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terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 – P5563: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (32): O regresso (Mário G R Pinto)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a sua 32ª mensegem, em 29 de Dezembro de 2009:

Camaradas,

Resolvi retirar do baú das minhas memórias da guerra a estória do regresso à Metrópole da minha CArt 2519.

Regressamos no paquete Uíge, numa autêntica viagem de cruzeiro com paragem na bonita ilha da Madeira.

O REGRESSO

Às primeiras horas da manhã do dia 07MAR191971, atracou em Bissau a LDG proveniente de Buba, que trazia a bordo os últimos elementos da CArt 2519, com destino a Brá, para se juntar aos restantes camaradas que já há algum tempo, na cidade, gozavam finalmente a paz e as férias merecidas.

Digo férias e digo bem, porque a maior parte dos nossos camaradas tinham passado 22 meses e meio no mato, plenos de privações de todo o tipo, sem qualquer conforto, que, de alguma forma, Bissau sempre nos punha à disposição.

Em Brá aquartelados, esperamos ansiosamente o embarque marcado para 11MAR1971, o que não veio acontecer, pois o mesmo foi adiado para 6 dias depois (17).

O pessoal da Companhia todo reunido em Bissau, originou naturais momentos de euforia e de exageros, nomeadamente os inevitáveis festejos dos meus camaradas, que vieram colocar um grave problema ao Comandante (Capitão Barrelas), já que os nossos soldados tinham-se esquecido de alguns artigos do RDM, coisa que, em Bissau, era fatal à nossa malta, confrontados com a grande quantidade de oficiais e sargentos do QP, que estavam colocados na cidade e nela circulavam, por todos os cantos.

O tempo passado no mato (Vietname) e a falta de algumas normas a que se tinham vindo a desacostumar, não se compatibilizava com o rigor e disciplina que, como é sabido, se impunham aos militares que gravitavam nos quartéis da cidade, chocando, como é óbvio, com as rotinas e condutas habituais em Bissau.

Assim, surgiram alguns problemas com a PM, que a custo fomos resolvendo (diga-se de passagem com alguma cumplicidade dos mesmos) e, após um jantar de despedida da Companhia no "Solar dos 10", lá embarcámos de madrugada no dia 17 no paquete Uíge, rumo à tão ansiada Metrópole.

A vida a bordo apesar da ansiedade da chegada correu bem, com o pessoal todo animado esperando ver Lisboa a surgir no horizonte marítimo. A certo momento fomos informados que íamos fazer escala na Madeira, onde ficaríamos cerca de 6 horas para permitir o desembarque de uma Companhia de pessoal Madeirense.

Contamos os últimos pesos, ainda em nosso poder, para trocá-los por escudos ainda a bordo do navio.

Sim, porque como vocês se lembram toda gente fazia negócio com a malta, no câmbio da moeda. Na ida trocavam-nos os escudos por pesos, davam-se mil escudos e recebiam-se, em troca, mil pesos e, no regresso, davam-se mil pesos e, em troca, recebiam-se oitocentos escudos.

Como também nunca percebi como certos civis subiam a bordo à chegada a Bissau, para cambiar o dinheiro do pessoal?

Depois de vadiar umas horas na Madeira, lá retomámos a viagem fazendo a última refeição a bordo, já que no dia seguinte chegaríamos a Lisboa.

Pela manhã, bem cedo, avistamos terra e já ninguém segurava os homens. Até entrarmos na foz do Tejo e alcançarmos o cais de Alcântara foi uma alegria geral. A euforia era contagiante apoderando-se de todos nós, gritava-se, cantava-se e alguns até choravam. Cada um manifestava, a seu modo, a sua alegria de chegar são e salvo a Lisboa.

O cais que nos viu partir acabava de nos ver chegar, cheio com os nossos familiares e amigos, que também esperavam ansiosamente para nos abraçar.

Finalmente foi dada ordem de desembarque. Uma a uma as Companhias foram abandonando o paquete, descendo a escada que nos ligava a terra. Com os olhos ansiosos lá íamos procurando avidamente os nossos familiares, no meio da multidão que nos rodeava.

Foi a confusão geral naquele cais, correrias num vaivém frenético, procurando pais, tios, primos, namoradas, esposas e filhos… parecia que todo o mundo se tinha reunido naquele local, para nos abraçar. É impossível descrever o que ia na alma de cada um, mas tenho a certeza que era uma alegria imensa, aliada ao sentido de termos cumprido o dever a que tinhamos sido chamados, e a partida para um novo retomar da vida.

Seguiram-se as honras militares e o embarque, em viaturas, para Évora - RAL 3, Unidade Mobilizadora, onde no mesmo dia fomos desmobilizados, rumando cada um para o seu destino.

Assim se dispersou a CART 2519 em termos militares.

Por louvável iniciativa de alguns camaradas, foi feito o toque a reunir e todos os anos nos encontramos, para um salutar almoço de convívio, juntamente com os nossos queridos familiares.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art

Fotos: © Mário Pinto (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

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domingo, 27 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 – P5547: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (32): COMOP. BCaç 2892 - 1º Trimestre 1971 (Mário G R Pinto)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a sua 32ª mensagem, em 26 de Dezembro de 2009:

Camaradas,

Nos postes P5452 e P5530 apresentei-vos uma descrição pormenorizada das actividades da minha CArt 2519, no Sector de Buba-Aldeia Formosa, nos 1º e 2º Semestres de 1970.

Continuo agora com as actividades no ano de 1971, período este em que as unidades do Sector tanto se empenharam e sacrificaram nas ZAs a seu cargo, já numa fase em que começavam mais em sobreviver, com o pensamento no seu regresso a casa e na sua substituição por outras unidades, do que propriamente em combater o IN.

Buba - Nhala - Mampatá - Aldeia Formosa
COMOP. BCaç 2892
1.º TRIMESTRE

JANEIRO de 1971

Sentia-se um forte crescimento da actividade IN, nas Zonas junto à fronteira, a Oeste de ALdeia Formosa, tentando o PAIGC fixar-se no terreno com vários Grupos armados, movimentando-se ao longo da linha fronteiriça, com a Guiné-Conakri, derivando de Oeste para Leste do nosso território.

As NT, nesta ZA a cargo da CArt 2521 e CCaç 2614 (que nesta altura tinha trocado com a CCaç 2615), empenhavam-se em patrulhamentos, emboscadas e colocação de minas nos itinerários de infiltração, procurando detectar sinais do IN, e impedir as suas acções na área.

O PAIGC, conhecedor do terreno e das nossas movimentações, conseguia contornar todas as nossas actividades, refugiando-se na fronteira quando pressentia a presença das NT, o que tornava infrutíferas todas as nossas iniciativas, caindo apenas nas nossas armadilhas implantadas no terreno, para o efeito.

Neste período registaram-se as seguintes acções do inimigo, sobre a Zona de Aldeia Formosa:

10-01-1971, registou-se um ataque ao aquartelamento com vários foguetões de 122 mm, accionados do outro lado da fronteira.

14-01-1971, novos ataques (duas vezes), ás 01h00 e 02h00, ambos com morteiros de 82 mm e RPG7, provenientes de Bungofé.

Neste dia, mais tarde, quando procedíamos ao reconhecimento do ataque na Zona de Bongofé, um Grupo de Combate da CCaç 2614, detectou-se a movimentação do IN, nesta área, em direcção a Sare Amadi. O GC progrediu no terreno em sua direcção e encontrou os seus abrigos, abertos ao longo da estrada de Contabane, perto de Sara Amadi, pelo que, se emboscou no local preparando-se para o combater, o que não chegou a acontecer. Recebeu ordens de regresso Aldeia Formosa, tendo, antes disso, armadilhado toda a área.

19-01-1971, uma viatura, na picada Aldeia Formosa - Paté Embaló, quando se deslocava para esta Tabanca accionou uma mina A/C, que destruiu a mesma, mas não causou qualquer ferido à NT.

23-01-1971, o IN atacou mais uma vez e com grande intensidade de fogo, Aldeia Formosa, utilizando foguetões de 122 mm e morteiros de 82 mm, sendo localizada a base dos disparos entre Chincambiló e o Rio Cancurã.

Registou-se a chegada a Aldeia Formosa da CCaç 18, composta por etnia Africana, para rendição da CArt 2521.

Neste mês, as ZA da Companhia CArt 2519 (Mampatá) e da CCaç 2615 (agora em Nhala), continuavam em contra-penetração, tentando deter o inimigo na sua infiltração para o Sector de Xitole.

A boa articulação destas Companhias no corredor de Missirá, a Norte e a Sul de Uane, e a sua constante permanência na ZA, e a implementação de um verdadeiro labirinto de armadilhas, veio a ter consequências na estratégia do PAIGC, que, neste período, tentava abrir um corredor de abastecimentos noutro Sector, nomeadamente a Oeste de Aldeia Formosa, entre Contabane, passando ao lado do Saltinho, em direcção ao interior.

26-01-1971, uma coluna de abastecimento inimiga, escoltada por elementos armados tentou passar através do corredor de Missirá. Foi detectada pelas NT, pelo que recuou para Sul, vindo a accionar duas minas A/P referenciadas em (Xitole, 4E8-98) e (Xitole, 4D9-98), sendo de salientar que estas minas estavam reforçadas com outros explosivos, o que deve ter provocado graves baixas entre as hostes inimigas.

27-01-1971, um Grupo armado do PAIGC, estimado em 30 elementos, tentou atacar Mampatá, vindo pelo trilho de Colibuia, sendo detectado pelas NT, quando preparava o ataque. O Grupo debandou para Sul, perseguido pela nossa tropa, vindo a cair nas nossas armadilhas implantadas a Sul de Colibuia.

Em BUBA, a CCaç 2616 continuava a fazer patrulhamentos e emboscadas na sua ZA, sem encontrar rasto do IN.

FEVEREIRO de 1971

O PAIGC continuava a implementar forças a Oeste de Ald. Formosa, tentando abrir um corredor de abastecimento para o interior, através das áreas desocupadas junto à fronteira na Zona de Contabane, atravessando o rio Corubal junto aos rápidos de Surire e flectindo em direcção a Ura Missirá.

As forças sediadas em Aldeia Formosa, redobraram os seus esforços para suster a infiltração do IN, emboscando, patrulhando e minando todos os novos trilhos abertos pelo inimigo.

02-02-1971, um Grupo armado do PAIGC, com base em Bongofé, atacou as forças da CArt 2521 e da CCaç 18, na zona de Sare Amadi e Jai Juli, com bastante intensidade, quando estas progrediam em direcção a Contabane. As NT reagiram ao fogo do IN, durante largo período de tempo e pediram o apoio do heli-canhão para desalojar o Grupo IN da sua posição, o que veio acontecer mais tarde, tendo os mesmos retirado para fora da nossa ZA. Nesta acção não se registou qualquer baixa nas NT.

11-02-1971, chegou a Mampatá a CCaç 3326, em rendição da CArt 2519, aproveitando o mesmo transporte que trouxe a CCaç 3326, para o regresso, até Bissau, de 2 Grupos de Combate da CArt 2519 e algum pessoal de apoio logístico da mesma Companhia.

20-02-1971, o PAIGC atacou Aldeia Formosa com basto poder de fogo, usando foguetões de 122 mm, dois dos quais caíram dentro da Tabanca, provocando 5 feridos entre a população civil.

20-02-1971, pelas 14h30, as forças da CArt 2519 e da CCaç 3326, emboscaram um Grupo armado do IN, a Sul de Colibuia, fora do "corredor", no momento em que mostrava a ZA à nova Companhia. O inimigo sofreu nesta acção 5 mortos confirmados no terreno e foi capturado diverso material ligeiro de guerra. As NT, tiveram 2 feridos ligeiros (1 milícia e um soldado da CCAÇ.3326).

25-02-1971, a CArt 2521 entregou oficialmente a sua ZA ao cuidado da CCaç 18.

28-02-1971, na coluna de reabastecimento de Aldeia Formosa - Buba, foi integrado o resto da CArt 2521, preparando-se o seu regresso à Metrópole e dando por terminada a sua missão em terras do Quebo.

A Sul, sobre o corredor de Missirã, a actividade do PAIGC era nesta altura nula, não se vislumbrando sinais de qualquer actividade hostil, o que, de algum modo, aliviou a tensão psicológica instalada no seio das NT em fim de comissão, nomeadamente na CArt 2519.

A CCaç 2615, continuava a fazer patrulhamentos e emboscadas a Norte de Uane, sobre o corredor de Missirá e a segurar o itinerário da estrada Buba-Aldeia Formosa.

MARÇO de 1971

03-03-1971, a CArt 2519 passa oficialmente a sua ZA para a CCaç.3326.

05-03-1971, dá-se definitivamente o regresso dos restantes elementos da CArt 2519, numa coluna de abastecimento a Buba, embarcando no dia seguinte a bordo de uma LDG, com destino a Bissau.

NOTA: Assim termino a narração deste período em terras do Quebo, deixando para os nossos sucessores, naquelas paragens, a narração das actividades e das estórias dos tempos seguintes (desde 06.03.1971 até à entrega do território em 1974).

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art

Fotos: © Mário Pinto (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

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quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 – P5530: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (31): Sector de Buba-Aldeia Formosa - 2º Semestre 1970 (Mário G R Pinto)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a sua 31ª estória, em 22 de Dezembro de 2009:

Camaradas,

Acabo de concluir a resenha sobre as actividades do 2.º Semestre de 1970, no Sector de Buba-Aldeia Formosa, recorrendo a dados e factos que ainda retenho na minha memória, algumas notas escritas na altura e com a preciosa colaboração de vários Camaradas nossos, que viveram, nesse período, no mencionado Sector:

SECTOR DE BUBA-ALDEIA FORMOSA
2.º Semestre de 1970
JULHO de 1970

As actividades das NT, continuavam na tentativa de interceptar o IN no corredor de Missirá, tendo, para isso, empenhado todas as forças do Sector: CART 2519, CART 2521, CCAÇ 2615 e CCAÇ 2614.

O PAIGC, viu-se na necessidade de abrir novos trilhos, na sua acção de infiltração, para Norte e, por isso, derivou para Oeste de Missirá, na tentativa de fugir ao esquema de contra-penetração montado pelas NT.

Numa das acções de patrulhamento da CART 2521, a Norte de Uane, foi encontrada pela primeira vez propaganda (panfletos) da F.L.I.N.G. (Frente de Libertação Independente Nacional da Guiné), apelando às populações à não colaboração com as NT.

A CCAÇ 2615 continuava a patrulhar e a emboscar à distância de Aldeia Formosa em Jai Juli/Chicambiló, tendo encontrado e levantado minas em Jael. Foram encontrados nesta ZA, novos trilhos utilizados pelo inimigo, nas suas deslocações para o interior.

No dia 30-07-1970, pelas 18h00 horas, forças da CART 2519 quando patrulhavam um trilho novo do IN, no sentido S-N de Iero Saldé-Uane, estabeleceram contacto com um Grupo IN armado, estimado em 20 elementos, no ponto XITOLE 4 B8/55.

Do confronto, resultou que o PAIGC sofreu dois mortos confirmados e vários feridos não contabilizados, tendo sido capturadas uma pistola "CESKA" e uma granada de mão defensiva. O IN debandou para Sul e as NT não sofreram qualquer baixa.

Neste período não foram registados ataques aos aquartelamentos do Sector.

AGOSTO de 1970

Registam-se algumas alterações no terreno devido à época das chuvas. O IN intensificou as suas acções de emboscadas, flagelações e colocação de minas, na estrada Buba-Aldeia Formosa, começando a criar dificuldades às nossas colunas de abastecimento.

Foram referenciados vários elementos do inimigo, na ZA da CCAÇ 2615, perto de Contabane em direcção a Bongofé, tendo as NT reforçado as suas acções nessa área.

A CART 2521 e CCAÇ 2614, continuaram empenhadas no reforço de contra-penetração sobre as forças do IN, para o interior, emboscando e patrulhando permanentemente a Norte de Uane, sobre o corredor de Missirá.Nesta acção foi verificado o rebentamento pelo IN de uma mina A/P, colocada pelas NT, sobre um novo trilho no ponto Xitole 4,D9/88.

Foi avistado um Grupo de 5 elementos do IN armados, a Norte de Uane, pelas forças da CART 2521, quando patrulhavam a sua ZA. O IN ao avistar a nossa força abriu fogo e fugiu para Sul perseguido pelas NT.

O IN continuou bastante activo flagelando os aquartelamentos de Mampatá, Nhala, Aldeia Formosa e Buba.

No dia 17AGO1970 atacou Mampatá, com uma força estimada em cerca de 100 elementos, durante 20 minutos, empregando armas ligeiras e pesadas, chegando perto do arame farpado e tentando mesmo penetrar na Tabanca. A forte reacção das NT no terreno, impediu os seus intentos, tendo contribuído para isso o dispositivo de defesa da Tabanca, implantado pela CART 2519.

Como consequência deste ataque, as NT sofreram 9 feridos (três deles graves) e entre a população verificaram-se 5 feridos (todos ligeiramente).

O inimigo fugiu para Sul após o ataque, sendo perseguido pelas NT vindo a ser interceptado perto do Rio Bunissã, por um Grupo de Combate da CART 2519, que tinha colocada em contra-penetração, causando várias baixas ao IN (5 mortos confirmados) e alguns feridos não contabilizados.

Nesta acção foram capturados ao IN, um RPG 2, 4 granadas e vários carregadores de munições.

SETEMBRO de 1970

Depois da actividade que o PAIGC desenvolveu no mês anterior, notou-se um afrouxamento da sua actividade no Sector. Apesar disso, continuaram os esforços das NT nas suas ZA, para cumprirem o estipulado no Plano Operacional "Galgos Ligeiros", do BCAÇ 2892, em especial nas missões de contra-penetração.

O Grupo Especial de Bazucas que no mês anterior atacou os nossos destacamentos, e foi procurado persistentemente pelas NT implantadas no terreno, não voltou a revelar-se, nem se veio a registar mais vestígios da sua presença, o que permitiu concluir que, o mesmo, já havia abandonado a Zona.

Foi accionada a "Operação Viragem", com todas as Companhias instaladas no Sector a ficarem sob o comando do BCAÇ 2892, a receberem ordens para lançarem nas suas ZAs, panfletos destinados à acção psicológica sobre o IN, no corredor de Missirá, entre Uane e Sara Dibane.

A oeste de Aldeia Formosa, as NT continuam a emboscar e a patrulhar junto á fronteira, não encontrando rasto do IN, vendo e falando apenas com os Gilas e tentando, através deles, obter algumas informações.

Na Zona de BUBA a calma era evidente, apesar dos constantes patrulhamentos da NT sobre a sua ZA, não tendo encontrado rastos do inimigo.

Neste período procedeu-se á vacinação da população do Sector, contra a doença da cólera, integrado no programa "A SAÚDE PARA O POVO DA GUINÉ".

OUTUBRO de 1970

A época das chuvas estava a terminar e, apesar das bolanhas que a estrada Buba-Aldeia Formosa atravessava ainda apresentarem um difícil acesso, recomeçaram as Colunas de reabastecimento das NT, estacionadas no Sector, terminando assim o período de isolamento a que sempre ficavam sujeitas, nesta altura do ano.

O inimigo começou a fazer sentir as suas infiltrações no Sector, sendo detectada a sua presença ao longo do corredor de Missirá e a Oeste de Aldeia Formosa, junto a Chicambioló e perto do rio Balana, onde foram ouvidos rebentamentos dos seus morteiros a bater a nossa Zona.

A 12 e 13 deste mês, realizou-se a Operação "Novo Rumo", já descrita no blogue, no poste P4798, tendo as NT instaladas no Sector, realizado reconhecimentos a Sul e a Norte do corredor de Missirá.

Em 15OUT1970, a CCAÇ 2614, estacionada em Nhala, teve um contacto directo com um Grupo armado do IN, a Norte de Uane, tendo o PAIGC sofrido diversos feridos (não confirmados) e retirado em direcção ao Corubal, perseguido pelas NT.

Neste período não se registaram ataques aos aquartelamentos do Sector, resumindo-se as acções armadas a áreas fora do arame farpado.

Em Outubro, conforme o plano de acção delineado pelo Comando de Aldeia Formosa, foi reiniciado o auxilio às populações; assistência sanitária, económica e educativa.

NOVEMBRO de 1970

O PAIGC intensificou a sua acção no Sector, implantando minas e emboscando as NT, nos habituais itinerários de patrulhamento e na estrada Buba - Aldeia Formosa, quando das colunas de abastecimento, o que levou as nossas tropas aquarteladas no Sector a redobrar as suas actividades defensivas e ofensivas.

O Comando do BCAÇ 2892, face ao crescimento da hostilidade inimiga alterou o Plano Operacional “Galgos Ligeiros”, instalando a CART 2521 na Chamarra, com a seguinte missão:
  • 1) Assegurar em permanência a defesa do aquartelamento.
  • 2) Assegurar o controlo da Zona de Ganiã e de Jael com:
  • a) Patrulhamentos diurnos;
  • b) Emboscadas diurnas e nocturnas;
  • c) Implantar minas e armadilhas nos vários trilhos utilizados pelo IN;
  • d) Assegurar com um Grupo de Combate diário, permanente em Aldeia Formosa a segurança da mesma.
A CCAÇ 2615, reforçou com um Grupo de Combate o aquartelamento de Nhala e, conjuntamente com a CCAÇ. 2614, efectuou as seguintes missões:

  • 1) Assegurar a defesa do aquartelamento.2) Assegurar o controlo da sua ZA a Norte de UANE, através de:
  • a) Patrulhamentos diurnos;
  • b) Emboscadas diurnas e nocturnas;
  • c) Implantar minas e armadilhas nos vários trilhos utilizados do IN.
  • 2) Assegurar a segurança da estrada Buba-Aldeia Formosa, entre Nhala e Uane.

A CART 2519, continuou garantir a Sul de Uane a contra-penetração, derivando para Sari Dibane e Iero Saldé, tentando deter o IN proveniente de Quinara e Injassane, com destino a Unal através do corredor de Missirá.

A CCAÇ 2616 continuou em Buba assegurando a defesa do aquartelamento e a segurança da estrada Buba-Aldeia Formosa, entre Buba e Nhala, através de.
  • 1) Patrulhamentos diários da sua ZA.
  • 2) Execução de emboscadas, dia e noite, na sua ZA.3) Implantação de minas em novos trilhos do IN.

A segurança do Rio Grande de Buba e das suas margens, ficaram a cargo do destacamento de Fuzileiros estacionados em Buba.

Em 09NOV1970, as NT, nomeadamente a CCAÇ 2614 (a Norte), e a CART 2519 (a Sul), numa acção conjunta no corredor de Missirá, interceptaram um Grupo numeroso do PAIGC, que depois de accionarem uma mina A/P em Xitole 4,09-87 e perante a abertura de fogo das NT fugiram para Sul.

Perseguidos pelas forças das nossas referidas Companhias, sofrerem várias baixas confirmadas pelos inúmeros rastos de sangue espalhados no terreno e pelo diverso material que abandonaram no solo.

Neste período não foram efectuados ataques nem flagelações aos nossos aquartelamentos de Sector.

Registe-se também neste mês a construção do Heliporto, no aquartelamento de Mampatá.

DEZEMBRO de 1970

Notou-se alguma movimentação do inimigo na Zona Oeste de Aldeia Formosa, tendo o mesmo flagelado à distância a Tabanca de Paté Embaló, levando as nossas tropas a reforçar este posto avançado de Aldeia Formosa, com um Grupo de Combate da CART 2521.

A 09DEZ1970, foram referenciados rebentamentos de explosivos e tiros de ajustamento de armas pesadas na Zona do rio Contaioba, onde as NT em patrulhamento encontraram vestígios dos mesmos, bem como sinais de concentração de Grupos armados do PAIGC.

O Comando do BCAÇ 2892, face ao crescente aumento de efectivos do IN, nesta área, planeou a "Operação Remoinho", que teve por missão fazer uma batida de reconhecimento na área compreendida entre Sare Ali e Sare Amadi.

Para o efeito foi constituída uma força com:
  • 2 GR. COMB. da CART 2521 - Aldeia Formosa
  • 1 GR. COMB. da CCAÇ 2701 - Saltinho
  • 1 Secção do Pel. Milicias
  • 1 Secção do Pel. Caç. Nat. 69 - Paté Embaló
A operação teve o seu início a partir do aquartelamento do Saltinho, fazendo progressão apeada em direcção a Sare Ali, onde emboscou e, de seguida, fez uma batida à Zona, onde não foi encontrado rasto do IN.

Foram dadas ordens às NT para seguirem para Sare Amadi, onde foram encontrados vastos rastos de presença inimiga, com abertura de novos trilhos em direcção a Iero Aine.

Todos estes trilhos de infiltração do PAIGC, foram armadilhados e minados. Não se tendo avistado qualquer presença física do IN, na área da Operação, a mesma foi dada como extinta e as NT regressaram aos respectivos aquartelamentos.

Em 24DEZ1970, o PAIGC, pelas 22h00, atacou com grande intensidade a Tabanca de Paté Embaló, com Morteiros de 82 mm, RPG7 e armas ligeiras, durante 15 minutos, tendo chegado perto do aldeamento. A pronta resposta das NT fez o inimigo retirar, perseguido pelo fogo dos obuses de 14 cm de Aldeia Formosa e, pelo envolvimento das NF, que, nesta acção, tiveram 2 feridos no Pel. Caç. Nat. 69.

A Sul e a Leste do Sector, actuavam as Companhias CART 2519, CCAÇ 2614 e CCAÇ 2615, que se dividiam por Nhala, Buba e Aldeia Formosa.

Estas Forças tinham como missão a contra-penetração do corredor de Missirá, e, entre si, desdobravam-se em esforço para patrulhar e emboscar a Sul e a Norte de Uane, como também tinham a seu cargo a segurança da estrada Buba-Aldeia Formosa.

O PAIGC tentou a todo custo fugir às emboscadas montadas pelas NT, que eram permanentes no corredor, abrindo novos trilhos entre Colibuia e Ieroiel, mas ia cair sistematicamente nas nossas armadilhas implantadas no terreno, o que lhes causava baixas consideráveis.

Em 23DEZ1970, um Grupo inimigo estimado em 40 elementos atacou Mampatá, pelas 14h45, utilizando morteiros de 82mm a partir de Xitole 4H7-41. Foram referenciadas 6 posições de morteiro 82 mm, com 30 rebentamentos todos caídos fora do nosso perímetro do aquartelamento. As NT responderam com um envolvimento em perseguição do IN, que fugiu desorganizado em direcção ao Sul, vindo a cair nas nossas armadilhas implementadas no terreno.

Na ZA de Buba, continuava tudo calmo não havendo sinais do IN, apesar das movimentações das NT no terreno.

Neste período como era habitual o COMCHEFE, visitou os aquartelamentos do Sector desejando Boas Festas às NT.

Legendas das fotografias:

1 - O nosso 1º Grupo de Combate
2 - O F. Costa - Escriturário de Mampatá
3 - Operação Novo Rumo (F. Costa)
4 - Atolamento na picada
5 - Evacuação de um ferido em Halouette III
6 - Espoletas de minas à vista na picada
7 - Deslocação do pessoal do 1.º Grupo de Combate
8 - Aspecto da tabanca de Mampatá

NOTA FINAL: Assim terminou o ano de 1970, no Sector de Buba – Aldeia Formosa, ficando cada vez mais perto o nosso regresso à Metrópole.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art

Fotos: © Mário Pinto (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. poste sobre o 1º Semestre em:

Vd. último poste da série do Autor em:

16 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 – P5476: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (31): Ataque `a Chamarra nas vésperas de Natal (Mário G R Pinto)

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 – P5476: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (31): Ataque `a Chamarra nas vésperas de Natal (Mário G R Pinto)

1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a sua 31ª mensagem, em 15 de Dezembro de 2009:

Camaradas,

Retirei do meu baú de recordações esta estória verídica de acontecimentos que, por mais que o tempo corra fica sempre na minha memória, tal a sorte que no dia 21-12-1969, bafejou os intervenientes da CART 2519.

Vai fazer agora precisamente 40 anos.

Vésperas de Natal "ATAQUE Á CHAMARRA"

No dia 21-12-1969, pelas 10h30 horas um Grupo IN, estimado em 40 elementos, atacou com grande intensidade o aquartelamento da Chamarra, chegando a estar perto do arame defensivo da Tabanca.

A pronta resposta das NT aquarteladas em Chamarra, que se resumiam a um Pelotão de Nativos e Milícia local, apoiadas pela Artilharia de Aldeia Formosa, obuses de 14 cm e a CArt. 2519, que tinha a missão de socorrer a Chamarra em caso de ataque.

Assim que o IN deu inicio ao ataque, verificou-se logo em Mampatá, que o mesmo era a sério, e, não uma simples flagelação como era costume. Depois de contacto via rádio, com a CHAMARRA, saiu em auxílio ao destacamento um Grupo de Combate da CArt. 2519, reforçado conforme o estipulado no Plano de Acção.

A meio do trajecto veio a saber-se que o IN tinha abandonado o ataque e retirado para Sul. Foram dadas ordens ao Grupo de Combate para perseguir o IN e tentar interceptá-lo, o que veio a acontecer mais tarde.

Entretanto o 1º Grupo de Combate da CArt. 2519, encontrava-se na Zona emboscado perto do Rio Ierobá, fazendo acção de contra-penatração ao corredor de Missirá e o IN, na retirada do ataque, foi-lhe cair nas malhas com que estava preparado para os receber.

Pelas 13h00, deu-se o contacto do IN com as NT emboscadas, o que provocou ao IN, logo 2 baixas confirmadas (mortos) no terreno e vários feridos, tendo os mesmos retirado ainda mais para Sul.

Entretanto o Grupo de Combate saído de Mampatá, flectiu mais para Sul em direcção a Colibuia, pelo trilho Guidali, vindo a contactar o IN, em retirada neste trilho num frente a frente inesperado.

Desfeita a surpresa inicial foi aberto fogo pelo os Homens da frente, onde eu e o meu camarada Furriel Bernardo nos encontrávamos, com cerca de 9 elementos, enquanto os restantes seguiam ligeiramente atrás.

Como ficámos entre o IN e as NT, havia necessidade de manobrar de maneira que os nossos camaradas da retaguarda pudessem chegar á frente, de maneira a enfrentar o IN. Para isso, eu, o Bernardo e os restantes elementos corremos em zigue-zague para a direita do trilho, procurando abrir a frente de ataque, o IN respondeu com tiros de arma ligeira atingindo a mim, ao Bernardo e a mais 2 camaradas soldados.

A manobra apesar dos feridos deu resultado, porque o resto do Grupo de Combate pôde avançar e desbaratar o IN, com pesadas baixas (4 mortos confirmados) e diverso material de guerra capturado.

Os nossos ferimentos foram todos ligeiros, felizmente, eu com um tiro no braço, o Bernardo com um tiro numa perna e os restantes 2 feridos também ligeiramente.

Foi efectuada a nossa evacuação para Bissau, em Aldeia Formosa, onde uma DO nos aguardava para o efeito.

No Hospital Militar, em Bissau, depois de vistos e tratados pelo pessoal médico e enfermeiros, tivemos a visita do General Spínola e do Capitão Almeida Bruno, que vieram junto de nós inteirar-se da ocorrência.

Nesse dia considero que o espírito de Natal nos protegeu, a mim e aos meus camaradas feridos, porque com o IN a disparar sobre nós a tão curta distância e nós a ouvirmos as balas assobiar á nossa volta, é inacreditável como saímos vivos daquela m...

Eu, o Bernardo e o soldado Raposo Marques, fomos louvados por coragem e valentia em acção de combate, tendo o meu transitado para o CTIG e ao Raposo foi-lhe justamente atribuído o Prémio Governador.

A CArt 2519, foi louvada pelo COM-CHEF, por esta acção, conforme consta na Estória da Unidade.

Nota: Todos estes elementos constam da Estória da Unidade da CArt. 2519.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art

Fotos: © Mário Pinto (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

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