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quarta-feira, 13 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P20969: Historiografia da presença portuguesa em África (209): “Madeira, Cabo-Verde e Guiné”, por João Augusto Martins, 1891 (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Setembro de 2019:

Queridos amigos,
Lê-se e não se acredita como um depoimento deste teor aparece omisso na chamada bibliografia fundamental da Guiné. O autor é médico, acompanhou a delimitação de fronteiras depois da Convenção Luso-Francesa de 1886, tem comentários cheios de vitríolo, como aquele de na sua visita a Bolama ter encontrado o edifício mais sumptuoso, "pertencente a esse nomeado Gouveia, que veio para aqui há nove anos como Guarda Fiscal e que hoje representa o Rotschild da terra, à custa do trabalho".
Visitou a região sul ao pormenor, empolga-se com a beleza feminina, desvela o estado lastimável em que se encontrava a vila de Bissau e profere alguns dos mais amargos comentários que alguém escreveu sobre o desprezo em que era tida aquela colónia de belezas admiráveis e de recursos inexplorados. Absurdo não incluir este testemunho de João Augusto Martins entre o que de mais significativo se escreveu quando a colónia da Guiné se autonomizou de Cabo Verde.

Um abraço do
Mário


“Madeira, Cabo-Verde e Guiné”, por João Augusto Martins, 1891 (2)

Beja Santos

No descritor reservado à Guiné-Bissau, na Biblioteca Nacional (com centenas de obras consultáveis), dá-se nota de uma publicação que nunca se vira referenciada em nenhuma bibliografia. Trata-se de uma edição da Parceira António Maria Pereira, a data é 1891, tem ilustrações primorosas para os três territórios visitados, acicata-se a nossa curiosidade, a Guiné autonomizara-se recentemente de Cabo Verde, que surpresas nos reserva este autor, que se descobrirá, mais adiante, que colaborou no levantamento das fronteiras da Guiné Portuguesa?

Pauta-se por uma escrita cuidada, novecentista e sem travessuras, não esconde João Augusto Martins que está rendido às belezas naturais. Ficou em suspenso, no texto anterior, o que ele nos diz sobre a vila de Bissau, que ele caracteriza por “pequena, acanhada, de construções raquíticas e vulgares, imunda de todo o indiferentismo das municipalidades de África, somada a todas as inalações do lodo, da catinga e do azeite de palma”.
Dá-nos um quadro movimentado da vida comercial:
“Existem aí casas francesas, alemãs, americanas e inglesas, além de muitos pequenos negociantes, na maior parte de Cabo Verde, e concorrem à praça todos os dias, não só os povos que a avizinham, mas muitas das tribos afastadas que a abordam em grandes canoas sui generis pela construção, os quais vindo permutar por tabaco, aguardente, fazendas, etc., os produtos de agricultura e objectos originais da indústria indígena, dão um cambiante nitidamente selvagem a esse limitado quadro da vida africana, curiosíssimo pela variedade de penteados e costumes de seus personagens, interessante pela tatuagem com que se enfeita o preto, pitoresco pela diversidade dos tipos, dos penachos, das gesticulações e das vestimentas, profundamente impressionista no género grutesco, e constituindo no todo um espectáculo original.
Para todo esse importante comércio de permutações que se avalia em centenas de contos de réis, tem apenas como meio de acesso as duas portas de Pidjiquiti e Puana, abertas na face oeste e este da muralha, e uma raquítica ponte de cibes pertencente à casa Buttman, que, sendo pouco extensa, apenas pode ser utilizada na praia-mar, o que obrigou a mim e aos meus companheiros de viagem a sermos desembarcados às costas de um preto”.
E tece ainda o seguinte comentário, falando da fortaleza de S. José da Amura:
“É nesta superfície de algumas centenas de metros quadrados, roubada toda ela sem método e sem plano à vegetação pujante que a povoava outrora, que reside hoje mais ou menos desconfortavelmente instalados, desde o Governador até esse formigueiro de empregados subalternos que a padrinhagem e o critério de anichamento nacional sabe acomodar em todas as nossas províncias ultramarinas, sem escolha de aptidões nem escrúpulo de competências, e que constituem o motivo preponderante do relaxamento no serviço e a principal causa do depauperamento dos cofres públicos”.

Sublinha-se a vermelho a Paliçada da Puana, no lado oposto ao Pidjiquiti.

Não deixa de comentar a farsa da vida administrativa, o quadro de dissolução e rebaixamento moral em que ninguém confia nos direitos que são conferidos pela lei. Lembra figuras patrióticas como Honório Pereira Barreto, lamenta o ostracismo a que está votada a Guiné, o desprezo com que Lisboa trata os médicos, os farmacêuticos e o pessoal dos hospitais que procuram defender a saúde em climas tão inóspitos como o da Guiné. Descobrimos que João Augusto Martins é médico, foi a Bolama para socorrer as vítimas da epidemia de varíola que tantos danos acarretou à Guiné, mostra-se tocado pelo acolhimento que obteve e formula nova crítica:  

“Esta província tida e mantida na nossa elaboração nacional como um depósito para onde despreocupadamente se esvazia desde muito o lodo e as imundícies colhidas nas dragagens da nossa rotina legislativa, sob a forma militar de incorrigíveis e de devassos deportados civis, a Guiné, constituindo-se em província independente, plagiou desde logo a toilette pretensiosa da sua vizinha, enfeitando-se de todas as complicações burocráticas possíveis e fazendo construir na sua capital desde a igreja onde exibe o seu Deus ao som dos clarins e das músicas marciais até ao hospital onde agasalha os seus doentes à luz de uma parca economia, tíbia de conforto e de consolações. Edificou a ferro e tijolo um edifício pesado, desprotegido de sombras, sem quarto de banhos, sem casa de autópsias, sem casa mortuária, sem meios de esgotos, nem canalização de águas, e continuou a sustentar ao mesmo título esse pardieiro a derrocar-se, onde se agasalham em Bissau os desgraçados doentes que preferem morrer à sombra, mesmo em risco de desabamentos prováveis. É ali, nesse pavilhão e nesse estábulo da patologia, que se acotovelam indistintamente à temperatura média de trinta graus…”.

Não esconde o seu pesar pelo facto de a Convenção Luso-Francesa de 1886 nos ter subtraído a parte da Senegâmbia chamada Casamansa, considera que a delimitação da Guiné foi um ato de leviandade política, confessa que chorou amargamente quando arreou a bandeira portuguesa em Zinguinchor e fala da outra fronteira:
“Ao sul e a leste ficámos cercados pelo território de Ia-Ia e Almami e pelos franceses na zona do litoral onde têm um posto em Kaki, ponto onde começa a linha de delimitação sul. Isto segundo o Tratado de Paris, sem sabermos, nem podermos asseverar, por não estar isto deliberado, se os franceses conseguiram ou não ficar senhores do rio Secujak, afluente sul da Casamansa. Tendo, pois, os franceses, o rio Casamansa ao norte, o rio Nunes ao sul, e as facilidades que lhe conferem as influências sabiamente exercidas sobre Almami, rei do grande território dos Futa-Djalon, é claríssimo que devia suceder, como efectivamente está sucedendo, que as nossas pautas, os nossos impostos, deixassem de ter uma aplicação prática pela larga franquia que dão ao comércio as extensas fronteiras indefesas e que derivar-se toda a concorrência dos indígenas, dos nossos mercados para outros pontos onde as mercadorias de principal consumo (tabaco e álcool) não estão sujeitas aos exorbitantes impostos diferenciais e onde a catequese de uma sábia diplomacia os sabe angariar.

Daqui o facto reconhecido e provado da decadência última a que chegou a Guiné; daí o terem desaparecido subitamente um grande número de casas estrangeiras estabelecidas em Bolama; daí o ter-se anulado quase o seu comércio; daí finalmente a morte irremediável de uma província com tantos elementos de riqueza e que trazendo à metrópole um encargo anual de 128.500$000 réis, continua com um estadão de secretarias e funcionalismo ocioso, mas que não tem uma orientação nem vida própria e que ninguém trata de fazer viver.
Ora quando um país sem condições de garantia nem de interesse, pouco a pouco se desmembra em benefício de outras nações, dá lugar a que todos tenham o direito de supor que desmoralizado e enfraquecido não pode mais utilizar com seus esforços de colonização a parte territorial de que se sequestra. Dá lugar, indiscutivelmente, a que todo o português de hombridade e de carácter tenha o direito de pedir a venda das colónias improdutivas, como todo o médico tem o dever de pedir a amputação de um membro esfacelado quando todo o organismo enfraquecido já o não pode galvanizar de vida”.

E não deixa de comentar o cinismo daqueles que gritavam contra o Ultimato Inglês e protestam contra as espoliações a que Portugal fora submetido.
A despeito de se tratar de um comentário pessoal, é de uma enorme riqueza de observação e fica-se com o quadro claríssimo do estado crítico da Guiné no arranque da sua autonomização de Cabo Verde.
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20948: Historiografia da presença portuguesa em África (208): “Madeira, Cabo-Verde e Guiné”, por João Augusto Martins, 1891 (1) (Mário Beja Santos)

domingo, 13 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20235: Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (2): 2ª edição, revista e aumentada, Letra A



Guiné > Bissau > Amura ou Fortaleza de São José da Amura ou simplesmente Fortaleza da Amura > Construção iniciada em finais do séc. XVII, arrasada em 1707 e reconstruída em 1753, restaurada em meados do séc. XIX (1858-1860), bem como um século depois, a partir da década de 1970, sob orientação do arquiteto Luís Benavente.


Foi quartel-General durante a guerra colonial. É hoje panteãio nacional da República da Guiné-BissaU. Foto nº 17/199 do álbum Guiné, disponível na página do Facebook, do João Martins. qui estava instalado o QG/CCFAG [Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné], com as suas 4 Rep[artições]. Nas proximidades ficava a 5ª Rep, o Café Bento, o maior "mentidero" de Bissau, onde se ganhavam ou perdiam todas as batalhas.



Foto: © João José Alves Martins (2012)  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: 
Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. São cerca de meio milhar de "entradas":

(i) abreviaturas, siglas, acrónimos e termos técnico-militares usadas pelas NT (Nossas Tropas) / Forças Armadas Portuguesas:

(ii) abreviaturas, siglas e acrónimos e termos técnico-miliatres usadas pelo IN (inimigo) (guerrilha / PAIGC):

(iii) topónimos da Guiné, vocábulos e expressões etnográficas e/ou em crioulo e línguas gentílicas

(iv) vocábulos e expressões da gíria ou calão tanto do IN como das NT...

Acrescentamos também algumas figuras populares, do "Caco Baldé" ao "Manel Djoquim", do "alfero Cabral" ao "Tigre de Missirá", do Pepito ao "Metro e oito"...

É um pequeno património linguístico que já não nos pertence... Alguns destes vocábulos, do calão ao crioulo,  já estão grafado pelos dicionaristas: por exemplo, bianda, bideira, blufo, bolanha, morança ... Outros poderão vir a sê-lo, se não caírem em desuso.. Muitos morrerão na "vala comum do esquecimento", nomeadamente expressões usadas na caserna: pira, periquito, checa, partir punho, partir catota ... 

Enfim, são mais de quinze anos a blogar, o que dá, pelo menos  sete comissões no TO da Guiné...

Pequeno dicionário, de A a Z, em construção, com o contributo de todos os amigos e camaradas da Guiné (*) que se sentam aqui à sombra do nosso poilão, e que até têm um livro de estilo (**)... 

Mas falta-nos "a gíria e o calão" de outras armas como as da Marinha, por exemplo ... Infelizmente temos poucos marinheiros e fuzileiros na Tabanca Grande.

Quanto ao resto (e nomeadamente ao uso de um "calão" mais grosseiro, ou mais obsceno...), é bom lembrar que o nosso blogue não é politicamente correto, justamente porque é plural, é um rio com muitos afluentes, é filho de muiats mães e pais... Aos nossos/as amigos/as e camaradas mais "sensíveis", incluindo os/as nossos/as  amigos/as guineenses, pedimos desculpa de "qualquer coisinha"... 

Desnecessário é lembrar que o nosso blogue rejeita todos os ismos: colonialismo, racismo, sexismo, moralismo... , etc. Não somos um blogue de causas, só queremos parti(lha)r memórias (e afetos)... LG


Pequeno Dicionário da Tabanca Grande,  de  A a Z: 

[Em construção, desde 2007]


1º Cabo Aux Enf – 1º cabo auxiliar de enfermagem

2TEN FZE RN - 2º Tenente Fuzileiro Especial da Reserva Naval (Marinha)

5ª Rep - (i) Café Bento, o ‘mentidero’ de Bissau, que ficava junto ao Forte da Amura onde estava instalado o 
QG/CCFAG [Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné], com as suas 4 Rep[artições]

A/C - Anticarro, mina

A/D - Autodefesa (tabanca em)

A/P - Antipessoal. mina

AB - Alfa Bravo ou alfabravo, abraço (alfabeto fonético internacional, usado pelos nossos Op Trms)

Abibe - Novato na BA 5 (Monte Real) (FAP)

Abo - Você, tu (crioulo)

ACAP - Assuntos Civis e Acção Psicológica (REP / ACAP) 

AD - Acção para o Desenvolvimento - ONGD guineense que teve a marca histórica da liderança do Pepito (1949-2014)

ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas (, fundada depois do 25 de Abril)

Aero - Aerograma, carta, bate-estrada, corta-capim

Afilhado - Militar que tinha uma madrinha de guerra

Água de Lisboa – Vinho (da intendência) (gíria)

Água do Geba (Beber a) - Apaixonar-se pela Guiné

AGUltramar - Agência Geral do Ultramar

Agr - Agrupamento

AICC Área de Intervenção do Comando-Chefe

AKA - Kalash, Espingarda Automática Kalashnikov (AK) Cal. 7,62 mm (PAIGC)

AL II - Alouette II, helicóptero, de origem francesa (FAP)

AL III - Helicóptero Alouette III, de origem francesa (FAP)

Alf - Alferes

Alf Mil - Alferes Miliciano

Alf Mil Med - Alferes miliciano médico

Alfa Bravo / Alfabravo - Abraço


Alfaiate - Crocodilo (gíria)

Alfero - Alferes (crioulo)


Alfero Cabral - Jorge Cabral, alf mil  art, cmdt Pel Caç Nat 63 (Fá Mandinga e Missirá, 1969/71),autor da série "Estórias cabralianas"

AM - Academia Militar (sucedeu, em 1959, à Escola do Exército, remontando a sua origem apo séc. XVII)


Amura - Velha fortaleza militar colonial, em Bissau; sede do QG/CCFAG [Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné]; hoje Panteão Nacional da Guiné-Bissau




AN/PCR-10. 
Imagem: Blogue Luís Graça
& Camaradas da Guiné
AN/GRC-9 - Rádio, equipamento de transmissões (NT)

AN/PRC-10 AVF - Rádio emissor-receptor (MT)

Animistas - Povos ribeirinhos(balantas, manjacos, papéis e outros) que praticam o culto dos irãs

Anti-Aérea ZPU-4 - Anti-aérea  quádrupla, de 14,5 mm (PAIGC)[Também tinham peças AA de 37 mm e, depois, o Strela, em 1973]


Anti-G - Fato que ajudar a suportar os Gês (FAP)

AOE - Associação de Operações Especiais

Ap - Apontador

APAR - Apoio aéreo (FAP)

Ap Arm Pes Inf - Apontador de Armas Pesadas de Infantaria (morteiro, canhão s/r, metralhadora 12.7...)

Ap Dil - Apontador de Dilagrama

Ap LGFog - Apontador de Lança-granadas foguete

Ap Met - Apontador de Metralhadora

Ap Mort - Apontador de morteiro

Apanhado - (i) Diz-se do combatente afectado pela guerra e pelo clima; (ii) cacimbado (em Angola)

APsic - Acção Psicológica

Aqt - Aquartelamento
 
Arre-macho - Tropa de infantaria, tropa-macaca (termo depreciativo, usado pelas tropas especiais)

Art Artilharia

Arv - Arvorado, Soldado



Anúncio da ASCO (1956). 
Fonte: Blogue Luís Graça
 & Camaradas da Guiné


ASCO - Acrónimo da Aly Souleiman & Ca - Casa comercial, de origem sírio-libanesa, com sede em Bissau e filiais no interior, incluindo Gadamael.
Asp Of Mil - Aspirante a Oficial Miliciano

At Art - Atirador de Artilharia

At Cav - Atirador de Cavalaria

At Inf - Atirador de Infantaria

Atacadores da PM -  Esparguete (gíria) (Ex: Atacadores com PM com estilhaços)

ATAP - Missão resultante de um pedido de fogo imediato, com a saída da parelha de alerta; ataque em alerta (FAP)

ATIP - Missão de apoio de fogo, pré-planeada; ataque independente (FAP)

ATIR - Ataque e reconhecimento (FAP)


(Continua)
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Notas do editor:




30 de dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2389: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (6): Racal (José Martins)

29 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2388: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (5): Periquito (Joaquim Almeida)

26 de junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1887: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (3)... (Zé Teixeira)

domingo, 7 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19080: (De)Caras (119): Marco Paulo, um dos nossos camaradas, hoje famosos, que passaram pelo CTIG... Era o 1º cabo escriturário João Simão da Silva, e foi colocado no QG/CCFAG, na Fortaleza da Amura


Guiné > Bissau > Junho de 1969 > Fortaleza da Amura >   QG/CCFAG (Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné) > O Virgílio Teixeira, numa das vezes que foi ao QG / CCFAG, na fortaleza da Amura,  em data que já não pode precisar (c. 1967/68), encontrou no Bar de Oficiais o cantor Marco Paulo ("era 1.º cabo, e o responsável pelo Bar").


Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Houve camaradas nossos, que passaram pelo TO da Guiné, e que depois se tornaram famosos, nas suas atividades profissionais: políticos, artistas, desportistas, médicos, jornalistas, etc. Famosos, quer dizer, conhecidos do grande público... 

É o caso, por exemplo, do cantor Marco Paulo, que foi 1.º cabo escriturário, e que esteve colocado no QG/CCFAG (Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné), na fortaleza da Amura... Não sabemos a sua unidade, nem exatamente em que período lá esteve: talvez entre 1966 e 1968, cerca de 18 meses; e talvez em rendição individual.

Vários camaradas já referiram aqui o seu nome: 

O Hugo Guerra (ex-alf mil, hoje Coronel DFA, Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 50, Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70), encontrou o Marco Paulo, que ele não conhecia,  nos correios de Bissau, na época natalícia de  dezembro de 1968. Tiveram um pequeno "desaguisado" por causa dos botões da camisa (*)...

Por sua vez, o Virgílio Teixeira (ex-al mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, set 1967 / ago 1969) escreveu que, nas suas  visitas a Bissau,  foi várias vezes ao QG, na fortaleza da Amura , e que "numa delas encontrei no Bar de Oficiais o cantor Marco Paulo, que já o conhecia do Porto, morava perto de mim, e já começava a ser conhecido". E acrescenta: "ele era 1.º cabo, e o responsável pelo Bar, servia no balcão ele ou outros em serviço. (...) Depois acabou por dar espectáculos em alguns lugares da Guiné, mas eu nunca vi nem assisti a nenhum". (**)

O Virgílio Teixeira esclarece, em comentário (**), que "o Marco Paulo, já depois de chegarmos da Guiné, morava por aí perto de mim, ao lado da casa de uma irmã minha, e só por isso o via raramente, quando visitava a minha irmã [, no Porto]".

Também num blogue do Luís de Matos (ex-fur mil, da CCAÇ 1590 / BCAÇ 189, Os Gazelas, 1966/68), havia uma referência ao Marco Paulo: ele chegou a Bissau, a 11 de agosto de 1966 e foi dar uma volta à noite com vários camaradas, alentejanos.   O blogue já não está mais disponível na Net (o link era: http://luisdematos.blog.com/2007/7/) mas aqui vai um excerto (*)

(...) O furriel miliciano Charneca, que é natural de Beja, ou arredores, não sei bem, pertence à CCS do meu batalhão, o [BCAÇ]  1894, disse-me que há um nosso camarada, já 'velho', o que equivale a dizer que não é 'periquito', que está no rádio do Quartel-General com o Marco Paulo, um artista da rádio e da TV e também alentejano, de Mourão.Vamos lá ter com eles, para nos mostrarem como é isto. Ou pelo menos, aquele meu amigo vai connosco. Estava uma noite escura como breu. Não me recordo de mais nada. O que sei é que me vi dentro dum táxi, com o Charneca e o tal amigo do QG, por um trilho, em que o capim era bem mais alto que o nosso transporte e fomos parar a uma vivenda onde havia música. Muita música cabo-verdiana e dança, frangos no churrasco, cerveja e whisky. (...)


2. Em tempos publicamos dois extractos de entrevista com o Marco Paulo (, nome artistico de João Simão da Silva, nascido em Mourão,  na margem esquerda do Guadiana, Alentejo, em 21 de janeiro de 1945).  

Uma das entrevista era do  Correio da Manhã, de 9 de junho de 2007:

(...) –Fez tropa na Guiné durante dois anos. Do que se recorda?

– Recordo-me de ter pedido a todos os santos para não ir, acima de tudo porque eu sabia que se fosse para a Guiné possivelmente quando regressasse já não podia dar seguimento à minha carreira. A minha sorte foi que o meu produtor, Mário Martins [, da Valentim de Carvalho], fazia sempre questão que eu viesse de férias. Durante esse período eu gravava, e quando voltava para a Guiné a editora lançava o disco. Por isso nunca caí no esquecimento.

– Chegou a sentir medo?

– Quando cheguei à Guiné não foi fácil. Pensei: “Olha, vou para o mato. Levo lá um tiro na cabeça e pronto!” Só que fui para o quartel da Amura, para a secção de Justiça, como escriturário. Ouvia os bombardeamentos, mas não deu propriamente para sentir medo. Depois, como a rádio lá passava muitos discos meus, eu era aproveitado para abrilhantar as festas militares.

– Compreendeu, à época, as motivações daquela guerra?

– Eu não estava por dentro dos assuntos da política. Disseram-me que Guiné era Portugal e eu acreditei. Hoje, olhando para trás, vejo que foram dois anos perdidos.


Outra das entrevistas, com o Marco Paulo, "a propósito dos 35 anos de carreira e dos 3 milhões de discos vendidos". conduzida pelo jornalista e escritor Luís Osório, e publicada nas Selecções do Reader's Digest - Portugal - Revista, em nembro de 2011, pode ler-se:

(...) Luís Osório [LO] - Sei que está a comemorar mais um ano de carreira..

Marco Paulo [MP] - E são já 35 anos a cantar, imagine só. Tanto tempo que quase parece, bem, quase parece que a pessoa que sou hoje nada tem a ver com a pessoa que fui... Passei muitas dificuldades no início, não foram apenas rosas.

LO - Que tipo de dificuldades?

MP - No início tive de cumprir 18 meses de serviço militar obrigatório, depois tive também de viver com o que diziam e faziam os meus críticos. Durante muitos anos o meu nome esteve vetado na televisão. Fui muitas vezes mal tratado. (...)

(...) LO: Voltando um pouco atrás. Onde cumpriu o serviço militar? 


MP: Na Guiné. Quando fui para a guerra, já tinha gravado dois ou três discos, discos sem grande sucesso mas que passavam na rádio e que já vendiam alguma coisa. Ao regressar da guerra, não fazia ideia do que seria a minha vida no futuro, não era líquido que o meu futuro passasse pelas cantigas.

LO: Recorda o dia em que partiu para a guerra?

MP: Muito bem. No fundo, não sabia para onde ia. Foram dias muito inquietantes, mas por sorte acabei por ir parar a Bissau. Os meus pais choraram quando se despediram de mim, choraram tanto como eu. Aliás, lembro-me de ter chorado duas vezes na minha vida: nessa ocasião e quando me deram a notícia de que tinha um cancro. Não é nada fácil alguém me ver chorar, nada fácil mesmo.

LO: O estatuto de cantor beneficiou-o de alguma forma durante a Guerra Colonial?

MP: De forma nenhuma. Por sorte, não estive nos sítios onde se vivia a guerra, limitei-me a estar numa zona mais resguardada. Fui obrigado a ir. Estava numa secção de escritório a fazer cartas, para mim foram quase umas férias. Só me apercebia de que existia guerra quando me convidavam para ir cantar a algum hospital ou à Força Aérea; no sítio onde estava não percebia nada. Deu-me muito prazer cantar na Guiné, os meus camaradas pediam-me e eu nunca recusava. (...)

Infelizmente, não dispomos de nenhuma foto do nosso camarada Marco Paulo, do tempo da Guiné.  Nem conhecemos o "sítio oficial" do popular cantor (***).
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Guiné 61/74 - P19078: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XLVI: Fortaleza da Amura, Quartel-General, Bissau, junho de 1969.


Foto nº 1 > Guiné > Bissau > Junho de 1969 > Os velhinhos canhões da Fortaleza de Amura. 


Foto nº 3 > Guiné > Bissau > Junho de 1969 > Edifício principal do comando geral do quartel-general.


Foto nº 2 > Guiné > Bissau > Junho de 1969 >  Fortaleza da Amura > Um pormenor da vista da Porta de Armas de dentro do quartel.


Foto nº 5 > Guiné > Bissau > Junho de 1969 > No interior das instalações da Amura, bem protegida por muros a toda a volta.


Foto nº 4 > Guiné > Bissau > Junho de 1969 > Entrada para a messe e bar de oficiais do quartel da Amura.


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Virgílio Teixeira (*), ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, set 1967/ ago 69); natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem já cerca de 90 referências no nosso blogue.


Guiné 1967/69 - Álbum de Temas:

T034 – O QUARTEL DA AMURA EM BISSAU: CENTRO DE DECISÕES DO CTIG


Caros companheiros e camaradas:

É com prazer que venho levar até vós, mais alguns temas, fotos, estórias e histórias, trabalho, lazer, convívios e copos com o pessoal, civil e militar, enfim passagens pelo nosso CTIG, Comando Territorial e Independennte da Guiné.

O meu novo formato passa a ter um tema de base e a seguir juntando mais alguns outros que se possam encaixar no principal, sem deixar de cuidar este, e assim ‘vou-me libertando de tantas dezenas de fotografias’ que, de uma só vez, tem sido difícil obter um bom resultado.

Em cada caso, faz-se um pequeno intróito sobre o Tema, sobre a unidade operacional à qual pertenço, o seu percurso, os meios disponíveis, o que foi feito e deixado por fazer, tendo sempre a consciência do dever cumprido.


I - Anotações e Introdução ao tema:

Em Bissau tinha como ‘fachada’ principal, o grande Quartel da Amura, em frente ao cais de desembarque do Porto de Bissau, com os seus ‘canhões’ ainda apontados ao mar, para prevenir qualquer ataque ‘terrorista’ ou dos Piratas das Caraíbas.

Este monumento durante a nossa Guerra em África, já totalmente desactivado, ainda era denominado como o Forte da Amura, foi reformulado como uma extensão do Quartel-General (QG), com sede em Santa Luzia, mas em cujas instalações eram ali realizadas as reuniões diárias de altos comandos militares, ao meu tempo de Spínola.

Tinha diversas outras funções que para aqui não interessa, mas era uma ‘obra-prima’ portuguesa, naquele mundo e cidade tão atrasada.

Muito poucos militares dos centenas de milhares que fizeram aquela guerra, tiveram o privilégio de ver, visitar e utilizar as suas instalações, ficavam-se na maioria das vezes com a vista do exterior que pouco dizia da realidade ali existente, e a maioria nem de fora viram para contar. Talvez no desembarque, dos navios poderiam ver aquelas belas instalações, mas nos anos 70 nem isso, pois as tropas desembarcavam no aeroporto de Bissalanca, e vice-versa.

Nas minhas varias visitas a Bissau, fui lá algumas vezes, numa delas encontrei no Bar de Oficiais, o cantor Marco Paulo, que já o conhecia do Porto, morava perto de mim, e já começava a ser conhecido. Ele era 1º cabo, e o responsável pelo Bar, servia no balcão ele ou outros em serviço. Tinha ali um bom ‘aconchego’,  alguém o recuperou para isso e depois acabou por dar espectáculos em alguns lugares da Guiné, mas eu nunca vi nem assisti a nenhum.

Quando já estou de partida em Bissau, a aguardar embarque para vir embora, fui lá uma última vez, levei a máquina e tirei algumas fotografias, para mais tarde recordar. É claro e confesso hoje, que poderia ter feito melhor, mas a cabeça não deu para mais e ficaram estas, era pior se não viesse nenhuma.

Como era um local militar, era só mesmo para visitar como tal, não dava para as farras que a gente procurava na cidade, nos bares, cafés, restaurantes, nas ruas, no Pilão.


II – Introdução às Legendas:

Nota:

O primeiro parágrafo da legendagem explica o que significa a foto. Já no segundo e seguintes, são notas e observações que faço em relação à história e contexto de cada foto no seu tempo.

As fotos são numeradas e seguidas por ordem, por vezes saltando alguns números para deixar folgas para novas fotos, e estão legendadas, seguindo uma ordem mais ou menos cronológica, quando possível, a ter em atenção alguns pontos:

Assim:

A descrição é sintética, lembra Quando, Como, Onde, O quê.

- Algumas têm apenas o ano, quando não é possível identificar a data certa;

- Outras podem conter o mês e ano, quando não é possível determinar o dia;

- Algumas dizem o dia certo, pois isso está escrito na foto ou em qualquer lugar.

Os locais dos eventos, normalmente são:

- Nova Lamego, NLamego – Abreviatura de Nova Lamego, NL – Sigla mais pequena de NL

- São Domingos, SDomingos – Abreviatura de São Domingos, SD – Sigla de São Domingos


III - Legendas das fotos:

F01 – Os velhinhos canhões da Fortaleza de Amura. Pode ver-se o relativo bom tratamento, tinha vários apontados para o cais e mar. Vemos perfeitamente o cais tal como o deixamos ficar para trás, pequeno com dificuldades de receber grandes navios, como o Uíge e outros. Como nota, posso dizer que já em 1985 este cais estava todo transformado, foi tudo alargado, o cais de acostagem foi para mais umas centenas de metros para o mar, um grande cais para receber os imensos contentores que iam chegando dia a dia com ajuda humanitária, ao mais pobre país do mundo nessa época. Grande obra, construída pela SOMAGUE portuguesa com financiamento de países árabes e outros. Foto captada em Bissau, durante o mês de Junho de 1969, aguardando embarque.

F02 – Um pormenor da vista da Porta de Armas de dentro do Quartel. A bandeira está na porta de entrada, existe uma rampa ou escadas que dão acesso ao interior do aquartelamento, que de uma maneira geral está bem tratado e arranjado. Foto captada em Bissau, durante o mês de Junho de 1969, aguardando embarque.

F03 – Edifício principal do Comando geral do quartel-general. Este é o edifício principal, onde se reúnem os altos comandos para a tomada de decisões. Está virado para a cidade, as traseiras para o mar. Podem ver-se pequenos canhões a ladear o edifício todo, com imponente escadaria, e a bandeira nacional. Não percebo porque estão os canhões apontados para o interior da cidade. No tempo dos piratas, seria o quartel atacado pela frente? Foto captada em Bissau, durante o mês de Junho de 1969, aguardando embarque.

F04 – Entrada para a messe e bar de oficiais do quartel da Amura. Instalações em bom estado, ambiente agradável, com rega e árvores a escadaria que leva ao Bar, as mesas e cadeiras que dão uma panorâmica para o interior do aquartelamento. Foto captada em Bissau, durante o mês de Junho de 1969, aguardando embarque.

F05 – No interior das instalações da Amura, bem protegida por muros a toda a volta. Visitei tudo a bordo da minha motorizada Honda Azul, que tinha em Bissau. Aquelas árvores e flores serão as Acácias que já foram publicadas num Poste meu? Ou que flores serão, por curiosidade?

«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BCAÇ 1933/RI15/Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21 set 67 a 04 ago 69».


NOTA FINAL DO AUTOR:

As legendas das fotos em cada um dos Temas dos meus álbuns, não são factos cientificamente históricos, por isso podem conter inexactidões, omissões e erros, até grosseiros. Podem ocorrer datas não coincidentes com cada foto, motivos descritos não exactos, locais indicados diferentes do real, acontecimentos e factos não totalmente certos, e outros lapsos não premeditados. Os relatos estão a ser feitos, 50 anos depois dos acontecimentos, com material esquecido no baú das memórias passadas, e o autor baseia-se essencialmente na sua ainda razoável capacidade de memória, em especial a memória visual, mas também com recurso a outras ajudas como a História da Unidade do seu Batalhão, e demais documentos escritos em seu poder. Estas fotos são legendadas de acordo com aquilo que sei, ou julgo que sei, daquilo que presenciei com os meus olhos, e as minhas opiniões, longe de serem ‘Juízos de Valor’ são o meu olhar sobre os acontecimentos, e a forma peculiar de me exprimir. Nada mais.

Acabadas de legendar, hoje,

Em, 2018-10-03
Virgílio Teixeira
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quarta-feira, 2 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18592: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXX: As minhas estadias por Bissau (ii): setembro, depois de chegar a 21, vindo de avião


Foto nº 9 > Bissau > Setembro de 1967 > O Biafra, a "morança" dos oficiais. Quatel general (QG), em Santa Luzia.


Foto nº 14 >  Bissau > Setembro de 1967 >Vista geral da piscina do Clube de Oficiais do Quartel General, em Santa Luzia




Foto nº  21 > Bissau, setembro de 1967 > Piscina vazia no Clube de Oficiais




Foto nº 15 > Bissau, finais de setembro de 1967 > Na piscina do Clube de Oficiais do QG de Santa Luzia. Deve ter sido o primeiro banho ou duche em terras do CTIG.




F22 –  Bissau > Setembro de 1967 >Na piscina do Clube de Oficiais, com um empregado (trabalhador) local. 




Foto nº 18 >  Bissau > Setembro de 1967 > No Bar do Clube militar de oficiais do QG, em Santa Luzia, com um camarada de ocasião que não conhecia, é um cabo,  talvez trabalhando na messe, conversando sobre qualquer coisa.



Foto nº 16 >   Bissau > Fins de Setembro de 1967 >– Numa rua da Baixa, pobre, suja, velha, a cidade velha, penso ser na zona comercial, onde se localizava a Casa Pintosinho e a Taufik Saad e outras. Penso que estou metido num grupo de amigos, e alguém tirou a foto, acho que estou de camisa branca.



Foto nº 17 > Bissau > Fins de Setembro de 1967 > Numa rua da capital, numa zona menos central, mais para junto da marginal e do porto, ainda ando vestido com a primeira farda que vesti, a farda número dois. 



Foto nº 17 A > Bissau > Fins de Setembro de 1967 >   Rua: detalhe



Foto nº 20 > Bissau > Setembro de 1967 > – Vista interior da Igreja e Catedral de Bissau. Fui lá algumas vezes. [Ou não será antes a capela do Hospital Militar, HM 241 ?]



Foto nº 10 A > Monumento e estátua de Mouzinho de Albuquerque. Ficava localizada no QG da Amura, onde se faziam as reuniões dos Comandos Chefes [QG/CTIG]


Foto nº 10 > Bisssau, setembro de 1967 > Monumento e estátua de Mouzinho de Albuquerque. Ficava localizada no QG da Amura, onde se faziam as reuniões dos Comandos Chefes [QG/CTIG]


Guiné > Bissau > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69).

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem já meia centena de referências no nosso blogue:
Mensagem de 24 de abril último:


Caro Luís,

Conforme te disse ontem, tenho pronta outra reportagem sobre o Tema - As minhas estadias em Bissau - Parte I.

É um ficheiro com 79 fotos, variadas e algumas de algum interesse, mostrar Bissau a muita gente que nunca conheceu.

Eu tenho de ir agrupando por temas, embora muitas fotos estejam noutros temas e são em Bissau também, como é o caso das reportagens de Tomaz e Caetano e outras, como o render da guarda do governador, etc.

Depois como tenho tantas, sem temas específicos, vou juntando num ficheiro, talvez com um numero exagerado, mas só se aproveita as que interessam. Para mim, eu vou fazendo o meu arquivo definitivo, e vou arrumando assim as coisas, senão perco-me.

As fotos estão numeradas, não estão por ordem cronológica, apenas por mês e anos (67, 68, 69). e em cada uma tem o seu número e um resumo de que se trata, a data, quer seja o dia, o mês ou apenas o ano, conforme aquilo que sei.

Depois temos o relatório da Legendagem (...)

  Virgilio Teixeira

24-04-2018

2. Gniné 1967/69 - Álbum de Temas: T031 – Bissau - Parte 1 > (ii) Setembro de 1967 > > Legendagem


F09 – Bissaut, setembro 1967. Este é o pavilhão e dormitório dos oficiais, localizado no clube de oficiais de Santa Luzia no Q.G. Para quem não conheceu esta zona, trata-se de um barracão de madeira, pré-fabricado, com dezenas de camas de ferro e algumas redes mosquiteiro. Era um espaço muito fraco, e servia para alojar todos os oficiais milicianos que chegavam de (ou partiam para)  a metrópole, ou passavam férias em Bissau ou em Consulta Externa e tratamentos no HM 241, ou para tratar de assuntos da sua unidade, que era o meu caso. 

Tinha fracas condições de tudo, por isso lhe chamavam ‘O Biafra’,  com referência à guerra do Biafra (no Katanga – Congo Belga) que se vivia naquela altura de 67. Ficava no melhor local de Bissau, no Clube com o mesmo nome, com bar, sala de refeições, amplos jardins e piscina bem tratados, mas,  apesar disso,  das muitas vezes que frequentei Bissau, não ficava lá sempre, algumas vezes ou ficava no Pilão.  nas tabancas, ou no Grande Hotel, só que este era caro e tinha de pagar. 

O Biafra foi o meu primeiro alojamento no dia em que cheguei à Guiné, em 21 de setembro de 1967. A foto é uns dias depois de já ter adquirido a máquina fotográfica, e depois de ir a Nova Lamego e voltar uns dias depois. 

F10 – Monumento e estátua de Mouzinho de Albuquerque. Ficava localizada no QG da Amura, onde se faziam as reuniões dos Comandos Chefes sobre a situação e operações na Guiné. Depois de deixarmos aquilo após o 25 de Abril de 74 deitaram abaixo a estátua e colocaram lá outra dos chefes dos movimentos do PAIGC.

F14 – Vista geral da piscina no Clube de Oficiais do QG de Santa Luzia. Possivelmente deve ter sido uma das fotos do primeiro rolo da minha máquina fotográfica, que comprei na famosa Casa Pintosinho a prestações, como tantas outras coisas, e comecei logo ainda antes do final de Setembro a iniciar a arte de fotografar, aprendendo, mas longe de pensar a sério na fotografia, pois poderia ter feito muito melhor. 

Após chegar ao CTIG em 21 de setembro de 1967, fui para Nova Lamego passados dois dias. Depois, em finais do mesmo mês,  voltei a Bissau para tratar dos meus assuntos na «CC» - Chefia de Contabilidade, que ficava mesmo perto da piscina do Clube, e por isso muitas vezes ali estive pela proximidade dos locais. Bissau, fins de Setembro de 67.

F15 – Na piscina do Clube de Oficiais do QG de Santa Luzia. Deve ter sido o primeiro banho ou duche em terras do CTIG. Bissau, fins de Set 67.

F16 – Numa rua de Bissau, pobre, suja, velha, a cidade velha, penso ser na zona comercial, onde se localizava a Casa Pintosinho e a Taufik Saad e outras. Penso que estou metido num grupo de amigos, e alguém tirou a foto, acho que estou de camisa branca. Bissau, fins Set 67.

F17 – Numa rua da capital numa zona menos central, mais para junto da marginal e do porto, ainda ando vestido com a primeira farda que vesti, a farda número um. Bissau finais de Set67.

F18 – No Bar do Clube militar de oficiais do QG, em Santa Luzia, com um camarada de ocasião que não conhecia, é um cabo talvez trabalhando na messe, conversando sobre qualquer coisa. Bissau, Set 67.

F20 – Vista interior da Igreja e Catedral de Bissau. Fui lá algumas vezes. Bissau, Set 67.

F21 – Piscina do Clube de oficiais do QG Santa Luzia. Vazia sem água. Bissau, Set67.

F22 – Na piscina do Clube de oficiais, com um empregado (trabalhador) local. Bissau Set67.

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Nota do editor:

domingo, 25 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17509: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (43): o coronel médico, meu bisavô, Francisco Augusto Regalla (Aveiro, 1871 - Mindelo, 1937): pedido de utilização de foto da fortaleza da Amura de cuja guarnição ele fez parte em 1915 (Ricardo Moreira Regalla Dias-Pinto, Cascais)


Capa do livro de Ricardo Regalla Dias-Pinto, em preparação. Cortesia do autor



1. Mensagem do nosso leitor Ricardo Moreira Regalla Dias-Pinto

Data: 17 de maio de 2017 às 22:37
Assunto: Fotografia

Exmo. Senhor
Prof. Luís Graça

Estou a escrever um livro sobre a minha família.

O meu bisavô Francisco Augusto Regalla, combateu em 1915 na Coluna de Operações em Bissau pelo que gostava muito de pedir autorização para colocar uma vossa fotografia, mais propriamente a nº 3 da Fortaleza de Amura de cuja guarnição o meu bisavô fez parte durante algum tempo.

Naturalmente que, caso autorizem, terei o maior prazer em nomear o vosso blogue nos agradecimentos do referido livro que terá o título:

Família Regalla: A Hora da Verdade!

Agradeço desde já o tempo por vós dispensado aguardando com confiança a breve resposta.


Melhores e mais respeitosos cumprimentos,

Ricardo Moreira Regalla Dias-Pinto



 Guiné > Bissau >Fortaleza da Amura > Entrada do lado sul (frente ao porto e ao rio Geba).  Foto (º 3)  de Manuel Caldeira Coelho (ex-fur mil trms, CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68)

Foto ( e legenda): © Manuel Coelho (2011). Todos os direitos reservados. (Edição:  Blogue Luís Graça &  Camaradas da Guiné)


2. Resposta do nosso editor, em 22 do corrente:

Ricardo:

Em primeiro lugar, obrigado pelo seu contacto.

Em segundo lugar, parabéns pelo seu projeto: todos temos o "dever de memória", e no seu caso acho lindo que esteja a escrever a história de vida do seu bisavô Francisco Augusto Regalla.

Será que é o coronel médico Francisco Augusto Regalla, nascido em 1871, em Aveiro, e falecido em 1937, no Mindelo ? Pai de Agnelo Augusto Regalla; Mário Augusto Monteiro Regalla; Armanda Monteiro Regalla; Crizanta Monteiro Regalla e Hélia Regalla ?

Alguns dos meus camaradas (e eu próprio) passaram por Galomaro, estiveram em Galomaro ou fizeram operações no regulado do Cossé. Boa parte dos meus soldados africanos (da CCAÇ 12) eram oriundos do Cossé (, outros de Badora).

Em 1969/71, esse seu bisavô já não era vivo. Em todo o caso, nessa altura, havia um comerciante, casado e com família, que dava pelo nome de Regala (ou Regalla)...Seria mais provavelmente seu avô ou um dos seus tios-avôs... Não me lembro do nome próprio, só do apelido de família. Tinha em Galomaro um café e restaurante muito frequentado pelo tropa portuguesa, e em geral com agrado...Naturalmente, não se livrava da suspeita de simpatia pelo PAIGC...

Vou pô-lo em contacto com alguns dos meus camaradas que conheceram pessoalmente esses seus parentes, o sr. Regala e a família de Galomaro...

Quanto ao pedido que me faz, não tenho qualquer objeção, pelo contrário, em satisfazê-lo. Pode usar a foto, com indicação da fonte (autor e blogue)... Mas tenho dúvidas quanto à foto em causa... Será esta a foto nº 3 (Fortaleza da Amura, Bissau, entrada do lado sul, frente ao porto e ao rio Geba) ?

Se sim, os créditos fotográficos são de Manuel Coelho, a quem vou dar conhecimento do seu pedido. Gostaria que ele também lhe desse o seu OK, como autor da foto.

Para já é tudo, embora eu gostasse de saber, muito sumariamente, a razão de ser do título do seu livro: "Família Regalla: A Hora da Verdade!"...E, se nos der autorização, gostaríamos de divulgar também, no nosso blogue, o seu pedido. Haverá com certeza mais camaradas nossos que conheceram o sr. Regala (ou Regalla) de Galomaro e que podem até ter fotos dele (ou com ele) que disponibilizem, digitalizadas, para o seu projeto.

Disponha sempre,

Boa saúde, bom trabalho. Luís Graça

3. Mensagem do Ricardo Regalla Pinto-Dias na sua página do Facebook, de 22/12/2016, sobre o livro que está a escrever com a história da família:

Este é já mais do que um desejo, é uma realidade que surgirá a público no ano de 2017.

Será o livro que contará a história da minha família e o seu contributo para a sociedade portuguesa desde o ano de 1670!

Família essencialmemte de médicos e militares mas também de alguns homens de direito que, por junto, maravcaram aqui e ali a vida de portuguieses e até mesmo de Portugal.

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sexta-feira, 10 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17124: Notas de leitura (935): Autóctones guineenses e portugueses: Contactos sempre difíceis, dos primórdios à independência (Mário Beja Santos)

Ângulo da Fortaleza de Amura
Imagem retirada, com a devida vénia, do blogue Marinha de Guerra Portuguesa


Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Dezembro de 2015:

Queridos amigos,
A investigadora Maria Teresa Vásquez Rocha registou no seu trabalho alguns aspetos fundamentais que outros autores também confirmaram: a precariedade da ocupação do território, no fundo, e até às guerras da pacificação das primeiras décadas do século XX, a presença portuguesa circunscrevia-se a um conjunto de praças e presídios, eram inúmeros os conflitos com os régulos, a presença militar meramente simbólica, não se podia combater a concorrência que percorria livremente o que se chamava a Grande Senegâmbia; tropa mal remunerada e indisciplinada, mal equipada e insuscetível de poder sair das praças e presídios. Só no fim da primeira década do século XX é que o Governador Carlos Pereira mandou demolir as muralhas circundantes da fortaleza de Bissau, foram necessárias conversações morosas com os régulos de Bandim e Indim. Por último, a missionação não dispunha de recursos e o islamismo trazia para os autóctones aliciantes argumentos, era uma rutura menos drástica que o cristianismo pedia. É preciso atender a todos estes fatores para se perceber com a presença portuguesa que dava ao rei o título de Senhor da Guiné era uma quase quimera.

Um abraço do
Mário


Autóctones guineenses e portugueses: 
Contactos sempre difíceis, dos primórdios à independência

Beja Santos

A Revista Africana, que era editada pela Universidade Portucalense, no seu número de Setembro de 1997, publicava o artigo “Guiné: o gentio perante a presença portuguesa (II)”, por Maria Teresa Vásquez Rocha, trabalho que se inseria num projeto de investigação sobre o Islão na Guiné-Bissau, num arco temporal desde os primeiros contactos até à atualidade. A autora começa por dizer que a presença portuguesa deu sinais de crescimento a partir do século XVIII e ao longo do século XIX, expressando-se por relações comerciais, políticas e de caráter religioso. Este último aspeto prende-se com um dos maiores insucessos da missionação portuguesa que logo se viu confrontada com o proselitismo do Islão e a fortíssima e generalizada subsistência das crenças tradicionais africanas. Procurando descrever as Praças, e socorrendo-se de inúmera documentação que encontrou no Arquivo Histórico Ultramarino e que foi tratada em termos paleográficos, escreve claramente: “Uma vez que o apoio dado pela metrópole era reduzido ou nulo, as Praças e suas guarnições eram normalmente decadentes”.

Um dos aspetos singulares deste trabalho é exatamente a epistolografia que deixa bem claro quanto às queixas permanentes do abandono da Guiné. E muita dessa correspondência é endereçada ao governo em Cabo Verde, já que a Guiné apenas se autonomizou relativamente a Cabo Verde em 1879, até aí esteve dependente quase na totalidade de Cabo Verde em termos políticos, administrativos, militares e religiosos, como aliás António Carreira sintetizou admiravelmente: “As Ilhas eram o cérebro, o continente o corpo”.

Os estabelecimentos de Cacheu e Bissau tinham a caraterística particular de os titulares do poder local serem nomeados pelo rei, apesar de ficarem dependentes do governo de Cabo Verde.

O Capitão-Mor de Cacheu era provido nos cargos de Feitor e Juiz, subordinado ao Ouvidor de Santiago. Todo este excesso de acumulações se revelou prejudicial às praças, ao seu bom funcionamento. A documentação analisada permite avaliar casos repetidos de corrupção e grande negligência perante os interesses do Estado.

Para se avaliar como a Guiné era a parcela menor do governo de Cabo Verde, atenda-se ao significado da deliberação do Conselho de Estado, na sua reunião de 14 de Junho de 1653, determinado que os governadores de Cabo Verde visitassem pelo menos duas vezes o distrito da Guiné durante o seu triénio. Voltemos atrás à história das Praças. Em 1696 foi nomeado pela primeira vez um Capitão-Mor para a Praça de Bissau. As povoações de Geba, Farim e Ziguinchor tinham um comandante militar nomeado pelo governador de Cabo Verde. Era frequente enviar-se para estes presídios e praças soldados indisciplinados e punidos, antigos corrécios, que aproveitavam todos os pretextos para se insubordinarem, ou por falta do pagamento do pré, ou pelo fardamento estar desfeito e não ser substituído ou até mesmo por falta de armamento e munições.

No século XVIII, a soberania portuguesa é francamente precária e no século XIX a história da Guiné Portuguesa continua a mover-se à volta das povoações de Cacheu e Bissau, a soberania portuguesa fazia-se sentir apenas entre os rios de Casamansa e de Bolola.


Fortaleza de Cacheu
Imagem retirada, com a devida vénia, do blogue Alma de Viajante

Perante a penúria de meios e a mais completa desarticulação dos recursos, já desde o século XVII se ensaiavam formas de administração contemplando a criação de sociedades de caráter majestático. Em 1670, apareceu a primeira Companhia de Cacheu, com o exclusivo de navegação e comércio da Costa da Guiné. Resta dizer que tudo isto não passava de uma encenação, não havia meios de controlar as frequentes incursões dos concorrentes espanhóis, franceses e ingleses. Também nessa companhia majestática surgiram abusos e irregularidades, foi sol de pouca dura. A segunda Companhia de Cacheu, designada como Companhia de Cacheu e Cabo Verde, foi criada em 1690. À semelhança da primeira, gozava de uma série de benefícios e isenção de direitos. Mais abusos e irregularidades.

Em 1755, foi criada a Companhia do Grão-Pará e Maranhão, que passou a deter o monopólio do comércio das colónias de Cabo Verde e Guiné. Para além do recurso às companhias de caráter majestático, a colonização portuguesa foi levada a cabo por habitantes de Cabo Verde a quem foram concedidas facilidades no comércio a realizar na Guiné do Cabo Verde.

Observemos agora as Praças: viveram quase exclusivamente do comércio, o que quer dizer goma-arábica, cera, algodão, a par do ouro e dos escravos. Para a obtenção dos escravos, verifica-se uma enorme concorrência entre as potências europeias e aqui se pode perceber porque é que os régulos se sentiam muitas vezes lesados pelo facto dos portugueses venderem muitas vezes produtos de qualidade inferior por preços mais onerosos que a concorrência, e por isso batalhavam Para que aparecessem mais comerciantes, que houvesse maior liberdade de comércio, os religiosos também secundavam esta liberdade de comércio.

Estamos agora no fim do século XVIII, começa a questão de Bolama quando Philipe Beaver chega a Bolama à frente de bastantes famílias, vêm com o objetivo de se estabelecerem, Portugal não dispunha de capacidade militar para ripostar e os ingleses faziam contratos com os régulos de Canhambaque e Guínala. A presença religiosa, durante quase todo o século XVI, fora das fortalezas e feitorias, teve sempre caráter esporádico e provisório, havia as visitas dos frades de Santiago que regressavam depois às ilhas após alguns meses de pregação. Também os Jesuítas não foram bem-sucedidos. Os missionários viviam em extrema pobreza, não tinham meios para manter as igrejas. Ainda foram batizados alguns régulos, mas revelou-se trabalho inconsistente. Onde a missionação teve algum sucesso foi junto dos Grumetes, que eram empregados nos trabalhos auxiliares de porto e dos navios, a designação tornou-se extensiva a todos os naturais que, convertidos ao cristianismo, adaptassem normas e apelidos portugueses.

 O islamismo penetrou na Guiné trazido pelos Mandingas, a propagação da doutrina foi um processo lento mas duradouro, com algumas originalidades de aculturação. Mandingas, Fulas e Sossos foram as etnias mais islamizadas. O islamismo, quando comparado com o cristianismo, revelava-se menos exigente para o africano, o cristianismo obrigava a uma drástica rutura com princípio em crenças ancestrais, o islamismo foi sempre mais flexível. Isto para não deixar de referir a questão elementar da monogamia e da poligamia. No termo do seu trabalho, a autora descreve a importância das confrarias (a Qadiriya e a Tidjaniya eram as mais importantes). Os missionários supunham que a conversão do régulo se traduzia automaticamente na tradução do seu povo, não se apercebiam que os régulos eram nomeados pelos conselhos dos homens grandes e estes tinham uma maior influência que o régulo junto das populações.
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17109: Notas de leitura (934): “O Adeus Ao Império, 40 anos de descolonização portuguesa”, organização de Fernando Rosas, Mário Machaqueiro e Pedro Aires Oliveira, Nova Veja, 2015 (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14583: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (37): Sempre houve emigrantes europeus para África, agora dá-se o inverso

1. Texto enviado, em 4 do corrente,  pelo nosso amigo e camarada António Rosinha:


[Foto à esquerda,  Antº Rosinha, ex-fur mil em Angola, 1961/62, topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979/93, ex-colon e retornado, como ele gosta de dizer com a sabedoria, bonomia e o sentido de humor de um mais velho, ou seja, de quem tem vidas e estórias de vidas para contar]

Data: 4 de maio de 2015 às 23:36
Assunto: Sempre houve emigrantes europeus para África, agora dá-se o inverso


Um fula guineense dentro de um contentor no Pijiquiti...Foi um caso real, que se passou há 30 anos, 1985, um guineense que trabalhava na minha empresa [, TECNIL], entrou para dentro de um contentor no porto de Pijiquiti em  Bissau, juntamente com um primo,  e só passado quase um mês é que nos apareceu novamente no trabalho.

E contou-nos a aventura e o perigo que correu para emigrar clandestinamente.

Era fácil, pois o nosso trabalho era dentro do cais, e com ajuda de estivadores amigos, lá embarcou escondido no contentor num barco espanhol para Cadis, que era o destino final.

Só que se prepararam com alimentos e água para uma semana, mas com várias acostagens a viagem demorou muitos mais dias.

E ficaram sem alimentos e água alguns dias e foram retirados em muito mau estado de saúde de dentro contentor e não tiveram saúde nem cabeça para preparar uma fuga de dentro do porto de Cádis e ir para Portugal, que era a ideia deles.

Como entre a Espanha e a Guiné já havia uma grande tradição de clandestinos, principalmente com Canárias, já havia uma rotina de recâmbio entre os dois países, e foi só seguir a rotina diplomática

Emigra-se por aventura, para fugir à miséria, para fugir a perseguições políticas, para procurar fortuna, para jogar futebol, ou por prazer de viajar…para bem longe de tudo o que nos cerca.

Nós, portugueses,  e todos os europeus do sul e ingleses sempre emigrámos, principalmente para as Américas e África. E, em alguns casos,  não foi simples  emigração. Foram mais êxodos, evasões, invasões e ocupações coloniais, e em muitos casos não houve regresso.

Mas emigrar, para fugir à guerra e à fome,  é em parte o que se passa hoje, em sentido contrário de África para a Europa.

Quem tenha acompanhado de perto o que se passa nos diversos países africanos desde as suas independências há 4 ou 5 dezenas de anos, houve sempre uma emigração maciça para a Europa, principalmente para as suas antigas metrópoles.

Desde o simples povo até aos dirigentes e empresários africanos, aproveitaram todas as hipóteses para eles próprios ou parte de suas famílias, emigrarem, ou simplesmente afastarem-se das suas problemáticas pátrias.

Embora só recentemente a Europa se esteja preocupando com a afluência maciça de africanos ( e asiáticos) entrando clandestinamente na Europa, na realidade sempre existiu uma «atracção» irresistível dos jovens africanos pela Europa e há mais de 40 anos que existe um grande afluxo de clandestinos daqueles países africanos.

Só que a Europa até há pouco tempo não se queria «preocupar», com um problema cuja solução ultrapassa toda a sua capacidade. Para a Europa está a tornar-se um grave problema, principalmente por ser uma emigração clandestina, descontrolada e imprevisível.

Dizia o jovem guineense que sobreviveu no contentor espanhol, que falhou aquela tentativa, mas com a experiência que teve, isso iria permitir-lhe não falhar na próxima..

Há uma realidade africana tão complicada , que a Europa ajudou a criar com independências extemporâneas e mal estudadas, que os povos não as entendem, que para os jovens africanos até se poderão considerar úteis e capazes  na Europa, mas na sua terra consideram-se incapacitados e sem hipóteses de integração social, étnica e profissional.

Embora os políticos até convençam o povo que só com guerras é que a Europa se fez, e África também é natural guerrear-se, a desordem e a violência são demasiado grandes para os jovens não tentarem a «fuga» .

Parece que a Europa foi "abandonada"  pelos EUA e pela Rússia nesta solução que devia ser de todos, e a China ajuda pouco, antes deita umas achas para a fogueira.

Amigo Luís, com os meus cumprimentos e, se achares exagerado,,manda para o cesto.

Antº Rosinha



Guiné > Bissau > c. 1964 > O cais do Pidjiguiti visto do Fortaleza da Amura..  Foto do álbum de Durval Faria (ex-fur mil,  CCAÇ 274, Fulacunda, 1962/64), que vive na ilha de São Miguel, Açores.

Foto: © Durval Faria  (2011). Todos os direitos reservados.

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Nota do editor: