quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7441: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (1): Querido Pai Natal... (Albino Silva, CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70)

1. Mensagem de Albino Silva* (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), com data de 4 de Dezembro de 2010:

Carlos Vinhal:
Nesta minha mensagem especial como não podia deixar de ser, quero desejar-te um Santo e Feliz Natal e Próspero Ano de 2011, aliás como acima o fiz, sem esquecer o Luís Graça, Magalhães Ribeiro, Humberto Reis e Virgínio Briote, transmitindo ainda a todos os Tertulianos que fazem parte ou frequentam a nossa Tabanca Grande, incluindo as Senhoras que nos vão dando conta de suas Histórias, e porque também elas viveram um passado deveras difícil, sabendo que outras há, e que decerto gostariam de escrever aqui na nossa Tabanca Grande, contando suas mágoas, e muitas tristeza pelo trauma vivido conjuntamente com seus maridos, porque conheço infelizmente alguns casos em que é por demais doloroso, ao ver sofrer mulheres e até filhos, quando camaradas nossos ainda gritam assustados daquele passado que nós tivemos naquela África sangrenta.

Vamos continuar com nossa Tabanca.
Eu estou já escrevendo mais umas coisinhas a meu jeito e que para 2011 enviarei à Tabanca Grande.

Um grande abraço a todos
BOAS FESTAS...


Para todos
BOAS FESTAS

Camaradas da Tertúlia,
para todos bem igual,
vos desejo tudo de bom,
um Santo e Feliz Natal...

Em especial saúde
e nunca nada de mau,
se possível neste Natal
comam muito bacalhau...

À nossa Tabanca Grande,
de gente boa e modesta,
desejo um Santo Natal
e Bom Ano Novo em festa...

Aos Régulos da nossa Tabanca
os quais eu sempre respeito,
Boas Festas e parabéns
por tudo quanto têm feito...

Termina o ano positivo
por tudo aquilo que eu vi,
das vezes que fui à Tabanca,
por tudo quanto eu lá li...

Estamos a chegar ao Natal,
por isso me lembro de ti,
de camaradas que já partiram
também esses não esqueci...

Sei que não estão entre nós
e sei que jamais os verei
e nesta quadra especial
eu por eles rezarei ...

Camaradas da Tabanca,
enquanto tiverdes memória,
pró Ano voltai a escrever,
contai sempre vossa História...

Estou pronto a ler tudo
e vejo sempre tudo tão bem
e para a Tabanca ser Grande
eu escrevo nela também ...

Dia a dia venho aqui,
e sei que fazes igual,
ver nossa Tabanca Grande
pois é este o meu jornal ...

Bom Natal ao Luís Graça,
da Tabanca fundador,
ao Humberto Reis, cartógrafo,
Carlos Vinhal, administrador...

Também ao Magalhães Ribeiro,
da Tabanca é seu editor,
igualmente um Bom Ano a todos,
e ao Virgínio Briote, administrador...

BOAS FESTAS para todos,
neste abraço puro e verdadeiro
deste que foi Soldado na Guiné,
Albino Silva, Maqueiro ...

Por:
Albino Silva
BCaç 2845
Guiné - Teixeira Pinto
(1968/70)


2. Comentário de C.V. /L.G.:

Com este Mural do Pai Natal 2010, vamos de dar início à nossa tradicional troca de postais, cartoons, mensagens, versos, imagens, fotos, histórias..., tudo o que for achado adequado à época festiva e à natureza nossa Tabanca Grande... Fazemos um apelo à criatividade e originalidade dos nossos camaradas, amigos e camarigos, bem como leitores, simpatizantes, críticos, adversários, detractores e até inimigos (se os tivermos)... O que importa é participar... Há rapaziada (e raparigada...) que não pega na caneta há um ror de tempo... ou seja, não anda com as quotas em dia. Participar não custa nada: está ao alcance de um clique...

Em anos anteriores já publicámos outras séries nesta quadra festiva tais como As Boas-Festas da nossa Tabanca Grande; O meu Natal no mato; Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Ano Novo 2010...

Por outro lado, e sem qualquer preocupação em entrar para o Livro de Recordes do Guiness, temos a modestíssima ambição de ultrapassar os 1888 postes de 2009... Estamos, neste momento, com 1856, mas ainda faltam 2 semanas até ao fim do ano... A meta dos 2000, essa, é praticamente impossível de atingir, dada a "quadra festiva" em que a tendência é para baixar a produção e a produtividade dos editores e demais tabanqueiros...
Até lá, Festas Felizes, Quentes e Boas!
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 7 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6552: Convívios (163): Encontro do pessoal da CCAÇ 2368, ocorrido no dia 30 de Maio de 2010 (Albino Silva)

Guiné 63/74 - P7440: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (5): Do Bambadincazinho para Ponta Varela

Guiné > Zona Leste > Mapa do Xime (1955), 1/50000  > Detalhe: O Rio Geba, o Rio Corubal, à esquerda, Poindon, Ponta Varela, Madina Colhido, estrada Xime-Ponta do Inglês, Rio Geba Estreito,  Xime, estrada Xime-Bambadinca, Enxalé (em frente, na margem direita do Rio Geba), Samba Silate, Ponta Coli, Amedalai... Tudo lugares míticos, carregados de emoções para os camarigos que viveram e lutaram no Sector L1 (Bambadinca) ou que desembarcaram, numa LDG, a caminho de outras terras da vasta zona leste da Guiné, via Bambadinca-Xitole ou Bambadinca-Bafatá... (LG)


1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Dezembro de 2010:

A partir deste dia 21 de Novembro passei a andar às ordens do Fodé Dahaba. Procurei deixar tudo anotado e por ordem. Em vão. Na mesma folha onde escrevi o nome de Demba Embaló, o guarda-costas de Jorge Cabral, pus o nome de Aliu Baldé, Binta Seidi, e para baralhar mais as coisas escrevi os nomes dos comandantes do PAIGC em Madina e Belel: Santiago Mendes, Farazinho Pereira e Samper Mendes.
A partir daqui ainda vai ser pior. Felizmente que me posso guiar pela ordem, dia-a-dia, registada pela máquina fotográfica. Mas falei com tanta gente, perguntei por tanta gente, estou certo e seguro que vou cometer graves omissões.
Nem tudo o que queria ver e que pedi ao Fodé foi possível visitar: a estrada da Amedalai para Moricanhe estava praticamente intransitável, e só conheci muito tarde a solução salvadora, Lânsana Sori e a sua milagrosa motocicleta; chegar ao Buruntoni e ao Baio é muito difícil, e tem que ser a partir da Ponta do Inglês; a mesma coisa com a viagem da Ponta do Inglês até à mata de Fiofioli, onde se situa a tabanca de Tubácuta onde viveu o comandante Domingos Ramos.
O importante é que a viagem nunca acaba. E os sonhos do viandante permanecem.

Um abraço do
Mário
__________________

Operação Tangomau (5)

por Beja Santos

Do Bambadincazinho para Ponta Varela

1. A partir de Bambadinca, chega-se num ápice ao Bairro Joli, contíguo de Santa Helena. Por aqui andei no passado longínquo em missões pacíficas e em nomadizações hostis. Durante a guerra, comprava-se aqui gado,  muito útil para os problemas de intendência de Missirá, os dois cabritos que Jobo Baldé ali assou no Natal de 1968, daqui vieram, seguiram pela bolanha de Finete num Unimog 411 e finaram-se na véspera de Natal, para gáudio de quem combatia e vivia naquele ponto do Cuor. Estes caminhos do Bairro Joli eram espiolhados devido à incontestável conivência de alguma população com os inimigos de Madina/Belel. Era o drama das relações de sangue de quem tinha optado pela luta ou ficado à sombra da bandeira portuguesa.

Em Santa Helena, Fá Balanta e Mero viviam comunidades balantas onde se acoitavam, à sorrelfa, civis e militares do mato, que procuravam informações, compravam tabaco ou sal, abasteciam-se de gado, traziam esteiras e produtos das suas hortas. Atravessavam o Geba estreito entre as bolanhas de Finete e Ponta Nova. Aparecíamos ao amanhecer em missões pouco conciliatórias e às vezes com inquirições duras. A verdade é que a comunicação, mesmo com mortes e feridos de permeio, nunca se interrompeu completamente. Ora é acima de Ponta Nova que eu vou habitar. Aqui se devotou Inácio Semedo a construir casa, destilaria e horta. A casa, basta ver a fotografia, é bem semelhante àquelas que se podiam ver em Malandim, Saliquinhé ou São Belchior, até mesmo no Enxalé, ao tempo.

O panorama que se desfruta é, no mínimo, deslumbrante. O Tangomau vai desfrutar das vistas do amanhecer e do entardecer, são momentos mágicos. De manhã, antes das sete horas, Bambadinca aparece submersa pelo sereno, uma neblina que se evola com o primeiro calor da manhã, deixa ver, em toda a sua majestade, as bolanhas, os palmares e os meandros do Geba estreito. À tarde, é o cerimonial do pôr-do-sol, a bola de fogo tisna-se de todos os tons ígneos, até se esconder entre Mato de Cão e Chicri. Nesta casa onde me acolhera, há muito da traça portuguesa adaptada ao calor tropical, as varandas são indispensáveis, os telhados prolongam-se para dar sombra sobre os alpendres.

O Tangomau e comitiva são recebidos pela Dada e Fernando Semedo, Mio. Há duas crianças (Tuinho e Thierry), uma menina de nome Florinda, a empregada, depois vai aparecer um outro empregado, Alberto Djata. Mostram-lhe o quarto, a casa de banho, a sala onde irão ver os canais franceses mais alguns filmes em DVD.

O Tangomau logo regista a casa, teve mesmo a pretensão de captar as duas bolanhas em sequência, saiu imagem amassada, desbotada, paciência. Vamos agora ao que importa, mentaliza-se que se avizinham emoções muito poderosas, vai rever gente que muito estima, vão ser expostos problemas (para ele) insolúveis, ser-lhe-ão feitos pedidos que não poderá atender, é preciso estar de ânimo forte.

A casa no Bairro Joli, perto de Santa Helena,  onde estou a viver. Foi erguida por Inácio Semedo, que pertenceu ao PAIGC e que por isso obrigado a viver em Angola durante 7 anos. Um dos seus filhos, o Eng.º Fernando Semedo, procura pôr de pé o sonho do seu pai, dar vida ao projecto agro-industrial


2. Para se sentir preparado, veio cedo contemplar a bolanha de Ponta Nova, trouxe “As Palavras”, de Jean-Paul Sartre, uma narrativa autobiográfica muito dolorosa e corajosa, não é qualquer um que se acomete a escrever assim:“Uma manhã, em 1917, em La Rochelle, aguardava alguns colegas que deviam acompanhar-me ao liceu; estavam a demorar; sem já saber o que inventar para me distrair, resolvi pensar no Todo-Poderoso. Logo ele se precipitou no azul-celeste e se sumiu sem dar explicação: não existe!, disse eu a mim próprio com um espanto cortês, e julguei o assunto arrumado. De certa maneira estava, visto que nunca mais, desde aí, senti a menor sensação de o ressuscitar. Mas o Outro subsistia, o Invisível, o Espírito Santo, o que garantia o meu mandato e regia a minha vida por grandes forças anónimas e sagradas. Deste, senti bem maior dificuldade em me livrar, pois que se instalara atrás da minha cabeça, nas noções adulteradas que eu usava para me compreender, me situar e me justificar. Escrever foi durante muito tempo pedir à Morte, à Religião, sob uma máscara, que me arrancassem a minha vida ao acaso. Fui da Igreja. Militante, quis salvar-me pelas obras; místico, tentei desvendar o silêncio do ser por um sussurrar contrariado de palavras e, sobretudo, confundi as coisas com os seus nomes: isto é querer”.

Divago sobre esta capacidade de falar sobre a perda da fé quando se começa a ouvir o motor da Renault Express. Fodé apresenta cumprimentos, não há tempo a perder, os eventos sociais estão marcados. Há só uma curta paragem no mercado de Bambadinca, o Tangomau vai abastecer-se de bolacha Maria, banana-maçã e alguma goiaba. Primeiro, e de acordo com a lei Mandinga, receber cumprimentos dos homens grandes, aparecem capitaneados por Aliu Fuma, mais do que octogenário, trazido pela mão de um genro. Há saudações e depois orações, dá-se graças a Deus por este reencontro. A seguir a família, mulheres, gente mais jovem e as crianças. Sucedem-se as reverências mandingas, o Tangomau é saudado com o profundo respeito da amizade que merecem os velhos. Aliás, o Tangomau vai passar repetidamente a ouvir o cumprimento: “Olá, velho! Corpo?”.

É neste grupo que aparece Mamadu Baldé, filho de Queta Baldé, chegara expressamente de Amedalai apresentar cumprimentos. E temos o último cerimonial, o pessoal da casa, mulheres e filhos. É nisto que o Tangomau acorda para um drama, a terceira mulher do Fodé, a quem chamam a Louca, aparece, profere uma frases ininteligíveis e desaparece. É a mãe de Calilo, Iaguba, Braima, isto só para falar dos machos, é impossível fixar o nome daquele rol de fêmeas a que constantemente Fodé grita para pedir coisas ou dar ordens.

Não fosse o Tangomau um obscuro fotógrafo amador e teria conseguido capturar a deslumbrante extensão das bolanhas de Ponta Nova e Finete, com Mato de Cão lá ao fundo. É o que há, pede-se desculpa por não se ter capturado um panorama magnífico do Geba estreito.


3. Súbito, o Tangomau é avassalado por uma emoção, diante dele, de braços abertos e riso bom aparece-lhe Samba Gebo, sempre jovem, distinto, mal se apresentou e já começa a pedir livros, lápis e papel. No seu caderninho, o Tangomau notou: o Samba trouxe-me a juventude de Missirá, é o porta-voz daquela gente abnegada, leal, sempre pronta a seguir-me.

Chegou igualmente Madiu Colubali, tem a vista turva, desfaz-se em ademanes. Fodé grita, a família Fati, os Sanhá e os Dahaba têm uma recepção à nossa espera em Amedalai. O primeiro choque surge quando o Tangomau pede uma curta paragem na ponte de Udunduma, depois de uma ligeira discussão Fodé condescende. Tiram-se fotografias e o Tangomau precipita-se ladeira acima, à procura do local onde esteve instalado o destacamento mais infecto da Guiné.

Encontrou uma tabanca, foi muito bem acolhido, explicou ao que veio e apanhou um instantâneo e uma festa de mulheres, só fixou que se tratava de um corte de cabelo. Pouco depois, chegaram a Amedalai, a tabanca é enorme, talvez tenha mesmo duplicado ou triplicado. Os Fati, os Sanhá e os Dahaba são uma pequena multidão. Fodé discursa, um homem grande responde e o Tangomau, inexplicavelmente, pede a palavra e conta onde e como nasceu a profunda amizade que nutre por Fodé. Fala-se de Finete, de uma colaboração muito leal, e no fim conta-se aquele desastre brutal no amanhecer de 22 de Fevereiro de 1969. Mudara a vida do Fodé e aquele menino alferes descobria que às vezes uma ordem pode dar um sinistro despropositado, como fora o caso daquele.

O almani presente na cerimónia levanta-se e reza uma nova acção de graças. O Tangomau gagueja: “Deus Todo-Poderoso tem compaixão de nós, perdoa os nossos pecados e conduz-nos à vida eterna”. Procura-se a seguir Mamadu Djau, não está, aproximam-se os familiares e até um homem que se apresenta como primeiro-cabo da CCaç 12, dá pelo nome de José Carlos [Suleimane Baldé], exige ficar numa fotografia para que lá em Portugal saibam que está vivo. E parte-se para o Xime, o alcatroado tem resistido bem ao tempo, o Tangomau viu-o nascer, em 1970. Pelo caminho, despontam as tabancas que surgiram depois da guerra, Taliurá e Ponta Coli, são os manjacos que exploram estas ricas de bolanha.

Uma variante da fotografia que já saiu no álbum, publicada há dias: estamos em Amedalai e alguém que se apresenta como José Carlos Suleimane Balbé [ex-1º Cabo, CCA>Ç 12, 1969/74] , pede para ser fotografado. Ei-lo, ladeado por Samba Baldé (Samba Gebo) e Madiu Colubali. O fundo é dado por membros da família de Mamadu Djau.


4. Chegados ao Xime, a primeira curiosidade é de visitar o porto. Este já existe, está reduzido a miseras meia-dúzia de estacas. Até o capim brota do alcatrão, como se protestasse por tão indigno abandono. Numa elevação, ergue-se uma estrutura monumental, ao que parece um silo para a mancarra, trata-se de uma infra-estrutura que nunca teve uso, quando Luís Cabral caiu em desgraça Nino Vieira votou ao desprezo os projectos do seu antecessor. Há ainda uma visita a fazer a membros da família Fati, aparece a viúva de Mankuma Biai, um guia muito capaz que prestou um óptimo serviço ao Tangomau na operação “Rinoceronte Temível”, tendo mesmo sido louvado.

O Xime é uma mistura de instalações ao abandono e da nova tabanca. Fodé adverte que vamos para o último itinerário da viagem, Ponta Varela. Tomou-se à direita a estrada Xime-Ponta do Inglês, seguiu-se por um estradão mal tratado, ao fim de meia hora entrei num território que percorrera sempre à espera de contacto com o inimigo. O que o levara ali era conhecer o local onde, nesse passado remoto da guerra, as forças do PAIGC desfechavam bazucadas sobre as embarcações civis que, arrastadas pela corrente, se aproximavam do tarrafe, à entrada do Geba estreito.

Nas operações que se destinavam ao Poindom ou Ponta do Inglês flanqueava-se as bolanhas e os velhos trilhos, que o PAIGC minara. Eram viagens que se faziam com luz, temia-se uma sarrafusca nocturna, com a desvantagem do inimigo saber retirar e de novo golpear. O importante é que mal chegados à tabanca, e feitos os cumprimentos da praxe, o Tangomau pediu para ir até à margem do Geba.

Um jovem, de nome Mussá, ofereceu-se mas logo avisou que havia passeata para cerca de 3km, o que não incomodou o Tangomau, ele segue excitado por mangais, picadas, hortas e palmares. Irá guardar a imagem dos fios de luz, uma luz coada a ouro, se ir infiltrando pelos cajueiros, tudo dentro de uma grande serenidade, não há mais presença humana, o passeio não cansa, depois surge o Geba, o terreno amoleceu e Mussá mostra o local, aponta para um pilar de cimento, era dali, dentro dos cajueiros fechados que vinha o fogo mortífero.

Captam-se várias imagens, o que era segredo deixou de o ser. E regressa-se em passo estugado. Dos aspectos essenciais, o Tangomau tomou nota: dentro de dias irá conhecer M’Fon Na Bra, comandante do bigrupo que actuava em Ponta Varela; a memória, vacilante, recuou até ao mês de Março de 1969, foi no HM 241 que o Tangomau conheceu aqueles membros da família Fati que vivem agora no Xime; na nova tabanca de Udunduma gostou muito de ser questionado pelos jovens que pretendiam mais informação sobre o quartel. Ainda havia umas folhas soltas com observações registadas,  perderam-se. E assim findou o primeiro dia organizado pelo Fodé, Calilo vai depositá-lo no Bairro Joli.

Demba Embaló, guarda-costas de Jorge Cabral, do Pel Caç Nat 63. Atenda-se à naturalidade da pose, quando se vêem estas fotografias acorre ao espírito as pessoas naturalmente aristocráticas. O Demba coligiu a folha que já aqui foi publicada com os nomes dos soldados do Pel Caç Nat 63. O Demba vende cola e tabaco no mercado de Bambadinca. Garanti-lhe que uma das razões que me trouxera à Guiné era preparar a compra da casa do Jorge Cabral. O Demba tomou-me a sério: “Fica tão contente, tão contente!”

5. Deixou-se para o fim um pormenor essencial: Fodé vive no Bambadincazinho, não há que enganar. Mal se apercebeu dessa realidade, o Tangomau foi visitar a Missão do Sono, a escassas dezenas de metros. Aí voltará na manhã seguinte, na companhia de Mamadu Djau. Mas não se quer adiantar mais pormenores, amanhã será um dia dedicado a Bambadinca, haverá baba e ranho de todo o tamanho, desde o quartel ao porto, também ele desaparecido. Será aí que o Tangomau, especado, olhará para a bolanha de Finete, exactamente no local onde a canoa de Mufali Iafai o conduzia, perto do fim do dia. Mufali também desapareceu.

Ao longo deste dia perguntou-se por muita gente, foram explosões, umas atrás das outras. Serifo Candé, que o Tangomau tanto ansiava abraçar em Biana, perto de Fá, morreu. Na semana anterior morrera Mamadu Silá, o 108, um gigante de corpo com um fiozinho de voz. O Tangomau chega cabisbaixo, com aquela sensação paradoxal que satisfez a curiosidade de visitar lugares anteriormente interditos mas ter perdido camaradas inesquecíveis. Depois cumprimenta a família Semedo, já anoiteceu, conta o que viu e quem visitou, adormeceu cedo, desta vez não teme só os encontros com as pessoas, teme os lugares que vai rever e que tanto estimou, um afecto que guardará até ao fim dos tempos.

Outra variante da fotografia já publicada sobre Ponta Varela, exactamente no local onde as forças do PAIGC atacavam as embarcações civis. É pena não se ficar com a ideia de como, também neste local, nascera o Geba estreito, o leito do rio afunila, à esquerda, não muito longe daqui, passa o rio Corubal [. Vd. detalhe da carta do Xime, 1955, acima].

Fotos: © Mário Beja Santos (2010). Direitos reservados.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 10 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7417: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (4): 20 de Novembro, de Bambadinca para o Bairro Joli

Guiné 63/74 - P7439: (Ex)citações (120): Destruição e incêndio do Mercado Central de Bissau (Francisco Henriques da Silva)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Dezembro de 2010:

Destruição e incêndio do Mercado Central de Bissau*

Carlos,
Peço-te a gentileza de publicares este esclarecimento do nosso Camarada Francisco Henriques da Silva.

Um grande abraço,
Mário

Isto é o estado actual do Mercado Central de Bissau. O embaixador Henriques da Silva garante que houve destruições no conflito político-militar 1998-1999. O que disseram ao Tangomau é que houve um incêndio há alguns anos atrás. Com guerra ou incêndio, perdeu-se um espaço que dava muita vida à Baixa de Bissau. O comércio faz-se à volta deste espaço, mas não é a mesma coisa.
(Foto e legenda de Mário Beja Santos)



2. Mensagem de Francisco Henriques da Silva, ex-Embaixador de Portugal na Guiné-Bissau, dirigida a Mário Beja Santos:

Mário,
Do blogue para onde tu escreves, transcrevo da legenda à fotografia do Mercado Central de Bissau, o seguinte:

"O embaixador Henriques da Silva garante que houve destruições no conflito político-militar 1998-1999. O que disseram ao Tangomau é que houve um incêndio há alguns anos atrás. Com guerra ou incêndio, perdeu-se um espaço que dava muita vida à Baixa de Bissau."

A memória dos bissau-guineenses parece ser curta. A verdade dos factos é que houve um bombardeamento que provocou um incêndio. Parece que estás a pôr em causa a minha palavra. Sempre me assumi como pessoa honesta e rigorosa. Que crédito é que te merecem esses locais que tem do caso em apreço recordações fragmentárias e vagas? Eu não só tenho a memória bem fresca desses acontecimentos porque os vivi com intensidade, como disponho de provas documentais do que afirmo.

Ora bem,
No capítulo 37 do meu manuscrito, refiro:

"Dos muitos incidentes de guerra e não os consigo reproduzir todos, recordo, por exemplo, que em 16 de Julho, o mercado central de Bissau, bem no centro da cidade, foi atingido em pleno pela artilharia da Junta, que resultou na sua destruição parcial. No dia seguinte, o mercado foi novamente atingido por disparos de artilharia tendo morrido um número indeterminado de populares que andavam na pilhagem e também alguns soldados senegaleses. Não foi permitido pelo comando militar conjunto que alguém visse os cadáveres. O mercado ardeu na totalidade."

Mais adiante, no capítulo 41 do meu manuscrito, quando menciono aspectos da vida quotidiana em Bissau durante a guerra, a determinado passo aludo de passagem ao seguinte:

"Como já referi num capítulo anterior, o mercado central da cidade foi destruído num bombardeamento e ardeu integralmente."

Ora tudo isto pode ser documentado pela leitura da imprensa da época (o caso em apreço é referido num "take" da agência LUSA, reproduzido pelos jornais diários, p. ex. no "Diário de Notícias", de 18.07.98, de que tenho cópia no meu arquivo).

Mais. Da correspondência oficial por mim subscrita, transcrevo a parte relevante de um telegrama de 16.07.98, remetido para o MNE - de que tenho cópia:

"Para além de disparos esporádicos, pelas 11h30, novas flagelações durante cerca de 45 minutos tendo sido atingido mercado central onde lavra incêndio, imediações da zona da Mãe d’Água e vários bairros de Bissau. Desconhece-se, por ora, número de vítimas."

E, já agora, segundo telegrama que se refere ao assunto, de 18.07.98, expedido para o MNE - de que também tenho cópia:

"... bombardeamentos da zona do Cuméré para centro cidade recomeçaram cerca das 15h45, com muita intensidade no início, a que se seguiu um período de abrandamento, tendo acções de fogo cessado cerca das 20h00. Mercado Central foi novamente atingido por foguetões tendo provocado um número indiscriminado de vítimas que andavam na pilhagem. Final da tarde ouviam-se distintamente da residência oficial disparos de armas ligeiras, “rockets” e bazucas oriundos presumivelmente da zona da Granja (a Norte do Bº. de Santa Luzia). Tiroteio foi durante vários períodos contínuo intercalados por fases em que apenas se registaram rebentamentos esporádicos. Após fortíssima trovoada e muita chuva, dia amanheceu calmo, não se tendo registado acções de fogo no centro da cidade, até agora."

Não tenho mais nada a acrescentar.

Abraço
Francisco
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 9 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7410: Operação Tangomau (Álbum fotográfico de Mário Beja Santos) (2): Dia 20 de Novembro de 2010

Vd. último poste da série de 11 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7419: (Ex)citações (119): O destino marca a hora ? (Jorge Picado, ex-Cap Mil, 1970/72)

Guin é 63/74 - P7438: Álbum fotográfico de Jacinto Cristina, o padeiro da Ponte Caium, 3º Gr Comb da CCAÇ 3546, 1972/74 (5): Canquelifá, a ferro e fogo, 18 de Março de 1974








Guiné > Zona Leste > Região de Nova Lamego > Canquelifá > CCAÇ 3545 (1972/74) > 18 de Março de 1974 > A paisagem desoladora da tabanca, depois do violento ataque do PAIGC com morteiros 120 e foguetões 122, durante 4 horas... 

Fotos: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


Continuação da  publicação do álbum  fotográfico de Jacinto Cristina (Sold At Inf, CCAÇ 3546, 1972/74) [, foto à esquerda]  (*).


Recorde-se o trajecto (militar) do Jacinto Cristina:  (i) Natural de Ferreira do Alentejo, hoje com 61 anos, fez a recruta no RI 14, em Viseu, e a especialidade no RI 2, Abrantes; (ii) Foi mobilizado para a Guiné, como Sold At Inf, da CCAÇ 3546; (iii) esta subunidade  pertencia ao BCAÇ 3883, mobilizado pelo RI 2; (iv) A CSS estava sediada em Piche; (v) O comandante era o Ten Cor Inf Manuel António Dantas; (vi)  O comandante da CCAÇ 3546 era o Cap QEO José Carlos Duarte Ferreira; (vii) As outras companhias do BCAÇ 3883 era a CCAÇ 3544 (Buruntuma e Piche) e a CCAÇ 3545 (Canquelifá e Piche); (ix) Estas quatro subunidades partiram para a Guiné de avião,  em Março de 1972; (x) Regressaram à Metrópole, também de avião, em Junho de 1974; (xi) O Cristina esteve no destacamento de Ponte de Caium, na estrada entre Piche e Buruntuma,  cerca de 14 meses (Fevereiro de 1973 / Abril de 1974), onde foi municiador do morteiro 10,7 e padeiro.

As últimas fotos do seu álbum fotográfico são justamente estas seis, que publicamos acima... São "recuerdos", sem legenda, de Canquelifá (junto à fronteira com o Senegal) depois do ataque de violento ataque do PAIGC que arrasou completamente a tabanca (**)... O Jacinto Cristina nunca lá esteve mas comprou estas fotos a alguém do seu batalhão, que vivia do negócio da fotografia. Comprou-as e pô-las no seu álbum, para "mais tarde recordar"... Há fotos que falam por si... (***)
_____________

Notas de L.G.:

(*) Último poste da série > 18 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7303: Álbum fotográfico de Jacinto Cristina, o padeiro da Ponte Caium, 3º Gr Comb da CCAÇ 3546, 1972/74 (4): Parabéns ao municiador (e às vezes apontador) do Morteiro 10.7, que fez 61 anos no passado dia 14...


(**) Vd. poste de 27 de Outubro de 2006
Guiné 63/74 - P1216: A batalha (esquecida) de Canquelifá, em Março de 1974 (A. Santos)


(...) Camarada, Luis Graça.


Estou há muitos anos a guardar na minha memória vários acontecimentos que se passaram na Guiné. Penso que isso acontece com todo o pessoal. Vivi à distância os acontecimentos de Guidaje e Guileje, mas a guerra passava-me pelas mãos, porque em Nova Lamego fui sempre operador de mensagens e não transmissões que de facto foi a especialidade que me despejaram em Campolide - Lisboa.

Acho que chegou o momento para contar um deles. Além de Guidaje e Guileje/Gadamael houve uma terceira ofensiva forte, levada a cabo pelo PAIGC no final da guerra, mas desta vez no Leste, no início do ano de 1974, mais precisamente no sector L4 e L6. Alvos preferenciais: BajocundaCopá, Mareué e Canquelifa, sem esquecer outros.

Copá foi extinto em 14 de Fevereiro de 1974, após violentas flagelações, Mareué idem em 11 de Março de 1974, mas o aquartelamento mais sacrificado foi o de Canquelifá, que sofreu flagelações a toda a hora. Neste caso a arma mais utilizada foi o morteiro 120, e houve abrigos que não resistiram.

A 20 de Março de 1974, entrou em cena o Batalhão de Comandos Africanos, com as três companhias que dele faziam parte integrante. Saíram de Nova Lamego em coluna composta por viaturas militares e civis e dirigiram-se para o local. A operação durou 3 dias, de 21 a 23 de Março 1974. Segundo os canhenhos militares, capturaram 3 Mort 120, 1 RPG, 2 espingardas, 367 granadas de Morteiro e deixaram 26 mortos do lado IN (do nosso lado nada dizem)...

Mas cá o rapaz, no dia 22 [de Março de 1974], como não fazia nada, e porque o condutor da ambulância era do meu pelotão e foi chamado à pista, eu fui com ele. Chegados ao local, era um vaivém de helicópteros que traziam mortos e feridos. Eu dei uma mãozinha para pegar nas macas. Retirava dos Helis e, segundo instruções do médico, ora pousava na pista (estava morto), ora colocava num Dakota que estava logo ali (estava muito ferido)... Vi pernas destroçadas por estilhaços de não sei de quê!

Isto foi só em Nova Lamego porque em Piche não soube, nem quis saber e não sei o que se passou.

Um Alfa Bravo. A. Santos (...)


(***) Ainda sobre a batalha de Canquelifá, vd. comentário de Luís Borrega ao poste de 8 de Dezembro de 2010 >Guiné 63/74 – P7405: Controvérsias (113): Os derradeiros dias do Destacamento de Copá (Fernando Henriques)


(...) Camarigos: Sou amigo do Fernando Henriques.Tenho o seu livro e li todos os acontecimentos em Copá. Tenho-o como uma pessoa honesta e amigo do seu amigo.
Para quem não sabe, o Alf Mil OE Fernando Henriques pertencia ao BCaç 3883, que foi render em Pitche o meu BCav 2922.

O F. Henriques integrou a CCaç 3545, capitaneada pelo Cap Mil Fernando Peixinho de Cristo, que foi render em Canquelifá a CCav 2748. 

O Destacamento de Copá tinha o apoio da Artilharia do Quartel de Canquelifá. Eram 3 obuses de 14 cms, que foram substituídos, por ordem de um Crâneo,  residente em Bissau, por obuses de 10,5 cms. Como é óbvio, estes obuses, não tinham o alcance dos de 14 cms.
Esta substituição fragilizou o Destacamento de Copá, assim como o próprio Quartel de Canquelifá.


Em [18 de]  Março de 1974, Canquelifá ficou a "ferro e fogo", e muito limitado no fogo de retaliação aos ataques. Tiveram que ser socorridos pelos Comandos Africanos. A força de socorro a Canquelifá integrava a 1ª, a 2ª e a 3ª CComandos Africanos, e era comandada pelo Major Raúl Folques [Op Neve Gelada, de 21 a 30 de Março de 1974].

Eram 6 Morteiros de 120 mm a despejar fogo e ainda com Canhão sem recuo, além de 300 foguetões de 122mm. A Tabanca ficou arrasada. Como já lá não estava ,vou lendo o que se escreve.

Abraço, Camarigo
Luís Borrega


Vd. também o poste do Hélder de Sousa > 11 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4811: Informações adicionais ao Poste 4800 (Hélder Sousa)

(...) Nessa época eu também já não estava na Guiné, por isso só posso 'ajudar' relatando o que a propósito está no tal livro com a história da CCAÇ 3545 [ "No Ocaso da Guerra do Ultramar", de Fernando de Sousa Henriques], Companhia essa que estava em Canquelifá, e que diz, para esse dia: "A 22 de Março, pelas 08H30, um grupo IN, estimado em mais de 200 elementos, emboscou uma coluna constituída por duas Chaimites, uma White, três Berliet e quatro Unimog, no itinerário Piche-Nova Lamego, na região de Bentem, causando às NT 6 mortos, 15 feridos graves e 3 feridos ligeiros, que se discriminam a seguir". (...)

Guiné 63/74 - P7437: Parabéns a você (188): Francisco Santos, 68, Montijo; Sousa de Castro, 60, Viana do Castelo



1. A quinze de Dezembro fazem anos cá na nossa Tabanca Grande dois camarigos: (i) o Sousa de Castro, que entra hoje para o Clube dos SEXA, ao perfazer os 60 (*); e (ii) o Francisco Santos, que completa 68 [, foto à direita].


 Estamos perante dois camarigos que, em relação ao tempo da guerra da Guiné, estão um no princípio  ou quase no princípio (Francisco Santos, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) e outro no fim ou quase no fim (Sousa de Castro, camarada também das transmissões).


O Francisco, motorista reformado,  faz parte dos órgãos directivos Academia Musical União e Trabalho, de Sarilhos Grandes, com sede em Sarilhos Grandes, Montijo, donde é natural...E, conforme já nos confessou e mostrou, tem o bichinho da poesia popular. (**)... Em sua honra, aqui vai um belo passodoble, tocado numa igreja pela banda filarmónica da sua Academia,  cuja criação remonta a 1898 (A fonte do vídeo é o You Tube onde se encontra tudo como na farmácia).


Sobre a sua companhia, na Guiné, a CCAÇ 557, já temos cerca de duas dezenas de referências no nosso blogue. A ela pertenceram o José Colaço, o médico  Dr Rogério da Silva Leitão (que infelizmente a morte levou este ano) bem como o conhecido advogado, o ex-Alf Mil José Augusto Rocha... Não tenho tido notícias do Francisco, mas espero que esteja bem de saúde.

O Sousa de Castro, esse, também não precisa de apresentação... É o nosso tabanqueiro mais antigo, o nosso tertuliano nº 2, tendo trazido muita gente para o nosso convívio... [Aqui, na foto, à esquerda, na Tabanca de Matosinhos, em 21 de Julho passado, com a esposa Conceição; estivémos junto igualmente no nosso V Encontro Anual, em Monte Real, em 26 de Junho passado]... 


1º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873, esteve na zona leste, no Sector L1 (tal como eu), mais exaxtamente em Xime e Mansambo, dois sítios que eu bem conheci, entre finais de 1971 e Março de 1974. 


Minhoto, foi técnico fabril nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, estando hoje reformado. Criou e mantém o blogue da CART 3494, desde Maio de 2008. Vive perto de Viana do Castelo. Para o Xico, dir-lhe-ei que na vida não há limites de velocidade... 68, 69, 70 e por aí fora,  até aos 100, é sempre a carregar no pedal...Que a vida é uma festa, e que os poetas têm o dever de celebrá-la!


A ambos, eu desejo, em meu nome pessoal e de toda Tabanca Grande, o melhor do mundo para as suas vidas e para a sua família. Parabéns por este dia. (***) E muito obrigado por continuarem... connosco! Ao Sousa de Castro, em especial, dou-lhe as boas vindas por entrar, de jure et de facto, no Clube de Suas Excelências (abreviadamente, Clube dos SEXAS)... Para tudo, é preciso idade, sabedoria e paciência...

Parafraseando o nosso poeta popular, de Sarilhos Grandes, eu formulo o voto de que, tal como a valente CCAÇ 557, ou a valorosa CART 3494, uma que andou na guerra da Ilha do Como, e outra na guerra do Xime, continuemos a ser grandes camarigos na nossa Tabanca Grande e na nossa amada Pátria em que hoje os tiros, as minas, as armadilhas, os perigos são outros...

Sejamos grandes camaradas
Nestas terras promissoras,
Mesmo com as morteiradas
E o som das metralhadoras...


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Notas de L.G.:

(*) 15 de Dezembro de 2009 >Guiné 63/74 - P5468: Parabéns a você (52): O segredo do Sousa de Castro, um velhinho da Tabanca Grande (Luís Graça)


(**) 15 de Dezembro de 2009

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7436: Recortes de Imprensa (37): Heróis do mar, de Joaquim Magalhães de Castro em Fugas/Público (Joaquim Mexia Alves)

1. Em mensagem do nosso camarigo Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 13 de Dezembro de 2010:

Caros camarigos:

Somos,  muitas vezes, muito lestos a dizer mal de nós próprios e sobretudo da nossa saga marítima e da nossa presença pelo mundo fora.

E depois... depois somos surpreendidos, porque afinal não fomos a maldade, (o que não quer dizer que não tivéssemos feito algumas), quando acontecem factos com os descritos no artigo em anexo.

Vemo-nos chegar a tantos sítios por onde andámos e sermos recebidos de braços abertos, mas insistimos sempre, (alguns de nós Portugueses), em fazer da nossa História um rol de de malvadez e ignomínia.

Ao fim de tantos anos, de tantas centenas de anos, pelos vistos na maior parte dos casos, para as populações, verdadeiramente populações, desses países, ainda somos uma boa recordação, uma boa referência.

Fica ao vosso dispôr para publicação se assim o entenderem.

Um abraço forte e camarigo do
Joaquim

Um Português sem dúvidas em o ser!


Navio-Escola Sagres > Foto da Marinha Portuguesa, com a devida vénia


Vd. o sítio RTP > Sagres para acompanhar a 3ª viagem de circum-navegação da Sagres que termina em Lisboa a 23 de Dezembro de 2010, 11 meses depois.


O plano detalhado da viagem de 2010 pode ser consultado no sítio da Marinha > Sagres


Recorte do suplemento Fugas do Jornal Público
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 10 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7418: Memória dos lugares (115): As colunas logísticas ao Xitole e Saltinho no tempo do Paulo Santiago (1970/72) e do Joaquim Mexia Alves (1971/73)

Vd. último poste da série de 8 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7403: Recortes de Imprensa (36): Gandembel/Balana, com o Hugo Guerra (Pel Caç Nat 55) e o João Barge (CCAÇ 2317)

Guiné 63/74 - P7435: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (26): Siga a Marinha (Torcato Mendonça)

1. Mensagem de Torcato Mendonça* (ex-Alf Mil da CART 2339 (Mansambo, 1968/69), com data de 12 de Dezembro de 2010:

Editores Camarigos
Neste dia e país cinzento e frio, veio a reportagem do Luís mostrar ventos de esperança passados.

A Marinha**, o mar que falas deu-me que pensar. Não posso e não devo estar muito tempo sem ver e sentir o mar. Nasci a uma centena de metros dele. Habito, algum tempo por ano com essa paisagem que envio. Noutra, nas outras que igualmente seguem.

Descansava, na Costa Alentejana, em pleno inverno a ver, de dentro do carro ou caminhando pelas falésia, a ver o mar revolto. Assim me aclimatei, meditei e, em parte, me encontrei para voltar a enfrentar a vida civil.

Descia, em certas noites ao Algarve e o carro, qual cavalo amestrado, trazia-me de regresso, manhã cedo a casa. Mesmo cá, anos depois, "atava-o" e esquecia-me onde. Tempos de adaptação, tempos longos, demasiado longos.

Que tem isto a ver com com o blogue? Só porque no comentário ao belo escrito do Luís Graça saí das regras. Vendo bem, talvez não.

Tenho o direito de não gostar dos ingleses, de discordar com Berlim e a Convenção Colonialista que esventrou todo um Continente. Pior, bem pior, criou, anos depois aquando das ditas independências, pequenos déspotas ou ditadores uns já desaparecidos, outros em corruptos poderes.
Lastimo que alguns aqui, neste nosso País, se tenham acoitado. Outros aqui são elegantemente recebidos e seus lacaios têm as honras a serem principescamente adulados... os dólares. Não só. A falta de vergonha ou remorso estúpidos. De tudo um pouco e o lusitano porreirismo.

Curiosamente a nossa colonização foi mais suave. Sempre má evidentemente. Séculos de exploração, gastos em deboche e por outros.

A questão do dito "Mapa Cor de Rosa" é uma utopia bacoca. Contudo não merecia o tratamento que teve. Tempos que havia mais união entre nós. Seria assim? Hoje nesta sociedade de clique e informação instantânea não me parece haver essa união.
Vejam a hipocrisia da revelação de certos segredos... e tomam-se medidas repressivas contra as denuncias? Mas o denunciado está correcto? Claro que prefiro viver na Europa... do que em certas democracias ou mesmo em estados mandantes deste mundo. Porca vida ou vice-versa.

Tentarei ir ver essa exposição... por mim, a Marinha, a nossa sempre me orgulhou.

Não sou Patrioteiro... eiros ou otas, não obrigado

Fui deslizando e certamente não vão ler, até porque saí do tema. É do tempo e da idade.

Abraços do Torcato

Old Seaman

My life Sea or Landscape

Gardunha Rainbow

Gardunha Winter
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 9 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7407: (Ex)citações (118): O ventre da guerra na zona leste (Luís Graça / Torcato Mendonça / Carlos Marques Santos)

(**) Vd. poste de 12 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7423: Agenda Cultural (94): A exposição A Marinha na República, Museu da Marinha, em Lisboa, Belém, até ao dia 5 de Janeiro de 2011 (Luís Graça)

Vd. último poste da série de 12 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7424: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (25): Segunda parte do filme do meu tempo de tropa (Alcides Silva)

Guiné 63/74 - P7434: Agenda cultural (95): Os anos da guerra colonial, de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes: hoje, 3ª feira, às 18h30, no Corte Inglês Gaia Porto


OS ANOS DA GUERRA COLONIAL
Sessão de Lançamento >  Convite




A editora QuidNovi, os autores Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes e o El Corte Inglés Gaia Porto têm o prazer de o(a) convidar para a sessão de apresentação do livro Os Anos da Guerra Colonial que ocorrerá no próximo dia 14 de Dezembro, 3ª feira, às 18:30h, na Sala de Âmbito Cultural, piso 6, do El Corte Inglés Gaia Porto (Av. da República, 1435, V.N. de Gaia).

A apresentação da obra estará a cargo do coronel David Martelo.

A nossa editora fez um levantamento sobre os blogs militares relacionados com este tema. Gostaríamos de o convidar a estar presente nesta sessão de lançamento e contamos coma a sua ajuda para a divulgação deste evento. (...)

Para qualquer questão ou pedido deverão ser utilizados os contactos indicados na nota de imprensa.

Com os melhores cumprimentos e devidos agradecimentos,

Miguel Gonçalves
Editor Adjunto
QUIDNOVI
QN - Edição e Conteúdos S.A.
Praceta D. Nuno Álvares Pereira, 20 3ºCJ
4450-218 Matosinhos - Portugal
tel/fax: +351 22 938 81 55

Guiné 63/74 - P7433: Facebook...ando (3): Uma dramática ida de Buba a Gandembel (Raul Brás, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 2381, Buba, 1968/70)



Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa < CCAÇ 2381 (1968/70> Viatura Unimog 411, mais conhecida por burrinho, destruída por mina A/C na estrada Aldeia Formosa - Gandembel. "A fotografia é de autoria do camarada Estorninho, é ele que está na foto, e foi tirada em Aldeia Formosa... Dá para ver o estado em que ficou a viatura, mas não o cansaço que tínhamos, mal dormidos, comida tinha sido uma ração de combate para cada homem, devido ao percurso ser curto. Mesmo com as coisas a correr do pior,  nada ficou para trás" (R.B.).


Foto: © Arménio Estorninho (2010). Todos os direitos reservados



1. Mensagem do Raul Brás, ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 2381, “Os Maiorais”, que esteve em Buba, Quebo, Mampatá Empada nos anos de 1968/70 (*). O Raul, que é nosso camarigo, tem também conta no Facebook. É daí que retiramos, com a devida vénia, o relato que ele faz de uma dramática coluna a Gandembel, em finais de Julho de 1968.


Uma coluna de Buba a Gandembel

Parti de Buba, dia 25 de Julho de 1968, pelas 6 horas da manhã, com destino a Aldeia Formosa, eram apenas 30 quilómetros, mas (…) no primeiro dia apenas se conseguiu fazer 12 quilómetros, ao pôr-do-sol, aconteceu o pior…  Durante a coluna já se tinham detectado algumas minas anticarro, [foi preciso montar e desmontar o pontão móvel, devido aos pontões destruídos]. 


A última mina  não foi detectada e rebentou no Unimog que transportava as Transmissões. O Operador de Rádio, duas horas depois,  já não se encontrava no mundo dos vivos, o Unimog ficou como apresenta a foto (acima), que é de autoria do camarada Estorninho.

Aí pernoitámos, fez-se dia, viaturas em movimento, 30 minutos depois cai o flanco direito numa emboscada, o inimigo vem à retaguarda atacar a cauda da coluna. Comunicações não havia, desde que tinha acontecido o pior.

Pelas 10 horas da manhã passaram os Fiat mas,  por acaso, até esse momento ninguém tinha conhecimento de tal coluna. Aí com o rádio Banana, consegue-se entrar em contacto. Meia hora depois aparecem os bombardeiros T6.

Chegou-se pela noite a Aldeia Formosa. Dia 28,  então, a coluna vai a Gandembel. Os nossos comandantes de pelotão reuniram cada um com o seu grupo de combate, e aí nos transmitiram  todos os cuidados que tínhamos que ter em todo o percurso, intervalo uns dos outros o maior possível, no caso de haver emboscada, deitar-se no chão o mais rápido possível, aí ficar no mesmo sítio alguns segundos, e depois rastejar até um abrigo que nos desse mais confiança, para não acontecer o mesmo que tinha acontecido um mês antes (…). 


Noutra coluna, antes da minha, tinham as nossas tropas caído numa emboscada, ficaram lá 13 camaradas. Fornilhos eram pelo menos 16. Um Unimog dos pequenos cabia lá à vontade, num dos buracos. A perna de um camarada encontrava-se em cima das árvores, o corpo de outro camarada encontrava-se no meio da mata, só mais tarde, com a continuação das colunas, é que foi retirado, apenas em esqueleto, e com as cartucheiras à cintura. Foi o camarada Caliça, da 2381, os Maiorais, que o foi retirar. E era assim Gandembel. E quantos Gandembéis nós não conhecemos por essa Guiné fora ?! (***)


Um abraço a todos
Raul Brás
_________________


Notas de L.G.:


(*) Vd. poste de 13 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5806: Tabanca Grande (202): Raul Rolo Brás, ex-Sold Cond Auto da CCAÇ 2381 “Os Maiorais”, Buba/Quebo/Mampatá/Empada, 1968/70


(**) Vd.poste de 2 de Dezembro de 2010 >Guiné 63/74 - P7369: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (19): Factos mais importantes da CCAÇ 2381 no Subsector de Aldeia Formosa


(...) Aldeia Formosa > Factos mais importantes relacionados com as actividades desenvolvidas pela CCaç 2381 no Subsector de Aldeia Formosa e a actividade do IN, no período que mediou de 18 de Julho de 1968 a 21 de Janeiro de 1969. (...)


Ano de 1968
Julho
Dias 25/26



(...) 2 Gr Comb  seguiram em coluna auto de Buba para Aldeia Formosa, a fim de assumirem imediatamente o Comando dos Destacamentos da Chamarra e Mampatá.  Durante a coluna, feita pela antiga estrada Buba – Sinchã Cherno – Bolola – Missirã –Ieroiel – Mampatá – Aldeia Formosa, há vários meses não patrulhada nem utilizada pelas NT, foram detectadas e levantadas 9 minas A/C, e, sofreram as NT 2 emboscadas, que causaram 3 feridos às nossas forças. Foi deflagrada uma mina A/C por uma viatura causando a sua parcial destruição, 1 morto e três feridos ligeiros às NT.

Saliente-se o esforço despendido nesta coluna pelas nossas forças, que durou 36 horas para se vencerem escassos 30Kms. Foram encontrados todos os pontões destruídos (7 pontões!!!), tendo que se montar por todas as vezes o pontão móvel que seguia na coluna. 4 das minas detectadas como se apresentavam com dispositivo de anti-levantamento tiveram que ser destruídas. 



Numa estrada estreita que permitia a custo a passagem de uma viatura pesada, piorou com os buracos resultantes das minas deflagradas, tendo-se que se abrir passagem através da mata com o consequente esforço e dispêndio de energias. 


Salienta-se também o facto de na coluna seguirem 3 obuses de 14cm com aproximadamente 7 toneladas cada, que atascaram diversas vezes, atrasando bastante a coluna. Apesar de tudo, a distância foi vencida sem nunca o moral das NT ter decrescido, nem aquando do rebentamento de 1 mina ter causado um morto e privado de comunicações, pois a viatura destruída era precisamente a das Transmissões. (...)


Vd. também O meu diário (José Teixeira, CCAÇ 2381), publicado na I Série do blogue:


1 Janeiro 2006 > Guiné 63/74 - CDXI: O meu diário (José Teixeira, CCAÇ 2381) (2): Buba/Aldeia Formosa, Julho de 1968 


(...) Buba/Aldeia Formosa, 24-26 de Julho de 1968

Comecei a Guerra. Saí de Buba dia vinte e quatro, às seis da manhã, e cheguei a Aldeia Formosa dia vinte e cinco, às vinte e uma, depois de durante dois dias batalhar com o IN, com o tempo e ultrapassar outras dificuldades.

A estrada (picada) está num estado lastimoso: buracos de minas, pontes destruídas e outros obstáculos que a muito custo se venceram. Os primeiros sete quilómetros foram percorridos em oito horas e meia.

O primeiro ataque foi de abelhas. Eram tantas que mais pareciam uma pequena nuvem e era ver quem mais corria a fugir da sua picada. Eu fiquei quedo como um penedo sentado na berma, entre os arbustos, a conselho de um africano que estava a meu lado e não sofri uma picada. Assustado e perturbado pelo zumbido à minha volta e pela côr que o meu corpo foi tomando na medida em que se fixavam à minha roupa, na cara e na cabeça. Neste estado pude apreciar a confusão de uma fuga precipitada, um tanto hilariante. Se o IN tivesse atacado nesse momento era um desastre total, tal foi a desorganização gerada.

Depois... veio aquela mina roubar mais uma vida e pôr duas em perigo... Inimigo cobarde !... Frente a frente não consegue atingir os seus objectivos e ataca à traição, num pequeno descuido dos picadores.

Que culpa terá aquele jovem que me morreu nas mãos, que os homens não se amem ? Que culpa tenho eu ?

A noite começou mais cedo neste negro dia de vinte e quatro de Julho! Esta vida salvava-se, mas um mal nunca vem só. A viatura atingida era o carro do rádio e consequentemente desde aquela hora (16 h) ficamos completamente isolados do resto do mundo. O ferido mais grave e que veio a falecer era o radiotelegrafista. Isto é guerra...

Quando nos dispúnhamos a montar acampamento o radiotelegrafista morreu. Com o impacte do rebentamento tinha ido ao ar e caiu de peito, rebentando por dentro. Eu e o Catarino nada pudemos fazer.

Esperávamos que o IN atacasse de noite pois tinha sido detectado pela aviação durante o dia. Felizmente durante a noite não houve surpresas e eu, entregue totalmente ao ferido que sobrou para mim, o condutor da viatura sinistrada, um pouco mais conformado recomecei, melhor recomeçámos a marcha com toda a cautela, pois no dia anterior, além da mina que rebentou, foram localizadas mais três.

Para alimentação deste dia não tínhamos nada. A ração de combate mal chegou para o primeiro dia. À frente havia IN, "manga dele", havia buracos, pontes interrompidas. Havia minas, só não havia comida.

Ainda não tínhamos percorrido três quilómetros, quando caímos na primeira emboscada. Dois bigrupos esperavam-nos. Felizmente a Milícia que protegia os flancos, descobriu-os e, sem compaixão, todas as máquinas de guerra funcionaram. O meio e a rectaguarda da coluna embrenhados no mato aguardavam prontos a intervir o que não foi necessário. Quinhentos metros à frente é a vez da retaguarda ser flagelada e obrigar o soldado português a mostrar as suas capacidades de luta. Deste segundo encontro há registar dois feridos.

A coluna recompôs-se e continuou a sua marcha de 30 viaturas carregadas de mantimentos e armamento (três obuses 14, entre outro material). A meio da manhã chegaram os Fiat. Com a aviação sentimo-nos mais seguros e confiantes. Os feridos foram evacuados de heli. Uma coluna que normalmente se faz em oito horas, demorou dois dias.

Agora que sinto o barulho do matraquear das armas, que sinto o silvar das balas assassinas sobre a minha cabeça, começo a sentir um tremendo ódio a tudo o que seja guerra. Sim. Odeio os homens que, em vez de se amarem, se guerreiam. Que culpa tenho eu que os homens não vivam o amor ?

Quando abriu a emboscada escondi-me debaixo de uma viatura e senti bem perto as balas a assobiarem, pois um IN estava em cima de uma palmeira à minha frente, a fazer fogo. Ainda tentei usar a arma que tinha comigo, mas esta encravou à primeira tentativa e ainda bem. Fui apenas um espectador.

Que eu jamais faça guerra... Que eu ame sempre. (...)



(***) Último poste da série >  4 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7377: Facebook...ando (2): Duas fotos do Durval Faria, Nossa Senhora do Rosário, Lagoa, São Miguel, RA Açores, que pertenceu à CCAÇ Esp 274 / BCAÇ 356, CTIG, 1962/64