domingo, 16 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6405: Do meu álbum fotográfico (Arménio Estorninho) (1): Bissau - Um olhar de turista

1. Mensagem de Arménio Estorninho* (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), com data de 15 de Abril de 2010:

Com cordiais saudações a Carlos Vinhal e a todos “Os Tertulianos Tabanqueiros.”
Dando um ar de lembranças pela minha passagem por Bissau, onde aliviei o meu stress e mais parecendo um turista na procura de souvenirs.

Recordando com saudade, com um bloco de imagens de referências sobre a cidade de Bissau que achei interessantes, obtidas de Janeiro a Março/70.

Bissau, como a conheci, era uma cidade pequena, em que a parte urbana (casario de alvenaria) seria idêntica à da minha Lagoa (hoje tembém cidade). Era suficientemente perceptível que a grande maioria dos que se apresentavam como civis eram militares “camuflados à paisana” e/ou seus familiares e parecendo uma cidade cheia de movimento.

Aquando do aproximar do regresso à Metrópole dos militares em fim de comissão de serviço, era ver um movimento inusitado nos estabelecimentos comerciais. Pela minha parte e bem informado, fui comprando muito antes da chegada do navio para o embarque, regateando aqui e além, o que me favorecia obter preços mais acessíveis.

Na baixa de Bissau, tanto de noite como de dia, era ver em grupos os “camuflados à paisana” nos diversos estabelecimentos similares e de restauração, de uma forma geral tudo se movimentava com os militares. Lembrando entre outros: O Noé (dos pombos verdes e ostras), O Solar dos 10 (Restaurante), O Pelicano (na cave, as francesinhas e as inglesinhas), Cervejaria Império, Cervejaria Sol Mar e Esplanada do Bento (locais onde não faltavam as cervejas e os mariscos)

Do meu álbum fotográfico, recordando com um olhar sobre Bissau (1)

Foto 1> Bissau> Bandim> Sacor> (Av. Unidade da Guiné e Cabo Verde)> 1970> Local de paragem de viaturas militares e públicas, para transportes de passageiros.

Foto 2> Bissau> Zona de Brá> Estrada do Aeroporto> 1970> Mulheres grandes “Mindjeres garandis,” levando à cabeça grandes feixes de lenha.

Foto 3> Bissau> Parque Teixeira Pinto> Praça Combatentes da Liberdade> 1970> Parque infantil, as crianças divertiam-se sob a vigilância das mães e/ou amas.

Foto 4> Bissau> Praça Teixeira Pinto> (Praça Combatentes da Liberdade> 1970> Trecho do Parque e Estátua Teixeira Pinto (à esquerda estrada para Alto Crim e à direita para Bandim-Brá).

Foto 5> Bissau> Praça Teixeira Pinto> (Praça Combatentes da Liberdade> 1970> Árvore exótica em floração e fazendo um belo quadro.

Foto 6> Bissau> Av. Teixeira Pinto> (Av. Francisco J. Mendes)> 1970> Avenida urbanizada e tendo ao fundo o monumento na Praça do Império.

Foto 7> Bissau> Pilão (Cupelon de Cima> Mercado de rua> 1970> Vendedoras de farinha de mandioca (fuba) e outros.

Foto 8> Bissau> Pilão (Cupelon de Cima> 1970> Bando de jagudis (abutres) aguardando alguma rapinagem e/ou equilíbrio ambiental.

(Continua)
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 11 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6373: De Empada a Bissau (Arménio Estorninho) (2): Algumas aventuras em Bissau

Guiné 63/74 - P6404: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (9): Páscoa de 1968

1. Do nosso Camarada Torcato Mendonça, ex-Alf Mil AT Art da CART 2339, Mansambo, 1968/69, mais um Ao correr da bolha, desta feita lembrando a Páscoa de 1968:


AO CORRER DA BOLHA - IX

PÁSCOA de 1968

Abril, Domingo de Páscoa de 68


Ao certo a data não sei. A agenda diz catorze de Abril como a data do Domingo de Páscoa. Irrelevante para nós pois lá não haviam dias de semana.

Na melhor das hipóteses seria celebrado entre quinta-feira e domingo ou segunda-feira.

Recordo, isso sim, o que aconteceu.

Estávamos em Fá de Cima. Havia messe de oficiais e sargentos. Os soldados tinham refeitório e comida diferente. Em Mansambo a comida era igual para todos e, como vivíamos em abrigos, todo o resto era semelhante. Foi assim que nos ensinaram, à maioria dos graduados, que tiraram a especialidade em Vendas Novas.

Estávamos pois em tempo de Páscoa, tempo importante para a maioria dos militares da Companhia, tempo onde a família é mais fortemente recordada, tempo a ter cuidado com a quebra psicológica de muitos.

A maioria, mesmo os pouco ou nada dados à religião católica, gostaria de comemorar aquele dia.

Assim, mesmo na Guiné, resolveram comemorar e eu estava de acordo.

Só que isso viria a trazer-me mais um aborrecimento com o Comandante da Companhia (o segundo, dos seis que tivemos - quatro capitães – dois do QP felizmente - e dois alferes).

Não comento mais:

- O 1.º Sargento já faleceu;

- Esse capitão só lá esteve mais uns dois ou três meses.

Os militares do meu Grupo, com a conivência dos furriéis, compraram para a festa dois ou três cabritos. Disseram-me e, por mim, tudo bem.

Havia o espírito do Grupo de Combate mas, logicamente neste caso o espírito de união da Companhia prevalecia. A comemoração iria ser conjunta certamente. Penso eu pois era um dia festivo, dia de estar com a família e amigos. Ali, naquela terra distante, local de perigo, essa necessidade seria maior. Acresce ainda a vontade de esquecer, por breves momentos a guerra.

A Companhia era de intervenção ao BART 1904, logo fazia Operações, patrulhamentos, rusgas, montava emboscadas, seguranças a Mato de Cão e toda a actividade operacional do Batalhão.

Antes da Páscoa, fizemos um patrulhamento e emboscada. Segue-se uma segurança a Mato de Cão. Chegamos já tarde a Fá e disse para os militares descansarem até mais tarde no dia seguinte.

Desconhecia que o Comandante da Companhia tinha regressado de uma das suas saídas. Esta a Bissau creio eu.

A meio da manhã do dia seguinte, talvez por volta das nove ou mesmo dez horas, um dos furriéis veio falar comigo.

- O Capitão suspendeu tudo o que a Companhia tinha preparado para o dia de Páscoa. Os nossos chegaram atrasados à formatura e há problema.

Respondi que ia tratar do assunto.

Falei com o Capitão, disse o que se havia passado e o porquê do atraso. Do resto nada disse. Ele é que comandava e o assunto era com ele.

Tudo resolvido. Fui falar com o Grupo e trocamos breves palavras. As suficientes. Tudo esclarecido e cada um foi à sua vida.

O almoço no refeitório dos soldados era normal.

Na messe havia comida diferente a querer dizer: - É Dia de Páscoa.

Recusei-me a almoçar. Troca de palavras menos próprias e abandonei a mesa.

Passado um pouco, um dos alferes veio falar comigo ao quarto. Estava triste. Homem casado sofria certamente mais do que eu. Mostrei-lhe “ O Meu Diário”.

Folheou e disse:

- Não escrevas. Destrói isto. Na porta tens “I’m free” e com isto ainda tens problemas. Hoje sinto-me deprimido e desabafou um pouco…

Segui o conselho de uma pessoa mais calma, menos sanguínea. Ficou a recordação e os cabritos que nos acompanharam para Mansambo. Um deles, não comprado, a levantar problemas… coisas de bodes.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6388: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (8): Promessas

Guiné 63/74 - P6403: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (29): Do Inferno ao Paraíso

1. Mensagem de Luís Faria (ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 10 de Maio de 2010:

Caro Vinhal
Mais um pouco da “Viagem…” da 2791 por terras da Guiné, assumindo um dever a que foi chamada e cumprido com dedicação e orgulho por todos os que dela fizeram parte.

Um abraço
Luís Faria


Viagem à volta das minhas memórias (29)

Do Inferno ao Paraíso


À conta e força de vários, variados e sofridos “passeios ecológicos” (dir-se-ia hoje?!) pela Natureza e natureza das matas “Balangreanas”, começámos a conhecê-las minimamente e aos seus meandros imprevisíveis.

Diga-se em abono da verdade que havia zonas de Paraíso e de Inferno, onde numas e noutras, se “passeavam” gentes diabólicas”. Quando a linha dos “azimutes” calhava de se interceptar, … suavam as “trombas” e soavam as trompas. As espadas e os tridentes enfrentavam-se com fogo, em nome e defesa de uma “verdade”(?) comum a ambos os contendores: aquela terra era considerada ser de sua pertença! Estávamos a ter tempos complicados.

A trinta de Julho a CCAÇ 2791, FORÇA, a 3 GCOMB sai de Teixeira Pinto com “guia de marcha” para Bissau, onde vai tomar parte e ajudar na segurança de proximidade das chamadas “gentes do ar condicionado”, das suas “comodidades civilizacionais” e não só, já que corria à boca pequena que o Amílcar Cabral estaria disposto “sentar-se” na cadeira do Governador Spínola ?!?!

Já não tenho a certeza, mas creio que com o mesmo objectivo de segurança, também se deslocaram para lá efectivos dos Comandos,Páras e Fuzos à mesma estacionados em Teixeira - Pinto.

Devo confessar que sentimos um certo orgulho por nos ter sido atribuída essa missão, que julgámos ser sinal de reconhecimento meritório do nosso passado de intervenção activa.

A par de sentirmos esse orgulho, ficámos contentes e aliviados por nos terem dado esse ”trabalho”, já que em princípio ele seria sinónimo de “não porrada” naquelas matas meias lixadas em que por dá cá aquela palha se “apanhava nos cornos” (salvo seja!). Um gajo nem uma “mijadela” descansado atrás de uma árvore podia dar sem estar sujeito a que nos mandassem uns tiraços aos “tomates”!! Para fazer uma “evacuação fisiológica” era precisa a presença de um “bi- grupo de assistentes”…!! Que o diga quem por lá andou!

Esse orgulho ficou patente aquando da apresentação do Pessoal. A disciplina, o porte e o garbo traduziu-se espectacularmente nos batimentos e movimentos às ordens em Parada, não deixando os créditos por mãos alheias e pouco ou nada ficando a dever à Tropa Especial, comparativamente e nessa matéria, salvaguardando claro, a diferença de estilos.

Para além do mais, todo aquele armamento que usávamos dava na vista por sermos tropa “macaca”, tendo para mim que despertámos a curiosidade em muito boa gente que nos observou. O nosso Capitão Mamede, ”Miliciano de gema”, ficou ufano, ao que recordo! A sua Rapaziada da 2791 - FORÇA era assim e sei que ele se orgulhava e confiava nela e na sua homogeneidade de comando.

Aqui na cidade Capital, tudo seria na certa muito melhor! Umas “férias” sem contar eram um belo prémio. Tínha-nos saído a sorte grande!

A base da CCAÇ 2791 passa a ser o AGRBIS e os seus objectivos serão os patrulhamentos, escoltas, vigilância, emboscadas… assim como assumir posição de destaque em serviços de Bissau, como policiamento, segurança e guarda de instalações consideradas objectivos estratégicos.

Para concretizar estas directivas, os três GCOMB actuaram ao nível de GR ou de secção, conforme a necessidade. Ao meu 2.º GRUPO coube basicamente a segurança e defesa das instalações dos serviços de distribuição de água, na “Mãe de água”; “Central Eléctrica”; ”Emissora de Rádio”, para além de policiamento de Bissau. Para tal fraccionou-se em secções que alternavam creio com as do 4.º GCOMB. O meu Comando fixou-se, ao que recordo, na esquadra (?)da “Mãe de Agua” onde a Polícia, se a memória me não atraiçoa, me ficou subordinada. Daí fazia as inspecções às instalações onde a segurança era feita pelo meu Pessoal, uns patrulhamentos em viatura pela cidade permitindo-me conhecê-la um pouco melhor.

Nas “folgas”, que também as tínhamos, aproveitava-se para mergulhar mais fundo no “banho de civilização” inesperado e as capelinhas em lugares mais ou menos “esquisitos”, com maior ou menor chamamento à sensatez, não eram evitadas,…pelo menos em grupo, não tendo havido ao que sei, quaisquer tipos de incidentes “carnais” à conta de venais “criaturas” insinuantes, de diversas belezas e colorações!!

Na esplanada do “Bento” descansava-se a vista à fresca de umas loirinhas com “camarão - tremoço” observando o bambolear corporal feminino passeante que, coisa estranha, naquelas coordenadas e para mim, tinha outro “sabor”, vá-se lá saber porquê!!

“Pira” que aparecesse por lá era quase de imediato detectado e posto à prova com conversas vizinhas não directas mas audíveis, sobre acontecimentos bélicos terríveis e desastrosos que punham na certa o “desgraçado” com vontade de dar corda aos braços e nadar de volta a casa!! Depois vinha a intromissão:

- Donde és?

- …

- Para onde vais?

- …

É pá, calhou-te um dos piores sítios. É uma zona f…, estão sempre a “embrulhar”!Tiveste um azar do car… pá! F… pá nem queiras saber… ainda ontem…!!!”

As “conversas” do fiz e aconteci narrando feitos guerreiros dignos de filme também eram por vezes audíveis, emanadas por bocas em rostos não tisnados, prendendo a atenção de recém-chegados e não só!

Enfim, ditos “moralizadores” deste estilo “ajudavam à adaptação“ e punham um “Pira” a ver “turras“ em tudo o que era sítio!!!

No entretanto, as “loirinhas”… iam-se acumulando em cima da mesa!! Era uma parte da vida no dia-a-dia de uma cidade em que as fardas eram omnipresentes, fazendo pressentir uma guerra que se passava lá mais para longe. Para mim(nós) era o Paraíso!

Um abraço para todos

Luís Faria

Bissau > Esplanada do Bento

Bissau > Av da República

Fotos: © Luís Faria (2010). Direitos reservados.

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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 23 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6231: O 6º aniversário do nosso blogue (26): Parabéns Luís Graça por este Espaço de Memória Futura (Luís Faria)

Vd. último poste da série de 14 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6156: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (28): Teixeira Pinto - O Bolo

Guiné 63/74 - P6402: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (20): O Nosso Veterano... do Rugby, Paulo Santiago, a jogar em casa, no dia 12 de Junho próximo


Inserido do programa da 7ª edição da Feira da Vinha e do Vinho de Anadia, vai realizar-se no dia 12 de Junho próximo, em Moita, Anadia, o 6º Torneio Internacional de Veteranos, para comemoração do 35º aniversário do Moita Rugby Clube da Bairrada (1975-2010)...


1. Quem havia de dar a cara ao cartaz (promocional) e à iniciativa ? O nosso mui querido camarada Paulo Santiago, que é natural do concelho ao lado (os de Anadia e de Águeda são bons vizinhos, melhores amigos mas também terríveis rivais, eles mais os da Mealhada, em matéria de... leitão da Bairrada!... Em contrapartida têm em comum o rugby, a paixão pelo rugby)...

Parabéns ao Paulo não só pela veterania como sobretudo pela invejável juventude que ele respira (e transpira) por todos os poros. E a propósito deixem-me dizer-vos que o blogue do Moita Rugby da Bairrada transcreveu, em 14 de Janeiro, último o hilariante texto, da autoria do Miguéis, publicado no nosso blogue no dia de anos do Paulo (*). À guisa de introdução, faz-se uma pequena homenagem ao Paulo, jogador veterano e dirigente desta modalidade

"O blog do nosso clube é essencialmente um espaço para divulgação do rugby. Privilegiamos, como é natural, temas relacionados com o clube da Moita e de tudo o que, de uma ou de outra forma, esteja relacionado.

"Por isso mesmo, não podiamos deixar de publicar neste nosso espaço, um maravilhoso texto que encontramos num blog de antigos combatentes portugueses na Guiné, http://www.blogueforanadaevaotres.blogspot.co/ , que virtua um nosso antigo atleta (hoje veterano e ex-presidente do clube) Paulo Santiago, personagem muito querida para todos nós, sempre disponível para o que quer que o clube necessite. É inclusíve o actual Presidente da Assembleia Geral da nossa colectividade.


"Foi escrito por um colega seu de armas e presta também uma homenagem interessante ao rugby, tendo em conta a época a que se refere (anos 60)"...





2. Comentário do Paulo, com data de 14 de Janeiro, ao referido poste:

Esta história do meu camarada e amigo Mário Miguéis foi uma agradável surpresa que ele e o blogueforanadaevaotres, resolveram fazer-me no dia 6 de Janeiro, dia em que fiz 62 anos.

Esta história é ficção, mas existe alguma verdade... da primeira vez que vim de férias, passados nove meses de mato, já bastante apanhado pelo clima, comprei em Coimbra uma bola, ADIDAS, o melhor que havia na altura, e transportei-a para a Guiné.

Esclareço, os meus soldados eram negros guineenses, jamais tinham ouvido falar num desporto chamado Rugby, a única bola que conheciam era redonda, e no futebol tinha uns craques, agora imaginem os tipos a olharem para uma bola que parecia uma papaia... não havia melões na Guiné.

Após uma palestra explicativa, houve um treino... o Saltinho, grande azar, seria dos poucos locais na colónia onde existiam bastantes afloramentos de rocha, não existia um campo pelado, existia um campo pedrado.

Ninguém partiu nada, mas houve umas escoriações e uns encontrões mais ou menos violentos... o Alferes Médico, o tal Dr. Faria, aconselhou-me a meter a bola no saco...

Abraço aos amigos do Moita,

Paulo Santiago
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Nota de L.G.:


(*) Vd. poste de 6 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5598: Parabéns a você (63): Paulo Santiago, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Mário Migueis / Editores)

Guiné 63/74 - P6401: Blogoterapia (149): Com os Gringos de Guileje, e com o nosso blogue, mantendo viva a chama de uns velhos, ontem miúdos, combatentes (Amaro Samúdio, CCAÇ 3477)


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3477, Os Gringos de Guileje (Novembro de 1971/ Dezembro de 1972) > O Munoz Samúdio, que era 1º cabo enfermeiro, junto à peça de artilharia 11, 4 cm . Ao fundo vê-se a fiada de arame farpado. E, em primeiro plano, "a nossa cadela Lolita que veio de Gadamael", como fez questão de me chamar a atenção o Samúdio.

Foto: © Amaro Samúdio (2006). Direitos reservados.


1. Mensagem, de hoje, do Amaro Samúdio, a propósito do 4º Encontro da CCAÇ 3477 e de uma mensagem de Junho de 2007 que andava para aí "perdida" (enviada para a minha caixa de correio pessoal), relativa à Op Muralha Quimérica (Guileje, 27 de Março a 8 de Abril de 1972), em que participaram forças do BCP 12, do Batalão de Comandos Africanos e da CCAÇ 3477).

Luís: Mas o que interessa isso... É mais uma estória ou história no TO da Guiné de uma Companhia, neste caso de Açorianos, que tem, como todos os anos em que nos encontramos, situações que só é possível contar por quem lá passou.

Luís Graça, eu sempre fui um anti-regime. Os Gringos sabem-no. Hoje, depois do 25 de Abril, como Ex-Combatente, com letra grande, sou-o também.

Não posso admitir, e permanente tento fazer ouvir a minha revolta, que quem perdeu anos de vida, anos de juventude, anos de convivências com os seus filhos, como foi o meu caso, não tenha direito à paz e à medalha que lhe é devida. À Reforma e ao Louvor, por ter sido ANTIGO COMBATENTE, que lhe são devidos.

Fico-me por aquí.

Um Grande Abraço e um sincero agradecimento por manteres viva a chama de uns velhos, ontem miúdos, Antigos Combatentes.

Amaro Samúdio (**)


2. Comentário de L.G.:



Amaro: Ficou feliz por saber que vocês continuam a encontrar-se todos os anos, desde 2007, ano em que, em parte devido ao nosso blogue, e sobretudo graças aos teus esforços, do Fernandes Mendes e do Amândio Pires, foi possível juntar os Gringos de Guileje, pela primeira vez, depois do regresso da Guiné, em 1973...


Fico feliz por saber que continuas a visitar o nosso blogue. Espero voltar a reencontrar-te em Matosinhos, um dia destes. 


Entendo a tua revolta e frustração, como antigo combatente. Conto contigo e com os demais Gringos para manter, activo e produtivo, este espaço de diálogo e de convívio que é o nosso blogue. Irei publicar, em breve, o teu texto sobre a Op Muralha Quimérica.

Um Alfa Bravo. Luís


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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1869: Convívios (19): Os Gringos de Guileje, a açoriana CCAÇ 3477, encontram-se ao fim de 33 anos! (Amaro Samúdio).

(...) Em 19 de Maio do corrente ano Os Gringos, como se intitularam, encontraram-se em Montemor-O-Velho. Já lá vão 33 anos que não sabíamos de ninguém. Hoje cerca de 50 já sabem que não morremos. Dos diversos Distritos da Metrópole e dos Açores, de França, da Alemanha,dos EUA, estamos ligados.

Naturalmente temos tido algumas más notícias. São 33 anos. Sentí que devia falar desta estória. Dois camaradas no mesmo dia foram feridos. Com um estive a almoçar. Outro morreu.

Imaginas, certamente, quanto difícil foi escrever estes acontecimentos mas há alturas em que contar, transmitir, falar, faz bem.

Isto de falar, e ouvir falar, da Guiné está a mexer com quem por lá passou e também com a ideia de, passados 35 anos, encontrar amigos que connosco estiveram nas longínquas terras da Guiné, nomeadamente em Guileje. Tm as partes boas mas também as más. (...)

(** ) Amaro Munhoz Samúdio, que vive em Matosinhos,  foi 1º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 3477 (Nov 1971/ Dez 73) , a companhia de açorianos que ficou conhecida como Os Gringos de Guileje: estiveram em Guileje entre Novembro de 1971 e Dezembro de 1972); foram a penúltima unidade de quadrícula de Guileje, sendo rendidos pela CCAV 8350 (Dez 1972/Mai 1973) - Piratas de Guileje.

Guiné 63/74 - P6400: Convívios (240): 4º Encontro da CCAÇ 3477 “Os Gringos de Guileje”, Águeda, 8 de Maio de 2010 (Herlânder Simões / Amaro Samúdio)


1. Os nossos Camaradas Herlânder Simões (ex-Fur Mil At Inf) e Amaro Munhoz Samúdio (ex-1º Cabo Enfermeiro), da CCAÇ 3477, "Gringos de Guileje” - Guileje - 1971/73, enviaram-nos notícias e fotos da festa da sua Companhia:


4º Encontro da CAÇ 3477 “Gringos de Guileje”
Camaradas,
Realizou-se ontem 8 de Maio, o 4º Encontro dos “Gringos de Guileje”, em Sangalhos, nas Caves Aliança.
A organização do evento, que foi excelente, esteve a cargo do ex-Fur Mil Manuel Albano Abrantes da Costa.
Foi um encontro bastante emotivo onde estiveram presentes, pela primeira vez, alguns camaradas dos Gringos.
Esteve ainda presente o ex-Alf Mil Manuel Reis dos “Piratas de Guileje”, a Companhia que rendeu os Gringos, em Guileje.

Uma boa cabidela de leitão e um excelente leitão bem regado, para além de uma colectânea de excelentes slides de Guiléje, que nos foram trazidos pelo Abrantes Costa.

Ficou já marcado o próximo encontro, que será organizado pelo nosso comandante o ex-Cap Mil Abílio Delgado, com a preciosa colaboração do ex-Fur Mil Parreiras.
O Amaro com o seu neto nas Caves e na Exposição do Berardo e, ao fundo, o ex-Capitão dos Gringos Abílio Delgado
Um Abraço,
Herlander Simões
Fur Mil At Inf, e
Amaro Samúdio
1º Cabo Enf da CCAÇ 3477

P.S. - O Herlander aproveita esta oportunidade, para agradecer publicamente ao seu Amigo e Camarada Amaro Samúdio, por ser um dos principais responsáveis pelos reencontros dos Gringos.
Miniguão de colecção: © Carlos Coutinho (2010). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
15 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6398: Convívios (154): 1º Encontro/Convívio das 3ª CCAÇ e CCAÇ 5 “Gatos Pretos” (José M. Martins)

Guiné 63/74 - P6399: Parabéns a você (114): Vasco da Gama, ex-Cap Mil da CCAÇ 8351, Cumbijã, 1972/74 (Carlos Vinhal / Belarmino Sardinha / Giselda e Miguel Pessoa / JERO / Manuel Maia)

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Figura notável da História de Portugal, Vasco da Gama,  o navegador, tem na actualidade um homónimo que não o desmerece.

Falamos do nosso, também temos um, Vasco da Gama, igualmente Capitão, mas de uma Companhia de Infantes do Séc XX.

Quis o rumo da História que fosse necessário que Vasco da Gama, o nosso, tivesse de servir Portugal, combatendo na Guiné, na vã tentativa de manter intacto o Império que Vasco da Gama, o outro, ajudou a construír.

Hoje, dia 16 de Maio de 2010, está de parabéns o ex-Capitão Miliciano, Vasco da Gama, Comandante da CCAV 8351, que andou por terras de Cumbijã nos idos anos de 1972/74.

A tertúlia, os editores e os camaradas intervenientes neste poste, vêm desejar ao nosso Capitão, que hoje seja um dos melhores dias de aniversário da sua vida, já que tem com ele mais de quatrocentos amigos a torcerem para que tenha uma longa vida, junto das pessoas que mais ama.


Mostramos agora duas fotos de Vasco da Gama distanciadas no tempo 36 anos:


Nesta foto (Aldeia Formosa, 1973), Vasco da Gama, com ar intrigado, pensando que não faz mesmo parte deste filme porque não está a entender a cena.

Nesta situação (Ortigosa, 2009, no IV Encontro Nacional do nosso blogue), como peixe na água, em conversa amena com um outro ilustre tertuliano, José Brás.


2. Vamos dar a palavra a três amigos do Vasco da Gama


Belarmino Sardinha

Aniversário do, não de, Vasco da Gama


Uma pequena diferença.

Comecei por ouvir falar de Vasco da Gama era ainda miúdo pequeno... Não pensei nunca vir a conhecê-lo pessoalmente...

Diziam-me que tinha feito uma descoberta… Desconhecia que era a de fazer amigos.

Pelo que sabemos hoje, terá conquistado os seus subordinados e as populações locais.

Com o seu bigodinho fino e porte altivo, este capitão miliciano só não tinha monóculo, talvez óculos escuros.

Hoje, com mais idade, bastante mais idade, não sei se o Vasco, ou o Vasquito, perdoem-me o abuso na familiaridade, tornou-se um amigo do peito, daqueles que sabemos serem-no,  mesmo quando tudo se desmorona à nossa volta.

Andámos por alguns dos mesmos locais. Nessa altura não tivemos o prazer ou a sorte de nos conhecermos, mas também não sei se teria sido bom, os tempos, a situação, o meio, as funções e a patente eram diferentes, poderiam ter sido um estorvo. Conheci-o através deste espaço muitos anos passados, mas não tenho dúvidas em afirmá-lo, hoje com mais experiência de vida do que na altura, que lhe confiaria o meu destino nas decisões que escolhesse.

Homem de princípios, por vezes com o sonho como meta de vida, torna-se intransigente, mas é essa a sua originalidade e a sua maneira de estar e obrigar os outros a partilharem com ele.

Honesto e dedicado,  tem dois estados que alternam na sua vida, a euforia e o desânimo.

Com todos estes predicados, mesmo subtraindo os aspectos menos positivos, é claro que encontramos um amigo.

Vale a pena ter amigos assim.

Obrigado, Vasco, por seres meu amigo.
BSardinha
16Mai2010

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José Eduardo Oliveira

Meu Caro Capitão Vasco da Gama


Como é que se pode sentir tanta proximidade por uma pessoa que, em passado recente, eu não sabia que existia!!?E como é que esse “desconhecido” do ano passado passou a ser tão importante na minha vida?

Não sei mas… ia jurar que esse é um dos “milagres” do blog do nosso Luís Graça.

Depois de tantos anos a falar sozinho – que era quebrado uma vez por ano nas reuniões da minha CCaç 675 – encontrei mais “irmãos” que me entendem e com quem posso falar a mesma língua de ex-militar.

O Vasco da Gama é um dos “pilares” nesta nova fase da minha.

E faz anos…  O que é que eu lhe hei-de oferecer que ele não já não tem?

Por uma destas coincidências que acontecem uma vez na vida estive recentemente uma conversa com o Presidente Cavaco Silva que visitou Alcobaça, e… falei-lhe no Vasco.

Vou resumir o diálogo com o PR.

Pedi para o Vasco da Gama uma comenda. E dei-lhe as minhas razões. E fui ouvido.

Vamos ter o nosso Vasco da Gama,  Comendador.

E com direito a uma Rua com o seu nome em Buarcos.

A placa está pronta e vai seguir pelo SPM.

Parabéns,  Grande Vasco. E não me agradeças.  Tu mereces tudo.

Um grande abraço cisterciense do teu amigo dedicado,
JERO

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Manuel Maia

Caro Vasco,


Nesta fase derradeira, neste ocaso das nossas vidas, somos confrontados, amiúde, com dias menos bons em que nos chamam velhos, cotas, eu sei lá que mais, umas vezes em tom de chalaça, outras nem por isso, se hipoteticamente "salta a tampa" em chatice da bola ou do trânsito, ou porque os olhos são desviados para uma silhueta de mulher à moda antiga com curvas em "su sítio", e há alguém que não gosta do ar misto de admiração e fome que nessas alturas, sem nos apercebermos, espelhamos no rosto...

Noutras situações somos nós próprios, por esta ou aquela razão, quantas vezes relacionadas com saúde nossa ou de familiares muito próximos, e, momentâneamente, deixámo-nos ir abaixo...

Foi pois neste sentido de contrariar essas situações por que todos passamos, às vezes, que optei por duas sextilhas algo satíricas, para darem alento, e outras duas mais sérias.

Quero finalmente desejar-te um domingo de aniversário prenhe de saúde e alegria extensivo aos teus, que te "aturam" nos bons e maus momentos e enviar-te um grande abraço de parabéns por esses 64 na corrida para os 100.

Do amigo reconhecido

Manuel Maia


Deixemo-los "gozar com a velhice"
dizendo que as barrigas são "chatice",
não ligues às bicadas dessas vozes...
Que interessa que o cabelo vá cair,
se sentes ser capaz d`inda partir
co`a dita, à martelada, muitas nozes?

Que importa que te chamem velho, cota,
que o peso desta idade já se nota,
porquê te incomodares sem razão?
A idade está na tola, sabes bem,
se a gatilhada vem e se mantém,
que interesse tem aquela afirmação?

Se um Gama, Vasco, foi navegador
das Índias, via mar, descobridor,
catando especiarias e riqueza...
um outro, capitão de igual valia,
as terras da Guiné demanda um dia,
em quadro de alta guerra e de pobreza.

Em ombros de esperança e fé, não nega,
responsabilidade em si carrega,
das vidas de que foi então tutor...
fiável, culto, dado, "camarigo",
maralha que levou, trouxe consigo,
proeza que engrandece o seu autor.


Manuel Maia
____________

Notas de CV:

Vd. postes no marcador Vasco da Gama e CCAV 8351

Vd. último poste da série de 10 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6358: Parabéns a você (113): Henrique José de Matos Francisco, ex-Alf Mil, 1.º CMDT do Pel Caç Nat 52, 1966/68 (Os Editores)

sábado, 15 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6398: Convívios (239): 1º Encontro/Convívio das 3ª CCAÇ e CCAÇ 5 “Gatos Pretos” (José M. Martins)

1. Mensagem de José Marcelino Martins (ex-Fur Mil, Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 8 de Maio de 2010:
1º Encontro/Convívio das 3ª CCAÇ e CCAÇ 5 “Gatos Pretos”

Em 24 de Abril do ano corrente, à hora aprazada reuniu-se uma centena de antigos militares e familiares da companhia dos Gatos Pretos.

Foi possível reunir com a presença de quase todos os Comandantes da Companhia, à excepção do Capitão Oliveira (que nos deixou em Março de 2007) e do Capitão Pacifico dos Reis (retido no Reino Unido, por motivos vulcânicos), proporcionando fazer a ponte entre a 3ª CCaç e a CCaç 5, provocando o convívio de várias “ninhadas de Gatos”.

Durante o almoço foi possível visionar várias imagens de elementos da companhia, uma produção José Corceiro, subdividida em vários temos: “Os que já partiram”, “Os que não puderam estar presentes”, “ A vida no Aquartelamento”, “A população da Tabanca”, etc.

Foram necessários 36 anos para que fosse possível este encontro, muitos dos presentes já não se reconheciam, outros não se encontravam há muitos anos, mas o “Cancioneiro de Canjadude” uniu todos, fazendo-nos voltar ao passado, que, apesar de ser de guerra, foi um passado de amizade e entreajuda.

Não será necessário passarem, nem 36 anos nem 36 meses, para nos voltarmos a encontrar.


Com um abraço,
José MartinsFur
Mil Trms da CCAÇ 5
___________

Nota de M.R.:

Guiné 63/74 - P6397: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (21): Fotogramas de um vídeo com o Honório (Jorge Félix)







São as imagens possíveis, para já, do Sargento Piloto Aviador, Honório, aqui acompanhado do Cap   Neto.

Fonte: Desconhecida (Cortesia de Jorge Félix)


1.Mensagem do Jorge Félix (ex- Alf Mil Pil Heli Al III, BA 12, Bissalanca, 1968/70)


Data: 13 de Maio de 2010 02:14
Assunto: Foto/frame do Honório


Caro Luís,

Sempre atento e leitor dos nossos postes, diariamente lá vou espreitando, pondo assim o tratamento das maleitas africanas no seu devido lugar.

Tenho na lembrança que pedias uma foto do Honório, figura lendária da "Guerra" da Guiné.

Não é uma foto, são uns fotogramas de um vídeo que "rola" por aí. Não te envio uma lenda mas sim duas. Junto está o Cap Neto, que o pessoal de Nova Lamego, Bafatá e Bambadinca,  dos idos de 68/69, devem recordar.

Uma foto que cheira a Gin, mesmo sem tónica.

Abraço
Jorge Félix

2. Comentário de L.G.:

Ainda, hoje, de manhã, falámos de ti!... Imagina quem e onde ? Eu e o Jorge Narciso... No mercado da Lourinhã, ele a comprar uns choquinhos e eu umas favinhas... que hão-de ser estufadas amanhã!... Não combinámos nada por telemóvel, porque ele quando chegou à Lourinhã, vindo do Cadaval, deu conta que a bateria estava descarregada... Por exclusão de partes, devem ter funcionado os nossos mútuos dons telepáticos. Estivemos apenas uns breves minutos a conversar... Foi então que ele me disse que tinha estado até às duas da manhã no Facebook, a falar contigo...

Obrigado pela tua boa vontade...  A qualidade dos fotogramas é mazinha, mas pode ser que alguém nos mande, um dia destes, material fotográfico muito melhor...  Tenho ideia de o ter visto em Bambadinca, duas ou três vezes... As imagens que recuperaste e que enviaste ajudaram-me um pouco a "reconstituir", mentalmente, a fisionomia esquecida do Honório... Do Capitão Neto, que eu julgava ter sido pára-quedista, do BCP 12, mas não era...  Um Alfa Bravo. Luís

Guiné 63/74 - P6396: O Spínola que eu conheci (21): Fiquei com óptima impressão do subalterno Comandante do Destacamento do Enxalé (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)

Guiné > Zona Leste > Mapa do Sector L1 (Bambadinca)  > 1969/71 (vd.  Sinais e legendas).

Fonte: História da CCAÇ 12: Guiné 69/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores nº 12. 1971

Infogravura: © Luís Graça (2005). Direitos reservados

Na época em que o BART (Bambadinca, 1970/72) foi responsável pelo Sector L1, a população  (fulas, balantas e mandingas) sob controlo das NT ou sob duplo controlo, recenseada, era da ordem dos 15 mil; por sua vez, estimava-se que  o PAIGC  controlasse cerca de 5000 habitantes, predominantemente balantas e beafadas  (a norte do Rio Geba, em Madina / Belel e ao longo da margem direita do Rio Corubal, de Seco Braima à Foz do Corubal: no croquis, os círculos a tracejado).  Sobre o Sector L1, vd. também um curioso documento do PAIGC, de 1968, já aqui publicado (*). 

______________


Continuação da publicação do Despacho do Com-Chefe, Gen Spínola, de 7/1/1971, relativo à visita de inspecção ao BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), um documento de 12 páginas (**)

(...) 8. Visita a Demba Taco em 15Dez70

 -Total abandono da população e das milícias.
- Defesa completamente descuidada.
- A milícia apresentou as armas em péssimas condições de limpeza.
- As crianças da Escola queixaram-se que o professor está sempre em Bambadinca, e que lhes falta material escolar.

[Tabanca fula, colaborante na defesa. 234 habitantes. Pel Mil 243 / Comp Mil nº 14].

9. Visita a Taibatá, em 15Dez70

 - Situação idêntica à de Demba Taco no que toca ao abandono da milícia e das populações do ponto de vista de defesa.
- A carta de tiro do morteiro (guarnição metropolitana) era teórica. O próprio pessoal declarou que em caso de ataque faria fogo “a ollho” Dispensam-se comentários a tal reacção.
- O armamento da milícia encontrava-se em péssimo estado, começando pelos comandantes que apresentavam as suas G-3 em muito precárias condições de limpeza.

[ Tabanca fula, colaborante na defesa. 228 habitantes. Sede do regulado do Xime. 1 Esq Pel Mort 2106 . Pel Mil 241 / Comp Mil nº 14]

 10. Visita a Amedalai em 19Dez70

 - A milícia desta tabanca encontra-se bem cuidada, tendo ficado com boa impressão do seu comandante.
 - As armas apresentavam-se bem limpas.
-  Há que rever o traçado doa arame farpado que se encontra fora da zona eficaz de tiro das armas de defesa.
- A população pediu que lhe fosse fornecido cimento para fazer as coberturas dos abrigos. Há que equacionar este problema em ordem a satisfazer o pedido.
- Foi chamada a atenção para a falta de material didáctico para a escola (cadernos, livros, etc.). Estas deficiências já deviam ter sido detectadas pelo Comando do Batalhão.

[Tabanca fula, colaborante na defesa. 160 habitantes. Pel Mil 242 / Comp Milicias nº 14]

 11. Visita a Enxalé em 15Dez70 

 - Fiquei com óptima impressão do subalterno Comandante do destacamento (***).  Trata-se de um elemento que, se lhe forem fornecidos os meios necessários, realizará obra válida no Enxalé.
- Sem qualquer justificação não se encontra fixada a ZA do Destacamento. A missão está mal atribuída e não se ajusta à presente situação. O Comandante do destacamento na falta de elementos actualizados tem lançado mão de documentos do passado.
 - Há que dar o necessário apoio técnico ao Comandante do destacamento para efeito de estudo da defesa do Enxalé cujo plano necessita ser revisto em ordem a englobar a tabanca, não se justificando a hipoteca de meios orientados para a bolanha do Rio Geba.
 - Falta a carta de tiro do morteiro 81.
- Há que remodelar os abrigos à luz das Directivas publicadas pelo CC.
 - O barqueiro do Enxalé pesca para o destacamento em zona vermelha, correndo os inerentes riscos. Há que equacionar o problema (pp. 8/9).

[ Povoação com 300 habitantes, colaborante na defesa. 1 loja comercial 1 Esq Pel Mort 2106 + 1 Gr Comb da CART 2715, Xime ] 

(Continua)

[Fixação / revisão de texto / notas em itálico dentro de parênteses rectos / título: L.G.]

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de

24 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5878: PAIGC: um curioso croquis do Sector 2, área do Xime, desenhado e legendado por Amílcar Cabral (c. 1968) (Luís Graça)

(**) Vd. postes anteriores:

 11 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6368: O Spínola que eu conheci (20): "Erros graves cometidos do ponto de vista de segurança explicam o êxito da emboscada do IN, em 26/11/1970, na região Xime-Ponta do Inglês" (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)

7 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6335: O Spínola que eu conheci (19): "Fiquei francamente mal impressionado com a visita à Companhia sediada em Mansambo" (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)

6 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6327: O Spínola que eu conheci (17): A visita de inspecção ao Xitole e às tabancas em autodefesa de Sinchã Madiu, Cambesse e Tangali em 16 de Novembro de 1970 (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)

6 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6326: O Spínola que eu conheci (16): A visita de inspecção ao BART 2917 e suas subunidades, Sector L1, Bambadinca, de 16 de Novembro a 19 de Dezembro de 1970 (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)



(***) Possível referência a um dos 4 alferes da CART 2715 (Xime, 1970/72) que tinha um Gr Comb destacado no Enxalé... Julgo que o  João Carlos Antão Fortes Rocha (que eu conheci, no último convívio em Coruche) esteve destacado no Enxalé... Mas também, podiam ser o Aníbal  de Sousa Gonçalves, o José Fernando de Andrade Rodrigues ou o João Manuel Mendes Ribeiro (este último viria a morrer em combate, em 4/10/1971, na temíovel zona do Poindon/Ponta do Inglês, no decurso da Op Dragão Feroz

Guiné 63/74 – P6395: Divagações de reformado (Pacífico dos Reis) (4): Politicamente incorrecto…

1. Mensagem de José Marcelino Martins (ex-Fur Mil, Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 14 de Maio de 2010:

Camaradas,

Remeto mais um trabalho do nosso amigo e camarada de armas Pacífico dos Reis, hoje Coronel na reforma, com mais uma das suas divagações.

Anexo segue o relatório da operação referida no texto.

Com um abraço de bom fim de semana,
José Martins
Fur Mil, Trms da CCAÇ 5

DIVAGAÇÕES DE REFORMADO

4 - Politicamente incorrecto…

Realmente a televisão é um veículo de transporte e incentivador das divagações de um reformado. Ultimamente, veio à luz do dia, nos telejornais, a notícia que um conhecido treinador de futebol teria sido hospitalizado por efectuado uma lipoaspiração. Este facto veio recordar-me os bons tempos em que nós fazíamos na Guiné 20 a 30 Km diários em nomadização. Era a nossa lipoaspiração.
Realmente o nosso país está um espanto e perdeu-se a noção da realidade. É a lei do facilitismo. Um indivíduo que devia pugnar pela saúde através do desporto cai na via mais fácil para a perda de alguns “quilitos”.
Durante a minha permanência no T.O. da Guiné, a nossa Companhia tinha directivas do Batalhão para efectuar operações na área a seu cargo, geralmente três a cinco dias por semana. Essas operações eram frequentemente complementadas com outras inopinadas e mais prolongadas.
O nosso “conta-quilómetros” fazia muitas vezes mais de 200 Km por semana. Como atrás referi, era uma lipoaspiração sequencial.
Outra notícia da televisão a que temos direito, chegou através do futebol. Então o nosso país que já foi senhor de meio mundo, passou de seguida ao tamanho da Europa, regressou às fronteiras iniciais (menos Olivença, claro), é neste momento, na boca de um Dunga (nome de anão), como Brasil B.
Interessante para quem se presume de descendência lusa. É uma inversão completa, mas já esperada, depois destes últimos anos de desregramento e corrupção.
Outro assunto que me fez “divagar em velocidade de cruzeiro” foi o casamento entre homossexuais. Tal facto fez-me vir à lembrança a estória que se contava sobre o general inglês que iria abandonar definitivamente a sua pátria natal e explicava: “Dantes era crime contra-natura.
Passou a ser tolerado. Agora casam. Vou-me embora antes que seja obrigatório”. Claro que esta anedota é agora politicamente incorrecta.
Aprendi na Guiné, ao comandar uma Companhia de Africanos, que existem algumas expressões, utilizadas frequentemente durante a instrução de tropas metropolitanas, que são “politicamente incorrectas” junto do pessoal africano.
É a “ovelha negra”, “o caso está preto”, etc. Durante uma prelecção que fazia à Companhia, para realçar o discurso, comecei aquela frase que muitas vezes usava para as tropas metropolitanas: “Eu até pintava a minha cara de preto se…”
Quando comecei a proferi-la – “Eu até pintava… – olhei para as dezenas de faces à minha frente que variavam entre o castanho e o negro retinto e tive um sobressalto.
Fiz uma pausa e continuei:… os meus testículos (em vernáculo, claro) de BRANCO se…”. E respirei fundo.
Uma das imagens de marca da Guiné, são “os gilas”.
Espécie de contrabandistas, vendiam tudo, desde peles de crocodilos e cobra a tecidos e, fundamentalmente, deambulavam por todo o território o território, sendo utilizados pelos dois lados em confronto para recolha de notícias.
Uma manhã entra na tabanca (ficava ligada ao quartel) um grupo de “gilas” proveniente do Senegal, diziam eles.
Após uma breve triagem, detectamos que um dos “gilas”, “homem grande”, tinha uma cicatriz na mão esquerda, definitivamente resultado da passagem de uma bala.
Após prolongados interrogatórios, um dos elementos mais novos informou-nos que a cerca de 15 a 20 km, para leste, os “turras” tinham um acampamento temporário e eles seriam a guarda avançada para colher informações.
Enviamos informação para o COP 5 e pedimos autorização para fazer uma operação inopinada, de imediato. Antes de vir a autorização já a Companhia estava no terreno em direcção ao local.
Quando nos estávamos a aproximar do acampamento começamos a ouvir o ruído característico dum DO e pouco depois a voz do Comandaste do COP 5, no rádio, a solicitar a nossa posição.
Mandei dois berros ao microfone a dizer para sair de cima da posição, mas já era tarde. Quando entramos no acampamento só encontramos material de limpeza do armamento e algumas peças soltas de AK47 numa bancada improvisada junto às cubatas.
Os turras que, não eram deficientes auditivos, puseram-se em fuga, mal ouviram o avião. Só interrompemos a hora de limpeza do armamento e obrigamos a ir dormir para outro sítio por lhes termos queimado as cubatas.
A nossa vida na Guiné não era só operações. Também tínhamos as nossas horas culturais. Nesses curtos interregnos foi composto o Hino da C.Caç 5, que não resisto a deixar para a posteridade:

HINO DOS GATOS PRETOS [a]
I
Nós somos os GATO PRETOS
Somos JUSTOS E VALOROSOS,
No combate contra os turras
Somos os vitoriosos.
Patrulhamentos, colunas
Pelas matas da Guiné,
Somos únicos Senhores,
Desde o GABÚ ao BOÉ!


  • Refrão
    Desde que estamos todos juntos
    Todos nos dão a razão:
    Que para a guerra vencer
    É preciso união.
    E de hoje em diante
    Todos iremos lutar,
    Que é para esta terra,
    Dos turras libertar.
II
Nós somos os GATOS PRETOS
Pela justiça lutamos,
P’ra desta terra expulsar
Os turras e os cubanos
Europeus e Africanos
Temos o mesmo ideal:
Nós somos a C. Caç 5
Militares de Portugal
  • Refrão
    Desde que estamos todos juntos
    Todos nos dão a razão:
    Que para a guerra vencer
    É preciso união.
    E de hoje em diante
    Todos iremos lutar,
    Que é para esta terra,
    Dos turras libertar.
Claro que hoje, talvez, nada disto seja “politicamente correcto”, mas era vivido intensamente por todos nós. O isolamento, o perigo, o esforço diário em conjunto, o ideal comum foram a massa que cimentou a camaradagem unindo as diferenças étnicas, rácicas e sociais da nossa Companhia.
E sempre que seja necessário e possível, haverá um GATO PRETO para apoiar outro GATO PRETO.

[a] – Nota inserta no Cancioneiro de Canjadude:
Depois de ter os seus grupos de combate dispersos por Nova Lamego, Canjadude, Cabuca e Che-Che, a Companhia de Caçadores nº 5 reúne-se, em Abril de 1969, no subsector de Canjadude. É a primeira vez, desde a sua criação, que a Companhia de encontra toda reunida.
“Desde que estamos todos juntos” foi o mote para a criação deste Hino, cuja letra, ainda que em voga na época, e de um ritmo de certa forma marcial, desconhecemos o autor,

(o texto também foi publicado na revista ASMIR de Jan/Fev 10)

RELATÓRIO DA OPERAÇÃO “LUTA” em 14 e 15MAR69

01. Situação Particular
A Unidade encontra-se a guarnecer o Aquartelamento de Canjadude, sendo responsável pelo mesmo sector.
Acções feitas ao aquartelamento de Cabuca e tabanca de Cambajá Bentem. Em 13MAI69 02 gilas detidas em Canjadude referem a existência de um aquartelamento IN com cerca de 150 elementos localizada no Rio Buoro, a leste de Ganguiró.
02. Missão da Unidade
Aniquilar ou capturar o IN que se vem revelando na estrada Nova Lamego – Piche, apreendendo os materiais que se encontram no presumível acampamento e destruindo as suas instalações.
03. Força Executante
  • a) Capitão de Cavalaria Pacífico dos Reis
  • b) 1º Grupo de Combate – Alferes Gago
    2º Grupo de Combate – Alferes Gomes
    3º Grupo de Combate – Alferes Sousa
    4º Grupo de Combate – Furriel V. Silva
    Secção Comando Dragão
  • c) 4 Grupos de Combate
    d) Secção de Comando Dragão, Comandante, 1º Grupo de Combate, 2º Grupo de Combate, 3º Grupo de Combate e 4º Grupo de Combate.


  • e) 1) 40 Carregadores.
    2) 2 Granadas de mão defensivas e 1 granada de mão ofensiva por homem; 3 elementos com dilagrama por grupo de combate.
    3) -----------------
    4) Dotação suplementar, por homem, de 40 munições 7,62 mm. Reforço de 400 munições 7,62 mm por grupo de combate.
    5) -------------------
    6) Material de Transmissões:
    1 CVHP-1
    1 PRC-10
    3 AVP-1
    2 Sharp
    Telas
04. Planos Estabelecidos
  • 1º Fase – dia D – Patrulhamento Canjadude – Canducuré – Ganguiró, montando emboscada em Ganguiró:


  • 2ª Fase – Dia D+1 – Batida da zona que margina o Rio Buoro e Golpe de Mão sobre qualquer acampamento que seja referenciado.
05. Desenrolar da Acção
Partiu-se de Canjadude em 150600MAI69, tendo a força seguido em direcção a Cansamba, para despiste da possível direcção. Depois seguiu-se para Canducuré, tendo a força chegado cerca das 10H00 a Bante (A) onde foi feito um grande alto para almoço.
Pelas 16H00 seguiu a força para Ganguiró onde chegou em 151700MAI69 tendo montado emboscada à entrada de Gangiró na mata densa.
Em 160500MAI69 a força seguiu para a nascente do Rio Buoro (que se encontra seco) tendo seguido em fila indiana pelo Rio Buoro. Mandei pôr dois pelotões em linha de batida, ficando com um pelotão de reserva.
No entanto a marcha tornou-se muito lenta, devido à mata ser muitíssimo densa, tendo o pessoal de rastejar muitas das vezes, para manter a linha de batida.
Cerca das 06H45 foram encontrados paus cortados de fresco. O gila que servia de guia não queria dizer onde ficava o acampamento, mas, à vista dos paus cortados, disse que estávamos em cima dele.
O pessoal entrou no acampamento às 07H30 tendo sido vistas 12 tabancas com camas para cerca de 6 a 8 elementos IN.
Passada revista foram queimadas as tabancas. Foi visto, sobre o trilho em direcção ao Siai, sinais de fuga apressada e recente de três elementos IN.
A força seguiu em fila indiana pelo trilho de modo a tentar apanhar aqueles elementos. Apesar de serem perseguidos durante cerca de 2 a 3 Km não foram vistos.
Foi visto um trilho de gilas do Rio Cumbera para Ganguiró, com sinais de passagem de vacas, deduzindo-se que os gilas estão a fazer o caminho Rio Cumbera – Ganguiró – Nova Lamego, tendo o IN montado o acampamento em Ganguiró para reabastecimento de carne fresca.
Seguiu-se em direcção a Ganguiró onde foi feito reabastecimento de água por helicóptero, seguindo em seguida a força para Canjadude, e por ter cerca de 10 indivíduos desidratados e que já não podiam andar, foram pedidas viaturas ao quartel com água.
A força entrou em Canjadude em 161700MAI69.
06. Resultados Obtidos
  • c) Na revista ao acampamento, foram encontrados: 2 Cantis, 1 lata de óleo de lubrificação, 1 fervedor de seringas, 1 bolsa para pistola, 1 lata de água oxigenada e álcool, 5 marmitas, 2 cunhetes de munições vazios, além de pilhas diversas de origem russa e inglesa, cadernos diários, livros escolares, cartas e diversos papeis.

  • d) Por cansaço o soldado 82º13164 Dauda Mané foi evacuado.
  • e) Segue anexo.
07. Serviços
  • a) 2 Dias de ração de combate,
  • b) -------------------
  • c) 1 Sargento enfermeiro, 1 auxiliar e 1 maqueiro.
  • d) 1 Evacuado de Heli.
08. Apoio Aéreo
  • PVC em DO 27
    T6 em alerta no solo
    Heli em Nova Lamego
09. Ensinamentos Colhidos
  • O acampamento estava feito em mata densíssima que não permitia a batida e onde o pessoal para avançar tinha que rastejar. Acampamento muito bem camuflado, impossível de ser visto pela Força Aérea. Com saídas em direcção ao Siai e Rio Cumbera. Um posto de vigia elevado virado para a bolanha de Ganguiró.
10. Diversos
  • Nada
  • Documentos Anexos
  • 1 – Motivos que originaram o extravio
    Passagem por mata muito cerrada em que obrigava a rastejar muitas das vezes, mesmo à entrada do acampamento.
  • 2 – Relação do material extraviado
    2 Abafos de pescoço,
    1 Cantil m/964.
Um abraço,
Pacífico dos Reis
Coronel na reforma
___________

Nota de M.R.:

Vd. último poste da série de 13 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5987: Divagações de reformado (Pacífico dos Reis)(3): “Divagações de reformado - 3” É a vida… (José Martins)

Guiné 63/74 - P6394: Tabanca Grande (219): Alcides Silva, ex-1º Cabo Estofador (e não ex-Sold Cond Auto...), CCS / BART 1913, Catió, 1967/69

Fotos: © Alcides Silva (2010). Direitos reservados

1. Mensagem de Alcides Silva,


Data: 14 de Maio de 2010 17:20
Assunto: Esclarecimento


 Amigo, é apenas para esclarecer que a minha especialidade  não foi a de  condutor Auto, não fui muito claro quando enviei as fotografias com o Júlio, o Madragoa. Eu fui 1º cabo estofador. 

O meu 1º trabalho quando chegamos a Catió,  foi reconstruir os bancos da viatura do nosso 1º comandante de Batalhão, Coronel Santiago Cardoso, que já faleceu, creio que em 2008. Os bancos foram reconstruídos com molas dos bancos das viaturas de que tinha sido pedida  a evacuação pelo Batalhão anterior. E as capas para os bancos foram feitas com o aproveitamento da lona das capotas das mesmas viaturas que aguardavam a evacuação para Bissau.

Depois de reparada a viatura do 1º comandant, e tive o trabalho igual para a do 2º comandante, este não me recordo o nome, sei que era major.

Um abraço.
Alcides Moreira da Silva

2. Mensagem anterior do Alcides, com data de 12 do corrente:



Luís Graça, junto três fotos minhas, a 1ª ainda não tinha sido mobilizado, a 2ª foi do Natal de 1967,  já em Catió, a 3ª é actual, já começo a estar um pouco enferrujado, já são 66 anos que os irei completar a 10 de próximo mês de Junho.

 Quanto à questão que coloquei sobre o Fernando, dizes que os contactos são com ex-Fur Mil Victor Condeço,  recordo-me perfeitamente dele pelo nome, estava com ele na secção de armamento um colega de Espinho,  o Camarinha,  que tenho estado algumas vezes com ele. 


A minha morada é: Rua das Mangas, 130, 
3720-509 SANTIAGO DE RIBA-UL. 

Eu ultimamente juntei algumas fotografias relativamente ao tempo de tropa, referente às localidades por onde passei que foram: Aveiro, Entroncamento, RI 6, Senhora da Hora, Porto, depois Viana do Castelo para formar Batalhão e Guiné. Fiz um pequeno filme com as mesmas, se tiveres interesse para as relíquias, manda-me a tua morada e eu envio uma cópia do DVD.

Um abraço.
Alcides

_________________

Nota de L.G.:

Guiné 63/74 - P6393: Convívios (153): Na Tabancas dos Melros... encontrando malta nossa, além de malta da FAP, BA 12, Bissalanca, do meu tempo (Miguel Pessoa)


1. O nosso Camarada Miguel Pessoa (*), ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, hoje Coronel Pilav Reformado, enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 13 de Maio de 2010: Guiné 63/74 - P6391: Convívios (152): Convívio da família CCAÇ 816 (Rui Silva)

NA TABANCA DOS MELROS
Aproveitando a organização do almoço anual do curso de enfermagem da Giselda (da antiga Escola de Enfermagem do Hospital de S. João, no Porto), que decorreu em Braga no passado dia 9, decidimos aproveitar a oportunidade e alinhar num convívio da Tabanca dos Melros, no Choupal dos ditos, em Fânzeres, no dia anterior.
Para além da conveniência de datas - em dias seguidos, 8 e 9 - acresce o facto de contar encontrar no local alguns dos tabanqueiros que vou contactando por aí - Portojo, Carlos Silva, Carvalho, Eduardo Campos, Miguel Falcão e outros - e ainda poder rever o anfitrião/dono do Choupal, o Gil Moutinho, nosso antigo companheiro nas andanças pelos ares da Guiné.
E se o encontro cumpriu conforme prometia, não deixei de ter duas surpresas curiosas, decorrentes de conversas que tive com dois dos participantes no almoço. Ei-los nesta foto, numa conversa particular, o Armando Martins e o Manuel Quelhas, que foram há muito tempo observadores atentos de episódios em que eu também estive envolvido.
Bom, no meio de uma conversa que estava a ter com o Armando Martins, constatei que tínhamos estado nos mesmos sítios e na mesma época.
Assim, antes de embarcarmos para a Guiné, no fim de 1972, estivemos ambos colocados na Base Aérea de Monte Real, eu tirando o curso operacional no F-86 e Fiat G-91, ele colocado no serviço de incêndios (bombeiros).
E, tendo ele referido este facto, lembrei-me de um episódio decorrido durante a minha qualificação, numa altura em que já tinha começado a minha adaptação ao Fiat G-91.
Nessa altura iniciava-se a utilização regular dos "drop-tanks"* de 120 galões em substituição dos antigos drops de 69 galões (naturalmente com o objectivo de aumentar a autonomia do avião e o tempo disponível na zona do objectivo).


O sistema deveria sofrer de alguns problemas de juventude, pois só sei que na recuperação de uma passe na carreira de tiro da Base um dos "drops" resolveu ir-se embora sem que eu tivesse tido qualquer interferência nesse facto...
Devo confessar que tivemos alguma sorte neste incidente - eu e os bombeiros que estavam a fazer a segurança ao local, bem próximos do local em que o "drop"acabou por cair...
Felizmente conseguiu-se provar que não tinha havido nabice da minha parte - o que neste caso foi o primeiro pensamento dos veteranos Falcões face à periquitice do Abibe**...
Lembrei-me então de perguntar ao Armando Martins se ele se recordava deste incidente e fiquei surpreendido quando ele confirmou que estava lá naquele dia...
A esta distância é realmente curioso como as nossas vidas se vão cruzando com a de outros e só ao fim de muito tempo é que nos damos conta disso...
O Manuel Quelhas surpreendeu-me igualmente.
Explicava-me ele que tinha estado em Mansabá no ano de 1973 e, lembrando-me eu de um incidente ocorrido com um dos nossos Fiats numa operação no Morés - que obrigou o piloto a ejectar-se - perguntei ao Quelhas se ele se lembrava desse episódio.
A veemência com que me respondeu surpreendeu-me, mas depois fiquei esclarecido.
Essa operação que eu refiro enquadrava-se numa heli-colocação que tinha sido organizada em pleno Morés, iniciada com um bombardeamento na zona da heli-colocação, avançando depois os helicópteros com pessoal, para os largar no terreno.
Eu era o nº2 da formação e a coisa correu bem até à entrada ao passe do nº4.

Por motivos que se desconhecem o avião desse piloto ficou subitamente descontrolado, forçando o piloto a ejectar-se.
Imagine-se agora o que é seis ou sete helis dirigindo-se para o local e verem subitamente um avião despenhar-se mesmo à sua frente e um piloto a descer lentamente no seu pára-quedas.
É claro que a heli-colocação foi abortada e a primeira preocupação foi recuperar o piloto.
Lá seguiram os helis atrás do chefe e vá de pousar os estojos no chão, onde fosse possível.
A verdade é que a coisa não correu nada bem e, cancelada a missão, acabámos por perder quase todo o dia a recuperar os helicópteros danificados nessa aterragem inesperado em local difícil.
Vá lá, ao fim do dia o saldo era minimamente positivo - o piloto foi recuperado de imediato pelo primeiro helicóptero e os helicópteros danificados tinham conseguido regressar à Base, à custa do esforço dos mecânicos e dos pilotos que foi preciso manter no local... e por cima, para garantir a segurança da operação...
É aqui que entra o nosso camarada Quelhas na história - ele aguardava o regresso dos helis para ser integrado numa segunda leva que iria colocar mais pessoal no terreno.
E foi do local em que se encontrava que viu o avião a despenhar-se. O problema com que se deparou foi o facto de ninguém ter acreditado nele...
Segundo me confessou, ao longo dos anos foi começando a desconfiar do estado dos seus neurónios...
Calcule-se por isso a sua enorme satisfação ao ver confirmada por mim a sua história... ao fim de 37 anos...
Não duvido que estes convívios, para além da sã confraternização entre os ex-combatentes, permitem por vezes momentos curiosos como estes que hoje aqui relato.
Notas:

* "Drop-tanks" são depósito externos transportados nos suportes existentes por baixo das asas. Como o nome indica, podem ser ejectados em voo, em caso de necessidade.
** Falcões, assim eram chamados os pilotos operacionais da Esquadra. Os Abibes (uma ave de fraca figura) eram os pilotos em curso, que ainda tinham tudo para provar... (Eram os periquitos lá do sítio...).

Um abraço,
Miguel Pessoa
Ten Pilav da BA 12
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Nota de M.R.:
Vd. último poste da série em:

14 de Maio de 2010 >