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quarta-feira, 25 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2984: Op Mabecos Bravios: a retirada de Madina do Boé e o desastre de Cheche (Maj Gen Hélio Felgas † )

Major General Hélio Esteves Felgas (1920-2008): duas comissões na Guiné, um dos militares portugueses da sua geração mais condecorados, autor de dezenas de livros e artigos sobre a "luta contra o terrorismo", a guerra ultramarina... Comparou a Guiné ao Vietname. Também considerava que a solução para a Guiné não era militar mas política... Foi, todavia, um crítico de Spínola que lhe terá roubado, entretanto, a ideia dos reordenamentos (aldeias estratégicas) (1). Um oficial intelectualmente brilhante mas controverso, dizem alguns dos seus pares, mais novos.

Foto gentilmente cedida pela filha, Dra. Helena Felgas, advogada.



Reprodução da assinatura do então brigadeiro Hélio Felgas, em documento, de 1995, de que o Paulo Raposo me facultou fotocópia.

Fotos: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Todos os direitos reservados.





Guiné > Região do Oio > Mansoa > CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852 > 1968 > Antes de partir para a zona leste (Galomaro e Dulombi)... O Alf Mil Paulo Enes Raposo, que anda agora mais arredio do nosso blogue... Na I Série (Abril de 2005/Maio de 2006) teve um papel muito activo na animação bloguística. Dele publicámos um longo e interessantíssima depoimento sobre a sua comissão na Guiné (O meu testemunho e visão da guerra de África. Montemor-o-Novo, Herdade da Ameira Documento policopiado. Dezembro de 1997). 

.Foto: © Paulo Raposo (2006). Todos os direitos reservados


1. Entretanto recebemos hoje do seu (e nosso) camarada e amigo Rui Felício, a seguinte mensagem, respeitante à morte do Maj Gen Hélio Felgas: 

" Luís Graça, chocado com a notícia, reafirmo a admiração que sempre tive por esse Homem, um verdadeiro militar à moda antiga e, mais do que isso, uma pessoa com um sentido de justiça e um humanismo que só em muito poucos consegui encontrar na minha vida militar. Um abraço, Rui Felício"...

O Rui perdeu 11 dos seus homens na Op Mabecos Bravios. No total, a sua companhia, a CCAÇ 2405, perdeu 17 (num total de 46 vítimas, militares metropolitanos), nessa trágica manhã do dia 6 de Fevereiro de 1969.


2. O Paulo Raposo, ex-Alf Mil da CCAÇ 2405, organizador do nosso I Encontro Nacional, na Ameira, Montemor-o-Novo, em 2006, mandou-me,  em devido tempo, uma fotocópia de um depoimento do então Brigadeiro Hélio Felgas, sobre a trágica retirada de Madina do Boé.

Se bem me lembro (uma vez que não tenho aqui à mão o documento em suporte de papel), esse depoimento terá sido escrito em 1995, a pedido dos baixinhos de Dulombi, os ex-Alf Mil Felício, Raposo, Rijo, David e , e demais pessoal da CCAÇ 2405, que perderam 17 homens na travessia do Rio Corubal, em Cheche, 6 de Fevereiro de 1969. Só o Rui Felício perdeu 11 homens do seu Grupo de Combate (2).

Estive no velório do Major General na Situação de Reforma, Hélio Felgas, onde conheci a sua filha, Helena Felgas, advogada, mãe do jovem Miguel Felgas Menezes, o neto que nos deu a notícia da morte do avô, e que não o pode acompanhar até à última morada por se encontrar em Toronto, Canadá, em viagem profissional. 

A família decidiu não adiar o funeral, que teve honras militares, repousando os seus restos mortais no Talhão dos Antigos Combatentes do Cemitério do Alto de São João. Pormenor revelador de uma personalidade: foi o próprio quem redigiu a notícia necrológica, saída hoje no Diário de Notícias.

Também conversei com Jorge Casal, actual marido da Dra. Helena Felgas, e antigo combatente em Angola, donde regressou nas vésperas da independência. Era alferes miliciano da Manutenção Militar. Tive com ele uma amável conversa sobre o sogro, a sua carreira militar,as relações com a Guiné, etc. Conheci igualmente a viúva do major general, a quem repeti a história da conversa telefónica, de há uns meses atrás, pedindo autorização para publicar este depoimento que, em princípio, é inédito. A família também não se opôs, embora reconheça que a recordação deste episódio continuou, pela vida fora, a ser triste e doloroso para o antigo comandante da Op Mabecos Bravios.

Agradeço ao Paulo Raposo e à família do ilustre militar Hélio Felgas, em especial à viúva e à filha (que viveram em Bula, na 1ª comissão 1963/64), a possibilidade de enriquecer, com este depoimento (inédito), o dossiê sobre Madina do Boé, um topónimo que, por razões diversas, faz parte do nosso imaginário e das nossas dolorosas memórias da guerra da Guiné. 

Reproduzimos aqui esse texto, com o respeito que é devido por este antigo combatente, que agora nos deixou, depois de vários anos de sofrimento devido a doença.

Entretanto, recebemos também do José Colaço o seguinte comentário:

 "Paz à sua alma, a guerra não resolve nada, veja-se os casos de todos os Países ou negociaram livremente ou aconteceu-lhe o mesmo que a Portugal, ter que negociar sem condições para o fazer. José Colaço.".

Registe-se, finalmente, a mensagem que o Torcato Mendonça mandou para o neto, Miguel Felgas Rezende:

"Recebi, há momentos, a triste notícia. É, com Profundo Pesar que lhe apresento as minhas sentidas Condolências. Torno-as extensíveis á Senhora sua Avó e Família. Fui oficial subalterno de seu Avô, quando do Seu Comando no Sector Leste – Bafatá. Mereceu-me, sempre, o mais profundo respeito como Homem e Militar. Manterei, na minha memória, viva a sua recordação. Cumprimenta, Torcato Mendonça. Apartado 43, 6230-909 Fundão. torcatomendonca@gmail.com "

3. A retirada de Madina do Boé 

pelo Brigadeiro Hélio Felgas (2)

Digitalização, fixação e revisão do texto e subtítulos: L.G.

Todo o sudeste da Guiné, ao sul do rio Corubal, era uma região praticamente despovoada onde só havia dois postos administrativos: Beli e Madina do Boé.


(i) Um ponto sem valor estratégico

Já antes de, em 1968, eu ter assumido o comando do sector Leste [, Agrupamento nº 2975, com sede em Bafatá], Beli fora abandonado. O pelotão que aí se encontrava fora transferido para Madina, completando a companhia aí instalada.

Madina fica a cerca de 5 quilómetros da República da Guiné-Conacri. Não tinha qualquer população civil e só dispunha de um ou dois pequenos edifícios. Nem ruas tinha. Havia sido apenas uma minúscula tabanca (aldeia nativa), sem importância de qualquer espécie.

À medida que o PAIGC aumentava o seu poder de fogo com morteiros pesados e artilharia, os bombardeamentos e flagelações a Madina, executados em geral a partir do lado de lá da fronteira, passaram a ser quase diários.

Por isso a guarnição dormia em abrigos, escavados 4 ou 5 metros abaixo do nível do solo. Muitas vezes os bombardeamentos nada destruíam, caindo os obuses e granadas fora do perímetro do aquartelamento. Mas outras vezes causavam estragos e baixas que, em caso de necessidade, eram evacuadas de helicóptero para o hospital militar de Bissau.


(ii) A rotina dos bombardeamentos e flagelações

Apesar desta situação certamente pouco agradável, o moral da guarnição era levado. Lembro-me da primeira vez em que fui pernoitar a Madina. Pouco antes do anoitecer comecei a ouvir os soldados à porta dos seus abrigos gritando “Está na hora! Está na hora!”. O comandante da Companhia elucidou-me que era a altura de o PAIGC começar o usual bombardeamento e os homens já tomavam aquilo como uma brincadeira, habituados como estavam ao estrondo do rebentamento das granadas. Por acaso nesse dia as granadas só de madrugada caíram e não causaram baixas nem prejuízos.

Claro que a nossa guarnição respondia com morteiros e com canhão sem recuo e toda a gente estava sempre preparada para disparar a curta distância do arame farpado. Que eu saiba, porém, nunca o adversário tentou assaltar o aquartelamento.

Na manhã seguinte um destacamento saía do recinto e percorria os arredores procurando descobrir o local de onde teria sido feita a flagelação. Umas vezes tinha êxito e o local era cuidadosamente assinalado nas nossas cartas de tiro. Mas outras vezes nada se descobria pela simples razão de o bombardeamento ter sido feito a partir do território da Guiné-Conacri e os nossos militares cumprirem escrupulosamente a ordem que tinham de não atravessar a fronteira.

As viaturas da Companhia encontravam-se dispersas pela área do aquartelamento, em especial junto às árvores para melhor protecção. E até ao princípio de 1969 havia algum gado para consumo do pessoal. O último boi foi porém abatido por uma granada do PAIGC e a isso se referia com certo humor o relatório-rádio do comando local, confirmando assim o bom moral da unidade.


(iii) Missão: defender-se a si próprio!

De qualquer forma, tornou-se pouco a pouco evidente a inutilidade da presença de uma Companhia em Madina.

A tropa estava na Guiné para defender a população civil que nos era afecta, tentando suster o seu compulsivo aliciamento pelos guerrilheiros do PAIGC vindos do Senegal, a norte, ou da Guiné-Conacri, a sul e a leste. Procurava também evitar ou dificultar a penetração desses guerrilheiros em território então considerado nacional. E pretendia ainda impedir a destruição das estruturas económicas e administrativas: pontes, estradas, edifícios, etc.

Ora em Madina e em todo o sudeste guineense a sul do rio Corubal, não havia população alguma. Não havia estruturas de qualquer importância. E a fronteira era totalmente permeável em dezenas de quilómetros.

Então, se a tropa não estava a proteger qualquer ponte nem qualquer tabanca e não tinha a menor possibilidade de impedir penetrações territoriais, o que é que estava a fazer em Madina ?

A resposta era simples: a Companhia de Madina estava lá “para se defender a si própria”! Quando, afinal, fazia tanta falta em outros pontos da Guiné!

Por outro lado, ponderou-se também a possibilidade de o PAIGC aproveitar uma possível evacuação de Madina pelas nossas tropas, para declarar a região como “libertada”.

Mas isso podia o PAIGC fazer em qualquer outro ponto, do imenso sudeste guineense. Na zona de Beli, por exemplo, que nós abandonámos havia muito tempo e onde nunca íamos por falta de objectivo.

Aliás, mesmo com a Companhia em Madina, o PAIGC podia declarar o sudeste guineense uma “zona libertada” e até lá levar jornalistas estrangeiros, como parece que fez.


(iv) Evacuação: riscos calculados

Todas estas considerações foram devidamente estudadas, bem como os principais riscos que a evacuação podia acarretar.

Entre esses riscos contavam-se várias possibilidades de actuação dos guerrilheiros do PAIGC. Como por exemplo:
- Aumentarem as flagelações e bombardeamentos sobre Madina nas noites anteriores à manhã da “descolagem” quando as viaturas da Companhia, já meio carregadas, se encontrassem mais expostas;
- Lançarem sobre Madina um bombardeamento maciço na madrugadas da partida, quando parte da coluna de viaturas já estivesse fora do aquartelamento (cuja exiguidade não comportava toda a coluna); tanto nesta possibilidade como na anterior, contava-se que o PAIGC certamente detectaria o movimento desusual no interior de Madina;
- Montarem emboscadas à coluna em diversos pontos da estrada Madina-Cheche; esta estrada corria quase a direito no sentido norte-sul e, aqui e ali, era flanqueada por pequenas colinas de onde, em deslocamentos anteriores, os guerrilheiros haviam lançado emboscados; estava além disso minada com poderosas minas anticarro soviéticas;
- Tentarem dificultar a travessia do rio Corubal no Cheche.

Claro que, ao reconhecerem-se estes riscos, admitiam-se baixas da nossa parte pois a operação não era simples.


(v) Operação Mabecos Bravios

Mas tudo se fez para que tais baixas fossem mínimas. Em Bafatá, no comando do Sector, começou a ser elaborada a Ordem de Operações [O. Op.].

No Gabu (então Nova Lamego) construiu-se uma nova jangada que depois foi levada para o Cheche onde a que lá estava foi devidamente reforçadas. Estas jangadas eram constituídas por um forte estrado dotado de vedações laterais e assente em bidões vazios e em três “barcos” formados por grandes troncos de árvores escavados. Estrutura esta que, com a jangada descarregada, colocava o estrado a cerca de um metro da água.

As jangadas eram consideradas muito seguras e incapazes de se voltarem ou afundarem, desde que não fossem excessivamente carregadas. Calculava-se que aguentariam um peso de dez toneladas. Mas para maior segurança a O.Op. proibia que fossem transportados mais de 50 homens de cada vez.

Por seu lado, em Madina, os motores e as suspensões das viaturas da Companhia foram cuidadosamente revistos, não tendo o comando local tido pouco trabalho no carregamento de todo o material, incluindo a parte delicada das munições, até então guardadas em paióis subterrâneos.

No princípio do ano [ de 1969], a O. Op. foi levada ao Comando-Chefe, em Bissau, e apreciada e aprovada em reunião de comandos. O dia da evacuação foi marcado para 9 de Fevereiro de 1969, sendo a operação designado por Mabecos Bravios.

Aos comandos das unidades que forneciam contingentes de reforço foram dadas as respectivas ordens, com indicação dos locais onde as suas tropas deviam ser colocadas (de helicóptero). Alguns destes locais ficavam nas colinas de onde anteriormente haviam sido lançadas, sobre a estrada, emboscadas contra as nossas tropas. Outros ficavam na margem sul do Corubal, próximo do Cheche.


(vi) Uma manobra de diversão

Fui para Madina na manhã da véspera do dia D. Comigo foram 5 helicópteros pois eu queria executar com eles uma operação de diversão que consistia e, por duas ou três vezes, enviar os helis (vazios) para os locais de onde o PAIGC costumava bombardear o aquartelamento. Dava assim a ilusão de que estava colocando forças nesses locais, em emboscada.

A medida deve ter resultado pois nessa noite não houve bombardeamento a Madina.

Foi em completa calma que a complexa coluna auto se formou, com a parte dianteira já na estrada do Cheche.

Ao amanhecer iniciou-se o movimento com as viaturas e respectivos reboques completamente carregados e a grande maioria dos homens a pé. Como era costume eu seguia à frente com o meu guarda-costas e o homem do posto-rádio. Só os picadores nos precediam, picando cuidadosamente a estrada com compridos ferros pontiagudos. E excelente trabalho fizeram pois nenhuma mina rebentou embora tenham sido levantadas 12 ou 14.



(vii) A visita do Bispo [com-chefe, gen Spínola]

A progressão poderia ser lenta mas parecia segura. De tempos a tempos passávamos por camiões e autometralhadoras destruídas em emboscadas anteriores. Também vi os restos de um avião mas não sei se teria caído por acidente ou sido abatido. E conseguiu-se recuperar uma autometralhadora que se encontrava abandonada na berma da estrada.

A dada altura um helicóptero sobrevoou-nos. Contactei pela rádio e verifiquei que era o Bispo, ou seja, o General Spínola. Quase todas as manhãs o Comandante-Chefe saída de Bissau num helicóptero e ia observar as principais operações que se realizavam na Guiné. Mandei parar a coluna e montei segurança ao lado da estrada. O heli pousou e o General Spínola acompanhou-me a pé durante alguns quilómetros, demonstrando assim o apreço que a execução da operação lhe estava merecendo. Depois foi-se embora, satisfeito.

Chegámos ao Corubal ao princípio da noite sem termos sofrido qualquer emboscada. A travessia do rio começou imediatamente com as jangadas trabalhando alternadamente. Havia um cabo de aço estendido de uma margem à outra, a ele ficando ligada a jangada em serviço, a qual era empurrada por um pequeno barco com motor for de bordo.

O rio tinha uma corrente muito forte e uns 100 a 150 metros de largura. O motor do barquito levantava uma pequena ondulação que formava um V.

Atravessei para o Cheche cujas instalações eram semelhantes às de Madina, isto é, quase tudo abrigos enterrados.

Durante toda a noite assisti ao vai-vem das jangadadas. Parte dos destacamentos de reforço foram os primeiros a atravessar o rio, formando logo uma coluna auto na estrada que partia de Cheche para Nova Lamego. A Companhia de Madina [, a CCAÇ 1705,] seria a última a fazer a travessia, juntamente com dois Gr Comb da [CCAÇ] 2405.


(viii) O desastre da jangada

Cerca das 9 ou 10 horas da manhã apareceu um helicanhão que sobrevoou demoradamente toda a zona. Depois pousou e eu fui ter com ele procurando informar-me do que a tripulação tinha visto. Mas tinha chegado, apareceu um soldado correndo para mim a gritar que a jangada se estava afundando, logo após ter partido da margem sul. Pedi imediatamente ao piloto para... [ linha inteira cortada na fotocópia] depois para a margem do Cheche onde eu estava. Parecia vir normalmente carregada com homens e material.


(ix) Um comandante também chora

Quando chegou é que eu soube que diversos homens tinham caído ao rio, não aparecendo mais. Verifiquei tratar-se do pessoal que realizava a última travessia.

Quando se fez a chamada, viu-se que faltavam quarenta e tal homens, seis dos quais nativos.

Não consegui controlar-me e desatei a chorar, tal como aliás vi muitos valorosos militares a fazerem. Foi assim que me encontrou o General Spínola que nesse dia também quisera ir ter comigo.

Aguardámos horas, com o helicóptero sobrevoando o local na esperança de localizar alguns dos desaparecidos. Dois ou três bons nadadores também mergulharam na zona onde acorrera o acidente. Nada foi encontrado.

Interroguei diversos militares mas alguns nem podiam falar. Outros disseram-me que a jangada, logo após ter partido da margem sul, tinha-se afundado um bocado, ficando o estrado rés-vés com a água. Este afundamento era aliás natural desde que não fosse excessivo. O estrado, como dissemos atrás, ficava a cerca de um metro da água quando a jangada estava vazia. Esta distância diminuía conforme o peso do carregamento mas o estrado normalmente nunca chegava a ser coberto pela água.

Segundo parece, alguns dos homens que seguiam junto às vedações laterais assustaram-se quando alguma água começou a cobrir o estrado. Teriam então descido para o rio procurando segurar-se às travessas laterais do estrado e continuar assim a travessia. Desta forma o peso da carga diminuiria e a jangada subiria. Só que não se lembraram de que com o equipamento e as munições cada um pesava mais de cem quilos.

Foi desta forma que uma operação que decorrera sem qualquer baixa (ao contrário do que inicialmente se esperava), viu o seu final tragicamente enlutado. Durante toda a noite, desde as seis da tarde da véspera até às 10 ou 11 da manhã seguinte, as jangadas tinham trabalhado sem qualquer anomalia. Fizeram dezenas de travessias. E o azar logo havia de aparecer na última e de forma tão dolorosa.

Nem o facto de na altura terem ocorrido acidentes semelhantes (ou talvez ainda mais graves), com jangadas em Moçambique, podia servir de lenitivo para o que nos sucedera na Guiné. Dezenas de homens que tinham vivido longos meses sob bombardeamentos quase diários, acabaram por morrer afogados.

Hélio Felgas, Brigadeiro

_______________

Notas de L.G.

(1) Hélio Felgas, nascido em 1920, fez duas comissões na Guiné, durante a guerra colonial (Bula, 1963/64; Mansoa, Tite, Bafatá, 1968/69). 

Na última, ele começou por “chefiar o Estado-Maior do Sector de Mansoa”, depois passou ao “Comando do Batalhão de Artilharia de Tite, no sul” [BART 1914] e, por fim, ficou à frente do “Sector Leste, que abrangia cerca de metade do território e incluía batalhões das três armas combatentes, os quais, naquele tipo de guerra, actuavam concertadamente”.

Entre esses batalhões, contava-se o já nosso conhecido BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). Quando ele, como o posto de coronel, comandou a Op Lança Afiada (8 a 19 de Março de 1969), era então comandante do Agrupamento 2957 (sediado em Bafatá). Repare-se que o brigadeiro, como disciplinado e disciplinador militar de carreira que era, nunca identifica as unidades a que se refere…

Esta nota biográfica é respigada de Os últimos guerreiros do império (Amadora: Erasmo, 1995), livro donde constam entrevistas com o Comandante Rebordão de Brito, o Coronel Caçorino Dias, e o Alferes Marcelino da Mata, entre outros. Nele, o então Brig Hélio Felgas faz um depoimento (polémico) sobre a guerra da Guiné.

Já aqui publicámos a última parte do depoimento ("algumas considerações acerca da Guiné Portuguesa"), onde ele é intencionalmente polémico, comparando a Guiné com o Vietname... Nessa parte do livro (pp. 135 e ss.) , ele revela - 27 anos depois ! - algumas ideias do relatório que terá enviado, no final do ano de 1968, ao General Spínola, "onde defendia que a concessão da independência à Guiné Portuguesa não iria agravar, antes pelo contrário, a situação em qualquer das outras Províncias Ultramarinas" (p. 135).

Outra peça de antologia é o seu relatório da Op Lança Afiada, onde não se coibe de fazer críticas à falta de apoio aéreo e de outros meios (não-participação das forças pára-quedistas e dos fuzileiros).

O Brig Hélio Felgas, condecorado com a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito (1970), passou compulsivamente à Reserva, a seguir ao 25 de Abril, data em que estava em comissão de serviço em Angola.

(2) Vd. poste de 12 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXVI: O desastre do Cheche: a verdade a que os mortos e os vivos têm direito (Rui Felício, CCAÇ 2405)

(...) Acabei de ler um texto escrito pelo camarada José Martins onde relata a sua experiência na zona de Madina do Boé. Embora tenha reconhecido que não assistiu directamente ao que se passou no célebre e lamentável desastre do Cheche, ocorrido no fatídico dia 6 de Fevereiro de 1969, o José Martins conheceu bem o local e a região e desenvolveu a sua descrição socorrendo-se de relatos e documentos alusivos ao sucedido.Deduz-se daquele relato, publicado no blogue, que o desastre teria acontecido essencialmente devido a três factores:

(i) Os militares descomprimiram e tentaram encher os cantis com água do rio, o que terá provocado, depreende-se, o desiquilíbrio da estabilidade da jangada;

(ii) Teria sido ouvido um som abafado, semelhante a uma morteirada, que teria provocado agitação entre os militares e, em consequência, desiquilibrado a jangada;

(iii) Que, após o acidente, a água do Rio Corubal terá tomado um tom avermelhado, querendo com isso dizer-se que os crocodilos que habitavam as águas do rio, teriam consumado a morte dos militares que cairam à água.

(...) 2. O filme da SIC sobre o desastre do Rio Corubal

O mais curioso é que no filme, da autoria de José Saraiva, realizado por Manuel Tomás, que foi visto há uns anos atrás, por muitos milhares de portugueses através da sua transmissão pela SIC e pela distribuição de um vídeo feita na mesma altura pelo Diário de Notícias, são apresentadas aquelas mesmas razões como causas imediatas do desastre.

Já nessa altura contestei as conclusões do filme, e fi-lo por escrito e em reunião pessoal com o Director de Informação da SIC, Dr. Alcides Vieira, estando presente o realizador Manuel Tomás, que dirigiu a realização do filme.

Refiro que a carta entregue na SIC foi subscrita não só por mim mas por dezenas de ex-militares da CCAÇ 2405, que, por coincidência nessa mesma altura, no almoço de confraternização anual, a leram e assinaram.

A contestação dos factos descritos no filme foi feita nessa reunião na SIC, com a prévia concordância do Comandante da Operação, Brigadeiro Hélio Felgas, e estando presentes, além de mim próprio, o Capitão Miliciano José Miguel Novais Jerónimo e o Alferes Miliciano Paulo Enes Lage Raposo.

E ela foi por nós solicitada à SIC em virtude do impacto que a exibição do filme teve nos ex-militares que a ele assistiram e que tinham estado presentes na jangada naquele dia do desastre.Com efeito, no próprio dia da exibição do filme comecei a receber telefonemas de antigos camaradas, um tanto decepcionados e alguns até revoltados, pela inexactidão dos pormenores que ali eram descritos.

Todos nós três, presentes na dita reunião, participámos na operação de evacuação de Madina do Boé, e todos estavamos presentes no local do acidente no Cheche naquele dia 6 de Fevereiro de 1969.O Capitão Jerónimo, comandante da CCAÇ 2405, e eu próprio, estávamos na jangada no momento do acidente, onde se encontrava também o Alferes Miliciano Jorge Rijo, oficial da CCAÇ 2405, com o seu pelotão.O Alferes Miliciano Paulo Raposo, também oficial da CCAÇ 2405, já tinha feito a travessia do rio na viagem anterior, e encontrava-se na margem norte do Corubal com o seu pelotão, observando a tragédia.

Na referida reunião da SIC, o realizador Manuel Tomás argumentou que o filme fora realizado com fundamento em entrevistas e em documentos oficiais militares a que tinha tido acesso, pelo que considerava o filme suficientemente documentado.E disse que esses documentos atestavam as razões acima referidas, isto é, que a jangada se virou porque, no essencial, teria havido disparos de morteiro que, supostamente vindos do IN, teriam criado o pânico nos militares, os quais, ao agitarem-se, teriam provocado o desiquilíbrio da jangada.

Perante a irredutível posição da SIC em manter a versão veiculada pelo filme, nada mais nos restou do que desistirmos do pedido que lhe fizémos para que fosse proporcionado esclarecimento público sobre as conclusões desse filme.

Foi dito, nessa reunião, ao Dr. Alcides Vieira e ao Sr. Manuel Tomás que, por muito credíveis que pudessem parecer os documentos militares em que fundamentaram a versão filmada, nenhum deles jamais desmentiria ou apagaria da minha memória e dos meus camaradas o que realmente se passou.

Mais importante que os documentos preparados no silêncio dos gabinetes militares, sabe-se lá com que inconfessados motivos, era a indesmentível memória daqueles que tinham sido protagonistas e vítimas do desastre.

É com o mesmo espírito de esclarecimento da verdade dos factos que volto hoje ao assunto, desta vez no ambiente mais acolhedor de um blogue criado e gerido por alguém como o Luis Graça que, tendo estado na Guiné, sabe melhor que ninguém que não queremos honrarias, distinções ou protagonismo público. Queremos tão só que a história seja o mais verdadeira e exacta possivel...

Esse é o legado que queremos deixar aos vindouros, para que jamais seja ignorado o sacrificio de uma geração inteira, retirada à sua despreocupada juventude para fazer uma guerra em longínquas terras, em nome dos seus deveres e obrigações para com a sua Pátria. (...).

segunda-feira, 17 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2657: Cuntima nos tempos da CART 3331 (1970/72) (Vítor Silva)

A CART 3331 em Cuntima (1970/72)

Texto e imagens de Vítor Manuel Silva, o novo membro da nossa Tabanca Grande ,

A CART 3331 foi mobilizada para a Guiné pelo RAP 2, Vila Nova de Gaia. Composta por 158 militares era comandada pelo Capitão Miliciano Art Manuel Sena Boléo. A Formação era chefiada pelo 1º Sargento de Art Manuel Joaquim Moreira Dias.

Esta dividia-se nas seguintes secções:
- Comando
- Alimentação
- Manutenção Auto
- Sanitária
- Reabastecimento e Manutenção de Armamento.

A 1ª parte da Instrução de Aperfeiçoamento Operacional (IAO) foi feita no RAP 2.
A Companhia embarcou no Cais da Rocha do Conde de Óbidos para a Guiné no dia 14 de Dezembro de 1970, a bordo do navio Uíge.


O Vítor Silva no Uige, em pleno Atlântico, a caminho da Guiné.

A CART Chegou à Guiné no dia 19 de Dezembro de 1970. No dia 21 de Dezembro embarcou na LDG Alfange com destino ao Centro de Instrução Militar de Bolama. O pessoal fez treino de adaptação ao mato, iniciando a 2ª parte da Instrução de Aperfeiçoamento Operacional.
A 25 de Janeiro de 1971, de novo na Alfange, a Companhia deslocou-se para Farim onde chegou no dia 28 de Janeiro. Aí participou em algumas acções no mato e na estrada Farim-Jumbembem.

A 20 de Fevereiro a CART 3331 deslocou-se em coluna-auto, rumo a Cuntima, dependente do BCAÇ 2879, onde rendeu a CCAÇ 14, durante a qual tomou conhecimento directo com a Zona de Acção (ZA).

Guiné > Zona Leste > Cuntima > A Avenida Central (também conhecida por Av do Senegal).
Enfim, estávamos em pleno teatro da Guerra.

O terreno

O terreno, aliás como de uma maneira geral em toda a Guiné, é plano. Convém no entanto referir que Cuntima é ligeiramente mais elevada que o restante terreno da Z.Z. Daí, talvez o antigo nome de Colina do Norte?

A nossa Z.A. era muito extensa. Delimitada a Norte, numa extensão de aproximadamente 30km, pela República do Senegal, a Este pelo rio Corlá (Sare Dambé Badoral, Sitató, Sinchã Fogã e Sare Tombom), pela bolanha de Sinchã Massa e a Sul pela bolanha de Sinchã Massa e bolanha do rio Norobanta e pelo marco 107.

O sector era servido pela estrada Farim-Cuntima, por onde eram feitos os reabastecimentos.

Inimigo

O IN não se encontrava instalado nem tinha bases dentro da nossa Z.A. Irradiava sempre do Senegal, pelo tradicional corredor de Sitató. De uma maneira geral evitava os contactos.
As suas acções contra as NT manifestaram-se especialmente por ataques ao aquartelamento, implantação de minas na estrada Farim-Cuntima e, esporadicamente às colunas de reabastecimentos.

População

Na sua maioria era de etnia Fula, de religião muçulmana. Apenas uma pequena parte era Mandinga.


Cuntima todas as manhãs bem cedo tinha visitantes do Senegal. Uns para fazerem comércio, outros para partir mantenhas com familiares e amigos e muitos outros para serem assistidos no Posto de Socorros pelo Médico e Enfermeiros da Companhia. Estas duas bajudas senegalesas prestaram-se para a fotografia à distância conveniente, da máquina e dos militares.


O Vítor (de bigode), um Camarada, a bajuda e o Pilão. Para a fotografia.


Cuntima vista, salvo erro, da pista.


Vista panorâmica de Cuntima. Uma povoação com gentes de várias origens (não faltavam os comerciantes libaneses).

Dia de festa na Tabanca. A alegria e o colorido das gentes Guineenses.
Cuntima: Poço de água utilizado pela população.

Cuntima: A Escola Primária.


Vendedores ambulantes (djilas) e a curiosidade da população e dos militares. O Vítor com um menino ao colo.


Cuntima. Reservatórios de água, as duas professoras ao fundo e a casa do agente da PIDE/DGS.


O ex-libris de Cuntima.



Cuntima. Vista aérea.

Nossas Tropas

Em virtude da nossa ZA ser muito extensa, a defesa e ocupação ficou a cargo de duas Companhias, a CART 3331 e a CCAÇ 2547, ambas instaladas em Cuntima. Para além da ocupação e defesa do Sector, a nossa missão dominante e primordial era evitar a infiltração do IN para dentro do TO.
O cumprimento fiel desta missão tornou-se bastante penoso para as NT, pois exigiu delas um trabalho aturado e um elevado grau de sacrifício. Poder-se-á mesmo dizer que a nossa missão foi bastante ingrata pois que foi prática e humanamente impossível fechar os corredores de infiltração numa extensão de fronteiras de 15 km.


Entrada em Cuntima, podendo ser visto o posto nº 1 e a 1ª Caserna, aquela que foi o Hotel do Vítor Silva durante os 23 meses que lá passou.


Um dos três Obuses que existiam em Cuntima.


Como é fácil de ver, para procedermos à contra-penetração usámos como dispositivo dominante as emboscadas sucessivas, quer diurnas quer nocturnas, nos corredores mais propícios e mais prováveis à infiltração.




Pois, elas existiam mesmo. Depois, os bocados chegavam ao aquartelamento envoltos em lençóis.
Para além da actividade principal, procedíamos a frequentes patrulhamentos e seguranças afastadas, diurnas e nocturnas (para evitarmos ataques ao aquartelamento) bem como numerosas operações, colunas e picagens.

Militar à porta de entrada de quem vinha do Senegal.


Sempre que necessário montávamos segurança aos trabalhos agrícolas da população, embora existisse um Pelotão de Milícias que nem sempre era suficiente.

Pessoalmente não me posso esquecer do ataque ao aquartelamento no dia 30 de Maio de 1971. Eu estava de Serviço ao Posto avançado nº 9.


Posto avançado nº 9. Estive lá de serviço no dia 31 de maio de 1971, no que foi considerado o maior flagelamento IN a Cuntima. As tropas do IN vieram mesmo ao arame farpado.

Cerca das 23 horas ouviu-se um barulho junto ao arame farpado. Pensámos que se tratasse de galinhas ou outro animal qualquer. Mas não! Eram mesmo eles que ali estavam. A 50 metros de nós. Foi uma coisa incrível que jamais esquecerei.
O Céu ficou completamente iluminado. Muitos feridos (alguns com gravidade, amputações, cegueiras...) e 3 mortos na População. Felizmente a nossa Companhia não teve qualquer baixa no pessoal.
(...)
A Psico de Spínola


Exemplar de salvo conduto. A Psico de Spínola.



O Vítor e a lavadeira.


O Vítor e o Hélder na Secretaria da Companhia.

A CArt 3331 regressou, num avião dos T.A.M, à Metrópole no dia 25 de Novembro de 1972, orgulhosa de ter cumprido o seu dever. Era o que eu pelo menos na altura pensava.

Pelos bons serviços prestados à Pátria, o Vítor Silva trouxe o apreço do Comandante Militar

o Guião e o crachá da CART 3331

e o livro da História da CART 3331
Fotos: © Vítor Silva (2008). Direitos reservados.
__________

Fixação do texto e sublinhados de vb: ver artigo de
6 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2245: Cancioneiro de Cuntima (Vitor Silva, CART 3331, 1970/72)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2582: Notas de leitura (9): Cristóvão Aguiar, um escritor marcado pela guerra colonial (Beja Santos)

Capa do livro Braço Tatuado, de Cristóvão Aguiar. Lisboa: Publicaçõe D. Quixote, 2008.

Foto: Publicações Dom Quixote (com a devida vénia...)


Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > BCAÇ 506 > Abril de 1964 > Da esquerda para a direita: O Alf Mil António Pinto, o famoso comerciante Mário Soares, de Pirada, o Alf Médico (e hoje conhecido como o grande intérprete do fado de Coimbra) Luiz Goes e o Alf Mil Spencer (1).

Foto: © António Pinto (2007). Direitos reservados.

1. Texto de Beja Santos, com data de 30 de Janeiro último (2):


Título: Braço Tatuado - Retalhos da Guerra Colonial
Editora: Dom Quixote, Lisboa
Ano: 2008
ISBN: 978-972-20-3494-4
Páginas: 136
Dimensões: 15,5x23,5 cm
Colecção: Autores de Língua Portuguesa
Ano de Edição: 2008
Encadernação: Brochado
Preço com IVA: 12,00 €



OS ESCRITORES MARCADOS PELA GUERRA COLONIAL
por Beja Santos


Cristóvão de Aguiar acaba de reeditar em nova versão Braço Tatuado que apareceu inicialmente no livro Ciclone de Setembro, editado em 1985 (Braço Tatuado, Retalhos da Guerra Colonial, por Cristóvão de Aguiar, Publicações Dom Quixote, 2008).

É hoje apreciável o número de títulos disponíveis, só da responsabilidade de escritores, sobre a sua experiência na Guerra Colonial. Basta referir os primeiros livros de Lobo Antunes, alguma poesia e prosa de Manuel Alegre, romances de Lídia Jorge e João de Melo, contos e novelas de Álvaro Guerra, o teatro de Fernando Dacosta e, quanto aos escritores africanos, Luandino Vieira e Pepetela.

Continua por dar resposta a esta questão cultura indispensável: durante treze anos, a Guerra Colonial envolveu centenas de milhares de militares e afectou directamente milhões de civis. A que se deve, a despeito de um número já considerável de testemunhos, incluindo os de recorte literário, o silêncio desses protagonistas?

Há quem procure justificar a falta de estantes cheias de títulos sobre a Guerra Colonial devido ao facto dos diferentes heroísmos não se poderem traduzir numa voz colectiva, isto é, o que se passou em três frentes de combate teve diferentes identidades e resultados militares díspares. Além disso, tendo a Guerra Colonial terminado com o 25 de Abril e a independência das colónias, terá parecido a muitos protagonistas que os seus testemunhos estavam deslocados, precisavam da temperança de um silêncio entre gerações para não serem tomados como pura nostalgia ou ressabiamento ideológico. Acresce, com a má sorte que tem vindo a acontecer na vida das ex-colónias, num sofrimento que passa pela fome, guerras civis, destruição e corrupção económicas, se saldam na degradação das condições de vida, parece haver pouco espaço para voltar aos cenários de horror desses conflitos armados ou cantar a voz da liberdade que acompanhou a independência desses povos.

Seja qual for a resposta consistente que se vier a dar a esta questão cultural incómoda (que por ora ninguém parece querer afoitar-se a responder), os protagonistas passam a papel os seus testemunhos.

Cristóvão de Aguiar combateu na Guiné entre 1965-1967. É um momento crucial em que o PAIGC começa a demolir e a rechaçar as posições no leste e norte da Guiné, cultivando e ocupando territórios onde as tropas portuguesas nem sempre podiam ir e quando iam era por curta permanência.

Braço Tatuado é um relato poderoso de quem está a fazer a guerra na região este, acima de Bafatá. É um presente no teatro da guerra carregado de memórias: um militar que vai com a sua mãe a casa de uma cartomante que lhe lê o seu destino, um cerimonial de beatas à volta do dia destinado às inspecções que culminaram com o seu apuramento para todo o serviço militar.

O alferes parte com trinta e três homens, um casal de cães de quartel, em três viaturas Unimog, chama-se Arquelau Mendonça, viera adido para a companhia independente de caçadores 666, agora é pau para toda a colher, vai de Jabicunda para Sonaco, a guerra agora é a doer. Ele relata assim:

“Cerrada é a noite. Não se vislumbra um coalho de lua. Seguimos em fila indiana, num combóio humano, agarrados uns aos outros pela cintura. Não se pode fumar, nem acender qualquer foco ou lanterna - o inimigo está atento, mantém as suas sentinelas nos locais estratégicos. Nas próprias tabancas há gente que informa por meio de batuques e outros sinais, da nossa passagem e do rumo que tomamos... As operações de longa envergadura são delineadas, propositadamente, para noites de lua nova - o luar africano entorna-se na noite com tal refulgência que a torna num quase dia. Os senhores da guerra têm tudo previsto. Consultam almanaques e tabelas até ao pormenor... Súbito, cada qual fica mais sozinho, mais chegado à sua pequenez. O companheiro de ilharga - um informe volume cozido e atado de escuridão. Tocamo-nos. Tocamo-nos numa brusca necessidade de nos sentir-mos irmanados na rifa do destino que nem sequer adivinhamos qual seja”.

Aos horrores da guerra: executar um inimigo que nos serviu de guia e depois escrever no relatório que foi abatido por tentativa de fuga no teatro de operações. Guerra significa também misteriosas relações de poder: ameaças de punição, desautorização, desacreditação. Os soldados podem chamar-se Barrancos, Vila Velha, Cartaxo, Sintra, Pombal. O capitão chama-se Carvalho e o alferes Mendonça. Pelo nome se conhece a classe e a hierarquia. Fazem-se patrulhamentos, batidas, emboscadas e golpes de mão. Há feridos em combate e acidentados em combate. Temos depois as alquimias dos relatórios, é nessa prosa que um desastre se torna num retumbante feito militar. Do Sonaco parte-se para Pirada.

Cristóvão de Aguiar fala em Mário Soares, um célebre comerciante português de Pirada que, produto das circunstâncias, tem bom relacionamento com os guerrilheiros. É através de Soares que se dão e obtêm informações. Temos depois os comportamentos bizarros, os actos de heroísmo, as manhas, os oportunismos, o autor deambula pela guerra, satiriza, caustica, observa costumes, pega nos pontos altos e obscuros da alma humana, nas cartas que não chegam, na solidão, na perda do autodomínio, na bebedeira, no inesperado suicídio. Isto durante o primeiro ano da comissão, depois a 666 participa em muitas operações, deambula, faz acção psicosocial, é um sofrimento repetitivo.

Até que um dia chega a rendição, volta-se a Bissau, à um discurso de despedida, o alferes volta para a sua ilha de São Miguel. Sete anos depois a guerra acaba e é este fim da guerra é saudado em termos quase poéticos:

“Súbito, tudo se transformou. Deixaram as picadas de ser trilhos de medo. Silenciaram-se as bocas da metralha. Arredaram-se as nuvens de sangue. Nasceu um povo e um país”.

Narrativas como a de Cristóvão Aguiar lembram-nos que há feridas que mantêm abertas. Virá o dia em que todos estes apontamentos e testemunhos serão tomados em conta como episódios de uma História de Portugal ainda desvanecida e todas esta épica terá o seu enquadramento. Até lá, bons testemunhos e bons escritos como o de Cristóvão de Aguiar precisam de ser reconhecidos pelos os seus contemporâneos como textos de sofrimento que as novas gerações precisam de conhecer. Em Portugal e em África, pois claro.
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Notas dos editores:

(1) Vd. poste de 4 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1492: O Álbum das Glórias (7): Eu, o Mário Soares, o grande cantautor de Coimbra, Luiz Goes, e o Spencer (António Pinto)

(2) Vd. último poste desta série > 25 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2580: Notas de leitura (8): Braço Tatuado-Retalhos da Guerra Colonial, de Cristóvão Aguiar (Victor Dores / Amaro Rodrigues)

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2343: PAIGC - Quem foi quem (5): Domingos Ramos (Mário Dias / Luís Graça)




Guiné > PAIGC > Manual escolar, O Nosso Livro - 2ª Classe, editado em 1970 (Upsala, Suécia). Exemplar cedido pelo Paulo Santiago, Águeda (ex-Alf Mil, comandante do Pel Caç Nat 53, Saltinho , 1970/72). Lição nº 23: Um grande patriota...

Destaque: "Ele gostava muito dos seus soldados e não gostava de maltratar os prisioneiros".

Fotos: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.

Continuação da série PAIGC - Quem foi quem (1)



Guiné > Bissau > 1959 > Os 1ºs Cabos Milicianos Mário Dias (português, nascido na Metrópole, o primeiro, de pé, do lado direito, assinalado com um círculo a verde) e Domingos Ramos (natural da Guiné, o primeiro da frente, do lado esquerdo, assinalado a vermelho).

Foto: © Mário Dias (2006). Direitos reservados.

Domingos Ramos é um dos nomes míticos da fase inicial da guerrilha do PAIGC. Infelizmente, poucos jovens guineenses deverão saber, hoje em dia, quem ele foi... Domingos Ramos era filho de um quadro local da administração colonial portuguesa, com o estatuto de assimilado, expressão cínica usada na época pelas autoridades portuguesas, para distinguir os guineenses civilizados e não-civilizados.

O Domingos e o Mário (que foi para a Guiné no início dos anos 50, tendo assistido à modernização e crescimento de Bissau, capital da Província desde 1943) fizeram juntos a recruta e depois o 1º Curso de Sargentos Milicianos (CMS) que se realizou em Bissau, em 1959, e no qual participaram os os primeiros filhos da Guiné. Este curso foi um alfobre de quadros...para o PAIGC (2).

1959

8 de Maio > Início da recruta de Domingos Ramos e Mário Dias, no quartel da Bateria de Artilharia de Campanha em Bissau, Santa Luzia, defronte ao que viria a ser mais tarde o Quartel General.

Neste quartel funcionou pela primeira vez uma escola de recrutas seguida de um Curso de Sargentos Milicianos (CSM) para europeus e guineenses considerados civilizados ou assimilados, já com formação escolar de, pelo menos, o 2º ano do liceu, na época chamado 1º ciclo liceal.

A unídade designava-se por Centro de Instrução de Civilizados (CIC) por se destinar a africanos considerados civilizados. O comandante era o capitão Teixeira, pai do conhecido historiador Severiano Teixeira. Nos anos seguintes, passou a chamar-se Centro de Instrução Militar (CIM) e foi transferido para Bolama.

Segundo o depoimento de Mário Dias, "o Domingos Ramos era um indivíduo bem constituído fisicamente e, sobretudo, moralmente. Aquilo que se pode chamar, um bondoso gigante. Desde o início da nossa vivência comum que por ele tive uma especial estima. Tornámo-nos bons amigos em todas as situações e na caserna, nas horas de descanso, trocávamos opiniões sobre os mais variados assuntos, com especial interesse da minha parte por tudo relacionado com os usos e costumes dos guineenses. Muito aprendi com ele. Recordo ainda com saudade e emoção as paródias, próprias da irreverência da nossa juventude. E da célebre água pú que ele me ensinou e a que aderi com entusiasmo" (...) (2)

10 de Agosto > Juramento de bandeira, uma semana depois dos célebres acontecimentos do Pijiguiti (Local do porto de Bissau onde, a 3 de Agosto de 1959, foi duramente reprimida uma greve dos marinheiros, estivadores e outros trabalhadores portuários, reivindicando aumentos salariais e melhores condições de trabalho. Esta data (histórica) passou a ser considerada pelo PAIGC como o início (oficial ou oficioso) da luta de libertação da Guiné.

14 de Agosto > Início do 1º Curso de Sargentos Milicianos (CSM) que houve na Guiné. Este curso foi uma alfobre de quadros para o PAIGC. De entre os camaradas do Mário Dias, destacam-se, além do Domingos Ramos, o Constantino Teixeira, mais conhecido por Chucho ou Axon, que foi igualmente figura importante do PAIGC ("Chegou a ser ministro da segurança interna, salvo erro, no tempo imediatamente a seguir à independência.Apareceu, algum tempo depois, morto dentro do carro numa rua de Bissau"...).





Guiné > Bissau > 1959 > 1º Curso de Sargentos Milicianos (CSM)> O Domingos Ramos na Semana de Campo...

Comentário do M.D.: "Aqui, como se pode ver pelos apetrechos que levam nas mãos (cantil e marmita) iam a caminho do carro que nos trazia o almoço durante a semana de campo. O Domingos Ramos é o segundo da direita"

Foto: © Mário Dias(2006). Direitos reservados.


Guiné > Bissau > 1959 > 1º Curso de Sargentos Milicianos (CSM)> O Domingos Ramos montando a tendaAqui está o Domingos Ramos nos exercícios finais do CSM (semana de campo), atarefado na montagem da barraca que era feita com 3 panos de tenda ligados entre si por botões metálicos. Certamente que alguns tertulianos se recordam deste primitivo sistema. A fotografia não tem grande qualidade mas não deixo de mostrá-la, por se tratar de uma pessoa que muito estimei.

Foto: © Mário Dias(2006). Direitos reservados.


Guiné > Bissau > 1959 > 1º Curso de Sargentos Milicianos (CSM) > Em baixo, a partir da esquerda: O Mário Dias e a seguir o Domingos Ramos apontando a velha Mauser (assinalado por um círculo a amarelo).

Foto: © Mário Dias(2006). Direitos reservados

28 de Novembro > Terminou o 1º CSM


29 de Novembro > Domingos Ramos e Mário Dias são promovidos a 1ºs cabos milicianos ("Fazíamos sargentos de dia, frequentávamos a messe e tínhamos as responsabilidades inerentes mas… ganhavamos como cabos"). A seguir, o Domingos Ramos é colocado em Bolama, a fim de ir ministrar uma recruta. O Mário Dias fica em Bissau. Presume-se que tenha sido em Bolama que o Domingos Ramos tomou a decisão de aderir ao PAIGC (2).

Comentário de M.D.:

"Na verdade, enquanto com ele convivi em Bissau, nem o mais leve indício de descontentamento, nem o mais pequeno sinal de revolta ou discordância com o status quo existente demonstrou. Se algo havia na sua mente, disfarçava muito bem, o que não creio, dada a sua rectidão de carácter.

"O mesmo já não se passava com outros como, por exemplo, o Rui Demba Jassi, que tinha atitudes incorrectas para com os europeus sem que houvesse razões para tal e não conseguia disfarçar animosidade contra nós".

Foto: © rio Dias (20006).Direitos reservados

1960

Ao que sugere o Mário, o Domingos ter-se-á alistado nas fileiras do PAIGC, em Novembro de 1960, depois de ter sido vítima de uma grave injustiça enquanto 1º cabo miliciano, por parte de um oficial português (2).

Juntamente com o Rui Jassi, Constantino Teixeira (que também era do 1º CSM, de 1959) e outros, Domingos Rampos partiu para Pequim, Praga, Moscovo e demais escolas de guerrilha tornando-se um dos primeiros e mais importantes dirigentes político-militares do PAIGC.

Guiné-Bissau > A efígie de Domingos Ramos numa nota de 100 pesos. Emissão de 1975.

Fonte: © Kristian CHIDUCH > Billetes del moundo / Wordbanknotes > Guinea-Bissau (2003) (com a devida vénia...)


1964

Cria, na Zona Leste, a primeira base da guerrilha.


1965

O Domingos haveria de encontrar-se com o seu amigo e ex-camarada de armas Mário Dias, pela última vez, em 1965... Em circunstâncias insólitas... É uma das estórias mais fantásticas que já li sobre a guerra e a grandeza humana que pode haver mesmo numa situação de guerra....

Foi na região do Xitole, na zona entre Amedalai e os rápidos de Cussilinta, perto da estrada Xitole-Aldeia Formosa-Mampatá... Vale a pena reler o segredo que o Mário guardou estes todos e revelou, em primeira mão, aos seus amigos e camaradas de tertúlia (4). Foi um dos momentos altos do nosso blogue (5).


1966

Morreu prematuramente em combate, em 10 de Novembro de 1966, em Madina do Boé, tendo-se tornado num dos heróis da luta de libertação nacional. Está sepultado no Boé.

2006

O Mário Dias tem palavras de grande apreço e admiração pelo Domingos Ramos, reveladoras da sua grandeza como homem e como português e que a mim muito me orgulham, na minha qualidade de fundador e editor deste blogue (Estou certo que os demais amigos e camaradas da Guiné me acompanham neste sentimento). Diz ele:

"Se um dia tiver a oportunidade de regressar à Guiné, é meu firme propósito ir visitar a sua campa e prestar-lhe merecida homenagem. Não é pelo facto de termos combatido em campos opostos que deixei de ser seu amigo e de o admirar"(sic).

São palavras sinceras., de grande humanidade e grandeza, que nos tocam a todos, e reforçam a ideia de que esta tertúlia é muito mais do que um simples rede virtual de veteranos de guerra, de ex-combatentes, de velhos saudosistas...

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Notas de L.G.:

(1) Vd. postas anteriores:

30 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2142: PAIGC - Quem foi quem (1): Amílcar Cabral (1924-1973)


30 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2143: PAIGC - Quem foi quem (2): Abílio Duarte (1931-1996)

6 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2159: PAIGC - Quem foi quem (3): Nino Vieira (n. 1939)

18 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2190: PAIGC - Quem foi quem (4): Arafan Mané, Ndajamba (1945-2004), o homem que deu o 1º tiro da guerra (Virgínio Briote)


(2) Vd. posts de:

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCI: Domingos Ramos, meu camarada e amigo (Mário Dias)

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIII: Domingos Ramos e Mário Dias, a bandeira da amizade (Luís Graça / Mário Dias)

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIV: O segredo do Mário Dias, ex-sargento comando

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1821: Armamento do PAIGG (2): Mísseis terra-terra Katyusha ou foguetões 122 mm (A. Santos)



Guiné > Zona Leste > Sector L3 > Nova Lamego > 1973 (?) > Foguetão 122 mm, completo, apreendido ao PAIGC.

Foto: © António Santos (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem do nosso camarada A. Santos, ex-Sold Trms, Pel Mort 4574/72, Zona Leste, Sector L3, Nova Lamego,1972/74.

Luís: Aqui estão as duas imagens do mesmo míssil que, segundo o Rubin (1), parece ser único (2).

A. Santos

2. Comentário de L.G.: Não sou especialista em armamento. Julgo, no entanto, tratar-se do míssil terra-terra Katyusha, mais conhecida entre as NT como foguetão 122 mm. De origem soviética, teria um alcance de 20 Km.

Fontes a consultar:

Wikipédia > Lista de equipamento militar utilizado na guerra do Ultramar

Guerra na Guiné - Os Leões Negros > CCAÇ 13 > Bolama > Katyusha > 3/11/69
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Nota de L.G.:

(1) Vd. posts recentes sobre este tópico (armamento do PAIGG):

27 de Março de 2007 > Gúiné 63/74 - P1628: Projecto Guiledje: fotografias de armamento e equipamento, das NT e do PAIGC, precisam-se (Nuno Rubim)

12 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1753: Diorama de Guileje, 1965/67 (Muno Rubim)

13 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1756: Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, aquando da visita de Américo Tomás (Bissau, 1968) (Victor Condeço)

17 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1764: Armamento do PAIGC (Nuno Rubim)

18 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1766: Guileje: A Bêbeda, uma Fox do Pel Rec 839 que ficará imortalizada no diorama (Nuno Rubim)

23 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1781: Ambulância do PAIGC, de fabrico soviético, capturada pelo Marcelino da Mata, em Copá (A. Santos)

(2) Sobre a utilização desta nova arma, o foguetão 122 mm, há já vários posts no nosso blogue:

2 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXII: Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Manuel Mata) (5): Foguetões 122 mm no Gabu

(...) " Maio de 1970: O Pel Rec, em Piche, continuava a sua actividade e a sofrer as flagelações do inimigo, agora com foguetões de 122 mm. Volta a acontecer, felizmente sem consequências, no dia 26 de Maio, depois de uma escolta aos Adidos Militares Estrangeiros que visitaram a Guiné. Ao chegar de Nova Lamego foram flagelados com foguetões de 122 mm" (...).

30 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1800: Álbum das Glórias (14): De Alferes (CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67) a Capitão (CCAÇ 18, Quebo, 1970/72) (Rui Ferreira)

(...) "Guiné > Aldeia Formosa > CCAÇ 18 (1970/72) > 1971 > Os primeiros foguetões 122 capturados aos guerrilheiros do PAIGC. O Cap Mil Rui Ferreira, comandante da CCAÇ 18, é o elemento do meio, na fotografia" (...).

24 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1784: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (4): Queridos pais, é difícil de acreditar, mas Guileje foi abandonada !!!

(...) O pessol fugiu, abandonando tudo lá, de Guileje, porque estavam a cair foguetões e granadas de canhão sem recuo, desfazendo padaria, depósito de géneros... O chão estava cheio de crateras , devido às granadas. Os militares de lá estavam há 96 horas debaixo de bombardeamento, sem beber nem comer (só algumas rações de combate que conseguiram apanhar), pois não podiam sair dos abrigos" (...).

4 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1338: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (5): estreia dos Órgãos de Estaline, os Katiusha

(...) "Chegou-se à conclusão que as granadas estavam a cair em zona entre Saltinho e Queboe a arma era desconhecida. Passados alguns dias veio informação do Com-Chefe: naquele ataque falhado a Aldeia Formosa, o IN tinha utilizado pela primeira vez Foguetes Katiusha, também conhecidos por Órgãos de Estaline" (...).

6 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1155: Álbum fotográfico (Hugo Moura Ferreira) (1): Bedanda, CCAÇ 6, 1970: O Obus 14 contra o foguete Katiusha

terça-feira, 1 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1719: Álbum fotográfico de Humberto Reis (3): Vista aérea da Ponte sobre o Rio Geba, na estrada Geba-Bafatá

Guiné > Zona Leste > 1969 > Vista aérea da Ponte sobre o Rio Geba, na estrada entre Geba e Bafatá.

Foto: © Humberto Reis (2007). Direitos reservados.


Luís

Aqui vai a 1ª de uma centena de imagens que o Albano Costa me tinha digitalizado dos meus diapositivos e trouxe no sábado, [28 de Abril de 2007].

Humberto

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Nota de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores:

22 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXLIX: Álbum fotográfico de Humberto Reis (1): Bambadinca, vista aérea

27 de Fevereiro 2006 > Guiné 63/74 - DXCI: Álbum fotográfico do Humberto Reis (2): Mansambo

domingo, 22 de abril de 2007

Guiné 63/74 - P1686: Fichas de unidades (1): BCAÇ 3872, CCAÇ 3489, 3490 e 3491 (Sector L5, Galomaro, 1972/74) (José Martins)



Guiné-Bissau > Saltinho > Novembro de 2000 > Vestígios da CCAÇ 2701 (1970/72) , deixados na parede lateral de uma caserna em ruínas...

Foto: © Albano M. Costa (2006). Direitos reservados.

Guiné-Bissau > Saltinho > Pousada do Saltinho > Novembro de 2000 > Brasão da CCAÇ 2701 (1970/72) , unidade que foi substituída pela CCAÇ 2490 (1972/74).
Foto: © Albano M. Costa (2006). Direitos reservados.





Guiné-Bissau > Saltinho > Novembro de 2000 > Restos de uma pedra onde se lê a seguinte inscrição, gravada: ... cozinheiros da 3490. Esta unidade, a CCAÇ 3490 (Saltinho, 1972/74) , era uma das unidades operacionais do BCAÇ 3872 (com sede em Galomaro).

Foto: © Albano M. Costa (2006). Direitos reservados.


BATALHÃO DE CAÇADORES Nº 3872 (Galomaro, 1972/74)

Mobilizado no Regimento de Infantaria nº 2 – Abrantes.

Divisa: O inimigo vos dirá quem somos.

Embarcou para a Guiné em 18 de Dezembro de 1971, desembarcando em Bissau em 24 de Dezembro de 1971.

Era composto pela CCS e pelas companhias operacionais nºs 3489, 3490 e 3491.

Realizou a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional no Centro de Instrução Militar, em Cumeré, entre 27 de Dezembro de 1971 e 22 de Janeiro de 1972.

Em 23 de Janeiro de 1972 deslocou-se para Galomaro, afim de efectuar o treino operacional e sobreposição com o BCAÇ 1912.

A 11 de Março de 1972, assumiu a responsabilidade do Sector L5, com sede em Galomaro, mantendo as suas subunidades integradas no seu dispositivo de manobra que abrangia os subsectores de:

(i) Cancolim - A CCAÇ 3489 iniciou em 24 de Janeiro de 1972 o treino operacional e sobreposição com a CCAÇ 2699, assumindo a responsabilidade do subsector em 11 de Março de 1974, destacando um pelotão para Anambé até 22 de Setembro de 1972. Foi rendida pela 2ª Companhia do BCAÇ 4518/72, em 08 de Março de 1974.

(ii) Saltinho - A CCAÇ 3490 (1) iniciou em 24 de Janeiro de 1972 o treino operacional e sobreposição com a CCAÇ 2701 (2), assumindo a responsabilidade do subsector em 11 de Março de 1972, deslocando um pelotão para guarnecer o destacamento de Cansamba, no subsector de Galomaro. Foi rendida pela 3ª Companhia do BCAÇ 4518/72, em 7 de Março de 1974.

(iii) Dulombi – A CCAÇ 3491 iniciou a 24 de Janeiro de 1971 o treino operacional e a sobreposição com a CCAÇ 2700 (3), assumindo a responsabilidade do subsector em 8 de Março de 1972. Em 9 de Março de 1972 é transferida para Galomaro, por extinção do subsector de Dolumbi, substituindo a CCS do seu batalhão e assumindo a responsabilidade do subsector.

(iv) Galomaro – Esta localidade foi guarnecida com a Companhia de Comando e Serviços do BCAÇ 3872 até a extinção do subsector de Dulombi, passando a CCAÇ 3491 a assumir a responsabilidade deste subsector em 9 de Março de 1973. A 4 de Março de 1973 cedeu um pelotão para reforço da guarnição de Piche. Foi rendida pela 1ª Companhia do BCAÇ 4518/72, em 8 de Março de 1974. Foi rendida pela 1ª Companhia do BCAÇ 4518/72, em 8 de Março de 1974.

O Batalhão de Caçadores nº 3872 foi rendido em 9 de Março de 1974 pelo Batalhão de Caçadores nº 4518/73 e embarcou de regresso à Metrópole em 28 de Março de 1974.


Pesquisa, adaptação e condensação:
José Martins
(ex-Fur´Mil Trms
CCAÇ 5 (Os Gatos Pretos)
Canjadude, 1968/70.

Material consultado:
Resenha Histórica Militar das Campanhas de Africa
Volume 7º - Tomo II – Fichas das Unidades


_____________

Notas de L.G.:

(1) Vd. posts de:

20 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1681: Efemérides (4): Lista dos mortos no Quirafo (José Martins)

10 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1265: Recordações do ex-Alf Rainha (Xaneco, para os amigos), da CCAÇ 3490 (Saltinho), morto há 20 anos (Maurício Vieira, CCS/3884)

27 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1119: Um periquito no Saltinho, o ranger Eusébio (CCAÇ 3490, 1972/74)

22 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1104: Homenagem ao Alf Mil Op Especiais Armandino, da CCAÇ 3490, morto na emboscada de Quirafo (Joaquim Mexia Alves)

28 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1000: A tragédia do Quirafo (Parte IV): Spínola no Saltinho (Paulo Santiago)

25 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P985: CCAÇ 3490 (Saltinho), do BCAÇ 3872 (Galomaro, 1971/74)

23 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P980: A tragédia do Quirafo (Parte I): o capitão-proveta Lourenço (Paulo Santiago)

21 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P976: A morte do Alf Armandino e a estupidez do capitão-proveta (Joaquim Mexia Alves)


(2) Vd. post de 13 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1424: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (6): amigos do peito da CCAÇ 2701 (Saltinho, 1970/72)

23 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P981: Apresenta-se o Alf Mil Inf Martins Julião (CCAÇ 2701, Saltinho, 1970/72)

(3) Vd. posts de:

4 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1494: Tertúlia: Apresenta-se o ex-Alf Mil Fernando Barata, CCAÇ 2700 / BCAÇ 2912

22 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1541: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (1): Introdução: a 'nossa Guiné'

26 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1550: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (2): A nossa gente

15 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1595: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (3): minas, tornados, emboscadas, flagelações e acção... psicossocial

11 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1651: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (4): Historietas

sexta-feira, 30 de março de 2007

Guiné 63/74 - P1636: Álbum das Glórias (10): Paunca, CCAÇ 11: Com o PAIGC, depois do 25 de Abril de 1974 (J. Casimiro Carvalho)


Guiné > Zona Leste > Gabu > Paunca > CCAÇ 11 > Pós-25 de Abril de 1974 > O Fur Mil Op Especiais disfarçado de cubano... No quico, ostenta um cartão com as insígnias do PAICG. No muro atrás pode ler-se uma improvisada inscrição: Viva o PAIGC... Foto do Álbum de fotografias do ex-Fur Mil Op Especiais Carvalho, confiado à guarda do editor do blogue.

Fotos: © José Casimiro Carvalho (2007). Direitos reservados.


Paunca fica(va) perto da fronteira do Senegal, a sudoeste de Pirada. A unidade de quadrícula, no final da guerra, era a CCAÇ 11. O nosso camarada Casimiro Carvalho já aqui contou como foram os seus últimos tempos de comissão, depois do inferno de Guileje e Gadamael, em Maio/Junho de 1973 (1):

(...)"Fomos para o Cumeré tirar outro IAO . Eu fui para Prabis com mais 12 homens, outros foram para Quinhamel ou Bijemita (??). Depois fomos para Colibuia-Cumbijã, e aí fui destacado para rendição individual, sendo transferido para Bissau a fim de tirar estágio de Companhias Africanas, e durante esse estágio deu-se o 25 de Abril.

"Fui então para Paunca, CCAÇ 11 – Os Lacraus, onde me mantive até ao fim da minha comissão. Não sem antes levar um susto de morte, pois os militares africanos da CCAÇ 11 sublevaram-se. Quando eu estava a dormir, ouvi tiros, vim em calções com a Walther à cintura até ao paiol. Quando lá cheguei, eles estavam a armar-se e a disparar para o ar e eu, quando os interrogava pelo motivo de tal, senti o cano de uma arma nas costas, ordenando-me que seguisse em frente (até gelei)… Juntaram todos os quadros brancos e puseram-nos no mato… assim mesmo!

"Caminhámos muito, de noite, desarmados, e fomos até um acampamento de guerrilheiros do PAIGC, contámos a situação e eles mandaram um punhado deles a Paunca. Gritaram então lá para dentro:- Têm 5 minutos para se entregaram e restituir o quartel aos brancos ou destruímos tudo!

Eles, os fulas, entregaram-se. No fim, já de abalada, fomos ao paiol, juntámos todas as granadas e explosivos, e eu fui encarregado de os fazer explodir , ao redor de uma enorme árvore. Que cogumelo de fogo, impagável !" (...).

____________

Nota de L.G.:

(1) 25 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1625: José Casimiro Carvalho, dos Piratas de Guileje (CCAV 8350) aos Lacraus de Paunca (CCAÇ 11)

Sobre este série - Álbum das Glórias - , vd posts anteriores:

18 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1609: Álbum das Glórias (9): Pessoal da CART 3942 em Bolama (Joaquim Mexia Alves)

6 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1568: Álbum das Glórias (8): Os Dráculas, CART 2410, Guileje (José Barros Rocha)

4 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1492: O Álbum das Glórias (7): Eu, o Mário Soares, o grande cantautor de Coimbra, Luiz Goes, e o Spencer (António Pinto)

30 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1473: O álbum das glórias (6): A 'dolce vita' de Bolama (Joaquim Mexia Alves, CART 3492)

21 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1096: O álbum das glórias (5): Futebol em Bambadinca, oficiais contra sargentos (Beja Santos)

15 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1076: O álbum das glórias (Beja Santos) (4): eu e o coronel Cunha Ribeiro, o nosso 'major eléctrico'

15 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1073: O álbum das glórias (Beja Santos) (3): A equipa de futebol de Missirá

13 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1068: O álbum das glórias (Beja Santos) (2): Misérias e grandezas de Mamadu Camará

11 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1061: O álbum das glórias (Beja Santos) (1): Um brinde no bar de oficiais de Bambadinca

domingo, 4 de fevereiro de 2007

Guiné 63/74 - P1494: Tabanca Grande (5): Fernando Barata, ex-Alf Mil da CCAÇ 2700 / BCAÇ 2912

Guiné > Zona Leste > Subsector de Galomaro > Dulombi > 1970 > O Alf Mil Barata


Coimbra > 2007 > O Fernando Barata, novo membro da nossa tertúlia.


Fotos: Fernando Barata (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem de 25 de Janeiro último, enviada por Fernando Barata, que reside em Coimbra:

Caro Doutor Luís Graça:

Teria imenso gosto em pertencer ao grupo tertuliano. Deste, já fazem parte dois colegas de Batalhão (BCAÇ 2912), o Martins Julião [, CCAÇ 2701] e o Paulo Santiago [,Pel Caç Nat 53, ] e também três camaradas da Companhia que eu fui render (Raposo, Felício e Vitor David - CCAÇ 2405).

Através do Blogue foi-me também possível localizar um amigo de juventude do qual já não tinha contacto há mais de 40 anos. Mais que não fosse, só por isto, já valeu a pena.

Passo a transmitir os meus dados pessoais:
Fernando Barata >

(a) ex-Alferes Miliciano, pertencente à CCAÇ 2700 / BCAÇ 2912,

(b) estive na Guiné entre Maio de 1970 e Abril 1972, no Dulombi.

Permita-me que lhe dê os parabéns não só pela ideia da constituição do blogue, mas também pela sua estrutura.

Cordiais cumprimentos
Fernando Barata

2. Resposta do editor do blogue:

Fernando:

(i) Estás em casa. Somos quase da mesma época. Eu pertenci à independente CCAÇ 2590 (mais tarde, CCAÇ 12, africana) (Maio de 1969/Março de 1971). Estivemos como unidade de intervenção em Bambadinca, às ordens dos BCAÇ 2852 (1968/70) e BART 2917 (1970/72). A CCAÇ 2405 que tu foste render (Alf Rijo, Felício, David e Raposo - os quatro fazem parte ds nossa tertúlia) pertencia à BCAÇ 2852;

(ii) Já conheces as nossas regras. Podes consultar a página respectiva;

(iii) A ideia é cada um de nós ir alimentado o blogue com imagens e pequenas estórias… Há quem se abalance a fazer coisas de maior fôlego. Por exemplo, já publicámos as memórias do Paulo Raposo e de outros camaradas. Escreve, quando te apetecer. De qualquer modo, gostaríamos de saber um pouco mais sobre ti (onde vives, o que fazes…), a tua CCAÇ 2700 e o teu BCAÇ 2912, e os sítios por onde vocês andaram. Se tiveres fotos com interesse documental, manda… digitalizadas.

(iv) Como já percebeste, o tratamento por tu é uma regra com que nos temos dado bem, na nossa tertúlia… Esbate diferenças e quebra barreiras na nossa comunicação;

Já nos encontrámos na Ameira, em Montemor-O-Novo, em Outubro passado (Estiveram lá o Julião e o Santiago). Não nos conhecíamos a não ser de fotografia. Pessoalmente, só alguns. Não imaginas quanto foi mágico (podes ver o respectivo post) (1): ao fim de cinco minutos, estávamos todos a falar como velhos camaradas de há 40 anos…

Eu sei que para alguns de nós, por defeito de educação, o tratamento por tu é artificial, é desconfortável… Nascemos todos no Portugal de Vossa Excelência, tão bem caricaturado por poetas e romancistas do nosso tempo como o Alexandre O’Neil ou o José Cardoso Pires… A Guiné aproximou-nos a todos… e a Internet veio reforçá-los… A prova disso é este blogue…

(v) Vou apresentar-te à malta da nossa tertúlia… Ficas com os nossos endereços. E nós com o teu. Temos duas vias de comunicação: internamente, por email; ou através dos posts, publicados no blogue.
_________

Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 15 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1177: Encontro da Ameira: foi bonita a festa, pá... A próxima será no Pombal (Luís Graça).