domingo, 31 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7199: Notas de leitura (163): Guerra na Guiné, por Hélio Felgas (4) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Outubro de 2010:

Queridos amigos,
Acabei a recensão do importante livro do Hélio Felgas.
Segue-se Luís Cabral e a sua indispensável “Crónica da Libertação”.
Daqui salto para o fuzileiros que combateram na Guiné, levantamento feito por Luís Sanches de Baêna.
Devo estas importantes leituras ao António Duarte Silva.
Isto dá-me argumento para voltar ao meu incessante pedido a todos os confrades, que me cedam as obras que possam ajudar ao mais exaustivo inventário de tudo o que se tem publicado sobre a Guiné, nomeadamente no período correspondente à guerra (mas o próximo e o logo a seguir também contam, claro está).

Um abraço do
Mário


Guerra na Guiné, por Hélio Felgas (4)

Beja Santos

A evolução dos acontecimentos militares de 1964 para 1965

No seu importante documento “Guerra da Guiné”, Hélio Felgas traça um quadro promissor para o controlo da guerrilha a partir do segundo semestre de 1964. Como se sabe, não só não houve controlo como o PAIGC adquiriu uma maior capacidade irradiante. No termo do seu trabalho, Hélio Felgas é peremptório: em 1965, a situação militar estava a melhorar substancialmente, no primeiro semestre. É facto que a presença do PAIGC na região do Boé aumentou, reavivou-se no nordeste da Província. Mas as contradições não param. Ele escreve: “O mês de Fevereiro foi aquele em que o PAIGC se mostrou mais activo, desde o início do terrorismo, tendo os seus grupos, só entre os dias 10 e 17, realizado perto de meia centena de acções de fogo”. Para o autor, as tropas portuguesas revelavam-se bem adaptadas ao terreno e a malha de ocupação militar. “A ofensiva dos bandoleiros foi não só contida como rechaçada”. Para Hélio Felgas, a situação militar na Guiné estava praticamente dominada no final de Junho de 1965. É certo que continuava a colocar minas, a fazer emboscadas e a flagelar aquartelamentos. Mas revelava falta de convicção e os grupos do PAIGC mostravam-se moralizados. O facto não é demonstrado, pelo contrário o relato prossegue contrariando a euforia das provisões: mais emboscadas entre Barro e Ingoré, entre Barro e Bijene; a base em Sambuiá estava activa, a base fora destruída e renascera; nas áreas de Binta-Guidage e Canjambari, o PAIGC aumentou a sua actividade; reacenderam-se as emboscadas na estrada Bissorã-Olossato; na zona centro-leste (confluência dos rios Corubal e Geba) a actividade das forças do PAIGC manifestou-se em ataques a tabancas em autodefesa, caso de Finete e Quirafo; o novo aquartelamento de Ponta do Inglês era flagelado sem descanso e com regularidade eram postas minas na estrada Xime-Ponta do Inglês e em Ponta Varela; no Sul, não houve quebra nas flagelações e emboscadas: Cameconde, Cacoca, Sangonhá, Ganturé, Buba, Bedanda, Fulacunda, Cachile e Cufar, entre tantos outros aquartelamentos. A partir de Maio, reduziram-se as acções ofensivas, fica-se sem saber se as chuvas foram um factor importante. O triângulo Piche-Buruntuma-Canquelifá foi severamente flagelado mas a penetração a leste manteve-se, no essencial, contida.

Hélio Felgas escreve que constava que os comandantes do Oio se tinham dirigido a Amílcar Cabral para entrar em negociações com o Governo português, tal seria o cansaço e a desilusão. Corriam igualmente boatos acerca de desinteligências entre os chefes dos grupos combatentes e os dirigentes do PAIGC. Estava a crescer o número de denúncias civis, o que certificava que a população deixara-se de bandear para a guerrilha. O autor especula sobre os factos desfavoráveis que estavam a ocorrer no PAIGC mas também não dá argumentação convincente. E o texto termina com uma laude: “Seja qual for a sua evolução, podemos estar certos que o Exército, a Marinha e Aviação saberão manter na Guiné as melhores tradições militares portuguesas”.


A luta na Guiné em 1970

Em 10 de Abril de 1970, o coronel Hélio Felgas profere uma conferência na Academia Militar intitulada “A luta na Guiné”.

Abre a sua intervenção dizendo que ali existem as condições ideais para a guerra de guerrilhas, tal a densidade do mato, a hostilidade do clima, a proliferação de rios e rias, até a humidade insuportável.
 Passando para o contexto internacional, refere que a partir de 1955 as autoridades inglesas e francesas dos territórios africanos sob a sua administração tinham autorizado a formação de partidos políticos, como veio a acontecer na Guiné francesa de então e no Senegal. Como numa onda de choque, os guineenses da nossa província, sobretudo os residentes naqueles territórios, sentiram-se inclinados a formar partidos políticos.

Depois apresentou a FLING e o PAIGC, destacando o essencial das divergências: a FLING apenas deseja a independência da nossa Guiné, o PAIGC, dirigido sobretudo por cabo-verdianos, arvora-se em libertador da Guiné e Cabo Verde. Tais rivalidades levavam a que o PAIGC não tenha formado até à data qualquer governo provisório porque, diz o conferencista, Amílcar Cabral deseja evitar invejas e descontentamentos que levariam ao enfraquecimento do partido. Descreveu sumariamente as ideologias no Senegal e na Guiné Conacri e fez um comentário às preocupações de Senghor que até 1966 tudo fizera para dificultar o deslocamento dos grupos do PAIGC no sul do Senegal.

Passando para a luta armada, o orador declarou sem hesitação uma relativa ineficácia da actividade militar do PAIGC. Mas logo alertou: “Não podemos confiar na eterna inaptidão do inimigo para o combate”. Procurando desdramatizar, observou que a situação na Guiné é geralmente mal avaliada na metrópole, havendo a tendência para se considerar muito pior do que na realidade está. A mensagem de optimismo continuou com a declaração de que é totalmente falso que o PAIGC ocupe realmente e em permanência qualquer parcela da Guiné.

Chegando às conclusões, este oficial superior que fizera duas comissões na Guiné resumiu assim a situação militar, até 1970: o inimigo executa incursões de surpresa em quase todo o Sul, na faixa fronteiriça do Norte e em parte da região entre os rios Cacheu e Geba; o inimigo esforça-se, sem qualquer êxito, por se infiltrar no sector dos Fulas; fazendo base em território estrangeiro, flagela as nossas povoações e aquartelamentos fronteiriços, embora quase sem nos causar baixas.
E concluiu sossegando a assistência: “O PAIGC jamais poderá ganhar militarmente a guerra, a não ser que empregue, meios, forças e tácticas diferentes”.

Não nos restam comentários a fazer, para além de se realçar a importância do livro publicado em 1967 e cuja leitura poderia ter sido bastante útil a todos aqueles que ali combateram e que praticamente tudo ignoravam sobre o evoluir da guerra.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 30 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7194: Notas de leitura (163): Guerra na Guiné, por Hélio Felgas (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7198: O Soldado Africano Esquecido / Forgotten African Soldier (1): O que podemos fazer pelos nossos antigos camaradas guineenses ? (Carlos Silva / Luís Graça / Paulo Santiago)



Guiné > Saltinho > Pel Caç Nat 53 > 1971 > O Alf Mil Paulo Santiago, de bigode e barrete fula na cabeça, ladeado, à sua direita, pelo 1º Cabo Verdete, e à sua esquerda pelos Sold Samba Seidi, bazuqueiro, e Abdulai Baldé, um dos seus fiéis guarda-costas. O Paulo é autor, entre outras, da série Memórias de um Comandante de Pelotão de Caçadores Nativos, de que se publicaram até agora 17 postes, salvo erro. Tem, além disso, a experiência de instrutor de milícias, em Bambadinca.




Foto: © Paulo Santiago (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.




1. Comentários ao projecto Forgotten African Soldier (*):




(i) Carlos Silva:


Já expliquei ao nosso amigo Jochen todas essas dificuldades que o Luís Graça aponta e mais algumas. Espero que ele compreenda agora.


Mesmo a sugestão do Luís Graça de reencaminhar para a AD,  tenho dúvidas que resulte, pois só se for que o Pepito consiga alguns contactos com antigos combatentes do PAIGC.


Dos nossos,  presumo que seja muito difícil, mesmo aqui no nosso País.


Quantas entrevistas é que o Luís Graça consegue ou conseguiu, até hoje,  dos soldados da CCaç 12 a que ele pertenceu ? Já conseguiu alguma?


Para mim, já expliquei ao nosso amigo Jochen que o projecto é excelente mas muito arrojado para o levar por diante. Espero que tenha bom êxito.


Aqui em Bissau 2 eu contacto com muita malta e já assisti pessoalmente a negas dadas por eles a pedidos de entrevistas.  Eu estava ao lado deles. Com isto não quero dizer que não haja alguém que alinhe. Falo com dezenas e trabalhei/trabalho para dezenas. Sou muito conhecido em Bissau 2 e na Guiné.


(ii) Luís Graça: 


Tens razão, Carlos, os obstáculos são muitos. Tu conheces, e melhor do que eu, o terreno, a actual Guiné-Bissau, a realidade da diáspora, o processo de diabolização dos guineenses (fulas, manjacos, e outros) que foram "colaboracionistas"... Não conheço o Jochen, nem sei se é americano de origem... Não me parece em todo o caso um daqueles americanos com uma visão etnocêntrico do mundo, e que nada sabe de geografia... Pelo menos, viveu em Portugal, conhece Portugal...


Quanto à ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, dirigida pelo nosso amigo Pepito, é a única que eu saiba que tem trabalho feito na preservação da memória da guerra colonial / luta de libertação. Com o apoio da televisão comunitária TV Klelé, foram feitas entrevistas, gravadas em vídeo, a talvez uam dúzia (ou mais) de antigos guerrilheiros do PAIGC que combateram no sul, e nomeadamente em Guileje. Essas entrevistas, em geral, são feitas em crioulo.


(iii) Paulo Santiago:


Carlos e Luís, não queiram já pôr o Jochen perante um imenso mar de dificuldades. A tarefa a que se propõe é complicada, mas é exequível, penso eu. Claro que só posso falar de ex-militares do Pel Caç Nat 53 com quem contactei em 2005 e 2008 e sabendo onde moram na actualidade (são apenas meia dúzia).


Já troquei vários mails com o Jochen, e no último disse-me andar a tentar contactar a AMFAP (Associação dos ex-Militares das Forças Armadas Portuguesas) (**), em Bissau, da qual não tenho contacto. se tiverem esse contacto,  ele agradece. Ele não quer entrevistar ex-guerrilheiros do PAIGC,apenas ex-militares das NT, mas está muito interessado em falar com um dos meus mais fiéis guarda-costas que em 1998/99 andou com o Ansumane Mané.


O Jochen já me pôs o problema dos cuidados a ter quando chegar à fala com esses ex-militares, como isso  poderá ser encarado pelas autoridades da Guiné-Bissau. Dei-lhe a minha perpectiva.


Fora do contexto, o Jochen tem grandes saudades das francesinhas que comeu durante a sua estadia no Porto


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Notas de L.G.:


(*) Vd. poste de 30 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7192: O Mundo é Pequeno e o Nosso Blogue... é Grande (30): Forgoten African Soldier / O Soldado Africano Esquecido (Jochen Steffen Arndt, Universidade de Illinois em Chicago)


(**) Selecção de notícias na Net relacionadas com a Associação de Ex-Militares das Forças Armadas Portuguesas (AMFAP), da Guiné-Bissau:


(i) Ex-militares guineenses das FAP querem dialogar com Lisboa


NL - Notícias Lusófonas, 29-Apr-2004


A Associação de Ex-Militares das Forças Armadas Portuguesas (AMFAP) da Guiné-Bissau entregou uma carta na embaixada de Portugal em Bissau em que pede uma reunião com representantes do Ministério da Defesa português, disse hoje fonte oficial.


O encarregado de Negócios da missão diplomática portuguesa na capital guineense, João Queirós, indicou que a carta foi entregue pelo presidente da Associação, Regino Veiga, em representação dos milhares de ex-combatentes guineenses que combateram ao lado das tropas portuguesas na guerra colonial (1963/74).


Segundo fontes oficiais, cerca de 15.200 alegados ex-combatentes reivindicam uma pensão do governo português pelo seu envolvimento no conflito na então província portuguesa da Guiné.


João Queirós esclareceu que a carta, recebida também na presença do adido militar adstrito à Embaixada de Portugal em Bissau, coronel João Araújo, seguirá para o "competente destinatário", neste caso, o Ministério da Defesa português.


O diplomata português, sem adiantar pormenores, assinalou ter-se limitado a receber a carta das mãos de Regino Veiga e que, no acto, ficou vincada a necessidade de as duas partes manterem "canais abertos de diálogo".


Fonte do Ministério da Defesa guineense confirmou hoje à Lusa que a questão será abordada na reunião anual dos ministros das Defesa da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP - Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste), marcada para fins de Maio em Bissau.


Liga dos Combatentes portugueses apoia guineenses que serviram no exército colonialpublicado




RTP > 18 de Março de 2008


Gabú, Guiné-Bissau, 18 Mar (Lusa) - A Liga dos Combatentes (LC) de Portugal ofereceu hoje 6,7 mil euros aos membros da Associação de ex-Militares das Forças Armadas Portuguesas da localidade guineense de Gabú, a 206 quilómetros leste de Bissau.


O dinheiro, entregue numa cerimónia simbólica pelo presidente da LC, o major-general Carlos Manuel Camilo, vai ajudar na construção de um poço e na compra de bombas de águas para a agricultura, utilização doméstica e alimentação dos animais na localidade de Oukmaundé, a primeira localidade onde colonos portugueses viveram quando chegaram à vila de Gabú, no século XV.


(...) Presente na cerimónia de entrega do cheque simbólico doado pela Liga dos Combatentes de Portugal, o régulo (autoridade tradicional) de Oukmaundé, Moreira Dauda Embaló, disse que o gesto significa que "afinal Portugal não esqueceu os seus combatentes".
 
"Dignificação é o primeiro passo para o reconhecimento daqueles que deram tudo pela causa portuguesa", afirmou Moreira Embalo, que espera outras iniciativas em prol "daqueles que serviram à Pátria lusa durante a sua juventude".
 
Já no final da cerimónia, Mussá Seidi, um antigo soldado que serviu no exército colonial.  disse à Lusa que "a ajuda e a festa foram bonitas, mas o melhor mesmo era receber um documento oficial de reconhecimento de Portugal".
 
O velho agricultor Mussá Seidi assumiu assim uma das mais antigas reivindicações dos ex-soldados do exército colonial, ainda sem resposta das autoridades portuguesas. (...)

(iii)  Liga dos Combatentes - PASSADO, PRESENTE E FUTURO > Arquivo de notícias > 20OUT2007 - A Liga dos Combatentes de Portugal assinou um protocolo de cooperação com o Instituto de Defesa Nacional (IDN) da Guiné-Bissau, que prevê, entre outras questões, a dignificação dos locais onde se encontram sepultados militares portugueses mortos em combate.(...)
 
(...) "f. Promove acções que se traduzam no aprofundamento de relações com a Associação de Combatentes da Liberdade da Pátria (ACLP), Associação dos Deficientes das Forças Armadas da RGB (ADFA/RGB) e Associação de Ex-militares das Forças Armadas Portuguesas (AMFAP).

Guiné 63/74 - P7197: Convívios (281): 6º Encontro da Tabanca do Centro, em Monte Real (Jero/Miguel Pessoa)



1. Com o texto do nosso Camarada José Eduardo Oliveira (ex-Fur Mil Enfº da CCAÇ 675 – Binta -, 1964/66) e fotografias de Miguel Pessoa (ex-Ten Pilav da BA 12 – Bissalanca -, 1972/74, hoje Coronel Pilav Ref), damos conta do último e animado convívio da Tabanca de Centro.


6º Encontro da Tabanca do Centro, em Monte Real
Apresentaram-se na Pensão Montanha às 13H30.
Poucos mas bons e… cá com um fastio!!!
Agostinho Gaspar, Armando Cristóvão, Belarmino Sardinha e Antonieta, Carlos Cruz, Joaquim Mexia Alves, JERO, Luís Rainha e Dulce, Miguel Pessoa e Giselda disseram “presente” ao encontro de 27 de Outubro.
Tantos quantos uma equipa de futebol mas sem “banco”… Disseram “presente” mas não conseguiram comer todo o “cozido à Monte Real” que a Dª. Preciosa lhes pôs na mesa.

É verdade que faltaram alguns bons garfos (José Dinis, Vasco da Gama, António Graça de Abreu, Juvenal Amado, etc.) mas perdemos (sem apelo nem agravo) o “desafio”: Dª. Preciosa 1 travessa e meia de retorno / malta do 6º. Encontro - quase “zero”.
Instalou-se algum desânimo do “grupo dos 11” de tal maneira que se está a pensar num leitão à moda da “Boavista” (Leiria) para no mesmo local (Monte Real) recuperarmos algum do prestígio perdido…
Foi difícil encarar os vizinhos das mesas circundantes quando a travessa e meia do cozido foi recolhida à cozinha!

Mas vamos ao relato das conversas tidas e ouvidas. O Joaquim Mexia Alves esteve no seu melhor. E o Belarmino Sardinha não lhe ficou atrás. Pelo meio – o fotógrafo de serviço Miguel Pessoa – teve alguns apartes de grande nível.
Isto passou-se do lado direito da mesa. Na parte da esquerda - não duvidamos do nível das conversas - mas não “chegámos” lá acusticamente falando. Vamos portanto ao relato resumido do que ouvimos.Marcelo Rebelo de Sousa, que JMA tratava por tu, foi protagonista de um “desaguisado” na marginal de Lisboa para Cascais.
Foi há um bom “par de anos”, (durante um período de férias da Guiné em que JMA esteve por Lisboa), e Marcelo falava “de cátedra” da “guerra da Guiné”. Na curva frente ao Mónaco o Joaquim mandou parar o carro e saiu para apanhar o comboio e assim evitar males maiores.

Como não podia deixar de ser a Guiné, Gadamael, Spinola e Almeida Bruno foram tema de conversas cruzadas mas consensuais. O tema “política” também veio à baila com muitos e variados comentários em relação a Sócrates (não publicáveis), Presidente Cavaco e outros candidatos à Presidência.
Manuel Alegre ocupou algum tempo da discussão mas as conclusões também não são publicáveis. Depois falou-se do “voto útil” e de Fernando Nobre, um candidato credível para alguns, mas a quem as sondagens atribuem pouco mais de 5%.
Antes do regresso “às origens” falou-se dos Doces Conventuais em Alcobaça (de 18 a 21 de Novembro) e do leitão da Boavista que poderá “aterrar” em Monte Real em 24 (4ª.feira) ou 26 de Novembro (6ª.feira). Será uma data a combinar em futuro próximo.No regresso a Alcobaça ouvi na rádio e depois da televisão que as negociações sobre o orçamento de 2011 - entre Governo e PSD - tinham dado em nada…
Já no meu maple preferido – preparado para descansar um pouco das “emoções” do 6º. Encontro – lembrou-me do José Marcelino Martins, especialista de Santos e Padroeiros. A quem é que nós devemos “pedir” para esta malta que nos governa (ou desgoverna) ganhar “juízo”? Isto é pôr os interesses do País acima dos interesses eleitorais e/ou partidários!Até lá… haja saúde… e coza o forno!
JERO
Nota: Pedimos aos atabancados o favor de se pronunciarem, rapidamente e em força, sobre a data do próximo encontro, bem como da sugestão das "vitualhas" a deglutir..
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

27 de Outubro de 2010 >
Guiné 63/74 - P7182: Convívios (197): Tabanca de Pitche e Arredores (Hélder Sousa/Luís Borrêga)

sábado, 30 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7196: Blogoterapia (166): Um abraço fraterno neste ultrapassar dos 2,1 milhões de visitas (Torcato Mendonça)

1. Mensagem de Torcato Mendonça* (ex-Alf Mil da CART 2339 (Mansambo, 1968/69), com data de 28 de Outubro de 2010:

PARA VOCÊS, CAROS AMIGOS EDITORES O MEU ABRAÇO FRATERNO DE PARABÉNS PELO BLOGUE "LUÍS GRAÇA & CAMARADAS DA GUINÉ" TER ULTRAPASSADO OS 2,1 MILHÕES DE VISITAS.

Gentes, jovens de juventude interrompida e não vivida, feitos homens duros à pressa
Foto de Torcato Mendonça


A letra maiúscula não é grito. É saudação amiga e agradecida, como muitos o devem estar, pelo Vosso Trabalho, pelo tempo gasto, dado, oferecido e, quantas vezes a aturarem casmurros (eu por exemplo) neste dar a conhecer combatentes, gentes que um dia de suas terras partiram e por outros mundos andaram, uns voltaram e outros não. Penso que ninguém voltou inteiro, ninguém voltou igual ao jovensito que partiu.

Gentes, jovens de juventude interrompida e não vivida. Gentes, jovens, feitos homens duros à pressa a verem, a viverem o que nunca deviam ter visto ou os fizeram ver. Gentes, jovens, feitos homens duros de aço em que as lágrimas, mesmo as de raiva secaram e, mesmo assim amaram e amam um Povo que com eles viveu o quotidiano ou, por força de opção de parte desse Povo os combateram por uma liberdade... liberdade que eles na sua Pátria também não conheciam.

Vidas.Vidas vividas e sofridas, vidas que muitos quiseram esquecidas e, sem disso se aperceberem, voltaram a trazer ao seu presente, voltaram a desatar nós de memória ou a empurrarem para o presente espuma dessa memória outrora vivida.

Isto era um abraço e virou ladainha. Vocês conhecem-me e vou teclando e pondo letras em bicha de pirilau conforme SINTO.

ABRAÇO e caminhem, porque não caminhemos, para os 3 Milhões. Contribuamos pela amizade dos Povos, pelo fim da xenofobia e racismo, pela Liberdade e Fraternidade e pelo estreitar das Desigualdades.

Nada mais, de tanto que havia a dizer... tanto!

Abraço do Torcato
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Notas de CV:

(*) Vd. último poste de 7 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 – P7096: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (23): Os Filhos d'um Deus Menor

Vd. último poste da série de 30 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7195: Blogoterapia (165): A geração da guerra (Joaquim mexia Alves)

Guiné 63/74 - P7195: Blogoterapia (165): A geração da guerra (Joaquim mexia Alves)

1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 29 de Outubro de 2010:

Meus camarigos editores
Aqui, a pensar sozinho, saiu-me este escrito que vos envio.

Como sempre fica à vossa disposição para dele fazerdes o que quiserdes.

Um abraço forte e amigo do
Joaquim



A GERAÇÃO DA GUERRA

Lentamente as feridas vão fechando, a pele vai-se unindo, vamos passando cada vez mais creme hidratante para ver se não ficam cicatrizes, e vamos olhando para as maleitas à espera que não deixem marcas.

A cauterização é lenta, nalguns mais difícil, ou porque as feridas são mais profundas, ou porque tem um feitio mais “hemofílico”.

Curiosamente o tratamento de choque, a sanação das feridas, o acalmar das dores, faz-se normalmente à volta da mesa, em encontros preparados para o efeito.

É realmente curioso percebermos a importância da “mesa” no desenvolvimento das relações humanas.

As festas de família, fazem-se à volta da mesa.
As chegadas e as partidas, fazem-se à volta da mesa.
As alegrias e as tristezas, fazem-se à volta da mesa.
Os encontros e alguns desencontros, fazem-se à volta da mesa.
Negócios, combinações e até vigarices, fazem-se à volta da mesa.
Mesmo na religião, o Mistério central do cristianismo, se fez à volta da mesa, na Última Ceia.

Também a nossa Tabanca Grande, apesar dos escritos e das leituras, sente necessidade de uma vez por ano se reunir à volta da mesa, e como aos atabancados parece pouco apenas uma vez por ano, arranjaram maneira de constituir outras tabancas para se reunirem mais vezes… à volta da mesa!

Aspecto do V Encontro da Tertúlia, em Monte Real, Junho de 2010, organizado por Joaquim Mexia Alves
Foto de Manuel Carmelita

Mas regressemos ao inicio do texto, e às feridas que vão sendo curadas e às vezes até quase esquecidas.

Não é fácil esta coisa de falarmos da guerra, sobretudo porque há muitos que não nos entendem, nem compreendem a nossa linguagem, pelo que, estes encontros à volta da escrita e sobretudo à volta da mesa, são sem dúvida o maior e mais permanente bálsamo para as nossas feridas.

E depois ficamos a pensar que realmente a nossa geração passou por muita provação, por muitas dificuldades.

A verdade é que, sem envolver a politica no assunto, esta geração foi chamada a lutar em territórios longe de suas casas e a dar o melhor de si, dos seus anos, voluntária ou forçadamente, em circunstâncias a maior parte das vezes adversas, ou para ser mais correcto, em circunstâncias abaixo de qualquer nível de humanidade.

E é também verdade que a última geração da guerra, levou ainda com uma “revolução”, (não discuto politica aqui neste nosso espaço), que veio alterar toda a sociedade em que vivia, e que assim obrigou a uma nova adaptação mesmo em cima do seu regresso da tal guerra, da qual ainda andava a curar as feridas.

Mas esta geração, ou melhor, estas gerações da guerra, eram e são tenazes, não só por tudo aquilo que passaram, mas pela necessidade que sentiram de continuar a lutar por uma vida melhor.

É ver a quantidade daqueles que vindos da guerra voltaram aos estudos e se licenciaram em cursos superiores.
E aqueles que deitaram as mãos ao trabalho e se especializaram em tantas áreas e até alguns que se tornaram empresários de sucesso merecido.

Quando hoje vemos tanta depressão já em jovens, tanta indecisão em prosseguir carreira e trabalho, tanta dificuldade em decidir e decidir bem, temos que perceber forçosamente que o cadinho das dificuldades nos revestiu de uma força e capacidade interior, que é marca indelével destas gerações.

Não tivemos a vida facilitada, nem pelo estado, nem pelos pais, (pois nesses tempos a educação era espartana), não tivemos as portas abertas a tantas oportunidades, passámos verdadeiramente as “passas do Algarve”, e no entanto, ou provavelmente por causa disso mesmo, não desistimos e continuámos a lutar.

Pois é, a realidade é que a Pátria, ou melhor o Estado, não nos deve apenas o sacrifício das nossas vidas na guerra, deve-nos também e apesar de tudo, o termos continuado a lutar e termos construído as bases, tantas vezes mantendo-as com tanto esforço, para que tudo continuasse a existir.

E somos nós ainda que nos preocupamos e tentamos ajudar aqueles que da nossa geração da guerra, por tantas e tantas razões que não lhes podem ser assacadas, se arrastam pela vida, esquecidos do Estado que os mandou para a guerra, e agora quer enjeitar as suas responsabilidades.

Mas ainda fomos mais longe, pois perante a “impossibilidade” de um relacionamento sério e honesto por parte do nosso Estado com aqueles com quem lutámos, somos nós que, colocando de lado feridas e dores, vamos estabelecendo com eles bases de uma nova amizade, cimentada muito mais no que nos une do que naquilo que nos divide.

E é assim também, verdade seja dita, que vamos curando as nossas mágoas e purificando as nossas memórias.

E não, não estou a querer fazer comparações com as gerações de agora, ou com aquelas que passaram antes de nós, (os tempos eram e são diferentes), mas apenas a constatar uma realidade que a todos nós toca sem dúvida, e que nos ajuda a percebermos que mesmo que não nos reconheçam, a nossa dignidade e a nossa hombridade está muito acima da homenagem hipócrita e feita apenas para nos tentar calar.

Escrevo o que escrevo e à medida que o vou escrevendo sinto-me bem, mais em paz comigo mesmo, e chego à conclusão que não preciso dessas tais homenagens ou benesses que vêm de uma qualquer concessão para calar vozes e passados incómodos, o que eu preciso realmente é de vós meus camarigos, e de todos aqueles que querem perceber que:

Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!


Monte Real, 28 de Outubro de 2010
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Notas de CV:

(*) Vd. último poste de 3 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7074: Depois da Guiné, à procura de mim (J. Mexia Alves) (12): Tempo presente, A honra aos que lutaram

Vd. último poste da série de 29 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7189: Blogoterapia (164): O Blogue está a sofrer uma mutação evolutiva de qualidade / Sinal de maturidade é virmos aqui contar o que nos vai na alma (Carlos Filipe / Luís Graça)

Guiné 63/74 - P7194: Notas de leitura (163): Guerra na Guiné, por Hélio Felgas (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Outubro de 2010:

Queridos amigos,
O relato de Hélio Felgas impõe-se na aridez no que foi a nossa desinformação na Guiné. Independentemente do registo ser apologético e em muitos casos descuidadamente contraditório (o autor diz que 1964 se saldou pelo enfraquecimento do PAIGC e acaba por escrever o contrário) ninguém mais trouxe a público este acervo informativo que os nossos comandos deviam ter prezado, pondo à nossa discussão.
O que não aconteceu.

Um abraço do
Mário


Guerra na Guiné, por Hélio Felgas (3)

Beja Santos

1964, as grandes mudanças operadas do teatro de operações

O livro “A Guerra na Guiné”, de Hélio Felgas, que comandara o BCaç 507, é um documento do maior interesse, como se procura demonstrar com os dois textos anteriores. É muito curioso como o autor considera que 1964 é um ano de viragem e fatal para o PAIGC. Curioso, na medida em que 1963 foi abertamente descrito como de supremacia relativa do PAIGC que se revelou cheio de iniciativa quer na região Sul quer no Oio, provocando rapidamente uma destabilização em toda a região. Ele considera mesmo, falando de 1964, que ao findar o ano a situação estava quase dominada pelas tropas portuguesas e que, sob o aspecto militar, a vitória do PAIGC nunca estivera tão afastada. O que se vai ser contraditado pelo relato que se segue.

Referindo-se ao primeiro semestre de 1964, diz que a actividade de guerrilha ao Norte do Geba foi intensa, houve a destruição de pontes, a região ficou a ferro e fogo, Bigene, Bissorã; Mansabá e Cuntima foram profundamente afectadas, seguindo-se outras regiões como Canjambari e Udasse. Era uma mentalidade agressiva que parecia não poder ser sustida. O troço Mansabá-Bafatá, de uma grande importância económica (para escoar a mancarra e as madeiras) ficou inoperante. Falando do mês de Abril, o autor refere-se a uma actividade frenética na área de Farim, com minas, flagelações e emboscadas. Como se veio a comprovar, a população local mostrou-se dividida, um elevado número da população apoiou as forças portuguesas, uma fracção menor passou-se para a guerrilha. Este espírito ofensivo alastrou para o Sul, para Enxalé e Xime. Como o assunto me diz directamente respeito, ali passei cerca de 15 meses, cito o que o autor diz; “Ao norte de Bambadinca, os bandoleiros atacaram em Abril a tabanca em autodefesa de Missirá, tendo sido asperamente repelidos pela população nativa. Tal como Cutia, Missirá passaria a ser uma das tabancas que melhor representam na Guiné a vontade dos nativos em se defender do terrorismo.

A sul do Geba, as coisas também não estavam famosas. Prosseguiram as flagelações a Bedanda, Buba e pela primeira vez o PAIGC apresentou-se com o morteiro 82. Nos ataques a Cabedu e Fulacunda também fez a aparição a metralhadora pesada Goryunov. A marinha de comércio e as embarcações militares passaram a ser flageladas: no canal do Geba, Fulacunda, Cumbijã. As tropas portuguesas desenvolveram um grande esforço para reabrir a estrada Guileje-Campeane (mais tarde abandonada). Hélio Felgas vai referindo graves desaires sofridos pelo PAIGC, pondo ênfase na ilha de Como. Ele escreve: “Quando a operação foi dada por finda, o PAIGC já não se revelava, apesar dos nossos soldados cruzarem as matas em todos os sentidos. Muitos bandoleiros haviam sido mortos e algum material lhes fora apreendido. Mas a maior parte conseguira fugir da ilha, apesar da vigilância dos nossos navios de guerra (será interessante depois compararmos este relato com o que escreve Luís Cabral em “Crónica da Libertação”. Ninguém podia ter a pretensão de ter limpo a ilha de terroristas nem de evitar que os fugidos regressassem novamente logo que as tropas saíssem. O resultado final foi francamente favorável para as forças portuguesas que, mais uma vez haviam mostrado ao PAIGC serem capazes de desalojar os seus grupos, fosse de que área fosse. Além disso, como prova da nossa soberania, construímos em Cachil um aquartelamento e aí deixámos uma guarnição com a missão de patrulhar a ilha.

Ao findar o semestre, diz o autor, a actividade das tropas portuguesas tinha sido notável. Em Bula e Binar houve forte oposição à expansão do inimigo. Mas nas entrelinhas o autor não deixa de revelar os avanços do PAIGC: ofensiva a leste, sobretudo na área Bambadinca-Xime-Xitole. A documentação apreendida dava conta de enxurradas de material canalisadas para o Oio, região do Xime, em todas as bases do Sul tinha melhorado substancialmente o armamento. O autor refere a nova orgânica militar do PAIGC e que se veio a revelar ser verdade após o congresso de Cassacá que se realizou ao tempo da batalha do Como.

Tínhamos chegado à era Arnaldo Schulz. No segundo semestre a actividade do PAIGC tinha diminuído, diz o autor, mas de modo algum desaparecera a guerrilha. Mas o relato desse apaziguamento é contraditado pela disseminação de acções, centradas no Oio e na região Sul. Hélio Felgas escreve: “Mantinham-se os boatos sobre a provável criação de novas bases inimigas no interior da Província. Uma delas seria entre Barro e Ingoré, para o grupo que actuava na área Bissorã-Bancolene e que era comandado por Mamadu Indjai, filho do famoso auxiliar do pacificador Teixeira Pinto, Adbul Indjai. Outra base seria a criação entre Có e Pelundo, na área de Bula e Teixeira Pinto e seria entregue ao “Gazela” que para isso deixaria Biambi sob o comando de Braima Darame. Em breve se verificaria serem verdadeiras estas notícias”. O espantoso deste relato que fala permanentemente de um enfraquecimento do PAIGC é de incluir sempre uma descrição dinâmica do inimigo: novos campos de treino na República da Guiné, as frequentes visitas de Amílcar Cabral a esses campos, a chegada de viaturas para facilitarem os transportes nas fronteiras da República da Guiné, o aparecimento de enfermarias. Por essa época um grupo tentou afundar a jangada de João Landim, reacenderam-se as acções na área Bula-Binar. Em Novembro, o PAIGC retomou a iniciativa e pelas descrições de Hélio Felgas foi somando revezes. Em Madina do Boé tudo se embrulhou para as posições portuguesas, aos poucos a iniciativa passou a ser a do PAIGC flagelando sem parar Madina e Béli. Para o autor, as forças portuguesas alargavam cada vez mais a sua rede de ocupação, criando crescentes dificuldades aos guerrilheiros. A fazer fé no que se veio a viver na era Spínola, este alastramento trouxe enfraquecimento e uma maior vulnerabilidade às posições portuguesas. O autor tece louvores ao estoicismo dos militares, à sua capacidade de adaptação, à melhoria das condições de vida das populações autóctones, ao papel desempenhado pelo Movimento Nacional Feminino e à criação das companhias de milícias, dizendo mesmo: “A manutenção dos soldados nativos nas fileiras e o recrutamento das milícias conduziram a uma situação curiosa e pouco conhecida. É que na Guiné há hoje mais militares nativos que metropolitanos. A imensa maioria dos nativos não nutre qualquer idealismo político que nos seja favorável. O que eles pretendem é um emprego. E foi a falta de emprego, aliada a promessas sedutoras ou ameaças terríveis que obrigou muitos nativos a deixarem-se aliciar. A inexistência de desertores, seja entre os soldados, entre os polícias ou entre as milícias, é prova segura do que afirmamos”.

Este relato está a chegar ao fim. Quanto mais se lê, mais se torna intolerável a impreparação e o desconhecimento do que andámos a fazer, foi insultuosa a falta de informação que nos acompanhou nas nossas comissões militares, do princípio ao fim. Ora pessoas como Hélio Felgas procuraram dar informação, mesmo que apologética e deformada. Informação que nos sonegada, sabe-se lá porquê.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 29 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7188: Operação Saudade 2010 (Mário Beja Santos) (1): Carta ao meu querido amigo Fodé Dahaba

Vd. último poste da série de 27 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7183: Notas de leitura (162): Guerra na Guiné, por Hélio Felgas (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7193: Estórias avulsas (43): Memórias de uma noite terrível em Canquelifá – 1971 (Francisco Palma)


1. O nosso Camarada Francisco Palma, ex-Sol Condutor Auto da CCAV 2748/BCAV 2922, Canquelifá, 1970/72), enviou-nos em 30 de Outubro uma dramática estória da sua (nossa) guerra:


MEMÓRIAS DE UMA NOITE TERRIVEL EM CANQUELIFÁ - 1971
Na noite de 2 de Fevereiro de 1971 em Canquelifá, com a CCAV 2748, em que estávamos reforçados com dois pelotões da CART 3332, sofremos um ataque em que arderam cerca de 40 tabancas, todas junto ao nosso Comando.
O IN tinha assentado base sobre uma zona onde tínhamos montado 12 fornilhos, qual deles o mais forte, com granadas de morteiro e de obus 14 cm (ferrugentas), gasolina, cintas de barris em chapa de ferro, jerricans rotos, garrafões de vidro e tudo o que estilhaçava, e era despejado nos inerentes buracos.
Os disparos deles era intensíssimos, com balas tracejantes e outras, além de toda a espécie de armamento, roquetes, canhão sem recuo, morteiro de 82 mm, etc. de tal modo que nem podíamos levantar as cabeças de fora das valas.
FOI UM VERDADEIRO INFERNO.
Quando o Fur Mil de Cav António Freire accionou os fornilhos, o chão estremeceu violentamente e só nessa altura podemos ripostar. O Fur Mil Luís Encarnação no abrigo nº 9, com o morteiro de 60 mm, “meteu” dois “supositórios” na "mouche", sobre o Comandante IN (que na altura envergava a bandeira do PAIGC e outra que, supostamente, seria a da futura Guiné livre), ficando este sem metade da testa e o seu ajudante com as entranhas ao ar livre.
Passados 2 horas (?) recebemos mais 4 foguetões de 122 mm, que causaram alguns feridos ligeiros entre a população.
QUE ARRAIAL CAMARAMIGOS - como diz o Camaramigo Fernando Belo.
ESQUECER COMO?
O Fur Mil MA Luís Encarnação que tem melhor memória que eu, por favor corrija se falhei aqui alguma "deixa".
Falou-se que a tropa IN tinha sofrido imensas baixas, mas nós só encontramos 4 "esticados" e as nossas tropas, graças a Deus, não sofreram qualquer baixa.

Um abraço,
Francisco Palma
Sol Cond Auto da CCAV 2748/BCAV 2922 (DFA)

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Nota de MR:
Vd. poste anterior desta série em:
28 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7046: Estórias avulsas (97): O Largo do liceu, em Bissau, onde moravam as enfermeiras pára-quedistas (Miguel Pessoa)

Guiné 63/74 - P7192: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (30): Forgotten African Soldier / O Soldado Africano Esquecido (Jochen Steffen Arndt, Universidade de Illinois em Chicago)

Brasão da CCAÇ 3 (a que pertenceram entre outros os nossos camaradas A. Marques Lopes e João Manuel Félix Dias, em épocas diferentes): Amando e Defendendo Portugal / 3th Company Coat of Arms: Loving and  Defending Portugal... 
Cortesia de /Courtesy of  João Manuel Félix Dias (CCAV 2539, CCAÇ 3, 1969/71)


1.  Mensagem de um leitor do nosso blogue,  norte-americano (mas que conhece Portugal), Jochen S. Arndt, doutorando em História Africana, Universidade de Illinois, Chicado (*):

Date: 2010/10/21
Subject: Pedido de Ajuda para um Projecto de Investigação sobre Antigos Soldados Africanos

English version [Versão Portuguesa em baixo]

Dear Professor Luís Graça and Members of the Editorial Board,

My name is Jochen Arndt and I am a doctoral student at the University of Illinois,  Chicago,  in the USA. I have recently found your website and your blogue on the internet. Both your website and blogue are of great interest to me because I am engaged in a academic research project whose purpose is to draw attention to the African soldiers and militias who served with the Portuguese forces in Africa between 1961 and 1974.

I hope that you agree with me when I say that the historiography of the colonial wars has to some extent forgotten the numerous African soldiers who served with the Portuguese colonial forces in Africa. It is not so much that they have not been mentioned at all, but rather that their personal stories, motivations, and experiences have been largely neglected by historians. In other words, historians, if they have tried at all, have looked at these soldiers through the existing archival records such as official documents and reports. Since these archival records include little personal information about the soldiers, we know actually very little about why these African soldiers joined the Portuguese forces and fought for them. As a result, they remain "outside" of history. I believe that it is their interest as well as the interest of history to bring them back "into" history.

In order to achieve this, it is necessary to construct a new archive that includes as many personal accounts of African soldiers as possible. How many? This is difficult to say. However, to give you an example, a project is currently under way in Britain to create such an archive of personal accounts for African soldiers who served in Southern Rhodesia. The researchers there are trying to collect 120 personal accounts. Wouldn't it be fantastic if we could achieve a similar number for the African soldiers who served with the Portuguese forces in Guinea?

What is the best course of action to achieve this goal? I have created the website
http://www.forgottenafricansoldiers.org  (**) as a means of opening a channel of communication with as many African veterans and European veterans who served with African soldiers as possible. I hope that both European and African soldiers will provide me with personal accounts and, more importantly, will help me establish a database of contact information. The database of contact information will be crucial for the second phase of my research plan when I will travel to Portugal and Guinea-Bissau to conduct personal interviews with these veterans.

I believe that together these interviews and the written accounts will form the cornerstones of the new archive. Perhaps it will also include copies of pictures, copies of personal letters, etc. Researchers will then be able to use this new archive to write histories of these African veterans, the colonial wars in Portuguese Africa, and the period of decolonization.


I have recently been in contact with Paulo Santiago (Pel Caç Nat 53), Virginio Briote (Comandos), Amadú Bailo Djaló (Comandos), Ibrahimo Djaura (CCAÇ 19), and Joaquim Alves (Pel Caç Nat 52, CCAÇ 15). They have been very helpful. I hope that I can interest you and the broader community of your blogue in this project as well. I think your blogue would be an excellent way to get in touch with a larger number of European and African veterans.

I am looking forward to hearing from you. Please feel free to contact me with any questions that you may have.

Kind regards,

Jochen S. Arndt
PhD Student
Department of History (MC 198)
913 University Hall 601 South Morgan Street
University of Illinois at Chicago
Chicago, IL 60607-7109


[Versão portuguesa, corrigida por L.G.]


Exmo. Professor Luís Graça e Co-editores,

Meu nome é Jochen Steffen Arndt. Sou estudante do programa de doutoramento da Universidade de Illinois em Chicago, EUA. Encontrei recentemente o seu site e também o seu blogue na internet. O seu site e o seu blogue são de grande interese para mim porque estou a realizar um projecto de investigação,  académica, sobre os soldados e os milícias  africanos que serviram com as forças portuguesas em Africa entre 1961 e 1974.

Talvez concorde comigo quando digo que a historiografia das guerras coloniais tem em certa medida esquecido os numerosos soldados africanos que integraram as forças portuguesas em África. Não quero dizer que eles tenham sido completamente ignorados, mas sim que a suas histórias pessoais, motivações e experiências têm sido largamente ignoradas pelos historiadores. No entanto, este problema tem em grande medida a ver com a estrutura dos arquivos históricos existentes: os documentos e os relatórios oficiais incluem poucas informações sobre os soldados, as suas vidas, e as suas experiências.


As questões que norteiam o meu projecto são os seguintes: Porque é que esses soldados e alistaram nas forças de segurança das colónias portuguesas? Quais foram as suas experiências antes, durante e após o período de conflito? Quais são as suas memórias do tempo de vida militar ? Como é que eles sobreviveram no período pós-colonial? O objectivo deste projeto de pesquisa é encontrar respostas para estas e outras perguntas e usá-las como fonte de material para estudos sobre estes assuntos.

A fim de realizar este objectivo, precisamos de recolher o maior número possível de relatos pessoais de soldados africanos. Quantos? Isto é difícil de dizer. No entanto, para dar-lhe um exemplo, há um projecto em curso na  Grã-Bretanha para criar um tal arquivo, com referência aos soldados africanos que serviram na Rodésia. Os investigadores  vão lá tentar  recolher 120 relatos pessoais. Não seria fantástico se pudéssemos atingir um número semelhante de relatos pessoais de soldados africanos que lutaram com as forças portuguesas na Guiné?

Qual é o melhor curso de ação para atingir este objectivo? Eu criei o site
http://www.forgottenafricansoldiers.org  (**) com vista a abrir uma via de communicação com veteranos de guerra,  europeus e africanos. Na primeira fase do meu projecto, eu gostaria  recolher relatos pessoais de veteranos africanos e também de veteranos europeus que comandaram ou enquadraram soldados africanos. Nesta fase, eu também gostaria de poder criar uma base de dados que incluisse nomes e contactos de veteranos africanos. Numa segunda fase, penso viajar até Portugal e África para realizar entrevistas orais com os ex-comnbatentes africanos e também com alguns antigos combatentes europeus.

Dado este contexto, gostava de perguntar se o Senhor Luís Graça os co-editores estariam dispostos a participar neste projecto, utilizando o seu blogue com um meio de chamar atenção para este estudo e a sua finalidade.

Por enquanto eu estabeleci contactos através do site
ultramar.terraweb com alguns veteranos europeus e africanos. Entre eles encontram-se  Paulo Santiago (Pel Caç Nat 53), Virgínio Briote (Comandos), Amadú Bailo Djaló (Comandos), Ibrahimo Djaura (CCAÇ 19), e Joaquim Mexia Alves (Pel Caç Nat 52, CCAÇ 15). Seria de grande interese se outras pessoas puderem dar apoio a este projecto com seus relatos e contactos.

Agradeço-lhe sinceramente a atenção dispensada. Por favor, não hesite em contactar-me e fazer as perguntas que entender.



Atentamente,
Jochen S. Arndt (...)
 

2. Comentário de L.G.:

Caro Jochen:

O nosso blogue pretende ser também uma ponte com os guineenses, os que lutaram contra nós e os que lutaram ao nosso lado. Tentamos há anos recolher e divulgar as suas histórias de vida. A tarefa não é fácil, apesar dos nossos contactos, nomeadamente com os nossos antigos soldados africanos, em Portugal e na Guiné. Uma parte deles foi morta ou já morreu. Outros emigraram ou voltaram às suas aldeias. Estão dispersos, estão doentes, são pobres, falam mal o português, expressam-se em crioulo. Conseguir 120 entrevistas é um objectivo muito ambicioso. Precisas de apoio logístico e de recursos financeiros e humanos, incluindo uma boa equipa no terreno. Sugiro que contactes a ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, como parceiro local credível e com trabalho feito na preservação da memória da guerra colonial / luta de libertação. Da nossa parte, tens as portas abertas da nossa Tabanca Grande. Boa sorte para o teu projecto. Luís Graça & Camaradas da Guiné.


Dear Jochen:

Our blog also aims to be a bridge with the Guineans, for those who have fight both with us and againts us. We are also trying to collect and disseminate their life stories. The task is not so easy, despite of our contacts, including with our former African soldiers living in Portugal and in Guinea-Bissau. Some them have been executed after independence; other have died due to poverty and disease. Others have emigrated or are returning to their villages. They are scattered, ill, and poor, barely speaking Portuguese.  Getting 120 interviews is a very ambitious goal. You need a lot of  logistical support, and financial and human resources, including a good research team  to carry out the field work. I suggest that you will also contact the NGO AD - Action para o Desenvolvimento [, Action for Development,], as a credible local partner, with work done in preserving the memory of colonial war / national liberation struggle. 

On our side, we are ready and pleased to open to you and to your research team the doors of our Tabanca Grande [, Large African Village]. Good luck to you as a project leader. Luís Graça & Comrades of Guinea-Bissau.

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Notas de L.G.:

(*) 16 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7135: O Mundo é Pequeno e o Nosso Blogue... é Grande (29): Atenção, Tony Grilo, Canadá, notícias da malta da CCAÇ 1427 (Cabedu, 1965/67)


(**) ForgottenAfricanSoldier.org é um projecto de pesquisa académica. O coordenador do projecto é Jochen Steffen Arndt, o qual completou a sua licenciatura em Administração de Empresas e Marketing Internacional, em 1995. Depois de ter vivido e trabalhado na Alemanha, Portugal e Estados Unidos entre 1996 e 2005, entrou para o programa de mestrado em história,  na Stephen F. Austin State University, programa que acabou com sucesso em 2007. Está actualmente no terceiro ano do programa de doutoramento em História Africana,  na Universidade de Illinois em Chicago,  onde a sua investigação se centra na relação entre o colonialismo, a violência e a formação da identidade. Arndt publicou artigos em revistas científicas como A Revista de História do Mississipi O Jornal de História Militar.  Colabora também frequentemente na publicação online Do olho de Clio.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7191: In Memoriam (58): Faleceu o Dr. Rogério da Silva Leitão (José Marques Ferreira)



1. O nosso Camarada José Marques Ferreira, ex-Sold Apontador de Armas Pesadas da CCAÇ 462, Ingoré (1963/65), enviou-nos hoje a seguinte mensagem:
Camaradas,
Cheguei há pouco de Aveiro. Lá contactei uma pessoa das minhas relações e, por ela, soube que hoje mesmo de tarde se realizou o funeral do médico que prestou serviço militar na Guiné, o cardiologista Dr. Rogério Leitão e naquela cidade residente.
Várias vezes falei com ele, nomeadamente da Guiné, e ele, uma vez, perguntou-me se eu também tinha estado em Catió. Eu sabia que foi aqui um dos locais onde «estacionou». Expliquei-lhe por onde andei, que agora não vem ao caso.
Fiquei de o visitar, até por sugestão do Luís Graça, mas «encolhi-me» porque não sabia como ia ser a visita e falarmos um pouco de tudo isto que nos une: a Guiné. Já ele estava muito doente.
A vida inexoravelmente não dispensa estas situações e por isso o comunico, porque se a Tertúlia ainda não sabe, penso que tenho a obrigação de o dar conhecer.
Com a devida vénia e agradecimento, retirei do site da Câmara Municipal de Aveiro, cujo link é: http://www.cm-aveiro.pt/www/Templates/GenericDetails.aspx?id_object=34200&divName=2&id_class=2, a seguinte notícia e foto:

FALECIMENTO DE DR. ROGÉRIO DA SILVA LEITÃO
Faleceu ontem, dia 28 de Outubro, com 75 anos de idade, Rogério da Silva Leitão, ilustre aveirense, antigo Presidente da Assembleia Municipal entre 1994 e 1997 e vogal deste Órgão de 1986-1993, e reconhecido cardiologista.
Trata-se de uma enorme perda para o Município de Aveiro, para a sua história social e política, que muito se lamenta. O funeral terá lugar hoje, dia 29 de Outubro, pelas 15.00 horas, na Igreja da Misericórdia.
Élio Maia, Presidente da Câmara Municipal de Aveiro, manifesta o seu pesar, considerando que “o município perdeu um distinto aveirense, uma personalidade que pautou a sua acção com reconhecido zelo no campo da cardiologia, e na noção da importância do poder local para o desenvolvimento de Aveiro” e deixa “a sua mais profunda mágoa pela perda de um médico e aveirense de reconhecida distinção, que soube marcar estes tempos com incontestável e irrepreensível intervenção social, médica e política”. A 12 de Maio de 2005 a Câmara Municipal de Aveiro atribuiu a Rogério da Silva Leitão a Medalha de Mérito Municipal em Prata.
A Autarquia Aveirense, através do seu Presidente, devido às circunstâncias excepcionais e urgentes, determinou como expressão de uma justa homenagem, declarar luto municipal por três dias.
Nesta hora de luto, todo o Executivo Aveirense deseja apresentar as mais sentidas condolências e a sua forte solidariedade à família de Rogério Leitão.
28-10-2010"


Um Abraço,
José Marques Ferreira
Sold Ap Armas Pes da CCaç 462


3. Comentário (posterior) de L.G.:


Em tempos o José Colaço fez uma bela homenagem a este nosso camarada, que foi seu médico, tenente miliciano, na CCAÇ 557 (Cachil e Como, 1963/65). Não o não conheci pessoalmente, mas sei que era também um ilustre e dedicado aveirense, conterrâneo portanto de alguns camaradas nossos. Ainda pedi ao José Marques Ferreira para o contactar, visitar e convidar para o nosso blogue. A sua doença já não iria, porém, permitir que esse nosso desejo se concretizasse. Estou grato ao José Marques Ferreira pelo seu cuidado e dedicação. Foi o José que serviu de elo de ligação a este nosso camarada, em vida e em morte. Nesta hora de pesar para todos nós, seus camaradas, seus amigos e sua família, fica aqui registada a nossa admiração por um dos oficiais médicos que esteve connosco na guerra da Guiné, e para mais logo nos seus primórdios.  O mínimo que podemos fazer para manter viva a sua memória, é juntar o seu nome à lista dos camaradas da Tabanca Grande que "da lei da morte se foram libertando"... Que descanse em paz. As nossas condolências à família.

Vd. poste de 13 de Novembro de 2009> Guiné 63/74 - P5264: Os nossos médicos (8): O Dr. Rogério da Silva Leitão, aveirense, cardiologista, CÇAÇ 557, Cachil, Como, 1963/65 (José Colaço)

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Nota de MR: