quarta-feira, 11 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9731: Blogoterapia (208): Ajudando-me a fazer o luto pela perda de uma pessoa tão especial como o meu pai (Luís Graça)

É bom sabermos que temos amigos e camaradas como vocês


Foram palavras de grande conforto, as vossas, deixadas nos comentários do blogue* ou na caixa de correio da Tabanca Grande, e lidas - a maior parte delas - um dia depois de ter acompanhado o corpo do meu pai até à "terra da verdade"...


Muitos de vós já passaram por esta provação, e eu fico sensibilizado com a admiração e o amor com que falam do vosso pai, e orgulhoso do enlevo com que honram, publicamente,  a sua memória neste espaço que atravessa várias gerações. São demasiados para eu os poder citar aqui,  um a um…


Alguns dos camaradas do blogue, da área da Grande Lisboa,  estiveram comigo, na Lourinhã, nas cerimónias fúnebres, e eu quero aqui registar os seus nomes, correndo embora o risco de esquecer de algum: o José Colaço, o Humberto Reis, o Eduardo Jorge Ferreira, o Luís Moreira, o António Marques e a Gina... Outros telefonaram-me ou mandaram-me mensagens por telemóvel (perdoem-me se me esqueço, mais uma vez, de alguém): o Carlos Vinhal, o Torcato Mendonça, o João Paulo Diniz, o Joaquim Mexia Alves, o Miguel Pessoa, o Joaquim Peixoto, o Santos Oliveira, o António Duarte,  o Zé Saúde, o Hélder Sousa, o Salvador [Nogueira]... A todos, a minha gratidão.


Também outros ex-camaradas de armas da Lourinhã me trouxeram o seu abraço de amizade e conforto moral: o Jaime Bonifácio Marques da Silva (ex-Alf Mil Pára-quedista em Angola, c. 1970), o Luís Maçariço (ex-prisioneiro na India em 1961/62), o Rogério Gomes (ex-Alf Mil, em Angola, c. 1970)… só para citar três, que são meus amigos e  conterrâneos... Sem esquecer o Laurentino Marteleira e  a Glória, o Arcílio Marteleira (também ex-camarada da Guiné) e a Elisabete, o Soares (outro camarada da Guiné) e a Mila, todos da minha tertúlia lourinhanense, tal como o Jaime e o Rogério. E muitos outros amigos que me acompanharam neste momento, a começar pela minha família, incluindo os meus cunhados do norte, dois dos quais também ex-combatentes, e que vieram expressamente do Porto (Um xicoração muito especial para o Gusto e a Nitas, o Zé, a Rosa, o António, o Joaquim e a Olinda).


É bom sabermos que temos amigos e camaradas como vocês, tão longe e tão perto, ajudando-me a fazer o luto pela perda de uma pessoa tão especial, para mim, como foi o meu pai.


Estava com a família,  de férias pascais, em Candoz, Marco de Canaveses, na véspera do 34º aniversário da minha filha Joana, quando recebi, na passada quinta feira, más notícias sobre a evolução do estado de saúde o meu pai. De imediato rumámos ao sul, para passarmos com ele aqueles que seriam os últimos três dias da sua existência. 


Luís Henriques, “meu pai, meu velho, meu camarada”, morreu em paz e com dignidade e todos nós pudemos despedir-nos dele com a tranquilidade possível. Teve uma linda festa de despedida, na sua terra onde era muito querido e popular, com uma cerimónia fúnebre realizada na igreja gótica do séc xiv onde eu fui batizado, com o João Graça a tocar Bach, com amigos a cantarem-lhe uma peça coral  italiana muito bonita, com os filhos, netos e bisnetos a fazerem-lhe a última oração... Aqui vai, a que eu li, em nome dos filhos, nora e genros, no final da missa de corpo presente... E, já agora, também a que foi lida em nome dos netos e bisnetos.


Um grande xicoração para todos/as.
LG




1. Oração dos filhos, nora e genros


Nosso querido Pai,
Partes para a tua última grande viagem.
A mais dolorosa, para todos nós, teus filhos,
Porque é a viagem sem retorno.
Já temos saudades tuas,
Já temos tantas saudades tuas,
Mas sabemos que partes
Em paz contigo, com o mundo, e com Deus.
A tua vida foi simples, a de um homem bom,
Que amou a sua pátria, a sua terra,
A sua Maria, os seus filhos, demais família e amigos.
A tua vida e a tua morte foram também uma lição
Para todos nós,
E para todos os amigos, vizinhos e conterrâneos
Que hoje te acompanham
Neste cais da última partida:
Uma lição de humanidade, de alegria, de partilha.
Nunca esqueceremos o teu sorriso bondoso,
Nem o teu exemplo de generosidade.
Foste uma homem de palavra e de palavras,
Que nunca usaste como arma de arremesso
Contra ninguém.
Viveste pobre, morreste pobre,
A maior riqueza que nos deixas
São os valores que deram sentido à tua vida
Na terra,
Na tua terra, na tua família.
Bem como as gratas memórias
Que registámos da tua passagem terrena.
Estamos tristes por que partes,
Sem poderes contar a tua última história,
Sem poderes dizer o teu último verso,
Mas felizes por termos tido o privilégio de te ter como pai.
Para nós, teus filhos, foste e serás sempre
O melhor pai do mundo.
Boa e santa viagem, nosso querido pai!
Até sempre!
Teus filhos Luis, Graciete, Zairinha, Béu;
Tua nora e teus genros, Alice, Calado, Mário e António;
Continua a velar por nós e amar-nos,
Como sempre o fizeste.



Luís Henriques,  em Candoz, 2006


2. Oração dos netos e bisnetos

Nosso querido avô e bisavô:
Os teus netos e bisnetos,
Que são tantos como um equipa de futebol
E seis suplentes,
Tiveram privilégio de conhecer-te em vida,
E de privar contigo
Nos bons e nos maus momentos…
Mais: tiveram a rara felicidade de estarem junto de ti
Na hora, difícil, da tua partida deste mundo.
Não esqueceremos que
A todos nos pegaste ao colo,
Nos ajudaste a dizer as primeiras gracinhas,
A dar os primeiros passinhos.
Avô lindo, avô velhinho:
Obrigado pelas histórias que nos contaste,
Obrigado pelo teu carinho,
Obrigado por tudo.
Os teus netos e bisnetos continuarão a falar de ti
Com a mesma ternura e orgulho
Com que tu falavas deles.
E sabemos que lá no alto
Tu continuarás
A ter orgulho neles!
Por nossa parte,
Não te vamos dececionar!
Continua a velar por nós e a proteger-nos,
Como sempre o fizeste,
A nós,
Aos nossos pais e às nossas mães.
Adeus, avozinho,
Até sempre!

Raquel Calado, em nome dos teus 12 netos e 5 bisnetos
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(*) Vd. poste de 8 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9716: In Memoriam (116): O senhor Luís Henriques (pai do nosso editor Luís Graça), faleceu hoje, dia 8 de Abril de 2012, aos 91 anos, na Lourinhã (Tertúlia)


Vd. último poste da série de 9 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9722: Blogoterapia (207): O meu dia de aniversário, vivido na Sexta-feira Santa, foi especial (Joaquim Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P9730: Parabéns a você (404): Jorge Félix, ex-Alf Mil Pilav (Alouette III); Jorge Picado, ex-Cap Mil (BCAÇ 2885 e CAOP 1) e Manuel Marinho, ex-1.º Cabo (1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512)

Para acederem aos postes dos camaradas Jorge Félix, Jorge Picado e Manuel Marinho, clicar nos seus nomes.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9717: Parabéns a você (403): Jorge Canhão, ex-Fur Mil da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72 e Miguel Pessoa, Coronel Pilav (R)

terça-feira, 10 de abril de 2012

Guiné 63/74 – P9729: Convívios (412): XXI Encontro do Pessoal da CCAÇ 2381, dia 28 de Abril de 2012 em Torres Vedras (José Teixeira)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 10 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 – P9727: Convívios (332): Encontro do Pessoal da CCAÇ 2679 e Pel Caç Nat 65, dia 28 de Abril em Cascais (José Manuel Matos Dinis)

Guiné 63/74 - P9728: VII Encontro Nacional da Tabanca Grande - Monte Real 2012 (8): No próximo dia 14 terminam as inscrições , que já vão em 150 neste momento (A Organização)

VII ENCONTRO NACIONAL DA TABANCA GRANDE

MONTE REAL - PALACE HOTEL


DIA 21 DE ABRIL


Caros camaradas e amigos tertulianos,
Hoje é terça-feira, dia 10, estamos portanto a 4 dias da data limite (14 de abril) para aceitarmos inscrições para participar no VII Encontro da Tertúlia.


Lembramos da necessidade de os camaradas interessados em participarem procederem desde já à sua inscrição. Ao fazê-lo, facilitam a vida ao camarada Mexia Alves e ao pessoal do Palace Hotel.

Sobre a ementa do almoço e lanche,  e outros  detalhes: vd. poste P9534

A boa notícia que temos a dar é que estamos a dois passos de igualar o número recorde de 152 participantes do V Encontro da tertúlia de 2010, já que neste momento temos 150 inscrições. Está mais que demonstrada a vitalidade do nosso Blogue.


 Distribuição dos 150 inscritos por zonas:
Grande Lisboa - 47
Grande Porto - 24
Norte - 11
Centro - 42
Sul - 24
Resto do Mundo -2

Vamos estar estes dias a aguardar as últimas inscrições para brevemente apresentarmos os números finais.


Todos em força na Operação Monte Real 2012. 



Vamos repetir estes momentos: 


V Encontro da Tertúlia - Monte Real 2010
Foto de Manuel Carmelita

VI Encontro da Tertúlia - Monte Real 2011
Foto de Rui Silva


LISTA DOS 150 MAGNÍFICOS, INSCRITOS PARA A OPERAÇÃO  MONTE REAL 2012, POR REGIÕES




Grande Lisboa (n=47)


Acácio Dias Correia e Maria Antónia - Algés / Oeiras
António Duarte - Lisboa
António Estácio - Algueirão / Sintra
António Fernando Marques e Gina - Cascais
António Gabriel Vaz - Lisboa
António Graça de Abreu - S. Pedro do Estoril / Cascais
António José P. da Costa e Isabel - Mem Martins / Sintra
António Martins de Matos - Lisboa
António Santos e Graziela - Caneças / Odivelas
Belarmino Sardinha - Odivelas
Carlos Pinto e Maria Rosa - Reboleira / Amadora
Carlos Pires e Joaquina - Amadora
Carlos Rios e Fernanda - Carnaxide / Oeiras
 Carlos Silva e Germana - Massamá / Sintra
Jorge Cabral - Lisboa
Jorge Canhão e Lurdes - Oeiras
Jorge Pinto - Agualva-Cacém / Sintra
Jorge Rosales - Cascais
José Martins e Manuela - Odivelas
Felismina Costa, João e Cláudia - Agualva / Sintra
Hugo Guerra e Ema - Lisboa
João Paulo Diniz (PIFAS) - Lisboa
José Francisco Robalo Borrego - Linda-a-Velha / Oeiras
Luís Graça e Maria Alice - Alfragide / Amadora
Luís R. Moreira - Cacém / Sintra
Manuel Joaquim e José Manuel Cunté - Agualva - Sintra
Manuel Lema Santos e Maria João - Massamá / Sintra
Manuel Resende e Isaura - Cascais
Miguel e Giselda Pessoa - Lisboa


 Grande Porto (n=26)


Alcídio Marinho e Rosa - Porto
António Osório e Ana - Vila Nova de Gaia
António Pinheiro - Porto
António Sampaio e Clara - Leça da Palmeira / Matosinhos
Carlos Vinhal e Dina - Leça da Palmeira / Matosinhos
David Guimarães e Lígia - Espinho
Eduardo Magalhães Ribeiro - Porto
Eduardo Campos - Maia
Fernandino Leite - Maia
Joaquim Gomes Soares e Maria Laura - Porto
José Casimiro Carvalho - Maia
José Teixeira - Leça do Balio / Matosinhos
João Santos - Porto
Pacheco - Rio Tinto / Gondomar
Ribeiro Agostinho e Elisabete - Leça da Palmeira / Matosinhos
Manuel Carmelita e Joaquina - Vila do Conde
Silvério Lobo e Linda - Matosinhos


Centro (n=43)


Adriano Neto - Aveiro
Agostinho Gaspar - Leiria
António Manuel S. Rodrigues e Rosa Maria - Oliveira do Bairro
 António Silva e Albina - Estarreja
António Sousa Bonito - Carapinheira / Montemor-O-Velho
Artur Soares - Figueira da Foz
C. Martins - Penamacor
Carlos Pinheiro e Maria Manuela - Torres Novas
Carlos Santos - Viseu
Delfim Rodrigues - Coimbra
Diamantino Ribeiro André e Maria Rosa - Proença-a-Nova
Eduardo Ferreira - A-dos-Cunhados / Torres Vedras
Ernestino Caniço - Tomar
Francisco António Ribeiro - Torres Novas
 Idálio Reis - Cantanhede
Jaime Brandão - Monte Real
João Pinho dos Santos - Aveiro
Joaquim Mexia Alves - Monte Real / Leiria
Jorge Picado - Ílhavo
José Eduardo R. Oliveira (JERO) - Alcobaça
José Fernando Almeida e Suzel - Óbidos
José Luís Malaquias - Ílhavo
Juvenal Amado - Fátima / Ourém
Luís Mourato Oliveira - Lourinhã
Manuel Augusto Reis - Aveiro
Manuel Domingos Santos e Maria Isabel - Leiria
Manuel Lima Santos e Maria de Fátima - Viseu
Manuel Vieira Moreira - Aguada de Cima / Águeda


Paulo Santiago - Aguada de Cima - Águeda
Victor Tavares - Recardães - Águeda
Vítor Caseiro e Maria Celeste - Leiria
Rui Alexandrino - Viseu

 Norte (n=9)

Alvaro Vasconcelos e Maria de Lourdes - Baião
Fernando Sucio - Vila Real
Joaquim Carlos Peixoto e Margarida - Penafiel
José Barros Rocha - Penafiel
José Manuel Cancela e Carminda - Penafiel
José Manuel Lopes - Régua


Sul (n=23)

Benjamim Durães com: Bruna, Fábio, Marta, Rafael e Tiago - Palmela
Diamantino Varrasquinho e Maria José - Ervidel / Aljustrel
Henrique Matos - Olhão
Hélder V. Sousa - Setúbal
Jorge Araújo e Maria João - Almada
Joaquim Sabido e Albertina - Évora
João Caramba e Rosa - Beja
João Mata - Quinta do Anjo / Palmela
João Sesifredo e Celestina - Redondo
Maurício Esparteiro e Dulcínia - Almada
 Raul Albino e Rolina - Vila Nogueira de Azeitão / Setúbal

Resto do Mundo (n=2)


José Marcelino Gonçalves e Tuula Kahkonen - Canadá
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 Legenda:

 Grande Lisboa= Amadora, Cascais, Lisboa, Loures, Mafra, Odivelas, Oeiras, Sintra, Vila Franca de Xira

Grande Porto= Espinho, Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto, Póvoa de Varzim, Santo Tirso, Trofa, Valongo, Vila do Conde, Vila Nova de Gaia

Norte (a norte do Rio Douro, exlcuindo GP)

Sul (a sul do Rio Tejo, excluindo GL)

Centro (entre os Rios Douro e Tejo, excluindo GP e GL)

Regiões autónomas da Madeira e dos Açores

Resto do Mundo
Rui Silva e Regina Teresa e Regina Maria - Sta. Maria da Feira
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Vd. último poste da série de 3 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9696: VII Encontro Nacional da Tabanca Grande - Monte Real 2012 (7): Ultrapassamos já o número de inscritos do Encontro do ano passado (A Organização)

Guiné 63/74 – P9727: Convívios (411): Encontro do Pessoal da CCAÇ 2679 e Pel Caç Nat 65, dia 28 de Abril em Cascais (José Manuel Matos Dinis)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71:


A CCaç 2679 e o Pel Caç Nat 65 vão encontrar-se novamente no próximo dia 28 de Abril, em Cascais.

Desta feita, o encontro pode desde já contar com o grande impulso que o Zé Tinto Martins tem dado, congeminando e elaborando diversas surpresas, e dedicando muita atenção aos detalhes. Um dos detalhes, nada dispiciendo, é a minha colaboração próxima, que aquele não me dá baldas. Outro detalhe, será a preciosa colaboração da sua filha Bárbara, que revela tanto entusiasmo e interesse quanto o pai.

O encontro terá como pano de fundo o belíssimo cenário da baía de Cascais, onde os motivos marítimos e urbanos se associam num postal policromático de excepção. Se o tempo ajudar, vai ser uma festa de sucesso garantido. A ementa será muito simples, pois a umas triviais entradas, sopa, e seguir-se-á um rodízio de peixe, até fartar, pois a dose termina, quando a vontade não tiver correspondência estomacal. Depois, haverá um sortido de sobremesas. Bebidas à parte, vamos esportular cerca de 15 aéreos. A sala envidraçada, e confortável, com vistas amplas sobre a baía, integra-se numa infraestrutura com bons apoios.

Depois do almoço, para digerir, vamos dar um passeio até ao Museu Paula Rêgo, onde, a par da singular arquitectura de Souto Moura, poderemos admirar obras daquela senhora, e de um artista convidado. Convém não esquecer que o Zé Tinto lida com paletes e pincéis com a facilidade dos predestinados. Vai surpreender-nos, tal como no encontro do ano passado me surpreendeu.

Havendo tempo, daremos um passeio pelo parque, visitaremos o magnífico Museu Condes de Castro Guimarães, passaremos pela Marina, pela reestruturada cidadela, e vamos acabar em casa do grande timoneiro Tinto Martins para uma refeição ligeira, e muita conversa. Durante aquele percurso não faltarão ocasiões para beber uns copitos a brindar a camaradagem, nem para tirar fotografias, onde as profundidades de campo valorizarão os aspectos de cada um. Sim, porque passados 40 anos continuamos muito bonitos.

A maioria vai pernoitar em casa de familiares, mas também há um hotel que, por 50 aéreos, proporciona quartos confortáveis, com pequeno-almoço e piscina. No domingo, poderá haver um programa mais restrito e sujeito a improvisação, dedicado aos que não tendo aqui familiares, queiram levar mais memórias da escapadela anunciada.

Abraços fraternos
José Manuel Matos Dinis 
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Vd. último poste da série de 10 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 – P9724: Convívios (331): Encontro do pessoal da CCAÇ 2464, dia 28 de Abril de 2012 em Aveiro (António Nobre)

Guiné 63/74 - P9726: O Cancioneiro de Gandembel (5): Do Hino de Ganbembel ao poema épico Os Gandembéis (Parte V) (Idálio Reis)












Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (8 de abril de 1968 a 28 de janeiro de 1969) > Aspetos da construção e defesa (destaque para o morteiro 81 e o obus 10.5)  do aquartelamento, que será abandonado e destruído em 28 de janeiro de 1969, por ordem do Com-Chefe, gen António Spínola. Fotos do arquivo de Idálio Reis, editadas por L.G.

Fotos: © Idálio Reis (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


  
1. Continuação da publicação de "Os Gandembéis", poema  de autoria coletiva (mas com forte contributo do poeta João Barge, 1944-2010), escrito em 1969, que retrata a epopeia da CCAÇ 2317 em Gandembel e Ponte Balana (*), recolhido e reproduzido pelo nosso  camarada e amigo Idálio Reis, engenheiro agrónomo reformado, ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 2317, no seu livro A CCAÇ 2317 na guerra da Guiné: Balana / Ponte Balana, edição de autor, 2012 (il, 250 pp.).

O lançamento deste livro, que é uma peça fundamental para a historiografia da guerra colonial na Guiné, seraá feito no Palace Hotel, no próximo dia 21, no âmbito do VII Encontro Nacional da Tabanca Grande.  




Os Gandembéis

Canto II

I
Em Gandembel, tanta tormenta e tanto dano,
Tantas as vezes a morte apercebida;
No arame farpado, tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade aborrecida;
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida?
Que não se arme e se indigne o céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno.
II
Dali para Changue-Iaia se parte (#)
Onde as tropas estavam temerosas
Para que à gente mande que se aparte
Da mata inimiga e terras suspeitosas
Porque mui pouco vale esforço e arte
Contra infernais vontades enganosas;
Porque na estrada rebentam fornilhos
E há mais noivas por casar e mães sem filhos.
III
Agora nestas partes se nomeia
Simões furriel, o africano Fome,
Coelho transmissões, que se arreia
Das vitórias da Pátria sem nome.
Aqui, enquanto as minas não refreia
O soldado Pacheco fica informe.
Um braço do forte Quicão aparece
E o coração de todos, pela dor, escurece.
IV
Assim, nesta incógnita espessura
Para sempre deixámos os companheiros
Que, em tal caminho e em tanta desventura
Sempre connosco foram aventureiros.
Quão fácil é ao corpo a sepultura!
Quaisquer negras terras, quaisquer outeiros
Estranhos, assim mesmo como aos nossos,
Receberão de todo o Ilustre os ossos.
V
Mas o magriço, que já então lhe convinha
Tornar a Bissau, acostumado,
Que tempo concertado e ventos tinha,
Para ir buscar o descanso desejado.
Recebendo o piloto que lhe vinha
Foi dele alegremente agasalhado;
Rapidamente no helicóptero entrou
E, sadicamente, c´o a mão ligada acenou.
VI
Jorge de Moura, o forte Capitão
Que a tamanhas empresas se oferece,
De soberbo e altivo coração,
A quem a Cunha sempre favorece,
Para aqui se deter não vê razão,
Que sequiosa a terra lhe parece
Por diante passar determinava
E assim lhe sucedeu como cuidava.
VII
Tamanho o ódio foi e a má vontade,
Que ao soldado súbito tomou,
Sabendo ser sequaces da Verdade
Que o Filho de David nos ensinou.
Pois o Maia, com gana e virilidade (##)
Da companhia as rédeas tomou.
E foi assim, à base de mérito e favores
Que este se encheu de louvores.
VIII
Corrupto já e danado o mantimento
Danoso e mau ao fraco corpo humano;
E, além disso, nenhum contentamento,
Que sequer da esperança fosse engano.
Cremos nós, se este nosso ajuntamento
De soldados não fora lusitano,
Que durara ele tanto obediente?
Porventura, o que será desta gente?
IX
Imagine-se agora quão cuidados,
Andaríamos todos, quão perdidos,
De fomes, de tormentas quebrantados.
Por climas e por terras não sabidos!
E do esperar comprido tão cansados
Quanto a desesperar já compelidos,
Por céus não naturais, de qualidade
Inimiga da nossa Humanidade.
X
Enquanto os deuses do QG famoso
Onde o governo está da humana gente,
Se ajuntam em jantar lauto e guloso
Formando um concílio indiferente;
Bebendo vinho fino e espumoso
Vão para a piscina conjuntamente
Convocados da parte do Melhor
Onde domina o Chefe do Estado Maior.
XI
E enquanto isto se passa na formosa
Ilha do Bissau omnipotente,
Defendia a terra a gente belicosa
Lá da banda do Guilege muito quente,
Entre a fronteira da Guiné e a famosa
Base de Salancaur, o sol ardente
Queimava então os homens, que Tifeu
C´o temor grande em heróis converteu.
XII
E o velho careca, de aspecto venerando,
Chefe da Secretaria, cheia de gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes o lápis, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que em nós em volta ouvimos claramente,
C´um saber só de guerras feito,
Tais palavras tirou do esperto peito:
XIII
Ó gloria de mandar, ó vã cobiça,
Desta vaidade, a quem chamamos fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C´uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades nos soldados experimentas!
XIV
A que novos desastres determinas
De levar esta Companhia e esta gente?
Que perigos, que mortes lhes destinas,
Debaixo de algum louvor proeminente?
Que promessas de paz e de minas
Levantadas, que lhe farás tão facilmente?
Que vida lhes prometerás? Que histórias?
Que triunfos? Que palmas? Que vitórias?
XV
Deixas criar às portas o inimigo,
Por ires buscar outro de tão longe,
Por quem se despovoe o quartel amigo,
Se enfraqueça e se vá deitando ao longe!
Buscas o incerto e incógnito perigo
Por que a fama te exalte e te lisonge,
Chamando-te senhor inteiro
De Gandembel, do Balana e do Carreiro.
XVI
E tu, Comandante, de grande fortaleza,
Da determinação que tens tomada
Não olhes por detrás, pois é fraqueza
Desistir-se da cousa começada.
E mais, pois excedes em ligeireza
Ao vento leve e à bala bem mandada,
Não esqueças de defender o quartel
                                             A que nós outros chamamos Gandembel.


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Notas de L.G.:


(#) Referência ao trágico dia 4 de agosto em que a CCAÇ 2317 perde, em combate, 4 dos seus elementos, na sequência de uma coluna logística, proveniente de Aldeia Formos, perto da ponte sobre o Rio Changue Iaia. Foram eles o Fur Mil At Inf  Abel  Gomes Simões (natural de Montemor-o-Novo), o Sold At Inf António Pereira Moreira  e  o Sold At Inf Eduardo Costa Pacheco,  ambos de Paços de Ferreira, e ainda o Sol Trms Inf Manuel Roxo Coelho, natural de Castelo Branco. Morreu ainda um soldado do Pel Caç Nat. Há ainda dois feridos graves, que serão evacuados para Lisboa.

(##) Alf Mil At Inf Mário Moreira Maia, o segundo comandante da companhia.






Guiné > Região de Tombali > Carta de Guileje (1956) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Changue Iaia e de Gandembel, ma estrada Aldeia Formosa - Gandembel- Guileje - Gadamael - Cacine.

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Guiné 63/74 - P9725: Nós da memória (Torcato Mendonça) (20): Leio

1. Segundo texto, de três, que o nosso camarada Torcato Mendonça (ex-Alf Mil da CART 2339 Mansambo, 1968/69) enviou em mensagem do dia 26 de Março de 2012 para integrar os seus "Nós da memória":


NÓS DA MEMÓRIA - 20
(…desatemos, aos poucos, alguns…)

Leio

Leio, nesta segunda-feira de Carnaval, a recensão do livro “Os Últimos Guerreiros do Império”, feita pelo MBS. Não li o livro antes. Eram tempos de “apagar a memória”, de não falar sobre o que vi e vivi. Podia ter falado mais mas, ainda hoje, prefiro ter contenção nas palavras. Li e falei pouco. Este e outros livros foram-se. Agora leio esta recensão. Após a leitura, paro no tempo e altero a saída. Volto a ler algumas declarações e sinto uma disposição diferente.

E agora?

Tens que resolver o que fazer. Ou esperas a segunda parte da recensão, pois este assunto está a mexer demasiado contigo, ou comentas?

Faço um comentário, em nota breve. Depois se verá. Sou português deixo para depois… Relevo agora, depois de ler a segunda parte, o que mais comigo mexeu então e agora. O Coronel Hélio Felgas, diz:

Neste final de 1968 a situação militar na Guiné chegou a um ponto tal que só muito dificilmente, e com muito optimismo, se poderá antever uma melhoria significativa

Realize-se uma operação em larga escala e veja-se o resultado: uns mortos e uns feridos, umas armas apreendidas, uns acampamentos destruídos e que mais? Mais nada. Se ao inimigo não convier o contacto, basta esconder-se no mato e esperar que as nossas tropas se retirem. Ele lá ficará e reaparecerá quando quiser...

Lembras-te?

Estive no Agrupamento Sul. Creio que estiveste no Agrupamento Norte. (Op. Lança Afiada) Era uma operação de “dois em um”. Tive oportunidade de falar com o Coronel Hélio Felgas, quando fui evacuado para a “Base de Apoio” em Mansambo. Ainda hoje me irrita ter sido evacuado. Ainda hoje me irrita ter caído naquela emboscada, ao alvorecer, e termos sofrido quatro feridos a serem evacuados com urgência. Ficamos sempre amarrotados por nós mas, principalmente, por eles. Ao fim do dia fui eu, pouco me lembro. Recordo o héli ter aterrado em Mansambo e ser socorrido pelo 1.º Sargento e pelo médico. Deixemos isso.

Naqueles dois dias falamos um pouco, o Coronel e eu. Conheci-o melhor então. Claro que ele não falou sobre o que acima transcrevi. Falamos da Operação…

Depois voltei à Lança Afiada e ele também. Não sei se no mesmo dia se no seguinte. Era o Fiofioli e a sua mata cerrada. O santuário ou o tigre de papel, mas foi duro muito duro e veio a acontecer o que ele previu. O que ele aqui diz e eu atrevo-me a transcrever um pouco, aconteceu.

Transcrevi, com o respeito pelo autor do livro e da tua recensão. Só para dizer que tinha razão o Coronel. Ele sabia. O General também o sabia.

O tempo foi degradando tudo e continuo com dúvidas, muitas. Porque não foi feito algo diferente?
São dúvidas que, ainda hoje como outrora, me atormentavam e atormentam. Tocas nisso e eu reajo.

Assisto a certas discussões sobre a guerra na Guiné e não entendo. Talvez entenda e não valha a pena sobre isso falar. Irrita!

Ainda as declarações de João Seco M. Mané:

O Fuzileiro Comando João Seco Mamadu Mané, foi Segundo Comandante de um grupo de 25 homens na 3.ª Companhia de Comandos, queixa-se das barbaridades dos fuzilamentos dos Comandos:

No mês de março de 1975 começaram as prisões. Foi um mês negro para os Comandos. Eu fui preso. E fui torturado. Como muitos outros camaradas. Obrigaram-nos a carregar pneus gigantescos, pneus de Berliet, com jantes e tudo. Era uma das torturas, mas havia outras: como pendurar uma pessoa pelos pés, e dar-lhe chicotadas. Dentro da prisão obrigavam as pessoas a andar despidas, só com as cuecas… Houve camaradas que estiveram presos, 6, 7 e 8 anos. Alguns já tinham sido fuzilados e os familiares continuavam a levar-lhes comida e cigarros. Às vezes, os guardas pediam cigarros, as famílias estranhavam, diziam que eles não fumavam e eles respondiam que tinham passado a fumar, já estavam mortos...

Revolta, não? É outro tema que me desagrada profundamente.

Foi bom não ter estado lá em 74. Aceitava o que o Poder Politico e a Hierarquia determinavam e a mais não era obrigado. Os meus camaradas portugueses eram os militares, nascidos aqui ou lá, os que comigo combateram. Os outros eram o inimigo. Podiam ser patriotas Guineenses, Portugueses não! A escolha foi deles e mais não digo. Não.

Acrescento só que respeito o Povo das Tabancas, outrora ou hoje, estando connosco ou os que estavam em áreas com forte implantação do PAIGC. As suas diferenças étnicas, culturais, o seu completo distanciamento da maneira de ser ou estar dos zés portugas mas a afabilidade, a sua compreensão pela situação e não só. Ia longe.

Agora espero a segunda parte da recensão. É aborrecido ler aos soluços …
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 6 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9710: Nós da memória (Torcato Mendonça) (19): Pare, Escute e Olhe

Guiné 63/74 – P9724: Convívios (410): Encontro do pessoal da CCAÇ 2464, dia 28 de Abril de 2012 em Aveiro (António Nobre)

1. Mensagem do nosso camarada António Nobre (ex-Fur Mil da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861, Buba, Nhala e Binar, 1969/70):

Meu caro Carlos
Para teu conhecimento e publicitares no nosso Blogue se assim o entenderes, junto envio programa de mais um Almoço da “malta” da minha Companhia, que, desta vez, ocorrerá em Aveiro no próximo dia 28 de Abril.

Como atractivo e para fugirmos um pouco à rotina, este ano o Almoço será completado com um passeio na Ria de Aveiro através de Moliceiro.
Quem porventura estiver interessado, inscreva-se junto do nosso camarada Pereira da Costa, pois forçosamente serão bem vindos.

Um abraço para todos vós.
Saudações Camarigas do
António Nobre
Ex-Fur Mil da CCAÇ 2464


ALMOÇO/CONVÍVIO DO PESSOAL DA CCAÇ 2464 

DIA 28 DE ABRIL DE 2012 EM AVEIRO


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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 – P9720: Convívios (330): Encontro/Almoço do pessoal da CCAÇ 412, dia 12 de Maio de 2012 na Mealhada (Alcídio Marinho)

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9723: História da CCAÇ 2679 (48): Entre as NT não havia apenas gente movida pelo espírito cristão (José Manuel Matos Dinis)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 2 de Abril de 2012:

Viva Carlos,
A propósito de um pedido de entrevista sobre memórias que envolvessem militares gay's durante a guerra de África, aqui partilho um texto que reflecte um triste acontecimento ocorrido na minha Companhia, e pode reflectir a podridão humana.

Abraços fraternos
JD


HISTÓRIA DA CCAÇ 2679 (48)

Entre as NT não havia apenas gente movida pelo espírito cristão

Os portugueses partiram à descoberta movidos pela expansão da Fé, e pela aventura de dar novos mundos ao mundo, mostrar-lhes a civilização do homem europeu, partilhá-la e desenvolver sociedades de progresso e justiça social. Era assim, quiçá ainda será, que a história era ministrada no jardim lusitano; não se referiam as estórias horrorosas sobre violações, roubos, raptos e esclavagismo, mortes e destruição. Como é comummente aceite, a história é escrita pelos vencedores; ou ainda, uma mentira é tantas vezes apregoada, até passar a ser considerada como verdadeira. Talvez, por isso, a fantástica odisseia de Fernão Mendes Pinto, Peregrinação, é tão pouco divulgada entre nós. Notoriamente, não convinha ao regime, onde o governo desempenhava o papel de bom entre os bons, e o chefe apresentava-se como imaculado e imprescindível, donde, a verdade era de somenos. E, para melhor acentuar o poder, convinha que o povo não tivesse grande instrução, sentisse que os sacrifícios terrenos teriam compensação eterna, agradecesse a caridade como expressão de equilíbrio generoso, e que, sob um regime corporativo, os pobres não chateassem os ricos, sob pena de criarem fissuras no edifício social.

De facto, a manipulação da memória é obra de todos os tempos conhecidos (constitui uma técnica de sedimentação de grupo), das civilizações que exercem com superioridade o domínio sobre as mais fracas. E os povos, por inércia, por comodidade, por medo, por laxismo, aceitam-na, mesmo, quando essa manipulação é denunciada, como no caso recente da primeira invasão do Iraque, mesmo, quando os efeitos colaterais no Kosovo foram referidos como insuperáveis para que se atingisse a paz. É a alienação, tanto dos que praticam com bestialidade, como dos que não se incomodam com a verdade.

Esta introdução serve para ilustrar, que entre as NT não havia apenas gente movida pelo espírito cristão e, modernamente, que a nossa deslocação para a Guiné correspondeu a um arrebanhar de pessoas, de muitas e diferentes formações de ordem moral e ética; que a instituição militar não tinha capacidade para descortinar em cada um as falências de que seria portador, bastando-lhe o Regulamento de Disciplina Militar para, na sua força coerciva, manter as tropas alinhadas, direita volver, de preferência acéfalas e obedientes.

Em Bajocunda, os militares não tinham praticamente nada, senão obrigações. No entanto, os vinte aninhos imberbes sempre descobriam diferentes actividades, mesmo quando resvalavam para a imoralidade, que permitiam desenvolver a chamada camaradagem, e, unidos na desgraça, arranjar as forças, que as refeições, e o cansaço moral e físico não proporcionavam. Jogava-se a isto ou aquilo, seguiam-se curiosamente as estórias de engates de lavadeiras, discutiam os benfiquistas com os sportinguistas e os portistas, descortinavam-se estórias da juventude, e comungava-se das experiências comuns a todos os jovens.

No entanto, cada um era diferente dos restantes, como acontece em todos os lugares e circunstâncias, se tivermos em conta, não só as diferenças genéticas, como as de educação, nível sócio-económico, instrução, e todas as que contribuem para a formação da personalidade e do carácter. Por isso, também havia os fracos de espírito, os mais facilmente alienáveis, e a consequente diferença de conceitos sobre a vida.

Lembro-me de uma ocasião em que um militar se gabava de ter feito sexo com um homossexual a troco de uma importância e, quando o interrompi, tratando-o de "panasca", para acabar aquela conversa, muito surpreendido, ripostou-me, que paneleiro era o outro, ele apenas teria tido ocasião para ganhar dinheiro. Era difícil transmitir ideias novas a quem tinha tido um desenvolvimento com outras coerências, mas proibi aquele género de conversas.

Mais tarde, já "velhinhos" com alguns meses de "guerra", durante uma paragem no mato surpreendi uma conversa muito animada, em que três ou quatro desafiavam um outro, a contar-lhes o que se tinha passado no abrigo onde dormia, e que metia cenas escabrosas de sexo. E o desafio prosseguia com grande à-vontade, a que o visado, talvez pela minha proximidade, respondia com sorrisos de quem não podia falar, mas sem problemas pessoais.

Interessou-me o assunto, e fiquei a saber que um graduado, individuo de fraquíssima personalidade e comportamento, um dos que pertencia à seita, que sacava do erário e enchia o bornal a coberto das contas da Companhia, tinha fama de colaborar com a PIDE, era medroso e embriegava-se mais do que devia, tinha participado e estimulado. Ao anoitecer, costumava levar bebidas para o abrigo onde pernoitava, e assim semeava um esquema de amizade conivente e colheita de informações, com que exercia a sua influência.

Dessa vez, provavelmente com alguns copos bebidos, e com o bolso a abarrotar de notas, a conversa terá enveredado para o sexo, em termos que nem me interessou esclarecer. Mas soube, que um militar mostrou uma erecção, e o graduado terá oferecido vinte "paus" a quem roçasse o traseiro no membro erecto. Para quem não tinha nada, e sugestionado pelo graduado "amigo", todo-poderoso naquele abrigo, houve quem possa ter dado ares de aceitar o desafio, e ganhou, ou ganharam, aquela importância. Depois, em crescendo, ofereceu cinquenta "pesos", que equivaliam a mais de dez cervejinhas, a quem beijasse. E pagou. Quase a atingir um climax emocional fácil de imaginar, o graduado subiu a oferta para cem escudos a quem se deixasse penetrar um bocadinho. Segundo o relato da época, esta importância foi recusada, porque, obviamente, feria a dignidade masculina da meia-dúzia dos presentes.

Foi tudo a "brincar", claro, muito provavelmente a raciocinarem conforme o álcool, o fumo e a javardice condicionavam, mas não tive conhecimento da motivação do graduado. Do que não restam dúvidas, é que, à bebedeira, à maluqueira, à falta de carácter dos intervenientes, temos que considerar o abuso de poder de um militar em tempo de guerra, que para gaudio pessoal, se permitia explorar daquela maneira abjecta as fragilidades humanas. Depois, as razões do costume foram suficientes para abafar o caso, onde eu só vislumbro um culpado.

JMMD

Nota: Título do texto da responsabilidade do editor
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9502: História da CCAÇ 2679 (47): Um Brigadeiro de visita a Bajocunda (José Manuel Matos Dinis)

Guiné 63/74 - P9722: Blogoterapia (207): O meu dia de aniversário, vivido na Sexta-feira Santa, foi especial (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Mexia Alves (ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73), fundador da Tabanca do Centro, com data de 20 de Março de 2012:
 
OBRIGADO!

Mais uma vez, (parece que faço anos todos os anos!), cumpro o grato “dever” de agradecer todas as mensagens de parabéns que me foram endereçadas pelos mais diferentes meios.

O meu dia de aniversário, vivido na Sexta-feira Santa, foi especial, porque a maior parte dele foi passado nas celebrações muito especificas desse dia, o que me fez viver de modo muito intenso a certeza do amor com que Deus me criou, e me ama todos os dias. Mas estas mensagens dos meus camarigos, foram/são um calor muito especial, um calor que só nós, combatentes entendemos, porque só nós vivemos essa experiência da guerra.

Quando me sentei para escrever estas palavras de gratidão veio ao meu pensamento o seguinte: Anda para aí tanta gente, (psicólogos, antropólogos, historiadores, pensadores, e outros terminados em “logos” e “dores”), que nos vêm pedir colaboração para fazerem estudos disto e daquilo respeitante à guerra, sobretudo sobre temas “negativos”, sobre temas que dão de nós muitas vezes uma imagem negativa ou de “coitadinhos”.

Obviamente que a guerra não é coisa boa e tudo o que lhe diz respeito é sempre de alguma forma, coisa negativa, coisa dramática, coisa triste, porque nunca haverá justificação para os homens andarem a matar outros homens. Mas há, chamemos-lhe assim, um “efeito secundário” que a guerra produz naqueles que a fizeram, (umas vezes mal dela saem, outras vezes passados alguns anos), e que é esta forte amizade e camaradagem, sem dúvida, camarigagem, que a todos une, independentemente do estado social, ou do pensamento politico de cada um.

Curiosamente não é uma área que esses “estudiosos” queiram estudar, talvez porque é algo positivo, é algo de bom, e hoje em dia o que é bom e positivo não “vende”. Ou talvez porque incomode esta camarigagem, porque não a conseguem entender, porque se sentem fora da linguagem própria dos combatentes, linguagem verbal e corporal.

Enfim mistérios de uma sociedade que me parece muito gostaria de se ver livre de nós, combatentes, no antes, no agora e no porvir.

Embora o Carlos Vinhal, meu caríssimo amigo e editor tenha “diminuído” o meu “currículo militar!”, (isto é a brincar, claro), a verdade é que passei pela CART 3492, pelo Pel Caç Nat 52 e pela CCAÇ 15, todas Unidades diferentes umas das outras, mas em todas fiz amigos e deixei amigos, como aliás cada um de nós que teve esta dita de na Guiné, de “andar de Herodes para Pilatos”.

Mas hoje não estou a escrever para isso, mas sim, para agradecer do fundo do meu coração a todos sem excepção e abraçá-los com o meu maior camarigo abraço

 Joaquim Mexia Alves
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9706: Parabéns a você (401): Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Guiné, 1971/73)

Vd. último poste da série de 9 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9718: Blogoterapia (206): Para os amigos que fiz nestes encontros de ex-combatentes e para os que fazem parte de todas as Tabancas (Margarida Peixoto)

Guiné 63/74 - P9721: Um Professor na guerra (Manuel Joaquim) (3): Na escola, com as crianças

1. Foi com esta mensagem de 28 de Março de 2012 que o nosso camarada Manuel Joaquim (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67) nos apresentou o seu trabalho de que hoje publicamos a terceira parte.

Meus caros Luís, Carlos e Eduardo:
Durante a minha vida militar na Guiné, tirando os quatro meses iniciais, sempre dei aulas, melhor dizendo, fiz alfabetização. Guardei sempre uma parte do meu tempo livre para proporcionar a muitos soldados a obtenção da quarta classe e, nos últimos quatro meses, trabalhei a tempo inteiro com soldados e com crianças. A minha "guerra" foi sublimada com este meu trabalho de que me orgulho e ao qual me dediquei. Talvez ingenuamente foi a procura dessa sublimação o que sempre me conduziu na minha atividade como combatente. Precisei desse objetivo mesmo sem saber ou pouco me importar qual o resultado final.

Titulei este trabalho com "Um professor na guerra". Professor e combatente fui de certeza. O título está para o"frouxo". Arranjam-me um melhor para este relato? Vai dividido em quatro partes. Se acharem por bem publicar é possível que prefiram uma outra divisão. Fica ao vosso critério.

Manuel Joaquim


UM PROFESSOR NA GUERRA

III - Na “escola”, com as crianças

Em 9 de janeiro de 1967 escrevia à namorada: “Já quase me faço compreender pelas miuditas a quem dou aulas todos os dias. É um trabalho que me está a agradar imenso. (...) Como sabes fui dispensado do serviço operacional. Aqui está com certeza a causa da minha maior satisfação (...).

Duas semanas depois: “Falar-te do meu dia a dia talvez tenha algum interesse para ti. Como já sabes não ando no mato. Sábados de tarde e Domingos não trabalho. Nos outros dias dou duas horas de aula da parte da manhã às crianças e outras duas da parte da tarde aos soldados. (...) Vistas bem as coisas é caso para andar bem satisfeito e ando, comparando a minha situação actual com a anterior. (...).

Eu (agachado, de boné) com um grupo de alunas. Atrás, o Fur Mil A.G. Correia

O Fur Mil F.G. Passeiro com o seu grupo e eu (de boné) à esquerda da foto

Fotos de F.G. Passeiro

Em 6 de fevereiro/67: (...)Há pouco estava a falar-te de barulho e é precisamente agora, já passa um pouco da meia-noite, que ele está a atingir um grau bastante chato. É a altura das bebedeiras. E o melhor é pôr-me pelo menos a fazer que durmo, já que tenho de me levantar cedo para ir aturar a minha catraiada. (...)

Vinte dias depois: (...)“A minha situação,(...), não é para grandes preocupações. Isto não quer dizer que esteja livre de perigo. No entanto ele é muito menor. Ainda agora chegaram os meus camaradas que passaram oito dias seguidos no mato sem vir ao quartel. Eu fiquei, está claro, em Mansabá, de volta das miuditas. E muito satisfeito, sem dúvida, livre desta prova de resistência e de perigo. (...)

Em seis de março/67 escrevi: “(...) às vezes tenho estados de espírito estranhos, tal como o de começar a ter saudades de alguma coisa que por cá existe. Refiro-me, muito em especial, às minhas pequenitas que todos os dias, eu a caminho da escola, disputam em corrida qual delas chega primeiro para me agarrar e dizer “bom dia!”. Elas ainda mal falam o português mas já me sabem dizer “adeus amor di mim”, “adeus querido di mim” e outras frases similares.(...)

Uma aluna leva-me a casa para me apresentar a mãe e os irmãos

Fotos de Manuel Joaquim

(...) Enfim, são uns tempos muito bem passados, estes em que lido com as crianças. Cá na terra toda a gente me conhece pelo nome. Passo pelas ruas e, às vezes, até chateia a frequência com que me dizem “Manuel Joaquim!” Não dizem, muitas vezes, mais nada e só esperam que me volte e sorria.Há pouco tempo aconteceu conversar com uma rapariga que me olhava um pouco intrigada e sem o à vontade que eu esperava. Soube que era nova cá em Mansabá. Quando lhe disse que era o Manuel Joaquim veio logo um “Ah, bó professor di bajuda” (...)”Manga di bom pessoal, bó mesmo” (...). Alegra-me saber que fiz algo de bom por aqui. E é, sim, com um pouco de saudade que vou deixar esta gente” (...).

Estas transcrições pretendem dar uma ideia do meu estado de espírito perante o trabalho que me obriguei a fazer. Tudo correu bem, o edifício escolar foi construído e os alunos ocuparam a sala de aula já equipada, todos contentes por terem saído da rua e eu ainda mais contente por não ser agora tão fácil distrairem-se face aos ruídos da rua. Aproximava-se a data da inauguração da escola. Não me lembro do dia mas foi num dos últimos dias de março/1967. Sei porque em 02/abril escrevi à namorada e referia-me ao facto de ter sido louvado pelo comandante de batalhão e este louvor ter tido como causa o que sucedeu na inauguração da escola, a que me referirei noutro capítulo. No final da inauguração, o repórter do PFA (o alferes milº M.F.Teixeira, meu amigo e companheiro de estudos), veio bisbilhotar-me que tinha ouvido o general perguntar, referindo-se a mim, “ já louvou aquele furriel?”

Tenho pena de não ter fotografias da escola e da sua inauguração. Não sei se foi erro meu, o mais certo foi ter sido. Temendo que algumas fotos pudessem infringir certos ditames político-militares da época, adiei a revelação dum rolo onde estavam também essas fotos para quando estivesse na “metrópole”. Ainda hoje me dói recordar a transparência do negativo quando quis levantar as fotos. Fotos, zero! Como diz o ditado castelhano “no creo en brujas mas que las hay las hay”.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 5 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9703: Um Professor na guerra (Manuel Joaquim) (2): Uma Escola em Mansabá