Foto n.º 1
Foto n.º 2
Foto n.º 3
Foto n.º 5
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Maio de 1969 > Parada do quartel de Bambadinca: visita da presidente do Movimento Nacional Feminino, Cecília Supico Pinto (1921-2011), mais conhecida por "Cilinha" (Fotos nº.s 4 e 5) e atuação do conjunto musical "Os Bambadincas" (Fotos nºs 1, 2 e 3), junto ao edifício, em U, onde ficavam as messes e os quartos dos oficiais e sargentos. (*)
Fotos: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Não é que isso seja relevante para a História com H grande, no âmbito da Guerra na Guiné (1961/74)... Mas na foto n.º 1, já tirada ao anoitecer (e, por isso, de muito fraca resolução), vê-se um vulto, que parece ser uma figura feminina, de saia-calça azul, a falar com um dos elementos da banda.
Hoje pomos a hipótese de ser a "Cilinha"...
O autor das fotos, José Carlos Lopes (**), não tem ideia de ela ter pernoitado no "resort" de Bambadinca. Falámos, em 2013, ao telefone, a esclarecer este ponto: o mais provável, para ele, era ser uma das senhoras que viviam em Bambadinca (por ex., a esposa do tenente Pinheiro, chefe da secretaria, a esposa do dr. David Payne, alf mil médico, ou outra: julgo que o ten cor Pimentel Bastos, comandante do batalhão, também lá tinha a esposa; mas estas senhoras tiveram que recolher a Bissau depois do ataque ao quartel de 28/5/1969).
Esta visita, da presidente do MNF - Movimento Nacional Feminino, dá-se talvez duas semanas antes do ataque a Bambadinca. No dia anterior ou no dia seguinte ela estava de visita ao Olossato, visita essa documentada no nosso blogue, (***)
Na visita ao Olossato, em 11 de maio de 1969, ela veio expressamente de Bissau, de helicóptero, acompanhada da sua secretária, e do comandante da CCAÇ 2402,o cap inf Mário José Vargas Cardoso. Foi, nessa ocasião. "graduada" em capitão do Exército Português.
Guiné > Região do Oio > Olossato > CCAÇ 2402 (1968/70) > 11 de maio de 1969 > Visita da "CIlinha" e da sua secretária. À sua esquerda, o cap inf Vargas Cardoso.
Foto: © Vargas Cardoso / Raul Albino (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
2. Da leitura do livro de Sílvia Espírito Santo ("Cecília Supico Pinto: o rosto do Movimento Nacional Feminino". Lisboa: A Esfera dos Livros, 2008), deduzo que a dirigente do MNE - uma mulher poderosa até à morte de Salazar e que detestava o Marcelo Caetano - tenha estado na Guiné, pelo menos 4 vezes. 1964, 1966, 1969 e 1974...
Diz ela, na pág. 116: "Eu fui a quase todo o lado [da Guiné]. com excepção de Guerrilhe [, Guileje ?], Medina (sic) do Boé e Gadamaela [, Gadamael ?]. Não me venham dizer a mim que a Guiné estava toda tomada, por amor de Deus".
Foi também da sua iniciativa convidar artistas na moda, como a Florbela Queirós ou o conjunto "João Paulo" para atuar, no Ultramar, no mato (pp.143 e ss.).
(...) "A guerra em Angola estava ganha. A Guiné era um problema e sendo ela perdida, seria muito complicado para o resto. A Guiné foi grave. A minha 'Guinezinha', como eu costumo dizer, tão pobrezinha... Olhe que tenho a camisola amarela de zonas de intervenção visitadas. Cheguei a ir umas quatro vezes a Madina do Boé, a Buruntuma, a Nova Lamego e a muitas outras zonas de combate. Nunca virei a cara e posso andar em qualquer sítio de cabeça bem levantada. Muitas vezes ia à frente das colunas e cheguei inclusivamente a 'picar' a estrada." (...)
Na última visita à Guiné, em finais de fevereiro e primeira quinzena de março de 1974, sabemos que ela (e possivelmente a secretária que a acompanhava) dormiu pelo menos duas vezes no mato: em Gadamael (segundo informação do nosso camarada Carlos Milheirão ****) e em Bafatá, segundo relato do então já major de infantaria Vargas Cardoso (***).
Comentando a visita a Bambadinca, que deve ter sido antes ou depois de 11 de maio de 1969, o nosso camarada Ismael Augusto escreveu-nos o seguinte, em 26 de setembro passado:
(...) "O oficial ao lado da Cilinha [, Foto n.º 4,[ não é do batalhão [, BCAÇ 2852,], logo não é o tenente coronel Pimentel Bastos.
Devo dizer-te e tanto quanto me recordo, que [a Cilinha] foi recebida com curiosidade, mas sem nenhum entusiasmo pela parte dos milicianos. Era no entanto uma figura com alguma popularidade e apresentava-se de forma muito simpática.
(...) "O oficial ao lado da Cilinha [, Foto n.º 4,[ não é do batalhão [, BCAÇ 2852,], logo não é o tenente coronel Pimentel Bastos.
Devo dizer-te e tanto quanto me recordo, que [a Cilinha] foi recebida com curiosidade, mas sem nenhum entusiasmo pela parte dos milicianos. Era no entanto uma figura com alguma popularidade e apresentava-se de forma muito simpática.
Grande abraço e boa saúde para ti e para todos os nossos Camaradas da Guiné neste ano dos 50 do regresso do BCaç 2852. Tenho umas fotos que tirei na saída de Bambadinca e a caminho do Xime que irei enviar. " (...)
É de recordar (e de esclarecer) o seguinte a respeito das visitas da presidente do MNF ao CTIG, à sua "Guinezinha":
(i) muitos militares não apreciavam a sua visita aos aquartelamentos e destacamentos do mato, e sobretudo a sua integração em colunas auto, na medida em que isso representava um acréscimo de mobilização de meios e medidas de segurança;
(ii) era uma mulher poderosa até à morte de Salazar, mas em relação ao sucessor deste, Marcelo Caetano, a antipatia era mútua;
(iii) devido às boas relações com Spínola e à esposa, Helena, em 1969, a "Cilinha" ainda pôde dispor de algumas "mordomias", como helicóptero às ordens (, uma aeronave cuja operação era cara: o helicanhão, por exemplo, custava na época quinze contos por hora, o equivalente, a preços de hoje, a 4600 euros!);
(iv) a "Cilinha" nunca foi enfermeira diplomada: frequentou o 1.º ano do curso de enfermagem da Escola de Enfermagem de São Vicente de Paula, entre outubro de 1941 e junho de 1942; para ser enfermeira, teria, na época, que abdicar de casar;
(v) pelo menos em fevereiro / março de 1974, terá pernoitado mo mato, pelo menos duas vezes, em Bafatá (***) e em Gadamael (****);
(vi) de resto, as suas visitas só poderiam realizar-se no tempo seco (, de preferência entre fevereiro e maio);
__________
Notas do editor:
(*) Vd, poste de 10 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14455: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (97): José Maria de Sousa [ Ferreira, minhoto de Braga, com escola de condução no Porto], ex-sold mec aut (BART 1904 e PINT, Bambadinca, 1968/70) descobre os seus companheiros do conjunto musical, da CCS/BCAÇ 2852, a quem o Movimento Nacional Feminino ofereceu, em 1969, os instrumentos
(***) Vd. poste de 11 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11235: Memória dos lugares (224): Visita da Cilinha ao Olossato, ao tempo da CCAÇ 2402, em Maio de 1969, com "graduação" em Capitão do Exército Português (Raul Abino / Vargas Cardoso)
Em data que não consigo precisar (final de 73 princípio de 74) [, fins de fevereiro e primeira quinzena março de 1974] a Cilinha visitou Bafatá e algumas unidades do sector, tendo pernoitado uma noite na cidade.
Após o jantar, foi convidada para uma sessão de fados em casa do Capitão Médico, a qual se prolongou noite fora, num agradável e moralizante serão, com muitos oficiais e sargentos da guarnição.
Todo o “mundo” militar, sabia das qualidades de “fadista” da Presidente do MNF.
No dia seguinte, a nossa visitante, seguiu viagem para NOVA LAMEGO, com escolta do meu Batalhão, sendo apresentada ao Comando de Agrupamento.
Soubemos dois dias depois, que a coluna militar que a escoltava em visita à guarnição de Canquelifá (se a minha memória não me falha), fora emboscada pelo PAIGC.
Em resultado desse contacto, a “Cilinha", como enfermeira (que era) da Cruz Vermelha, procurou ajudar um dos nossos feridos, o qual terá falecido nos seus braços. (...)
(****) Vd. poste de 1 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11040: A Cilinha em Gadamael, em fevereiro de 1974... Ia havendo levantamento militar, por causa do heli da senhora... (C. Martins, o último artilheiro de Gadamael, 1973/74)
(...) Comentário:
C. Martins: Relativamente ao post sobre a D. Cilinha e contrariando-o um pouco, tenho quase a certeza de que ela pernoitou em Gadamael. De resto, se bem me lembro, ia acompanhada de uma outra senhora de que não me lembro o nome. Já pela noite dentro, encontrando-nos nós no Bar da messe de oficiais, entrou um soldado completamente "pirado" com uma granada descavilhada na mão e a gritar que "f...a aquela m...a toda". A D. Cilinha, aparentando muita serenidade, abeirou-se dele e lá conseguiu acalmá-lo. Também me lembro de termos sido flagelados enquanto ela lá estava e que foi a única pessoa que permaneceu no seu lugar, tendo todos nós corrido para os abrigos. Após o ataque, o capitão Patrocínio (com quem aprendi a fazer ski-aquático na bolanha), perguntou-lhe porque é que ela não se tinha ido abrigar, tendo-lhe ela respondido que não valia a pena porque "só se morre uma vez".
Abraço. (Carlos Milheirão) CCAÇ 4152, 13 de junho de 2013 às 16:18 (...)
Abraço. (Carlos Milheirão) CCAÇ 4152, 13 de junho de 2013 às 16:18 (...)
(*****) Último poste da série > 10 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21437: Fotos à procura de... uma legenda (127): Levantamento de um campo de minas A/P: chão felupe, setembro de 1974, uma notável sequência fotográfica do António Inverno (ex-alf mil Op Esp / Ranger, 1º e 2ª CART / BART 6522 e Pel Caç Nat 60, São Domingos, 1972/74)