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terça-feira, 27 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6254: Parabéns a você (110): Hugo Guerra, Coronel DFA Ref (Ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 55 e 60, Gandembel, Ponte Balana, Chamarra, S. Domingos, 1968/70) (Editores)

1. Neste dia 27 de Abril de 2010, festejamos pela segunda vez no nosso Blogue o aniversário do nosso camarada Hugo Guerra* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 60, Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70, que é hoje Coronel, DFA, na reforma).

É portanto com redobrado prazer que aqui estamos de novo para lhe desejar muita saúde, muitas felicidades e uma longa vida, junto dos seus familiares e amigos.

Marcamos desde já encontro no próximo ano, neste mesmo dia, para renovação dos nossos votos.

Caro Hugo Guerra, a tertúlia associa-se à tua alegria e envia-te um abraço colectivo.

2. Comentário de L. G.:

Hugo, no teu dia de festa, mando-te um grande chicoração, formulo muitos votos de boa saúde (que é o que precisas mais neste momento) e de longevidade (com qualidade de vida...), na companhia da tua simpatiquíssima esposa, Ema,  com quem tive o prazer de conversar há dias, pelo telefone. Ela, que teve a coragem de voltar à universidade (para fazer o curso de técnica superior de serviço social), terá o apoio que entender pedir-me e que eu  lhe puder dar, nomeadamente sob a forma de textos de apoio nas áreas da sociologia da saúde e do trabalho. Reforça a mensagem que eu lhe transmiti. Espero poder encontrar-vos, a ambos, no nosso belo e fraternal convívio, marcado para 26 de Junho, em Monte Real. Vejo que já estão inscritos.

__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 29 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2312: Tabanca Grande (43): Hugo Guerra, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 55 e 50 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70)
e
27 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4255: Parabéns a você (6): Hugo Guerra, o homem que foi evacuado duas vezes e meia, faz hoje anos (Editores)

(...) O Hugo Guerra, ex-Alf Mil, comandante do Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 60 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70)... Não, ele nunca comandou o Pel Caç Nat 50. Já nos pediu para corrigir este pormenor curricular... Aqui fica a correcção. (...)


Podem ver todos os postes deste nosso camarada no marcador Hugo Guerra.

Vd. último poste da série de 24 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6234: Parabéns a você (109): David Guimarães, o melhor rapaz da Tabanca do Xitole (Luís Graça)

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5903: Estórias avulsas (76): Como morreu o meu prisioneiro (Hugo Guerra)

1. Mensagem de Hugo Guerra* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 60, Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70, que hoje é Coronel, DFA, na reforma), com data de 25 de Fevereiro de 2010, com uma história de prisioneiros: 

COMO MORREU O MEU PRISIONEIRO 

Em Fevereiro de 1970 estava em São Domingos para descansar de Gandembel e Ponte Balana, e acabar a minha comissão que viria a terminar abruptamente logo no mês seguinte, quando rebentou uma mina nas mãos do meu amigo Seleiro e nos atingiu aos dois. 

 Um dia qualquer de Fevereiro ou Março fomos informados pelo Comando de Batalhão que nos iam trazer uma encomenda. Lembro-me que era ao fim da tarde e quando o DO aterrou, lá fomos num jipe à pista saber o que se passava. Montada a segurança aproximei-me do avião e, como era o mais velho dos Alferes e o Capitão estava de férias, competia-me fazer as honras da casa. 

Do avião saíram alguns Oficiais Superiores e um nativo já de cabelos brancos e andrajoso, mas com um porte altivo e digno, que ainda hoje povoa as minhas recordações. Era a encomenda. Fui informado que o homem tinha sido encontrado algures junto à fronteira e traziam-no porque ele teria dito estar disposto a indicar o caminho para um local na nossa Zona onde se pensava que encontraríamos o IN. 

A ser verdade seria um ronco para aquela Companhia de periquitos que, felizmente para eles nunca os chegaram a ver, nem vivos nem mortos. Lá mandei levar o homem para a prisão e dei instruções para que ficasse bem vigiado até à manhã seguinte quando, pensávamos nós, iria levar-nos até ao IN. 

 A avioneta foi-se com os Digníssimos passeantes e nós regressamos ao aquartelamento para a janta que já nos esperava. Levaram o jantar ao prisioneiro e abrandaram a vigilância de tal forma que, estávamos nós a jantar, irrompe a rapaziada pela Messe dentro gritando que o homem se tinha enforcado. 

 Fui a correr ver o que poderíamos fazer - já era o terceiro enforcado que via na minha vida - e encontrei o meu prisioneiro pendurado e com a rapaziada toda a olhar especados com aquela visão. Tinha usado o baraço que trazia a segurar as calças e que ninguém se lembrara de lhe tirar antes. Agarrei o homem pelas pernas e fazendo força para cima para aliviar o peso lá arriamos o corpo que ainda tentei trazer de volta à vida. Fiz-lhe boca a boca e naquele desespero até injecções no coração lhe apliquei. Tudo sem resultado. O homem partira o pescoço e nada mais havia a fazer. 

 Apareceu entretanto o Chefe de Posto, cabo-verdiano, cujo nome não recordo mas que disse do alto da sua sapiência: 

 - Aquele mais velho da etnia (?), nunca trairia o seu povo e tinha-se suicidado para evitar a vergonha insuportável de ter sido preso e humilhado daquela forma. 

 Cresci mais um bocado naquele dia e, no dia seguinte achei que já tinha guerra a mais e, escrevi ao meu amigo Coronel Pilav Diogo Neto, Comandante da Zona Aérea da Guiné a pedir para me tirar daquele filme. Já chegava. Hugo Guerra

Hugo Guerra e o seu amigo Seleiro

__________ 

 Nota de CV:


segunda-feira, 27 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4255: Parabéns a você (6): Hugo Guerra, o homem que foi evacuado duas vezes e meia, faz hoje anos (Editores)

Hugo Guerra, ex-Alf Mil, comandante do Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 60 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70)... Não, ele nunca comandou o Pel Caç Nat 50. Já nos pediu para corrigir este pormenor curricular... Aqui fica a correcção.

Mas hoje estamos aqui para lhe deixarmos uma notinha... de parabéns, com votos de muita saúde e felicidades, para ele e para os seus. O Hugo hoje faz anos. Hoje é o seu dia especial. Pois, que tenha um belo dia de anos. São os votos dos editores do blogue e do resto da Tabanca Grande.

Devemos dizer que soubemos por acaso desta efeméride. Não temos nenhum ficheiro, com a data de nascimento do pessoal da Tabanca Grande. Mas, de futuro, gostávamos de o ter... Que nos desculpem os outros camaradas que fizeram anos em Abril. Foi o caso, por exemplo, do David Guimarães, um homem do 24 de Abril (!), nosso tertuliano nº 3 (e aqui a antiguidade é um posto, ou meio posto...). Também para ele e os demais aniversariantes do mês de Abril vão também os nossos parabéns, amistosos, sinceros, calorosos, embora já um pouquinho atrasados... O que que conta é o gesto!

Entretanto, como homenagem ao nosso aniversariante de hoje, fomos revisitar um texto fabuloso que ele há tempos, há cinco meses atrás, publicou no nosso blogue. Começava assim...

1. Vd. poste de 25 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3518: História de vida (19): Evacuado duas vezes e meia...(Hugo Guerra)

(...) "Em Julho de 1969, já eu estava na Chamarra, fora, portanto de Gandembel e Ponte Balana, quando vim de férias à Metrópole. Tinha 24 anos, acabados de fazer, e já tinha dois filhos.

"Mal acabei de regressar a Aldeia Formosa/Chamarra recebi uma carta da minha mulher, que teve o efeito duma mina anti-pessoal. Dizia-me ela que tinha encontrado o amor da sua vida e que ia viver com ele para Moçambique, pois fora mobilizado para uma comissão naquele Serviço que fazia os filmes, das festarolas que aconteciam em Angola e Moçambique, onde vim a trabalhar mais tarde.

"Isto não me podia estar a acontecer e ainda hoje culpo estes acontecimentos de tudo o que vem a seguir.

"Como não podia ficar parado a assistir de longe a este percalço, meti-me a caminho e fui falar com o General Spínola, pedi-lhe 8 dias para voltar a Lisboa e esclarecer aquele pesadelo, e que de imediato me foram concedidos" (...).


2. Leiam o resto por favor, que vale a pena... E já agora acompanhem o comentário que, na altura, lhe fez o nosso editor L.G.:

Obrigado, Hugo, por teres respondido à chamada. E sobretudo teres sabido interpretar o meu tímido repto... Por pudor, não gostamos de mostrar, em público, as chagas do corpo e as mazelas da alma. A tua história de vida dava um livro, como se costuma dizer. Não te falta o talento para o escrever e, o mais importante, a matéria-prima.

Obrigado, amigo e camarada, tiro o chapéu (ou melhor, o quico!) à tua coragem, não à de ontem, mas à de hoje: reviver todo esse pesadelo dos teus 24/25 anos, não sei se te faz bem... Mal não te faz, é seguramente blogoterapia...

Para mim, a tua história de vida dá um toque imensamente humano à História com H grande... Um dia, os Historiadores com H grande vão esquecer-se, mais uma vez, de nós, o Guerra, o Celeiro, o Baptista, o Marques, o Gramunha, o Cunha, o Ferreira, o Iero Jau, e por aí fora, de todos nós que morremos, que ficámos estropiados, feridos no corpo e na alma, e que fizémos a guerra, e que a ganhámos e perdemos mil vezes...

Um dia, os senhores doutores por extenso vão contar a guerra, descrever as batalhas, avaliar as estratégais dos generais, pintar um grande quadro sinóptico, e tu, Hugo, não estás lá, nem como simples figurante, nem como mero adereço, ao lado do poidão de Chamarra, da tua Chamarra...

Mas os teus camaradas, os teus amigos, os teus filhos e os teus netos, terão orgulho em ti, tu que foste evacuado duas vezes e meia e andaste a voar nesse ninho de jagudis e de águias que era a psiquitria do Hospital Militar Principal, entre heróis e filhos da mãe...

Terão orgulho em ti, por que foste um homem digno, um militar nobre e uma camarada solidário... Não é fácil, a um militar com o teu currículo, vir aqui, num blogue de camaradas, admitir que não foste capaz, daquela vez, em São Domingos, levantar a maldita mina que te iria marcar, no corpo e na malta, para o resto da vida. A ti e ao Celeiro.

Deixa-me dizer-te, por fim, que achei muito lindo, muito emocionante, o que escreveste sobre ele, o cabo Celeiro. É um naco de prosa de antologia:

"Aguentei, em choque, até chegarmos ao HM 241 em Bissau e o que mais me agradava naquele desespero todo era continuar a ouvir o Celeiro a dizer que estava morto. Se ele se calasse, sabia que podia ter perdido um amigo".

Aceita um Alfa Bravo deste teu leitor, reconhecido. Cuida de ti e... do olho que a maldita mina não te conseguiu roubar. Luís

sexta-feira, 6 de março de 2009

Guiné 63/74 - P3988: Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assassinos (13): Hugo Gerra, que lutou contra Nino e os cubanos

1. Comentário do Hugo Guerra ao Poste P3951 (*). O Hugo foi Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 60, (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70); hoje é Coronel, DFA, na reforma. 

 A Visão de ontem, nº 835, de 5 a 11 de Março de 2009, já trouxe uma nota de "rectificação", assinada pelo jornalista Luís Almeida Martins, que é também um pedido de desculpas aos ex-combatentes que se sentiram indignados com um parágrafo do seu artigo "Portugal e o passado". 

O nosso blogue irá dar por encerrada esta série, com a publicação, este fim de semana, de uma anterior resposta do jornalista a todos os que lhe escreveram, resposta essa que eu, em nome da Tabanca Grande e dos meus co-editores, aceito e considero como razoável, suficiente e civilizada (LG). 

  2. Olho por olho... (**) por Hugo Guerra 

 Camaradas e amigos e já agora Senhores Jornalistas Eu gosto muito de futebol, mas como só fui uma vez a um jogo ver a despedida do [José] Travassos, já lá vão mais de 55 anos(?), limito-me a ver pela TV e não mando bitaites sobre um assunto onde não pesco nada. 

 Vai daí que me seja difícil entender algumas barbaridades que profissionais da comunicação social escrevem como se percebessem alguma coisa do que falam. Claro que me estou a referir ao artigo da Visão (**) e também à solidariedade manifestada pela Diana Andringa com a classe jornalística, tentando pôr água na fervura num panelão que ainda está em ebulição. 

 Não escrevam disparates ofensivos para toda uma geração que por lá passou, e ouçam todas as partes que viveram o verdadeiro conflito. Todas as noites quando me deito e tiro o meu "olho de vidro" para meter num copo de água (magoa-me dormir com aquele caco há 38 anos), não posso deixar de me sentir revoltado e indignado com o que acontece à nossa volta e o que é escrito com alguma leviandade quase 40 anos após Março de 1961. 

 Quando embarquei no cargueiro Ana Mafalda em Setembro de 1968, fiquei escandalizado por ver, no mesmo camarote que o meu, a bagagem de um Alferes que levava uma raquete de ténis. Aquilo mexeu comigo e senti-me como se tivesse apanhado o comboio errado. Só depois soube que ele era de Administração Militar e ia fazer Contabilidade no QG de Bissau. Ficámos muito amigos e nunca deixei de sentir um pouco de raiva pela malvada sorte. Possivelmente foi com ele que o Senhor Jornalista da Visão falou para estar tão bem informado da Guiné. Mas, como eu calculo que ele venha ler o nosso blogue, vou aqui descrever um pequeno apontamento dessa mesma altura em que o General Spínola vivia em Bissau e este pobre escriba, mais os outros largos milhares, foram colocados frente a frente com os turras. 

 A mim calhou-me o Nino Vieira e sus muchachos cubanos, pois fui parar em Gandembel. E, se ele tem dúvidas dos contactos entre as NT e o IN, só lamento que não me tenha acompanhado numa incursão ao Corredor de Guileje onde vi, ouvi e assisti à morte de vários soldados do PAIGC, fortemente armados e que as tropas pára-quedistas emboscaram com êxito. 

 Mas esta foi uma confrontação minha em terreno aberto, sem napalm nem massacres,( que também os houve mas noutros palcos), deve ser a bem da verdade multiplicada por n vezes no TO da Guiné. Para não restarem dúvidas sobre os contactos que o "marciano" da Visão nunca viu, ainda lhe digo, na continuação, que nessa noite fomos cercados dentro do nosso aquartelamento de Gandembel e a tão pouca distância uns dos outros que dava para rir, se não fosse tão sério, a troca de insultos entre eles e nós (filho da puta e outros), antes e durante o fogachal que nessas noites só acabava de madrugada, quando chegava a força aérea; e lá vinha também o nosso General Spinola que para dar ânimo às tropas subia para cima duma caserna e desafiava o IN a vir lá para se haver com ele, coisa difícil de acontecer pois os sobreviventes já tinham recolhido para lá da fronteira. 

 Quanto aos acidentes de viação sem mais, é duma brutalidade a sua afirmação que só me admiro que nenhum dos sobreviventes feridos gravemente não tenha ainda mandado com uma perna postiça ao Senhor Jornalista. Pela minha parte vou só enviar-lhe um "olho de vidro" que não uso agora, que sempre é mais leve que uma perna e que pode colocar num copo de água todas as noites à cabeceira da cama para ver se começa a perceber que aquilo não foi a guerra do Solnado e nós na Guiné combatíamos como homens e não como assassinos. 

 Um abraço do Hugo Guerra 

 PS: De Setembro de 1970 a Setembro de 1974 vivi e trabalhei em Angola. Aí a história é outra e, embora como civil, corri Angola de carro do Zaire a Nova Lisboa e do Ambriz a Negage. Um dia poderei falar dessa minha experiência, se for considerado conveniente. 

 _______________ 

 Nota de L.G.: 

 (*) Vd. poste de 28 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3951: Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assassinos (8): Diana Andringa, jornalista e cineasta 


sábado, 10 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3715: As Boas-Festas da Nossa Tabanca Grande (14): Em Gandembel - O Adeus à Guerra (Hugo Guerra)

1. Embora fora de tempo, não quisemos deixar de publicar esta mensagem do nosso querido camarada Hugo Guerra (*), ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 60, (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70), hoje Coronel, DFA, na reforma, com data de 18 de Dezembro de 2008. 

 Aproveitamos para deixar ao Hugo renovados votos de bom 2009, pleno de saúde e disposição para colaborar connosco. Prometemos estar mais atentos e sermos lestos na publicação dos seus trabalhos.


 

2. Vou passar as Festas à Bélgica a casa de uma filha. Estarei de regresso a partir de 04 de Janeiro. Esta página do Jornal que mandei digitalizar faz referência a velhinha memória de Gandembel exactamente a um dia qualquer do Natal de 1968. Tal como diz o Zé Teixeira fiquei admirado de o artigo não ter sido lancetado pela censura..... Como me pareceu ter lido que há aí uma rapaziada de Porto de Mós ou Leiria que está a preparar-se para lá dar uma saltada de Jeep, porque além do mais andei a estudar dois anos no Liceu da cidade do Liz em 1958/59, às tantas ainda tenho ex-colegas ou seus filhos nessa aventura. Um grande abraço de Boas Festas e melhores entradas em 2009, até ao meu regresso, como se dizia nessa altura prás famílias




 

Recorte da página do velhinho Diário Popular


Na foto está este vosso amigo entre o Cap Barroso de Moura e o Ex-Alferes Barge. Hugo Guerra
 ____________ 


 OBS:- Infelizmente a qualidade das imagens não permite ler o artigo referenciado, nem distinguir o nosso camarada entre os oficiais que refere. Fica a intensão. 

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3518: História de vida (18): Evacuado duas vezes e meia...(Hugo Guerra, ex-alf mil, cmdt Pel Caç Nat 55 e 60 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70); hoje cor ref, DFA



Meia evacuação, ou... uma grande salganhada


Hugo Guerra
ex-Alf Mil, comandante do Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 60 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70), hoje Coronel, DFA, na reforma


Às tantas. Até nisto fui exagerado. Fui evacuado por duas vezes e meia.

A meia evacuação

E tenho que começar pela meia evacuação para se perceber como aconteceram as outras duas. Foi assim:


Em Julho de 1969, já eu estava na Chamarra, fora, portanto de Gandembel e Ponte Balana, quando vim de férias à Metrópole. Tinha 24 anos, acabados de fazer, e já tinha dois filhos.

Mal acabei de regressar a Aldeia Formosa/Chamarra recebi uma carta da minha mulher, que teve o efeito duma mina anti-pessoal. Dizia-me ela que tinha encontrado o amor da sua vida e que ia viver com ele para Moçambique, pois fora mobilizado para uma comissão naquele Serviço que fazia os filmes, das festarolas que aconteciam em Angola e Moçambique, onde vim a trabalhar mais tarde.

Isto não me podia estar a acontecer e ainda hoje culpo estes acontecimentos de tudo o que vem a seguir.

Como não podia ficar parado a assistir de longe a este percalço, meti-me a caminho e fui falar com o General Spínola, pedi-lhe 8 dias para voltar a Lisboa e esclarecer aquele pesadelo, e que de imediato me foram concedidos.

A minha ligação de amizade com os Páras e o Coronel Diogo Neto, a quem pedi uma boleia no 1º avião que saísse de Bissau, colocou-me em Lisboa na noite seguinte.

Esclarecida a situação, para mim completamente surrealista, pois mais parecia estar a viver um pesadelo, fui às Urgências do HMP [Hospital Militar Principal, à Estrela] em desespero de causa, mas com a ideia que tinha duas coisas a fazer: (i) Cumprir o que tinha prometido ao General Spínola; e (ii) fugir de tudo isto - os meus 24 anos e a época em que vivíamos, não eram compatíveis com a visão marialva da vida que tinha levado até então.

Fui muito bem atendido no HMP e drogaram-me o suficiente para chegar a Bissau, como era meu desejo. Podia ter acabado ali a minha comissão mas o orgulho ferido e a vergonha eram muito fortes e pensava que o melhor era pôr a distância entre mim e toda esta porcaria.

Lá embarquei num avião militar que fez escala em Cabo Verde e, como ia cheio de comprimidos, adormeci profundamente num banco de madeira que por lá havia e esqueceram-se de me acordar.

Só passado mais de meia hora deram comigo e lá segui, com uma carta do HMP para baixar de imediato ao HM 241, à Psiquiatria. 18 de Julho de 1969. Como o percurso foi ao contrário chamo-lhe meia evacuação.

Vamos à seguinte

Na Psiquiatria em Bissau vi os apanhados do cacimbo e outros que se faziam a isso.
Não era bonito de ver essa golpada, quando mesmo ao lado tínhamos verdadeiros heróis, todos esfarrapados e já com peças a menos, que só eram evacuados se houvesse a certeza que não morriam pelo caminho; eu estive lá a estabilizar e como queria regressar ao meu pelotão, o Pel Caç Nat 55, os médicos devem ter percebido que eu já não batia certo e despacharam-me mesmo para Lisboa.

Passados dias vim então, evacuado para a Psiquiatria do HMP.

Na Psiquiatria onde fiquei internado em camarata, pois claro, com janela virada para o Jardim da Estrela onde as moto-serras começavam o seu chinfrim às horas em que conseguia adormecer (durante a noite os pesadelos eram mais que muitos), dizia eu, na Psiquiatria, éramos atendidos por Psiquiatras novatos, muito junto uns as outros, de modo que uma consulta era muitas vezes partilhadas com os vizinhos do lado.

Acho que a medicação também devia ser standard , o que nos fazia parecer um bando de doidinhos.

Cansado disto e porque mais uma vez me encontrava em Lisboa onde me sentia altamente traumatizado e desconfortável, pedi para tratar-me em ambulatório, gozei uns dias de férias no Algarve e, ainda sem os 12 meses cumpridos, pedi outra vez que dessem alta e mandassem de volta à Guerra.

Fui a uma Junta Médica e consideraram que eu estava no meu melhor e apto... para todo o serviço militar. Mais tarde e, na sequência deste filme, a doença foi considerada como adquirida em Serviço de Campanha.

Ter ou não 12 meses cumpridos em zona de 100% era importante por ser norma, não sei se escrita, que o pessoal nessas condições fazia o resto da Comissão em Portugal. Nem disso quis saber...

E só regressei a Bissau depois do Ano Novo, 1970, Janeiro, porque as meninas do Depósito Geral de Adidos, com peninha de mim foram escamoteando o meu regresso até passar as Festas Natalícias.

Terceira e última

Cheguei a Bissau em Janeiro, salvo erro a 18, e queriam ficar comigo na cidade. Bati o pé, fiz birra e lá marchei para S. Domingos, zona calma onde os periquitos faziam a sua adaptação ao clima e ao barulho da guerra.

Foi aí que dormi pela primeira vez numa cama normal com lençóis e tudo. Trocava todo o meu vencimento da Guiné por garrafas de whisky, que bebia até esquecer... mas as o 1º da CCS não se esquecia e lá vinha fazer contas comigo. Levava as garrafas, ainda intactas, e passados dias eu já estava a refazer o stock.

Fiquei a comandar o Pel Caç Nat 60 e ainda tenho algumas lembranças de coisas que por lá aconteceram. Adiante.

No dia 13 de Março de 1970, ia comandar um patrulhamento até à fronteira e eis senão quando detectámos uma primeira mina reforçada, mas em tal estado de conservação que não houve qualquer problema para a levantar.

Tinha no Pelotão um Primeiro Cabo, de nome Seleiro, já com um longo historial de levantar minas e, depois de a vermos, concordei que ele a levantasse, o que foi feito sem qualquer problema. Passámos o detonador para a bolsa do enfermeiro e continuámos a progressão.

Como eu era sempre o terceiro ou quarto homem depois das picas, vi perfeitamente que os picadores tinham localizado qualquer coisa. Montada a segurança lá chamei de novo o Seleiro para conferenciarmos sobre aquela.

Depois de nos certificarmos que estava isolada, tinha que decidir se abortava a operação, rebentando a mesma e regressando a São Domingos, expostos a alguma emboscada do IN. Se fosse entendido desactivar a mesma, poderíamos ir ao objectivo e no regresso levantá-la sem qualquer perigo.

Um e outro rastejámos até à mina que parecia nova e eu comecei a dizer ao seleiro que a queria levantar. Ele acabaria a sua comissão dois meses mais tarde.

Comecei a suar por todos os poros e depois de olhar bem aquela malvada, disse ao Seleiro que não era capaz. Ele disse-me que não havia crise e tomou o meu lugar.

Deitado no chão a cerca de 5 metros, acompanhei todos os seus movimentos com angústia e só relaxei um pouco quando ele, de joelhos e com a mina na mão, prestes a desarmadilhá-la me chamou:

- Meu Alferes, olhe aqui.

Comecei a levantar-me e senti o estrondo infernal, o sopro que me projectou de costas, o sangue quente a escorrer na cara e os gritos dele a dizer que estava morto…

Mas não estava. Os nossos homens trataram-nos o melhor possível, pediram as evacuações e fizeram uma macas com bambus e camisas. Tinha medo de perder a consciência e passar para o outro lado.

Aguentei, em choque, até chegarmos ao HM 241 em Bissau e o que mais me agradava naquele desespero todo era continuar a ouvir o Seleiro a dizer que estava morto. Se ele se calasse, sabia que podia ter perdido um amigo.

Quarenta e oito horas depois chegámos ao aeroporto de Figo Maduro e, como já foi dito por um camarada nosso, fomos colocados dentro de ambulâncias militares e sem qualquer barulho para não acordar a cidade, levaram-me a mim para o HMP na Infante Santo e o Seleiro foi levado para o Anexo, em Campolide.

Fiquei num quarto com mais dois camaradas que estavam lá a repousar, duma operação a uma hérnia um, e de um quisto qualquer, outro.

Só passados cerca de 10 dias a minha família foi avisada e nada disseram aos meus Pais. Afinal ainda podia morrer. Recordo-me de ver dois vultos aos pés da minha cama e ouvir a voz da minha irmã mais velha dizer, lamuriante:

- O meu irmão era tão bonito.

Imagino o aspecto que teria todo queimado e cheio de cicatrizes na cara, cabeça e membros. Nessa altura já o médico me tinha dito que tinha ficado sem o olho esquerdo e começaria os tratamentos a seguir à Páscoa quando estivesse mais estabilizado. Só ao fim de dez ou quinze dias comecei a poder comer porque até aí os dentes abanavam todos.

Em meados de Abril já fazia a pé o caminho para as diversas clínicas que passei a frequentar e apanhei o primeiro susto quando tiveram que me amputar os restos do olho.

Foi horrível mas acho que foi o Luís (Graça) que pediu algumas vivências de camaradas da Tabanca que tivessem frequentado o HMP, tout court.

Não sei se esta parte da Guerra é publicável, mas eu limito-me a contar a minha história, como a vivi e sobrevivi.

A verdade é que com isto tudo estava outra vez em Lisboa e, assim que achei que estava operacional, em Agosto outra vez, pedi para me mandarem à Junta Médica (JHM) e fiquei livre da minha guerra de G3.

Assim pensava. Em Outubro já estava em Angola a tomar conta da Fazenda Tabi, em zona de guerra, perto do Ambriz e fiquei naquele belo País até Abril de 1974. Foi o tempo para lamber e sarar as feridas.

Um abraço do
Hugo Guerra

__________


Notas de vb:

1. Artigos do Hugo Guerra em

Guiné 63/74 - P3443: Guiné/Vietname. Por favor, deixem-me sair de Gandembel (Hugo Guerra)

2. E da série Histórias de vida em:

17 de Novembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3464: Histórias de Vitor Junqueira (10): Santa Paz

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2715: Construtores de Gandembel / Balana (7): As minhas andanças com o Pel Caç Nat 55, no tempo da CCAÇ 2317 (Hugo Guerra)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gandembel > 2007 > Restos do antigo aquartelamento das NT, abandonado em Janeiro de 1969... De quem seria estas inscrições no cimento dos abrigos ? Seguramento dos primitivos construtores: Barreto... Globe-Trotters...

Fotos: © Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do Hugo Guerra, dirigida ao José Teixeira, com conhecimento aos editores do blogue, com data de 30 de Março (1):


Zé Teixeira:

Como dizíamos na tropa estava à espera "que te apresentasses" (brincadeira, claro) para encetarmos este papo entre nós que começou nos idos de 1968.

Já hoje tinha andado a bisbilhotar o blogue para ver se estavas atento e, como respondeste para o mail da minha mulher, só agora te respondo. Vamos pôr as nossas memórias em dia, se possível (2):

(i) Cheguei à Aldeia Formosa de Helicóptero e saí para Gandembel também de Heli.

(ii) Era mesmo este sub-nutrido (54 kilos) que conheceste na Aldeia e vou contar-te porque fui parar a Mampatá. Nessa altura, Gandembel embrulhava todas as noites e, embora eu estivesse em trânsito para lá, houve uma noite que na hora de jantar começou o fogachal e o Major Azeredo mandou o Alferes Artilheiro mandar umas obuzadas para lá, para aliviar a pressão.Já era hábito para vocês mas para mim foi de tal maneira horrível que era aquilo que me esperava, que tive um ataque de choro que só acalmou quando o Médico me pôs a dormir.

(iii) No dia seguinte, mais calmo, fui eu que pedi ao Major que me deixasse ir dormir a Mampatá umas noites para me ambientar (e esconder a vergonha, claro).

(iv) Aí nos devemos ter encontrado, mas as minhas recordações são muito diluidas. Recordo-me que foi a minha primeira noite debaixo do chão no abrigo do Alferes que comandava o destacamento. Gandembel tornou a ser flagelada mas lá me aguentei e tomei a decisão de ir ter com o meu Pel Caç Nat 55 o mais rápido possível.

(v) Não fui, portanto, na coluna que referes, mas sim num heli que ali parou com destino a Gandembel e, como eu pesava pouco, deram-me boleia.

(vi) Quanto à Chamarra só não nos encontramos por dias, sei lá. Eu vinha de Ponte Balana na coluna de 19 de Janeiro [E 1969] e fomos descomprimir na Aldeia Formosa durante uns dias. Fui para a Chamarra substituir o Alferes Magro, com o meu Pel Caç Nat 55. A CCAÇ 2317 seguiu para Buba na mesma altura que tu, penso eu.

(viii) Fiquei na Chamarra até vir de férias ao Continente, em Junho ou Julho desse ano e depois.... Bem, é outra estória para outro dia.

Foi bonito o teu gesto carregado de simbolismo em Gandembel (3).

Tive muita pena de não poder ir mas o meu médico quebra-ossos desaconselhou-me de todo. É o Francisco Silva que foi com vocês.....Que raiva.

Para já um grande abraço
do Hugo Guerra
___________

Notas dos editores:

(1) O Hugo Guerra, hoje Cor DFA, comandou os Pel Caç Nat 55 (que esteve adstrito à CCAÇ 2317, Gandembel, Ponte Balana, Chamarra, 1968/69) e depois o Pel Caç Nat 50 (S. Domingos, 1969/70):


(2) Vd. postes de:






terça-feira, 1 de abril de 2008

Guíné 63/74 - P2708: Construtores de Gandembel / Balana (5): Ponte Balana não era dos piores sítios do Tombali... (Idálio Reis)

Guiné > Região de Tombali > Pontão de Balanazinha > 1968 O Alf Mil Idálio Reis, da CCAÇ 2317, junto ao março onde se podia ler o ano da construção da obra: 1946

Foto: © Idálio Reis (2008). Direitos reservados.


Guiné > Região de Tombali > Destacamento de Ponte Balana > A praia fluvial...

Foto: © Idálio Reis (2007). Direitos reservados.



1. Mensagem, com data de 30 de Março, enviada pelo Idálio Reis, ex-Alf Mil da CCAÇ 2317 (Gandembel / Balana, Abril de 1968 / Janeiro de 1969):


Luís, com o teu profundo sentimento de conciliar emoções, por vezes, tão difíceis de superar, fizeste bem em publicar o poste da responsabilidade do Hugo Guerra. De todo, também a mim, tenho interesse apagar esta acha, apesar de considerar que, por vezes, há fogueiras que é melhor deixá-las manter acesas.

Como reconheces, tenho uma imensa dificuldade em escrever o que quer que seja sobre o Hugo Guerra, que muito jovem, em terras da Guiné, esteve às portas da morte quando se feriu gravemente, pois quanto sei, perdeu num dos lados a visão e audição. Só vim a saber deste desenlace, muito anos depois, num comboio Lisboa-Coimbra, onde vinha a visitar os seus filhos.

De todo o modo, a bem da verdade, sobre o que ele narra, direi:

(i) O destacamento de Ponte Balana tinha um efectivo a nível de grupo de combate. Como constataste, situava-se a poucas centenas de metros de Gandembel;

(ii) Todos os grupos de combate da minha Companhia [, a CCAÇ 2317, ]estiveram em Ponte Balana. E estar aqui 'abivacado', não era motivo para se lastimar, pois a vida aqui era mais facilitada; o nosso elo de ligação quotidiano era ir buscar o pão, que geralmente se fazia junto ao pontão do Balanazinha.

(iii) Fazes-me uma pergunta quanto às datas de construção das pontes; pois em anexo, envio-te uma fotografia com a minha pessoa junto aos restos deste pontão, onde se pode verificar a data de 1946).

(iv) As flagelações a Ponte Balana foram muito poucas, dado que os rios eram naturais elementos de valia na sua protecção e as armas de defesa de maior calibre localizados em Gandembel eram sinal de grande perigo.

(v) Ainda hoje recorri ao meu homem que continua a relembrar os factos por que passámos (como o grande Rodrigues me costuma dizer, lembra-se de tudo o que passou em Gandembel como os nomes dos seus 6 filhos), onde nada se sumiu, que aquando da retirada era o seu grupo que estava em Ponte Balana.

(vi) O Pel Caç Nat 55 sempre esteve connosco. O Hugo Guerra chega a Gandembel em fins de Agosto, e o seu grupo ia tendo a particularidade de reforçar os pelotões da Companhia que minguavam. E daí, surge o nome do alferes Barge, que chegou em rendição individual, já quase no fim de Gandembel, e que também estaria integrado com o seu grupo na data da retirada.

(vii) As afirmações que se têm feito para o Blogue, são da responsabilidade de quem as faz, ficma com quem as profere. Mas, quem não esteve por lá, há-de pensar que 120 dias em Ponte Balana foi um degredo....Não foi verdade. A fotografia que te enviei do pessoal a banhar-se no Balana, estava nesse sítio, e há ali estampada uma enorme alegria.

(viii) Já li o poste do Nuno Rubim (2), que amavelmente já me enviara as fotografias, exceptuando a do Google Earth. É esta a grande ferramenta que me falta, e que um dia haverá de surgir para actualizar estes meus antiquados equipamentos informáticos...
A imagem do Google é excepcional, e lá se distingue ainda o caminho de ligação Gandembel-Ponte Balana, notoriamente a parte a norte do rio.

Um caloroso abraço
do Idálio Reis

___________

Notas dos editores:

(1) Vd. poste de 29 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2700: Construtores de Gandembel / Balana (4): Estive lá 120 dias, com o meu Pel Caç Nat 55, até ao fim (Hugo Guerra)

(2) Vd. poste de 30 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2703: Memórias dos lugares (8): Destacamento de Ponte Balana (Nuno Rubim)

sábado, 29 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2700: Construtores de Gandembel / Balana (4): Estive lá 120 dias, com o meu Pel Caç Nat 55, até ao fim (Hugo Guerra)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Iemberem > Simpósio Internacional de Guileje > Visita ao sul > Ao meio, o Dr. Francisco Silva, madeirense, ortopedista no Hospital Amadora-Sintra, médico do nosso camarada Hugo Guerra. O Francisco Silva, que viajou de jipe, na viagem à Guiné, de ida e volta, foi Alferes Miliciano, tendo pertencido à CART 3492, que esteve no Xitole (com o Joaquim Mexia Alves). O Francisco Silva tem, no seu currículo militar, a particularidade de ter ido substituir um alferes morto na parada, pelos homens, africanos, do seu Pel Caç Nat 51, uma história incrível (não fora ele a contar-ma, em directo)... Do lado esquerdo, vê-se Salifo Camará, régulo de Cadique Nalu e Lautchandé, antigo Combatente da Liberdade da Pátria. Tem 87 anos. Do lado direito, a Maria Alice. Foto tirada por ocasião da visita ao centro de saúde materno-infantil de Iemberem.

Foto: ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados.




1. Texto do nosso camarada Hugo Guerra, que comandou os Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 60 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70):

Caro Luís:

O nosso Povo tem uns ditados muito acertados. Por exemplo, dizer-se que "Quem não se sente não é filho de boa gente", é um daqueles que tem muita aplicação prática.

Já estava à espera que mais dia menos dia "rebentasse a bronca" com outros camaradas nossos que, tal como o Alberto Branquinho e o Mexia Alves, não concordam com o protagonismo exagerado que alimentas no Blogue acerca de Gandembel e Ponte Balana, sempre imputadas ao Idálio Reis da [CCAÇ] 2317 e dos seus homens ....

Tiveste agora que tirar a limpo com o Idálio aquilo que eram as opiniões do Branquinho, como se só o 1º fosse o detentor de todo oconhecimento e acho a resposta do Reis muito brusca, para quem sabe perfeitamente que, só enquanto não se construiram os abrigos de betão, é que o pessoal "imitava as toupeiras".

Eu optei sempre por dormir dentro do Paiol em Ponte Balana, em cima dos cunhetes de munições, junto ao rádio-transmissor, sabendo perfeitamente que se tivessemos um ataque a sério, com a tomada do destacamento, só nos restava abrigar naquele bunker, pedir a Gandembel que nos enchessem de morteiradas e obuses e havia de ser o que fosse.

Claro que não obrigava ninguém a praticar esta loucura comigo, mas tinha sempre companhia,pois enquanto Gandembel estava "a embrulhar" havia sempre quem jogasse as cartas...e alguém contava as flagelações do in.

Assim como o Idálio pode dizer que foi o homem que mais tempo esteve em Gandembel com mais cerca de 150 a 200 homens, incluindo as tropas especiais e os especialistas , foi o meu Pelotão de Nativos 55 que mais meses esteve na Ponte Balana: Talvez uns 4 meses.

Como sabes os Pel Caç Nat tinham graduados brancos e sempre de rendição individual, o que originava duas coisas: (i) Eram apêndices das Companhias,para o pior.... até porque eram Nativos (sem comentários); (ii) Estavam completamente desgarrados das Companhias, o que era péssimo a nível humano e psicológico.

Quando o meu Pel Caç Nat saíu de Ponte Balana, já a cabeça da coluna ía a uns quilómetros de distância e, enquanto a 2317 seguiu para Buba, o Pel Nat 55 ficou logo na Chamarra.... nem sequer os quiseram em Aldeia Formosa.

O Zé Teixeira, que correu todos aqueles destacamentos , possivelmente até me conhece. Além de Aldeia Formosa, onde estive uns oito dias antes de seguir para Gandembel, ainda fui dormir duas ou três noites a Mampatá...

Dos 120 dias que o meu Pel esteve em Ponte Balana lembro-me de três Furréis brancos, do operador de transmissões - esse sim toupeira do 1º ao último dia- e talvez em Dez 68 foi lá colocada mais um ex-Alferes, Barge de seu nome, e que foi uma salutar companhia para mim. Salvo erro comandava um Pelotão da CCAÇ 2317.

Não me lembro de haver qualquer contacto comigo a questionar sobre o que eu teria a dizer de Gandembel-Ponte Balana, aquando da vossa romagem por aqueles lugares. Haverá algum engulho com a minha ida ao Corredor da Morte?

Como é que eu posso pronunciar-me sobre a Guerra da Guiné em locais onde nunca estive, a dormir numa cama, a comer um bife na tasca do não sei quantos ou a ter direito a uma lavadeira - pagando, claro - quando Gandembel e Ponte Balana não tinham contacto com o exterior excepto nos helis que levavam enfermeiras paras- querida Ivone e outras-que só lá iam buscar os mortos e feridos do ataque anterior...

Pista de aviação nada
População nada
Gado nada
Comida pouca e péssima...Nas chuvas o Balana fornecia peixe, à granada, claro.

Colchões para dormir cheios de buracos - remendos nem vê-los. Os poucos que havia eram para as viaturas. Bebida muita. Medo ainda mais. Médico uma vez em Dezembro.
Padre e Missa uma vez no Natal.

Gandembel e Ponte Balana são dois locais com misticismo, feitos de heroísmo e medo e os fantasmas ainda por lá andam e por cá também.

Gostaria, portanto, de te pedir , se assim o entenderes, que não esqueças os demais protagonistas que também forçados fizeram aquele pedaço da História.

Como diz o Branquinho,também lá estive e não vou deixar que outros contem as coisas por mim.

Um abraço do
Hugo Guerra


PS - Tenho muita pena de não ter podido ir ao Simpósium que acho correu muito bem. O meu Ortopedista, que esteve lá, ex-Alferes Francisco Silva, tirou-me as veleidades de aguentar as viagens de picada. Sou agora muito colunável....

2. Comentário de L.G.:

Hugo, errar é humano...Neste caso, pequei por omissão, ao fazer tábua rasa dos teus 120 dias (quatro meses, entre Agosto de 1968 e Janeiro de 1969), no destacamento de Ponte Balana. Tens que me dar o desconto: a minha base de dados, neuronal, não é assim tão grande e tão fiável que não me deixe mal, em certas circunstâncias... Lamento profundamente ter-me esquecido de ti e dos teus homens do Pel Caç Nat 55. Não o fiz intencionalmente, nem tinha nenhuma razão, objectiva, para o fazer... Como não tenho nenhum razão, manifesta ou latente, para pôr o Idálio Reis no Olimpo dos deuses e dos heróis. Sou anti-herói. São os homens, meus camaradas, que fizeram a guerra, que me interessam. Tu, o Idálio, e tantos outros, nos mais diversos pontos da Guiné...

Chegaste à nossa Tabanca Grande em Novembro de 2007 e temos, eu e os meus/nossos co-editores, publicado sempre as tuas mensagens... Foi pena não teres, em tempo útil - isto é, antes do Simpósio Internacional de Guileje - falado,com mais detalhe, da tua estadia em Ponte Balana... A ter havido injustiça, fica aqui reparada. Como eu costumo dizer, a nossa Tabanca Grande não tem portas nem janelas, não há convidados, nem VIP, nem membros de 1ª e 2ª classe... Há apenas amigos e camaradas da Guiné, que têm a liberdade de entrar e sair, quando lhes apetece...Caro que temos algumas regras de convívio e de comportamento...

Procurei em tempo útil incluir nas estórias de Guileje o relato da tua ida (voluntária à força...) ao Corredor da Morte (1)... Como seguramente publicaria o teu relato da estadia no hotel de muitas estrelas de Balana, se me tens avivado a memória... Já publiquei 2700 postes neste blogue e recebi, em três anos, muitos milhares de emails, .. Não me peças, por favor, que memorize todos os detalhes curriculares de toda a gente... Por outro aldo, não vale a pena a gente entrar pelo lado das insinuações e provocações, do género A Minha Guerra Foi Pior que a Tua... É uma picada que não nos leva a lado nenhum e é totalmente contrária ao espírito, aberto, franco, assertivo, frontal, leal, deste blogue...

Dito isto, Hugo, digo-te que apreciei a tua franqueza e aqui vai um abraço. Sem ressentimentos. Luís Graça (que, como tu, foi tropa-macaca, de 2ª classe).

PS - Não tenho fotos tuas do Tombali... Em contrapartida, mando-te uma foto com o teu médico de quem só posso dizer que foi um camaradão no fim de semana que passámos juntos, no sul...E a quem já convidei para ingressar na nossa Tabanca Grande.

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(1) Vd. postes de:

29 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2489: Estórias de Guileje (4): Com os páras, na minha primeira ida ao Corredor da Morte (Hugo Guerra)

7 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2415: Uma guerra entregue aos milicianos: onde estavam (estão) os nossos comandantes ? (Hugo Guerra, Coronel, DFA, na reforma)

22 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2374: O meu Natal no mato (10): Bissau, 1968: Nosso Cabo, não, meu alferes, sou o Marco Paulo (Hugo Guerra)

29 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2312: Tabanca Grande (43): Hugo Guerra, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 55 e 50 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70):

(...) Chamo-me Hugo Guerra, nasci em Estremoz em Abril de 1945 e estudei na Escola de Regentes Agrícolas de Évora onde acabei o meu curso em 1964. Em Agosto de 1968, sem perceber bem como (depois hei-de contar), estava no Ana Mafalda a caminho da Guiné em rendição individual e, como a sorte nunca me bafejou, quando desembarquei já tinha guia de marcha para Gandembel onde fui comandar o Pel Caç Nat 55 que estava adstrito à CCaç 2317 [, Gandembel/Balana, 1968/69]. Passei por Aldeia Formosa, num heli, e aterrei, ainda em Agosto [de 1968], em Gandembel.

"Passei a maior parte do tempo em Ponte Balana e estava lá quando fechámos a porta em Janeiro de 1969. Nessa altura, e porque a sorte continuava alheia à minha
odisseia, fiquei num destacamento logo a seguir, de nome Chamarra.


"A CCAÇ 2317 foi para Buba e mais tarde foram acabar a sua martirizada comissão em território menos hostil.

"Eu tive, mais tarde, uma passagem rápida por S. Domingos no comando do Pel Caç Nat 50 mas o suficiente para ficar ferido com o rebentamento duma anti-pessoal, salvo erro a 13 de Março de 1970.

"Sou hoje DFA e Coronel" (...).

(2) Vd. postes de:

26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2688: Construtores de Gandembel/Balana (1): Op Bola de Bogo, em que participou a CART 1689, a engenharia e outros (Alberto Branquinho)

26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2689: Construtores de Gandembel / Balana (2): O papel da CART 1689 (8 de Abril a 15 de Maio de 1968) (Idálio Reis)

28 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2692: Construtores de Gandembel / Balana (3): Nunca falei em protagonismo pessoal, mas sim da CART 1689 (Alberto Branquinho)

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2489: Estórias de Guileje (4): Com os páras, na minha primeira ida ao Corredor da Morte (Hugo Guerra)




Guiné > Região de Tombali > Guileje > Pel Caç Nat 51 /CART 2410 (1969/70) > Saídas para o mato. Fotos de Armindo Batata (que esteve em Guileje como Alf Mil do Pel Caç Nat 51, no tempo da CART 2410, de Jun 1969/Mar 1970) (1).

Fotos: © Armindo Batata / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Direitos reservados.



1. Texto de Hugo Guerra, enviada a 25 de Janeiro de 2008, e dedicado aos "caro Luís e camaradas que um dia destes vão passar neste local"... O Hugo Guerra foi Alf Mil (sendo hoje hoje Coronel DFA, na reforma). Comandou os Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 60 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70) (2):



Estórias de Guileje > A minha 1ª ida ao Corredor da Morte (Gandembel-Guileje) (3)




Mal tinha acabado de chegar a Gandembel (que me parecia uma Praça de Touros, vista de cima), e já estava à pega brincalhando claro, com o Alferes Artilheiro com quem tinha estado em Vendas Novas.

Achei estranho que ele tivesse um obus municiado e colocado na horizontal para a mata. Ele lá devia saber porquê e se todos os outros camaradas achavam bem, quem era eu para comentar. Mas quis saber o que ele queria fazer.

Foi-me dito então que a rapaziada já estava farta de levar porrada, com tanta precisão que era lógico pensar que o PAIGC teria por ali perto um ponto de observação e comunicação com as bases deles, para se servirem à vontade.

Era mesmo verdade. Nessa manhã a rapaziada que fazia limpeza de capim no exterior dos arames farpados, tinha descoberto um balcão de 1ª onde o IN se instalava e que dominava todo o perímetro do aquartelamento. Era uma alegria... Para eles, claro!

A aposta era se o Artilheiro conseguia ou não deitar a árvore abaixo à primeira obusada. Mais sabia eu que sim, mas como estava em jogo uma garrafa de uísque e eu sempre tinha que lerpar com uma por ter acabado de chegar, acabei por apostar contra e perdi mesmo... A árvore foi mesmo parar ao chão. E nessa noite Gandembel não foi flagelado.

Feita a apresentação da praxe ao Cap Pára Mário Pinto e, porque além de estar a escurecer, o meu Pel Caç Nat 55 estava em Ponte Balana, foi considerado mais oportuno só ir pra aí no dia seguinte e .......Vivós copos!!! E, como nem arma tinha distribuída, o Cmdt convidou-me para dormir no abrigo dele e de rajada perguntou-me se na madrugada seguinte não queria ir com eles (Páras) ao Corredor ?!.

Meio acagaçado, e perante o ar de gozo daqueles velhinhos todos, pensei que podia despachar aquilo mais depressa (com sorte, ficava ferido) e lá disse destemidamente ao Cap que estava no ir. Possivelmente com receio que eu me desenfiasse, convidou-me para dormir no abrigo dele que o Reis já mostrou em foto no Blogue e que tinha ligação directa ao morteiro 81 (4).



Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (1968/69) > Foto 217 > "O Comandante da Companhia pernoitava junto a este morteiro 81. O seu guarda-costas, Albino Melo, está atento. O fio ligava-se ao posto-rádio, ali bem perto".


Foto e legenda: © Idálio Reis (2007). Direitos reservados.


De madrugada, e sem qualquer respeito pelas visitas, atiraram-me para cima um camuflado de Pára-quedista e em menos de cinco minutos já estávamos formados e prontos a seguir. Eu só sabia que tinha que ser a sombra do Cap, não fosse perder-me e lá fomos mata fora no mais completo silêncio até atingirmos um carreiro bastante largo que era o famoso corredor.

Porque já havia luz da madrugada e a nossa missão não era o contacto, inflectimos para a esquerda até encontrarmos a Estrada que vinha do Guileje. O corredor seguia em frente e vim a saber que mais à frente se internava na Guiné - Conacri.

O que nos levara ali nessa operação era tentarmos descobrir os cabos de transmissão e trazê-los de volta a Gandembel. Encontrá-los não foi difícil porque estavam à vista e corriam ao lado da fantasmagórica estrada que ligara em tempos Guilege e Gandembel.

As crateras dos fornilhos eram enormes e muitas delas ainda tinham lá dentro uma ou mais viaturas carbonizada…. Pobres rapazes da 2317 (4)...

Resumindo: voltámos ao aquartelamento pela hora de almoço e carregados com umas centenas de quilos de cabo telefónico……Nos dias que se seguiram, passámos a usar os capacetes da 2ª Guerra Mundial até mesmo dentro do arame farpado. Não fosse o Diabo tecê-las….


Hugo Guerra (5)

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Notas dos editores:

(1) Vd. poste de 28 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCX: Ex- Alferes Miliciano Batata (Guileje e Cufar, 1969/70): Pel Caç Nat 51, presente!

(...) De início foi um grande esforço para esquecer o mais rapidamente possível. Agora é a sensação das memórias que se vão esbatendo. Fui Alferes Miliciano Atirador de Artilharia. Estive em Guileje (de Janeiro de 1969 a Janeiro de 1970) e em Cufar (de Janeiro de 1970 a Dezembro de 1970), comandando o Pel Caç Nat 51 (...).

(2) Vd. postes anteriores do Hugo Guerra:

7 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2415: Uma guerra entregue aos milicianos: onde estavam (estão) os nossos comandantes ? (Hugo Guerra, Coronel, DFA, na reforma)

22 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2374: O meu Natal no mato (10): Bissau, 1968: Nosso Cabo, não, meu alferes, sou o Marco Paulo (Hugo Guerra)

29 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2312: Tabanca Grande (43): Hugo Guerra, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 55 e 50 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70)

(3) Corredor de Guileje (Ou de Guiledje)... Corredor da morte, para os soldados portugueses... Caminho do Povo e Caminho da Liberdade, para o PAIGC... Estendia-se de Kandjafra, Simbel e Tarsaiá (Guiné-Conacri) a Gandembel, Balana, Salancaur e Unal (Guiné-Bissau). Para a guerrilha do PAIGC, constituiu o maior e mais importante corredor de infiltração e de abastecimento durante guerra. Sabe-que que a sua manutenção teve um elevado custo em vidas humanas e perdas materiais que acarretou.

Este corredor passou a ter uma importância, a partir do momento em que, depois da batalha do Como (Janeiro/Março de 1964), o PAIGC foi obrigado a abandonar o eixo Canafá-Quitafine-Cassumba-Canamina e Cubucaré.

Através do Corredor de Guileje, foi possível ao PAIGC - apesar das linhas de defesa e da contra-ofensiva das tropas portugueses - garantir, de maneira praticamente contínua, desde 1964 a 1974, a realização de colunas logísticas que levavam o armamento, as munições e outro material indispensáveis à prossecução da luta no interior da Guiné.

(4) Vd. poste de 2 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1723: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (4): A epopeia dos homens-toupeiras


(5) Vd. postes anteriores desta série Estórias de Guileje:

27 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2483: Estórias de Guileje (3): Devo a vida a um milícia que me salvou no Rio Cacine, quando fugia de Gandembel (ex-Fur Mil Art Paiva)

23 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2473 - Estórias de Guileje (2): O Francesinho, morto pela Pátria (Zé Neto † )

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2415: Uma guerra entregue aos milicianos: onde estavam (estão) os nossos comandantes ? (Hugo Guerra, Coronel, DFA, na reforma)

1. Mensagem do Hugo Guerra (ex-Alf Mil, hoje Coronel DFA, na reforma, Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 60, Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70) (1):

Caros Camaradas:

Que comece um bom ano para todos nós, são os meus votos.

Estou a escrever só para pedir que façam uma importante correcção no meu currículo da Guiné (1).

Em São Domingos o meu Pel Caç Nat era o 60 (e não 50, como erradamente indiquei). As minhas desculpas a todos, especialmente ao pessoal dos Pelotões visados.

À pala desta minha incorporação no blogue já comecei a receber telefonemas e emails de malta que já não vejo há 38 anos…. E a sensação é óptima. Vamos ver se este ano dou a volta por cima e começo a conviver.

Já agora uma pergunta com água no bico.

A Guerra na Guiné não tinha Comandantes de Companhia, Batalhão, Sector etc? Ou foi só mastigada pela rapaziada miliciana, desde soldados a alferes?

Esses senhores não estavam lá ou querem continuar a desenfiar-se como quase sempre fizeram? (2)

Salvo as honrosas excepções dos nossos 3-4? Tertulianos que eram Capitães na altura, os demais continuam a enviar pra frente, agora da Net, dois Pelotões para evitar as idas pró mato, como faziam lá???

Só a partir de 3 Pelotões era moralmente obrigatória a chefia do Comandante de Companhia, salvo erro…..

Um abraço e até um dia destes

Hugo Guerra
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Nota de L.G.:

(1) Vd. posts do Hugo Guerra:

22 de Dezembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2374: O meu Natal no mato (10): Bissau, 1968: Nosso Cabo, não, meu alferes, sou o Marco Paulo (Hugo Guerra)

29 de Novembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2312: Tabanca Grande (43): Hugo Guerra, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 55 e 50 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70)

(2) Do ponto de vista estatístico pode-se dizer que os oficiais superiores, na reforma, sobretudo do Exército, estão bem representados no nosso blogue... Mas poucos são os que, com a patente de capitão para cima, dão hoje a cara... Parabéns aos que são a excepção e que nos honram com a sua presença... E aproveito para sublinhar, mais uma vez, que a nossa Tabanca Grande não tem arame farpado nem porta de armas (nem, muito menos, messe de oficiais, messe de sargentos e refeitório de praças).

Há duas explicações para este fenónemo da ausência dos nossos antigos comandantes na nossa Tabanca Grande:

(i) há um problema geracional: em geral os capitões do QP, no meu tempo (1969/71), eram mais velhos cerca de 15 anos, do que os seus soldados, furriéis e alferes milicianos; isso pode torná-los, por exemplo, menos à vontade para chegar à Internet e a um blogue como o nosso; claro que há excepções: cito, a título de mero exemplo, o nosso saudoso capitão, na reforma, Zé Neto (1927-2006);

(ii) a ideologia (elitista) da corporação: os oficiais da Academia foram formatados de acordo com o figurino da segregação sócio-espacial... A palavra camarada não cola bem na pele de um oficial do QP, e sobretudo de um oficial superior, a menos que a sua origem não seja a Academia Militar (como era o acso do Zé Neto, ou dos oficiais superiores que vieram de milicianos, como o A. Marques Lopes ou o Hugo Guerra, por exemplo)... Claro, há as honrosas excepções, no nosso blogue (não preciso de citar nomes);

(iii) há um pudor imenso em falar, publicamente, de uma guerra tão longa e dolorosa como esta, que implicou também para os militares de carreira (oficiais e sargentos) pesados sacrifícios, a nível de saúde, de qualidade de vida pessoal e familiar... É bom não esquecer isso... A este propósito leia-se o post do nosso camarada
Pedro Lauret, Capitão de Mar e Guerra, na reforma, antigo imediato do NRP Orion, Guiné (1971/73):

13 de Março de 2007 >
Guiné 63/74 - P1590: O sacrifício dos oficiais do quadro permanente (Pedro Lauret)
(...) Qualquer oficial saído da Academia Militar em 1961, ou nos anos imediatamente seguintes, fizeram 4 comissões na mesma colónia ou em várias.

A vida dos meus camaradas do Exército foi de enorme esforço e sacrifício. Quem fez 4 comissões tem pelo menos um ida como subalterno e duas como capitão, eventualmente uma última como major. A vida de um oficial do QP eram dois anos em comissão, um ano no continente.

Como é sabido, o número de oficiais que entravam na Academia Militar começou a diminuir a partir de 1961. A Guerra nos três teatros de operações aumentou sempre em área operacional e em consequente número de efectivos, pelo que foi exigido um esforço muito grande aos oficiais dos QP, que a partir de certa altura já eram insuficientes, pelo que começaram a ser formadas capitães milicianos, como todos sabemos.

A tese de que havia guerra porque os oficiais dos QP a fomentavam para ganhar mais, e que praticamente a vitória militar estava garantida, foi posta a circular pela propaganda do Estado Novo tendo tido acolhimentos diversos, nomeadamente nos colonos em Angola e Moçambique (...).

(...) Das centenas de oficiais que fizeram várias comissões permitam-me que vos evoque dois de duas gerações: Carlos Fabião, uma comissão em Angola e, penso, quatro na Guiné; e Salgueiro Maia, que em 1974 tinha 28 anos, com uma comissão nos Comandos em Moçambique e outra na Guiné. (...)

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2312: Tabanca Grande (43): Hugo Guerra, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 55 e 60 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70)

Hugo Guerra, ex-Alf Mil, hoje Coronel DFA, Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 60 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70)


1. Mensagem do nosso camarada Hugo Guerra, em 24 de Novembro de 2007, para Luís Graça

Ainda e sempre Gandembel


Caro camarada e, desde já amigo, Luís Graça

Chamo-me Hugo Guerra, nasci em Estremoz em Abril de 1945 e estudei na Escola de Regentes Agrícolas de Évora onde acabei o meu curso em 1964.

Em Agosto de 1968, sem perceber bem como (depois hei-de contar), estava no Ana Mafalda a caminho da Guiné em rendição individual e, como a sorte nunca me bafejou, quando desembarquei já tinha guia de marcha para Gandembel onde fui comandar o Pel Caç Nat 55 que estava adstrito à CCaç 2317 [, Gandembel/Balana, 1968/69].

Passei por Aldeia Formosa, num heli, e aterrei, ainda em Agosto, em Gandembel.

Passei a maior parte do tempo em Ponte Balana e estava lá quando fechámos a porta em Janeiro de 1969 (1).

Nessa altura, e porque a sorte continuava alheia à minha odisseia, fiquei num destacamento logo a seguir, de nome Chamarra.

A CCAÇ 2317 foi para Buba e mais tarde foram acabar a sua martirizada comissão em território menos hostil.

Eu tive, mais tarde, uma passagem rápida por S. Domingos no comando do Pel Caç Nat 50 mas o suficiente para ficar ferido com o rebentamento duma anti-pessoal, salvo erro a 13 de Março de 1970.

Sou hoje DFA e Coronel.

Este é o meu primeiro contacto para ser admitido na tertúlia que acompanho há bastante tempo, mas sempre de longe porque os fantasmas ainda me provocam grandes pesadelos.

Qualquer dia farei uns relatos complementares aos do [Idálio] Reis sobre o inferno do Corredor de Guiledge onde fiz algumas incursões com uma Companhia de Páras que aceitaram levar o periquito para ver como era.

As fotos que junto foram tiradas nos seguintes locais:


(i) à esquerda, com uma granada ao cinto e toalha ao
ombro e sabonete na mão, ia tomar banho num regato
perto de Gandembel;

(ii à direita, junto ao paiol onde dormíamos em Ponte Balana;





(iii) à esquerda estou na Chamarra com um Alferes
que fui substituir;

(iv) à direita, em S.Domingos, com o 1º Cabo Seleiro
que ficou gravemente ferido no mesmo rebentamento que eu.

Por agora é tudo.

Se não tiver muitos pesadelos, esta noite prometo voltar. Moro em Lisboa e o meu contacto de email é: guerra68@tele2.pt e o Telemóvel 960085289.

Talvez nos encontremos em Março com o Pepito, de quem sou amigo e que me convidou; vamos ver se consigo ir.

Um abraço do
Hugo Guerra

2. Comentário de Carlos Vinhal:

Caro Hugo Guerra

Em nome do Luís Graça, Virgínio Briote, meu e de todos os tertulianos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, quero dar-te as boas vindas à Tabanca Grande.

Pelo que nos contas, foste um dos companheiros bafejados pela pouca sorte, ao seres apanhado pela arma mais traiçoeira que qualquer um dos lados de uma guerra pode utilizar, uma mina, contra o seu antagonista.

Estás connosco, o que é pelo menos um sinal de que estarás bem, neste momento, e pronto para nos dar a conhecer as tuas experiências. De um modo geral todos temos recordações mais ou menos pesadas, em termos psicológicos, dependendo do que cada viu, viveu e sofreu, mas se é verdade que falar nelas contribui para uma certa descarga emocional, falemos pois então.

Ninguém, a não ser outro camarada, pode entender e compreender o que vai no nosso interior. Para isso existe este blogue, para que cada um, à sua maneira, faça a sua catarse ao mesmo tempo que contribui com o seu testemunho para a História da Guerra Colonial que queremos deixar aos nossos vindouros.

A partir de agora estás mais acompanhado. Participa.

Recebe um abraço de boas vindas de todos os tertulianos.

___________

Nota de CV:

(1) Vd. post de 10 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2172: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/69) (Idálio Reis) (11): Em Buba e depois no Gabu, fomos gente feliz... sem lágrimas (Fim)