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sábado, 11 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24840: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (19): O Bairro Alto... de finais do séc. XIX, mal afamado durante muitas décadas, e hoje gentrificado...

Capa do livro de Avelino de Sousa (1880-1946), "Bairro Alto: romance de costumes populares". Lisboa: Livraria Popular de Francisco Franco, Lisboa, 1944, 290 pp. 


1. Já não é do nosso tempo de meninos e moços...Mas se fosse,  não nos deixavam lá ir, sozinhos... Nem já é do tempo dos nossos pais, nascidos por volta dos anos 20... Estamos a falar de 1896/97/98, e de um dos guetos de Lisboa... o mal afamado Bairro Alto. 

Irreconhecível hoje, ou talvez não: as suas ruas, o seu casario, são os mesmos... Ainda existem casas com aventais de pau (meias-portas, nos pisos térreos), e persianas de tabuinhas nos andares de cima. Mas já ninguém sabe hoje o significado da expressão, "estar de avental de pau" (estar debruçada, a mulher,  sobre as meias-portas, oferecer-se, prostituir-se).

A toponímia pode ter mudado num caso ou noutro. As tascas dos galegos desapareceram. Tal como os candeeiros a gás, de iluminação pública.  E a redação dos jornais e as tipografias, que começaram a concentrar-se nesta zona histórica, logo desde meados do séc. XIX. Já não há cheiro a peixe frito nem se servem entaladas, candas, iscas com elas, etc., nem se bebe um meio-curto (copo mal cheio, com café, vinho, canela e açucar)... Ou uns tintos.... cortados (vinho com soda).

A fauna humana também mudou... Todos/as tinham alcunhas, "nomes de guerra", das rascoas aos faias, dos artistas aos amigos do alheio:  Pinoia, Enjeitada, Pantera, Micas, Camélia, Pinta-Monos, Pé de Chumbo, Zé-Bode, Garrafão, Fininho, Janota... O fadista ou faia, com o seu traje característico e o seu calão,  perdeu-se na voragem do tempo...As modas são outras,,,  A fadista de faca na liga, também. 

Grosso modo, há o antes e o depois de Amália Rodrigues, que ajudou a branquear o passado "lumpen", proletário,  rasca, ordinário, popular, do fado...O mesmo  é dizer: nobilitou o fado, arrancando-o da rua, da viela, do vicio, da taberna... 

E já não há Adelaides Pinóias a cantar ou a gemer: "Quem nasceu no Bairro Alto / há de sofrer e chorar / ao ouvir uma guitarra / docemente a soluçar" (pág. 289).  Nem o Bairro Alto é mais o dos "amores tão delicados": se o foi, foi no bom tempo do palácios e conventos do séc.  XVI... Degradando-se, foi apropriado pelas "classes laboriosas" e pelos grupos socialmente marginalizados. O "acantonamento" das prostitutas em certas zonas da cidade, bairros populares, ribeirinhos  degradados, imposto por postura municipal de 1833, por razões de "saúde pública" e de salvaguarda da "moral pública", de acordo com o discurso liberal então dominante,  acabou por estigmatizar o Bairro Alto (e outros; Mouraria, Alfama, Madragoa, etc.) durante mais de um século... Mas foi também um dos "laboratórios sociais" do fado, "canção popular urbana de Lisboa"... hoje "património imaterial da humanidade", tal como o "cante" (que nasceu nos campos, na rua, na taberna...).

Perderam-se "bons e maus costumes"... Ganharam-se outros.  Em 2013, o antigo bairro aristocrático quinhentista fez 500 anos. O antigo Carnaval de Lisboa. com as suas cegadas,  também não existe mais, "muito bruto, por vezes malcriado, mas ao mesmo tempo divertido e com graça" (pág. 159). Em 1963, o Estado Novo hipocritamente fechou as "casas de passe" (nome eufemístico para os prostíbulos, em que as prostitutas tinham número de matrícula e inspecção médica periódica)... Já o tinha feito, de resto, no Ultramar (em 1954). 

Vinte anos depois, em 1983, Portugal legalizou a prostituição, mas não resolveu o problema das suas suas causas e consequências. 

Vale a pena, todavia, dar aos nossos leitores uma "ideia" e um "cheirinho" do que foi  o Bairro Alto das últimas décadas do século dezanove, social e espacialmenteĺ segregado, mal afamado tantos anos (até mesmo para lá do 25 de Abril de 1974)... 

Alguns de nós ainda o conhecemos nos anos 60/70, ao tempo da tropa e da guerra colonial ... Mesmo para aqueles que nunca lá foram, ficou no seu imaginário, tal como o Pilão, em Bissau...

A partir dos anos 80, o Bairro Alto "aperaltou-se", lavou a cara,  passou a ser uma zona turística, sítio obrigatório da noite de Lisboa, e hoje cada vez mais "gentrificado"...  Novas formas e lugares de prostituição apareceram, a começar pela prostituição de luxo (a que as elites do Estado Novo, de resto, já recorriam: veja-se o "escàndalo" do Balet Rose, em 1967).

Reproduzimos a seguir alguns excertos deste pitoresco "romance de costumes", do Avelino de Sousa,  publicado em 1944, mas que começou por ser uma opereta, com o mesmo nome, e do mesmo autor. (Terá tido bastante sucesso no ano de 1927, já em plena Ditadura Militar...)


O Bairro Alto de antigamente

(...)  Bairro Alto – bairro de gente honesta, bairro de artistas e de operários,      bairro da Imprensa, de boémios e de fadistas e também – na época em que decorre a ação deste romance – bairro de rascoas que se estendiam como que em alas de ambos os lados da maioria das artérias, debruçadas sobre os aventais de pau [nome  dado vulgarmente às meias portas], por todas as ruas, da Atalaia, dos Calafates, da Barroca, das  Salgadeiras, do Norte, das Gáveas, Travessas da Cara, da Boa-Hora, da Água da Flor, dos Fiéis de Deus, das Mercês, da Espera, do Poço da Cidade. (…) (pág. 58).

(...) A velha casa das iscas do Bairro Alto na rua da Atalaia, à esquina da Travessa da Água da Flor, era a mais antiga de Lisboa, depois da que ainda existia na rua do Arsenal, à esquina da Travessa do Cotovelo. Os seus proprietários, dois irmãos galegos, Manuel e José, usavam matacões [suiças],(...) (pág. 76).

***

 (…) Havia no Bairro Alto um fadista − ajudante de cortador no talho do Augusto, na rua da Rosa, esquina dos Inglesinhos − rapaz alto, desempenado, aloirado, de pequeno bigode e nariz saliente, vestindo rigorosamente à fadista: jaquetão e colete de astracã preta, camisa de cordões de seda em substituição da gravata, calça de boca de sino, até ao bico do sapato, em fantasia às riscas, num tom acastanhado,  algibeiras ao alto, larga pestana a guarnecer a perna,  cinto de seda vermelha, chapéu de aba de tela. Usava uma grande melena,  em caracol como que colada à testa, bamboleava muito o corpo,  quando andava, e fumava charutos cortados de dez cada um.

Bons tempos!

Chamava-se Augusto César de Carvalho,  mas era conhecido pelo Augusto   Bombinhas. (…) (pp. 116/117)

***

(...)  Ora, graças!... A velha, foi amiga!... Doze mal reis!...Ena pai!... 24 c’roas!... É melhor do que nada e eu estava sem vintém! (…)

E metendo o dinheiro no bolso do  colete, abandonou o saquito num canto, desceu a escada, saiu pela rua Formosa, meteu-se  à calçada do Combro, entrou na Adega do Estucador ao lado do quartel  dos Paulistas, e, ao mesmo tempo que tirava do prato, que estava em cima do balcão, um ovo cozido pintado de encarnado à força de anilina,molhando-o no sal grosso, depois de rebolar a casca sobre o balcão para a partir, pediu:

Dê cá três celitros, ó patrão!... e deu  uma dentada no ovo.

Mas, nisto, uma voz,  por detrás dele, dizia-lhe ao ouvido:

Não pagas nada, ó Cambalhotas ?...

Era o Pé de Chumbo gatuno como ele.

− Estás teso ?...

− Palavra de honra que estou! Não tenho  chapeca, e o raio da Micas, hoje, ainda não se estreou!

  Andas com azar!... Olha, come um ovo cozido, que estão bons!...Vá anda, e bebe um copo! O cofre, está aberto! Queres duas c’roas emprestadas?...

− Estás armado ?...

− E bem armado! Tive um belo gancho!, camarada.

− Não percebo!

− Contos largos! Toma lá as duas c’roas, não se fala mais nisso!

− Viste o Garrafão ?...

− Hoje, não. Ontem à noite,estive com ele no João da Arruda na rua da Atalaia.  Estava danado com a dor!

− Está no pinho?... [não ter amante]

− Pois, !... A Pantera correu com ele, e passou-se para o Zi-Zi!

 E o gajo não lhe deu um flàquibaque na tabuleta  [ bofetada na cara] ?

− Não, porque  tem medo do Zi-Zi. Tu sabes que o Garrafão não é mau rapaz, mas é fracalhote. Aquele corpo, todo é balofo!

− Ora, meu amigo, tu  também  quando a pregas é à carunfa [à traição] ! – disse o Cambalhotas.

− É como calha! Também não és tu quem dá os bons dias [ser o mais valente, ou o mais cotado em qualquer manifestação da vida].

O Cambalhotas engoliu em seco, e disse, fugindo à discussão:

− Também o Garrafão não perdeu nada! A gaja era um estojo horrível!

  bem, ela é atanado, é feia que nem um pente de pau do ar, mas governa-se bem a vender os trapos  às outras! Olha que o Garrafão talvez não arranje outra assim!

− Não sei… Ele andava a fazer-se [a atirar-se, a fazer o cerco] todo com a Beatriz Gorda, e também com a Augusta do Campos! Mas esta não deixa o João da Isabel [Também cantava o fado e era irmão do Zé-Bode e do Júlio Martelo].

− Pelo lado do interesse, nenhuma delas vale a Pantera! Agora como mulheres…

Enquanto estes dois patifes conversavam, comendo ovos cozidos e bebendo a sua pinga, na Adega do Estucador, outras cenas de roubo se desenrolavam em todas as casas de penhores do Bairro Alto (…) (pp. 129-131).

***

(...) Pendurados junto às ombreiras das  portas de um lado e outro da Travessa do Poço da Cidade, no renque de luz indecisa,  os candeeiros de petróleo difundiam uma claridade bruxuleante, mal eliminando as caras pintadas das infelizes rascoas, encostadas às tradicionais meias portas.  Nos primeiros andares,  de tabuinhas, a mesma luz soturna lucilava, mal se distinguindo da rua.

A cada esquina , um candeeiro de iluminação pública, espalhava aquela luz amarelada e mortiça do gás da Companhia. Lá em cima, na esquina da rua da Rosa, um polícia,  de palestra com o guarda noturno, chupava um magro cigarro.

No Bairro Alto, pelo menos na época que estamos descrevendo. a maioria das raparigas da vida, como era de uso chamar-lhes, eram comedidas de linguagem e de atitudes, raro sofrendo uma admoestação policial, e até se dava o caso interessante de cumprimentarem e serem cumprimentadas, cortesmente, por pessoas honestas da vizinhança. (…) Acarinhavam e  beijavam a petizada da vizinhança, tornando-se assim simpáticas aos pais e às mães das crianças.

E não se pegava nada, como diz o povo judiciosamente,  ou quem sabe ? talvez houvesse menos maldade naquele tempo! (...)  (pp. 137/138)

***

(…) A Enjeitada afastou um pouco a cortina de ramagem, sentou-se no canapé, de guitarra em punho, e a Adelaide, sem sair da porta, pegou no papel dos versos.

− Dá-me entrada, sim?...

A Enjeitada começou a tanger a guitarra,  tirando uns acordes à maneira de introdução.

− Entra agora!

E  a Adelaide começou:

Este livro é a grilheta
que a corrente a desgraçada, 
que chafurda e que vegeta 
nesta vida segregada!

É o nó que à perdição 
nos prende por toda a vida, 
− o selo da podridão,
e a algema da perdida! (…)

A Pinoia interrompeu-se:

− Vou bem ?

− Muito bem ! Segue, anda!

 A Adelaide prosseguiu: 

É ferro em brasa,
 que nos queima
 e nos arrasa! 
Um alvará 
que, por teima, 
a Lei nos dá.

Um passaporte p’ra viver no lodaçal:
Um escarro ignóbil ao serviço da Moral!

− Que tal,  ó Enjeitada ?

− Muito bem, Adelaide! E os versos ? Cheios de verdade!... (pp. 184/185) (**)

***

(...) E  a Adelaide senta-se no canapé.  O Pinta-Monos toma lugar a seu lado e observa:

 − Ah!, Adelaide se tivesses sido a minha, já não estavas aqui!

Ela solta uma gargalhada, e contrapõe;

− Tu estás doido,  rapaz ?! Deixar esta vida, eu ?! Aqui,  é que eu sou gente! Fora disto,  seria uma mulher corriqueira, uma senhora honesta,  como outra qualquer!

− Mas... 

− Já te disse: aqui,  sou eu Rainha! (...) (pág. 198) (**)

(Seleção / revisão e fixação de texto / adaptação: LG. As notas dentro dos parênteses retos são notas de rodapé, da responsabilidade do autor, Avelino de Sousa)
____________

Notas do editor:

(*) Último poste da série de 5 de novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24824: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (18): a taberna em meio rural (António Eduardo Ferreira, 1950-2023, Moleanos, Alcobaça)

(**) Glossário (termos e expressões idiomáticas da gíria ou do calão usados no romance):

Alcouce - Bordel, prostíbulo (etimologia duvidosa)

Alcoveta -Mulher intermediária no comércio do sexo (do árabe, al-qawwâd, intermediário.)

Belfe - Calote


Buchinha - Num baile, era ceder a dama a outro cavalheiro

Carunfa - Traição

Carunfeiro - Traiçoeiro

Celitro - Decilitro (de vinho)

Cheta - Um vintém (20 réis), 5 chetas equivalia a 1 tostão

Cortado - Vinho  com soda

C'roa - Dois mil (ou mal...) réis 

Cunfia - Confiança

Dar os bons dias - Ser o mais valente

Duques - (?)

Elas - Batatas ("Iscas com elas")

Ensaio de galheta - Par de bofetadas

Entalada - Uma isca metida num quarto de pão.

Estar no pinho - Não ter amante

Ético - Sem dinheiro ("estar ético")

Flaquibaque - Estalada

Garonga - (?)

Labita - Fraque

Libra - 4500 réis

Meio-curto - Copo mal cheio, com café, vinho, canela e açucar.

Meia-lata - Meio litro (de vinho)

Meia-unha - Meio tostão

Pai de vida - (?)

Ourelo -  Cuidado, cautela

Quarto de bife ou quarto de dose - Um meio bife custava 140 réis (sete vinténs). Um quarto custava metade. Pretexto para se beber nais um copo.

Queijada - Gratificação

Rascoa - "Mulher da vida", prostituta... Era duplamente exploradas: pelos chulos  (rufiões, que nem todos eram fadistas, vivendo do pequeno crime)  e pelas "patroas", as donas das casas ("cobravam, em geral, quinze tostões a dois mil réis por dia por cada casa"; (...) "uma exploração ignóbil de que as infelizes eram vítimas, pois que, na maior parte dos dias, não ganhavam nem para o petróleo, como elas próprias diziam". (pág. 192).

Requineta - Fraque

Roda - Tostão (duas rodas, dois tostões ou dois-tões)

Tabuleta - Cara

Tostão - 100 réis, 5 chetas ou 5 vinténs

Toudas - Sopapo

Trompázio na fuça - Soco na cara

Trovas a atirar - Cantigas que encerravam uma provocação, dando origem por vezes a conflitos.

Vintém - 20 réis

segunda-feira, 13 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23345: Humor de caserna (55): O anedotário da Spinolândia (VI): no Cumbijã ouvi o nosso general a utilizar mais do que uma vez "a palavra que imortalizou Cambronne", para recriminar um oficial superior (Vasco da Gama, ex-cap mil cav, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74)


Guiné > Região de Tombali > Cumbijã > CCAV 8351 (1972/74) > Da direita: para a esquerda, o cap mil  cav Vasco da Gama, o general Spínola, o cap inf José Malheiro,  da CCaç 3399, de Aldeia Formosa, e o  comandante do BCaç 3852 (Aldeia Formosa, 1971/73). Spínola visitiu três vezes a CCAV 8351 (em Aldeia Formosa, Cumbijã e Nhacobá). 

Foto (e legenda): © Vasco da Gama (2009). Todos os direitos reservados Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. É uma boa história, um bom naco de humor de caserna, que nos ajuda a compreender melhor  a personalidade e a conduta do gen Spínola enquanto foi comandante-chefe e governador geral da Guiné, entre meados de 1968 e meados de 1973.

Foi contada aqui há mais de 13 anos pelo comandante dos Tigres do Cumbijã, cap mil cav  Vasco da Gama, CCAV 8351 (Cumbijã, 1972/74), os bravo de Nhacobá. 


Visita do General Spínola a Cumbijã em 14 de abril de 1973

por Vasco da Gama


Vasco da Gama
(...) Terminei o último capítulo da história da minha Companhia com o relato de um ataque ao arame no dia 9 de Abril de 1973, a um arremedo de aquartelamento que era o Cumbijã: duas fiadas de arame farpado, quinze ou vinte tendas de campanha, valas para protecção de eventuais ataques e uma cozinha de campanha. (...)

No dia 14 de Abril de 1973, mais uma vez recebemos a visita do General Spínola.

Parei este texto neste parágrafo, vai para mais de quinze dias. Problemas da vida pessoal, mas fundamentalmente o medo de não saber expressar, ou fazê-lo de forma menos correcta, os sentimentos acerca do General Spínola, homem controverso que suscitou, e pelos vistos continua a suscitar, sentimentos de amor e desamor, tão depressa acusado como louvado, que na guerra tentava encontrar soluções ou pela via diplomática junto de Senghor, ou invadindo países vizinhos, como aconteceu com a Operação Mar Verde, autor de "Portugal e o Futuro" (mais vale tarde que nunca), abandonando o Guileje ou pelo menos não lhe dando hipóteses de uma defesa racional, recusando o convite de Marcello Caetano para ministro do Ultramar em finais de 1973, recusando-se também e juntamente com o General Costa Gomes a fazer parte da Brigada do Reumático que foi prestar vassalagem a Caetano. 

Este homem, que foi também o primeiro Presidente da República,  após o dia da libertação – 25 de Abril de 1974  , este homem heterodoxo, será no decurso da história que vou escrevinhando acerca da minha Companhia, analisado apenas e só através de um discurso substantivo que se limitará a descrever a vivência que os Tigres do Cumbijã com ele tiveram.

No dia 14 de Abril de 1973 recebemos então a visita do General Spínola. Recordo-me da primeira pergunta que me fez:

−É do quadro ou miliciano?

Recordo-me da resposta imediata e eventualmente atrevida que lhe dei:

− Neste buraco?… Sou miliciano.

Vi nele o esboço de um sorriso, seguido de nova questão:

− Falta-lhe alguma coisa?

− Tudo |

− Tudo, o quê?

Seria fastidioso continuar esta conversa em discurso directo, pelo que os meus camaradas e amigos que são conhecedores das condições desumanas em que vivíamos, facilmente adivinharão o que durante alguns minutos lhe fui solicitando: 
  • cimento para construirmos casernas;
  • chapas de bidão cortadas;
  • apoio da Engenharia para que as coisas andassem mais rapidamente;
  • arcas frigoríficas a petróleo, pois não tínhamos direito a uma cerveja fresca;
  • um gerador;
  • e obuses, já que o apoio da artilharia quando éramos atacados nos era dado ou por Mampatá ou Aldeia Formosa, não tenho a certeza. 

A sua resposta ficou célebre entre os Tigres:

− Terá tudo isso na próxima LDG. Os obuses já estão tratados, o resto, repito, chega a Buba na próxima LDG, incluindo as arcas frigoríficas, nem que tenha de as ir buscar à messe dos oficiais de Bissau.

A parte final da frase obviamente era escusada, mas não imaginam a alegria que todos os soldados, e não só, sentiram ao ouvi-la. 

O General Spínola era exímio neste tipo de tiradas e nunca o ouvi a recriminar nenhum soldado, mas vi-o zangado com um grande do quadro, utilizando por várias vezes no seu discurso a palavra que imortalizou Cambronne (***), apesar da minha presença. 

Visitar-nos-ia ainda em Nhacobá, mas aí não houve tempo para discursos.

Só quero acrescentar que na LDG seguinte o prometido chegou! (...)

[ Seleção / revisão e fixação de texto para efeitos de publicação deste poste: LG]
___________

Notas do editor:


(***) Pierre Jacques Étienne Cambronne (1770 – 1842), francês, general de brigada do Primeiro Império, 1º Visconde de Cambrone, ficou célebre pelas palavras que terá  proferido na batalha de Waterloo, em 1815, à frente dos granadeiros da Velha Guarda de Napoleão.  Em inferioridade numérica,  cercado pelas pelas tropas do general inglês Charles Colville,  quando instado a render-se, com honra, ficou na história com a sua réplica: "La Garde meurt et ne se rend pas!" (A Guarda morre e não se rende!)... E terá acrescentado:  "Merde!", um típico vocábulo vernáculo dos gauleses... 

A expressão "a palavra que imortalizou Cambronne" (neste caso, "merde")  é um eufemismo, um figura de estilo com que se disfarçam as ideias desagradáveis ou as palavars grosseiras por meio de expressões ou palavaras  mais suaves...

domingo, 13 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20237: Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (3): 2ª edição, revista e aumentada, Letra B

 

Guiné >  Região de Bafatá >  Galomaro >  CCS/BCAÇ 3872 (Galomaro, 171/74)

Binta, a bajuda mais bonita de Galomaro e arredores. Foto da coleção de Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem".

Foto (e legenda): © Juvenal Amado (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação do Pequeno Dicionário da Tabanca Grande (*), de A a Z, em construção, com o contributo de todos os amigos e camaradas da Guiné  que se sentam aqui à sombra do nosso poilão, e que até têm um livro de estilo.  Entradas da letra B:




BA12 - Base Aérea nº 12 (Bissau, Bissalanca)

BAC1 – Bataria de Artilharia de Campanha nº 1, mais tarde GAC7

  
Bacalhau - Aperto de mão

Badora – Regulado da região de Bafatá; morteiro 120 mm (PAIGC)

Baga baga – Termiteira (crioulo)

Baguera - Abelha (crioulo); ‘Baguera, baguera’!!!, era a expressão de aflição dos africanos quando atacados por abelhas, no mato

Bailarina – Mina A/P que rebentavam acima do solo, a meia altura

Bajuda - Rapariga, donzela, moça virgem (crioulo; lê-se badjuda)

Balafon - Instrumento da música afro-mandinga, antecedor do xilofone (crioulo)

Balaio - Cesto grande (crioulo)

Balanta Mané - Balanta islamizado

Baloba - Local de culto dos irãs, em geral uma pequena cabana, nas tabancas de populações animistas (crioulo)

Balobero - Feiticeiro ou curandeiro, sacerdote animista que realiza cerimónias nos locais sagrados, as balobas; cada balobero coloca o seu pote com água na baloba, junto ao poilão sagrado, para receber os poderes do mesmo e a poder usar nas cerimónias que realiza (crioulo): em português, Balobeiro

Banana - Rádio, equipamento de transmissões, AVP-1

Bandalho – Membro do “Bando do Café Progresso”, do Porto, tertúlia de ex-combatentes da Guiné

Bandim - Mercado de Bissau

Bandoleira - Correia permitindo o transporte de uma espingarda ao ombro ou a posição de tiro a tiracolo

Barraca - Acampamento temporário no mato (PAIGC)

BART - Batalhão de Artilharia

Básico - Soldado dos serviços auxiliares (afeto sobretudo à cozinha)


Batata - Nome de guerra do ten pilav António Martins de Matos (BA12, Bissalanca, 1972/74), autor de "Voando sobre um ninho de Strelas" (Lisboa: 2018)

Bate-estrada - Aerograma, carta, corta-capim

Bazuca (i)- LGFog (lança-granadas foguete, 8,7 cm); cerveja de 0,6 l (gíria)

Bazuca (ii) - Alcunha, na Academia Militar, do cap cav Fernando José Salgueiro Maia

Guião da CCP 122 /
BCP  12.
Fonte: Cortesia de
Tino Neves (2006)
Bazuca China - Lança Granadas-Foguete RPG-2 (PAIGC, gíria)

BCAÇ - Batalhão de Caçadores 

BCAV - Batalhão de Cavalaria


BCP - Batalhão de Caçadores Paraquedistas (o BCP nº 12 esteve na Guiné, o nº 21 em Angola e os nºs 31 e 32 em Moçambique);  o BCP era composto pelas CCP 121, 122 e 123



Bêbeda - Alcunha dada à viatura Fox MG-36-24, que pertenceu aos Pipas, foi sendo sucessivamente rebaptizada: BêbedaDiabos do Texas; esteve em Guileje desde 1965 a 1973.

Beijuda - Corruptela de Bajuda (gíria)

BENG - Batalhão de Engenharia

BENG 447 – Batalhão de Engenharia nº 447, Bissau

Bentém - Banco, baixo, onde os homens grandes se sentam, a conversar, em geral, à sombra do poilão da tabanca(crioulo)

Biafra - (i) Clube de Oficiais, no Quartel General, em Santa Luzia, Bissau; (ii) Bar dos pilotos, na BA12, Bissalanca (gíria)

Bianda - Comida; arroz, base da alimentação da população na época (crioulo)

Bicha de pirilau - Progressão, em fila, no mato, mantendo cada homem uma distância regulamentar de segurança (gíria); o mesmo que fila indiana

Bideiras - As vendedeiras ambulantes, que andam nas ruas de Bissau (crioulo)

Bigrupo - Força IN equivalente a c. 30: reforçado: c. 40 homens  (PAIGC)

BINT - Batalhão de Intendência

Bioxene – Álcool; estar com os copos (gíria)

Blufo - (i) Rapaz balanta não circuncidado;

Fonte: Casa Comum > Fundação Mário
Soares > Arquivo Amílcar Cabral
(com a devida vénia
rapaz inexperiente (crioulo; (ii) Orgão dos Pioneiros do PAIGC, publicação mensal
Boinas Negras - Fuzileiros


Boinas Pretas - Pessoal, africano, dos Pel Art, BAC1 / GAC7; nome do pessoal do CCAV 2482 (Tite e Fulacunda, 1968/70)

Boinas Verdes - Paraquedistas

Boinas Vermelhas - Comandos (depois de 1974); na Guiné, usavam a boina castanha do exército

Bolanha - Terreno alagadiço, próprio para a cultura do arroz (crioulo)

Bombolom - Instrumento musical, feito a partir do tronco de uma árvore; instrumento tradicional de comunicação entre aldeias balantas e manjacas (crioulo)

Bonifácio - Obus 11,4 cm, TR m/917, da I Guerra Mundial (termo da gíria dos artilheiros)

BOP - Bombardeameno a picar (FAP)

BOR - Embarcação civil, que navegava no Geba, com umas estranhas pás na popa

Brandão - Família da região de Tombali (Catió), mas também de Bambadinca (região de Bafatá), onde eram proprietários de "pontas" (hortas)

Bué - Muito, manga de (Não vem de Boé; termo do quimbundo de Angola; não se usava no nosso tempo) (gíria)

Bunda - Cú, traseiro (crioulo)

Burmedjus - Mulatos, mestiços, crioulos, cabo-verdianos (crioulo)

Burrinho - Viatura automóvel Unimog 411, a gasolina (mais pequena que o 404, a gasóleo) (NT) 





Guiné > Região de Tombali > Guileje > A Fox MG-36-24, que pertenceu aos Pipas, foi sendo sucessivamente rebaptizada: Bêbeda, Diabos do Texas... (Bêbeda, porque possivelmente gastava... "cem aos cem"!)...

Segundo Nuno Rubim, "a matrícula da Fox é a mesma que consta numa fotografia tirada por elementos do PAIGC em 25 de maio de 1973, quando ocuparam o quartel, três depois depois do seu abandono por ordem do comandante do COP 7. Portanto a Bêbeda ( que  fica para a história, representada com essa mesma inscrição no diorama de Guileje, que foi construído por Nuno Rubim para o Núcleo Museológico Memória de Guiledje ....) terá servido desde 1965 até 1973, integrada nos sucessivos Pel Rec Fox que por lá passaram"... A foto de baixo  foi gentilmente cedida pelo Teco (Alberto Pires), da CCAÇ 726.

Fotos (e legendas): © Nuno Rubim (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


_________

Guiné 61/74 - P20235: Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (2): 2ª edição, revista e aumentada, Letra A



Guiné > Bissau > Amura ou Fortaleza de São José da Amura ou simplesmente Fortaleza da Amura > Construção iniciada em finais do séc. XVII, arrasada em 1707 e reconstruída em 1753, restaurada em meados do séc. XIX (1858-1860), bem como um século depois, a partir da década de 1970, sob orientação do arquiteto Luís Benavente.


Foi quartel-General durante a guerra colonial. É hoje panteãio nacional da República da Guiné-BissaU. Foto nº 17/199 do álbum Guiné, disponível na página do Facebook, do João Martins. qui estava instalado o QG/CCFAG [Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné], com as suas 4 Rep[artições]. Nas proximidades ficava a 5ª Rep, o Café Bento, o maior "mentidero" de Bissau, onde se ganhavam ou perdiam todas as batalhas.



Foto: © João José Alves Martins (2012)  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: 
Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. São cerca de meio milhar de "entradas":

(i) abreviaturas, siglas, acrónimos e termos técnico-militares usadas pelas NT (Nossas Tropas) / Forças Armadas Portuguesas:

(ii) abreviaturas, siglas e acrónimos e termos técnico-miliatres usadas pelo IN (inimigo) (guerrilha / PAIGC):

(iii) topónimos da Guiné, vocábulos e expressões etnográficas e/ou em crioulo e línguas gentílicas

(iv) vocábulos e expressões da gíria ou calão tanto do IN como das NT...

Acrescentamos também algumas figuras populares, do "Caco Baldé" ao "Manel Djoquim", do "alfero Cabral" ao "Tigre de Missirá", do Pepito ao "Metro e oito"...

É um pequeno património linguístico que já não nos pertence... Alguns destes vocábulos, do calão ao crioulo,  já estão grafado pelos dicionaristas: por exemplo, bianda, bideira, blufo, bolanha, morança ... Outros poderão vir a sê-lo, se não caírem em desuso.. Muitos morrerão na "vala comum do esquecimento", nomeadamente expressões usadas na caserna: pira, periquito, checa, partir punho, partir catota ... 

Enfim, são mais de quinze anos a blogar, o que dá, pelo menos  sete comissões no TO da Guiné...

Pequeno dicionário, de A a Z, em construção, com o contributo de todos os amigos e camaradas da Guiné (*) que se sentam aqui à sombra do nosso poilão, e que até têm um livro de estilo (**)... 

Mas falta-nos "a gíria e o calão" de outras armas como as da Marinha, por exemplo ... Infelizmente temos poucos marinheiros e fuzileiros na Tabanca Grande.

Quanto ao resto (e nomeadamente ao uso de um "calão" mais grosseiro, ou mais obsceno...), é bom lembrar que o nosso blogue não é politicamente correto, justamente porque é plural, é um rio com muitos afluentes, é filho de muiats mães e pais... Aos nossos/as amigos/as e camaradas mais "sensíveis", incluindo os/as nossos/as  amigos/as guineenses, pedimos desculpa de "qualquer coisinha"... 

Desnecessário é lembrar que o nosso blogue rejeita todos os ismos: colonialismo, racismo, sexismo, moralismo... , etc. Não somos um blogue de causas, só queremos parti(lha)r memórias (e afetos)... LG


Pequeno Dicionário da Tabanca Grande,  de  A a Z: 

[Em construção, desde 2007]


1º Cabo Aux Enf – 1º cabo auxiliar de enfermagem

2TEN FZE RN - 2º Tenente Fuzileiro Especial da Reserva Naval (Marinha)

5ª Rep - (i) Café Bento, o ‘mentidero’ de Bissau, que ficava junto ao Forte da Amura onde estava instalado o 
QG/CCFAG [Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné], com as suas 4 Rep[artições]

A/C - Anticarro, mina

A/D - Autodefesa (tabanca em)

A/P - Antipessoal. mina

AB - Alfa Bravo ou alfabravo, abraço (alfabeto fonético internacional, usado pelos nossos Op Trms)

Abibe - Novato na BA 5 (Monte Real) (FAP)

Abo - Você, tu (crioulo)

ACAP - Assuntos Civis e Acção Psicológica (REP / ACAP) 

AD - Acção para o Desenvolvimento - ONGD guineense que teve a marca histórica da liderança do Pepito (1949-2014)

ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas (, fundada depois do 25 de Abril)

Aero - Aerograma, carta, bate-estrada, corta-capim

Afilhado - Militar que tinha uma madrinha de guerra

Água de Lisboa – Vinho (da intendência) (gíria)

Água do Geba (Beber a) - Apaixonar-se pela Guiné

AGUltramar - Agência Geral do Ultramar

Agr - Agrupamento

AICC Área de Intervenção do Comando-Chefe

AKA - Kalash, Espingarda Automática Kalashnikov (AK) Cal. 7,62 mm (PAIGC)

AL II - Alouette II, helicóptero, de origem francesa (FAP)

AL III - Helicóptero Alouette III, de origem francesa (FAP)

Alf - Alferes

Alf Mil - Alferes Miliciano

Alf Mil Med - Alferes miliciano médico

Alfa Bravo / Alfabravo - Abraço


Alfaiate - Crocodilo (gíria)

Alfero - Alferes (crioulo)


Alfero Cabral - Jorge Cabral, alf mil  art, cmdt Pel Caç Nat 63 (Fá Mandinga e Missirá, 1969/71),autor da série "Estórias cabralianas"

AM - Academia Militar (sucedeu, em 1959, à Escola do Exército, remontando a sua origem apo séc. XVII)


Amura - Velha fortaleza militar colonial, em Bissau; sede do QG/CCFAG [Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné]; hoje Panteão Nacional da Guiné-Bissau




AN/PCR-10. 
Imagem: Blogue Luís Graça
& Camaradas da Guiné
AN/GRC-9 - Rádio, equipamento de transmissões (NT)

AN/PRC-10 AVF - Rádio emissor-receptor (MT)

Animistas - Povos ribeirinhos(balantas, manjacos, papéis e outros) que praticam o culto dos irãs

Anti-Aérea ZPU-4 - Anti-aérea  quádrupla, de 14,5 mm (PAIGC)[Também tinham peças AA de 37 mm e, depois, o Strela, em 1973]


Anti-G - Fato que ajudar a suportar os Gês (FAP)

AOE - Associação de Operações Especiais

Ap - Apontador

APAR - Apoio aéreo (FAP)

Ap Arm Pes Inf - Apontador de Armas Pesadas de Infantaria (morteiro, canhão s/r, metralhadora 12.7...)

Ap Dil - Apontador de Dilagrama

Ap LGFog - Apontador de Lança-granadas foguete

Ap Met - Apontador de Metralhadora

Ap Mort - Apontador de morteiro

Apanhado - (i) Diz-se do combatente afectado pela guerra e pelo clima; (ii) cacimbado (em Angola)

APsic - Acção Psicológica

Aqt - Aquartelamento
 
Arre-macho - Tropa de infantaria, tropa-macaca (termo depreciativo, usado pelas tropas especiais)

Art Artilharia

Arv - Arvorado, Soldado



Anúncio da ASCO (1956). 
Fonte: Blogue Luís Graça
 & Camaradas da Guiné


ASCO - Acrónimo da Aly Souleiman & Ca - Casa comercial, de origem sírio-libanesa, com sede em Bissau e filiais no interior, incluindo Gadamael.
Asp Of Mil - Aspirante a Oficial Miliciano

At Art - Atirador de Artilharia

At Cav - Atirador de Cavalaria

At Inf - Atirador de Infantaria

Atacadores da PM -  Esparguete (gíria) (Ex: Atacadores com PM com estilhaços)

ATAP - Missão resultante de um pedido de fogo imediato, com a saída da parelha de alerta; ataque em alerta (FAP)

ATIP - Missão de apoio de fogo, pré-planeada; ataque independente (FAP)

ATIR - Ataque e reconhecimento (FAP)


(Continua)
____________

Notas do editor:




30 de dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2389: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (6): Racal (José Martins)

29 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2388: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (5): Periquito (Joaquim Almeida)

26 de junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1887: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (3)... (Zé Teixeira)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19403: (Ex)citações (350): Ponto e contraponto: calão, crioulo, linguagem obscena, racismo, colonialismo e nacionalismo... (Cherno Baldé / António Rosinha)


Guiné- Bissau > Bissau > Maio de 1997 > "Eu e a minha mãe"

Foto (e legenda): © Cherno Baldé (2011). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Comentários ao poste P19396 (*)


(I) Cherno Baldé [, n. c. 1960 em Fajonquito, setor de Contuboel, região de Bafatá, estudou na Ucrânia e em Portugal, quadro superior na GB, gestor de projetos, vive em Bissau, nosso colaborador permanente, especialista em questões etnolinguísticas]

[...] Convém ter em conta que parte das expressões apresentadas [, no Pequeno Dicionário da Tabanca Grande,]  como sendo "crioulo",  podem ser invenções da tropa metropolitana e seus soldados indígenas,  e que os guineenses dito crioulos nunca ou quase nunca utilizavam por representar caricaturas de crioulo. 

Por exemplo,  "Partir mantenha, partir catota, cabaço, mama-firme", entre outras expressões, podiam representar formas impróprias e pouco respeitosas para com os nativos, vistos como inferiores e pouco dignos do respeito devido às pessoas civilizadas, nesse caso aos portugueses da metrópole.[...] 

O uso do calão ou do baixo calão pode ser normal e existe em todas as sociedades humanas. O que pode chocar é a sua utilização com caracter racista e/xenófobo como era o caso na Guiné durante a guerra. No inicio, até 1970, pareciam-nos expressões normais no convivência com a tropa, sobretudo porque a maioria era originária do Norte de Portugal, mas quando começaram a chegar as mulheres (as senhoras) brancas, esposas de alguns oficiais, constatamos com desagrado que todo o arsenal de obscenidades era só e unicamente reservado a nossa gente e de forma especial as nossas mulheres, sem distinção entre casadas e mulheres grandes. Isto não era só calão, era racismo e abuso do poder sobre os dominados, portanto, inaceitável. Se os militares não tivessem posto um ponto final na guerra em 74, com a nossa geração de jovens escolarizados e nacionalistas, certamente que não seria a mesma coisa. E penso que é isso que explica, entre outras coisas, a adesão do grupo de Domingos


(II) António Rosinha:

(i) beirão, tem mais de 115 referência no nosso blogue;

(ii) é um dos nossos 'mais velhos' e continua, ativo, a participar, com maior ou menor regularidade, no nosso blogue, como autor e comentador;

(iii) andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado;

(iv) fez o serviço militar em Angola,  em 1959, sendo fur mil, em 1961/62;

(v) diz que foi 'colon' até 1974 e continua a considerar-se um impenitente 'reacionário' (sic);

(vi) 'retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil, já sem ouro, nem pedras preciosas...), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência';

(vii) o seu patrão, o dono da TECNIL, era o velho africanista Ramiro Sobral;

(viii) é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho'';

(ix) pelo seu bom senso, sabedoria, sensibilidade, perspicácia, cultura e memória africanistas, é merecedor do apreço e elogio de muitos camaradas nossos, é profundamente estimado e respeitado na nossa Tabanca Grande, fazendo gala de ser 'politicamente incorreto' e de 'chamar os bois pelos cornos';

(x) ao Antº Rosinha poderá aplicar-se o provérbio africano, há tempos aqui sabiamente citado pelo Cherno Baldé, o "menino e moço de Fajonquito": "Aquilo que uma criança consegue ver de longe, empoleirado em cima de um poilão, o velho já o sabia, sentado em baixo da árvore a fumar o seu cachimbo". ]



Não concordo com a ideia do Cherno sobre os motivos de adesão à luta e ao nacionalismo de figuras como Domingos Ramos e Amílcar Cabral, coisas como a falta de respeito pelas mulheres grandes e as mulheres africanas.

A juventude de Domingos Ramos e de Amílcar nunca foi semelhante à vida de "quartel" que o Cherno foi obrigado a conhecer e a viver, não só porque só havia quartéis nas capitais, e a tropa europeia era praticamente reduzida a alguns sargentos e oficiais, e alguns cabos, isto, antes da guerra (1961).

Essa realidade que Cherno conheceu, não existia em 1959, quando Domingos Ramos fez a sua recruta, frequentando o 1º CSM - Curso de Sargentos Milicianos.

Nesse tempo, os mestiços ou brancos de 2ª ou pretos escolarizados (Domingos Ramos), já tinham outros motivos para as suas independências que iam muito além de qualquer descriminação racial, ou complexos de superioridade da parte do branco.

No caso das colónias portuguesas já havia uma convicção absolutamente formada na cabeça dos estudantes da simples 4ªa classe, preto ou branco de 2ª  que eles estavam muito mais preparados para tomar conta da sua terra, do que os «atrasadinhos» que vinham da metrópole. 

Cherno, no minha recruta e CSM (Huambo 1959),  éramos 30 no meu pelotão, dividamos, 10, como eu da metrópole, 10 eram "Domingos Ramos", e outros 10 Amílcares à mistura com dois ou três brancos de 2ª

Cherno, aí já eramos nós,  os dez da metrópole,  as grandes vítimas discriminadas, que nem sabíamos jogar à bola, que vínhamos abanar a árvore das patacas, minhotas com pernas peludas, ainda se fôssemos ingleses ou franceses...e outro mimos  que nem menciono, porque seria uma ladainha que nunca mais acabava.

Até que veio o 15 de Março de 1961, "para Angola e em força" do Salazar, e dos "Ramos" e dos "Amílcares", muito pouquinhos se passaram, e foi ao lado de muitos que eu fiz a minha guerra de 13 anos em Angola.

Embora a realidade de Angola e Guiné fosse diferente, sabemos que o MPLA e PAIGC foram irmãos, de maneira que facilmente encontro semelhanças.

Cherno, a vida que conheceste (tropa e guerra) não tem a mínima semelhança com o sonolência que se passava com os velhos chefes de posto, velhos comerciantes, velhos régulos, a rotina dos fanados e cultura do arroz, tudo ao ritmo de travessias de jangada, passa quando passa,  uma morte lenta, em que além do chefe de posto e do isolado comerciante, muitas tabancas não viam mais qualquer branco ou qualquer alteração da rotina, durante meses, e na própria capital da "colónia" era ao domingo o Benfica x Sporting a maior movimentação de massas.

Claro que houve e há "doutrinações" que podem ser aproveitadas para vários fins, mas não no caso de Domingos Ramos ou  do  Amílcar, creio eu.  (**)

____________

Nota do editor:


sábado, 12 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19396: Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (1): em construção. para rever, aumentar, melhorar, divulgar, comentar...


Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Jufunco ou Djufunco > 9 de maio de 2013 > Os dois régulos locais com as suas "turpeças" que nunca largam por nada deste mundo... Dois tipos agarrados ao poder, deve ter pensado o régulo da Tabanca de Matosinhos, Zé Teixeira... Sentar-se no banquinho,. tipo tripé,  do régulo é punível com a pena... capital!... Os felupes não fazem a coisa por menos... Mas há um provérbio (dos tugas) que diz: "Quem tropeça, também cai!"... Os senhores dicionaristas do Priberam e outros não nos ligam nenhuma... Ainda não grafaram o termo, nem sabem da sua existência... Enfim, tal como ainda não descobriram que "abibe" não é uma ave pernalta, mas um novato que entra(ava) nos anos 60/70 no "ninho dos Falcões" (a BA 5, em Monte Real).

Foto (e legenda): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. São cerca de meio milhar de:

(i) abreviaturas, siglas, acrónimos e termos técnico-militares usadas pelas NT (Nossas Tropas) / Forças Armadas Portuguesas:

(ii) abreviaturas, siglas e acrónimos e termos técnico-miliatres usadas pelo IN (inimigo) (guerrilha / PAIGC):

(iii) topónimos da Guiné, vocábulos e expressões etnográficas e/ou em crioulo e línguas gentílicas

(iv) vocábulos e expressões da gíria ou calão tanto do IN como das NT...

É um pequeno património linguístico que já não nos pertence... Alguns destes vocábulos já estão grafado pelos dicionaristas... Outros poderão vir a sê-lo, se não caírem em desuso.. São quinze anos a blogar, o que dá sete comissões no TO da Guiné... Pequeno dicionário, de A a Z, em construção, com o contributo de todos os amigos e camaradas da Guiné (*) que se sentam aqui à sombra do nosso poilão, e que até até têm um livro de estilo (**)... Mas falta-nos "a gíria e o calão" de outras armas como as da Marinha...Infelizmente temos poucos marinheiros e fuzileiros na Tabanca Grande.

Quanto ao resto (e nomeadamente ao uso de um "calão" mais grosseiro), é bom lembrar que o nosso blogue não é politicamente correto, justamente porque é plural, é um rio com muitos afluentes... Aos nossos amigos e camaradas mais "sensíveis", incluindo os nossos  amigos guineenses, pedimos desculpa de "qualquer coisinha"... LG


Pequeno Dicionário da Tabanca Grande,   de  A a Z... Em construção, desde 2007:


1º Cabo Aux Enf – 1º cabo auxiliar de enfermagem

2TEN FZE RN - 2º Tenente Fuzileiro Especial da Reserva Naval (Marinha)

5ª Rep - Café Bento, o ‘mentidero’ de Bissau

A/C - Mina anticarro

A/D - Autodefesa (tabanca em)

A/P - Mina antipessoal

AB - Alfa Bravo ou alfabravo, abraço (alfabeto fonético internacional, usado pelos nossos Op Trms)

Abibe - Novato na BA 5 (Monte Real) (FAP)

Abo - Você, tu (crioulo)

ACAP - Assuntos Civis e Acção Psicológica (REP / ACAP) 

AD - Acção para o Desenvolvimento - ONGD guineense que teve a marca histórica da liderança do Pepito (1949-2014)

ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas (posterior ao 25 de Abril)

Aero - Aerograma, carta, bate-estrada, corta-capim

Afilhado - Militar que tinha uma madrinha de guerra

Água de Lisboa – Vinho (da intendência) (gíria)

Água do Geba (Beber a) - Apaixonar-se pela Guiné

Agr - Agrupamento

AKA - Kalash, Espingarda Automática Kalashnikov (AK) Cal. 7,62 mm (PAIGC)

AL II - Alouette II, helicóptero, de origem francesa (FAP)

AL III - Helicóptero Alouette III, de origem francesa (FAP)

Alf - Alferes

Alf Mil - Alferes Miliciano

Alf Mil Med - Alferes miliciano médico

Alfa Bravo - Abraço

Alfero - Alferes (crioulo)

AM - Academia Militar (antecessora: Escola do Exército)

Amura - Velha fortaleza militar colonial, em Bissau; sede do Com-Chefe; hoje Panteão Nacional da Guiné-Bissau

AN/GRC-9 - Rádio, equipamento de transmissões

AN/PCR-10 - Rádio transmissor-receptor

Animistas - Povos (balantas, manjacos e outros) que praticam o culto dos irãs

Anti-Aérea ZPU-4 - Anti-aérea  quádrupla, de 14,5 mm (PAIGC)[Também tinham peças AA de 37 mm e, depois, o Strela, em 1973]


Anti-G - Fato que ajudar a suportar os Gês (FAP)

AOE - Associação de Operações Especiais

Ap - Apontador

Ap Arm Pes Inf - Apontador de Armas Pesadas de Infantaria (morteiro, canhão s/r, metralhadora 12.7...)

Ap Dil - Apontador de Dilagrama

Ap LGFog - Apontador de Lança-granadas-foguete

Ap Met - Apontador de Metralhadora

Apanhado - Diz-se do combatente afectado pela guerra e pelo clima; cacimbado (em Angola)

Arre-macho - Tropa de infantaria, tropa-macaca (termo depreciativo, usado pelas tropas especiais)

Arv - Arvorado (Soldado)

ASCO - Aly Souleiman & Ca - Casa comercial, de origem sírio-libanesa, com sede em Bissau e filiais no interior, incluindo Gadamael.

Asp Of Mil - Aspirante a Oficial Miliciano

At Art - Atirador de Artilharia

At Cav - Atirador de Cavalaria

At Inf - Atirador de Infantaria

ATAP - Missão resultante de um pedido de fogo imediato, com a saída da parelha de alerta; ataque em alerta (FAP)

ATIP - Missão de apoio de fogo, pré-planeada; ataque independente (FAP)

ATIR - Ataque e reconhecimento (FAP)

BA12 - Base Aérea nº 12 (Bissau, Bissalanca)

BAC1 – Bataria de Artilharia de Campanha nº 1, mais tarde GA7

Bacalhau - Aperto de mão

Badora – Regulado da região de Bafatá; morteiro 120 mm (PAIGC)

Baga baga – Termiteira (crioulo)

Baguera - Abelha (crioulo); ‘Baguera, baguera’!!!, era a expressão de aflição dos africanos quando atacados por abelhas, no mato

Bailarina – Mina A/P que rebentavam acima do solo, a meia altura.

Bajuda - Rapariga, donzela, moça virgem (crioulo; lê-se badjuda)

Balafon - Instrumento da música afro-mandinga, antecedor do xilofone (crioulo)

Balaio - Cesto grande (crioulo)

Balanta Mané - Balanta islamizado

Banana - Rádio, equipamento de transmissões, AVP-1

Bandalho – Membro do “Bando do Café Progresso”, do Porto, tertúlia de ex-combatentes da Guiné

Bandim - Mercado de Bissau

Bandoleira - Correia permitindo o transporte de uma espingarda ao ombro ou a posição de tiro a tiracolo

Barraca - Acampamento temporário no mato (PAIGC)

BART - Batalhão de Artilharia

Básico - Soldado dos serviços auxiliares (afeto sobretudo à cozinha)
Batata - Nome de guerra do ten pilav António Martins de Matos (BA12, Bissalanca, 1972/74), autor de "Voando sobre um ninho de Strelas" (Lisboa: 2018)

Bate-estrada - Aerograma, carta, corta-capim

Bazuca (i)- LGFog (lança-granadas foguete, 8,7 cm); cerveja de 0,6 l (gíria)

Bazuca (ii) - Alcunha, na Academia Militar, do cap cav Fernando José Salgueiro Maia



Guiné > Região de Bafatá > Galomaro > CCS/BCAÇ 3872 (Galomaro, 171/74)

Binta, a bajuda mais bonita de Galomaro e arredores. Foto da coleção de Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem".

Foto (e legenda): © Juvenal Amado (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Bazuca China - Lança Granadas-Foguete RPG-2 (PAIGC, gíria)

BCAÇ - Batalhão de Caçadores

BCAV - Batalhão de Cavalaria

BCP - Batalhão de Caçadores Paraquedistas (o BCP nº 12 esteve na Guiné, o nº 21 em Angola e os nºs 31 e 32 em Moçambique)


Bêbeda - Alcunha dada à viatura Fox MG-36-24, que pertenceu aos Pipas, foi sendo sucessivamente rebaptizada: Bêbeda, Diabos do Texas; esteve em Guileje desde 1965 a 1973.
BENG - Batalhão de Engenharia

BENG 447 – Batalhão de Engenharia nº 447, Bissau

Bentém - Banco, baixo, onde os homens grandes se sentam, a conversar, em geral, sob um poilão (crioulo)

Biafra - Clube de Oficiais, no Quartel General, em Santa Luzia, Bissau; Bar dos pilotos, na BA12, Bissalanca (gíria)

Bianda - Comida; arroz, base da alimentação da população na época (crioulo)

Bicha de pirilau - Progressão, em fila, no mato, mantendo cada homem uma distância regulamentar (gíria)

Bideiras - As vendedeiras ambulantes, que andam nas ruas Bissau (crioulo)

Bigrupo - Força IN equivalente a c. 40 homens (PAIGC)

BINT - Batalhão de Intendência

Bioxene – Álcool; estar com os copos (gíria)

Blufo - Rapaz balanta não circuncidado; rapaz inexperiente (crioulo)

Boinas Negras - Fuzileiros

Boinas Verdes - Paraquedistas

Boinas Vermelhas - Comandos (depois de 1974); na Guiné, usavam a boina castanha do exército

Bolanha - Terreno alagadiço, próprio para a cultura do arroz (cioulo)

Bombolom - Intrumento musical, feito a partir do tronco de uma árvore; instrumento tradicional de comunicação entre aldeias balantas e manjacas (crioulo)

Bonifácio - Obus 11,4 cm, TR m/917, da I Guerra Mundial (termo da gíria dos artilheiros)

BOP - Bombardeameno a picar (FAP)

BOR - Embarcação civil, que navegava no Geba, com umas estranhas pás na popa

Brandão - Família da região de Tombali (Catió), mas também de Bambadinca (região de Bafatá)

Bué - Muito, manga de (Não vem de Boé; termo do quimbundo de Angola; não se usava no nosso tempo) (gíria)

Bunda - Cú, traseiro (crioulo)

Burmedjus - Mulatos, mestiços, crioulos, cabo-verdianos (crioulo)

Burrinho - Viatura automóvel Unimog 411, a gasolina (mais pequena que o 404, a gasóleo) (NT) 





Guiné > Região de Tombali > Guileje > A Fox MG-36-24, que pertenceu aos Pipas, foi sendo sucessivamente rebaptizada: Bêbeda, Diabos do Texas... (Bêbeda, porque possivelmente gastava... "cem aos cem"!)...

Segundo Nuno Rubim, "a matrícula da Fox é a mesma que consta numa fotografia tirada por elementos do PAIGC em 25 de maio de 1973, quando ocuparam o quartel, três depois depois do seu abandono por ordem do comandante do COP 7. Portanto a Bêbeda ( que  fica para a história, representada com essa mesma inscrição no diorama de Guileje, que foi construído por Nuno Rubim para o Núcleo Museológico Memória de Guiledje ....) terá servido desde 1965 até 1973, integrada nos sucessivos Pel Rec Fox que por lá passaram"... A foto de baixo  foi gentilmente cedida pelo Teco (Alberto Pires), da CCAÇ 726.

Fotos (e legendas): © Nuno Rubim (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís GRça & Camaradas da Guiné]



Cá bai - Não vai (crioulo)

Cabaceira - Árvore e fruto do embondeiro (não confundir com Poilão) (crioulo)

Cabaço - Hímen, virgindade (crioulo)

Cabeça Grande - Bebedeira (crioulo)

Cabo Aux Enf - 1º Cabo Auxiliar de Enfermeiro

Cabo Enf - 1º Cabo Enfermeiro

Caco / Caco Baldé - Alcunha do Gen Spínola (mas também 'Homem Grande de Bissau', 'O Velho', 'O Bispo'; caco, de monóculo; Baldé, apelido frequente entre os fulas)

Cães Grandes - Oficiais superiores

Chabéu – Dendê (fruto); prato típico da GB, de peixe ou carne, feito com óleo de palma (etimologia: do crioulo "tche bém")

Cal - Calibre

Camarigo - Camarada e Amigo (por contracção); criada na Tabanca Grande

Cambar - Atravessar um rio (crioulo)

Candongas - Transporte colectivo privado, usado hoje no interior da Guiné Bissau

Canhão s/r - Canhão Sem Recuo

Canhota - A espingarda automática G3

CAOP - Comando de Agrupamento Operacional

CAOP1 - Comando de Agrupamento Operacional nº 1

Cap - Capitão

Cap Mil - Capitão Miliciano

Cap QEO - Capitão do Quadro Especial de Oficiais

Cap QP - Capitão do Quadro Permanente

Capim - Nome comum de planta gramínea, típica da savana arbustiva; graveto, dinheiro (gíria)

Capitão-proveta - Cap QEO (gíria),  que  passava a poder transitar para os quadro permanente das armas combatentes (infantaria, artilharia e cavalaria), depois de frequentar o "curso intensivo", previsto pelo D.L. nº 353/73, de 13 de julho.
 
Carecada - Castigo disciplinar, imposto pelo superior hierárquico, e que consistia no corte de cabelo à máquina zero (gíria)

CART - Companhia de Artilharia

Casa Gouveia - Principal empresa colonial, fundada por António da Silva Gouveia em finais do Séc. XIX: em 1927 é adquirida pela CUF.

Catota - Orgão sexual feminino; partir catota = ter relações sexuais (crioulo, calão)

Cavalos duros - Feridas no pénis e órgãos genitais e até na boca e no ânus, sintomas de doença venérea (calão)

Cavalos moles - Sintomas de sífilis, doença venérea (fendas no pénis) (calão)

CCAÇ - Companhia de Caçadores

CCAÇ I - Companhia de Caçadores Indígenas

CCAV - Companhia de Cavalaria

CCM - Curso de Capitães Milicianos

CCmds - Companhia de Comandos

CCP - Companhia de Caçadores Paraquedistas

CCS - Companhia de Comando e Serviços

CEME - Chefe do Estado Maior do Exército

CEMGFA - Chefe do Estado Maior General da Força Aérea

Cento e vinte - Morteiro pesado, de 120 mm

Cesca - Pistola de 7,65 mm, de origem checoslovaca (PAIGC)

CFA - Franco da Communauté Francofone Africaine, moeda actual da GB (1 Euro = 655,597 CFAA)

CFORN - Curso de Formação de Oficiais da Reserva Naval (Marinha)

Chão - Território étnico (vg, chão fula)

CHASE - Em formação, atrás de (FAP)

Checa - Pira, periquito (em Moçambique), maçarico (Angola)

Checklist - Livro de notas do piloto (FAP)

Chipmunk - Avião de treino, de dois lugares, monomotor, de origem canadiana (FAP)

Choro - Conjunto de rituais celebrados por ocasião do falecimento de uma pessoa, parente ou vizinho (sobretudo entre os animistas) (crioulo)

Cibe - Palmeira; utilizam-se rachas de cibe como barrotes na construção; é resistente à formiga baga-baga (crioulo)

Cilinha - Nome de guerra de Cecília Supico Pinto, a fundador e líder histórica do MNF – Movimento Nacional Feminino

Cipaio - Elemento nativo da polícia

Circuncisão - Vd. Fanado. Havia/há a circuncisação masculina e a feminina. Vd. MGF.

CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria (Tavira)

CM - Cabo de Manobra (Marinha)

Cmd - Comando

Cmdt - Comandante

COE - Curso de Operações Especiais

COM - Curso de Oficiais Milicianos

Com-Chefe - Comando-Chefe

Conversa giro - Fazer amor, ter relações sexuais (crioulo)

COP - Comando Operacional

COP7 - Comando Operacional 7

Cor - Coronel

Corpinho - Sutiã, soutien (crioulo)

Corpo di bó - Como estás ? (crioulo)


Corta-capim - Aerograma, carta, bate-estrada (gíria)

Costureirinha - Pistola metralhadora PPSH (PAIGC) (gíria)

CPC - Curso de Promoção a Capitão do Quadro Complementar

CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

CSM - Curso de Sargentos Milicianos

CTIG - Comando Territorial Independente da Guiné

CUF - Companhia União Fabril (representada, na Guiné,  pela Casa Gouveia)

Cupilom - Pilão, bairro popular atravessado pela estrada para o aeroporto; Cupelon, Cupilão

Dari - Chimpanzé (da mata do Cantanhez) (crioulo)

DC 3 - Avião de trasporte (FAP)

DC 6 - Avião de transporte (FAP)

DCON - Missão de acompanhamento (FAP)

Degtyarev - Metralhadora ligeira 7,62 mm, de origem soviética (PAIGC)

Degtyarev-Shpagim - Metralhadora pesada 12,7 mm, de origem soviética (PAIGC)

Desenfianço - Escapadela (por ex., até Bissau) (gíria)

Dest - Destacamento

Dest A - Destacamento A

DFA - Deficiente das Forças Armadas

DFE - Destacamento de Fuzileiros Especiais

Diorama - Maqueta a 3 dimensões (v.g., aquartelamento de Guileje)

Djídio (ou gigio) - Cantor ambulante que ia de tabanca em tabanca, transmitindo as notícias (crioulo)

Djila - Vd. Gila

Djubi - Olha! (crioulo), mas também criança, menino

DO 27 - Dornier 27 (Avioneta), avião ligeiro de transporte (Fap

Drone - Máquina voadora não tripulada (não existia no nosso tempo) (FAP)

Drop Tanks - Depósitos de combustível (FAP)

ECS - Escola Central de Sargentos (Águeda)


EE - Escola do Exército (antecessora da AM - Academia Militar)


Embondeiro - Cabaceira, baobá (Senegal)

Embrulhanço - Contacto pelo fogo com o IN, ataque, emboscada (gíria)

Embrulhar - Ser atacado (pelo IN) (gíria)

Enf - Enfermeiro

Enf Para - Enfermeira paraquedista

Engine Master - Botão principal de uma aeronave (FAP)

EP - Exército Popular (PAIGC)


EPA - Escola Prática de Artilharia (Vendas Novas)

EPC - Escola Prática de Cavalaria (Santarém) 

EPI - Escola Prática de Infantaria (Mafra), também conhecida por Máfrica
EREC - Esquadrão de Reconhecimento [de Cavalaria]

Esp - Espingarda

Esp Aut - Espingarda Automática

Esp MMA - Especialista Mecânico de Manutenção Aeronáutica (FAP)

Esq - Esquadrão

Esq Mort - Esquadrão de Morteiro

Esquadra - Organização militar de aeronaves (FAP)

Esquadra 121 Tigres - Constituída por Fiat-G 91, T-6 e DO-27 (BA 12, Bissalanca) (FAP)

Esquadra 122 - Heli AL III (BA12, Bissalanca) (FAP)

Esquadra 123 - Nord Atlas e DC-3 (BA12, Bissalanca) (FAP)

Esquentamento - Blenorragia, doença venérea (corrimento de pus pela uretra) (calão)

Estilhaços de frango - Pouca comida (gíria)

F86 Sabre  - Avião a jato, supersónico, que chegou a operar na Guiné, entre 1961 e 1965. Foi retirado por pressão dos norte-americanos. Foi substituído em 1966 pelo Fiat G-91.


Fala mantenha - Partir mantenha, cumprimentar, saudar (crioulo)

Fanado - Festa da circuncisão, ritual de passagem da puberdade para a vida adulta (crioulo)

Fanateca - Mulher que pratica a MGF – Mutilação Genital Feminina (crioulo)

FARP - Forças Armadas Revolucionárias do Povo, a elite combatente do PAIGC

FBP - Fábrica Braço de Prata; também nome dado a uma pistola metralhadora portuguesa, usada no início da guerra, feita na FBP

Ferrugem - Serviço de Material; termo depreciativo, para o pessoal não-operacional, ligado ao SM) (gíria)

Festa, festival - Ataque aparatoso, ou flagelação, do PAIGC a aquartelamento ou destacamento das NT (gíria)

Fiju (lê-se: fidju) - Filho (crioulo)


Fiju di tuga - Filho de português (crioulo)(Há uma associação, em Bissau, com este nome)

Filhos do Vento - Filhos de militares portugueses, sem reconhecimento da paternidade nem da nacionalidade  


Firma - Estar, ficar, morar (crioulo)

Firminga - Formiga (crioulo)

Fogo de artifício - Flageações ou ataques, a aquartelamentos ou destacamentos vizinhos, vistos de longe (gíria)

Fornilho - Armadilha com cordão de tropeçar

Fotocine - Operador de imagem (fotografia e cinema); destacamento


Fur - Furriel

Fur Enf - Furriel Enfermeiro

Fur Mil - Furriel Miliciano

Fuzos - Fuzileiros especiais

FZE - Fuzileiro Especial (Marinha)

G3 - Espingarda Automática G-3

Gaita à bandoleira (Andar de) - Ter uma doença sexualmente transmissível, em geral blenorragia (ou 'esquentamento') (calão)

GB - Guiné-Bissau

Gen - General

Genti di mato - Turras, população sob controlo do IN (crioulo)

Gês - Força da gravidade (FAP)

Gila (lê-se djila) - Comerciante, vendedor ambulante, contrabandista (que circula pela Guiné e países vizinhos)

GMC - Viatura automóvel pesada, de rodado duplo atrás, de fabrico americano

GMD - Granada de Mão Defensiva

GMO - Granada de Mão Ofensiva

Gorro Novo - Metralhadora Pesada Goryounov, Cal 7,62 mm M-943 SG (PAIGC, gíria)

Gosse, gosse - Depressa (vg, retirar no gosse, gosse) (crioulo)

Gouveia - Casa comercial ligada ao grupo CUF

Gr Comb - Grupo de Combate; pelotão

Gr Comb (-) - Grupo de Combate desfalcado

Gr Comb (+) - Grupo de Combate reforçado

Gr M Of - Granada de mão ofensiva

Grã-tabanqueiro - Membro da Tabanca Grande (blogue)

Heli - Helicóptero

Helicanhão - Helicóptero armado com canhão de 20 mm (vd. Lobo Mau)(FAP)

HK 21 - Metralhadora Ligeira

HM 241 - Hospital Militar nº 241, Bissau

HMP - Hospital Militar Principal (Estrela, Lisboa)

Homem Grande - Chefe de Família (crioulo)

IAO - Instrução de Aperfeiçoamento Operacional

IN - Inimigo; guerrilheiros e população sob o seu controlo

INT - Intendência

Ir no mato - Fugir (ou ser levado) para uma zona controlada pelo PAIGC (crioulo)

Irã - Ser sobrenatural que, para os animistas (balantas, papéis, manjacos, etc.) habita as florestas (e em especial os poilões) (crioulo)

Jacto do Povo - Foguetão 122 mm; Graad (PAIGC, gíria)

Jagudi - Abutre (crioulo)


Jamara (lê-se:djarama) - Obrigado (fula)

Jambé (lê-se djambé) - Instrumento de percussão africano, em forma de cálice invertido (crioulo)

Kacur - Cachorro (crioulo)


Guiné > Região do Boé > Madina do Boé > CCAÇ 1589/BCAÇ 1894 (Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68). > Uma Kalash, ou Aka, capturada ao PAIGC...

Foto do álbum fotográfico do nosso camarada Manuel Caldeira Coelho, ex-fur mil trms, CCAÇ 1589 (Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68).

Foto (e legenda): © Manuel Coelho (2011). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Kalash - Espingarda Automática AK 47 (PAIGC)

Kasumai - Saudação em dialecto felupe

Kora - Instrumento musical mandinga, de cordas, tipo cítara, inventado pelos antepassados do mestre Braima Galissá (músico do Gabu, a viver em Portugal) (crioulo)

Lassas - Abelhas selvagens; alcunha por que era conhecido, pelo PAIGC, o pessoal da CCAÇ 763 (Cufar, 1965/66)

LDG - Lancha de Desembarque Grande (Marinha)

LDM - Lancha de Desembarque Média (Marinha)

LDP - Lancha de Desembarque Pequena (Marinha)

Lerpa - Jogo de cartas, geralmente a dinheiro (gíria)

Lerpar - Perder (à lerpa), apanhar um castigo, morrer (gíria)

LFG - Lancha de Fiscalização Grande (Marinha)

LGFog - Lança-granadas-foguete, bazuca

Lifanti - Elefante (crioulo)

Lion Brand - Conhecida marca de repelente de mosquitos

Lobo Mau - Helicanhão (FAP) (gíria)

Lubu - Hiena (crioulo)

MA - Minas e Armadilhas

Macacada - Tropa, forças do Exército, tropa-macaca (gíria)

Macaco-cão - Babuíno (Macaco Kom, em crioulo)

Macaréu - Vaga impetuosa que, no Rio Geba, precede o começo da praia-mar. É mais sentida no Geba Estreito, a partir da foz do Rio Corubal.

Maçarico - Pira, periquito (Guiné); checa (Moçambique); termo mais usado em Angola

Mach - Velocidade do som (FAP)

Madrinha - Madrinha de guerra, jovem do sexo feminino, maior de 16 anos, que se correspondia com um militar no Ultramar

Mafé - Acompanhamento da bianda, conduto (muitas vezes, peixe, peixe seco, kasseké) (crioulo)

Máfrica - Escola Prática de Infantaria, em Mafra (gíria)

Maj - Major

Maj gen - Major general [antes equivalia o posto de brigadeiro, desde 1999, o primeiro posto permamente de oficial general, imediatamente inferior a tenente-general; tem 2 estrelas]
 

Mama firme - Peito direito (bajuda) (crioulo)

Mancarra - Amendoím (crioulo)

Manga de ronco – Grande festa; sucesso militar (crioulo e gíria)

Manga de sakalata - Muita confusão, muitos sarilhos (crioulo e gíria)

Manga di chocolate - Barulho, grande ataque, com muito fogachal, embrulhanço; corruptela de Manga di sakalata (gíria)

Mantenha(s) - Saudades, lembranças, cumprimentos (crioulo); fala mantenha, partir mantenhas = saudar.
[Da locução portuguesa (que Deus te) mantenha)]

"mantenha", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/mantenha [consultado em 12-01-2019].


Marabu - Sacerdote muçulmano, de vida ascética, considerado sábio e venerado como santo, tanto em vida como depois da morte

Mário Soares - Famoso comerciante de Pirada, de quem se dizia que trabalhava para os "dois lados"


Marmita - Mina A/C (Moçambique, Cancioneiro do Niassa)

Matador - Veículo automóvel pesado usado como reboque do obus (e transporte de tropas)

Mato (i) - Muito, grande quantidade, manga de (expressão comum, ´É mato') (gíria)

Mato (ii) - Zona de guerra, zona de controlo do PAIGC

Mec Aut - Mecânico de viaturas automóveis

Med - Médico (vg, Alf Mil Med)

Meta - Bar e salão de jogos, em Bissau, no tempo colonial

Metro e oito - Alcunha do Ten Cor Manuel Agostinho Ferreira (BCAÇ 2879, 1969/71)

MG 42 - Espingarda-metralhadora, de origem alemã (usada por páras e fuzos)

MGF - Mutilação Genital Feminina; excisão do clitóris e grandes lábios; fanado

MiG 17 - Avião de combate de origem russa, supersónico (que o PAIGC nunca chegou a ter)

Mil - Miliciano; milícias [vd. Pel Mil]

Mindjer - Mulher (crioulo) 


Mindjer Garandi - Mulher grande (crioulo)
Minino - Menino, rapaz (crioulo). Vd. também djubi ou jubi. 

Misti - Querer, queres (bo misti) (crioulo)

ML - Met Lig / Metralhadora Ligeira

MNF - Movimento Nacional Feminino (fundado em 1961 por Cecília Supico Pinto, a Cilinha)

Morança - Casa, núcleo habitacional de uma família, alargada, com o respectivo chefe (de morança) e em geral com uma cercadura (crioula) 




Guiné> Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 (1964/64 >  O temível morteiro 81, o "botabaixo" (, em manobrado, fazia razias entre o pessoal atacante, num raio até 6 km).

Foto (e legenda): © Alberto Pires (Teco) (2007). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Mort - Morteiro

Mort 81 - Morteiro 81 mm; alguns tinham 'nomes de guerra' como o 'Bota Abaixo'

Mort 82 - Morteiro 82 mm (PAIGC)

Morteirete - Morteiro ligeiro, de calibre 60 (mm), podendo ser usado sem prato

MP - Met Pes / Metralhadora Pesada

MSG - Mensagem

Mudar o óleo - Ir às... putas (calão)

Mulas - Sintomas de sífilis, doença venérea (inchaços nas virilhas) (calão)

Mun - Municiador

Mun Mort - Municiador de morteiro

N/M - Navio da Marinha

Nharro - Africano; preto (crioulo, calão, na altura com sentido pejorativo, racista)



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém> Simpósio Internacional de Guileje > 1 de Março de 2008 > Grafito com o desenho nalú do irã protector da tabanca, o Nhinte-Camatchol, e que foi o logótipo do Simpósio, organizado pela AD -Acção para o Desenvolvimento, o INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesqusias, e UCB - Universidade Colinas do Boé. 

"O Nhinhe Camatchol é uma escultura dos nalus do Cantanhez usado na festa do fanado. Representa uma cbeça de pássaro com rosto humano, sendo a mensagem aos participantes deste ritual de iniciação à vida adulta a seguinte: que todos eles passam a considerar-se como verdadeiros irmãos, mais verdadeiros que os próprios irmãos biológicos. O que deve ser entendido como a afirmação do interessse colectivo, comunitário, acima do interesse dos indivíduos e das famílias. Orginalmente esta máscara não poderia ser vista pelos não iniciados, sob pena de morte" (Campredon, Pierre – Cantanhez, forêts sacrées de Guinée-Bissau. Bissau,Tiguena. 1997, pp. 32-33). 


Foto (e legenda): © Luís Graça  (2008). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Nhinte-Camatchol - O grande irã dos nalus na Floresta do Cantanhez

Ninhos - Entrada gastronómica com camarão, ovo e tomate, servida no Pelicano (gíria)

NM - Número mecanográfico (do militar)

NNAPU - Normas de Nomeação e de Apoio às Províncias Ultramarinas



Nord Atlas - Avião de Transporte (FAP)

NRP - Navio da República Portuguesa

NT - Nossas Tropa

OB - Oscar Bravo, obrigado (gíria)

Obus 14 - Obus, de calibre 14 cm

Oitenta - Morteiro de calbibre 81 (o PAIGC tinha o 82)

ONG - Organização não-governamental

Onze quatro - Peça de artilharia, de calibre 11,4 cm

Op - Operação (vg., Op Lança Afiada); operador)

Op Cripto - Operador Cripto

Op Esp - Operações especiais ou ranger

P2V5 - Avião de luta anti-sumarina, também usado no Guiné, no início da guerra, para ataque ao solo

Pachanga - Pistola-Metralhadora SHPAGIN Cal 7,62 mm M-941 (PPSH) (PAIGC);  costureirinha (gíria)

PAI - Partido Africano para a Independência, fundado em 1956

PAIGC - Partido Africano Para a Indepência da Guiné e Cabo Verde

Panga bariga - Caganeira (crioulo)

Parafusos - Familiares, amigos ou vizinhos de paraquedistas ou de fuzileiros, convivendo com ambos

Páras - Paraquedistas

Parte peso - Dá-me dinheiro (crioulo)

Partir catota - 'Dar o pito' (expressão nortenha); ter relações sexuais (a mulher com o homem) (calão)

Partir punho - Ser masturbado por outrem, à mão (crioulo, calão)

Pastilhas - Enfermeiro (em geral, Fur Enf) (gíria)

Patacão - Dinheiro, pesos (crioulo)

Pau de Pila - Lança Granadas-Foguete Pancerovka P-27 (PAIGC, gíria)

PC - Posto de Comando

PCV - Posto de Comando Volante 


Peça 11,4 - Peça de artilharia, de calibre 11,4 cm

Peça M-130 - Peça de artilharia de longo alcance, da Guiné-Conacri, usada em ataques fronteiriços pelo PAIGC-

Pel Caç Nat - Pelotão de Caçadores Nativos

Pel Can s/r - Pelotãod e Canhão sem recuo

Pel Mil - Pelotão de Milícias

Pel Mort - Pelotão de Morteiros

Pel Rec Daimler - Pelotão de Reconhecimento Daimler (Cavalaria)

Pel Rec Fox - Pelotão de Reconhecimento Fox (Cavalaria)

Pel Rec Info - Pelotão de Reconhecimento e Informação

Pelicano – Café. restaurante e esplanada de Bissau, junto ao estuário do Geba, na marginal do tempo colonial

Peluda - Vida civil (depois da tropa)(gíria) 


Perintrep - Periodic Intelligence Report

O Perintrep era uma documento classificado, elaborado pela 2ª Rep/QG/ComChefe/Guiné (, chefiada, no final da guerra, por Artur Baptista Beirão, ten cor inf) (1925-2014). Era elaborado a partir de notícias recebidas (Relim) durante um período semanal, indicando-se sempre a origem ou o órgão da fonte da notícia. O documento, classificado, chegava até aos comandantes operacionais (nível de companhia), que o tinham de incinerar no prazo de 72 horas... As informações nele contidas, devidamente selecionadas, podiam ser (ou não) partilhadas depois com os subordinados, individualmente ou em grupo.







Reprodução (parcial) do Perintrep nº 12/74, relativo ao período de 17 a 24 de março de 1974. Documento (digitalizado) por Nuno Rubim (2016) / Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2016)

Periquito - Militar novato; pira, piriquito (sic)

Peso - Unidade da moeda local; escudo guineense (no tempo colonial) (crioulo)

PG - Prisioneiro(s) de Guerra

Piçada - Repreensão de um superior (gíria)

Picador - Soldado ou milícia que faz a picagem

Picagem - Deteção de minas e armadilhas num trilho ou picada

PIDE/DGS - Polícia política portuguesa

PIFAS - Programa de Informação das Forças Armadas

Pil - Piloto (miliciano)

Pilão - Bairro popular de Bissau, muito frequentado pelas NT nas horas de lazer

Pilav - Piloto aviador, saído da Academia Militar (Os milicianos são apenas Pil) (FAP)

PINT - Pelotão de Intendência

Pira - Periquito, militar recém-chegado à Guiné; maçarico (Angola); checa (Moçambique)

Piurso - Pior que um urso, zangado (gíria)

Poilão - Designação comum a algumas árvores da família das bombacáceas. Ceiba Pentandra (crioulo)

Ponta - Herdade, exploração agrícola (crioulo)

Pop - População

Porrada - Contacto com o IN; punição disciplinar (gíria)
PPSH - Metralhadora ligeira, 7,72 mm (PAIGC; a famigerada 'costureirinha' (gíria)

Psico - Acção psicológica e social das NT junto da população (também Psique)

QG - Quartel General

QG/CCFAG - Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné), na Amura

QG/CTIG – Quartel General do Comando Territorial Independente da Guiné, em Santa Luzia 


QEO - Quadro Especial de Oficiais

QP - Quadro Permanente (Pessoal)

Quarteleiro – 1º cabo de manutenção de material

Quebra-costelas - Abraço, AB, Alfa Bravo (gíria, de origem alentejana)

Quico - Boné especial da tropa

Rabecada - Vd. piçada (gíria)

Racal - Equipamento portátil, de origem americana, podendo ser usado em viaturas e aviões, transmitindo em fonia entre as frequências de 38 a 54,9 Mc/s.

RAL - Regimento de Artilharia Ligeira

RCacheu - Rio Cacheu

RCorubal - Rio Corubal

RCumbijã - Rio Cumbijã

RDM - Regulamento de Disciplina Militar

Ref - Militar na Reforma

Reforço - Aumento das medidas de segurança dos nossos aquartelamentos

Reordenamento - Aldeia estratégica, construída pelas NT, reagrupando uma ou mais tabancas

Rep - Repartição (do Quartel-General)

REP / ACAP - Repartição do QC / Assuntos Civis e Acção Psicológica

Res - Militar na Reserva

RFOTO - Reconhecimento fotográfico (FAP)

RGeba - Rio Geba

RI - Regimento de Infantaria

RN - Reserva Naval (Marinha)

Rockets - Granadas lançadas pelo RGP 2 ou RPG 7 (PAIGC)

Rôz kuntango - (ou simplesmente Kuntango) Arroz cozinhado (bianda) sem máfé (crioulo)

RPG - Lança-granadas-foguete (PAIGC): havia o 2 e o 7

RVIS - Voo de reconhecimento aéreo (FAP)

SA-7 - Míssil Sam-7, Strela, de origem russa (PAIGC)

Sabe sabe - Gostoso (crioulo)

Sakalata - Confusão, conflito, chatice (crioulo)

Salgadeira - Urna funerária, caixão (gíria)

SAM - Serviço de Administração Militar

Sancu - Macaco (crioulo)

Sec - Secção; equipa (Um Gr Comb ou pelotão era composto por 3 Sec)

Setor L1 - Setor 1 da Zona Leste (Bambadinca, Região de Bafatá)

Sexa - Sua Excelência, mas também Sexagenário

SGE - Serviço Geral do Exército; oficiais oriundos da classe de sargentos

Siga a Marinha - Embora, vamos a isto! (gíria)

Sintex - Pequena embarcação, de fibra, com mortor fora de bordo, de 50 cavalos, usado para cambar um rio; parecia uma banheira (NT)

SM - Serviço de Material (vd. Ferrugem)

SNEB - Rocket antipessoal, de calibre 37 mm, que equipava o T-6 e que também era usado pelos paraquedistas e demais tropas como LGFog

Sold - Soldado

Sold Arv - Soldado Arvorado

Solmar - Cervejaria de Bissau, do tempo colonial

SPM - Serviço Postal Militar

Srgt - Sargento

STM - Serviço de Transmissões Militares

Strela - Flecha, em russo (стрела); míssil russo terra-ar SAM 7

Suma - Como, igual (crioulo)
Supintrep - Relatório de informação suplementar (Vd. Perintrep)

Supositório - Granada de obus (gíria) 





Guiné > Bissau > Bissalanca > BA 12 > Fiat G-91 R4: linha da frente da esquadra 121, "Os Tigres"


Foto (e legenda): © Mário Santos (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


T/T - Navio de Transporte de Tropas (v.g., T/T Niassa, T/T Uíge)

T6 - Avião bombardeiro, monomotor; equipado c/ lança-roquetes e metralhadora (NT)

Tabanca - Aldeia (crioulo); mas também morança, cubata, casa: mas também tertúlia (v.g., Tabanca de Matosinhos)

Tabanca Grande – A mãe de todas as tabancas ou tertúlias de antigos combatentes da Guiné (v.g., Tabanca de Matosinhos, Tabanca do Centro, Tabanca da Linha, Tabanca dos Melros, Tabanca da Maia, Tabanca do Algarve, Tabanca da Lapónia, etc.) 

Tarrafe - Vegetação aquática, típica das zonas ribeirinha

Taufik Saad - Casa comercial, de origem libanesa, em Bissau


Taxy Way - Caminho de rolagem (FAP)

Tchora - Chorar (crioulo)

Tem manga di sabe sabe - Muito gostoso (crioulo)

Ten - Tenente

Ten Cor - Tenente-Coronel

Ten Gen - Tenente General, antigo general de 
3 estrelas [Posto reintroduzido no Exército Português em 1999, em substituição do posto de general de 3 estrelas; é a mais alta patente de oficial general no ativo, já que os postos superiores são apenas funcionais ou honoríficos: por exemplo, chefe do estado maior general].

Tertúlia – Tabanca Grande

TEVS - Transporte em evacução (FAP)

Tigre de Missirá - Nome de guerra (Alf Mil Beja Santos, Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70)

Tigres - Esquadra de Fiat G-91, na BA 12

TN - Território nacional

TO - Teatro de Operações

Toca-toca - Transporte colectivo, privado, nas zonas urbans da Guiné-Bissau (carrinha tipo Hyace, de cores azul e amarela) (crioulo)


Guiné > Regoão de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) + CART 2520 (1969/70) > Op Safira Única, 21 de janeiro de 1970, no subsetor do Xime, nas proximidades da Ponta do Inglês

Uma pistola de origem soviética, Tokarev, de 7,62, igual ou parecida à que que foi apreendida ao guerrilheiro Festa Na Lona, na Ponta do Inglês, no decurso da Op Safira Única ... Pelo que me recordo, esta pistola ficou à guarda do alf mil Abel Maria Rodrigues, comandante do 3º Grupo de Combate da CCAÇ 12 (onde eu muitas vezes me integrei, conforme as faltas de pessoal...) , que a tomou como ronco... Não sei se a conseguiu trazer para a Metrópole e legalizá-la... Ao que parece, esta arma teve a sua estreia na Guerra Civil de Espanha, em 1936, nas fileiras do exército republicano, estando distribuída a pilotos e tripulações de tanques, entre outros... (LG). 

Fonte: Kentaur, República Checa (2006) [página já não disponível]

(...) Por volta das 15. 30h, já nas proximidades do objectivo, foram notados indícios de presença humana: trilhos batidos, moringas nas palmeiras para recolha de vinho e um cesto de arroz.

Seguindo um dos trilhos, avistou-se um homem desarmado que seguia em direcção contrárias às NT. Capturado, informou que ia recolher vinho de palma, que a tabanca ficava próxima, que não havia elementos armados e que a maior parte da população estava àquela hora a trabalhar na bolanha.

Feita a aproximação com envolvimento, capturaram-se mais 2 homens, 5 mulheres e 6 crianças. Um dos homens capturados disse chamar-se Festa Na Lona, de etnia Balanta, estar alí a passar férias e pertencer a uma unidade combatente do Gabu. Foi-lhe apreendido uma pistola Tokarev (7,62, m/ 1933) e vários documentos.

Havia 2 tabancas, cada uma com 4-5 casas, afastadas umas das outras cerca de 200 metros. Cada casa era revestida de chapa de bidão e coberta de capim. Para o efeito foram aproveitados os bidões existentes no antigo aquartelamento da Ponta do Inglês que as NT haviam retirarado  em novembro de 1968.

Foram destruídos todos os meios de vida encontrados e incendiadas casas, a excepção das que ficaram armadilhadas. Os 2 Dest executaram toda a acção sem disparar um único tiro. A  retirada fez-se igualmente a corta-mato em direcção de Gundagué Beafada, tendo-se chegado ao Xime pelas 18.30h. Durante a noite, a Artilharia fez fogo de concentração sobre os acampamentos IN do Baio/Buruntoni e Ponta Varela/Poindon. (...)

Fonte: Extractos de: História da CCAÇ. 12: Guiné 1969/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores 12. 1971. Capítulo II. 24-26.


Tokarev - Pistola de calibre 7,62 mm, de origem soviética (PAIGC)

TPF - Transmissões Por Fios

Trms - Transmissões

Tropa-macaca - Por oposição a tropa especial (páras, comandos, fuzos)

TSF - Transmissões Sem Fios

Tuga - Português, branco, colonialista (termo na altura depreciativo) (crioulo)

Turpeça - Banquinho, de três pés, onde se sentam em exclusivo os régulos felupes

Turra - Terrorista, guerrilheiro, combatente do PAIGC (termo n a altura depreciativo)

Ultramarina - Sociedade Comercial Ultramarina, ligada ao grupo BNU; rival da Casa Gouveia.

Uma larga e dois estreitos - Galões de tenente-coronel

UXO - Unexploded (Explosive) Ordenance (em inglês); Engenhos Explosivos Não Explodidos (em português)

Velhice - Militares em fim de comissão (gíria)

Vietname - Guiné, para lá de Bissau; mato

ZA - Zona de Acção

Zebro - Barco de borracha com motor fora de borda, usado pelos fuzileiros

ZI - Zona de Intervenção (do Com-Chefe)

ZLIFA - Zona Livre de Intervenção da Força Aérea

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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


30 de dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2389: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (6): Racal (José Martins)

29 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2388: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (5): Periquito (Joaquim Almeida)

26 de junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1887: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (3)... (Zé Teixeira)