslocar-se-á significativamente para trás, desconhecendo-se qual a alteração da estabilidade da aeronave.”[41]

Entretanto, em Bissalanca, todos os Fiat são inspeccionados detectando-se fracturas nas longarinas da chapa pára-fogo das metralhadoras e também nos ailerons, o que obriga à respectiva reparação em todos os aviões. [42]


Os receios da época seca 

Com o início da época seca (Dezembro-Maio), as chefias militares na Guiné registam um crescendo progressivo da actividade da guerrilha, depois de alguns meses de baixa actividade (principalmente Outubro e Novembro de 73). Esperam obviamente por outro ataque de grande envergadura contra as guarnições de fronteira, sendo Bigene, Guidage, Copá, Canquelifá, Buruntuma e Gadamael, os alvos mais prováveis. Há também o receio de acções de fogo sobre núcleos populacionais importantes, como o caso de Bissau, Bafatá ou Farim. [43] 

Mas nada disso acontece. Durante toda a época seca, o PAIGC não volta a lançar ataques de grande envergadura como os de Guidage, Guileje ou Gadamael, no entanto, concentra a sua acção sobre Copá e Canquelifá na frente leste junto à fronteira com o Senegal e a Guiné-Conakry.[44] Em apoio a estas acções, os guerrilheiros continuam a usar mísseis, mas sem grandes resultados. Entre finais de Abril até Dezembro de 1973, são detectados 15 disparos contra os “Tigres”, mas sem consequências.[45]


Em busca de novos Fiat 


Em Dezembro de 1973, a Força Aérea recebe informações de que a Luftwaffe pretende desactivar durante o ano de 1974, 50 a 60 jactos Fiat G.91 R/3 com uma média de 1800 a 2000 horas de voo havendo interesse da parte portuguesa em comprar alguns destes caças para reforçar a frota da FAP.[46] 


O problema é que o Governo de Bona não pretende vender os aviões a qualquer país estrangeiro, com o receio que o destino final seja sempre Portugal. A venda de armas a Portugal é um tema politicamente sensível na Alemanha, desde que o G.91 do Tenente-Coronel Almeida Brito apareceu nos jornais alemães como sendo de origem germânica, o que gerou críticas contra o Governo. [47] 


Desta forma, torna-se impossível a compra dos aviões na Alemanha. O Chefe do Estado-Maior da Força Aérea (CEMFA), General Tello Polleri, ainda tenta explorar, junto de Espanha, a possibilidade destes aviões serem comprados pelas Construcciones Aeronáutica S.A (CASA), para depois serem vendidos a Portugal, mas sem sucesso.[48] 


Ao mesmo tempo, o Governo português tem em curso negociações para a compra de caças Mirage em França, mas o negócio esbarra na intransigência francesa de não permitir que os Mirage sejam usados na Guiné ou em Cabo Verde, uma exigência que dificulta um acordo entre Paris e Lisboa. [49]

A falta de novos Fiat preocupa a Força Aérea e a 3ª Repartição do EMFA produz, em Fevereiro de 1974, um estudo sintético sobre o problema em que considera que, face ao número de aviões existentes (31 unidades) e tendo em conta a depreciação da frota por acidentes e acção do inimigo, a FAP precisa de mais 25 aviões e 28 motores que deviam ser adquiridos nos dois anos seguintes. 


Na altura, a ZACVG dispunha de 11 caças, a 3ª Região Aérea em Moçambique de 16 e a BA5 de 4, embora estivesse previsto o reforço da 3ª RA com mais 4 jactos, ficando Monte Real sem qualquer avião para treino operacional.[50]


A fuga espectacular de Castro Gil 

Com o início de 1974, a guerrilha começa a tentar penetrar na zona nordeste da Guiné aumentando a pressão sobre Copá com bombardeamentos de artilharia. A resposta portuguesa passa pela utilização do C-47, em bombardeamentos nocturnos e do Fiat G.91, durante o dia. 

Na tarde de 31 de Janeiro de 1974, acontece um desses ataques e a BA12 recebe um pedido de apoio de fogo do quartel de Canquelifá, na fronteira norte com o Senegal. Em resposta, dois G.91 descolam de Bissalanca rumo à zona flagelada. Assim que os aviões começam a sobrevoar a área de Canquelifá, os guerrilheiros suspendem o ataque e os pilotos pedem aos militares do Exército, as referências necessárias para bombardear as posições da artilharia. 


O primeiro Fiat, pilotado pelo Tenente-Coronel Jesus Vasquez, efectua o seu bombardeamento sem qualquer reacção antiaérea, mas quando o segundo Fiat, pilotado pelo Tenente Castro Gil, executa a mesma acção é atingido por um míssil quando recupera do passe e despenha-se perto do território do Senegal. Castro Gil ejecta-se e aterra perto das linhas inimigas. A proximidade da noite não permite que seja desencadeada uma operação de regaste e o líder da parelha, após ter informado a base, regressa à BA12, que, entretanto, coloca em marcha os planos para o inevitável resgate. 


Para a operação, são mobilizados os comandos africanos de Marcelino da Mata e dois pelotões de pára-quedistas, que iriam descolar logo de manhã cedo para Nova Lamego, de onde iriam de helicóptero para a zona onde o piloto português caíra. Um C-47 fora também colocado no ar, sobrevoando a zona de Canquelifá para que Castro Gil percebesse que a Força Aérea o iria resgatar assim que possível. 


O piloto, depois de chegar ao solo e vendo-se numa zona queimada pelos bombardeamentos da guerrilha decide afastar-se para norte, para o lado do Senegal, de forma a despistar a guerrilha. Munido de uma bússola, esgueirou-se pela cinza de forma a não deixar grande rasto e caminhou o mais que pôde para não ser encontrado pelos guerrilheiros. Já depois do raiar do dia, mudou de direcção para sul, em busca da estrada alcatroada de Buruntuma-Piche-Nova Lamego. O plano de Castro Gil era chegar ao quartel de Piche.

O raiar do dia trouxe também o início das operações do Exército português. Os homens de Marcelino da Mata foram colocados no terreno e encontraram o que restava do pára-quedas e do assento ejectável, mas sem sinal do piloto. 

Entretanto, um pequeno DO-27 de reconhecimento foi colocado no ar também para procurar o piloto que,  ao ver o avião, lançou um very-light, mas desesperado, apercebeu-se que a tripulação não o vira, e o monomotor a hélice afastou-se do local onde estava. Foi um rude golpe, sobretudo tendo em conta que já se afligia com sede e calor. Mesmo assim, não desistiu e resolveu prosseguir com o seu próprio plano. 





Fig. 8 – Regresso do Tenente Castro Gil a Bissalanca. Crédito fotográfico: Grupo Operacional 1201. 



Ao fim de muitas horas, acabou por encontrar uma tabanca. Escondido entre a vegetação, estudou os habitantes para se certificar de que eram de confiança. Ao fim de uma hora, decidiu arriscar, indo ter com uma mulher para lhe pedir água. Estava agora rodeado pela população, que se revelou amigável e pediu a um habitante local para ser levado para o quartel de Piche. O homem surgiu com uma bicicleta de assento atrás e mandou Castro Gil instalar-se e arrancou a pedalar em direcção ao sul. 

No caminho, ainda passou por dois homens armados, caminhando em sentido inverso, que o condutor da bicicleta cumprimentou sem levantar qualquer suspeita. No espírito de Castro Gil ficou a dúvida se os homens seriam milícias de um destacamento existente entre Piche e Canquelifá (Dunane) ou dois guerrilheiros que teriam andado à sua procura e regressavam ao seu acampamento.

Enquanto isto se dava, a equipa de resgaste prosseguia a sua missão durante o dia, na zona de Canquelifá, mas sem encontrar vestígios do piloto.

Só ao final do dia é que receberam uma comunicação de Piche que dizia, em termos muito simples, que o piloto tinha chegado ao quartel, de bicicleta! [51]


Sistemas antimísseis 

Na altura em que Castro Gil foi abatido existiam já contactos para adquirir, em França, uma tinta de baixa reflexão de tonalidade verde escura para evitar o míssil. O primeiro Fiat a ganhar esta nova pintura foi o 5401, que estava em Monte Real na BA5, sendo transferido para a Guiné em Março de 1974. [52] [Fig. nº 9]

A Força Aérea procura também equipar os Fiat com um sistema antimíssil do tipo flare a comprar nos EUA e o ministro da Defesa, Silva Cunha, autoriza, em Fevereiro de 1974, a compra de dispersores de flares para instalar no G-91.[53] O modelo escolhido é o TRACOR TBC-72 de fabrico americano semelhante ao AN/ALE-40 da mesma empresa. A ideia era instalar 4 dispersores por avião junto ao bordo de fuga dos suportes internos. Os TBC-72 permitem a utilização, não só de artifícios iluminantes, como também de “chaff” (limalha de perturbação de radar).

Em Abril, são feitas diligências junto da embaixada portuguesa em Washington para saber da possibilidade da venda de tal equipamento pelos americanos, mas com o 25 de Abril e o fim do regime, a compra perde sentido.[54]


O fim da guerra 


A actividade operacional dos “Tigres” em 1974 vai decrescendo nos primeiros meses do ano até à revolução de Abril. Mesmo assim, a média mensal é de 140 horas/voo, ou seja, superior aos 10 meses anteriores (130 horas/voo).[55] De Janeiro a Abril de 1974, são detectados disparos de 11 mísseis contra os Fiat, mas com excepção do abate de Castro Gil, nenhum Strela atinge os jactos. [56]

Apesar do 25 de Abril e da mudança do regime em Lisboa, a guerra não acaba de imediato e os Fiat continuam a voar nos céus da Guiné. Bettencourt Rodrigues é demitido das suas funções e chamado a Lisboa, sendo substituído pelo Tenente-Coronel Mateus da Silva e depois pelo Tenente-Coronel graduado em Brigadeiro, Carlos Fabião, que toma posse em Bissau, a 8 de Maio.[57] Na Força Aérea, o Tenente-Coronel Vasquez continua no comando do GO1201, não havendo qualquer mudança.

No início de Maio, os G.91 ainda efectuam algumas missões de ataque e uma de apoio próximo em Mamboncó,[58] mas com o cessar-fogo acordado em Dacar em meados de Maio, as operações ofensivas cessam na Guiné.[59] Os “Tigres” ficam limitados a missões de vigilância até à independência da Guiné. Terminava assim a vida operacional do Fiat neste território africano.

José Matos

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O autor agradece ao Arquivo da Defesa Nacional, ao Arquivo Histórico-Militar e à Torre do Tombo, as facilidades concedidas para esta investigação. Ao TGen Fernando de Jesus Vasquez, ao TGen António Martins de Matos e ao Maj Alberto Cruz a leitura e informações prestadas. 
 

[Revisão / fixação de texto para efeitos de publicação neste blogue: LG]
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Referências:


[33] Informação prestada ao autor pelo General Fernando de Jesus Vasquez.

[34] Informação prestada ao autor pelo General Fernando de Jesus Vasquez.

[35] Análise dos Sitreps Circunstanciados n.º 40/73 e 46/73 a 52/73 do COMZAVERDEGUINÉ, Bissau, ADN/F2/16/87

[36] SITREPS do COMZAVERDEGUINÉ, ADN/F2/16/87 e 88.

[37] SITREPS nº 36-39/73 do COMZAVERDEGUINÉ, Bissau, ADN/F2/16/88.

[38] Hernández, op. cit., p. 237.

[39] Informação n.º 166 da 3ª Repartição do Estado-Maior da Força Aérea, Assunto: Acidentes com as aeronaves Fiat n.º 5416 em 1 Set. 73 e 5409 em 4 Out. 73, 22 de Abril de 1974, Serviço de Documentação da Força Aérea/Arquivo Histórico (SDFA/AH).

[40] Informação nº 287 da 3ª Repartição do Estado-Maior da Força Aérea, Assunto: Aviões Fiat G-91 da ZACVG, 10 de Setembro de 1973, SDFA/AH-SEA/Guiné 1964-1974/Fiat Processo 430.121.

[41] Informação nº 166, ibidem.

[42] Informação prestada ao autor pelo Capitão Alberto Cruz e pelo General Lemos Ferreira e Informação n.º 166, ibidem.

[43] Relatório da situação militar no TO Guiné, período de Outubro 73 a Janeiro de 74, Conselho Superior de Defesa, ADN F3/15/32/41.

[44] Idem, ibidem.

[45] Correia, José Manuel, Strela: A Ameaça ao Domínio dos céus no Ultramar Português, 2ª parte, Mais Alto n.º 393 Setembro/Outubro 2011, p. 28.

[46] Memorando do Estado-Maior da Força Aérea, 25 de Janeiro de 1974, SDFA/AH, 3ª Divisão/EMFA 71/74, Processo 400.121.

[47] Carta de Alberto Maria Bravo & Filhos, Assunto: Aviões G-91, 4 de Dezembro de 1973, Arquivo Histórico Diplomático (AHD) PEA 655.

[48] Carta do Secretário de Estado da Aeronáutica para o General Enrique Jimenez Benamu, 25 de Fevereiro de 1974, AHD PEA 655.

[49] Matos, José, A história secreta dos Mirage Portugueses, 2ª parte, Revista Mais Alto nº 401, Jan/Fev. 2013, pp. 25-29.

[50] Informação nº 44/A da 3ª Repartição do Estado-Maior da Força Aérea, Assunto: Recompletamento da Frota de Aviões Fiat G-91, 2 de Fevereiro de 1974, SDFA/AH-SEA/Guiné 1964-1974/Fiat Processo 430.121.

[51] Informação prestada ao autor pelo General Jesus Vasquez.

[52] Correia, op. cit., p. 31.

[53] Informação n.º 355 da Secretaria de Estado da Aeronáutica, Assunto: Equipamento antimíssil Strela (TRACOR), 18 de Abril de 1974, ADN/F3/7/13/5.

[54] Nota secreta do Director Geral do MNE para o Embaixador de Portugal em Washington, Assunto: Aquisição de equipamento antimíssil Strela, 22 de Abril de 1974, ADN /F3/7/13/5.

[55] Análise dos Sitreps Circunstanciados n.º 1/74 a 17/74 do COMZAVERDEGUINÉ, Bissau, ADN/F2/16/89 e AHM/DIV/2/4/295/3.

[56] Correia, op. cit., p. 28.

[57] Silva, António Duarte, A Independência da Guiné-Bissau e a Descolonização Portuguesa, Edições Afrontamento, Lisboa, 1997, pp. 179-180.

[58] SITREPS Circunstanciados n.º 18 e 19/74 do COMZAVERDEGUINÉ, AHM/DIV/2/4/295/3.

[59] Silva, op. cit., pp. 227-228.

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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de maio de  2020 > Guiné 61/74 - P20963: FAP (115): O último ano do Fiat G-91 - Parte I (José Matos)

sábado, 28 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20785: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (4): "Snaps", salmão fresco curado, filetes de arenque do Báltico recheados com salmão fumado... (José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia, o único luso-lapão que sobrevive nestas paragens. Se houver outro, dão-se alvíssaras!)


Ingenuidades do único luso-lapão que existe no mundo: "Com tantos senhoritos a falarem desde Bruxelas, com displicências e arrogâncias várias, sobre os países da Europa do Sul, somos obrigados a verificar que vistos desde este extremo do extremo norte europeu,tanto a Alemanha,como a Holanda,e ainda mais a Áustria,säo países lá bem do...Sul!"

(José Belo, 28 de março de 2020,  13h53)



Snaps ("shots")


Salmão ("gravadlax"),  fresco,  curado


Filetes de arenque do Báltico ("strömming"), recheados com salmäo fumado

Fotos (e legendas): © José Belo (2020) . Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Joseph Belo, régulo da Tabanca da Lapónia,  também "aquarentenado" nas proximidades do "Círculo Polar Ártico", no extremo extremo norte da  nossa velha Europa:


Data: 28 mar 2020 10:41

Assunto. Inveja de Lusitano

Caro Luís

Depois das favas suadas (*), aparecem hoje no blogue as sardinhas de Peniche! (**)

Para não referir as fotografias do cozido à portuguesa da Tabanca do Centro..

Sinto-me quase obrigado (!) a enviar desde aqui para todos os Amigos e Camaradas isolados pelo vírus algumas das nossas especialidades locais.

Porque, em verdade, na Lapónia Sueca não há só renas e vodka multidestilada a mais de 90% !

Seguem noutros e-mails algumas fotos legendadas [com petiscos para a semana toda!]

Um abraço,

PS - Hoje a ementa é: Salmão fresco curado, e filetes de arenque do Báltico recheados com salmäo fumado


2. Resposta de LG:

Zé, no céu não disto!... (Diz o meu velhote com quem vou trocando umas conversas meta-físicas...).

Pelas fotos que já me mandaste hoje em meia dúzia de mails, isto parece a festa da Babete!... (Vi o filme, baseado num conto da tua vizinha Karen Blixen)... Se aspeto é bom, o sabor ainda deve ser melhor, se bem que eu seja mais peixeiro do que carneiro... Se não te importas, segue para a nossa série "Comes & Bebes"... Temos que manter o "moral da tropa"... Os pratos do Chef Lusitano vão fazer furor!...

Por cá, a pandemia de (e o combate à) Covid-19 (a doença, que o vírus esse é o SARS-CoV-2) continua... com números que estão a crescer a uma média de 20% e tal por cento ao dia... Esperemos que as medidas decretadas pelo Governo (, estamos me confinamento desde 19 de março, mas as escolas já tinham fechado...). O problema mais grave é o Norte (que tem mais do dobro dos casos da região de Lisboa)... Acabamos chegar hoje aos 100 mortos ...e ultrapassar os 5 mil casos de infectados..  

O pico da pandemia deve ser lá para princípios ou meados de maio... Estamos há duas semanas, rigorosamente trancados em casa... E tu, estás mesmo lá para Abisco ou coisa parecida, que a Tabanca da Lapónia não vem no mapa do Google?!... Sei que te cuidas... Ou melhor:  não tens ninguém que te infecte ou que tu possas infectar com o corno do vírus... É verdade?...

Mantenhas.

PS - A COVID-19 não passará!... (Mas está a causar muito sofrimento e mortes na nossa "aldeia global"...). Viva a Itália, viva Espanha, viva Portugal,  vida a Suécia..., viva a nossa velha Europa doente!... Física, moral e politicamente doente!
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