segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9140: Recortes de imprensa (52): Revista Expresso , nº 1299 - Memórias de Alexandre Carvalho Neto, secretário de Spínola e de Marcello Caetano (Arménio Estorninho)

1. Mensagem de Arménio Estorninho (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), com data de 2 de Dezembro de 2011:

Camarigo Carlos Vinhal, Saudações.

Antes de mais, desejaria deixar bem expresso que este trabalho é um repositório do que já foi divulgado, sobre as memórias do ex-Tenente Reserva Naval Alexandre Carvalho Neto e que ao tempo foi Secretário do General Spínola, na Guiné e do Dr. Marcello Caetano, em S. Bento. Foi um posto de observação privilegiado dos últimos anos do anterior regime, sendo uma testemunha única no relacionamento entre estes dois governantes. Tais memórias estão insertas na Revista Expresso n.º 1299, de 20 de Setembro de 1997.

Como é princípio assente, aquando das facilidades concedidas para a partilha da informação, agora agradeço com a devida vénia, por incumbência a Srª. D. Sónia Afonso, do Serviço de Cliente Gesco S.A. “Jornal Expresso” e por inerência o Sr. jornalista Ricardo Costa, Director da Publicação Expresso, bem como o Sr. José Pedro Castanheira, jornalista autor do texto e ao Sr. Alexandre Carvalho Neto, pela utilização das suas fotos.

Após vários meses, foram concluídos os contactos achados por convenientes (agradeço também o apoio do camada ex-Ten. RN Manuel Lema Santos) e recebidas as autorizações para os fins solicitados, resolvi então organizar este trabalho e executar de forma a não alterar a essência do conteúdo do texto.

Enuncio embora sucintamente, que tendo nascido em Lisboa em 1943, o Dr. Alexandre Carvalho Neto, foi o primeiro filho de 14. Educado no Colégio de S. João de Brito, em Lisboa, fez o Curso de Direito, tendo terminado em 1966.
No ano seguinte concorreu à Marinha, obtendo a especialidade de Administração Naval, tudo indicando que o Aspirante se livraria da Guerra Colonial e ficaria na Metrópole. Um belo dia porém, foi chamado ao gabinete do Chefe de Estado-Maior da Armada, Almirante Reboredo e Silva, onde lhe comunicaram que fora escolhido para ir para a Guiné.


Memórias de Alexandre Carvalho Neto

Ao serviço do General Spínola, na Guiné e de Marcelo Caetano em São Bento

O jurista - aspirante aterrou no aeroporto de Bissalanca em Setembro de 1968. Em Bissau, o homem forte chamava-se António de Spínola, chegado à província em Maio.
 
O anterior Comandante General Arnaldo Schulz, enquanto ali permaneceu não melhorou a situação sócio-militar. A situação era absolutamente catastrófica à beira do colapso, conta Carvalho Neto. Bissau ficou a estar praticamente cercada. Durante meses ouviam-se distintamente os rebentamentos em Tite, que fica na outra margem do Rio Geba.



Guiné > Bissau > Aeroporto de Bissalanca > Março de 1970 > O Ministro do Ultramar, Silva Cunha, visita a Guiné. Acompanham-no Pedro Cardoso, António de Spínola, Almeida Bruno e Carvalho Neto.

A iminência de uma derrota militar fora constatada pelo próprio Presidente da República, Américo Tomás, na visita que fizera à Guiné em Fevereiro de 1968.
Quando o Almirante Tomás regressou a Lisboa, teve uma conversa com Salazar e disse-lhe que a guerra estava por um fio. Salazar chamou então o General Schulz à Metrópole e destituiu-o de Governador e Comandante-Chefe. Schulz ainda voltou a Bissau, para se despedir e “empacotar” várias lembranças da Guiné, trouxe-as para Lisboa. Carvalho Neto disse que o episódio foi relatado por um funcionário civil do Palácio do Governador, em Bissau, que fazia a comparação com a seriedade do Spínola.

A primeira prioridade de Spínola foi de carácter militar. Com sucesso reconhecido até pelos inimigos do PAIGC. Ao fim de seis meses, evocou Carvalho Neto: "Deixámos de ouvir explosões em Bissau. E em menos de um ano a província estava pacificada”.

O jovem Subtenente que nunca ouvira falar de Spínola, foi integrado no Gabinete Militar. "Éramos quatro da Marinha, outros tantos da Força Aérea e os restantes oitenta do Exército, a maior parte de Cavalaria, a Arma de que Spínola era oriundo".

A primeira tarefa de que fora incumbido era não só burocrática, como nada estimulante: A contabilização das baixas em combate. Da sua mórbida estatística constaram os três Majores mortos à queima-roupa pelo PAIGC, em Abril de 1970, um crime que pôs termo a uma prolongada negociação entre as forças inimigas. Antes desta matança, e durante três ou quatro meses, não houve praticamente mortos em combate, o que é um dado sintomático da espécie de tréguas que rodeou aquelas conversações.

Em Abril de 1969, Marcelo Caetano visitou a Guiné, num périplo que também incluiu Angola e Moçambique. Foi uma visita histórica, ou não fosse a primeira de um Chefe de Governo em cinco séculos! Velhos conhecidos, Alexandre Carvalho Neto cumprimentou afectuosamente o novo Presidente do Conselho. "Havia entre nós uma relação de amizade pessoal", explica. O facto não passou despercebido na pequena aldeia que era Bissau. Talvez por isso, decorridas algumas semanas o Tenente da Marinha foi destacado do Gabinete Militar para o Gabinete do Governador.



Guiné > Bissau > Salão Nobre do Palácio do Governador > Março de 1970 > Numa cerimónia presidida por Silva Cunha, Spínola e Pedro Cardoso. Carvalho Neto é o primeiro da esquerda.

O Secretário do Governador passou a lidar diariamente com Spínola e com o Secretário Geral da Província e número dois da Administração, o então Tenente-Coronel Pedro Cardoso. Spínola tinha uma capacidade de trabalho completamente maluca. Acordava pelas quatro da manhã e trabalhava no quarto até às oito. A manhã reservava-a para as funções militares, incluindo as visitas às frentes. A seguir ao almoço fazia uma pequena sesta e só então ia ao seu gabinete de Governador, onde trabalhava das três até às seis. Ao fim da tarde tinha o `briefing´ diário com as chefias militares. Normalmente voltávamos a trabalhar depois do jantar, até à meia-noite. Ele tinha uma teoria, que estava sempre a apregoar: “Não há nada melhor para descansar do que mudar de actividade”.

Dos raros militares colocados em Bissau licenciados em Direito, Carvalho Neto fazia de tudo um pouco; secretariar o Governador, receber visitas, tratar da correspondência, etc.

Nas várias “entouranges”que o rodearam, os hieróglifos de Spínola ganharam fama. Em jeito de caricatura, o ex-Secretário gostava de dizer que Spínola tinha quatro tipos de letras: uma que toda a gente entendia; outra que só os familiares e os colaboradores bem treinados liam; outra só ele percebia; e, por último uma letra que nem ele próprio decifrava. Quantas vezes aconteceu ele ser incapaz de perceber o que tinha escrito, na sua letra típica e muito bonita, quase sempre a tinta preta, mas ininteligível!



Guiné > Bissau > Março de 1970 > Varanda principal do Palácio do Governador. Ao centro, Silva Cunha com o chapéu a corresponder aos vivas dos manifestantes; pela direita: o ex-1.º Cabo Fotocine e o ex-Ten RN Alexandre Neto.


O monóculo que caiu na sopa

Alérgico ao ar condicionado, nem por isso o General largava o aprumo enquanto trabalhava no gabinete. Entre paredes, trocava o famoso monóculo por óculos de ver ao perto. O monóculo era apenas um enfeito, não lhe servia para nada, porque não era graduado. Fora na Alemanha da II Guerra Mundial, a exemplo dos Oficiais de formação prussiana, que Spínola começara a usar o monóculo e foi um hábito que nunca perderia. Ele tinha uma boa colecção em casa, mas não eram de vidro, eram de material plástico. Uma vez, numa inspecção ao rancho de um aquartelamento, deixou cair o monóculo na sopa, que estava muito quente, e aquilo ficou empenado e até derreteu um bocado.


Guiné > Bissau > Palácio do Governador > Março de 1970 > O Ministro Silva Cunha, desceu ao pátio da entrada principal concedendo uma sessão de cumprimentos às Autoridades Tradicionais.


Pelas mãos do Tenente-marinheiro passou a correspondência trocada com o Ministro do Ultramar Silva Cunha, o titular da Defesa Venâncio Deslandes, e o próprio Marcelo Caetano. "Cheguei a tratar de alguns ofícios muito secretos sobre a preparação da Operação Mar Verde - a invasão a Conacri, em Novembro de 1970". Enquanto Spínola esteve na Guiné, as coisas correram quase sempre bem. "Ele era considerado um bom General e tinha apoio do Governo Central". Seria exagerado falar propriamente de uma relação cordial, muito menos de amizade entre ambos, mas é indiscutível que havia uma boa relação institucional. Bem melhor por exemplo do que com o Ministro do Ultramar, Silva Cunha, com quem o General não se entendia muito bem. A facilitar a articulação entre o Governador e o Chefe do Governo, estavam opiniões muito semelhantes sobre o Ultramar e por isso “falavam pessoalmente”.


Guiné > Bissau > Parque Teixeira Pinto > Março de 1970 > Encerramento da Festa do Ramadão. Os crentes seguem os movimentos do Imã. No palanque estão presentes o General Spínola, o TCor Pedro Cardoso e outras Autoridades Militares e Civis.


Finda a comissão guineense, Carvalho Neto regressou à Metrópole no início do Verão de 1970. Em Lisboa, o ex-miliciano tratou de dar novo rumo à vida. Marcelo soubera pela mãe do jovem Alexandre que este estava à procura de emprego. O Chefe do Governo necessitava de um jurista para o seu gabinete. "Aceitei o convite. Conhecia-o, era uma pessoa estimável, eu estava desempregado, porque não?"

Da janela de São Bento, Carvalho Neto assistiu de perto aos últimos dias do regime. A contagem decrescente disparou com a publicação do livro Portugal e o Futuro. O Spínola foi a São Bento, sem qualquer aviso, oferecer um exemplar ao Marcelo. Mas não era assim que este funcionava, pelo que não o recebeu de imediato. O General estava com pressa, deixou dois exemplares e foi-se embora.
"A leitura do livro deixou Marcelo sem ilusões, como ele admite do seu volume de memórias, Depoimento. Ficou de cabeça perdida depois de o ter lido, confirma o ex-Secretário, só dizia isto é o princípio do fim”.

O ex-Secretário soube que o golpe de 25 de Abril estava na rua pela rádio. Surpreendido como quase todos os portugueses, foi para a residência oficial onde permaneceu todo o dia, na companhia de quase todos os membros do gabinete.

Marcelo como se sabe, procurou refúgio no Quartel da GNR, no Carmo. A sua rendição teve momentos verdadeiramente dramáticos e não completamente conhecidos.

O último secretário do Presidente do Conselho conta que durante as horas em que esteve sitiado pelas forças revoltosas do Capitão Salgueiro Maia, Marcelo Caetano ponderou três soluções possíveis: "Ou ia para Angola, em resposta à sugestão que lhe terá sido feita, a partir de Luanda, pelo então Governador-Geral Eng. Santos e Castro; ou entregava o poder nas mãos de Spinola; ou suicidava-se".

É certo que Carvalho Neto não viveu esses momentos cruciais. "Quem lhe contou foi o Comandante Coutinho Lanhoso, que esteve no Carmo e presenciou tudo. O Prof. Marcelo pediu a pistola ao seu Adido Militar e colocou-a em cima da mesa. Se o poder não fosse entregue ao General Spínola e o Quartel fosse invadido, ele suicidar-se-ia".

O poder acabaria por ser entregue a Spínola. Foi a “condição” de Marcelo, assim sintetizada por Carvalho Neto:
"Entregar o poder a Spínola, só a Spínola e a ninguém mais que Spínola".
Esta última vontade do governante apeado é bem reveladora da confiança que, apesar de tudo, Marcelo continuava a ter no general do monóculo;
"Não me venham, portanto, dizer que os dois homens não se entendiam. E a verdade é que Spínola correspondeu em pleno, ao enviar Marcelo para a Madeira e, depois, para o Brasil, com vários políticos aos saltos".

Resta-me, portanto concluir, que tratando-se de um texto extenso fiz contenção na transcrição e adaptação de parte das memórias de Alexandre Carvalho Neto. Quem, atentamente, debruçar-se sobre o mesmo compreenderá que dizem respeito às suas funções como secretário ao serviço do General Spínola, na Guiné - 1968/70 e que no dia 25 de Abril de 1974 era secretário pessoal de Marcelo Caetano, em São Bento. Pelas suas mãos passou grande parte da correspondência entre o General e o Presidente do Conselho.

Com um Abraço para todos
Arménio Estorninho
CCaç 2381 “Os Maiorais” de Empada
Guiné - 1968/70
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 10 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8656: Álbum das Glórias (52): Ordem de Serviço N.º 43 do BCaç 2892, de 18 Fevereiro 1970 (Arménio Estorninho)

Vd. último poste da série de 16 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8912: Recortes de imprensa (51): Strela, a ameaça ao domínio dos céus do ultramar português - II Parte - Revista da FAP, Mais Alto, n.º 393 , Set / Out 2011

Guiné 63/74 - P9139: O nosso blogue em números (27): 73,3% das visitas são oriundas de Portugal, seguindo-se o Brasil (13%), os EUA (2,7%) e a França (2,1%)...

Histórico de visitas do nosso blogue: Gráfico adaptado do Blogger, o nosso servidor. A metodologia estatística é ligeiramente diferente no no caso do Bravenet, que é o nosso contador (gratuito).




1. Amigos/as e camaradas:


Ultrapassámos os 3 milhões de visitas na 1ª quinzena de novembro de 2011. (A previsão era outubro, errámos por 15 dias ou um mês).  Recorde-se que os 2 milhões de visitas tinham sido atingidos em meados de setembro de 2010


O ponto de partida era promissor mas ainda modesto: cerca de 70 mil visitas em finais de Maio de 2006 (na passagem para a II Série), 400 mil em Outubro de 2007, 800 mil em Outubro de 2008, o primeiro milhão em Fevereiro de 2009... 


Em termos de visitas, desde julho de 2010 (altura em que passámos a ter estatísticas do nosso servidor, o Blogger), até ao mês de novembro de 2011, o total de visitas foi de 1 milhão e 263 mil: o melhor mês de todos foi o janeiro de 2011 (com 97,9 mil) e o pior o mês de agosto de 2011 (59,9 mil).


Pelo gráfico acima reproduzido, percebe-se que os meses de verão são sempre de algum abrandamento, devido às férias escolares e laborais. A partir de setembro de 2011, começámos a recuperar: 62,6 mil (setembro), 66,7 mil (outubro) e 71,1 mil (novembro).

Já na segunda quinzena de novembro mudámos o visual do nosso blogue. No dia 28, 2ª feira, atingimos uma cifra até então nunca antes alcançada, em quase oito anos de vida do blogue: 4110 visitas num só dia… 


A nova interface do Blogger (o nosso servidor) tem outras funcionalidades tais como a possibilidade de partilha dos nossos postes com a(s) nossa(s) página(s) no Facebook, nomeadamente a Tabanca Grande_Luís Graça_Guiné.

Grosso modo, o nº médio de visitas/dia neste período de tempo (de julho de 2010 a novembro de 2011) cifra-se em cerca de 2500 (ou sejam, c. 75 mil/mês).


Convém esclarecer os nossos leitores: segundo o nosso contador, Bravenet, visitas quer dizer page view, vizualizações,  páginas visualizadas (ou seja, cada vez que um visitante abre o nosso blogue, podendo ver ou mais páginas).


De maneira simplificada, podemos dizer que os visitantes podem ser de dois tipos: (i)  o "first-time visitor", o visitante que acede ao nosso blogue pela primeira vez nesse dia;  (iii) o "returning visitor": o visitante que acede ao nosso blogue duas ou mais vezes no espaço de 24h...


Por exemplo, nos últimos 6 dias completos (de 29 de novembro a 4 de dezembro) para os quais temos estatísticas disponíveis no Bravenet,  foram contabilizadas 19728 visitas ("page views"), o que dá uma média de 3288/dia. 


O número de visitantes ("unique visitors"), neste período de tempo de 6 dias, foi de 4934, o que dá uma média de 822/dia. Desses visitantes,  62,5% são "first-time visitors", e os restantes (37,5%) são "returning visitors"... (São os tais que acedem ao nosso blogue duas ou mais vezes por dia, em horas diferentes).


Recorde-se, por outro lado, que em Abril de 2011 celebrámos os 500 membros da Tabanca Grande. Hoje temos mais cerca de 3 dezenas. E éramos pouco mais do que 100, em meados de 2006, quando passámos da I para a II Série (a atual) do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. 


Em final de 2009, éramos 390, em Maio andávamos pelos 410 e em meados de Setembro de 2010 estávamos a caminhos dos 450.Também ultrapassámos, na primavera de 2011, os 8 mil postes e os 2,5 mihões de visitas.  Este poste, que o leitor está a ler, é já o 9139.


Nesse mês, a 23 de Abril de 2011 celebrámos discretamente o nosso 7º aniversário (enquanto blogue inteiramente dedicado às memórias dos ex-combatentes da guerra colonial na Guiné).


Quanto à origem geográfica das visitas (n=1273 000), o perfil já aqui há tempos traçado (com base nas estatísticas do Blogger) não se tem alterado substancialmente:


(i) 73,3% das visitas são oriundas de Portugal;
(ii) segue-se, em segundo lugar, o  do Brasil (13,0%);
(iii) vem depois os Estados Unidos (2,7%) e a França (2,1%), totalizando estes 4 países mais de 91%;
(iv) entre os dez mais contam-se ainda, por ordem decrescente,  a Alemanha, o Canadá, o Reino Unido, a Espanha, a Dinamarca e a  Holanda (estes seis países totalizam 2,7%, tanto quanto os EUA)...
(vi) Pouco mais de 7% das visitas vem do "resto do mundo" (incluindo a Guiné-Bissau e outros países lusófonos, não sendo possível no entanto saber o seu "ranking")...


Sugestão de comentário: queridos/as leitores/as, o pessoal da Tabanca Grande tem opinião... digam lá se gostam (muitíssimo, muito, bastante, assim-assim, pouco, muito pouco ou nada) do nosso novo "visual"...Agradeço ao nosso co-editor Carlos Vinhal a paciência e o carinho com que fez a(s) escolha(s) e as afinações... (LG)
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Nota do editor:


Último poste da série > 26 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9102: O nosso blogue em números (25): A propósito da sondagem dos 3 milhões: E de repente deixássemos de fazer... anos ? (José Colaço / Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P9138: Agenda cultural (175): Apresentação do livro As Mais Belas Cidades de Angola, de Sandro Bettencourt, dia 6 de Dezembro, pelas 18h30 na Bertrand do Chiado

1. A solicitação da nossa tertuliana Teresa Almeida (Bibliotecária da Liga dos Combatentes), damos a conhecer o lançamento do livro "As Mais Belas Cidades de Angola" de autoria de Sandro Bettencourt, a realizar no dia 6 de Dezembro de 2011, pelas 18h30 na Bertrand do Chiado. 
A apresentação desta obra estará a cargo de Júlio Magalhães.

Sandro Bettencourt é natural de Angola e filho de um ex-combatente, também, em Angola.

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9133: Agenda cultural (174): Museu da Marinha, 10 de Dezembro, sábado, às 11 h: Cinquenta anos da invasão de Goa: a acção da Armada: conferência do Cmdt Rodrigues Pereira

Guiné 63/74 - P9137: Notas de leitura (308): De Campo em Campo, de Norberto Tavares de Carvalho (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Novembro de 2011:

Queridos amigos,
O confrade António Marques Lopes confiou-me esta leitura.
O Cote ou Norberto Tavares de Carvalho teve o inegável mérito de recolher da boca de Bobo Keita informações de grande valor pessoal, captou o seu olhar sobre os acontecimentos na viragem dos anos 50 para os anos 60, sente-se a confiança do jovem guerrilheiro a propagar a mensagem de Cabral.
Não se entende a metodologia que desorienta mais o leitor ao invés de o motivar. As memórias batem certo quanto à chegada de armamento e às múltiplas dificuldades nos primeiros anos da luta. Há omissões ininteligíveis, corre-se rapidamente dos anos 60 para os anos 70, há uma infinita pressa em chegar ao assassinato de Amílcar Cabral. Nas entrevistas é obrigatório um corpo-a-corpo com o entrevistado, em momentos cruciais somos arrastados pelo que Bobo quer dizer com a agravante de o Cote nos encharcar com notas e esclarecimentos.
Podia muito bem ter sido de outra maneira, para bem de todos.

Um abraço do
Mário


Bobo Keita: Memórias valiosas de um guerrilheiro errante

Beja Santos

Ninguém nos conhece que as memórias dos guerrilheiros do PAIGC mal cabem nos dedos de uma mão. “De Campo em Campo, Conversas com o comandante Bobo Keita, por Norberto Tavares de Carvalho, edição de autor, 2011 (notaca-ocote@hotmail.com) é um registo de todo um percurso, dá para medir o pulso a uma trajectória, a um modo de ver e fazer a revolução e de a apreciar, desencantado, ao longe e já com poucas forças. Vale pela intensidade das memórias da juventude, para se perceber como se recrutava um jovem guerrilheiro, como evoluíram as etapas da guerra, o que ele pensa do assassinato de Amílcar Cabral e qual o âmago do diferendo entre guineenses e cabo-verdianos, por exemplo. O guerrilheiro participou activamente na alvorada da independência, faz declarações profundamente críticas quanto ao comportamento das tropas portuguesas – só neste domínio era importante que os actores da época clarificassem com os seus depoimentos o que realmente se passou, o guerrilheiro, mesmo pelo facto de já ter falecido, tem que ser submetido ao contraditório, os militares também têm honra.

É muito discutível a metodologia usada por Norberto Tavares de Carvalho, interrompe repetidamente as memórias do guerrilheiro com explicações que muito bem podiam aparecer em notícias de rodapé ou em anexo, cansa o leitor, quebra o ritmo, tantas fontes como as obras citadas revelam escassez de investigação, tudo leva a querer que Bobo Keita faz revelações dignas de melhor tratamento.

O guerrilheiro enche-se de orgulho a falar das suas raízes, lembra Amadu Djaló a conversar com Virgínio Briote: “Chamo-me Bobo Keita, sou o primeiro filho de Fofana Keita, alfaiate, e de Mbália Turé, mãe e doméstica. O meu pai nasceu na tabanca de Dabis, região de Boké. Os meus avós pertencem à tribo dos Landoma. O meu pai herdou dos seus progenitores a fé, o respeito e a confiança no divino. A minha mãe pertence à etnia Sosso da parte do pai e Papel de Safim da parte materna”. Depois o orgulho da infância, de participar nas obrigações familiares: “Lembro-me do meu quotidiano feito de vaivéns de tecidos e de panos que o pai transportava cuidadosamente do mercado e do ruído insistente da sua máquina de costura que só se calava quando a mãe anunciava a hora de comer. E tudo aquilo me fascinava e punha-me a sonhar que um dia viria a ser alfaiate como ele. Até que, vendo a paixão que eu manifestava observando os seus gestos, resolveu ensinar-me a profissão”. Vai ser um futebolista conceituado, aos poucos ganha percepção do que é o poder colonial, o que distingue um “civilizado” de um indígena, a natureza da hierarquia instituída: os que tinham bilhete de identidade, os grumetes portadores de apelidos portugueses, o gentio constituído só por indígenas. Fala em Rafael Barbosa e Momo Turé, e em 1960, com vinte e um anos, parte para a luta armada, vai para Conacri, aqui conhecerá Cabral, fica instalado no lar do PAIGC, nesta altura as duas primeiras fornadas de combatentes já tinham sido preparadas na China. Estavam lá há quinze dias quando regressou a segunda fornada constituída, entre outros, por Domingos Ramos, Osvaldo Vieira, Manuel Saturnino da Costa, Victorino Costa, Nino, Francisco Mendes e Constantino dos Santos Teixeira.

Descreve a sua preparação, as desconfianças de Sekou Turé, as disputas do PAIGC com os movimentos rivais, tanto na Guiné-Conacri como no Senegal, e parte para a sua primeira missão, no Norte, entre 1961-1962, esteve no chão dos Felupes, junto a S. Domingues, foram aparecendo as armas e regista detalhadamente as muitas dificuldades vividas devido às reticências das autoridades senegalesas.

As perguntas e respostas andam por vezes em ziguezague, o leitor, desnorteado, entra de chofre no Congresso de Cassacá e na formação do exército guineense. Toda esta informação confirma outros relatos já produzidos sobre a génese da orgânica da guerrilha após 1964. Bobo Keita é um guerrilheiro da frente Norte, anda por Binta e Guidage, a base era Sambuiá. Em Junho de 1968 é ferido e evacuado para Moscovo e depois regressa à frente Norte. Frequentou seminários em Conacri e depois foi para a Jugoslávia. No regresso, ofereceu-se para ficar nas regiões de Xime, Bambadinca e Xitole, aqui passou nove meses, vinha substituir provisoriamente Mamadu Injai, reorganizou a quadrícula: “A primeira medida que tomei no Leste foi acabar com a base central onde se concentrava toda a guerrilha e que daí procedia a longas marchas para ir atacar os quartéis. Além disso, na base central concentravam-se as milícias e havia uma certa confusão. Existia também o risco de que qualquer ataque do inimigo pudesse causar muitas baixas na base, devido a tamanha promiscuidade. Formei três destacamentos e um comando móvel. Com a nova organização, a população estava mais segura. Criei um depósito dos Armazéns do Povo. Com isto consegui criar uma nova vida nessa região”. Em Outubro de 1971 acompanha Amílcar Cabral numa viagem à União Soviética. No regresso, tendo-se intensificado a guerra no Sul, Cabral achou pertinente enviar um grupo de comandantes para reequilibrar a situação.

No final do ano de 1972, Cabral informa que alguns camaradas tinham sido presos (Aristides Barbosa, Momo Turé e o seu irmão Baciro). E comenta: “Esses camaradas tinham sido presos porque desenvolviam no seio dos militantes, em Conacri, actividades de mobilização contra a direcção do Partido, explorando de maneira perigosa as velhas rivalidades entre guineenses e cabo-verdianos”. Para Bobo Keita, esses camaradas teriam sido recrutados por Spínola, a sua missão era alargar o descontentamento. Em 20 de Janeiro de 1973, tendo de regressar a Boké, juntamente com Inocêncio Cani, foi despedir-se de Amílcar Cabral e este disse-lhe que tinham acabado de sair do seu gabinete dois embaixadores acreditados em Conacri que lhe tinham dado informações de que os portugueses tinham fechado a zona de Cacine e preparavam um novo golpe contra a República da Guiné: “Disse-me que os portugueses previam libertar os prisioneiros capturados pelo Partido e levá-los para Cacine bem como os homens do PAIGC que teriam capturado durante a operação. Que o plano deles incluía também a eliminação da sua própria pessoa”. Segundo Bobo Keita, a situação em Conacri estava caótica.

E ficamos por aqui, seguir-se-á o episódio do assassinato e daí partiremos para a independência e todo mais que se seguiu, até Bobo Keita, em colisão frontal com Nino, se ter afastado da Guiné-Bissau.

É um relato com muitos altos e baixos, seguramente que Bobo Keita teria muito mais a dizer sobre a evolução da guerra, ele conheceu perfeitamente a frente Norte e viveu largos meses na frente Leste. Há notoriamente silêncios, beliscadelas e sentimentos feridos. Não se lhe pode assacar a responsabilidade de exibir fontes escritas, ao que parece o manancial da documentação estava em poder de Cabral e do secretariado político. Mas estes comandantes recebiam documentação, nunca a invocam e muito menos a exibem. O que nos leva permanentemente a questionar como é que se vão cozer todas estas peças constituídas por depoimentos que mais ninguém valida.

(Continua)
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Notas de CV:

Vd. postes da recensão deste livro feita por Luís Graça, de:

24 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8941: Notas de leitura (290): De campo em campo: conversas com o comandante Bobo Keita, de Norberto Tavares de Carvalho

25 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8947: Notas de leitura (292): De campo em campo: conversas com o comandante Bobo Keita, de Norberto Tavares de Carvalho (Parte II): Futebol e Nacionalismo (Nelson Herbert / Luís Graça)

27 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8952: Notas de leitura (294): De campo em campo: conversas com o comandante Bobo Keita, de Norberto Tavares de Carvalho (Parte III): Cupelom, Pilum, Pilom, Pilão..., um bairro que dava de tudo, fervorosos muçulmanos, bajudas giras, futebolistas talentosos, destacados militantes do PAIGC, bravos comandos africanos... (Luís Graça)

29 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8961: Notas de leitura (296): De campo em campo: conversas com o comandante Bobo Keita, de Norberto Tavares de Carvalho (Parte IV): Os 'Portuguis Nara' de Boké e de Conacri (Luís Graça)
e
31 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8968: Notas de leitura (297): De campo em campo: conversas com o comandante Bobo Keita, de Norberto Tavares de Carvalho (Parte V): Início desastrado e desastroso da luta de guerrilha no chão fula, em 1963 (Luís Graça)

Vd. último poste da série de 2 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9128: Notas de leitura (307): Dois Anos de Guiné - Diário da Companhia de Caçadores 675, por Fur Mil Oliveira (4) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P9136: Troca dos últimos prisioneiros: 35 guerrilheiros do PAIGC e 7 militares portugueses (Parte I) (Sousa de Castro / Luís Beleza Gonçalves Vaz)

1. Mensagem do nosso tabanqueiro nº 2, o mais antigo, Sousa de Castro (ex- 1º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74; minhoto, técnico fabril dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, hoje reformado), enviada a Luís Vaz, com conhecimento ao nosso blogue:

Data: 4 de Dezembro de 2011 21:53
Assunto: Troca dos últimos prisioneiros na Guine

Caro Luís Vaz,
Aradeço muito o documento que acaba de me enviar, é de extrema importância para não só esclarecer como foi feita a troca dos prisioneiros entre as Forças Armadas e o PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), como também ajudar a completar o puzzle do teatro de operações na Guiné .

Por outro lado convido-o a visitar estes blogues que têm muito a ver com a História sobre a Guerra colonial na Guiné. Fico a aguardar mais histórias para possível divulgação neste ou noutros blogues se achar conveniente.

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

http://coisasdaguine.blogspot.com/

Com deferência,

Sousa de Castro

2. Mensagem de Luís Vaz ao nosso camarada e amigo Sousa de Castro:

Data:: domingo, 4 de Dezembro de 2011 16:42
Para:
sousadecastro@gmail.com
Assunto: Troca dos ultimos prisioneiros na Guine

Caro Sousa Castro:


Muito obrigado por me ter respondido de forma tão célere!

Em primeiro lugar quero informá-lo de que não sou ex-combatente, apesar de ter vivido em 1973/74 na Guiné Bissau, pois acompanhei o meu falecido pai, Coronel do CEM Henrique Gonçalves Vaz na sua última comissão em África, em que foi o último Chefe do Estado-Maior do CTIG (do QG) sobre o Comando do General Bettencourt Rodrigues.

Depois do 25 de Abril, sobre o comando do então Brigadeiro Fabião, e em articulação com outros oficiais do Estado–Maior, implementaram os dispositivos de retracção para acantonarem e retirarem deste Teatro de Operações os milhares de militares portugueses presentes nesta Província, tendo só abandonado a Guiné, no último voo com tropas Portuguesas, no dia 14 de Outubro de 1974 na companhia do Brigadeiro Fabião.

Como tal, e ao realizar a Biografia do meu falecido pai, Coronel de Cavalaria e do Estado-Maior, li muitos documentos classificados, do seu arquivo pessoal, e poderei acrescentar algumas informações sobre a troca dos últimos prisioneiros de guerra, com o PAIGC.

Mantivemos 35 prisioneiros (guerrilheiros do PAIGC) na ilha das Galinhas até a véspera do reconhecimento da Independência da República da Guiné-Bissau por parte do Governo Português. Pelo lado do PAIGC, mantinham 7 prisioneiros (4 soldados e 3 primeiros Cabos, do nosso Exército), um dos quais era o soldado António Baptista, que tinha sido dado como morto em 17 de Abril de 1972, numa emboscada em Madina-Buco, onde as nossas tropas sofreram 1 desaparecido e 10 mortos, 6 dos quais queimados na explosão da viatura em que seguiam.

A troca destes sete prisioneiros na posse do PAIGC (retidos no Boé) por 35 guerrilheiros do PAIGC (retidos pelas nossas tropas na ilha das Galinhas) , foi feita segundo o estipulado pelo Acordo de Argel, e foi marcada para o dia 9 de Setembro, em Aldeia-Formosa, no entanto o PAIGC não compareceu nessa data como estava combinado, só no dia 14 de Setembro a troca se realizou.

Estiveram presentes nesse ato pelas nossas tropas, o Major de Inf Tito Capela (Chefe da 2ª Rep. Do QG), o Major de Art Aragão, o Capitão-tenente Patrício, o capitão de Inf Manarte e o Furriel miliciano Elias (da 2ª Rep/QG/CTIG). Por parte do PAIGC, estiveram presentes os seguintes elementos: Manuel dos Santos (Sub Secretário Informação/Turismo da GB), Carmen Pereira (Membro do Conselho de Estado/GB) e Iafai Camará (Comandante do Aquartelamento de Aldeia Formosa).

Imediatamente após a troca, foi feita a identificação: os soldados António Teixeira, Jacinto Gomes, António da Siva Baptista, Manuel Ferreira Vidal ;e os 1ºs cabos Duarte Dias Fortunato, Virgílio da Silva Vilar e o Manuel Fernando Magalhães Vieira Coelho; tendo depois os prisioneiros e a comitiva regressado de avião a Bissau.

Ficaram instalados no Hospital Militar de Bissau e, no dia seguinte, dia 15 de Setembro de 1974, seguiram por via área para Lisboa.

Luís Beleza Gonçalves Vaz

(filho do Coronel Henrique Gonçalves Vaz,

Chefe do Estado-Maior do CTIG,  1973/74)

Com os meus melhores cumprimentos>

Luís Beleza G. Vaz

3. Comentário do editor:

Agradecemos vivamente ao Sousa de Castro e ao Luís Vaz a partilha desta informação. E aproveitamos a oportunidade para oferecer ao Luís Vaz as páginas deste blogue para, se assim o entender, fazer chegar a um público mais vasto, de amigos e camaradas da Guiné, a informação e o conhecimento privilegiados que certamente possui sobre os últimos meses da presença soberana de Portugal, entre 1973 e 1974, naquela terra a que continuamos ligados pelos laços da História, da Língua e da Amizade.  Por outro lado, achamos um gesto de grande nobreza e de amor filial a iniciativa que se propôs o Luís Vaz ao escrever (e possivelmente ao querer publicar) a biografia do seu pai que serviu o seu país num momento único e irrepetível da sua História. Bem haja! (LG)

PS - O drama dos nosso camaradas que ficaram retidos pelo PAIGC em Conacri e depois na região do Boé, até ao final da guerra, já aqui deu azo a muitas páginas, em especial o caso do nosso querido "moto-vivo do Quirafo", e membro da nossa Tabanca Grande, o António Batista, sem esquecer o caso, não menos dramático, do José António de Almeida Rodrigues que conseguiu fugir do cativeiro, seguindo o curso do Rio Corubal até ao Saltinho.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9135: Convívios (390): Rescaldo do último Encontro de 2011 da Tabanca do Centro, dia 30 de Novembro de 2011 em Monte Real (Carlos Pinheiro / Miguel Pessoa)

1. Com a devida vénia à Tabanca do Centro, e aproveitando o magnífico trabalho gráfico do inegualável camarada Miguel Pessoa, reproduzimos na íntegra o poste "Natal antecipado na Tabanca do Centro" referente ao Convívio do dia 30 de Novembro de 2011:



(Fotos de Carlos Pinheiro)
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Nota de CV:

Vd. poste de 12 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9030: Convívios (379): Último Encontro de 2011 da Tabanca do Centro, dia 30 de Novembro de 2011 em Monte Real (Joaquim Mexia Alves)

Vd. último poste da série de 29 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9113: Convívios (382): O Convívio da Tabanca da Linha visto por José Manuel Matos Dinis

sábado, 3 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9134: Porto de Abrigo (Carlos Rios) (5): A atribuição de Cruz de Guerra e apresentação de quadros diversos

1. Finalizamos hoje a apresentação de "Porto de Abrigo", as memórias passadas a escrito pelo nosso camarada Carlos Luís Martins Rios, ex-Fur Mil da CCAÇ 1420/BCAÇ 1857, Mansoa e Bissorã, 1965/66.


PORTO DE ABRIGO - V

Medalha da Cruz de Guerra

A Cruz de Guerra foi criada pelo Decreto n.º 2870, de 30 de Novembro de 1916, para premiar actos e feitos de bravura praticados em campanha. Esta condecoração recebeu notoriedade durante a I Guerra Mundial e durante a Guerra Colonial Portuguesa. Divide-se em 1ª, 2ª, 3ª e 4ª classe, por ordem decrescente de importância.

A Cruz de Guerra, levemente inspirada na Croix de Guerre francesa (principalmente nas cores da fita de suspensão), teve, ao longo da sua história, três tipos ou modelos diferentes, respectivamente legislados em 1916, 1946 e 1971.

O desenho desta medalha (desde 1971) na sua 1.ª Classe, é o seguinte:
- Relativamente ao anverso, ou face, é uma cruz templária, em ouro, tendo sobreposto, ao centro, um Emblema Nacional.
- O reverso tem, ao centro, um círculo carregado de duas espadas antigas passadas em aspa, cercadas de duas vergônteas de louro, frutadas e atadas nos topos proximais com um laço.
- A fita de suspensão é de seda ondeada, com fundo vermelho, cortado longitudinalmente por cinco filetes verdes de 0,0015 m de largura e equidistantes entre si e das margens da fita; largura de 0,03 m; comprimento necessário para que seja de 0,09 m a distância do topo superior da fita ao bordo inferior da condecoração, por forma a obter o alinhamento inferior das diferentes insígnias; ao centro, uma miniatura da cruz de guerra, cercada de duas vergônteas de louro, tudo de ouro.

Durante a Guerra Colonial Portuguesa, foram entregues as seguintes medalhas da Cruz de Guerra:

- Exército: 2634
- Armada: 68
- Força Aérea: 273

OBS: - Texto e imagens retirados da Wikipédia, com a devida vénia.


Que mentira!
Que iniquidade!


Esta condecoração que me foi aposta ao peito por um dos mais altos dignitários da nação naquele dia de Portugal, passado algum tempo perdeu a cor do Ouro. Seria mesmo ouro aquela medalha que lá está para casa com uma cor parecida com o aço?

Acima de tudo
Os homens passam.
As instituições ficam e podem sempre melhorar.
Que viva Portugal

FUR. MIL. DE INFANTARIA
CARLOS LUÍS MARTINS RIOS

Condecorado com a Cruz de Guerra de 1ª classe, porque tendo tomado parte em numerosas acções de combate, como comandante da Secção do Grupo de Combate Especial, para o qual se ofereceu, se revelou um graduado com excelentes qualidades de Comando e de combatente. Marchando normalmente a sua secção na testa das forças empenhadas, exposto portanto a maiores perigos, soube o Furriel Rios incutir-lhes confiança, pelo ardor combativo que demonstrou nas acções de fogo, pelo exemplo que constantemente lhes deu e pelo entusiasmo com que cumpria as missões que lhe foram dadas, mesmo nas situações mais críticas. É digna de realce a acção deste militar em diversas operações nomeadamente «Ferro», «Estopim» e «Espetro».
Tomou parte na operação «Ferro» voluntariamente, pois encontrava-se inferiorizado fisicamente e accionou uma armadilha durante a progressão para o objectivo o que em nada contribuiu para alterar o optimismo com que sempre encarou as acções de combate.
Detectadas as nossas tropas nas proximidades do objectivo, lançou-se o Furriel Rios, de rompante, com a sua Secção sobre a base inimiga onde elementos blindados abrigados reagiam ao assalto, com volumoso fogo de armas automáticas e bazucas, desalojando-os e pondo-os em debandada, com baixas. Destruído o objectivo e já no regresso ao Aquartelamento, foi a cauda da força flagelada com volumoso fogo, quando atravessava um descampado. Acorreu prontamente o Furriel Rios à retaguarda incentivando a reacção das nossas tropas, e conseguiu que a parte do Grupo flagelado manobrasse com rapidez sobre o inimigo, que perante a ameaça de envolvimento debandou, furtando-se ao contacto. Mostrou assim serena energia debaixo de fogo, coragem, sangue-frio e desprezo pelo perigo.
Durante a operação «Espectro», em que tomou parte também voluntariamente, foi o Furriel Rios vitima da sua dedicação e espírito de combatividade ao ser gravemente ferido à queima-roupa quando tentava capturar um elemento inimigo que avistara em fuga, elemento esse que explorado convenientemente certamente contribuiria para um melhor cumprimento da missão. Pelos motivos apontados, considera-se o Furriel Rios como um militar voluntarioso, abnegado, corajoso e cumpridor dos seus deveres, pelo que se tornou digno da maior consideração pela parte dos seus superiores e admirado pelos seus subordinados, constituindo assim um exemplo vivo do Soldado Português.



Apresentação de quadros diversos



Para que as gerações futuras repudiem as guerras e não esqueçam!
Em Carnaxide, 11 de Março de 2011
Carlos Rios

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Nota de CV:

Vd. postes da série de:

23 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9082: Porto de Abrigo (Carlos Rios) (1): Dedicatória, início da vida militar e viagem para a Guiné

26 de Novembro de 2011> Guiné 63/74 - P9097: Porto de Abrigo (Carlos Rios) (2): A nossa estada em Fulacunda

29 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9112: Porto de Abrigo (Carlos Rios) (3): A nossa estada em Bissorã e Mansoa, e as baixas em combate
e
1 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9124: Porto de Abrigo (Carlos Rios) (4): Troca de mensagens

Guiné 63/74 - P9133: Agenda cultural (174): Museu da Marinha, 10 de Dezembro, sábado, às 11 h: Cinquenta anos da invasão de Goa: a acção da Armada: conferência do Cmdt Rodrigues Pereira




1. Breve nota curricular sobre o orador, o Capitão-de-Mar-e-Guerra José António RODRIGUES PEREIRA, actual Director do Museu de Marinha

(i) O Comandante Rodrigues Pereira nasceu em Lisboa em 7 de Junho de 1948 e entrou para a Escola Naval, como Cadete, em 1 de Setembro de 1966;~


(ii) Foi promovido ao actual posto em 27 de Julho de 1999, tendo passado à situação de Reserva, por limite de idade, em 7 de Junho de 2005;

(iii) Especializou-se em Electrotecnia em 1971-72, frequentou o segundo Curso Geral Naval de Guerra do ano lectivo de 1981-82 e o curso conducente ao Mestrado em Estratégia no ISCSP/UTL nos anos lectivos de 1988-90; (...)

(iv) Prestou serviço em diversas unidades navais, algumas em zona de conflito, salientando-se os embarques nos NRP Porto Santo e Boavista nos Açores (1970-71), NRP Jacinto Cândido em Moçambique (1973-75), NRP Afonso Cerqueira em Timor (1975-76), NRP Comandante Hermenegildo Capelo (1977-78), imediato dos NE Vega (1984-85), NE Polar (1985-86), e do NRP São Miguel durante a 1ª Guerra do Golfo (1990-91), participando nas operações de embargo ao Iraque decretadas pela Organização das Nações Unidas; desempenhou os cargos de comandante dos NRP Zaire (1979-82) e NE Polar (1986-88);

(v) Foi professor efectivo da Escola Naval, da cadeira de História Naval, de 1982 a 1990, regendo ainda as cadeiras de Ciências Sócio-Militares (Liderança) e de Organização;

(vi) Desde muito novo que se dedica à investigação de temas relacionados com a história marítima e a navegação; (…) 

(vii) Proferiu diversas conferências sobre temas de História e Estratégia em diferentes instituições e organismos no país e no estrangeiro; tem publicados mais de meia centena de trabalhos sobre aquelas matérias, alguns em publicações estrangeiras;

(viii) Publicou os livros: (a)Wenceslau de Moraes, o Marinheiro e a Armada do Seu Tempo, Fortalezas Marítimas da Figueira da Foz, (b) Campanhas Navais Portuguesas (2 volumes) 1793-1807 e 1808-1823; (c)) Portugal no Mar, Nove Séculos de História, e ainda (d) volume da História da Marinha Portuguesa: Viagens e Operações Navais (1139-1499); 

(ix) Membro efectivo da Classe de História Marítima da Academia de Marinha e membro da Comissão de Estudos Corte-Real e da Secção de História da Sociedade de Geografia de Lisboa; membro do Conselho Consultivo da Comissão Portuguesa de História Militar; foi o representante da Marinha na Comissão organizadora dos 200 Anos das Invasões Francesas;

(x) É professor da Escola Naval no curso de pós-graduação em História Marítima e da Universidade Autónoma de Lisboa na pós-graduação em Arqueologia Náutica; é ainda conferencista convidado do Instituto de Estudos Superiores Militares; (...)

(xi) O comandante Rodrigues Pereira é Director do Museu de Marinha desde 7 de Fevereiro de 2006. 

Fonte: Sítio da Câmara Municipal de Aveiro

Guiné 63/74 - P9132: Blogoterapia (193): Porque somos um país de marinheiros, congratulemo-nos com a recuperação dos pescadores das Caxinas (Henrique Cerqueira)

1. Porque todos os portugueses, mesmo aqueles que nunca viram o mar, terão no seu sangue resquícios de antigos marinheiros, porque nós ex-combatentes fomos transportados nos porões de navios que sulcaram as águas dos oceanos a caminho de África e da Ásia, não é despropositado publicar esta mensagem, vinda de um camarada que de algum modo se sentiu tocado pelo final feliz de uma desgraça anunciada.

Marginal de Leça
Foto: Carlos Vinhal

2. Mensagem do nosso camarada Henrique Cerqueira (ex-Fur Mil da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74), com data de 2 de Dezembro de 2011:

Caro Camarada Carlos Vinhal
Hoje é um dia de grande felicidade tanto para mim como, creio eu, para todos os portugueses.
Não sei camarada Vinhal se é ou não motivo para ser publicado mas na realidade eu tinha mesmo que expressar esta alegria para além do meu círculo familiar.
Vamos então ao assunto que origina tão grande alegria.

Todos ouvimos e lemos as notícias em relação ao desaparecimento dos nossos pescadores das Caxinas. Ora hoje mesmo temos a feliz noticia de que todos foram salvos após longa e, de certeza, angustiante espera em pleno mar alto.

Tenho andado angustiado e revoltado com toda esta polémica dos cortes aprovados do Orçamento de Estado, pois que de uma forma ou outra todos seremos afectados e vilipendiados dos nossos bens que tanto nos custou amealhar, no entanto quando surgiram as noticias do desaparecimento destes trabalhadores do mar todas as minhas angústias e raivas passaram para segundo plano.

Hoje quando estava a almoçar fui atingido com a felicidade de saber do salvamento dos nossos pescadores, daí eu resolver escrever estas letras para de certo modo homenagear estes camaradas que foram salvos, suas famílias e assim como todos os pescadores do nosso país.

Não tenho familiares na faina da pesca, mas trabalhei vinte e quatro anos em Matosinhos com ex-pescadores e familiares de alguns ainda no activo. Sempre vivi de perto as suas angústias e tristezas.

Camarada Vinhal, se achares que não vale a pena publicar, estou de pleno acordo, pois só pelo facto de escrever estas linhas, considero que prestei uma singela homenagem a esses Homens do Mar.

Um abraço para todos os tertulianos e um especial para ti que também és um homem ligado ao Mar.
Henrique Cerqueira
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9060: Blogoterapia (192): Em dia dos meus anos, na medieva Ucanha, lembrando tantos e bons amigos, incluindo o malogrado soldado Napoleão, da minha companhia, a CART 6250, Mampatá, 1972/74 (José Manuel Lopes)

Guiné 63/74 - P9131: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (39): A poesia e a liberdade: Conferência de António Graça de Abreu, 2ª feira, 5 de dezembro, às 18h30, na BMRR, Lisboa





1. Mensagem do nosso camarada e amigo António Graça Abreu, com data de 1 de Dezembro:


Assunto - Ciclo Conferênci​as "A Poesia e a Liberdade" na BMRR


 Luís, caríssimo: Podes dar divulgação da minha conferência entre o nosso pessoal ?
 Agradeço muito. (...) Forte abraço amigo,


António Graça de Abreu


2. Anúncio do PEN Club Português:


Prezados Consócios,


No final de uma série de conferências que constituíram um verdadeiro exercício de prática poética em numerosas modulações de assinalável qualidade, temos o prazer de anunciar a última intervenção, que nos apresentará esse verdadeiro Outro linguístico e poético, a
descobrir pela mão de quem conhece profundamente a cultura e literatura
chinesas.


Contamos com a vossa presença!


Saudações muito cordiais,


A Direcção do PEN


Conferência: "Traduzir os poetas da China, tradução, reinvenção e fascínios"


Local: Biblioteca Museu República e Resistência


CMLX | DMC | DAC | Divisão de Rede de Bibliotecas
Rua Alberto de Sousa,
nº 10A - 1600-002 Lisboa
Telefone: 21 7802760
http://blx.cm-lisboa.pt 


3. O nosso querido camarada e amigo António Graça de Abreu (AGA) [, aqui na foto à esquerda com a esposa, a dra. Hai Yan ] gostaria, mais uma vez, de poder contactar com a presença dos amigos e camaradas da Guiné na sua conferência, no Biblioteca Museu República e Resistência (BRRR)...A entrada é livre. 


O nosso AGA é um conhecido sinófilo: ele auto-intitula-se "sínico mas não cínico", e tem vindo a traduzir alguns dos maiores poetas clássicos chineses. 


Permitam-me que destaque, entre outros,  o seu livro, publicado pelo Instituto Cultural de Macau,  Poemas de Li Bai - tradução, prefácio e notas de António Graça de Abreu, 2ª edição (revista e aumentada), 1999. (1ª edição, 1990). Este trabalho mereceu-lhe o Grande Prémio de Tradução da Associação Portuguesa de Tradutores e do Pen Club, 1991.



Teve a gentileza de me oferecer um exemplar autografado desta 2ª edição, com as seguintes simpáticas palavras: "Ao Luís Graça, estes poemas de paz de um homem e chinês do Séc. VIII que, como nós, também conheceu a guerra. A Afmiração, a amizade do António Graça de Abreu, Estoril, Fev. 2010"...


Para que não se diga que estas coisas não têm nada a ver connosco... e com a nossa Guiné, aqui vai um dos poemas, deste poeta maior, universal, em cuja poesia a guerra, a liberdade, a solidão e o amor são referências muito fortes...


Para além da Grande Muralha


Ele monta um cavalo branco  junto ao Fortim Dourado,
ela vagueia em sonhos entre nuvens e areias do deserto.
Insustentável tristeza ao pensar
no guerreiro amado, lá longe na fronteira.
Pirilampos, voando ao acaso, invadem sua janela,
lenta, a Lua atravessa o céu, sobre os seus aposentos.
Esfarrapam-se as folhas de paulóvnia verde,
rebentaram, secaram os ramos de vime tenro.
Todos os dias, em segredo, ela chora,
embora saiba que todas as lágrimas são inúteis.


Li Bai


In: Poemas de Li Bai, 2ª ed., 1999, p.  257. (trad. de António Graça de Abreu).


4. Sublime: Todos os dias, em segredo, ela chora,/ embora saiba que todas as lágrimas são inúteis. Isto é poesia, meus amigos,  com 14 séculos em cima (neste cantinho à beira mar plantado, no Séc. VIII, já andavam por cá os mouros, com os seus guerreiros mas também com os seus poetas)...


Acrescenta o nosso AGA, em rodapé, no supracitado livro, a seguinte nota erudita:


"O tema da mulher que aguarda, triste, o regresso do seu amado que partiu para a guerra com os bárbaros do Norte, surge com frequência na poesia de Li Bai e de outros poetas da dinastia Tang [618-906]. Com aspectos diferentes encontramo-lo na nossa poesia medieval quando o fossado, as expedições guerreiras contra os mouros, levavam os soldados  para longe das suas companheiras".
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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9037: Os nossos Seres, Saberes e Lazeres (38): Palavras de um senhor defunto, um livro de Mário Serra de Oliveira (5)

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9130: Se bem me lembro... O baú de memórias do José Ferraz (12): Os azares de um Primeiro, periquito, que apanhou a Flor do Congo, na sua primeira viagem a África...

1. Outra história do Zé Ferraz, português radicado nos EUA desde 1970 (vive atualmente em Austin, Texas), ex-Fur Mil Op Esp, CART 1746 (Xime, 1969; CCS/QG, Bissau, 1969/70)(*)


Durante os fins de semana trabalho dois turnos por dia,  sábados e domingos,  16 horas respectivamente, num centro de reabilitação (para homens) a que clinicamente se chama aqui Men's Intensive Residential Treatment,  com uma duração  de 28/30 dias por paciente. Portanto tenho tempo para me entreter.

O Blogue ajuda-me psicologicamente a distanciar-me emocionalmente destes doentes e evitar as chamas Transfer and countertransfer issues... E é evidente que, à medida que me embrenho a ler os postes,  a minha memória acorda e é um ver se te avias...

Lembrei-me hoje de outra anedota nos meus tempos do QG-CTIG...

Apareceu na messe de sargentos  um Primeiro,  periquito,  recém chegado de Lisboa. Aparentemente ninguém conhecia; nem os outros Primeiros porquanto este pobre tipo tinha passado a maior para do seu serviço na Guarda Nacional Republicana que eu detestava por experiências passadas quando nós,  como estudantes,  nos anos 60,  fazíamos manifestações contra a ditadura do Salas... Enfim essa e outra história...

Ora bem,  o nosso Primeiro nunca tinha estado em África e muito menos com a nossa malta... Era como um camelo a olhar para um palácio...

Um dia, à conversa,  ele pergunta-me, em tom de confidência:
- Ó nosso Furriel, eu tenho um problema e não sei o que fazer...
- Ó meu Primeiro - disse-lhe eu - conte-me lá o que se passa a ver se eu o posso ajudar...

Diz-me ele:
- É que nestes últimos dias me apareceu esta merda nos sovacos e nas virilhas que me dá muita comichão e cheira mal,  há tres dias que não tomo banho...
- Ó meu Primeiro - respondi-lhe eu - o que o senhor apanhou é o que nos chamamos a Flor do Congo... É uma micose...
_ E, o nosso Furriel,  isso é perigoso?...
- Muito! - disse eu...
E agora pergunta o Primeiro:
- O que é que eu faço ?...
- Bom - disse-lheu - a Flor do Congo é um fungo e o que o senhor precisa é de lavar o corpo todo com água pura... Por exemplo,  o senhor compra o sabão encarnado e, como estamos na época da chuva,  quando estiver chover bem,  o primeiro ensaboa o seu corpo com o sabão e depois deixa que a chuva lave o corpo....

Passados uns dias aí estava o Primeiro,  nu em pelota,  fora do seu quarto,  na rua que passava em frente da messe de sargentos e ia para a messe de oficiais,  a lavar o corpo com o sabão encarnado e a malta na messe,  todos a rir...
- Ó Furriel como é que eu lavo a rego do cu ?... - Dizia-lhe eu:
- Meu Primeiro,  dobre-se prá frente,  ponha-se de cu pró ar e deixe que chuva lhe lave o cu ...

Mais gargalhas e o Primeiro nem se quer se deu conta .... Nisto, era noite, aí vem um carro, dá a curva e os farois batem no cu branquinho do Primeiro,  periquito ...
Mais gargalhas... O problema,  ouvimos mais tarde,  foi que a esposa de um oficial era passageira nessa viatura e aparentemente ficou mal impressionada com a brancura do cu do Primeiro e,  possivelmente o resto que viu,  porque o Primeiro não se perturbou com nada,  o que ele queria era ver-se livre da comichão...
Um forte abraço, Zé.
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 1 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9123: Se bem me lembro... O baú de memórias do José Ferraz (11): Uma cena do Júlio, em combate: Furriel, os meus t... ?!

Guiné 63/74 - P9129: O nosso fad...ário (4): O Fado da Orion (J. Pardete Ferreira, ex-Alf Mil Médico, 1969/71)

1. Há tempos o nosso camarada   J. Pardete Ferreira, (ex- Alf Mil Med, CAOP, Teixeira Pinto; HM241, Bissau, 1969/71) mandou-nos a letra do Fado da Orion. Já foi publicada no poste P8966, na secção Blogpoesia (*)... Mas hoje queremos recuperá-la para a secção O nosso fad...ário (**).

E esperamos um dia poder ouvi-la cantar por um dos nossos fadistas, num dos nossos encontros ou até, quem sabe, numa "grande noite do fado dedicada à Guiné"...


Uma explicação é devida pelo autor da letra:


(...) " O Fado da Orion foi escrito em Homenagem ao Comandante Faria dos Santos. A LFG [Orion] passou mais de um ano acostada ao molhe do Pidjigiti porque tinha cedido à [LFG] Batarda um dos motores. Quando o recebeu de volta ou ele foi substituído por um novo, já não posso precisar, fez uma viagem experimental e de contrabando 'a acreditar nos praticantes da má-língua' e de seguida foi o navio almirante da ida a Conacri [, Op Mar Verde, em 22 de Novembro de 1970,]  sob o Comando de Faria dos Santos, mais tarde Comandante do porto e, em seguida, Governador Civil de Aveiro. Poeta e grande amigo, recebia a jantar (e bem) um pequeno número de amigos na torre, onde, no final, a poesia expulsava o álcool. Ele foi, igualmente, a nossa chave de acesso à Base Naval de Bissau onde, às quintas-feiras,  havia jantar melhorado e aberto a convidados" (...)



Guiné > Região de Tombali > Rio Cacine > 1971 ou 1972 > A LFG Orion é (ou era, uma vez que já não existe) como a Nau Catrineta: tem (tinha) “muito que contar”, do Cacheu a Cacine, passando por Conacri… Dois camaradas nossos, o Manuel Lema Santos (como 2º Ten RN, e o Pedro Lauret  (como 2º Ten) foram seus Imediatos  embora em épocas (1966/69 e 1971/73, respetivamente)…

Nesta foto vemos o actual comandante reformado, Pedro Lauret, em 1971 ou 1972, então oficial imediato do NRP Orion (1971/73), na ponta do navio, a navegar no Rio Cacine, tendo a seu lado o comandante Rita, com quem ele faria a primeira metade da sua comissão na Guiné. "Um grande homem, um grande comandante" (PL)… 

O 1º Ten  José Manuel Baptista Coelho Rita foi comandante do NRP [, Navio da República Portugesa,] Orion, de 7/12/1970 a 15/10/1972, tendo substituído o 1º Ten Alberto Augusto Faria dos Santos (que comandou a Orion, de 6/12/1968 a 7/12/1970) (Fonte: Wikipédia > NRP Oríon).

Mas nem só o Pardete Ferreira matava a fome e a sede no bar da Orion... Também o nosso amigo e camarada Paulo Santiago já aqui contou, em 2006, como se tornou habitué da Orion sempre que ía a Bissau (***)...

Foto: © Pedro Lauret (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

2. Fado da Orion


Letra: José Pardete Ferreira 

["1ª parte e Refrão escritos em Bissau em Novembro de 1970. 2ª parte escrita em Setúbal na madrugada de 15 de Dezembro de 1997. Para ser cantado com a Música do Fado do Cacilheiro, do Maestro Carlos Dias"].

Adapt do Fado do Cacilheiro

[Letra : Paulo Fonseca (****); música: Carlos Dias]

[Há várias criações deste fado - do José Viana ao Antónioo Mourão, do Tristão da Silva ao Nuno da Câmara Pereira, ... Talvez a mais conhecida seja a do Zé Viana, justamente imortalizado como o Zé Cacilheiro. Veja-se aqui um vídeo, de 1966, que passou na RTP Memória, e está disponível aqui, no YouTube]



Tristes noites de Bissau,
Neste clima tão mau,
Passá-las não há maneira,
Sem comer arroz, galinha.
Ou então ir à Marinha
Aos jantares da quinta-feira!


Às vezes um Comandante,
Bom amigo, bem falante,
Obriga uma pessoa,
Com uma grande bebedeira,
Pensar que o Ilhéu do Rei
Fica em frente de Lisboa.


Refrão

Ser marinheiro
De LFG no estaleiro,
Sem motores nem cantineiro,
Junto ao cais sem navegar,
E esperando,
A comissão foi passando,
Ai!, os amigos engrossando,
Com o Geba a embalar.


Quando vinha dessa Terra
E voltava à minha Serra,
Nem eu queria acreditar !
Virei-me ainda p'ra ver,
O meu Adeus lhe lançar
E também lhe agradecer:


Com meu suor derramado
No teu chão, tão maltratado,
Deixo-te votos amigos
E, também, as minhas preces,
'squecendo rancores antigos,
Por ti, Guiné, que mereces.


Refrão...
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Notas do editor:
 
(*) Vd. poste de 30 de Outubvro de 2011 > Guiné 63/74 - P8966: Blogpoesia (163): Fado da 'Orion' (José Pardete Ferreira)

(**) Último poste da série > 1 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9122: O nosso fad...ário (3): Fado Sangue, suor e lágrimas (Manuel Moreira, CART 1746, Ponta do Inglês e Xime, 1968/69)

(****) Letra de Paulo Fonseca, recuperada aqui (com a devida vénia):

Fado do Cacilheiro

Quando eu era rapazote,
Levei comigo no bote
Uma varina atrevida,
Manobrei e gostei dela
E lá me atraquei a ela
P’ró resto da minha vida.

Às vezes a uma pessoa
A idade não perdoa,
Faz bater o coração
Mas tenho grande vaidade
Em viver a mocidade
Dentro desta geração.


Refrão

Sou marinheiro
Deste velho cacilheiro,
Dedicado companheiro.Pequeno berço do povo,
E, navegando,
A idade vai chegando,
Ai…
O cabelo branqueando,
Mas o Tejo é sempre novo.

Todos moram numa rua
Mas eu cá não os invejo,
O meu bairro é sobre as águas
Que cantam as suas mágoas
E a minha rua é o Tejo.

Certa noite de luar
Vinha eu a navegar
E, de pé junto da proa,
Eu vi ou então sonhei
Que os braços do Cristo-Rei
Estavam a abraçar Lisboa.

Refrão

A que chamam sempre sua,