O Blogue do Vitor Mendes, com uma bela foto da LFG Orion, algures na Guiné...Legenda: " LFG (Lancha de Fiscalização Grande) Orion, da classe Argos, num rio da Guiné [ 1970/71].Deslocamento: 210 toneladas; Dimensões (em metros): 41,7 x 6,7 x 2,1; Armamento: 2 canhões Bofors 40mm/70, metralhadoras 7,62mm e granadas de dilagrama; Propulsão: 2 motores diesel Maybach Tunel MD 440/12 accionando dois hélices, totalizando 2400cv; Velocidade: 17,3 nós; Autonomia: 1660 milhas náuticas; Tripulação: 24. Os navios desta classe usados na Guiné eram parcialmente blindados"...
1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) Vitor E.I. Mendes, que foi tripulante do NRP Orion (1970/72) (*)
De: Vitor E. I. Mendes [vitorinacio.mendes@netvisao.pt]
Enviado: quinta-feira, 4 de Novembro de 2010 16:17
Assunto: N.R.P. "Orion" Guiné 1970/1971
Caro Luís Graça:
... e eis senão quando, em busca de dados sobre a "Orion", eu, que durante quase dois anos fui dela um dos dois marinheiros Radiotelegrafistas, durante as operações e nos anos acima citados o mais antigo, (a antiguidade era um posto, não era?...), descubro um blogue de ex-camaradas de guerra e não apenas da Marinha!
Tenho estado a ler alguns posts do seu blogue e a minha memória já de 61 anos transporta-me para muitas das situações idênticas às descritas e às reflexões inevitáveis do que todos vivemos - e o Luís Graça no mesmo período que eu...
Tenho estado a escrever qualquer coisa parecido com memórias no meu blogue http://comunidade.sol.pt/blogs/vitormendes/default.aspx que gostaria de partilhar consigo. Recordar é viver - máxima que poderá também ser o contrário... Dizia um poeta: "partir é morrer um pouco"!...
Disponha, se quiser e puder responder-me.
Com consideração
Vitor (Emanuel Inácio) Mendes
vitorinacio.mendes@netvisao.pt
Anda tão discreta, escondida (ou submersa ?), a nossa marinha, que é difícil encontrar um marinheiro, mesmo dos velhinhos como tu que bateram os rios e os braços de mar da Guiné...A surpresa também é, pois, da nossa parte, ao deparar nas andanças da blogosfera um camarada como tu, marinheiro radiotelegrafista... Parabéns pelo teu blogue. Fico à espera dos próximos episódios do teu herói de carne e osso(**). Incentivo-te a que continues e convido-te, inclusivamente, a ingressar na nossa Tabanca Grande que já conta com cerca de 460 camaradas, todos eles heróis de terra, mar e ar... E claro, de carne e osso, como o teu. Não estranhes o tratamento, romano, por tu: afinal, fomos todos camaradas de armas...Bons ventos para as tuas viagens de regresso ao passado. Prometo voltar a visitar-te. Um Alfa Bravo. Luís
PS - Registo a primeira frase que escreveste no teu blogue, em Março de 2007: "Então por que é que não havia eu de entrar neste mundo algo misterioso da blogomania?...No fundo tenho tanta necessidade de me fazer ouv(e)r como qualquer outro pobre mortal deste planeta"...Registo igualmente uma das tuas citações da Bíblia, que é um dos teus livros de cabeceira: "O que foi, isso é o que há-de ser, e o que se fez, isso se tornará a fazer; DE MODO QUE NADA HÁ DE NOVO DEBAIXO DO SOL. Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Já foi nos séculos passados, que foram antes de nós." (Livro do Eclesiastes, ou do Pregador).
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Notas de L.G.:
(*) Último poste desta série > 1 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7066: Blogues da nossa blogosfera (38): Breve História da Tabanca dos Melros (Carlos Silva)
(**) Com a devida vénia este teu primeiro naco de prosa:
(...) Chegara a Bissau, capital da então Guiné Portuguesa, no dia 1 de Fevereiro de 1970. Após uma longa madrugada a enganar o sono enroscado em cima de um caixote de madeira, a bordo de uma lancha de desembarque grande (LDG), cujo nome esqueci, desembarquei na ponte-cais que servia também de base naval. Saco-mochila de lona às costas, como se dentro dele transportasse um cadáver, aos primeiros alvores da madrugada tropical, tinha de encontrar o navio para o qual eu havia sido destacado.
(...) Chegara a Bissau, capital da então Guiné Portuguesa, no dia 1 de Fevereiro de 1970. Após uma longa madrugada a enganar o sono enroscado em cima de um caixote de madeira, a bordo de uma lancha de desembarque grande (LDG), cujo nome esqueci, desembarquei na ponte-cais que servia também de base naval. Saco-mochila de lona às costas, como se dentro dele transportasse um cadáver, aos primeiros alvores da madrugada tropical, tinha de encontrar o navio para o qual eu havia sido destacado.
Havia vários, lanchas de fiscalização grandes e outras embarcações menores, mas qual a “Orion”, que esperava um radiotelegrafista para rendição individual? Interroguei um africano, eventual estivador que por ali estava à espera de trabalho em navio mercante prestes a chegar, se me podia satisfazer a curiosidade. Admirado pela pergunta de um marinheiro branco alvamente fardado, supostamente no seu ambiente, apontou-me a mancha cinzenta característica da pintura dos navios de guerra ali atracados. Peças de artilharia à vante e à ré, antenas de radar e de TSF verticais e horizontais, pára-raios, balanceavam ao sabor da viragem da maré no Rio Geba. Ouviam-se os sons do marulho da água nos pilares de sustentação do cais enquanto descia, meio ensonado e vagueando, a escada do primeiro portaló dos vários “patrulhas” atracados de braço dado.
O primeiro ser humano surgiu – um escola, como nos tratávamos, o “cabo de dia”, de familiar pistola “Walter 9 mm” à cintura, a sair estremunhado de uma noite de vigia. Não estava no navio que eu procurava, mas reconhecendo em mim um “piriquito”, algo pálido até pela falta de descanso, ofereceu-me café quente que tinha acabado de fazer para ele e disse-me que estávamos a bordo ou da “Cassiopeia”, ou da “Lira” ou da “Hidra”, os "patrulhas" ou LFG’s gémeas, eu sei lá, mas que a “Orion”, a outra irmã, estava numa das posições seguintes e que eu tinha tempo porque ainda estava tudo a dormir… O apito da alvorada ouvir-se-ia daí a instantes. (...)