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domingo, 11 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21442: Fotos à procura de... uma legenda (134): Em maio de 1969, ao tempo do BCAÇ 2852, a Cilinha terá pernoitado em Bambadinca?


 Foto n.º 1  
 


Foto n.º 2
 

Foto n.º 3
 

Foto n.º 4


Foto n.º 5

Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Maio de 1969 > Parada do quartel de Bambadinca: visita da presidente do Movimento Nacional Feminino, Cecília Supico Pinto (1921-2011), mais conhecida por "Cilinha" (Fotos nº.s 4 e 5) e atuação do conjunto musical  "Os Bambadincas"  (Fotos nºs 1, 2 e 3), junto ao edifício, em U, onde ficavam as messes e os quartos dos oficiais e sargentos. (*)

Fotos: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Não é que isso seja relevante para a História com H grande, no âmbito da Guerra na Guiné (1961/74)... Mas na foto n.º 1,  já tirada ao anoitecer (e, por isso, de muito fraca resolução), vê-se um vulto, que parece ser uma figura feminina, de saia-calça azul, a falar com um dos elementos da banda. 

Hoje pomos a hipótese de ser a "Cilinha"...

O autor das fotos, José Carlos Lopes (**), não tem ideia de ela ter pernoitado no "resort" de Bambadinca. Falámos, em 2013,  ao telefone, a esclarecer este ponto: o mais provável, para ele,  era ser uma das senhoras que viviam em Bambadinca (por ex., a esposa do tenente Pinheiro, chefe da secretaria, a esposa do dr. David Payne, alf mil médico, ou outra: julgo que o ten cor Pimentel Bastos, comandante do batalhão, também lá tinha a esposa; mas estas senhoras tiveram que recolher a Bissau depois do ataque ao quartel de 28/5/1969).

Esta visita, da presidente do MNF - Movimento Nacional Feminino, dá-se talvez duas semanas antes do ataque a Bambadinca. No dia anterior ou no dia seguinte ela estava de visita ao Olossato, visita essa documentada no nosso blogue, (***)

Na visita ao Olossato, em 11 de maio de 1969, ela veio expressamente de Bissau, de helicóptero, acompanhada da sua secretária, e do comandante da CCAÇ 2402,o cap inf Mário José Vargas Cardoso. Foi, nessa ocasião. "graduada" em capitão do Exército Português.


Guiné > Região do Oio > Olossato > CCAÇ 2402 (1968/70) > 11 de maio de 1969 > Visita da "CIlinha" e da sua secretária. À sua esquerda, o cap inf Vargas Cardoso.


Foto: © Vargas Cardoso / Raul Albino  (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



2. Da leitura do livro de Sílvia Espírito Santo ("Cecília Supico Pinto: o rosto do Movimento Nacional Feminino". Lisboa: A Esfera dos Livros, 2008), deduzo que a dirigente do MNE - uma mulher poderosa até à morte de Salazar e que detestava o Marcelo Caetano - tenha estado na Guiné, pelo menos 4 vezes. 1964, 1966, 1969 e 1974... 

 Diz ela, na pág. 116: "Eu fui a quase todo o lado [da Guiné]. com excepção de Guerrilhe [, Guileje ?], Medina (sic) do Boé e Gadamaela [, Gadamael ?]. Não me venham dizer a mim que a Guiné estava toda tomada, por amor de Deus". 

Foi também da sua iniciativa convidar artistas na moda, como a Florbela Queirós ou o conjunto "João Paulo" para atuar, no Ultramar, no mato (pp.143 e ss.).

Mas há contradições nas suas declarações a respeito da Guiné e dos sítios aonde foi. Por exemplo, em entrevista à  revista "Combatente", da Liga dos Combatentes, em 16/7/2005, terá declarado o seguinte: "

(...) "A guerra em Angola estava ganha. A Guiné era um problema e sendo ela perdida, seria muito complicado para o resto. A Guiné foi grave. A minha 'Guinezinha', como eu costumo dizer, tão pobrezinha... Olhe que tenho a camisola amarela de zonas de intervenção visitadas. Cheguei a ir umas quatro vezes a Madina do Boé, a Buruntuma, a Nova Lamego e a muitas outras zonas de combate. Nunca virei a cara e posso andar em qualquer sítio de cabeça bem levantada. Muitas vezes ia à frente das colunas e cheguei inclusivamente a 'picar' a estrada." (...)

Na última visita à Guiné, em finais de fevereiro e primeira quinzena de março de 1974, sabemos que ela (e possivelmente a secretária que a acompanhava) dormiu pelo menos duas vezes no mato: em Gadamael (segundo informação do nosso camarada Carlos Milheirão ****) e em Bafatá, segundo relato do então já major de infantaria Vargas Cardoso (***).

Comentando a visita a Bambadinca,  que deve ter sido antes ou depois de 11 de maio de 1969, o nosso camarada Ismael Augusto escreveu-nos o seguinte, em 26 de setembro passado:

(...) "O oficial ao lado da Cilinha [, Foto n.º 4,[ não é do batalhão [, BCAÇ 2852,], logo não é o tenente coronel Pimentel Bastos.

Devo dizer-te e tanto quanto me recordo, que [a Cilinha] foi recebida com curiosidade, mas sem nenhum entusiasmo pela parte dos milicianos. Era no entanto uma figura com alguma popularidade e apresentava-se de forma muito simpática.

Grande abraço e boa saúde para ti e para todos os nossos Camaradas da Guiné neste ano dos 50 do regresso do BCaç 2852. Tenho umas fotos que tirei na saída de Bambadinca e a caminho do Xime que irei enviar. " (...)

É de recordar (e de esclarecer) o seguinte a respeito das visitas da presidente do MNF ao CTIG, à sua "Guinezinha":

(i) muitos militares não apreciavam a sua visita aos aquartelamentos e destacamentos do mato, e sobretudo a sua integração em colunas auto, na medida em que isso representava um acréscimo de mobilização de meios e medidas de segurança;

(ii) era uma mulher poderosa até à morte de Salazar, mas em relação ao sucessor deste,  Marcelo Caetano, a antipatia era mútua;

(iii) devido às boas relações com Spínola e à esposa, Helena, em 1969, a "Cilinha" ainda pôde dispor de algumas "mordomias", como helicóptero às ordens (, uma aeronave cuja operação era cara: o helicanhão, por exemplo, custava na época quinze contos por hora, o equivalente, a preços de hoje, a 4600 euros!);

(iv) a "Cilinha" nunca foi enfermeira diplomada: frequentou o 1.º ano do curso de enfermagem da Escola de Enfermagem de São Vicente de Paula, entre outubro de 1941 e junho de 1942; para ser enfermeira, teria, na época, que abdicar de casar;

(v) pelo menos em fevereiro / março de 1974, terá pernoitado mo mato, pelo menos duas vezes, em Bafatá (***) e em Gadamael (****);

(vi) de resto, as suas visitas só poderiam realizar-se no tempo seco (, de preferência entre fevereiro e maio);

 Enfim, pode ser que alguém ainda possa (e queira) acrescentar algo mais a estas fotos (*****).
 (**) Vd. poste de 23 de janeiro de  2013 > Guiné 63/74 - P10993: Álbum fotográfico do ex- fur mil José Carlos Lopes, amanuense do conselho administrativo da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) (8): Há festa no quartel: visita da Cilinha e do conjunto musical das Forças Armadas, em abril ou maio de 1969


(...) "Na 4ª e última comissão (Mar72 a Jul74), fui oficial de operações do BCAÇ 3884, responsável pelo sector de Bafatá, e a partir de Nov73 já major, acumulei com o Comando de Batalhão.

Em data que não consigo precisar (final de 73 princípio de 74) [, fins de fevereiro e primeira quinzena março de 1974] a Cilinha visitou Bafatá e algumas unidades do sector, tendo pernoitado uma noite na cidade.

Após o jantar, foi convidada para uma sessão de fados em casa do Capitão Médico, a qual se prolongou noite fora, num agradável e moralizante serão, com muitos oficiais e sargentos da guarnição.

Todo o “mundo” militar, sabia das qualidades de “fadista” da Presidente do MNF.

No dia seguinte, a nossa visitante, seguiu viagem para NOVA LAMEGO, com escolta do meu Batalhão, sendo apresentada ao Comando de Agrupamento.

Soubemos dois dias depois, que a coluna militar que a escoltava em visita à guarnição de Canquelifá (se a minha memória não me falha), fora emboscada pelo PAIGC.

Em resultado desse contacto, a “Cilinha", como enfermeira (que era) da Cruz Vermelha, procurou ajudar um dos nossos feridos, o qual terá falecido nos seus braços. (...)


(...) Comentário:

C. Martins: Relativamente ao post sobre a D. Cilinha e contrariando-o um pouco, tenho quase a certeza de que ela pernoitou em Gadamael. De resto, se bem me lembro, ia acompanhada de uma outra senhora de que não me lembro o nome. Já pela noite dentro, encontrando-nos nós no Bar da messe de oficiais, entrou um soldado completamente "pirado" com uma granada descavilhada na mão e a gritar que "f...a aquela m...a toda". A D. Cilinha, aparentando muita serenidade, abeirou-se dele e lá conseguiu acalmá-lo. Também me lembro de termos sido flagelados enquanto ela lá estava e que foi a única pessoa que permaneceu no seu lugar, tendo todos nós corrido para os abrigos. Após o ataque, o capitão Patrocínio (com quem aprendi a fazer ski-aquático na bolanha), perguntou-lhe porque é que ela não se tinha ido abrigar, tendo-lhe ela respondido que não valia a pena porque "só se morre uma vez".

Abraço. (Carlos Milheirão) CCAÇ 4152,  13 de junho de 2013 às 16:18 (...)

(*****) Último poste da série > 10 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21437: Fotos à procura de... uma legenda (127): Levantamento de um campo de minas A/P: chão felupe, setembro de 1974, uma notável sequência fotográfica do António Inverno (ex-alf mil Op Esp / Ranger, 1º e 2ª CART / BART 6522 e Pel Caç Nat 60, São Domingos, 1972/74)

domingo, 29 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18578: XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (10): por que é que eu, que fui assíduo ao longo de 10 anos, deixei de poder ir a Monte Real (Raul Albino, ex-alf mil, CCAÇ 2402, Có, Mansabá e Olossato, 1968/70)


Monte Real, Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca Grande > ; Dois homens do Oio, que vão estar ausentes em 2018, com muita pena nossa:

(i) Raul Albino ( ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, ,Mansabá e Olossato, 1968/70);

(ii) e Rui Silva (ex-Fur Mil da CCAÇ 816, Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67). 

Em 2011 tive finalmente a oportunidade de conhecer, em carne e osso, o Rui (e a esposa, Regina Teresa), que vive em Santa Maria da Feira... O Raul, por sua vez, é de Vila Nova de Azeitão, e também veio acompanhado da esposa, Rolina. Raul, antigo quadro técnico da IBM, falou comigo sobre a necessidade de encontrar ou explorar novas soluções informáticas para um blogue que cresceu muito, demasiado até, sobretudo a partir de 2008... Não tenho podido ouvir os seus bons conselhos desde o X Encontro Nacional (2015). Vou tentar telefonar-lhe

Foto (e legenda): © Luis Graça (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem,. com data de 26 do corrente, enviada pelo Raul Albino (ex-Alf Mil da CCAÇ 2402 / BCAÇ 2851, , Mansabá e Olossato, 1968/70)

Amigo Vinhal,

A minha ausência nos dois anos anteriores tem uma explicação que vos devo comunicar, depois de uma presença regular de 10 anos seguidos.

Tinha de ser uma razão de peso, de saúde, evidentemente. Não é uma doença mortal, mas é uma doença incapacitante que me leva a alegria de viver e parece não ter solução médica, nem grande alivio para as dores. Estou a falar de problema da coluna vertebral com afetação do nervo ciático. 

O médico operador não lhe quer tocar após ter analisado uma Ressonância Magnética. Como as medicações existentes não produzem qualquer efeito aceitável, o médico cirurgião nem me receitou qualquer medicação, porque os efeitos adversos são enormes, sem que causem alivio assinalável. 

Já nem posso arriscar a conduzir o automóvel por distâncias superiores a 50 kms. Alguns dias as dores são toleráveis, mas não sei quais são, só sei que são raros. Dizem que, por vezes, o tempo resolve o assunto. Se isso algum dia acontecer, solicitarei a alguém que me dê uma boleia, sempre sujeita a cancelamento muito perto da viagem.

Que o vosso convívio corra pelo melhor. O relógio devia retroceder, mas sabemos que isso é impossível e a vida está-nos a abandonar aos poucos, afetando o quorum dos convívios. Um grande abraço para ti, para a Dina, para o Luís Graça e restantes tabanqueiros. Passem bem.

Raul Albino

2. Comentário do Carlos Vinhal:

Amigo Raul

Tenhamos esperança em dias melhores. Se a idade já não vai dando tréguas, o tempo resolve, às vezes, problemas que julgamos insanáveis.

De certeza que um dia te vais inscrever com a tua companheira Rolina, melhores dias virão.

As melhoras para ti e um beijinho meu e da Dina para a Rolina. Sois pessoas de quem falamos muitas vezes e de quem já temos alguma saudade.

Abraço grande do camarada e amigo
Carlos
___________

Nota do editor:

Último poste da série >  29 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18577: XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (9): por que é que eu, este ano, e mais uma vez, não poderei estar presente nesse maravilhoso convívio, em Monte Real (Valentim Oliveira, ex-sold comd, CCAV 489 / BCAV 490, Como, Guidaje e Farim, 1963/65)

sábado, 22 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16628: Recortes de imprensa (83): Guerra colonial: mais de 200 mil refratários, mais de 8 mil desertores... e faltosos, não se sabe..., segundo estudo em curso conduzido pelos historiadores Miguel Cardina e Susana Martins (Lusa / DN - Diário de Notícias / Expresso, de ontem


Amadora > RI 1 > 1968 > CCAÇ 2402, em formação > De pé e da esquerda para a direita, o Raul Albino, o Francisco Silva e o Medeiros Ferreira, aspirantes milicianos.  [Os dois primeiros são membros da nossa Tabanca Grande.]

O João Bonifácio, ex-furriel mil SAM, CCAÇ 2402 (, Mansabá e Olossato, 1968/70) e que vive no Canadá, evocou aqui no poste P1592, o exemplo do Medeiros Ferreira que, como é publicamente sabido, não compareceu ao embarque, para a Guiné . Ele é, das nossas figuras públicas, talvez o mais conhecido dos desertores da guerra colonial.

Na foto acima, o antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros de Mário Soares (I Governo Constitucional, 1976/78), historiador e professor universitário (FSCH/NOVA), já falecido, José Medeiros Ferreira (Ponta Delgada, 1942 - Lisboa, 2014), aparece assinalado com um círculo a vermelho. Foi também um dos principais dirigentes estudantis durante a crise académica de 1962.

Foto: © Raul Albino (2006). Todos os direitos reservados.



Cartaz do Colóquio O (as)salto da memória", 27 de outubro de 2016,  FSCH / NOVA, Lisboa



1. Reprodução de excerto, com a devida vénia,  de notícia da Lusa, publicada no DN - Diário de Notícias, de ontem,  "Mais de oito mil soldados desertaram da Guerra Colonial"


(...) O número de militares do Exército Português que desertaram entre 1961 e 1973 ultrapassou os oito mil, segundo uma investigação dos historiadores Miguel Cardina e Susana Martins que vai ser apresentada num colóquio sobre deserção e exílio.

"Este número, baseado em fontes militares, é um número que peca por defeito e refere-se ao período entre 1961 e 1973. É bastante acima de oito mil e é um número importante porque, até agora, não tínhamos dados sobre o pessoal já incorporado", disse à Lusa Miguel Cardina, um dos autores da análise histórica sobre o fenómeno da deserção da Guerra Colonial.

Miguel Cardina antecipou à Lusa algumas das conclusões do estudo que será apresentado na próxima quinta-feira na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas [da Universidade NOVA de Lisboa], em Lisboa.

"Tínhamos algumas referências a números mas eram parcelares e faziam eco de um certo tipo de deserções. O que nós vamos mostrar é que a deserção é um fenómeno mais complexo do que aquilo que se considerava", explicou.

Os historiadores do Centro de Estudos Sociais (CES), da Universidade de Coimbra,  vão apresentar os dados finais do estudo no colóquio "O (as)salto da memória: histórias, narrativas e silenciamentos da deserção e do exílio", que se realiza na quinta-feira, no qual será também apresentada documentação inédita sobre desertores da Guerra Colonial.

De acordo com os investigadores, o número definitivo do novo estudo sobre militares que desertaram da Guerra Colonial "pode pecar por defeito" porque ainda não é possível contabilizar os dados referentes a todos os territórios e o estudo tem como base apenas fontes do Exército.

O Código de Justiça Militar definia como desertor aquele que não comparecia na instalação militar a que pertencia num prazo limite de oito dias.

Segundo Miguel Cardina, para compreender o fenómeno da recusa de ir à guerra, além dos militares que desertaram, é preciso também considerar os refratários - jovens que faziam a inspeção mas que fugiam antes da incorporação - e os faltosos, que nem sequer faziam a inspeção militar.

"Temos dados que indicam que entre 1967 e 1969 cerca de dois por cento dos jovens que são chamados à inspeção foram refratários. Este número é certamente superior ao número dos desertores. Os faltosos são aqueles que nem sequer se apresentam à inspeção. Dados de 1985 do Estado-Maior do Exército indicam que cerca de 200 mil terão abandonado o país. Na década de 1970, cerca de vinte por cento dos jovens que deveriam fazer a inspeção já não se encontravam no país", indicou o historiador do CES.

Para Miguel Cardina, o "processo de afastamento e fuga" da estrutura militar deve ser estudado com profundidade e, por isso, o estudo começa pelos desertores - porque não existiam números conhecidos até ao momento - mas frisou que é preciso considerar as outras categorias: os refratários e os faltosos.

"Temos de colocar estas três categorias na mesma equação, sabendo que elas são diferentes e têm uma ligação com o fenómeno da guerra, também ela diferente. É natural que, no quadro dos faltosos, a guerra possa estar presente mas não tem o mesmo peso que tem nos refratários e também nos desertores", explicou.

Segundo o historiador, o "fenómeno dos faltosos" cruza-se com o fenómeno da emigração, sendo que uma boa parte destes jovens não estavam a "fugir da guerra" mas também da falta de perspetivas de futuro, ou seja, "a guerra podia ser" uma das motivações para o ato de emigrar.

A primeira conclusão do estudo indica, sobretudo, que a Guerra Colonial tem ainda aspetos de natureza historiográfica que é preciso aprofundar e torna evidente que a temática do exílio, da deserção e da recusa da guerra precisa de ser estudada. (...)

Sobre os militares que desertaram, Miguel Cardina indicou que "todas as histórias de fuga são individuais" e que, por isso, devem ser tidos em conta os portugueses que vão para a África e que desertam das colónias, refugiando-se em Argel ou na Europa, assim como os africanos incorporados nas forças portuguesas.

Cardina frisou que, nos anos finais do conflito colonial, há um fenómeno de africanização das tropas, "porque havia pouca gente e, por isso, havia necessidade de soldados para a guerra", verificando-se que muitos africanos incorporados na tropa portuguesa constituem, em muitos casos, um fluxo específico de deserção.

O colóquio é organizado pela Associação dos Exilados Portugueses (AEP61-74) [, tem página no Facebook, aqui], Centro de Documentação 25 de Abril, Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA) e Instituto de História Contemporânea.

Vão estar presentes, além de Miguel Cardina e Susana Martins, os historiadores Rui Bebiano, do Centro de Documentação 25 de Abril, Victor Pereira, da Universidade de Pau, em França, e os historiadores Irene Pimentel, Sónia Ferreira, Sónia Vespeira de Almeida e Cristina Santinho.

O presidente da Associação de Exilados Políticos Portugueses, Fernando Cardoso, disse à Lusa que a questão dos desertores da Guerra Colonial (1961-1974) deve ser "analisada com profundidade" porque ainda divide a sociedade portuguesa. (...)


2. Recorte do Expresso, com data de ontem > Centro de Documentação 25 Abril divulga material sobre desertores da Guerra Colonial



(...) O Centro de Documentação 25 de Abril está a preparar documentação inédita sobre desertores da Guerra Colonial para divulgar durante o colóquio sobre a deserção, na próxima quinta-feira, em Lisboa.

“Basicamente, são documentos, muitos deles pessoais e de organizações que se destinavam a apoiar politicamente e pessoalmente os desertores, e que não são conhecidos. Muitas destas organizações resultaram de circunstâncias que já passaram e que só existiram enquanto foram necessárias”, disse à Lusa Rui Bebiano, historiador e diretor do Centro de Documentação 25 de Abril.

O historiador é um dos participantes no colóquio “O (as)salto da memória: história, narrativas e silenciamentos da deserção e do exílio”, que vai decorrer na próxima quinta-feira na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, em Lisboa.

A divulgação inicial de material respeitante à deserção da Guerra Colonial (1961-1975) - através do site do Centro de Documentação 25 de Abril - está integrada nos trabalhos do colóquio e organiza documentos pessoais e de material de países estrangeiros que apoiavam os movimentos de libertação nas antigas colónias portuguesas, assim como os militares que decidiram desertar.

“Nós temos o espólio de organizações de apoio aos desertores na Suécia, na Holanda e em França e temos materiais que nos foram cedidos por exilados e desertores, e é isso que vamos apresentar nesta exposição virtual”, acrescentou Rui Bebiano.

Além da apresentação do material de arquivo, o diretor do Centro de Documentação 25 de Abril vai também fazer uma comunicação que levanta a interrogação sobre se os desertores da Guerra Colonial foram heróis ou traidores.

“Pretendo refletir sobre esta divisão entre aquelas pessoas que consideram os desertores como heróis e aqueles que vêm os desertores como traidores. Há aqui duas vertentes: há pessoas que pensam que o desertor abandonou o teatro de guerra por medo, porque não queria morrer ou ficar ferido. Essas pessoas continuam a pensar da mesma maneira, ainda hoje”, referiu Rui Bebiano, sublinhando que a sociedade portuguesa ignora os motivos da deserção assim como a realidade vivida pelos exilados e desertores antes de 1974.

“É preciso desfazer a ideia de que o desertor ia para uma bela vida no estrangeiro porque, na verdade, foi uma vida de dificuldades e de privações”, afirmou o historiador.

“A animosidade em relação aos desertores – que perdura nos dias de hoje - deve-se à ausência de memória. Não se conhecem as razões que levaram as pessoas a desertar e desconhece-se como foi a vida que essas pessoas levaram a partir do momento em que escolheram não combater, e isso é muito importante. É por isso que este colóquio faz todo o sentido”, disse Rui Bebiano, considerando que se trata de um assunto “esquecido” pela sociedade portuguesa. (**)

“O importante é a compreensão, quer em relação àqueles que decidiram desertar como também em relação a todos os que quiseram combater”, concluiu. (...) (***)


(Excerto reproduzido com a devida vénia...)
________________


(...) [João Bonifácio:] Pessoalmente, acho que cada um de nós tem o direito a demonstrar o seu ponto de vista, mesmo que negativo. Depois do 25 de Abril, penso que todos os que foram obrigados pelo antigo regime de Salazar e Marcelo Caetano, a refugiar-se em certos países da Europa, puderam todos, ou quase todos, regressar a Portugal e restabelecer as suas vidas junto aos seus familiares.

Por isso, penso que este tema, por muito complicado que seja, deverá ser discutido abertamente por todos os que sintam ter as suas ideias quanto aos chamados desertores. Hoje, e depois de ler neste blogue que o Amigo Luís em tão boa hora iniciou, ter lido das dificuldades de tantos militares, que por pouco não foram apanhados à mão e até fugiram para o mato, para não falar do abandono total por parte dos chefes da guerra em abandonar estes nossos irmãos, até já fiz a pergunta se eu não deveria ter feito o mesmo. (...)


(...) [Paul Raposo:] Quem fugiu, foi por medo, conveniência, comodismo, etc. Uma coisa é certa, por política é que não foi. Esta de, à ultima da hora, vir dizer que se era antifacista, não cola. Se havia assim tantos, então no tempo da outra senhora onde andavam? Andavam a mamar à custa do regime e, para se branquearem, viraram resistentes para aranjarem novos tachos. Cambada de oportunistas.
Atenção, não me compete criticar ninguém, mas galos e perús não são todos uns. Bem me custou o embarque, fugir era mais fácil. (...)


(...) J. L. Vacas de Carvalho:] Uma parte da minha consciência diz que não devemos fazer juízos de valor sobre as causas que levaram um português a desertar. pode ter sido por razões familiares, razões de consciência ou por outras razões que não me compete a mim julgar ou criticar. Outra parte de mim diz-me que eles simplesmente fugiram, tiveram medo, acobardaram-se. Ponto final. Admiti-los no nosso blogue é uma traição a quem lá esteve e que por quem lá morreu. No entanto o nosso Presidente no seu mais alto critério assim o decidirá.(...)

(**)  "Desertores" é um dos temas fraturantes do nosso blogue, que é um blogue de combatentes, dos que cumpriram o dever como portugueses, independentemente das reservas ou objeções (políticas, ideológicas, religiosas, morais, etc.) que podia, ter ou não em relação àquela guerra.

Temos, mesmo assim, cerca de meia centenas de referências com o marcador "desertores"... Em prosa,. em verso: vd. por exemplo poste de 2 de outubro de  2014 > Guiné 63/74 - P13680: Manuscrito(s) (Luís Graça) (40): Selfies /autorretratos: o meu amigo F..., pintor, e eu... Queria que fôssemos, a salto, até Paris, em 1965...

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14511: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 18 de abril de 2015 (17): Distribuição de Certificados aos tertulianos totalistas dos 10 Encontros nacionais e admissão de duas novas tertulianas: Graciela Santos (hnº 682) e Lígia Guimarães (nº 683)


No passado dia 18 de Abril, aquando do nosso X Encontro Nacional, foram distribuídos "Certificados", da autoria do nosso camarada Miguel Pessoa. 
Os distinguidos foram: António Santos e esposa Graciela; Carlos Vinhal e esposa Dina; David Guimarães e esposa Lígia; Jorge Cabral; Luís Graça e Raul Albino, que fizeram o pleno dos 10 Encontros realizados até agora.

 Certificado da autoria do nosso camarada Miguel Pessoa


Eis a reportagem fotográfica dos camaradas Albano Costa e Manuel Resende:

Entrega de Certificados - António Santos

Entrega de Certificados - Jorge Cabral

Entrega de Certificados - David Guimarães

Entrega de Certificados - Dina Vinhal

Entrega de Certificados - Graciela Santos

Entrega de Certificados - Luís Graça

Entrega de Certificados - Lígia Guimarães

Entrega de Certificados - Raul Albino
 
Recordar-se-ão que o I Encontro foi no já longínquo ano de 2006, na Ameira, organizado pelo nosso camarada Paulo Raposo. 

O II Encontro, em 2007, aconteceu em Pombal, com organização da responsabilidade do nosso camarada Vítor Junqueira.

Os terceiro e quarto, em 2008 e 2009, na Quinta do Paúl, em Ortigosa, organizados pelo camarada Joaquim Mexia Alves. 

Desde 2010 os Convívios têm decorrido no Palace Hotel de Monte Real, e a organização tem estado a cargo do nosso camarigo Mexia Alves, que tem demonstrado muita competência nesta difícil missão de agradar ao maior número possível de participantes.

Hoje, dia em que se comemora o 11.º aniversário da nossa página, porque foi neste mesmo dia do ano de 2004 que se publicou o primeiro Poste - Guiné 63/74 – P1: Saudosa(s) madrinha(s) de guerra (Luís Graça), achamos que terá algum significado admitir como amigas tertulianas duas das três senhoras agraciadas. São elas a Graciela Santos e a Lígia Guimarães. A Dina Vinhal há muito que faz parte da tertúlia.

Recordemos a foto de família com algumas das senhoras presentes nesse memorável I Encontro de 2006


Com a devida salvaguarda por qualquer lapso de memória, reconhecemos na primeira fila, a partir da esquerda: Lígia Guimarães, Dina Vinhal, Alice Carneiro, Celeste Baia, Graciela Santos, Irene Briote, e... na ponta direita, Margarida Franco e Judite Neves.


Os homens não estarão aqui todos, nota-se a ausência do António Santos que estará encoberto ou ausente deste grupo.

Termina-se, deixando às nossas novas tertulianas um beijinho em nome dos editores e da tertúlia em geral. Se alguma vez quiserem mandar para publicação algum texto, seja ele uma memória ou uma história recente, relacionadas convosco ou com os vossos maridos, já sabem que com muito gosto a publicaremos. O Blogue é da tertúlia e tanto a Graciela como a Lígia, a partir de hoje, fazem parte dela.

Carlos Vinhal
____________

Notas do editor:

Último poste da série Tabanca Grande de 22 de Abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14503: Tabanca Grande (459): José Sousa (JMSF), soldado de rendição individual, do BART 1904 e depois do Pelotão de Intendência, viola solo do conjunto musical de Bambadinca, ao tempo do BCAÇ 2852... Grã-tabanqueiro nº 681

Último poste da série de 22 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P14499: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 18 de abril de 2015 (16): fotos do MIguel Pessoa

quarta-feira, 12 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12829: O meu baptismo de fogo (26): Có - os primeiros contactos de fogo: um teste para os "piriquitos" (Francisco Henriques da Silva)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Henriques da Silva (ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, , Mansabá e Olossato, 1968/70; ex-embaixador na Guiné-Bissau nos anos de 1997 a 1999), com data de 10 de Março de 2014:

Meu caros camaradas e amigos,
Junto vos envio uma descrição do primeiro ataque a Có, em Agosto de 1968, algumas semanas depois de nos instalarmos naquela localidade, recém chegados à Guiné.
A minha descrição não coincide integralmente com a do Raul Albino(*), tal como descrita nas “Memórias de Campanha" pois muito embora estivéssemos presentes quando os factos sucederam tivemos visões e percepções diferentes dos acontecimentos, o que é absolutamente natural.
De qualquer forma, as descrições em larga medida são convergentes.

Não disponho de qualquer fotografia de Có no meu arquivo, de modo que remeto-vos para a foto já publicada neste blogue da CCaç 2402.
Estou a reservar este texto, juntamente com outros, para a publicação, talvez ainda este ano de um livro de memórias.

Com um abraço cordial e amigo
Francisco Henriques da Silva
Ex-Alferes Miliciano de Infantaria,
CCaç 2402
(Có, Mansabá e Olossato), 1968-1970
Ex-embaixador de Portugal em Bissau (1997-1999)


Vista aérea de Có
Foto: © Raul Albino (2006). Direitos reservados


O MEU BAPTISMO DE FOGO

Có - os primeiros contactos de fogo: um teste para os “piriquitos”

Pouco antes da Companhia completar um mês na povoação de Có, no “chão” mancanha, em finais de Agosto, juntamente com o meu grupo de combate, encontrava-me na estrada que contornava o extremo da pista de aviação, umas centenas de metros a Oeste desta última, uma vez que tinha cabido em sorte ao meu grupo efectuar, naquela manhã, a chamada “picagem” da dita pista, para efeito de detecção de minas. Esta operação rotineira e diária, indispensável para garantir a segurança das aeronaves, havia terminado e preparávamo-nos para regressar a penates. Creio que seriam para aí umas seis e meia da manhã. O dia começava a raiar. O IN, com um grupo relativamente pequeno, mas expressivo, talvez 20 a 25 homens no total, ataca o aquartelamento pelo lado norte da referida pista de aviação com armas ligeiras, morteiro de 60mm e RPG-2 (lança-granadas foguete de fabrico soviético). Foi um ataque de curta duração, cerca de um quarto de hora.

Có - Vd. carta de Pelundo 1:50.000

O Comandante manda sair um grupo de combate, o do Raul e, ao mesmo tempo, manda fazer fogo com o morteiro 81, salvo erro, a única arma pesada que a Companhia então dispunha, esquecendo-se de que eu e o meu grupo estávamos já quase numa das extremidades da pista. O grupo de combate do Raul, guiado pelo chefe dos cipaios, abandona o aquartelamento pela porta de armas em direcção à tabanca, ou seja, numa direcção contrária à da pista de aviação, até porque se o fizessem por esse lado estariam a avançar em campo aberto, completamente expostos ao fogo do inimigo, a fim de efectuar uma manobra de envolvimento. Entretanto, o meu próprio grupo movimentava-se rapidamente em direcção ao final da pista, por onde passava uma estradeca de terra batida, internando-se, porém, cautelosamente pelas bermas da via e não directamente por esta, para não se expor de peito aberto ao fogo dos guerrilheiros que batiam o caminho com uma metralhadora de alto calibre. De repente caem, duas ou três granadas de morteiro de 81mm, disparadas do quartel que afocinharam, sem explodir, muito perto de nós, uma delas a cerca de três metros do local onde me encontrava. Um dos cabos que estava ao meu lado, grita-me ao ouvido: “Meu alferes, meu alferes, agache-se! Estão a disparar do quartel na nossa direcção!” Fogo amigo! Sem dúvida... Estas “amizades” é que fazem falta! No meio daquela confusão, lá consigo comunicar por rádio - o que não foi nada fácil, porque estavam quase todos a falar ao mesmo tempo e a inexperiência pesava - e peço que suspendam imediatamente os disparos de morteiro. Agradeço, à Virgem Maria e a todos santinhos a nabice do furriel encarregado das armas pesadas que nos bombardeou com granadas encavilhadas, porque se acaso tivesse actuado com profissionalismo e segundo as regras, eu, muito provavelmente, não estaria aqui para contar a história.

A este ataque inicial e, contra todas as expectativas, após uma curta acalmia, seguiu-se um segundo assalto. Os guerrilheiros reagruparam-se e prepararam-se para nova ofensiva, agora de um ponto diferente e insuspeitado. No fundo, sabiam da nossa inexperiência - era o nosso baptismo de fogo -, dos nossos naturais temores e da nossa possível desorientação. Só que as coisas não lhes correram de feição.

Recomeçou, pois, o tiroteio. Parte do grupo atacante, já muito próximo de nós, a uns escassos 70 ou 80 metros continua a varrer a estrada com a tal metralhadora de tripé que eu e os meus homens vimos claramente, pois aproximávamo-nos cada vez mais. Para lá se dirigiam os tiros das nossas G-3. De forma totalmente inconsciente, sem dizer nada a ninguém, atravesso em passo de corrida a estrada para o outro lado, na tentativa ingénua ou, mesmo, estúpida de fazer uma manobra de envolvimento. O que é que eu sabia de guerra? As balas assobiavam por todos os lados e algumas zuniam, seguidas de embates secos, levantando poeira ao embaterem na terra da estrada, tal como nos filmes made in Hollywood ou então silvavam por cima das nossas cabeças. Zing! Zing! Verifico que estou literalmente sozinho do outro lado do caminho. No meio do tiroteio, ouço a voz de alguém: “O homem é maluco!” e, logo a seguir, um dos meus furriéis adverte-me aos gritos: “Meu alferes, meu alferes, isso aí é muito perigoso. A estrada está a ser batida por uma [metralhadora] pesada.” Como se eu não soubesse. Bom, lá atravesso eu, num ápice, outra vez a estrada para me juntar aos meus homens, com as balas outra vez a baterem por tudo quanto era sítio.

O nosso poder de fogo e a nossa superioridade numérica eram muito superiores às dos atacantes. Além disso, estes estavam já a ser envolvidos por fogos cruzados oriundos, quer do meu grupo, quer do do Raul, plenamente operacional e activíssimo que os atacava pelo lado nascente, uma vez que lhes havia seguido as pegadas, bem marcadas na lama do caminho. A metralhadora calou-se, os RPG-2 há muito que estavam silenciosos e só esporadicamente se ouviam tiros isolados de armas ligeiras, até emudecerem de vez.

Ao chegarmos ao local onde estaria a metralhadora, encontrava-se o corpo sem vida de um dos guerrilheiros, com uma farda de caqui e ostentando um pequeno emblema com a foice e o martelo no chapéu de pano amarfanhado e manchado de sangue. A arma, essa, sumiu-se.

Os meus soldados deram valentes mas inúteis pontapés no cadáver inerte do guerrilheiro, até se capacitarem de que estava morto, mas bem morto, da chamada morte matada.

Passado pouco tempo, fizeram-se ouvir novos disparos, mais a Leste era o grupo do Raul que ia em perseguição do IN. Os guerrilheiros terão sido surpreendidos com esta reacção da nossa parte, que não estariam, de todo em todo, à espera, e tiveram de debandar rapidamente, sofrendo mais um morto e um número indiscriminado de feridos.

O cabo dos cipaios, Dayan, no seu português acriolado definiu bem o baptismo de fogo daquele grupo de soldados, jovens e inexperientes nas lides da guerra:
- Companhia “piriquita”, mas boa!

No jargão da época, “piriquitos” eram os neófitos, os novatos, os militares recém-chegados à Guiné, sem experiência de combate.

Ora bem, o certo é que tínhamos passado no exame e logo na primeira chamada.

Francisco Henriques da Silva

De pé: Francisco Silva, Raul Albino e Cap Vargas Cardoso
Foto: © Raul Albino (2006). Direitos reservados
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Notas do editor

(*) Vd. poste de 2 DE OUTUBRO DE 2008 > Guiné 63/74 - P3265: O meu baptismo de fogo (2): Primeiro ataque ao quartel de Có (Raúl Albino)

Último poste da série de 12 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12282: O meu baptismo de fogo (25): Monte Siai, 10 de Janeiro de 1968 (Abel Santos)

terça-feira, 30 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11509: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (37): Respostas (nº 71/72): Armando Faria, ex-Fur Mil da CCAÇ 4740 (Cufar, 1972/74) e Raul Albino, ex-Alf Mil da CCAÇ 2402 (Có, Mansabá e Olossato, 1968/70)

1. Respostas ao questionário do nosso camarada Armando Faria (ex-Fur Mil, CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74):

(1) Quando é que descobriste o blogue? 
R - Já perdi a memoria mas foi há muito 

(2) Como ou através de quem? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada) 
R - Informação de camarada 

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia)? Se sim, desde quando? 
R - Sim mas não lembro de quando 

(4) Com que regularidade visitas o blogue? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...) 
R - Mais do que uma vez por semana 

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)? 
R - Tenho enviado mas pouco irei fazê-lo mais 


(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça]? 
R - Sim mas ainda não aderi 

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue? 
R - Mais ao blogue 

(8) O que gostas mais do Blogue? E do Facebook? 
R - Por norma acompanho tudo 

(9) O que gostas menos do Blogue? E do Facebook? 
R - Não gosto das polémicas que se geram à volta de determinados temas 

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...) 
R - Não tenho sentido 

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti? E a nossa página no Facebook? 
R - A importância que tem é tão grande, basta ver o numero de visitas, que penso já não se poder dispensar este trabalho em prol de todos para que a memoria não fique esquecida, faz-me lembrar aquele general Americano que deu ordem para que tudo fosse registado ate à exaustão pois podia haver alguém que um dia negasse que tal pudesse ter acontecido, este blogue é à sua semelhança algo muito próximo. 

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais? 
R - Não 

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de Junho, em Monte Real? 
R - Gostaria mas ainda não sei se me vai ser possível 

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar? 
R - Enquanto houver alguém que lhe dê “corda” não deve parar, tornou-se demasiado importante. 

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer. 
R - Gostaria de deixar aqui um apelo aos meus camaradas para que não façam deste espaço um espaço de divisão pelas opiniões expressas, cada um de nós é uma realidade e tem uma personalidade própria moldada pela vida que teve e pelo que a cada um é dado como experiência de vida, somos como somos e é neste diversidade que nos completamos como seres viventes. 

Um abraço fraterno,
Armando Faria

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2. Respostas do nosso camarada Raul Albino (ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, Mansabá e Olossato, 1968/70):

1 - Descobri o blogue em 2006, salvo erro. 

2 - Através do Mário Beja Santos, que me arregimentou. 

3 - Sou membro da Tabanca Grande a partir dessa altura. 

4 - Visito o blogue três vezes por semana, em média. 

5 - Gosto sempre de mandar material para o blogue, mas o tempo não abunda e estou a tentar ajudar um filho que perdeu o emprego. 

6 - Não conheço a vossa página do Facebook, porque nunca lá fui e sou discreto demais para exposições. Não gosto do uso e abuso que se faz dele. 

7 - Só vou ao Blogue. 

8 - Gosto praticamente de tudo no Blogue, com algumas reservas. 

9 - O que gosto menos no blogue é a incapacidade de fazer certas pesquisas específicas e limitadas, sem vir atrás um corrupio de "lixo" que não preciso. 

10 - Já tive recentemente grandes dificuldades em aceder. Tinha a versão 8 do Internet Explorer. Depois de actualizar para a versão 10, a situação melhorou. 

11 - O Blogue representou e representa uma troca importante de experiências com todos vós ex-militares, sobre a nossa amada ex-Guiné (agora Guiné-Bissau). 

12 - Participei em todos os Encontros (convívios), menos um, por motivos de força maior. Adoro estar convosco. 

13 - Estarei presente também no VIII encontro. Espero lá encontrar todos os que já são meus amigos, pelo menos. 

14 - Tem força animica para continuar. Mas cada melhoria vai sendo mais difícil de implementar, como por exemplo, a melhoria de pesquisa dentro do blogue, tal como foquei no ponto 9. 

15 - A única crítica que posso fazer é a de que não compreendo como nunca se concretizou a realização de jornadas para abordar o que se pretende obter com este item. E, no entanto, pareceu-me que já houve intenção de o fazer.

Raul Albino
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de Abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11506: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (36): Respostas (nº 69/70): António Rosinha (ex-fur mil, Ango9la, 1971; topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, 1979); João Martins (ex-Alf Mil Art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69)