José Belo, ex-alf mil, CCAÇ 2381 (Ingoré,
Buba, Aldeia Formosa, Mampaté e Empada,
1968/70); cap inf ref, jurista, criador de renas,
autor da série "Da Suécia com Saudadr";
vive na Suécia há mais de 4 décadas; régulo da
Tabanca da Lapónia; tem cerca de 170 referências
no nosso blogue
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1, Mensagem de José Belo:
Date: sexta, 31/07/2020 à(s) 08:29
Subject: Respondendo a pergunta (em comentário) de Valdemar Queiroz (*)
Apesar dos saques efectuados pelas tropas suecas, um pouco por toda a parte no Norte e Centro europeus aquando da Guerra dos 30 Anos [1618-1648], as riquezas obtidas foram delapidadas tanto com o enorme aparelho militar como na aquisição de vastas propriedades e sumptuosos palácios por parte da aristocracia que participara, direta ou indiretamente, na guerra.
A fome e pobreza, tanto rural como entre o proletariado das cidades, não foi diminuída por esta afluência de capitais.
Esta continuada falta de soluções sociais levou a que, nas décadas que se seguiram à guerra civil Norte Americana (1861-1865), uns bons milhares de famílias suecas, principalmente rurais, tenham sido obrigadas a emigrar para os Estados Unidos, literalmente para sobreviver à fome!
O censo Americano de 1890 mostra uma população sueco-americana de cerca de 800.000 indivíduos, número muito considerável tendo em conta a população sueca de então.
Curiosamente a maioria das famílias suecas escolheu o Estado da Minnesota para se estabelecerem no novo país. Estado bem a Norte, fronteiro ao Canadá, onde a natureza nos seus inúmeros lagos e rios, assim como frio intenso e muita neve, certamente os fez sentir... em casa!
A influência escandinava continua muito forte neste Estado, tanto racial como cultural. Inúmeras pequenas cidades com nomes suecos, assim como lojas, restaurantes com pratos regionais suecos, dialeto e festas tradicionais, somando-se um actualmente muito forte intercâmbio cultural entre universidades locais e suecas.
A reviravolta económica e industrial sueca surge intimamente ligada à sua "neutralidade". Deve ser recordado não ter o país participado em qualquer guerra desde os tempos de Napoleão, sendo caso único a nível europeu estes 200 anos contínuos de paz.
Neutralidade sempre extremamente armada(!) por uma indústria nacional de guerra a níveis aéreos, navais e terrestres que lhe permite uma independência em relação aos fornecedores destes materiais e a todas as "condições" sempre por eles impostas.
As exportações da vasta indústria de material militar, hoje muito sofisticado a nível aéreo, naval e, não menos, espacial (!), faz entrar nos cofres do Estado receitas importantíssimas... "made in Sverige".
Com o fim da segunda guerra mundial, e enquanto as potências europeias se encontravam com as suas indústrias em condições mais do que precárias, todo o parque industrial, e exploração mineira, da neutral Suécia funcionava em pleno.
Os importantes meios de transportes, marítimos, aéreos, ferroviários, e autoestradas, estavam também intactos.
Muito do material industrial e de construção utilizado pelo plano Americano Marshal na sua reconstrução da Europa (e não menos da fundamental Alemanha) foi comprado na Suécia e por ela transportado para os locais necessários.
A proximidade geográfica da Suécia em relação aos países necessitados vinha diminuir muito consideravelmente os custosos transportes, caso contrário em longas viagens transatlânticas desde os Estados Unidos.
A partir deste importante período, de enormes entradas de capital que vieram permitir toda uma expansão económica e industrial, surge a "revolução" social democrata que acabou por construir a Suécia dos nossos dias.
Com todos os seus defeitos e limitações mas... também com as realidades sociais que a colocam a muitas dezenas de anos (para não escrever centenas!) de avanços em relação a outros países. Os Estados Unidos incluídos!
De resto... Nada de novo sob o Sol.
Um abraço do J. Belo
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Nota do editor:
(*) Vd. Último poste da série > 30 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21210: Da Suécia com saudade (79): Os "espigueiros ou canastros" nórdicos, no museu ao ar livre de Skansen, Estocolmo (José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia)