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terça-feira, 21 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19809: Convívios (895): Pessoal que passou pelo Enxalé, em 1965/67, reuniu-se na Ericeira, Mafra: CCAÇ 1439, Pel Mort 1028, Pel Caç Nat 52 e Pel Caç Nat 54. Organizador, o "Mafra", Manuel Calhandra Leitão. Alguns vieram de longe, como o Henrique Matos (Olhão) ou o João Crisóstomo (Nova Iorque, EUA)


Mafra > Ericeira > Restaurante Onda Mar > 18 de maio de 2019 > Encontro do pessoal da CCAÇ 1439, Pel Mort 1028, Pel Caç Nat 52 e Pel Caç Nat 54, que passou pelo Enxalé, Porto Gole e/ou Missirá, 1965/67 >   Da esquerda para a direita, dois homens da CCAÇ 1439: o ex-alf mil Sousa (V. N. Famalicão) e  o ex-fur mil Teixeira (Faro), mais o "Mafra" (Manuel Calhandra Leitão, também conhecido por "Ruço"), ex-1º cabo apontador do morteiro 81, Pel Mort 1028, o organizador do convívio.



Mafra > Ericeira > Restauarnte Onda Mar > 18 de maio de 2019 > Encontro do pessoal da CCAÇ 1439, Pel Mort 1028, Pel Caç Nat 52 e Pel Caç Nat 54, que passou pelo Enxalé, Porto Gole e/ou Missirá, 1965/67 > O Henrique Matos, 1º comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68). Veio de Olhão, onde vive há décadas, mas é açoriano da ilha de São Jorge. É um veterano da Tabanca Grande (desde 22 de junho de 2007, que se senta  à sombra do nosso poilão). Tem cerca de 70 referências no nosso blogue.  


Mafra > Ericeira > Restaurante Marisqueira OndaMar by Furnas > 18 de maio de 2019 > Encontro do pessoal da CCAÇ 1439, Pel Mort 1012, Pel Caç Nat 52 e Pel Caç Nat 54, que passou pelo Enxalé, 1965/67 >  A Maria Helena Carvalho, mais conhecida, carinhosamente, como a Lena do Enxalé, ou só Helena Carvalho, veio das Caldas da Rainha, com o marido, Alberto Carvalho. São dois amigos da Guiné  e membros da nossa Tabanca Grande, com cerca de duas dezenas de referências no nosso blogue. A Helena Carvalho era filha do falecido empresário Amadeu Abrantes Pereira, o Pereira do Enxalé, natural de Seia, proprietário de ums destilaria de cana de acúcar, no Enxalé. As instalações a a sua casa foram abandonados com o início da guerra, em 1962.



Mafra > Ericeira > Restaurante Marisqueira OndaMar by Furnas > 18 de maio de 2019 > Encontro do pessoal da CCAÇ 1439, Pel Mort 1012, Pel Caç Nat 52 e Pel Caç Nat 54, que passou pelo Enxalé, 1965/67 >  O crachá da CCAÇ 1439, que veio de Nova Iorque no casaco do dono, o João Crisóstomo.



Mafra > Ericeira > Restaurante Marisqueira OndaMar by Furnas > 18 de maio de 2019 > Encontro do pessoal da CCAÇ 1439, Pel Mort 1028, Pel Caç Nat 52 e Pel Caç Nat 54, que passou pelo Enxalé, 1965/67 > A neta do Teixeira, que veio de Faro com os avós. O avô paterno era 2º srgt art, do BAC 1, morreu na região de Tombali, em 1973 ou 1974, vítima de mina A/C, segundo bem percebi...Mostrou-me um excerto do "Correio da Manhã"... Mas não fixei o apelido...



Mafra > Ericeira > Restaurante Marisqueira OndaMar by Furnas > 18 de maio de 2019 > Encontro do pessoal da CCAÇ 1439, Pel Mort 1028, Pel Caç Nat 52 e Pel Caç Nat 54, que passou pelo Enxalé, 1965/67 > À esquerda, o Arlindo Alves da Costa, ex-fur mil, DFA, do Pel Caç Nat 54, e à  direita, o  João Vaz,  que foi prisionerio de guerra,em Conacri, libertado no decurso da Op Mar Verde, em 22 de novembro de 1970, vai fazer 50 anos para o ano.( Era fur mil do Pel Caç Nat 52.) Por sua vez, o Pel Caç Nat 54 era comandado pelo alf mil Marchand. A ele pertencia também o nosso grã-tabanqueiro, o algarvio José António Viegas, ex-fur mil.



Mafra > Ericeira > Restaurante Marisqueira OndaMar by Furnas > 18 de maio de 2019 > Encontro do pessoal da CCAÇ 1439, Pel Mort 1028, Pel Caç Nat 52 e Pel Caç Nat 54, que passou pelo Enxalé, 1965/67 > Profissionalismo, simpatia, bom marisco, boa relação qualidade-preço: 25 euros pro pessoa. Escolha acertada do "Mafra", a quem demos os parabéns.


Mafra > Ericeira > Restaurante Marisqueira OndaMar by Furnas > 18 de maio de 2019 > Encontro do pessoal da CCAÇ 1439, Pel Mort 1028, Pel Caç Nat 52 e Pel Caç Nat 54, que passou pelo Enxalé, 1965/67 > O topo da mesa, com o organizador à esquerda, o "Mafra", e à direita o Henrique Matos. Ao fundo, o João Vaz, que mora no Poceirão, Palmela.



Mafra > Ericeira > Restaurante Marisqueira OndaMar by Furnas > 18 de maio de 2019 > Encontro do pessoal da CCAÇ 1439, Pel Mort 1028, Pel Caç Nat 52 e Pel Caç Nat 54, que passou pelo Enxalé, 1965/67 > O ex-1º Cabo João Manuel Januário (DFA), com a esposa. O casal vive em Odivelas. O Januário é transmontano. Tive pena de não ter tido tempo para gravar, em vídeo, o seu "cancioneiro de Missirá", uma lengalenga poética com muitas expressões em crioulo. Deixou-me o nº de telemóvel. É um talentoso poeta popular.


Mafra > Ericeira > Restaurante Marisqueira OndaMar by Furnas > 18 de maio de 2019 > Encontro do pessoal da CCAÇ 1439, Pel Mort 1028, Pel Caç Nat 52 e Pel Caç Nat 54, que passou pelo Enxalé, 1965/67 > Um camarada do Pel Mort 1028, era municiador do morteiro 81. Veio do Cartaxo (ou de Almeirim ?) com o sobrinho, ao lado.



Mafra > Ericeira > Restaurante Marisqueira OndaMar by Furnas > 18 de maio de 2019 > Encontro do pessoal da CCAÇ 1439, Pel Mort 1028, Pel Caç Nat 52 e Pel Caç Nat 54, que passou pelo Enxalé, 1965/67 > Mais um camarada e a sua esposa. Lamentavelmente não fixei os nomes...


Mafra > Ericeira > Restaurante Marisqueira OndaMar by Furnas > 18 de maio de 2019 > Encontro do pessoal da CCAÇ 1439, Pel Mort 1028, Pel Caç Nat 52 e Pel Caç Nat 54, que passou pelo Enxalé, 1965/67 > O Álvaro Carvalho, que fez também a cobertura fotográfica do evento... E, como todos os fotrógrafos, raramente aparece nas fotografias...


Mafra > Ericeira > Restaurante Marisqueira OndaMar by Furnas > 18 de maio de 2019 > Encontro do pessoal da CCAÇ 1439, Pel Mort 1028, Pel Caç Nat 52 e Pel Caç Nat 54, que passou pelo Enxalé, 1965/67 > Um aspeto geral dos convivas, em sala reservada, e que não eram mais do que um quarteirão... 



Mafra > Ericeira > Restaurante Marisqueira OndaMar by Furnas > 18 de maio de 2019 > Encontro do pessoal da CCAÇ 1439, Pel Mort 1028, Pel Caç Nat 52 e Pel Caç Nat 54, que passou pelo Enxalé, 1965/67 > O João Crisóstomo, ao centro, falando com a arqueólogaa Mila [Simões de ] Abreu, e o seu companheiro, também arqueólogo, de origem sul-africana. Trabalham, ambos na Universidade de Trás-Os-Montes e Alto Douro (UTAD), em Vila Real. É uma amiga de longa data do João Crisóstomo, ambos participaram na campanha,  de1995, para salvar a arte ruprestre de Foz Coa. A Mila, especialista em arqueologia da chamada "pré-história", é uma mulher de causas, generosa, afetuosa e solidária... Como o João e a Vilma não podiam, desta vez, delsocar-se a Vila Real, foi ela e o seu companheiro que vieram à Ericeira para estar algumas horas com os seus amigos nova-iorquinos. Foi esta mulhar que há me disse, em Lisboa, na Sociedade de Geografia: "Portugal já devia ter condecorado este homem"... E eu acrescentei: "Já fez mais por Portugal do que muitos diplomatas de carreira"...Mas o Palácio de Belém conhece o seu nome, a sua pessoa e a sua obra como ativista social na diáspora lusitana...



Mafra > Ericeira > Restaurante Marisqueira OndaMar by Furnas > 18 de maio de 2019 > Encontro do pessoal da CCAÇ 1439, Pel Mort 1028, Pel Caç Nat 52 e Pel Caç Nat 54, que passou pelo Enxalé, 1965/67 >  A Mila, o João e a Vilma.



Mafra > Ericeira > Restaurante Marisqueira OndaMar by Furnas > 18 de maio de 2019 > Encontro do pessoal da CCAÇ 1439, Pel Mort 1028, Pel Caç Nat 52 e Pel Caç Nat 54, que passou pelo Enxalé, 1965/67 > À direita, a Felismina, a "patroa" do "Mafra", que o ajudou a organizar o encontro, juntamente com os filhos (um rapaz e uma rapariga). À esquerda, a Alice Carneiro.



Mafra > Ericeira > Restaurante Marisqueira OndaMar by Furnas > 18 de maio de 2019 > Encontro do pessoal da CCAÇ 1439, Pel Mort 1028, Pel Caç Nat 52 e Pel Caç Nat 54, que passou pelo Enxalé, 1965/67 > À direita, o filho do "Mafra", o  Pedro Leitão, que é informático, dono da empresa Skytrails Lda, com sede em Torres Vedras. . À esquerda, o sobrinho do organizador. 



Mafra > Ericeira > Restaurante Marisqueira OndaMar by Furnas > 18 de maio de 2019 > Encontro do pessoal da CCAÇ 1439, Pel Mort 1028, Pel Caç Nat 52 e Pel Caç Nat 54, que passou pelo Enxalé, 1965/67 > À conversa, à saída da marisqueira, o "Mafra", a Alice e a Mila

Já lá fui a casa dele, o "Mafra", há uns meses atrás. E sobre ele escrevi: "É um grande camarada que está a precisar do nosso carinho e apoio, numa fase de doença que ele felizmente está a superar com grande dignidade, determinação, lucidez e coragem. Tem uma exploração agrícola de 3 heactares, onde faz sobretudo limões, os famosos limões da zona de Sobreiro-Achada, Mafra."... E tem uma bela família!... Todos se envolveram, discretamente, na organização deste evento. 



Mafra > Ericeira > Restaurante Marisqueira OndaMar by Furnas > 18 de maio de 2019 > Encontro do pessoal da CCAÇ 1439, Pel Mort 1028, Pel Caç Nat 52 e Pel Caç Nat 54, que passou pelo Enxalé, 1965/67 >  O João Crisóstomo e o filho do "Mafra", o Pedro Leitão, que empresta "a caixa de correio eletrónico" ao pai... Também gostei muito de falar com ele e incentivei-o a gravar, em áudio e vídeo, as histórias de vida do pai, o nosso camarada "Mafra"... Obrigado, Manel Leitão, por me teres convidado, a mim e à Alice.


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. Em cima do joelho, e enquanto a Alice conduzia o carro da Lourinhã até à Ericeira, tive a oportunidade de escrever cinco  quadras em louvor dos bravos do Enxalé... Foram ditas, no fim do almoço, homenageando os presentes e os ausentes, com destaque para o Jorge Rosales, o régulo da Tabanca da Linha, que nos deixou há poucos meses, e que também frequentava estes convívios do pessoal do Enxalé, do seu tempo:



Os bravos do Enxalé,
Gente boa e porreira,
P'ra relembrar a Guiné,
Vieram à Ericeira.

Da América veio o João,
Das Caldas, a Helena,
De Mafra, o Leitão,
Quem não veio, fica com pena.

Andámos por Missirá,
Geba abaixo, Geba acima,
De Bambadinca a Bafatá,
Nenhuma terra, a da prima.

A juventude deixámos,
Por matos, rios, bolanhas,
Se com vida regressámos,
Foi por mil artes e manhas.

P'ró Rosales, com saudade,
E outros que nos deixaram,
Vai o preito da amizade,
Todos aqui os honraram.


Luís Graça 
(CCAÇ 12, Bambadinca, jul 69/mar 71)

_____________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 15 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19790: Convívios (894): eao

sexta-feira, 26 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19719: Notas de leitura (1172): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (3) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Fevereiro de 2019:

Queridos amigos,
Procura-se a sincronia com Santos Andrade, desta feita a recruta, seguir-se-á a especialidade, ele em Estremoz, como irá contar e cantar. Recruta é adaptação, a superação de temores, o primeiro degrau da camaradagem, as marchas, a carreira de tiro, a tática, a ideologia da contraguerrilha num conta-gotas, dada com a mais elementar superficialidade e indiferença. E a descoberta.
Falando por mim, já me confidenciei:
"O Tangomau maravilha-se. Acima de tudo com a ginástica, por andar, saltar, marchar, pular, até rastejar. Tem bom físico mas com aquelas aulas, aquelas marchas e caminhadas, o seu corpo está a ganhar vida, a ter mais músculo, até dorme melhor. Quando regressa do crosse da Ericeira, entra pela ala sul risonho ou bem-disposto, ganhou o dia, sente-se outro".
Em abono da verdade, sem aquela recruta, e sem a duríssima especialidade que se seguiu, não teria tido a preparação que me permitiu, meses a fio, aqueles passeios diários de 25 km entre Missirá e Mato de Cão, para cuidar da navegabilidade do Geba. Tudo ganhos da recruta, afianço-vos.

Um abraço do
Mário


Missão cumprida… e a que vamos cumprindo (3)

Beja Santos

“Missão Cumprida”, de Santos Andrade, é a história em verso do BCAV 490. Foi composto e impresso na Tipografia das Missões, Guiné Portuguesa, em julho de 1965. Idealizei a sua publicação em pequenas porções, a que se irão adicionando leituras colaterais e incidentais, sem esquecer o apelo permanente de propostas dentro da confraria, há imenso pasto para conversa de como se foi a caminho da recruta, como ela decorreu, a especialidade e a hora da mobilização, capítulo primeiro desse grande romance que foi a comissão de cada um de nós. A festa está centrada no BCAV 490, o Santos Andrade é o Homero desta Odisseia, mal o projeto foi esboçado bateu-se à porta do Armor Pires Mota, a pedir ajuda, divulgação junto dos seus pares, esta “Missão Cumprida” deve continuar, com eles a protagonizá-la, querendo.
E vamos continuar, Santos Andrade chegou a Mafra:

“Neste grande Convento
o sofrimento aumentava.
A minha sorte era o dinheiro
que minha mãe me mandava.

Havia quem me dissesse
que a tropa não era má,
mas só quem vem para cá
é que sabe o que acontece.
Muitas vezes se adoece
por causa do sofrimento.
Aqui neste aquartelamento
há sempre pouco comer.
Tenho muito que sofrer
neste grande Convento.

Dia a dia vou sofrendo.
A minha sina já está lida.
Dos martírios da minha vida
alguns eu vou escrevendo:
vão-me sempre acontecendo
coisas que eu não esperava.
Na especialidade eu pensava
que deixava de rastejar,
mas sendo grande o meu azar,
o sofrimento aumentava.

Gastava uma conta avantajada
porque a fome era tirana.
Chegava ao princípio da semana
começava a coboiada.
Comia muita linguiça assada
eu mais o meu companheiro,
porque a mãe do Torraneiro
mandava muita encomenda.
E p’ra comprar vinho na venda
a minha sorte era o dinheiro.

A sopa era ruim,
o segundo sabia-me mal.
Foram dois meses e tal
com esta vidinha assim.
Tudo isto para mim
eram coisas que eu não gramava.
Muitas vezes eu chegava
a comer só um bocado de pão
que comprava com o patacão
que a minha mãe me mandava.”

O Santos Andrade centra-se na comida, na verdade horrível. Permito-me falar do que experimentei, assim escrevi em “A Viagem do Tangomau”:
“O Tangomau não esquece que o refeitório onde jantou pela primeira vez no convento é um espaço amplo, um género de arrecadação exterior, muito próximo de garagens de viaturas, dar-lhe-ão uma sopa de manga de capote olorosa e altamente comestível, a seguir apareceram umas sardas a nadar em banhos de fritura como se trouxessem restos de carvão, e batatas cozidas, estas apetecíveis, por sinal. Por razões do pudor, preferiu nada trazer da caserna para comer à mesa. A sopa soube-lhe bem, o casqueiro era saboroso, recusou a sarda, esmagou as batatas, saboreou-as lentamente logo à primeira garfada. Cumpre dizer que em todas as refeições militares há sempre um vigilante, pois teme-se pela indisciplina ou pelo motim, que nestas coisas da tropa dá pelo nome de levantamento de rancho, uma suprema blasfémia. E nisto, comia o Tangomau placidamente as batatas esmagadas, sonhando já com um pedacinho de proteína lá no armário, de fumeiro ou em lata de conserva, quando se aproximou o oficial vigilante: ‘O nosso cadete não tirou sarda, tem de comer, isto não é casa para gente caprichosa, aqui a gente da tropa come de tudo e não refila. Ó nosso soldado, traga cá a bandeja, ponha dois pedaços de sarda no prato do nosso cadete, regue as batatas com óleo!’. O nosso cadete ainda olhou súplice para o nosso soldado em funções de criado de mesa, este dispunha do seu poder soberano que era ver o nosso cadete massacrado, de antemão agoniado, espetou-lhe com duas metades de sarda no prato, ambas com a cabeça calcinada, e ter-lhe-á dito ao ouvido: ‘o nosso cadete coma tudo, só deixe as espinhas, o nosso tenente se ficar zangado participa de si, adeus ao fim de semana!’. E comeu tudo, com o estômago revoltado, até foi ao bar dos cadetes emborcar um bagaço (aguardente chamada 1920)”.
Este Tangomau não esqueceu a caserna, daqui se parte e aqui se chega neste mundo das novas lides que metem a parada, a Tapada ou o Corredor Lacouture:
“Nesta antecâmara, aproveita-se o tempo disponível para dormir ou cabecear, ou chalacear, quem não conhecia a habitação coletiva já se resignou a tanta gente nua, ou semivestida, às sonoridades outrora íntimas, ali é espaço para desabafos, brincadeiras, anedotas pícaras, até tertúlias”.

Vamos agora regressar a “O Pé na Paisagem”, por Filipe Leandro Martins, uma referência à carreira de tiro:
“Na carreira de tiro, quando abriram os cunhetes carregados de balas brilhantes, fez-se silêncio. Agachados no chão enchemos carregadores, os cartuchos a resvalarem nos dedos suados e no metal oleado. A barulheira começou, os tiros a partirem assobiando, os espertos a acertarem, os nabos a errarem, os monitores a ensinarem aos encontrões à malta, as cápsulas saltando a ferver da câmara.
Ficámos surdos e felizes. Já tínhamos coisas importantes para contar. Durante algumas semanas muitos de nós esqueceram que teriam preferido nunca pôr as botas no quartel”.
E ainda um outro dado sobre a recruta, da mesma obra de Filipe Leandro Martins:
“Nos primeiros quinze dias da recruta, também em filas mansas nos mandaram sentar numa sala estreita, um corredor, meio nus e pacíficos, em compridos bancos de pau; esperávamos que nos fossem espetando agulhas nas omoplatas; quando o enfermeiro chegava ao fim do banco ainda o ajudante começava a exprimir a seringa, a dose de cavalo, no primeiro ombro. Depois o enfermeiro passava novamente, arrancando fora as agulhas e alguns rapazes iam rolando para o chão e outros punham-se verdes, tentando aguentar-se nas canetas. Era assim.”

Também o Tangomau tem um desabafo a fazer sobre a carreira de tiro, não é uma visão das armas, era do que ali se oferecia a comer, conta as suas impressões passadas umas semanas da recruta, escreveu assim:
“O Tangomau anda enfiado, é essa a verdade, começaram a desmontar as armas, a dar nome às peças, ao fim de pouco tempo estava baralhado com o cão e o percutor, a corrediça, o rolete de travamento, a haste do gatilho, o alojamento do amortecedor. O mundo das armas arrepia o Tangomau, é evidente que se percebe a função do tapa-chamas, mas depois é aquele horror das cavilhas, a culatra, suportes, eixos, até a chapa do coice. Limpar a arma é uma questão de higiene e segurança, requer paciência, depois há sempre um camarada prestável que dá as indicações necessárias. O Tangomau familiarizou-se com o meio, é muito próprio dele, gosta do som dos carrilhões, passeia-se pelos corredores, está a chegar o verão e empolga-se com as folhas verdes de todo o arvoredo da ala sul. Até pediu licença para entrar onde trabalham os encadernadores e olhou demoradamente a construção das lombadas em carneira, depois debruadas a ouro.
O horrível, a tal ponto que inesquecível, são aqueles caldeiros que esperam os cadetes na carreira de tiro ou nos dias de marchas. O Tangomau nunca será acreditado por quem não esteve em Mafra que houve arroz, naquele segundo curso de 1967, que vinha com patas e cabeças de galinha com bicos e olhos, foi caso extremo mas aconteceu e repetiu-se”.

(continua)
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Notas do editor

Poste anterior de19 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19697: Notas de leitura (1170): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (2) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de22 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19706: Notas de leitura (1171): Um luso-cabo-verdiano que amou desmedidamente a Guiné (2) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18812: (Ex)citações (340): Histórias de vida, a propósito do "ventre da guerra" (Luís Graça / António Ramalho)




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 2006 > "Laranjada Convento / Mafra / Marca registada"... Restos arqueológicos de uma guerra... e que hoje figuram no Núcleo Museológico Memória de Guiledje, carinhosamente criado pelo nosso saudoso amigo Pepito (1949-2012). Na imagem pode ler-se: "Composição: Sumo - Popa e óleo de laranja - Açúcar granulado - Água esterelizada / Corado artificialmente / Fabricado por Francisco Alves & Filho Lda / Venda do Pinheiro"... 

Houve muita gente, na Metrópole, a ganhar dinheiro com a guerra, a começar pelos industriais do sector agroalimentar... Ainda conheci o sr. Evaristo Alves e um dos filhos, Mário, descendentes do fundador da empresa Francisco Alves & Filhos Lda, quando trabalhei na administração fiscal em Mafra, em 1973... Constava que o sucesso do Francisco Alves, no negócio dos refrigerante, tinha começado no tempo da guerra civil de Espanha (1936-1939)...

Na Guiné (como de  resto nos outros Teatros Operacionais), o "ventre da guerra" obrigava, por seu teu turno, a uma tremenda logística... Quantos camaradas nossos não terão morrido ou sofrido para que esta garrafa de laranjada Convento chegasse a Guileje ?

Fotos (e legenda): © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018). Todos os direitos reservados

1. Mensagem de António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71), alentejano de Vila de Fernando, Elvas:

Data: 28 de junho de 2018 às 19:09

Caro Luís Graça, boa tarde.

Agradecido pela publicação das fotos e memórias da nossa guerra por terras de África.(*)

Achei interessante a réplica ao texto sobre as sobras das nossas refeições, para nós não eram "restos"!

Pela parte que nos toca,  achámos sempre uma acção interessante até porque os nossos cozinheiros ensinaram aos miúdos algumas tarefas na cozinha, além de começarem a habituar-se a comer com colher, faca e garfo.

Há uma pequena imprecisão no texto sobre a laranjada Convento (**), se algum camarada da Venda do Pinheiro o ler verá que o  jantar foi com o senhor Evaristo Alves (filho de Francisco Alves, o fundador da empresa ) e seu filho Mário, este felizmente ainda vivo, fará 84 anos em Julho (, neto portanto do fundador).

Foi dia de festa quando nos anos 80 foi adquirido o primeiro semi-reboque para transporte da Laranjina C, esteve em exposição na fábrica, uma autêntica romaria!...

Vivi dez anos na Venda do Pinheiro, naquele tempo era um lugar da freguesia do Milharado, cocnelho de Mafra, e hoje é freguesia.

Foi uma família que me acolheu assim como a maioria dos habitantes duma forma extraordinária, ainda hoje mantenho essa amizade e convívios.

Era um lugar lindíssimo com pinhais recheados de vivendas com habitantes dos mais variados extractos sociais, culturais, artísticos e empresariais

Logo ao lado tínhamos a Malveira onde às 5ª feiras degustávamos um belo cozido à portuguesa, além de outras "iguarias"!

Tudo isto nada tem a ver com o nosso blogue, é só para te situar e sustentar aquela pequena imprecisão.

Aguardo com toda a ansiedade um almocinho para esta zona, oxalá a minha agenda o permita e tu possas estar presente, ou ou o blogue pára  nas férias?

Um grande abraço,

António Ramalho

2. Resposta do editor LG:

Obrigado, António, pelo esclarecimento e pela autorização para publicar... Sim,  Evaristo e não Francisco Alves, OK, tomei  boa nota... O Francisco foi o fundador da empresa, o Evaristo o filho e o Mário o neto...

Troquei os nomes ao escrever:

"Ainda conheci o Sr. Francisco Alves e um dos seus filhos, quando trabalhei na administração fiscal em Mafra, em dezembro de 1973, num 'jantar de Natal' que ele ofereceu ao 'pessoal das Finanças', como era da tradição: foi na fábrica, em Venda o Pinheiro, tudo muito bem 'regado', eu, que era 'novato' no ofício e na repartição, não me lembro de ter bebido 'produtos da casa'... Constava que o seu sucesso, nos negócios, tinha começado no tempo da guerra de Espanha (1936-1939)... Uma das marcas famosas da firma era a Laranjinha C, cuja história, ao que parece, remontava já a 1926, ano da fundação da empresa Francisco Alves e Filhos, na Venda do Pinheiro, e em que o empresário Francisco Alves começou a produzir pirolitos, a par de outros refrigerantes".

Possivelmente, em 1973, o fundador da empresa, Francisco Alves,  já não seria vivo, e portanto o jantar foi-nos oferecido pelo sr. Evaristo Alves e o seu sucessor, o Mário Alves... Devo acrescentar que, depois desse jantar de Natal, nunca mais os vi, mas eram uma família hospitaleira e simpática... Nunca lhes fiz favores nem recebi benesses ... Liquidava-lhes o imposto de circulação, que já era uma pipa de massa... Eu estive uns meses em Mafra, de resto apanhei lá o 25 de abril...Trabalhava no "convento", na Repartição de Finanças... Aliás, estive 15 anos no Ministério das Finanças, 10 anos em Lisboa, acabei a minha carreira como técnico superior do elitista Centro de Estudos Fiscais, a "nata" dos fiscalistas... Depois acabei por enveredar por outra carreira, o ensino superior... numa instituição que só passou a integrar a universidade, a NOVA, em 1994... 

António, todos temos uma "história de vida", para uns mais curta, para outros mais comprida. Somos uma geração que andou em bolandas e apanhou todas as mudanças e todas as crises (políticas, militares, demográficas, sociais, económicas, culturais, mentais...) a começar pela maldita guerra (, que me tirou, sem exagero, dez anos de vida, no mínimo, aliás, nos tirou a todos...). Mas isso são contas de outro rosário... Não nos vitimizemos. Ninguém escolhe a data e o local de nascimento e muito menos os progenitores... E eu não gosto de me vitimizar nem de ver os nossos camaradas a armarem-se em coitadinhos... É uma pecha nacional. (***)

Fica bem, um abraço, Luís


3. Resposta do António Ranalho, com data de 28 de junho p.p.:

Caro Luís,  boa noite.

Se assim o entenderes publica, a tua vontade é soberana.

A minha passagem pela DGCI  [, Direção-Greal das Contribuições e Impostos,] em 67/68 também foi interessante mas efémera! Iniciei o meu percurso na Covilhã com cerca de 250 fábricas de lanifícios, em todo o concelho, era obra, processos de Contribuição  Industrial à mão!

Fui para a Direcção de Finanças da Guarda, um paraíso,  com a Direcção Escolar ao lado! Terminei na Mealhada por causa de uma marotice que até hoje não consigo entender: vim a Lisboa ao Liceu Camões prestar provas, entreguei-a 15/20 minutos antes do tempo e regressei à Mealhada. Sai a lista no "Diário do Governo" e o meu nome não constava, o meu Chefe entra em pânico e liga para Aveiro, Aveiro liga para Lisboa,  e sabes qual foi a resposta?

A prova extraviou-se, venha no próximo concurso! 

Tinha direito a férias, voltei-lhe as costas, até hoje, e assim perderam um "distinto" elemento!

Mais tarde vim encontrar alguns ex-colegas espalhados em diversas repartições, um deles foi Director em Lisboa, é a vida!

Caro Luís, somos a geração que somos, foram experiências que também nos enriqueceram, amadureceram-nos, ainda estávamos na árvore, contudo devemos pôr-nos sempre do lado positivo da vida! (***)

Uma boa noite. Um forte abraço.

António Fernando Rouqueiro Ramalho

_______________

Notas do editor;

(*) Vd. poste de 25 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18779: O segredo de... (31): António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71)... O senhor alferes que estava mesmo a pedir... uns abatises, à hora do almoço, no cruzamento da estrada Bula / Binar / Pete

(**) Vd. poste de 25 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18777: Fotos à procura de...uma legenda (106): "As sobras do rancho da tropa"... e as latas de conservas, "made in Portugal", que as crianças levavam à cabeça (Valdemar Queiroz / Museu de Portimão / Virgílio Teixeira)

(***) Último poste da série > 3 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18805: (Ex)citações (339): "Hoje sentimo-nos bem connosco, por termos ajudado a minorar o sofrimento dos feridos e doentes, que nos foram confiados. Em nós ficou o sentimento de um dever cumprido" (Maria Arminda Santos, capitão, enfermeira paraquedista, ref)

sábado, 2 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18704: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXXIII: Como se faz um alferes miliciano do Serviço de Administração Militar (I)


Foto nº 9 > – Nas instalações da EPAM [, Escola Prática de Administração Militar], no Lumiar, em Lisboa: o meu último dia de Cadete... No dia seguinte seria promovido a aspirantes miliciano com divisas na diagonal, e direito a continência. Estava vestido com a farda nº 1 daquela época. Fins de Junho de 67.


Foto nº 10 > A minha foto tirada para o Bilhete de Identidade Militar, já como alferes miliciano, uns dias antes de embarcar para a Guiné. Porto, Setembro de 1967.

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Virgílio Teixeira (*), ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem 56 referências no nosso blogue.

GUINÉ 1967 /69 1967/69  > ÁLBUM DE TEMAS >  T001 – SERVIÇO MILITAR OBRIGATÓRIO  > CURSO DE OFICIAIS MILICIANOS  (COM)  > EPI | MAFRA; EPAM | LUMIAR, LISBOA  - Parte I


Virgílio Teixeira, hoje
(i) Como cheguei a Alferes Miliciano SAM (Serviço de Administração Militar)

Este devia ser o primeiro tema da minha participação no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, isto é, a incorporação militar, a instrução básica, o juramento de bandeira, a especialidade, a promoção a aspirante miliciano, os Estágios, a mobilização e a integração no Batalhão de Caçadores 1933 em Santa Margarida.

Mas,  como não foi, vai agora e ainda com tempo, pois tenho inesgotáveis temas para participar, não falando da vida ‘pós serviço militar’ que não é para aqui chamada.

Assim:

Com os meus 18 anos, isto é,  em 1961,  vou dar os chamados ‘sinais’ na minha Junta de Freguesia de Paranhos,  no Porto. Neste ano,  e na altura dos sinais, já tinha rebentado a guerra em Angola – a 4 de Fevereiro (em Luanda) e  a 15 de Março de 1961 (no noroeste),  com a ‘matança’ dos inocentes. 

O meu irmão mais velho – um ano e meio de diferença  - estava já na Índia há mais de um ano, pois a rebelião tinha também começado, em Dadra e Nagar Aveli, com os "satiagrás" a fazer o mesmo papel que futuramente coube aos nossos terroristas na nossa guerra de África. 

O meu pai já lá tinha estado na Índia, entre 1955 e 1958, no início da rebelião, por isso estou muito familiarizado com estas guerras todas. Nesse ano, em 18 de Dezembro de 1961, a União Indiana invadiu os territórios do Estado Português da Índia – Goa, Damão e Diu -, e fez prisioneiros os militares que lá estavam a cumprir o serviço, entre eles o meu irmão, sargento Rádio Montador. 

Esteve cinco meses em cativeiro no campo de concentração de Pondá, e curiosamente li aqui um artigo sobre este tema, e ele esteve a dois passos da relatada tentativa de fuzilamento de uma quantidade enorme de militares, por causa de uma fuga abortada de alguns, e depois um padre capelão veio salvar tudo [, Joaquim Ferreira da Silva, jesuita,d e Santo Tirso], temos na memória de estarem todos perfilados, e os "shiks" com as metralhadoras apontadas à espera da ordem de disparar. 

Tudo acabou em bem, tendo o meu irmão e restantes prisioneiros sido libertados em Maio de 1962, quando a guerra em Angola já estava em força com os primeiros contingentes militares a embarcar para lá. 

O espectro de vir a fazer o serviço militar como soldado tomou conta de mim. Tinha de dar a volta a isto.  Quando fui dar os 'sinais', isto é, em Junho de 1961, tive de dar as habilitações literárias. Apesar de estar a frequentar um curso comercial à noite, já no 4º ano, ainda não o tinha completado, pelo que o diploma que tinha para apresentar era apenas o da 4ª classe, nada mais.

Em 1962 começam a aparecer os primeiros mortos, militares, e dá-se um volte-face na minha vida. Como já conhecia o que era ser militar, pois passava alguns tempos nos quartéis onde o meu pai prestava serviço, e em especial a vida de um soldado, passou-me um clique pela cabeça, ‘eu tinha de ir fazer a tropa como oficial miliciano’... Era outra coisa, e ganhava mais. Eu já trabalhava de dia e estudava à noite. Não tinha muito tempo, mas imaginei, fiz as contas e atirei-me de cabeça.

Em poucos meses tinha de fazer um exame de admissão ao Instituto Comercial do Porto, pois tinha sido lançada uma experiência no ensino, com um curso de 2 anos, que daria equivalência ao 7º ano do Liceu, habilitação  mínima para ser admitido no COM.

Mas,  para esse exame, tinha de ter o 2º ano dos liceus, que nunca frequentei, pois quando acabei a primária, fui logo trabalhar, e aos 14 anos inscrevi-me no curso comercial, mas à noite, as matérias eram diferentes, e muito pouco sabia, pois a escola comercial tinha um curriculum escolar muito diferente dos liceus. 

Então preparo-me sozinho para esse exame do 2º ano liceal na época normal, e ao mesmo tempo começo em força a estudar tudo o que era do 5º ano, para fazer a admissão ao Instituto,  na 2ª época de Setembro de 1962.

Não sabia uma única palavra de Inglês, não sabia Física, nem Química, nem Ciências, nem Desenho, tinha umas noções de Português, Francês, Geografia, História e pouco mais. Uma senhora minha vizinha, ex-professora de Letras, oferece-se para me dar explicações de Inglês e aproveitei também para receber umas de Português, e não pagava nada, nem podia pagar.

Faltava-me a Matemática, o que eu sabia da escola comercial era cálculo comercial e aritmética, mas nada de Álgebra, Geometria e coisas dessas do liceu. Um amigo, que já frequentava a faculdade de economia, prontificou-se a dar-me umas explicações de Matemática num café ali para os lados do Campo Lindo, onde ele morava. Em pouco tempo consegui ‘perceber’ a matemática, e já não tinha problemas com isso, já sabia tudo até ao 5º ano.

As lições de Inglês e Português continuavam a bom ritmo e também absorvi rápido, porque era individual e intensivo, ao fim da tarde e fins de semana.  Veio a época de fazer o exame do 2º ano em Junho de 1962, e lá fui, tive algumas dificuldades em Desenho, pois nunca tinha feito ou estudado nada sobre desenho.

Mas safei-me e passei no exame do 2º ano liceal. Com esse diploma já me vou inscrever no exame de admissão ao Instituto Comercial. Ainda tinha uns dois meses e meio até lá, ia fazer na época de Setembro.

Mas o meu trabalho continuava, os horários mantinham-se por isso a alternativa era fazer verdadeiras maratonas e muitas directas com alguns, mas poucos que me acompanharam mas acabaram de desistir, não aguentaram este ‘ritmo’ alucinante. Estudava só nos cafés, com predominância do Café Cenáculo, inaugurado em 11 de Novembro de 1961. Era a minha sala de aulas e explicações, ficava sempre até fechar, já depois das 2 horas da manhã.

Na época de Setembro de 1962, faço o exame de admissão, e fico espantado comigo mesmo, pois tirei média acima de 14 valores, o que me dava acesso imediato á matrícula, sem fazer exames orais, que para mim era uma praga, não gostava nada.

Assim já tenho o 5º ano do Liceu, já podia ir para o Curso de Sargentos Milicianos (CSM)  Mas havia um preço a pagar, tive um esgotamento cerebral, não dormia, tinha de tomar comprimidos para não dormir e estudar até esgotar, todos os sítios e minutos eram para estudar, não comia muito bem, e perdi muito peso, fiquei esgotado, e comecei a tomar comprimidos de ‘ferro’ pela primeira vez.

Com 19 anos, em Outubro de 1962 inscrevo-me no Instituto, no 1º ano do ‘curso de acesso ao ensino superior’, era assim que se chamava. Só frequentava as aulas fora dos horários de trabalho, isto é das 8 às 10, e depois das 18 horas da tarde.

Era o curso da noite, sem rodeios nem vergonhas, era assim e ponto final. Tinha de competir com aqueles que tiveram um ciclo normal, com idades 2 a 3 anos mais novos, e todo o tempo do mundo para estudar. Comigo também entraram mais uns tantos, todos também com idades de adulto, para os cursos da noite, mas os exames eram feitos ao mesmo tempo dos de dia, não havia distinções nenhumas, nem benesses.

E aos 20 anos, em meados de 1963, vou à primeira inspecção militar, ali para os lados das Taipas,  na Cordoaria,  no Porto, onde existia um quartel velho. Ainda estava a frequentar o 1º ano do Instituto, ou seja o equivalente ao 6º ano do liceu.

Como pesava apenas uns 43 kg, os médicos acharam por bem mandar-me para casa e engordar um pouco mais. Fiquei adiado um ano. Foi-me dado logo o primeiro número de identificação militar – NIM – 00439364. Os dois últimos dígitos significam e ano previsto da minha incorporação – 1964 – o que não veio a acontecer.

Não sei porque fui adiado, mas hoje imagino que a tropa nessa altura não tinha muita gente letrada, para sargentos e oficiais milicianos, e eu tinha uma grande vantagem competitiva, frequentava um curso da área comercial, cujo objectivo era o curso de Economia, e tinha já nessa altura, em 1963, quase 9 anos de trabalho regular dentro da mesma área do curso que frequentava, uma área administrativa. E pessoal para servir como operacionais não faltava, era preciso quadros e técnicos, e havia aqui uma possibilidade comigo, penso eu agora, sem saber nada do que se passou.

Voltei no ano de 1964, novamente em meados desse ano e,  como estava mais ou menos na mesma, já não havia direito a mais um adiamento, por isso sou considerado ‘apto’ para toda o serviço militar e mantive o mesmo NIM, que viria a ser alterado.

Nesta época já estava praticamente feito o 7º ano, por isso já pertencia à próxima incorporação de Janeiro de 1965, para o Curso de Oficiais Milicianos (COM).

Acabei o Instituto também com média superior a 14 valores e assim entro directamente para a Universidade, sem precisar de exame de admissão, a que todos estavam sujeitos se não tivessem essa média do 7º ano.

Em Setembro de 1964 inscrevi-me no 1º ano do curso de Economia da Faculdade de Economia da Universidade do Porto. Um feito que sempre o considerei épico, para pessoas vindas da minha classe social, uma vez que nunca nasci num berço de ouro.

E o trabalho tem de continuar, pois é preciso pagar os estudos, e isso é tudo por minha conta, também é verdade que ganhava bem, acima da média, pois já exercia funções importantes nas empresas, apesar da pouca idade e habilitações básicas.

Novamente dou início a um novo curso, agora um curso superior, nas velhas instalações da Faculdade de Economia, na Praça dos Leões,  no Porto, em duas salas emprestadas pela Faculdade de Ciências, a Economia era um curso novo no Porto.

Mas não ia, ou ia muito raramente às aulas teóricas, porque eram em horário laboral, e eu estava matriculado como aluno ‘extraordinário’, que significava,  em termos mais práticos, alunos da noite, ou alunos de... segunda categoria.

Tinha aulas práticas obrigatórias das 8 às 10 da manhã, e depois da 6 horas da tarde. Os exames e provas correntes eram todas em conjunto, não havia distinções. Foi muito difícil, como também já havia sido no anterior Instituto Comercial, a cabeça estava cansada, tomava muitos comprimidos para as dores de cabeça – ainda me lembro do Optalidon, entretanto retirado do mercado. Passei a usar óculos devido ao cansaço da vista, mas lá fui por diante.

Conheci muita gente que mais tarde viria a ocupar os cargos mais importantes na administração e no Estado. Não vou mencionar ninguém porque não é importante agora. Não ganhei amizades nem confiança com esta gente, pois mal nos encontrávamos, só por mero acaso, nas aulas práticas para todos.

Entretanto já estava apurado, e pensei noutra possibilidade, já que aqui estou, com 21 anos em 1964, estou no 1º ano, mais 5 anos faço o curso, e em 1970, com 26 anos, estou a tempo de ir para a tropa, e se assim pensei assim executei. Pedi adiamento na incorporação do próximo ano de 1965, o ano normal da minha incorporação.

Faço o primeiro e segundo ano do curso, e já estamos em Setembro de 1966.  Mas surgem imprevistos, já conhecia a minha namorada, a estava perdido por ela, e com vontade de casar, e neste andar só com 30 anos lá chegaria e era tarde demais para mim, para ela não tanto, que tinha menos 5 anos, ainda ia a tempo com 25 anos.

E, afinal,  para quê?

Nunca tinha pensado chegar tão longe, havia outros, muitos outros problemas, isto que contei não foi assim tão fácil, na vida nada foi fácil para mim, eu tive de subir a pulso, nunca recebi nada de ninguém, nunca herdei um tostão até o dia de hoje. Mas,  como estas coisas, estas ‘histórias’ andam a percorrer as redes sociais, eu não queria adiantar muito mais, toda a gente tem acesso a estes conteúdos, e não quero, e muito menos a minha mulher que não gosta mesmo nada de redes sociais, mas tudo está já escrito no meu livro ‘não editado’ “A Minha Vida” (, está fechado a 7 chaves).

Assim,  num laivo de mais uma loucura das minhas, vou a Lisboa ao Ministério da Defesa Nacional, informando que queria desistir dos adiamentos, isto por volta de Novembro a Dezembro de 1966, e queria ser incorporada na próxima molhada.

E ainda avisei que, se não fosse feita a minha vontade, poderia até desertar. Não levaram a sério, senão metiam-me na gaiola. Assim ainda antes do Natal de 1966 já estou a receber a Guia de Marcha para Mafra, no dia 3 de Janeiro de 1967, teria de me apresentar pela 8 horas da manhã.

Ia fazer nesse mês os meus 24 anos, e nessa altura era uma idade ainda muito jovem, não se sabia de nada daquilo que os meus netos hoje sabem. Os tempos mudaram.

Um amigo meu com quem fiz algumas incursões pelo país, à boleia, de capa e batina, ele frequentava Direito em Coimbra, só viria a ir para a tropa muito mais tarde, e estava na Guiné no QG – no serviço de Justiça -, já era juiz de Direito, e com 31 anos estava lá no tal dia do golpe de estado do 25A4, e eu já estava casado e com 3 filhos menores. Este meu amigo é hoje ainda Juiz Conselheiro na Relação de Lisboa.

Em termos de comparação, os tempos em que os meus filhos estudaram, as mordomias que tiveram, os cursos superiores que frequentaram, os carros que tiveram para irem para as suas universidades, isto era tudo pago do meu bolso, não havia ajudas do Estado, também diga-se que nessa altura não me custava assim muito, pois trabalhava muito e ganhava bem.

Mas a vida dos meus netos, comparada com a minha e da minha mulher, é a noite do dia, não há termo de comparação, não é só com os meus, foi tudo com a maioria dos filhos da revolução. O país e o mundo mudaram muito nestes últimos 50 anos.

Quis exprimir isto para se ver até que ponto a força de vontade leva tudo à frente, não tive ajudas familiares, bem pelo contrário, acho que nunca acreditaram no que eu seria capaz de fazer, nem mais tarde reconheceram até onde cheguei. São coisas pessoais que estão encravadas na garganta como espinhas, por isso passemos à frente.

Fui para a tropa tirar o curso de oficiais milicianos porque fixei este objectivo que tinha de alcançar, não desisti nunca, não havia espaço temporal para nada, a não ser estudar e fazer exames. Devorava livros e Sebentas, decorei tudo, e agora a minha memória vai-me atraiçoando.

Gostava que em devido tempo, a minha família, pais, irmãos, conjugues, tivessem reconhecido esta façanha, mas não. Acho que ficou a inveja, e sei do que falo.

É desta forma que começa assim a minha saga, a vida militar, que viria a alterar por completo a minha forma de ser, de pensar, de agir, a irritabilidade e agressividade fáceis, importar-me apenas comigo e da minha nova família, a superproteção que imponho a mim próprio, a minha incapacidade de poder ver as consequências dos meus actos, devido ao excesso de fármacos que vou tomando diariamente até hoje, seguindo a minha própria automedicação.

Não vou continuar, ficamos por aqui e vou fazer os meus comentários às poucas fotos que tenho da minha vida militar até chegar à Guiné, e como nunca tive uma máquina fotográfica, estas fotos devem ter sido fornecidas pelos fotógrafos que acompanhavam a tropa e ganhavam a sua vida com este trabalho.

(Continua) 
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Nota do editor:

segunda-feira, 26 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18461: Tabanca Grande (458): António Joaquim Alves, natural da Malveira, Mafra, a viver no Carregado, Alenquer: ex-sold at cav, CCAV 8351, "Os Tigres de Cumbijã", destacado no COMBIS, Bissau, 1972/74... Senta-se à sombra do nosso poilão no lugar n.º 767


António Joaquim Alves (nascido na Malveira, Mafra, em 1951; residente em Alenquer).

Foto (e legenda): © Manuel Resende (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Ex-sold António Joaquim Alves: mobilizado pela CPM 88251/74, acabou por ficar no COMBIS, Bissau.

Foto (e legenda): ©  António Joaquim Alves (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Cascais > Carcavelos > Junqueiro > Hotel Riviera > Magnífica Tabanca da Linha > 32.º almoço-convívio > 20 de julho de 2017 > O António Joaquim Alves, que veio do Carregado, Alenquer, com a família; a filha e os netos. Da nossa base de dados, já constava que pertencera à CCAV 8351 Tigres de Cumbijã (Cumbijã, 1972/74, companhia que foi comandada pelo cap mil  cav Vasco da Gama, membro da nossa Tabanca Grande, natural de Buarcos, Figueira da Foz). É também amigo do J. Casimiro Carvalho, régulo da Tabanca da Maia.

Foto (e legenda): © Manuel Resende (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mensagem do nosso amigo e camarada Manuel Resende, régulo adjunto da Tabanca Grande:

Data: 24 de março de 2018 às 15:12

Assunto: Inscrições

Caro Luís, falei agora com o Alves (que esteve contigo, à conversa, no nosso 36.º  convívio) e confirmou-me que:


(ii) e quer ir ao convívio da Tabanca Grande,  5 de Maio em Monte Real.

Os elementos pessoais são os seguintes:

Nome: António Joaquim Alves, ex-sold atirador de cavalaria.

Nascimento: 10 de Junho de 1951

Naturalidade: Malveira, concelho de Mafra

Residência: Carregado, Alenquer

Telefone: (...)

Endereço de email: (...)

Companhia: CCAV 8351, 1972/74;  mas esteve sempre no COMBIS (Comando Operacional de Bissau). Em Estremoz teve um acidente, pelo que não pôde acompanhar a sua unidade. Seguiu mais tarde de avião para Bissau, sendo colocado no COMBIS em rendição individual.

Junto as duas fotos da praxe.

Amigo Luís, isto vai só para ti e para ele.
Agradeço que depois da inscrição no blog, ele seja inscrito para o Convívio.

Abraço amigo,
Manuel Resende

(Elemento fornecido pelo José Martins, nosso colaborador permanente)

2. Comentário do editor Luís Graça:

Já sabia, por conversa com o António Joaquim Alves, no penúltimo encontro da Tabanca da Linha, que o nosso camarada tinha sido um amigo leal e solidário do comandante Pombo... "Morreu-me nos braços", confidenciou-me ele. A amizade vem do tempo do COMBIS, em Bissau. E acompanhou-o no final de vida, depois do seu regresso do Brasil.  Tem histórias (ora divertidas ora tristes) do comandante Pombo [, José Luís Pombo Rodrigues], para um dia contar no blogue da Tabanca Grande.

Pareceu-me um camarada são e honesto, mas de olho vivo e com um grande coração. ("Sou um saloio da Malveira", diz ele).

Passa a figurar na lista dos membros da nossa Tabanca Grande, sentando-se sob o nosso poilão com o n.º 767. Obrigado ao "padrinho" Manuel Resende.  E, para o António Joaquim Alves, vai um grande "alfabravo" de toda a Tabanca Grande.

Fica também, desde já, inscrito no XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande, a realizar em 5 de maio de 2018, em Monte Real.
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Nota do editor:

Último poste da série >  22 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18238: Tabanca Grande (457): Manuel Cibrão Guimarães, ex-fur mil, CCAÇ 1620 (Cameconde, Sangonhá, Cachil, Cacine, Cacoca, Gadamael, 1966/68)... Senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 766.

domingo, 16 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17586 Tabanca Grande (441): António Abrantes: foi cadete em Mafra, em julho de 1961, com o Manuel Alegre, Arnaldo de Matos e outros, sendo o Ramalho Eanes tenente; foi alferes mil, CCAÇ 423 (São João e Tite, 1963/65); senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 748.


Foto nº 1 



Foto nº 2 


Foto nº 3 


Foto nº 4


1. Mensagens, de 8 do corrente,  do novo grã-tabanqueiro, António Abrantes, que se vai sentar à sombra do nosso poilão, nº lugar nº 748. Foi alf mil inf, CCAÇ 423 (São João e Tite, 1963/65) (*)

Camaradas:

Só agora reparei que não enviei certos dados necessários:

(i) Fui Alferes Miliciano de Infantaria, especialidade de Armas Pesadas e,  como era dos que tinham melhor classificação e dada a especialidade,  não seria mobilizado.

(ii) Estava a dar instrução de Morteiros, em Viseu, quando a mês e meio de acabar o tempo normal fui mobilizado e para uma Companhia de Cacadores !

(iii) A minha Compannhia, a CCac 423, foi a ultima a ir por terra para o Sul da Guiné ,saindo de Bissau, Nhacra, Mansoa, Mansaba, Bafatá, Xitole, Aldeia Formosa, Buba, onde pernoitamos, Fulacunda, Brandão, Nova Sintra e, dada impossibilidade de chegarmos a S João, desvio para Tite para ao outro dia irmos até ao Enxudé (Porto de Tite ) onde embarcamos numa draga (a Geba) para,  numa viagem atribuladam  passarmos ao lado de Bissau e já no canal de Bolama nos aproximarmos do Continente, e com água pela cinta desembarcamos em S João . 

(iv) Como o IN não contavam  aqui não houve tirosM esses, os tiros começaram com uma emboscada no célebre "cruzamento de Buba" e acompanharam - nos várias vezes até Nova Sintra;

(v) De São João  vim evacuado para o HMP em Lisboa , tendo regressado a Guiné e ficado, como era o alferes com mais antiguidade, coocado na 4ª  Rep  do QG como Adjunto do Chefe de Transportes.

(vi) como curiosidade a minha medalha das campanhas da Guiné (felizmente sem ser herói) é a única que tem na legenda "Guiné 63-64-65-66-67". 

Um Grande Abraço a todos os Camaradas.


2. Nova mensagem do nosso novo membro da Tabanca Grande:

Pedias-me alguns dados meus: 

(i) estou reformado,  dada a provecta idade;

(ii) fui apanhado na Universidade e enfiado em Mafra, na EPI, em 31 de Julho de 1961;

(iii) no curso de oficiais milicianos (COM),  éramos, como eu costumo dizer (na paródia), "eu, o Manuel Alegre, o Arnaldo Matos (MRPP) e mais 493":

(iv) o general Eanes era lá tenente;

(v) depois de passar à disponibilidade,  arranjei emprego ligado a produtos farmacêuticos e acabei a licenciatura como estudante- trabalhador...

Um grande abraço a todos os camaradas, coma esperança de também poder ficar a sombra do poilão da Tabanca Grande.

Nota: Tenho poucas fotografias mas a seu tempo mandarei mais algumas (se me for permitido) bem como algumas "estórias" passadas na Guiné.

Aqui vão as legendas:

Foto do  aspiarnte a oficial miliciano .Antonio Manuel de N. R. Abrantes , pouco antes de embarcar [Foto nº 2]

Foto tirada em Tomar, vê-se parte do meu pelotão, com o malogrado Furriel Hércules Arcádio de Sousa Lobo, da 3ª secção (ainda cabo miliciano) [Foro nº 2] 

Foto tirada em Bissau, a única que possuo com qualidade razoável [Foto nº 3]

Toto  mais recente [Foto nº 4]

3. Comentário do nosso editor LG ao poste P17552 (**):

Caro camarada António:

É uma honra ter, no blogue da Tabanca Grande, um representante dos bravos da CCAÇ 423. Até agora, não havia ninguém que representasse condignamente esta subunidade.

Não leves a mal que a gente se trate por tu, à boa maneira romana: afinal fomos e continuamos a ser camaradas de armas, no sentido forte do termo.

Fica desde já, o convite para te sentares à sombra do nosso poilão. Temos um lugar livre, o nº 748... Só precisamos, de acordo com os nossos regulamentos, de duas fotos tuas, uma dos heróicos tempos de Quínara e outra atual... E dois parágrafos de apresentação: já sabemos quem foste, pode-nos dizer quem és hoje, onde vives, o que fazes... Estás, por certo, reformado mas não "arrumado": precisamos de ti para cobrir esse ano de 1963, e os seguintes... Há falta de documentação fotográfica, de testemunhas, de histórias, etc.

Posso continuar a contar contigo ?

O precioso "comentário" que me mandaste sobre a maldita mina ou fornilho do dia 3/7/1963 (há 54 anos!) foi transformada em poste, como podes ver aqui.

Tens o meu email ou do Carlos Vinhal, para nos contactar, de futuro.
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 30 de junho de  2017 > Guiné 61/74 - P17527: Tabanca Grande (440): Alfredo Roque Gameiro Martins Barata (1938-2017), ex-alf mil médico, CCAÇ 675 (Binta e Guidaje, 1964/66), nosso grã-tabanqueiro nº 747... Mais um camarada que não queremos que fique na vala comum do esquecimento

(**) Vd. poste d e29 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17522: (De) Caras (88): O fur mil inf Hércules Arcádio de Sousa Lobo, natural da ilha do Sal, Cabo Verde, foi gravemente ferido pelo primeiro fornilho acionado no CTIG, às 9h00 do dia 3 de julho de 1963, na estrada São João-Fulacunda, vindo a morrer no HMP, em Lisboa, no dia 16, devido às graves queimaduras. Eu era o comandante da coluna (António Manuel de Nazareth Rodrigues Abrantes, ex-alf mi inf, CCAÇ 423, São João e Tite, 1963/65)

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17085: Blogpoesia (495): "Bendita a sorte de viver..."; "Outra vez..." e "Em breve...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Tapada Municipal de Mafra


1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros durante a semana ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Bendita a sorte de viver… 

Se, no mundo, reinasse a paz e a harmonia, 
Como seria bom viver. 
Mas não. 

Cada vez mais. 
Novas formas de espezinhar. 
Torturar. 
Escravizar iguais para se sentir maior. 

Não há valores. Não há limites. 
Ninguém está imune. 
A esta invasão fatal. 

Ó enfermidade!... 

Só o poder de Deus a poderá curar… 

Berlim, 23 de Fevereiro de 2017 
9h05m 
Jlmg 

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Outra vez... 

Outra vez Mulhouse,
a caminho do sul.
Onde o sol é rei
e o mar é mar.

Onde a serra é branda
A terra é verde
e azul o céu.

Ali eu me entendo
porque sou da casa.
O cantinho de chão
que meus pés conhecem.

Se é bom partir,
muito melhor chegar...

Mulhouse, Ibis, 24 de Fevereiro de 2017 
19h41m
Jlmg

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Em breve...

Irei partir...
Deixar Berlim.
Até minha casa,
Vila de Mafra.

Foram três meses
De vida intensa.
Ao pé dos filhos,
À beira dos netos.

Agora, é vez do mar.
Mar da Ericeira.
De ondas azuis.
Meus passeios soltos,
Por aqueles campos e vales,
Na seara de Oeste.
Onde a terra baila,
Em ondas de paz.

E os cavalos da Mata!...
Os meus vizinhos leais.
Já perguntaram por mim...
Nunca mais apareci à janela,
Pelas manhãs.

Ali devem andar,
Comendo da palha,
Daquele cesto gigante.

Que a tropa lhe dá...
E, depois, têm a erva
Que vai verdejando.
Naquele prado vedado.
À prova de bala.

Vou ver Sintra,
Luzindo ao sol,
Bordada de nuvens.
O Palácio da Pena...
Que um louco ergueu...
Na crista dum monte,
Onde só os pardais...

Minha terra bendita....
O meu Portugal...
Agora infeliz!...

Ouvindo Lang Lang, tocando Chopin, no Chile
“Bar dos motocas”, arredores de Berlim, 19 de Fevereiro de 2014
11h6m
Joaquim Luís Mendes Gomes
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17060: Blogpoesia (494): "Sol envergonhado..."; "O manjar das ostras..." e "Galeria dos apaixonados...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728