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sábado, 28 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5367: Controvérsias (57): Os Oficiais do Quadro Permanente Não Fugiram à Guerra (Carlos Silva, CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, 1969/71)


1. Comentário do nosso amigo e camarada Carlos Silva ao Poste P5303 - O Direito ao bom nome (*) O Carlos Silva foi Fur Mil Inf, e pertenceu ao CCaç 2548/BCaç 2879 (Jumbembem, 1969/71) É autor da melhor pãgina, na Net sobre o sector de Farim >  Guiné 63/74, por Carlos Silva.

Amigos:

1 - Como decorre da intervenção do Sr Coronel Vasco Lourenço (*), [apesar de termos uma relação pessoal desde há 40 anos, nunca o tratei por tu e não é agora no âmbito do blogue que o vou fazer], a mesma prende-se essencialmente com a questão do livro Elites Miitares e a Guerra de África, de Manuel Godinho Rebocho [ Roma Ed., Lisboa, 2009, Colecção Guerra Colonial, nº 8]  .

Bem como, presumo, com alguns comentários ao Post 5275 em relação à sua pessoa.

2 – Tal como diz o LG em comentário a este Poste: Outra das nossas regras básicas de convívio, nesta caserna virtual, é que nenhum de nós faz (ou deve fazer) juízos de valor (e muito menos de intenção) sobre o comportamento (operacional e pessoal) dos seus camaradas da Guiné. Este blogue não foi criado para fazer ajustes com ninguém, nem sequer com a História.

Assim, deveria ser, mas tal não aconteceu e atente-se nos ditos comentários, o que desvirtua os princípios básicos estabelecidos no Blogue, o que é de lamentar. Pois todo cidadão tem o direito de liberdade de expressão, mas tal direito não constitui um direito absoluto, ao ponto de lesar os direitos ao bom nome, à dignidade e honra de uma pessoa. Uma coisa foi os bocados menos bons que passámos naqueles anos idos anos de 60 e outra coisa é ofender os invocados direitos.

3 – E, quer se aceite ao não, sejam ou não abrilistas, porque também têm o direito de o não ser, o Sr Cor Vasco Lourenço, o qual não necessita de apresentações, foi um dos que lutou, como é público e notório, para que hoje se possa ter a garantia do direito de liberdade de expressão, consagrado constitucionalmente.

4 - Dito isto, quanto ao outro aspecto que presumo esteja relacionado, não só, mas essencialmente com a polémica estabelecida com a tese de doutoramento sobre a A Formação das Elites Militares em Portugal de 1900 a 1975, em que "o autor sustenta que os oficiais do quadro permanente fugiram da guerra, a qual se aguentou devido aos oficiais milicianos e aos sargentos do quadro permanente”.]... (Vd. os dois micro-vídeos da apresentação do livro, pelo seu autor, em Lisboa, dia 17 do corrente](**)

Sobre isto já me pronunciei em comentário ao  Poste 5275 (***)

5 – Contudo, apesar de não ter ainda lido o livro [do Manuel Rebocho], e uma vez que sou referenciado na intervenção do Sr Cor Vasco Lourenço (*), sempre direi no que se refere à afirmação acima, com todo o devido respeito pelo Autor, mesmo que a citada afirmação esteja fora do contexto dum estudo global do livro/tese/livro, como o Autor mencionou no dia da sua apresentação, estou em total desarcordo com ele, porquanto,

6 – Tive a honra de ser comandado por um ilustre Capitão do QP, originário da Academia Militar, 1º classificado do seu curso. Cor Luís Fernando da Fonseca Sobral, um jovem, tal como nós, talvez mais 2 anos, que tinha a seu cargo o Comando da Companhia e que em termos operacionais era dos primeiros a encabeçar, quer a Companhia, quer a nível de grupo de combate por ele criado, atacar o IN na sua toca, ir ao encontro do IN. Daí, a nossa CCaç 2548 ser a única Unidade em toda a História da guerra da Guiné, que não sofreu durante a sua comissão qualquer ataque ao Aquartelamento do Subsector de Jumbembem.

7 - Assim aconteceu com a CCaç 2549, Comandada pelo Sr Cor Vasco Lourenço, então ex-Capitão, que sempre acompanhara os seus homens, aliás, as nossas Unidades chegaram a operar em conjunto.

8 – Também não posso deixar de recordar e invocar aqui o excelente Comandante de Batalhão, hoje Maj Gen Agostinho Ferreira, então Ten-Coronel, que connosco alinhava para o “mato”, e como se costuma dizer: era um homem com os T… no sítio.

9 – Donde, este meu testemunho pessoal, porque com eles calcorreei as terras “o mato” do Sector de Farim, é a prova, provada,  que estes Oficiais do QP originários da Escola do Exército e da Academia, não fugiram à guerra tal, como afirma o Autor,  Manuel Rebocho


10 – Aliás, os factos e feitos do nosso glorioso BCaç 2879, podem ser analisados em parte neste Bolgue, quer no meu site: http://www.carlosilva-guine.com/

11 – Quando o nosso Camarada Manuel Rebocho, pisou terras da Guiné, já nós tínhamos deixado lá bem marcada a nossa posição, além de várias baixas provocadas ao IN, fizeram-se capturas relevantes de material, incluindo na participação do maior “Ronco” da História da Guerra Colonial e das Guerras da África Ocidental, que foram só 24 toneladas de material, em que também participaram os nossos camaradas pára-quedistas.

12 – Face ao exposto e ao que tenho escrito no Blogue, no meu Site e ao que tenho lido sobre a guerra na Guiné, que serviu de base para o estudo do nosso Camarada Manuel Rebocho, com todo o devido respeito, estou em total desacordo nesta sua análise.

OS NOSSOS OFICIAIS NÃO FUGIRAM À GUERRA

13 – Também já li o Documento do Sr Cor Morais da Silva que corrobora de forma brilhante o que atrás é afirmado, apesar de ter de confrontar ainda com a Tese relativamente a outros aspectos.

14 – Poderá haver e haverá com certeza outras questões subjacentes de ordem política, militar, social etc, que conduziram à diminuição de frequência de alunos na Academia Militar e consequentemente à diminuição do número de oficiais do QP, mas isso é outra questão que merece com certeza um estudo profundo.

E esta a minha a opinião que aqui deixo com um abraço amigo

Carlos Silva

___________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 20 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5303: O direito ao bom nome (1): Vasco Lourenço, ex-Cap Inf da CCAÇ 2549/BCAÇ 2879 (Cuntima e Farim, 1969/71)

(**) Vd. vídeos em You TUBE > Nhabijoes >

Elites Militares e a Guerra de África, de Manuel Godinho Rebocho (Parte II) (9' 57'')

Elites Militares e a Guerra de África, de Manuel Godinho Rebocho (Parte III) (3' 46'')

(***) Vd. poste de 15 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5275: Controvérsias (53): Polémica M. Rebocho / V.Lourenço: Por mor da verdade e respeito por TODOS os camaradas (A. Graça de Abreu)

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5343: Bibliografia (31): Lançamento do livro de Manuel Rebocho, na ADFA, Lisboa, 17/11/09: Foto-reportagem

ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas > Lisboa > Av Padre Cruz > 17 de Novembro de 2009 > 18h > Lançamento do livro de Manuel Godinho Rebocho, Elites Militares e a Guerra de África (Lisboa, Editora Roma, Colecção Guerra Colonial, nº 8, 2009, 486 pp, c. 18 €). Além do autor, estiveram presentes também familiares e amigos, com destaque para a sua esposa Maria Jacinta e seus filhos Cláudia Leonor e Nuno Miguel. O livro é dedicado pelo autor "aos que, na Guerra de África, deram de si à Pátria e a Pátria nada lhes deu". Há, para já, dois vídeos com a II e a última partes da apresentação do livro, feita pelo seu autor nesta sessão. Vd. a nossa conta no You Tube> Nhabijoes. O Manuel Rebocho é actualmente empresário na Guiné-Bissau, no sector das pescas.

ADFA > Lisboa > 17 de Novembro de 2009 > Apresentação do livro: na mesa, da esquerda para a direita, o Dr. Manuel Joaquim Branco, o autor, Doutor Manuel Godinho Rebocho, o José Arruda, a Prof Doutora Maria José Stock, da Universidade de Évora (e orientadora da tese de doutoramento em sociologia do nosso camarada Manuel Rebocho, discutida e aprovada em provas públicas, na Universidade de Évora, em 2005) e, na ponta direita, o editor Dr. José Vicente (Editora Roma)

O presidente da Direcção Nacional da ADFA, José Eduardo Gaspar Arruda, antigo combatente no TO de Moçambique, e que tive o prazer de conhecer pessoalmente nesta ocasião, tendo-lhe apresentado as saudações de toda a nossa Tabanca Grande. O Arruda convidou-me, por sua vez, para comparecer na festa dos 35 anos do jornal ELO, na segunda-feira seguinte, dia 20 (Por razões da minha vida profissional, não pude infelizmente lá estar, nesse dia e hora).

A Prof Doutora Maria José Stock, da Universidade de Évora, que fez a apreciação da obra do ponto de vista teórico-metodológico.

Ao Dr. Manuel Joaquim Branco, antigo combatente em Moçambique, e dirigente da ADFA (delegação de Évora), coube a segunda e última apresentação da obra. O ex-Alferes Miliciano e deficiente das Forças Armadas, é licenciado e mestre em História. Assina o prefácio do livro.

O editor, Dr. José Vicente (Roma Editora) à direita, que também falou, no início, do livro e da colecção "Guerra Colonial" (com este, são oito títulos publicados sobre este tópico)

O Cor Armando Ramos (Exército), sócio da ADFA, segundo creio, antigo camarada da Academia Militar do Miguel Pessoa (são do mesmo curso e reencontraram-se nesta ocasião)... O Armando Ramos fez uma defesa, emocionada, da obra, num curto período de perguntas e respostas que acabou por ser concedido à audiência, maioritariamente constituída por sócios da ADFA. O Ministro da Defesa Nacional (se não estou em erro) fez-se representar por um dos seus assessores, oficial da Marinha.

Um antigo combatente que faz trabalho volunário da ADFA, o Orlando Pineda, membro da nossa Tabanca Grande (fez anos a 15 deste mês), aqui fotografado com o Miguel Pessoa (um dos pouco antigos oficiais formados na Academia Militar, e combatentes da guerra colonial, presentes nesta sessão de lançamento de uma obra considerada por muitos deles como "polémica", no mínimo)

Dignos representantes da nossa Tabanca Grande: da esquerda para a direita, Miguel Pessoa, José Casimiro Carvalho, Eduardo Campos, Jorge Cabral, José Martins e Belmiro Sardinha... Outros camaradas presentes, que me recordo de ter visto: Carlos Silva e António Dâmaso (BCP 12, além da Giselda Pessoa.


As antigas enfermeiras pára-quedistas Gidelda Pessoa e Zulmira André, em conversa com o Miguel Pessoa. Convidei a Zulmira a integrar o nosso blogue e escrever histórias da guerra colonial na Guiné, a seis mãos (com a colaboração da nossa Giselda e do nosso Miguel).

Fotos e legendas: © Luís Graça (2009). Direitos reservados

O livro do Manuel Godinho Rebocho (de que farei oportunamente uma recensão crítica, quando tiver tempo e vagar) tem um título algo enganador... A tese original de doutoramento - discutida e apresentada em provas públicas na Universidade de Évora, em 2005, com arguição do Prof Doutor Adriano Moreira (ISCSP/UTL), e aprovada por unanimidade pelo júri -, chama-se A Formação das Elites Militares em Portugal de 1900 a 1975. Possivelmente por sugestão do editor e dos seus serviços de marketing, o livro passou a ter uma título mais comercial, enquadrando-se melhor na coleção "Guerra Colonial", da Roma Editora (Lisboa). Aqui fica, para já a estrutura do livro, através dos seus principais capítulos e páginas. O Capítulo dedicado à guerra colonial, o III, tem cerca de 150 páginas, um terço do total.

Nota autor, prefácio e introdução (pp. 17-43)
I. Enquadramento da investigação (pp. 45-86)
II. A formação base das elites militares (pp. 87-219)
III. A guerra de África e o desempenho das elites militares (pp. 220- 374)
IV. Comportamento das elites militares no pós-marcelismo (pp. 375-439)
V. Conclusões (pp. 440-462).

As páginas finais incluem pósfácio/depoimentos, fontes e bibliografia, índice dos diagramas, mapas, quadros e anexos. Entre os três depoimentos publicados enontra-se o nosso camarada de tertúlia José Pereira Casimiro Carvalho (ex-Fur Mil Op Esp, CCAV 8350 - Piratas de Guileje, 1972/74). De entre as fotografias que ilustram o livro há várias dos nossos camaradas Albano Costa e J. Casimiro Carvalho.
__________

Nota de L.G.:

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5303: O direito ao bom nome (1): Vasco Lourenço, ex-Cap Inf da CCAÇ 2549/BCAÇ 2879 (Cuntima e Farim, 1969/71)

Capa do livro No Regresso Vinham Todos, de Vasco Lourenço, originalmente publicado pela Editorial Notícias, Lisboa, 1978.

1. Mensagem de Vasco Correia Lourenço, Cor Inf Ref (ex-Cap Inf, CCAÇ 2549,Cuntima e Farim, Julho de 1969/Junho de 1971), com data de 17 de Novembro

Caro Luis Graça,

Junto uma carta para si, que confio publique no seu blogue, acompanhada por um estudo do cor Morais da Silva.

Dou conhecimento desta carta ao dr Carlos Silva, combatente na Guiné na CCaç 2548 do meu batalhão, o BCaç 2879.

Cordiais saudações. Vasco Lourenço


Caro Luís Graça

As referências que me são feitas no seu blogue, enquanto ex-combatente na Guiné (*), obrigam-me a escrever-lhe, na esperança de que trate esta carta da mesma maneira que trata as que lhe são enviadas por outros ex-combatentes também na Guiné.

Não pretendo entrar em polémicas, não pretendo ofender ninguém, apenas quero esclarecer um pouco da minha posição.

Tomei conhecimento da existência da tese de Manuel Rebocho, através do chefe do EME (actual CEMGFA) [General Valença Pinto], que me sugeriu uma forte reacção.

Ao ver o tipo de tratamento de que era alvo, na referida tese, decidi que “para esse peditório já dera o suficiente”. Com efeito, tratava-se de um episódio da “guerra” entre mim e o general Spínola, analisada de forma muito incompleta, com conclusões aberrantes, face à estória verídica do que efectivamente se passara.

Algum tempo depois, sou surpreendido com um convite para assistir à defesa da tese na Universidade de Évora.

Contactei, então, o próprio sargento Manuel Rebocho, a quem manifestei a minha estranheza pelo convite, dado o que escrevera sobre mim, sem me ouvir. Como lhe referi, enviei essa carta aos membros do júri, a quem manifestei a opinião de que “me não ouvira, talvez porque tem a noção da malévola deturpação que faz do que se passou na Guiné”.

O referido sargento-mor considerou-se ofendido por aquela frase e fez queixa de mim. O promotor público não acompanhou a queixa, não houve acusação, por não haver matéria que justificasse a mesma, pelo que o juiz determinou o seu arquivamento.

Inconformado com essa atitude, Manuel Rebocho deduziu acusação particular no Tribunal de Évora, desacompanhado do procurador da República, ao mesmo tempo que requeria uma indemnização cível.

Conseguiu o que pretendia e eu tive de me sentar no banco dos réus. O julgamento fez-se, fui totalmente absolvido e o queixoso condenado a suportar todas as despesas judiciais. Uma vez mais inconformado, apresentou recurso, que ainda corre termos.

Confesso que tive vontade de ser eu, agora, a apresentar uma queixa pelo crime de difamação, requerendo a competente indemnização. Decidi não o fazer, ainda, tudo dependendo do evoluir da situação.

Quanto à natureza da tese, agora apresentada em livro, remeto-lhe em anexo um estudo sobre a mesma da autoria do coronel António Carlos Morais da Silva. Por mim, não perco mais tempo, por agora, com o assunto.

No que se refere à minha acção na Guiné, no comando da CCaç 2549, do BCaç 2879, procuro esclarecê-la no livro “Do Interior da Revolução”, para além do que já fora publicado em “No regresso vinham todos” (o único livro que conheço que terá sido escrito durante a Guerra, sendo, que eu saiba, a única “história de unidade”, escrita daquela maneira) (**).

Não me compete a mim analisar a minha acção. Para isso, podem ouvir-se os homens que comandei, ou os homens do resto do BCaç. O que aliás pode ser visto no blogue do mesmo, da responsabilidade do ex-furriel Carlos Silva da CCaç 2548 (que, penso, estará em ligação com o vosso blogue) (***).

Caro Luís Graça,

Espero e confio que compreenda estes esclarecimentos.

Fui para a guerra, sendo oficial do QP, convencido que estava a cumprir o meu dever de cidadão. Fi-la o melhor que pude, com a enorme preocupação de, sem abdicar dos princípios, tentar não perder nenhum dos homens que comandava.

O decorrer da guerra ajudou-me a “abrir os olhos” para a realidade portuguesa. Tenho muito orgulho da maneira como me comportei, como tenho muito orgulho da minha acção, no seguimento dos ensinamentos aí obtidos.

Com 67 anos, ao olhar para trás, tenho a presunção de ter uma vida de que me posso orgulhar. Certamente com alguns erros, pois não tenho a veleidade de não errar e não ter dúvidas.

Mas, com um saldo que – presunção e água benta… – considero francamente positivo.

Quero continuar a poder olhar para o espelho, sem me envergonhar. Por isso, vou tentar não me desviar dos princípios morais e éticos que me têm norteado até aqui.

Não ia, portanto, permitir a quem quer que seja – e o sargento-mor Manuel Rebocho não está isolado nessa pretensão – que me insulte de ânimo leve.

Por muita vaidade que possa transparecer, afirmo que o meu passado fala por mim. Daí esta carta.

Cordiais saudações

Vasco Lourenço

2. Comentário de L.G.:

Todos os camaradas da Guiné, com ou sem visibilidade pública, têm antes de mais o direito ao bom nome... (Daí, de resto, esta nova série que inauguramos hoje). É umas regras básicas do nosso blogue. Esse direito implica, naturalmente, o direito de resposta sempre o que o bom nome é posto em causa (Publicaremos todas as respostas, desde que redigidas dentro do espírito de elevação e de cultura democrática que nos caracteriza).

Outra das nossas regras básicas de convívio, nesta caserna virtual, é que nenhum de nós faz (ou deve fazer) juízos de valor (e muito menos de intenção) sobre o comportamento (operacional e pessoal) dos seus camaradas da Guiné. Este blogue não foi criado para fazer ajustes com ninguém, nem sequer com a História.

Agradeço ao Vasco Lourenço os esclarecimentos que entendeu dar-nos. A sua mensagem chegou-nos no dia em que foi apresentado ao público o livro do Manuel Rebocho que é membro do nosso blogue e camarada da Guiné, livro de que faremos oportunamente uma recensão crítica. O facto do Vasco não ser membro do nosso blogue não o impede de nele ver publicados ulteriores esclarecimentos que queira fazer sobre a sua actuação como comandante da CCAÇ 2549 ou outros aspectos da sua comissão serviço na região de Farim.

Como eu costumo lembrar, aqui o nosso maior denominador comum é o facto de termos sido combatentes na Guiné, durante a guerra colonial. De resto, o nosso core business é esse, é partilhar histórias, memórias e até afectos.

Sendo seu contemporâneo da Guiné (pertenci à CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, Maio de 1969/Março de 1971), fico naturalmente triste de o ver envolvido num processo judicial com outro camarada, por questões de "bom nome"... Espero que o bom senso, a honradez, o patriotismo e o melhor dos valores militares (que nos foram incutidos no Exército, na Marinha e na Força Aérea) acabem por se sobrepor a um conflito pessoal que, infelizmente, veio parar à praça pública. Um Alfa Bravo. Luís Graça

PS - Quanto ao documento do Morais da Silva, antigo professor da Academia Militar, e nosso contemporâneo na Guiné, o próprio já mo tinha feito chegar, a meu pedido, à minha caixa de correio, gentilmente, em "versão amigável" (formato doc). Ainda não o li (trata-se de uma apreciação, em 22 páginas, da tese de doutoramento do Manuel Godinho Rebocho) mas fá-lo-ei em breve, com todo o gosto, avaliando aquilo que for considerado pertinente e útil para a informação e o conhecimento dos membros do Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné.
______________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 15 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5275: Controvérsias (53): Polémica M. Rebocho / V.Lourenço: Por mor da verdade e respeito por TODOS os camaradas (A. Graça de Abreu)

(**) Vd. poste de 23 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2207: Tugas - Quem é quem (1): Vasco Lourenço, comandante da CCAÇ 2549 (1969/71) e capitão de Abril

(***) 21 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4718: Efemérides (19): Em 20 de Julho de 1969, eu estava no Uíge em pleno oceano, a caminho de Farim... (Carlos Silva, BCAÇ 2879)

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5243: Controvérsias (51): Elites militares, estratégia e... tropas especiais (L. Graça / A. Mendes / M. Rebocho / S. Nogueira)

BCP 12 (Bissalanca, 1972/74) > " Caboiana, uma zona muito temida da região de Teixeira Pinto. Um momento de grande alívio quando os hélis nos iam buscar".

BCP 12 (Bíssalanca, 1972/74) > "Frente ao Hospital Militar de Bissau. Sentado no chão, em primeiro plano, o Furriel Ragageles, o homem que capturou o capitão cubano Peralta".

[O capitão Pedro Rodriguez Peralta, capitão do Exército Cubano, de 32 anos, instrutor ao serviço do PAIGC, foi gravemente ferido a 18 de Novembro de 1969, no corredor de Guileje, junto à fronteira com a Guiné-Conacri, no decurso da Op Jove, conduzida por forças pára-quedistas do BCP 12 e destinada a capturar o próprio 'Nino' Vieira. Enviado para Lisboa, foi devidamente tratado no Hospital Militar Principal. Foi julgado emTribunal Militar e condenado em 2 anos e 2 meses de prisão. Depois do 25 de Abril de 1974, o capitão Peralta foi libertado, em troca, ao que parece, por um agente da CIA, preso em Havana.] (LG)

BCP 12 (Bissalanca, 1972/74) > "À direita o Manuel Rebocho e à esquerda o Furriel Palma, ambos da 123" (*)

Fotos e legendas © Manuel Peredo (2008). Direitos reservados.





Título: Elites militares e a guerra de África
Autor: Manuel Godinho Rebocho (**)
Editora: Roma
Local: Lisboa
Ano: 2009
Preço: 18 €

Sinopse: "Esta obra de Manuel Godinho Rebocho, no âmbito da sociologia militar, aborda, de forma detalhada, temas como a formação base das elites militares, a guerra de África e o desempenho na mesma dessas elites e o seu comportamento no pós-marcelismo.

"O trabalho de investigação desenvolvido pelo autor, ao longo de vários anos, teve como fontes de informação fundamentais a análise de inúmeros documentos militares, a sua própria experiência e um vasto número de entrevistas a oficiais do Quadro Permanente.

"Dessa investigação conclui o autor que, no decurso da Guerra de África, os Oficiais do Quadro Permanente foram-se progressivamente afastando do Comando Operacional, para se instalarem nas posições de gestão militar. Desta situação, que considera inusitada, resultaria terem sido os milicianos quem, de facto, comandou as unidades de combate, nos últimos e mais gravosos anos da guerra." (
Roma Editora)


1. Comentário de L.G. (***):

(...) Vi apenas um parte do programa, já não apanhei a Giselda nem o Victor Barata. Ouvi o Manuel Rebocho, que me pareceu ter feito o trabalho de casa, em contrapartida, os donos do programa não devem ter percebido patavina do objecto de estudo da sua tese de doutoramento (a formação das elites militares...), agora passada a livro (ipsis verbis, o que pode ser mau, do ponto de vista editorial e da eficácia comunicacional: uma tese de doutoramento, escrita para fins académicos, pode tornar-se "ilegível", "não amigável", para um público mais vasto, de não-especialistas)...

São dois produtos diferentes: a "tese" e o "livro"... Lá estarei, no dia 17, espero, no lançamento do livro do meu confrade de sociologia e de camarada da Guiné, a quem desejo boa sorte, boa sabedoria e bom senso.(4/11/2009)

2. Outro comentário de L.G. (*):

Tanto quanto percebi a curta intervenção do Manuel Rebocho (cujo livro ainda não li)... Algumas notas que apontei, da entrevista ao Programa Portugal no Coração, RTP1, hoje, das 16h às 18h:

(i) Na Eurona não há doutrina em matéria de estratégia militar; estamos atrasados vários anos em relação à América;

(ii) O Adriano Moreira, que foi o arguente da tese de doutoramento, acha que esta pode contribuir para criar e manter uma fileira de pensamento estratégico militar [, em Portugal];

(iii) As guerras do futuro serão assimétricas;

(iv) Em 1961/74, Portugal enfrentou uma guerra assimétrica: um pequeno grupo de guerrilheiros, emboscava forças 10 vezes superiores em número e equipamento; mas o combate fazia-se apenas ao nível da cabeça da coluna, podendo provocar no máximo meia dúzia de baixas;
(v) Os oficiais de carreira desapareceram da cena de combate, em particular na Guiné: constatou o Rebocho, com surpresa, quando estava a fazer o seu trabalho de investigação;

(vi) As elites (militares) vão ser saneadas com o 25 de Abril;

(vii) As Forças Armadas Portuguesas não estão preparadas para as novas guerras…

(viii) Temos no máximo 12 anos para nos pre´pararmos para as novas guerras assimétricas;

(ix) O entrevistado deu o exemplo da Guiné (onde houve uma certa vietnamização da guerra; de facto, em Angola, na sua 1ª comissão, ele não deu um tiro, já na Guiné travou alguns duros combates): havia tropas de quadrícula, que estavam estacionadas num aquartelamento; tinham um posição essencialmente defensiva; as verdadeiras tropas de intervenção (pára-quedistas) estavam em Bissau; quando a guerra se acendia num dado sítio, eram como os bombeiros, iam lá, helitransportados, e apagavam o fogo, regressando a Bissau; as tropas de quadrícula é que podiam sofrer de stresse pós-traumático de guerra (SPTG), devido ao isolamento e à saturação;

(x) os pára-quedistas, não, não sofrem de SPTG; além disso, tinham uma ideologia profissional que os levava a respeitar os prisioneiros: um prisioneiro inimigo nunca se maltrata, tal como um camarada, morto ou ferido, nunca fica para trás...

(xi) O Rebocho dá ainda o exemplo do Cantanhez, no sul da Guiné, em cuja reconquista e reocupação, em finais de 1972/princípios de 1973, esteve empenhado o BCP 12: havia lá uma "tribo muito aguerrida" (nalus ? balantas ?) que combatiam a três, quatro metros, e que deram muito trabalho aos páras; nas outras zonas, os guerrilheiros do PAIGC atacavam à distância de 80/100 metros...

(xii) Em suma, o BCP 12 funcionava como um corpo de bombeiros: eram chamados para apagar os grandes incêndios (Gandembel, Guileje/Gadamael, Guidaje)...

(xiii) Não me parece que ele tenha mencionado Guileje... Fica o pedido de esclarecimento para o dia 17, na sede da Associação dos Deficientes das Forças Armadas, no Lumiar, em Lisboa... Até lá, um Alfa Bravo para o Rebocho, que me pareceu bem, no programa, calmo e sereno. (5/11/2009)
[Obs - Manuel Rebocho, ex-Sargento Pára-quedista da CCP 123/BCP 12, (Guiné, Maio de 1972/74), hoje Sargento-Mor Pára-quedista, na Reserva, e doutorado pela Universidade de Évora em Sociologia da Paz e dos Conflitos. Tese de doutoramento: "A formação das elites militares portuguesas entre 1900 e 1975" (agora publicada em livro)] (****)


3. Mail, de 5/11/2009, do Amílcar Mendes, ex-1º Cabo Comando, 38ª Cmds (Brá, 1972/74) (*****):.

Amigo Luís Graça e co-editores do blogue: De vez em quando dou à costa e sabes, Luís, que quando o faço é porque as barbaridades incomodam-me! E mais, quando vêm de pessoas que se armam para quem nada percebe do assunto.

É o seguinte; Ontem, dia 4 de Novembro de 2009, pelas 17h30, estava a fazer zapping quando na RTP-1 me deparei com um senhor, que não sei quem é, e que apresentava um livro ao João Baião sobre a guerra colonial. Dizia o DITO Senhor que tinha sido pára-quedista, que tinha estado em Angola e depois foi para a Guiné em Maio de 1973.

Até aqui tudo bem, Luís, nada de grave. Disse ter estado no CANTANHEZ com a companhia dele. Falou de emboscadas e tiros. Nada de novo para mim, também lá estive e só numa emboscada tivemos um morto, um ferido grave, paraplégico mais tarde, etc. etc.

Mas a mim o que me fez abrir a boca de espanto foi esse Senhor dizer textualmente e ouvi bem :

"A ÚNICA TROPA QUE NÃO TRATAVAVA MAL OS PRISIONEIROS ERAM OS PARA-QUEDISTAS!"

Caí de cú! Eu sei que não tratavam mal porque trabalhei na mata com Pára-quedistas, por quem tenho muita admiração e onde tenho amigos... Mas com que conhecimentos é que esse Senhor falava para implicitamente dizer que outras tropas tratavam mal?

Amigo Luís, apenas te peço que publiques este mail para ver se alguém ouviu ou conhece esse Senhor, pois eu não captei o nome . Se alguém souber, comunique –me pois gostava de saber, e só saber de que purista veio essa afirmação.

Fico a pensar: ser tropa especial, dar tiros e poder matar, e a seguir? Mandava as condolências à família? Ia ao funeral? Senhor, apareça e explique-me por favor quem eram as tropas que torturavam os prisioneiros do PAIGC?!

Um abraço a todos os Bloguistas

Amílcar Mendes

38ª Companhia de Comandos na Ex-Guiné Portuguesa

4. Mail enviado por L.G., como editor, ao visado, Manuel Rebocho:

Manuel: Fazendo a prolifaxia do conflito... Queres esclarecer melhor o teu pensamento sobre este ponto ? É uma questão sensível... Não ideia de teres dito que os Páras eram os ÚNICOS que não maltratavam os prisioneiros... Mas estamos sempre a ser traídos pelas palavras... Publico, junto com a tua resposta...

O Amílcar Mendes foi 1º Cabo Comando, 38ª Cmds (1972/74)... É um rapaz, lisboeta, taxista, temperamental, sensível, um bom camarada... Esteve depois do Regimento de Comandos, Amadora, com o Jaime Neves. Fez o 25 de Novembro. Saiu já no final da década de 1970 ou princípios de 1980. Um abraço. Luis.


. Resposta do M.R., com data de 6/11/2009:

Meu caro Luís.

A frase a que parece quereres-te referir tem que ser enquadrada no seu próprio contexto.

Pelo que eu percebi, a coordenação do programa procurou alguma coisa que eu tivesse afirmado e chegou ao nosso blogue e preparou uma pergunta sobre a minha afirmação de que “a guerra em que eu participei foi violenta mas humana”. Questão tratada no nosso blogue.

O João Baião perguntou-me o que era isso de “violenta mas humana” e eu respondi-lhe que um dos exemplos de “humana” demonstrava-se no facto dos “pára-quedistas não tratarem mal os prisioneiros”.

Não me referi que eram só os paras, nem só estes nem só aqueles.

Não sei te tens presente, mas chegaram-me a tratar de "hipócrita", no blogue, pela forma como defini a guerra em que participei. Nunca me referi nem me refiro a ninguém, só falei e falo de mim.

Pelo que cada um, é que deve meditar no assunto, que se tem que colocar, onde julgue ser o seu lugar. Nesta matéria, cada um sabe de si: do que fez e do que viu ou deixou fazer.

Quanto ao “esticar” as minhas palavras para outros assuntos, é da responsabilidade de quem o fizer. Eu não falei em mais ninguém, nem insinuei nada, para além de mim próprio.

Sou hoje empresário na Guiné-Bissau onde sou estimado, depois, naturalmente, da “Secreta Guineense me ter feito a Ficha”. Pelo que o meu passado está esclarecido. Quanto aos outros! Cada um sabe de que, e o porquê de que se sente.

Um abraço

Manuel Rebocho

6. Comentário do nosso leitor S. Nogueira:

Não serão de esquecer ou escamotear as operações das Tropas Pára-quedistas com planeamento continuado e com algum enquadramento estratégico: no Leste de Angola, a partir de 1967 - na zona de Ninda-Sete-Chiume e depois, na região do alto curso do R Cassai onde, estacionada em Ninda e depois em Léua, operava em permanência uma Companhia, sem prejuízo de intervenções avulsas em zonas adjacentes ou afastadas;

(ii) no Norte de Angola, onde operava uma Companhia, com base variável mas com persistência ou reiterada intervenção em áreas de tradicional resistência - Canacassala, Toto-R. M'Bridge, toda a região dos Dembos e Serra do Uíge, etc;

(iii) em Moçambique, no planalto de Mueda e na Serra Mapé onde, a partir de 1968 passaram a estar estacionadas, em Mueda e Macomia, duas Companhias que operavam naquelas regiões, também sem prejuízo de acções pontuais em àreas adjacentes ou outras e sem considerar a intervenção na zona de Tete;

(iv) na Guiné, a repetida pressão a que as Companhias do BCP12 sujeitavam Unidades conhecidas do PAIGC ou certas regiões, por vezes durante períodos consideráveis e com alcance estratégico geral.

A presença e actividade planeada daquelas sub-unidades nas referidas zonas não impedia outras acções inopinadas de assalto e destruição -de facto mais frequentes na Guiné- e que podiam ser desempenhadas também pela(s) Companhia(s) que estivessem entretanto aquarteladas na Base.

S. Nogueira


7. Esclarecimento posterior (10/11/209, às 8h56) pelo nosso camarada Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref (que esteve em Bissalanaca, BA 12, 1972/74):

Caro Luís: Depois dum comentário que li no blogue em que alguém punha em causa declarações do SMor Rebocho na RTP, estive a rever a gravação. O Rebocho apenas diz que "as tropas pára-quedistas tinham uma filosofia muito própria, nunca maltrataram os prisioneiros". Ora com isto não quis dizer que tenham sido os únicos a ter este comportamento, apenas abre a porta a que outros possam ter tido um comportamento diferente (o que, aqui e ali, sabemos ter sucedido).

Um abraço. Miguel Pessoa

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 27 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3095: Tabanca Grande (81): Manuel Peredo, Fur Mil Pára-quedista, CCP122/BCP 12 (Guiné, 1972/74)

(**) Vd. poste de 29 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5180: Agenda Cultural (39): “Elites Militares e a Guerra de África”, de Manuel Rebocho: 17 de Novembro, às 18h00, sede da ADFA - Lisboa

(***) Vd. poste de 4 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5207: Agenda Cultural (40): Os nossos camaradas Giselda Pessoa, V. Barata e M. Rebocho, hoje, 16h, RTP1, Portugal no Coração

(****) Vd. alguns postes do Manuel Rebocho, publicado no nosso blogue:

14 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P877: Nós, os que não fazemos parte da história oficial desta guerra (Manuel Rebocho)"

28 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P919: Vamos trasladar os restos mortais dos nossos camaradas, enterrados em Guidage, em Maio de 1973 (Manuel Rebocho)

21 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1099: O cemitério militar de Guidaje (Manuel Rebocho, paraquedista)

4 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1150: Carta a Pedro Lauret: A actuação do NRP Orion na evacuação das NT e da população de Guileje, em 1973 (Manuel Rebocho)

5 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1151: Resposta ao Manuel Rebocho: O papel do Orion na batalha de Guileje/Gadamael (Pedro Lauret)

17 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1187: Guidaje: soldado paraquedista Lourenço... deixado para trás (Manuel Rebocho)

22 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1453: Ninguém fica para trás: uma nobre missão do nosso camarada ex-paraquedista Manuel Rebocho

28 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3674: Em busca de... (59): Ex-combatentes do BCAÇ 4616/73 (Manuel Rebocho)

16 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4694: Meu pai, meu velho, meu camarada (6): Ex-Cap Pára João Costa Cordeiro, CCP 123/ BCP 12 (Pedro M. P. Cordeiro / Manuel Rebocho)

(*****) Vd. alguns dos postes de Amílcar Mendes:

22 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1201: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (3): De Farim a Guidaje: a picada do inferno (I parte)

23 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1203: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (4): De Farim a Guidaje: a picada do inferno (II Parte)

23 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1205: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (5): uma noite, nas valas de Guidaje

24 de Outubro de 006 > Guiné 63/74 - P1210: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (6): Guidaje ? Nunca mais!...

Vd. também poste de 10 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4496: A Tabanca Grande no 10 de Junho de 2009 (4): O abraço de dois comandos, V. Briote (1965/66) e A. Mendes (1972/74) (Luís Graça)

domingo, 28 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3674: Em busca de... (59): Ex-combatentes do BCAÇ 4616/73 (Manuel Rebocho)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Espectacular vista aérea do aquartelamento, tirada no sentido leste-oeste, ou seja, do lado da grande bolanha de Bambadinca 
Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados 1. 

Mensagem de Manuel Rebocho (*), ex-Sargento Pára-quedista da CCP 123/BCP 12, Guiné 1972/74, com data de 23 de Dezembro de 2008: 
 
Assunto: 
Pedido de contacto Camaradas e Amigos Estou a desenvolver um estudo sobre as áreas de Bambadinca. Com este objectivo e para este fim, gostaria de contactar com camaradas que tivessem integrado a 1.ª ou 2.ª Companhia do Batalhão de Caçadores n.º 4616/73. Batalhão este que esteve colocado no Sector de Bambadinca em 1974. Solicito assim aos camaradas que divulguem este meu pedido de contacto. O mail fica gravado e o Tlm. tem o n.º 963063635 Para toda a tertúlia desejo um Santo Natal e um bom ano de 2009. Manuel Rebocho Nota: Penso estar na Guiné durante os meses de Janeiro e Fevereiro, do próximo ano, e gostaria de levar comigo os elementos que me faltam e pretendo obter. 
____________ 

  2. No dia 25 de Dezembro foi enviado um mail à Tertúlia nestes termos: Caros Tertulianos A pedido do nosso camarada Manuel Rebocho, reenvio-vos a sua mensagem, na hipótese de se encontar alguém que o possa ajudar. 
Um abraço e continuação de Boas-Festas. 
Carlos Vinhal
____________ 

 Nota dos Editores: 

 (*) Manuel Rebocho, ex-Sargento Pára-quedista da CCP 123/BCP 12, (Guiné, Maio de 1972/74), hoje Sargento-Mor Pára-quedista, na Reserva, e doutorado pela Universidade de Évora em Sociologia da Paz e dos Conflitos. Tese de doutoramento: "A formação das elites militares portuguesas entre 1900 e 1975" 

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2577: Inquérito online: Uma guerra violenta mas humana (?) (2): A guerra dos pára-quedistas (Manuel Rebocho)

Guiné > Bissau > Pós-25 de Abril de 1974 > Manifestações populares de regozijo mas também de contestação: nesta foto, um manifestante guineense empunha um cartaz onde se lê: "Abaixo a D.G.S." [a PIDE/DGS, a polícia política portuguesa]...

Temos aqui falado muito pouco ou quase nada sobre o o papel da nossa polícia política durante a guerra colonial, na Guiné... Por um lado percebe-se: eles eram aliados dos militares, mas não se misturavam; por outro, a PIDE (mais tarde, DGS, com Marcelo Caetano) existia e até dizem que foi protegida por Spínola, a seguir ao 25 de Abril, em paga dos seus bons serviços na Guiné... Não sei, não estou suficientemente documentado sobre este lado mais sombrio da nossa presença na Guiné... De qualquer modo, os seus métodos mudaram, quando comparamos o consulado de Spínola (1968/73) com o dos seus antecessores... Tal como Deus, a PIDE/DGC era descrita como omnipotente, ominisciente e omnipresente... O que era um mito: o falhanço da Operação Mar Verde é hoje imputado, em grande parte, à incompetência da nossa intelligence que estava, em grande parte, concentrada na PIDE/DGS...

De qualquer modo, o mito funcionava internamente. Eu nunca escrevi um aerograma porque estava intimamenet convencido que a PIDE/DGS os lia todos... Que santa ingenuidade a minha! De qualquer modo, só vi uma única vez agentes da PIDE/DGS... Foi em Bafatá. Fui então testemunha, involuntário, à mesa de café, da estupefacção de um dos agentes perante a nova política de Spínola em relação aos nacionalistas do PAIGC e ao tratamento dos prisioneiros em combate (1).

Foto: © José Casimiro Carvalho (2007). Direitos reservados.

Guiné > Região Leste > Bafatá > Soldado ferido em operações... Nenhum combatente nosso, ferido ou morto, ficava para trás...

Foto do João Varanda (ex-Fur Mil, CCAÇ 2636, Có/Pelundo e Teixeira Pinto; Bafatá, Saré Bacar e Pirada, 1969/71).

Foto: © João Varanda (2005). Direitos reservados.


Guiné > Região do Cacheu > CCAÇ 3 > Barro > 1968> Um prisioneiro do PAIGC.

Foto: © A. Marques Lopes (2005). Direitos reservados.

"Sempre foi minha preocupação não matar população civil (...). Mas era difícil, pois a visão e a filosofia da vida deles [ os meus soldados balantas da CCAÇ 3, ] era diferente. Um dia, por exemplo, foi apanhado no meio de um tiroteio um velho cego.
- Mata! - foi a reacção.
- Não, disse eu - Mas foi complicado.

"Numa das tais operações do COP 3, não sei já qual, um guerrilheiro do PAIGC levou uma rajada no baixo ventre e ficou com os tomates pendurados. Disse para fazerem uma maca para o levarem. Fizeram a maca, mas não o quiseram levar:
- Alfero, deixa estar, vem jagudi e come ele...
- Não!

"Eu e um furriel pegámos na maca e começámos a atravessar uma bolanha com água pelo pescoço. A meio da bolanha, vieram dois e disseram:
-Alfero, a gente pega.

"Chegámos à base de operações, onde estava o tenente-coronel Correia de Campos, um helicóptero e uma enfermeira pára-quedista, e, azar, o homem do PAIGC morreu.

"Em frente destes, formei o grupo de combate e, porque estava furioso, chamei-lhes todos os nomes. O tenente-coronel Correia de Campos estava de boca aberta. É evidente que nós, os ocidentais, temos uma maneira de ver as coisas, a vida e a morte, de uma forma diferente. Assim como outras, por exemplo, a democracia e a política". (A. Marques Lopes)


1. Mensagem, de 21 do corrente, do Manuel Rebocho:

Camaradas

Entendeu o camarada Luís Graça individualizar, de um texto meu, a expressão “a guerra em que eu participei foi violenta, mas humana”. Deixei a frase “à solta”, sem a explicar, o que parece que se impõe agora, face às opiniões, entretanto surgidas (2).

A questão “Guerra Humana” é fracturante, sem dúvida alguma. Contudo, este assunto não fica limitado aos combatentes da Guiné, é extensivo a todo o mundo e a todos os tempos. Sobre ele já foram escritos inúmeros tratados e se debruçaram pensadores, como Chris Argyris, Raymond Aron, T. B. Bottomore, Carl Von Clausewitz, Lewis Coser, Gaston Courtois, Ortega Y Gasset (autor da célebre frase “eu sou eu e as minhas circunstâncias"), Samuel Huntington, Adriano Moreira, Sun Tsu e tantos outros, sem que chegassem a uma posição unânime. Estes ilustres pensadores não conseguiram uma definição que a todos satisfizesse ou enquadrasse todas as situações que uma guerra provoca. Também não vamos nós consegui-lo, seguramente.

Não me querendo, tão-pouco, assemelhar com qualquer destes pensadores, tenho a minha própria definição sobre a matéria.

Guerra violenta:

Corresponde ao que acontece durante os combates, que podem ser mais ou menos frequentes; ter uma maior ou menor duração; as baixas podem ser maiores ou menores; cada combate de per si pode conter uma maior ou menor perigosidade, consoante o número de homens envolvidos, armamento utilizado e distância entre os combatentes, entre outros aspectos (não pretendo escrever nenhum tratado). No que às minas se refere, dou-lhe total equivalência a um combate.

Neste sentido há duas considerações a seguir: uma diz respeito à guerra que cada um de nós enfrentou, que corresponde à componente individual (e eu falei da minha); outra consideração diz respeito à resultante de todas as componentes individuais, a qual define a guerra que travamos.

Guerra humana:

Por guerra humana entendo a maneira como são tratados, pelos vencedores, os inimigos feridos ou aprisionados (3) e a própria população das zonas ocupadas militarmente por forças alheias aos territórios, onde as guerras se desenvolvem.

Um pouco para demonstrar que o meu pensamento não é de hoje, nem foi escrito levianamente, transcrevo, na íntegra, a página 346 da minha tese de doutoramento:

“A 1 de Maio desse ano de 1973, no decurso da operação Tabica Texuga [relembro que tenho os relatórios das operações em meu poder], em Caboxanque, empenhando o 2.º e 3.º Pelotões (da CCP 123), Sousa Bernardes revelou mais uma vez a sua capacidade criativa, quando detectou, atravessando uma bolanha, um grupo de 10 Guerrilheiros e, numa inteligente manobra táctica, surpreendeu-os no seu aquartelamento. Do contacto resultou a morte de três dos Guerrilheiros, vários feridos e a captura de diverso material e armamento.

"Mulheres e crianças que estavam misturadas com os Guerrilheiros fugiram dos combates para a bolanha. Os Pára-Quedistas, em mais uma manobra de rigor, preferiram deixar fugir alguns Guerrilheiros a matar inocentes e nenhuma mulher ou criança foi atingida. Uma idosa doente, que não conseguiu fugir, foi tratada pelo Enfermeiro Aguiar e foi deixada no seu tabancal. As nossas tropas não sofreram qualquer consequência.

"Se entre o grupo dos Sargentos havia um que já se distinguira e diferenciava dos restantes, Sousa Bernardes, com mais esta atitude, mostrava que os Oficiais também se diferenciavam pela sua criatividade. Neste ponto, não se pode deixar de fazer uma referência. Houve, durante a Guerra, quem conseguisse grandes êxitos militares, mas à custa de consideráveis baixas para as nossas tropas, a esses não os apelido de criativos, mas de aventureiros que arriscam a vida dos seus homens, mas sem consciência do que estão fazendo. Sousa Bernardes não foi assim, arriscou com prudência, cautela e autoridade, concebendo criativamente as manobras, pelo que pode afirmar que as estrelas que usa são «suas», ninguém lhas deu.

"No relatório do Comando sobre esta operação consta a seguinte passagem: 'por informações dadas pela população a identificação de 2 dos mortos é a seguinte: Ancanha, Comandante de bigrupo, natural de Fabrate, e Bunhé, natural de Flaque Injã', ambos reputados combatentes nas hostes inimigas. Sousa Bernardes não se tinha enfrentado com milícia vulgar, o que deixa evidente que a qualificação do combatente depende do valor humano e da experiência. Os conhecimentos adquiridos na Academia Militar eram iguais aos de todos os outros Oficiais de carreira e nenhum, dos que me comandaram e fui comandado por 6 Capitães, 4 na Guiné e 2 em Angola, era como ele.

"Esta mesma opinião teve o Comandante do Batalhão, quando escreveu no seu relatório acerca de Sousa Bernardes: '...A sua posição na primeira linha incutiu confiança e galvanizou os seus subordinados... É aqui que os combatentes se diferenciam: no fazer, porque no mandar são todos iguais. Recorrendo a uma afirmação que circula nos meios militares de uma frase atribuída a Napoleão - Os exércitos ou se puxam ou se empurram - , julgo que se puxam pela competência, pelo exemplo e pela liderança, e se empurram pela autoridade repressiva".

Nesta 346.ª página, que foi escrita há anos e pode ser consultada na dezena de locais onde as teses são disponibilizadas, observam-se as duas situações: a guerra violenta reflectida no combate que se travou entre um bigrupo de Pára-Quedistas e um bigrupo de forças do PAIGC; e a guerra humana reflectida no risco que se correu, ao deixar-se fugir guerrilheiros para não atingir nem mulheres nem crianças e, mesmo depois, ao tratar-se a idosa doente.

Diferentemente seria se o ataque tivesse sido indiscriminado e se tivessem matado as mulheres, as crianças e a idosa. Neste caso estaríamos perante uma guerra desumana.

Admito que nem todos vejamos as diferenças, e que haja quem considere que guerra é guerra, mas também penso que tenho o direito de pensar e descrever a guerra em que eu participei. Que foi esta. No campo do individual, cada um de nós fala da guerra em que participou.

A este propósito recebi uma carta do Padre Pinho, Capelão dos Pára-Quedistas, durante o tempo da Guerra, na qual me manifesta a sua concordância pela abordagem que eu faço à guerra humana, referindo-me que os Pára-Quedistas tinham efectivamente esta doutrina.

Um abraço

Manuel Rebocho [ ex-sargento pára-quedista da CCP 123 / BCP 12 (Guiné, Maio de 1972/Julho de 1974), hoje Sargento-Mor Pára-quedista, na Reserva, e doutorado pela Universidade de Évora em Sociologia da Paz e dos Conflitos (tese de doutoramento: "A formação das elites militares portuguesas entre 1900 e 1975")]
______________

Notas de L.G.:

(1) Vd. poste de 29 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLVIII: Comerciantes de Bafatá: turras ou pides ? (Manuel Mata)


"(...) Comentário de L.G.:

"Manuel Mata: Estes elementos são preciosos... Eu nunca insinuei que o Teófilo fosse da PIDE/DGS... Pelo contrário, ele deveria ser contra a situação (o regime político então vigente desde 1926), só assim se explica que ele tivesse sido deportado para a Guiné no princípio dos anos 30... Nalguns sítios (como Bambadinca, que eu conheci melhor) havia a suspeita de os comerciantes locais serem também informadores da PIDE ou jogarem com um pau de dois bicos... Eu penso que, aos olhos da tropa, isso devia acontecer em todos os os postos administrativos e localidades de menor importância onde houvesse comerciantes (portugueses, caboverdianos ou libaneses)...

Essa estória do PIDE que levou porrada numa tabanca (iam-lhe cortando o nariz, à dentada) ouvia-a eu ao próprio, em Bafatá, creio que na Transmontana... Hei-de contá-la aqui, um dia destes. Lembro-me que de ouvir a conversa dele (eu, incomodado, com a presença deles, numa mesa de alferes e furriéis milicianos de Bambadinca)...O fulano - que, se bem me lembro, falava alemão, por ter sido emigrante, com os pais, na Alemanha - estava lixado com o Spínola, por que na época (c. 1970) já não se podia fazer justiça pelas mãos próprias como nos bons velhos tempos do colonialismo...

"Uma última pergunta: alguma vez vistes os pides locais frequentarem o café do Teófilo ? Pelo que me contas, ele não gostava mesmo deles, o que vem confirmar a minha teoria de ser o Teófilo um velho antifascista... (ou do reviralho, como diriam os pides). Infelizmente não tive com ele a mesma intimidade que tu tiveste!" (...).


Já publicámos, na 1ª Série do nosso blogue, alguns postes sobre a colaboração da PIDE/DGS com as Forças Armadas e vice-versa, no TO da Guiné, mas ficámos mais pela opinião do que pela apresentção e discussão de factos, de situações concretas, vividas ou testemunhadas, o que se enquadra bem no espírito do nosso blogue:

30 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXXVI: Guerra limpa, guerra suja (1)

"O João Tunes acaba de publicar, no seu blogue, um post com o título Guerra limpa, guerra suja, em relação ao qual pede o feedback da nossa tertúlia. Com a devida vénia, passo a transcrever aqui o seu conteúdo, aguardando que este suscite os comentários dos nossos tertulianos. O assunto é delicado mas não podemos ignorá-lo ou escamoteá-lo. Um dia teríamos que falar disto, mesmo que fosse incómodo ou doloroso... L.G" (...).

30 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXXVII: Guerra limpa, guerra suja (2)

"Resposta do Marques Lopes ao João Tunes:

" (...) É verdade que a PIDE tinha esse principal papel, e eu assisti, em Bafatá, ao início da tortura de um prisioneiro por essa polícia e por um capitão de informações. Revoltei-me e fui-me embora, quando vi meter o homem num bidão de água até ele gorgolejar.

"Em Geba, os alferes que estávamos tivemos que nos afastar um dia (o Maçarico viu e que conte, o Luís Graça conhece-o) quando o capitão (que até morreu lá) e o primeiro-sargento deram tal enxerto de porrada a outro prisioneiro que este se borrou todo e se mijou.

"Em Barro, sei de um alferes que, duma só vez, matou dez elementos da população civil controlada pelo PAIGC" (...).

(2) Vd. poste de 20 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2563: Sondagem: Uma guerra violenta mas humana ? (1): Nem santa nem suja (Francisco Palma / Virgínio Briote / Carlos Vinhal)

(2) Vd. postes de:

10 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLII: A galeria dos meus heróis (2): Iero Jau (Luís Graça)

14 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2264: Blogue-fora-nada: O melhor de... (3): Carta de Bissau, longe do Vietname: talvez apanhe o barco da Gouveia amanhã (Luís Graça)

"(...) Já nem sequer se pode tocar no cabelo de um preto (Capitão P.)

A propósito, como os tempos mudam, meu caro!.. Em conversa com um sargento de cavalaria que teve o Velho como comandante de batalhão no Norte de Angola – conversa a que ocasionalmente assisti -, o Capitão P. (que eu não sei, nem me interessa saber, se é miliciano, ou se é do quadro, ça c'est m´égale!), mostrava-se vexado (o termo é dele) pelo facto do então tenente coronel [Spínola] ameaçar executar, in loco, sumariamente os guias nativos que mostrassem a mais pequena hesitação na escolha dos trilhos ou os carregadores que deliberadamente deitassem fora a água dos jericãs...

- E agora, como Com-Chefe na Guiné, não permitir sequer que se toque no cabelo de um preto!

"Bissau, enfim, porto de fuga e salvação!... Embora não se possa exactamente prever até onde tudo isto irá parar, com a actual escalada da guerra, de parte a parte, aqui tu tens ao menos a reconfortante sensação de teres as malas sempre feitas, pronto a partir em qualquer altura… Mas nada te garante que embarques a tempo: é que estamos todos metidos num atoleiro e em vias de perder o último avião!...Make love, not war. Um abraço. Até mais logo. Talvez apanhe o barco da Gouveia, amanhã. Já estou farto desta merda" (...).


(3) Sobre prisioneiros feitos pelas NT, vd. postes de:

20 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2564: Prisioneiros: Havia um tratamento decente, no meu tempo (António Santos, Nova Lamego, Pel Mort 4574, 1972/74)

20 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2560: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (10) - Parte IX: A prisioneira é violada...

18 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2552: Estórias de Guileje (8): Como feri, capturei e evacuei o comandante Malan Camará no Cantanhez (Manuel Rebocho, CCP 123 / BCP 12)

16 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2443: Pami Na Dono, a Guerrilheira, de Mário Vicente (8) - Parte VII: O prisioneiro Malan é usado como guia (Mário Fitas)

1 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2396: Estórias (secretas) dos nossos criptos (1): Braimadicô, o prisioneiro (Albano Gomes)

30 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2391: Pami Na Dondo, a Guerrilheira , de Mário Vicente (7) - Parte VI: Malan é entregue à PIDE de Catió (Mário Fitas)

10 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2340: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (5) - Parte IV: Pami e Malan são feitos prisioneiros (Mário Fitas)

15 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLIII: O Malan Mané estava vivo em Novembro de 1969 e eu abracei-o (Torcato Mendonça)

25 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P906: CART 2339 e Malan Mané, duas estórias para duas fotos (Torcato Mendonça)

1 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1011: A galeria dos meus heróis (4): o infortunado 'turra' Malan Mané (Luís Graça)

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2547: Campanha 1 Peça para o Museu de Guiledje (2): O aerograma em que o Casimiro Carvalho prêve o ataque ... (Manuel Rebocho)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Rebocho, ex-sargento paraquedista da CCP 123 / BCP 12 (Guiné, Maio de 1972/Julho de 1974), hoje Sargento-Mor Pára-quedista, na Reserva, e doutorado pela Universidade de Évora em Sociologia da Paz e dos Conflitos (tese de doutoramento: "A formação das elites militares portuguesas entre 1900 e 1975")

Camaradas Luís Graça e Casimiro, e demais camaradas

Acabo de ler no nosso Blogue, que o Luís tem os aerogramas do Casimiro (1).

Li também, e concordo, que estes aerogramas (2) podem constituir peças do Museu de Guileje.

Não sendo o assunto meu, mas também não deixando de o ser, gostaria de alertar para um aerograma, que eu considero histórico, que hoje não tem valor, porque os donos de Abril o não permitem, mas virá a tê-lo, muito seguramente, um dia.

Neste aerograma, que eu já li, e tenho uma fotocópia, o HERÓI DE GADAMAEL prevê o ataque a Guileje. Não me enganei, Camaradas, o camarada Casimiro, num aerograma que dirigiu aos pais, prevê o ataque a Guileje. Previsão que extrai a partir de determinadas atitudes do Estado-Maior, que considera erros tácticos (3).

Na minha tese de doutoramento, em que conclui ser muito fraca a formação ministrada na Academia Militar, transcrevo, deste aerograma, a parte em que o Casimiro prevê o ataque a Guileje.

Na sequência da transcrição, eu questiono: como é possível que um aparentemente simples [militar], um Furriel Miliciano, tenha previsto o que nenhum dos Oficiais do Estado-Maior previu???

É certo que alguns Oficiais odeiam a minha tese, por esta e por outras. Mas factos são factos. Factos estes que levaram o ilustre Professor Doutor Adriano Moreira, durante a arguição da minha tese de doutoramento, a comparar-me, quanto ao que afirmo relativamente à formação ministrada na Academia Militar, a Lutero, quanto ao que afirmava relativamente à Igreja, para concluir: Podem descordar mas ele é que sabe. Foi-me atribuída a classificação máxima.

Vemos, assim, que este aerograma é histórico e revelador da estratégia de uma Nação, que é a nossa e à qual muito me prezo pertencer, mas, se é tempo de se elevarem as virtudes, também o é para se referirem os defeitos.

Penso, camaradas, que embora apoie, e muito, o Museu de Guileje, este aerograma merece mais. Se fosse eu a decidir, enviava uma fotocópia.

Mas os camaradas, e meus ilustres amigos, são soberanos. Nunca vos criticarei, seja qual for a atitude que tomarem.

Um grande abraço

Manuel Rebocho

2. Comentário de L.G.:

Como investigadores que somos, temos a consciência da importância que tem (ou pode ter) os testemunhos pessoais, escritos ou orais, dos actores sociais, e nomeadamente dos intervenientes nos acontecimentos históricos. Obrigado, Manuel, pelo teu contributo, o teu alerta... Manda-me, se possível, cópia do excerto desse aerograma a que te referes... Não sei como está o arquivo pessoal do J. Casimiro Carvalho, mas deve estar como o de muitos outros camaradas: por inventariar, organizar, classificar... Não tenho ideia de ter visto esse tal aerograma (ou carta). Vou ver melhor. E, naturalmente, vou decidir, de acordo com a vontade do Carvalho em doar alguma da sua documentação ao futuro Museu de Guiledje, e a própria margem de liberdade que ele me concedeu ("Ofereço os aerogramas que escolheres, [e que] estão na tua posse")...

______

Notas de L.G.:

(1) Vd. poste de 16 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2544: Campanha 1 Peça para o Museu de Guiledje (1): Gesto de ternura e simbolismo do herói de Gadamael, J.C.Carvalho


(2) Há uma série, já publicada, com excertos da correspondência do J. Casimiro Carvalho, do período que vai de Fevereiro a Junho de 1973, em que ele esteve em Guileje:

Vd. postes de:

18 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1856: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (5): Gadamael, Junho de 1973: 'Now we have peace'

24 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1784: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (4): Queridos pais, é difícil de acreditar, mas Guileje foi abandonada !!!

14 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1759: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (3): Miniférias em Cacine e tanques russos na fronteira

13 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1727: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (2): Abril de 1973: Sinais de isolamento

25 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1699: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (1): Abatido o primeiro Fiat G91

25 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1625: José Casimiro Carvalho, dos Piratas de Guileje (CCAV 8350) aos Lacraus de Paunca (CCAÇ 11)


(3) Não sei exactamente a que aerograma ou carta se refere o Manuel Rebocho. Não tenho aqui, em casa, a colecção de aerogramas e cartas de Guileje, Cacine, Gadamael e Paunca que o J. Casimiro Carvalho me confiou (além de dois álbuns de fotografias), mas numas das cartas, já parcialmente transcritas, ele dava conta do agravamento da situação militar na fonteira sul... Três dias antes do ataque a Guileje, ele escrevia o seguinte ao seu pai (ou paizinho, como ele afectuosamente o tratava):

Carros de combate russos na fronteira

Cacine, 15/5/73

Paizinho: (…) A guerra aqui está cada vez pior. O Hospital de Bissau está repleto (infelizmente). Só em Guidaje ,[ no norte], 40 feridos, alguns dos quais com membros amputados (já a cheirar mal devido a terem esperado 2 ou 3 dias por coluna para serem evacuados). Aviões já não vão lá.

No Cantanhez (todos estes locais que menciono são no sul, onde estou), 13 feridos numa emboscada. Guileje foi atacada outra vez e passados dois dias os melhores homens que tínhamos lá (dois furriéis milicianos) morreram, em consequência de uma mina anticarro que iam levantar. Andamos todos transtornados.

A 18 km de Guileje fica Gadamael e foram para lá 4 canhões sem recuo e 35 homens para os guarnecer. Levaram também granadas antitanque, pois foram vistos carros de combate na fronteira da República [da Guiné-Conacri].

O meu serviço aqui [ em Cacine,] é receber os géneros e artigos de cantina que vão para Guileje, para o isolamento, pois com as chuvas ficamos como que numa ilha e não podemos sair de lá, só de avião ou barcos de borracha. Aviões não há. Portanto só de barco (o que é muito perigoso)…

domingo, 27 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2484: Guileje, 22 de Maio de 1973 (1): Pontos (polémicos) por esclarecer (Amaro Samúdio / Nuno Rubim / Manuel Rebocho)

Guiné > Região de Tombali > Guileje > 1971 > Vista aérea, obtida de DO > Foto do então Cap (hoje Cor) Jorge Parracho, da CCAÇ 3325 (Jan 1971/Dez 1971). Esta unidade foi substituída pela açoriana CCAÇ 3477, Os Gringos de Guileje (Nov 1971 / Dez 1972) (contacto: Amaro Munhoz Samúdio) que, por sua vez, foi rendida pela CCAV 8350, Os Piratas de Guileje(Dez 1972/Mai 1973) (contacto: José Casimiro Carvalho).

Foto: © Jorge Parracho / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Direitos reservados.


Guiné > Região de Tombali > Catió > Álbum fotográfico de Benito Neves, bancário, reformado, residente em Abrantes, ex-Fur Mil da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67) > Foto 28: "Cufar, 1966 - Artilharia no quartel de Cufar, Obus 8.8 cm".


Foto e legenda: © Benito Neves (2007). Direitos reservados.

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 2410 (Junho de 1969 a Março de 1970) > O Alf Mil José Barros Rocha posando sobre a roda de uma peça de artilharia 11,4... Os Dráculas da CART 2410 estiveram em Guileje, de Junho de 1969 a Maio de 1970. Sobre a questão dos calibres 11.4 (peça de artilharia) e 14 (obus), já se aqui publicaram vários postes ( ).

Foto: © José Barros Rocha (2007). Direitos reservados.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3477 (Novembro de 1971/ Dezembro de 1972) - Os Gringos de Guileje > O Munoz Samúdio, que era 1º cabo enfermeiro, junto à peça de artilharia 11.4, do 15º PELART.

Foto: © Amaro Samúdio (2006). Direitos reservados.

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > O Alf Mil Torcato Mendonça junto ao velho obus 10.5, possivelmente de marca Krupp, uma temível arma que vinha da II Guerra Mundial... O obus é, por excelência, uma boca de fogo especializada em tiro curvo, de longo alcance... O seu alcance era, porém, limitado: 10/12 km, no máximo, creio eu, com uma cadência de dois a quatro tiros por minuto, na melhor das hipóteses ... (LG)

Foto: © Torcato Mendonça (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem enviada pelo editor do blogue ao Nuno Rubim, ao Casimiro Carvalho e ao Amaro Munhoz Samúdio:

Leiam com atenção esta mensagem... Só sabemos que se chama Paiva, e foi furriel de artilharia no pelotão de artilharia, que estava em Guileje, quando esta unidade foi abandonada por decisão do comandante do COP 5, Major Coutinho e Lima... É um testemunho dramático, de um homem que atravessou a nada o Rio Cacine, já na fuga de Gadamael, e foi salvo por um milícia de que não se lembra o nome...

Vou pedir ao Paiva que nos contacte de novo e nos dê as suas coordenadas, sobretudo para o ajudar a reencontrar os seus camaradas (e a reorganziar as suas memórias, doridas, daquele tempo)... Seria uma pena que este pungente testemunho ficasse escondido sob a forma de comentário a um dos nossos postes ...

Nuno, Casimiro: Vocês sabem qual era o nº do pelotão de artilharia que estava em Guileje, no dia 22 de Maio de 1973 ? Amaro, este camarada, o Paiva, ainda é do teu tempo ? Há contactos com esta malta, os artilheiros ? Digam alguma coisa antes de eu poder publicar este texto (que já saiu, anonimamente, como comentário...)... Acrescentem os vossos comentários... Um abraço. Luís


2. Mensagem do Amaro Samúdio (dos Gringos de Guileje, a CCAÇ 3477, Guileje, 1971/72):

Luís Graça:

Naturalmente que vou fazer esforços no sentido de obter informações exactas, que possam ajudar o Paiva a encontrar os seus camaradas.

Exacto é que em 21 de Novembro de 1971,quando a CCAÇ 3477 chegou a Guileje, a Unidade de Apoio era o 15º PELART [Pelotão de Artilharia].

Não foram, nunca o foi dito, os Gringos [da CCAÇ 3477] a viverem os dramáticos acontecimentos do abandono de Guileje [, em 22 de Maio de 1973].

Tenho em mente que os obuses 14 chegaram a Guileje pouco antes de lá sairmos em 15 de Dezembro de 1972 [, sendo substituídos pelo BCAV 8350]. E aqui fica a grande questão
do abandono que já tenho tentado abordar.

Para parar qualquer ataque mais violento ao quartel, os 11.4 sabiam ... Kandiafara.
Qualquer nova base de ataque tinha que ser descoberta e eram as DO, posteriormente, a sobrevoar, que diziam se as coordenadas estavam a acertar no local.

Como é possível, e o Nuno Rubim tem toda a razão, que os [obuses 14] cumprissem a sua missão. Para onde iam actuar... Crime puro e simples.

Um Abraço


3. Resposta do Nuno Rubim (Cor Art, na reforma, especialista em história da artilharia):

Caro Luís

Será de facto um testemunho muito importante. O Pel Art que lá estava, era, segundo os dados que tenho, o 15º. Estava equipado com três 11.4 cm e por terem acabado na Guiné (e cá também ... ) as munições, foi substituído em 16 de Maio [de 1973], dois dias antes do início do ataque do PAIGC, por dois obuses de 14 cm.

Terão vindo de Bissau 3, mas um terá caído pela borda fora ( será possível ??? ) em Cacine ! ( Documentos que encontrei no Arquivo Histórico-Militar).

Ora esse nosso camarada, o Paiva, poderá dar importantes achegas, nomeadamente como foi feita a regulação do tiro ( só veio um aparelho de pontaria e nenhuma tábua de tiro !!!). [não há palavras ... !!! ]

Tenho também notícia que o Alf Cmdt do Pel foi morto num bombardeamento do PAIGC por esses dias.

Há pois várias questões que eu gostaria de lhe perguntar e que podem resolver alguns dos mistérios ainda em aberto.

Um abraço

Nuno Rubim


4. Comentário do Nuno Rebocho (ex-sargento da CCP 123 / BCP 12, Guiné 1972/74, sargento-mor pára-quedista, na reforma, doutorado em Sociologia pela Universidade de Évora):

Só dois ajustamentos:

(i) As peças que estavam em Guiledje eram de calibre 10.6, e mais nenhum outro. Desloquei-me ao Porto, onde vive o Capitão miliciano (claro) que comandava a companhia que fugiu de Guiledje. Ele próprio da arma de Artilharia, conhecedor do assunto, com quem troco frequentes telefonemas e e-mails, e que não me deixa enganar no calibre das peças. Está-me frequentemente a corrigir.

(ii) O Major Coutinho e Lima, no momento em que ordenou o abandono de Guiledje, já não era comandante do COP 5, pois havia sido substituído no dia anterior. O Comandante era agora o Coronel Pára-Quedista (hoje Major-General) Rafael Ferreira Durão, o mais prestigiado Oficial Pára-Quedista de todos os tempos, por quem tenho elevada consideração e amizade. Coutinho e Lima era, no dia 22 de Maio de 1973, segundo comandante do COP 5, razão pela qual não tinha competência orgânica para dar a ordem que deu.

Por esta razão não se pode considerar que a retirada de Guiledje tenha obedecido a qualquer estratégia, porque a estratégia não era da competência de Coutinho e Lima. Então, a retirada de Guiledje só pode ser apelidada de fuga.

Coutinho e Lima (4) foi demitido de Comandante do COP 5, no dia 21 de Maio de 1973, porque Spínola o encontrou no Bar de Oficiais em Bissau, e não lhe perdoou, naturalmente.

Bom. Ficamos por aqui.

Um grande abraço, amigo Luis Graça

Manuel Rebocho
___________________

Notas dos editores:

(1) Vd. poste de 27 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2483: Estórias de Guileje (3): Devo a vida a um milícia que me salvou no Rio Cacine, quando fugia de Gandembel (ex-Fur Mil Art Paiva)

(2) O nosso especialista em artilharia, o coronel na reforma, Nuno Rubim, diz que o 11.4 é uma peça (de artilharia) e o 14 é que é o obus... Alguns de nós, como eu, fazem confusão sobre os calibres: havia, na Guiné, vãrios calibres de peça de artilharia. Vd. os seguintes postes:

18 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1443: Contributo para a história da construção do aquartelamento de Guileje (José Barros Rocha, CART 2410, Os Dráculas, 1969/70)

15 de Janeiro de 2007 >Guiné 6/74 - P1434: Artilharia em Guileje: a peça 11.4 e o obus 14 (Nuno Rubim)

6 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1407: Tertúlia: apresenta-se o Coronel de Cavalaria Carlos Ayala Botto, ajudante de campo do General Spínola

8 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1159: Álbum fotográfico (Hugo Moura Ferreira) (2): Bedanda, ontem (CCAÇ 6, 1970) e hoje

6 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1155: Álbum fotográfico (Hugo Moura Ferreira) (1): Bedanda, CCAÇ 6, 1970: O Obus 14 contra o foguete Katiusha

(3) Vd. postes de:

27 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2137: Antologia (62): Guileje, 22 de Maio de 1973: Coutinho e Lima, herói ou traidor ? (Eduardo Dâmaso / Luís Graça)

5 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2083: Em busca de... (10): Coutinho e Lima, o comandante do COP5 que decidiu abandonar Guileje e foi acusado de deserção (Beja Santos)

(4) Vd. curriculum vitae do Cor , na reforma, Coutinho e Lima, um dos oradores do Simpósio Internacional de Guiledje (1 a 7 de Março de 2008):

(...) Ingressou na Escola do Exército a 15 de Outubro de 1953:- Promoção a Alferes a 10 de Setembro de 1957; Passagem à situação de reforma em 1982, como Coronel.- Comissões nas antigas Províncias Ultramarinas: 3, todas por imposição, na Guiné:
1ª – Capitão, Comandante da Companhia de Artilharia nº 494. A CART 494 ocupou as seguintes posições: Ganjola (de Setembro a Dezembro de 1963); Gadamael Porto – (de 17 de Setembro de 1963 a Maio de 1965);
2ª - Capitão, Adjunto de Repartição de Operações de Comando - Chefe das Forças Armadas da Guiné, em Bissau (de 24 de Julho de 1968 a 23 de Julho de 1970);
3ª – Major, em Bolama (de Setembro de 1972 a Janeiro de 1973); em Guiledje, Comandante do COP 5, de 21 de Janeiro de 1973 até 22 de Maio de 1973 (Data da retirada de Guiledje).

Prisão preventiva em Bissau, de 22 de Maio de 1973 até 12 de Maio de 1974. Auto de corpo de delito, por despacho do Sr. General António de Spínola, de 22 de Maio de 1973, com a seguinte justificação:

- Ordenou a retirada das forças sob o seu comando do quartel de Guiledje para Gadamael, sem que para tal estivesse autorizado;
- Mandou destruir edifícios e inutilizar obras de defesa do referido quartel, bem como material de guerra e munições;
- Não cumpriu a missão que lhe foi atribuída.

O processo foi concluído em 10 de Abril de 1974, no Tribunal Militar Territorial da Guiné e transferido em 2 de Maio de 1974 para o 1º Tribunal Militar de Lisboa, onde se processaria o julgamento. A pena prevista para os crimes supostamente cometidos era de 6 meses a 4 anos de presídio militar. O processo foi amnistiado pelo Decreto-Lei nº 194/74 da Junta de Salvação Nacional e, por decisão unânime dos Juízes do mesmo, foi ARQUIVADO (...).

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Guiné 63/74 - P1453: Ninguém fica para trás: uma nobre missão do nosso camarada ex-paraquedista Manuel Rebocho

Brasão da Associação de Veteranos de Guerra do Centro (AVGCentro). Tem a sua sede em Cantanhede.

Foto: AVGCentro (2007). (Com a devida vénia...).


Notícia, assinada por Nelson Morais, publicada no JN- Jornal de Notícias, de 22 de Janeiro de 2007, e que me chegou por mão do António Santos, com o seguinte coemntário:

Bom dia, Amigo Luís
Junto link de uma notícia que nos interessa. O Manuel Rebocho cumpriu o que disse.

Um alfa Bravo
Santos
SPM 2558

Transcreve-se, com a devida vénia, a notícia do JN:

A última missão na Guiné

Pára-quedistas lembram máxima militar "ninguém fica para trás" para justificar a tentativa de resgatarem os corpos de três companheiros na Guiné Nelson Morais. Os corpos de José Lourenço, António Vitoriano e Manuel Peixoto ainda foram carregados pelos companheiros da Companhia de Caçadores Pára-Quedistas nº121 que sobreviveram à violenta emboscada da guerrilha do PAIGC, a 23 de Maio de 1973, no Norte da Guiné-Bissau, junto ao Senegal (1).

Mas o clima quente e húmido produzia efeitos infernais. Os cadáveres entraram rapidamente em decomposição e foram enterrados, numa cova aberta à pressa, no destacamento militar português em Guidaje. Antes e depois da declaração de independência da Guiné, verificar-se-iam alguns períodos de acalmia no território, mas os restos mortais dos três jovens nunca foram trasladados (2).

Na última sexta-feira, quase 34 anos depois dos enterramentos, um ex-sargento-mor de outra companhia de pára-quedistas, Manuel Rebocho, e o seu antigo comandante, o general na reserva Norberto Bernardes, regressaram à Guiné, para a derradeira missão trazer os companheiros para casa. Lourenço para Cantanhede, Peixoto para Vila do Conde, Vitoriano para Castro Verde.

"É uma obrigação moral", justifica Rebocho, que descobriu que as trasladações não haviam tido lugar quando, em 2006, fazia uma tese de doutoramento sobre "Sociologia da Paz e dos Conflitos" (3).

Liga tem outra prioridade

"Parece ter descoberto a pólvora", critica o presidente da Liga dos Combatentes (LC), Chito Rodrigues, irritado com a iniciativa de Rebocho, coordenada pela Associação de Veteranos de Guerra do Centro. Rodrigues, general do Exército na reserva, sublinha que é a LC que detém a "missão institucional" de resolver o problema. Não só daqueles três militares, mas de um total de quatro mil sepultados em quase 400 lugares de Angola, Moçambique e Guiné.

Desses quatro mil, apenas 1250 foram recrutados no território a que hoje se limita Portugal, mas Rodrigues diz que o Estado também é responsável pelos 2750 militares que, apesar de recrutados nas ex-colónias, morreram em combate com a mesma farda. E a prioridade da LC não é trasladar aqueles 1250 corpos para Portugal, mas dignificar meia dúzia de cemitérios, nas antigas províncias ultramarinas, onde possa concentrar os quatro mil. De resto, nota que, mesmo em Guidaje, estão sepultados mais cinco soldados do Exército recrutados na metrópole e 23 do recrutamento local.

Admitindo trazer também os corpos dos militares do Exército, se surgir autorização oficial, Rebocho lembra que já está mandatado pelas famílias dos pára-quedistas para os resgatar e invoca, sobretudo, espírito de corpo. "Os pára-quedistas têm uma máxima que diz que 'ninguém fica para trás' e, neste caso, ficaram", lamenta, notando que os Fuzileiros e os Comandos não deixaram nenhum homem na Guiné.

Além disso, os três pára-quedistas não foram enterrados num cemitério, mas em "campo aberto", assinala Rebocho, acrescentando outro argumento: "Por determinação do poder político, os militares mortos até 68 ficavam lá, a não ser que a família pagasse o transporte; a partir daí, passaram a vir; ora, estes meus camaradas ficaram lá não por determinação do poder político, mas do poder militar".

Estado ingrato

A viagem de uma semana que os pára-quedistas iniciaram, sexta-feira, e a que farão em Fevereiro, com uma equipa de cientistas, não é apoiada pela LC. "A Liga nunca disse que não à operação, mas não dá um tostão", diz Rebocho. Por estes dias, já com autorizações das autoridades locais, o ex-sargento e o general Bernardes farão o reconhecimento da zona onde estão as sepulturas, segundo o mapa dos enterramentos.

A 16 de Fevereiro, voltarão à Guiné, com arqueólogos e antropólogos e com a esperança de encontrar chapas identificativas dos soldados junto dos ossos. De qualquer modo, a equipa da segunda viagem transportará as ossadas para Bissau, em urnas, e só trará amostras para Portugal. No Instituto Nacional de Medicina Legal, serão sujeitas a testes de ADN e, confirmando-se a identidade dos soldados, Bissau enviará as urnas.

A irmã do soldado Lourenço parece ainda duvidar de tudo isto. "A gente quer que seja mesmo verdade", desabafa Maria Lourenço, muito mais convicta da "ingratidão" do Estado português. "Se o levou para lá, deveria tê-lo trazido! Mas nem agora ajuda... A 28 de Maio de 73, recebemos a notícia da morte do meu irmão, e disseram-nos que não valia a pena esperar, que ele já estava enterrado. Só quando fizesse sete anos é que mandavam os ossos... "

Nelson Morais
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Notas de L.G.:

(19 vd. posts de:

25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto

9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida

(2) Vd. post de 21 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1099: O cemitério militar de Guidaje (Manuel Rebocho, paraquedista)