quinta-feira, 19 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10172: Fauna & Flora (29): Que raio de cobra é esta? (José Colaço)


1. O nosso camarada José Colaço, (ex-Soldado Trms da CCAÇ 557, CachilBissau e Bafatá, 1963/65), enviou-nos em 10 de Julho a seguinte mensagem. 


Camaradas,

Para os analistas.

Será que é possível dizerem-me que tipo de cobra é esta que se vê morta na foto? 

Foi abatida  na mata das cobras no Cachil, após uma luta para a fazer cair de uma palmeira. 

Um dos processos usados para ela cair, foi atear fogo à palmeira. 


Os nativos diziam que era cobra cuspideira, tinham razão ou não?

Um abraço,
José Colaço
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

Guiné 63/74 - P10171: (Ex)citações (190): Conhecemos pessoas que ignoramos serem camaradas de armas (Carlos Nabeiro)

1. Comentário deixado pelo nosso camarada Carlos Nabeiro* (ex-Fur Mil da CCAÇ 2357/BCAÇ 2842, Moçambique, 1968/70), deixado no Poste 10151:

Se os Camaradas me dão licença, este Post do Camarada Abel Santos contando a sua relação de vizinhança com um dos estimados editores deste fabuloso blog, tem algo de semelhante acontecido comigo.

Sendo também veterano, não do TO da Guiné, sou um visitante diário e com amigos pessoais, entre eles o MR e o Mário Gualter Pinto.

Há vinte anos que sou vizinho de um camarada veterano da Guiné, mora numa rua transversal à minha a cinquenta metros.
Este camarada foi até ao Verão passado o meu padeiro, altura em que se reformou. Nunca tínhamos falado de termos estado na guerra. Devido à sua reforma e a outra situação devastadora na sua vida, morreu-lhe o único filho (filha) enfermeira, num dos hospitais da nossa cidade. Vítima de um melenoma, tinha trinta e oito anos,deixou uma menina com pouco mais de um ano de idade que os avós maternos provavelmente terão de criar.

Como disse anteriormente foi devido aos dois acontecimentos que eu ao fim de vinte anos a ver quase todos os dias o camarada, José Amarante, soube dele ter estado na Guiné.


Não sou mandatado pelo senhor Zé, mas este post deu-me a ideia de por à disposição de quem possa estar interessado no paradeiro de:

José Amarante, natural de Figueira de Cavaleiros (Ferreira do Alentejo).
Pertenceu ao Esquadrão de Reconhecimento FOX 1578 - Nova Lamego - 1966/68.
Foi seu comandante o Capitão Marquilhas.
O camarada José Amarante vive em Setúbal.

Como todos nós temos pelo menos sessenta e mais anos, há quem não esteja muito familiarizado com um computador, daí muitos não saberem da existência deste ou qualquer outro blog.

Desculpem se me alonguei, como encontrei semelhança na matéria atrevi-me a contar-vos.

Obrigado pela atenção.
Carlos Nabeiro
Setúbal

OBS: - Emblema com a devida vénia ao nosso camarada Carlos Coutinho
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 3 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10110: Sondagem: "Um blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude ?" (Parte II) (A. Graça de Abreu / António Rosinha /Armando Pires / Carlos Nabeiro / J. Pardete Ferreira / Manuel Joaquim / Manuel Maia

Vd. último poste da série de 16 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10158: (Ex)citações (189): Chamem-lhe destino, providência, desígnio ou simplesmente sorte... mas a verdade é que eu estive para me sentar duas vezes no lugar do morto (Jorge Narciso, ex-1º cabo espec MMA, Bissalanca, BA 12, 1969/70)

Guiné 63/74 - P10170: Estórias dos Fidalgos de Jol (Augusto S. Santos) (4): De caçador a caçado

1. Mensagem do nosso camarada Augusto Silva Santos (ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73), com data de 15 de Julho de 2012:

Camarada e Amigo Carlos Vinhal,
Na sequência das minhas anteriores estórias e, porque a "veia" das recordações se tem mantido aberta, eis-me novamente a enviar-te mais três relatos de situações que, pelo seu desfecho final, até passaram a ser mais ou menos divertidas.
Como habitualmente, deixo ao teu critério a sua possível publicação com as alterações que entenderes fazer.
Com cada uma delas, junto mais algumas fotos da minha passagem por terras da Guiné.

Com um grande e forte abraço, vão também os meus agradecimentos pela tua preciosa colaboração nestes trabalhos.
Augusto Silva Santos


ESTÓRIAS DOS FIDALGOS DE JOL (4)

DE CAÇADOR A CAÇADO

Estando a época das chuvas em plena actividade e, consequentemente os reabastecimentos por via terrestre à Companhia demoradas por tempo indeterminado dadas as dificuldades de acesso a Jolmete, nalgumas ocasiões começava a escassear a comida dita normal, pelo que o recurso à mais variada alimentação de ocasião era absolutamente comum, embora repetitiva e nem sempre do nosso agrado.

Assim, passados alguns dias nesta rotina alimentar, o pessoal começava a ficar farto das rações de combate e de outro tipo de alimentação à base de conversas, sempre com o arroz presente, pelo que era igualmente normal o recurso aos mais variados estratagemas para se arranjar algo fora daquele esquema.

Uns recorriam ir à tabanca na tentativa de arranjar um leitão ou um frango (nem sempre da forma mais correcta), ou mesmo comprar alguns peixes apanhados pela população nos braços do rio Cacheu.
Outros tentavam caçar algo, se bem que da caça grossa estivéssemos dependentes de quem sabia onde efectivamente a podia fazer, nomeadamente de noite, como era o caso do Comandante da Milícia, de seu nome Dandy. Ainda me lembro de ter comido hipopótamo, gazela, e búfalo.

Da outra bicharada menor encarregávamo-nos nós de tentar caçar, quase sempre à volta do quartel. Lembro-me de numa ocasião me terem dado a comer macaco que alguém caçou numa armadilha, julgando eu que era cabra do mato. Na altura foi um manjar. Este era o meu caso que, beneficiando do empréstimo de uma espingarda de pressão de ar de 5,5mm, lá me ia aventurando a caçar alguma pardalada para o petisco (o lema era tudo o que voasse era bom para comer), e assim lá me iam orientando com as mais diversas aves e, quando a sorte estava do meu lado, com algumas rolas e pombos verdes à mistura, para a partilha com os amigos mais próximos.

Acontece que numa dessas minhas deambulações pelas cercanias do quartel, e sempre avisando as sentinelas de que andaria por ali perto, mais propriamente pela orla da mata, sou surpreendido pela correria mais ao menos desenfreada de uma bajuda acompanhada pela sua mãe, a qual passando por perto me gritou bem alto:

- Fuji Furriel, fuji…

Escusado será dizer que qual Carlos Lopes, deitei a correr quanto pude e só parei ofegante já dentro do quartel. Na altura não vi ninguém, mas no outro dia ao passarmos com uma patrulha pelo local e num sítio um pouco mais afastado, lá estavam as marcas de algumas sandálias de plástico, daquelas tão bem conhecidas de todos nós e que eram usadas pelo PAIGC.

Por pouco não virei de caçador a caçado...

Bissau, Dezembro de 1971 > Com o meu irmão

Jolmete, Março de 1972 > Junto ao morteiro

Teixeira Pinto, Abril de 1972 > Estação dos Correios

Jolmete Abril de 1972 > Na Messe em convívio com camaradas

Jolmete, Novembro de 1972 > Convívio com o pessoal dos petiscos
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10135: Estórias dos Fidalgos de Jol (Augusto S. Santos) (3): A cobra cuspideira

Guiné 63/74 - P10169: Os Nossos Regressos (28): Gama Carvalho, 2ª C/BCAV 8323 (Piche, Buruntuma, Piche, 1973/74), autor do blogue Estrada Fora, surpreendido em Figo Maduro pelo ardina que vendia o jornal A Merda, em 11 de setembro de 1974...



Com a devida vénia... Do blogue Estrada Fora,  do nosso camarada Gama Carvalho, que pertenceu 2ª C/ BCAV 8323 (Piche, Buruntuma, Piche, 19773/74)...

[ Recorde-se, a propósito do  BCAV 8323/73:  (i) foi mobilizado pelo RC 3,  (ii) partiu para o TO da Guiné em 22/9/1973, (iii) egressou a 10/9/1974; (iv) steve sediado em Pirada; (v) teve como comandante o ten cor cav Jorge Eduardo Rodrigues y Tenório Correia Matias;:  (vi) dele faziam parte a 1ª C/BCAV 8323 (Bajocunda), a 2ª C/BCAV 8323 (Piche, Buruntuma, Piche) e a 3ª C/BCAV 8323 (Pirada)].

1. Estrada Fora > Quarta-feira, 29 de Junho de 2011 > O mais belo nascer do sol


O regresso à metrópole estava previsto para as 23.00 horas no aeroporto de Bissau. Mas, a meio da tarde desse dia [, 10 de setembro de 1974], eram já muitos os militares a dirigirem-se para o local de embarque. A ânsia da partida manifestava-se por um imenso desassossego, visível nos constantes olhares para o relógio, nas contínuas espreitadelas às pistas e na postura inquieta dos corpos.

Foram 12 meses passados no mato, sob uma enorme pressão psicológica. Lembro bem, em Buruntuma, só me sentia mais calmo e seguro pela calada da noite, pois eram raros os ataques da guerrilha local nesse período de tempo.

Estávamos em meados do mês de Setembro de 1974. A revolução de Abril tinha constituído, para os militares que lutavam nas três frentes de guerra em África, um farol de esperança a iluminar os caminhos do futuro. Com a queda do regime político português, dissiparam-se as dúvidas sobre o final daquele conflito colonial. Pelo que o pensamento fixou-se, a partir daí, no regresso a casa.

À hora marcada, fomos informados que o avião, vindo, propositadamente, de Lisboa, ainda estava a caminho. Só pelas três horas da madrugada levantamos voo para uma viagem que me proporcionou o mais belo espectáculo que assisti, até hoje, nas alturas do firmamento: um magnifico nascer do sol, com raios multicolores, mistura de vermelho vivo com um amarelo rebelde. Na admiração daquele magnifico quadro, senti que uma nova era se iniciava na minha vida. Para trás, deixava um tempo que pretendia esquecer rapidamente.

Todos sabíamos, pelas notícias que nos chegavam de camaradas regressados de férias, que Portugal estava em vertiginosa mudança social e politica. E foi no preciso momento em que desembarquei, no aeroporto militar de Figo Maduro, em Lisboa, que dei conta dessa enorme mudança que o meu país sofreu no tão curto espaço de um ano. O primeiro sinal dessa mudança foi trazido, no cais de desembarque, por um vendedor de jornais que, junto de mim, apregoava: >
- Compre A Merda. Leve A Merda para casa!.

Um pouco incrédulo, fixei-me, por momentos, no ardina e nos jornais que carregava. Constatei, surpreso, que um dos deles tinha esse título tão pouco ortodoxo e impensável há um ano atrás.

A minha perplexidade era do tamanho da diferença de liberdade política e social com o país que tinha deixado: rural, fechado sob si próprio, amargurado pelo destino dos embarcados para o ultramar, pobre e abandonado pelos mais jovens num fluxo emigratório sem precedentes. Tudo isso estava em mudança vertiginosa.

A liberdade trazida pela «Revolução dos Cravos» estava a dar frutos a nível do desenvolvimento social e político e, um pouco mais tardiamente, a nível da economia e finanças.

O jornal «A Merda» mais não era que um apêndice dos excessos que o exercício da liberdade sempre comporta. Sobretudo, após uma asfixia tenebrosa de 40 anos de ditadura!

Mas, de tudo isto, retenho, na minha melhor memória, o mais belo nascer do sol!


2. Comentário de L.G.:

Ainda me recordo, apenas de o ver nas bancas de jornais, não de o ler, do jornal, de combate político, "A Merda", que era conotado com o movimento anarquista em Portugal.  Perdurou na nossa memória mais do que outros como o "Coice de Mula" ou até como a revista (doutrinária) "Ideia", mais séria e intelectual  (onde pontificou o meu confrade João Freire, como diretor, editor e proprietário, nos anos 70/80) ... De referir ainda, segundo José Nuno Matos, outras publicações congéneres que apareceram no pós 25 de abril: o Pasquim (Cascais), o Satanaz (Almada), a Sabotagem, o Rastilho e a Terra Livre (Amesterdão), a Revolta (Leiria), a Acção (Tomar), a Libertação (Pombal) e, mais tarde, o Apoio Mútuo (Évora), A Sementeira (Lisboa), a Lanterna Negra (Lisboa) e o Anarquista (Leiria)...

De qualquer modo, e na esteira do poste do nosso camarada Gama Carvalho, quem não se lembra do célebre refrão dos ardinas de Lisboa que vendiam "A Merda" ?!
- Olh' A Merda!... Compr' A Merda!... Lei' A Merda!... Gand' A Merda!...

Lembro-me também das pichagens nas paredes, algumas das quais resistiram anos e anos a fio à ação dos homens e das intempéries... mas não à nova horda de grafiteiros. Lembro-me, de cor, de uma ou outra palavra de ordem, anarquista, ou de inspiração anarquista, com conteúdo libertário, iconoclasta, sarcástico, corrosivo, subversivo, irónico, pungente ou simplesmente filosófico, ético ou poético.... (Enfim, recorro aqui também ao auxiliar de memória que é a notável amostra, de mais de 500 murais,  do pós 25 de abril, fotografados e tratados pelo Centro de Documentação 25 de Abril)...


Uma ou outra dessas palavras de ordem ainda se vê por aí, tentando em vão interpelar-nos, provocar-nos... Diga-se, en passant, que o anarquismo nunca teve grande implantação histórica em Portugal (contrariamente à Grécia e à Espanha), se excetuarmos a influência do anarcossindicalismo dos finais do séc. XX até aos anos 20 do séc. XX, nalguns polos industrais (e portanto operários) de um país onde o capitalismo da 1ª geração foi atípico, periférico e serôdio... Não confundam, por favor, essas pichagens de humor ácido, corrosivo, com a "cultura grafiteira" das tribos suburbanas do início do séc. XXI... Sinto-me, apesar de tudo, mais confortável com os primeiros do que com os segundos...

- A Anarquia vencerá!
- À portuguesa só conhecemos o cozido!
- Abaixo a Ditadura, viva a Coca-Cola!
- Abaixo as relações sexuais!
- Abaixo os organismos de cúpula, vivam os orgasmos de cópula!
- Apoiamos a justa luta dos bichos da fruta
- As pulgas não sabem nadar, não lavem os cães!
- Greve ao papel higiénico, compremos os jornais.
- Já não há eleições, o Dom Sebastião volta para a semana!
- Junta a tua à nossa merda! [, paródia da palavra de ordem do PCP: "Junta a tua à nossa voz"]
- Na aula de educação sexual teve falta de material
- Não encostem o cu à parede, não!...
- Nem Deus nem Chefe!
- Nem Deus nem Chefes... e muito menos anarcas!
- Nem Deus nem Pátria nem Família nem Chefe nem Governo, Autogestão!
- Nem mais um faroleiro para as Berlengas!
- O trabalho dá preguiça, a preguiça dá trabalho.
- Os nossos sonhos não cabem no nosso mundo.
- Poder aos glutões.
- Putas ao poder, que os filhos já lá estão!


- Se a merda valesse ouro, os pobres nasciam sem cu!
- Se Deus existe, o problema é dele.
- Se o governo é merda, de quem é a culpa? Da merda ou do governo?
- Sejamos realistas, exijamos o impossível!
- Unicidade pró menino e pra menina.
- Viva a dentadura do proletariado!

... Pode ser que, entretanto, alguém se lembre de mais algum!... Hoje fazem-nos apenas sorrir, com um sorriso amarelo ou amarelecido. Perderam toda a carga humorística e até subversiva que podiam ter tido na época, de descompressão política, social, cultural e mental, que foi o 25 de abril e o pós-25 de abril.

[As duas imagens de cima foram tiradas  o Porto, numa das escolas  do IPP - Instituto Politécnico do Porto, em Paranhos, no dia 6 de junho de 2012. LG].
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Nota do editor:

11 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9027: Os nossos regressos (27): Faz hoje 44 anos que desembarquei na Estação Ferroviária de Barcelos (José Lima da Silva)

Guiné 63/74 - P10168: Blogpoesia (193): Deste-me asas para voar... (Joaquim Mexia Alves)


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > BCAÇ 2852 (1968/70) > 1969 > Heli Al III,. a descolar do heliporto...

Foto: © Humberto Reis a (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados




Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > BART 2917 (1970/72) > c.1970 > Heli Al III, pousado n


Foto: ©  Benjamim Durães (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Do livro de poemas Orando em verso, de Joaquim Mexia Alves, nosso querido amigo e camarada, régulo da Tabanca do Centro [, foto à direita]:

Deste-me asas para voar

Deste-me asas para voar
e eu não voo.

Tenho uma âncora de orgulho,
de vaidade,
ligada a uma corrente do mundo,
de dinheiro, de sociedade,
que não me deixa voar
nas asas que Tu me deste...

E eu puxo, Senhor,
luto, revolto-me,
mas acabo por deixar-me ficar
preso a este mesmo chão,
rasteiro sem poder voar...

Tens que ser Tu,
Senhor,
a partir a corrente,
a libertar a âncora,
a dar-me golpe de asa
que me levante aos céus
e faça partir à desfilada
nas nuvens da Tua graça.

Quero voar no vento
que sopra do Teu amor,
agora e sempre,
em cada momento,
quero voar para Ti,
voar sempre, sempre, 
cada vez mais alto e melhor.

Derruba, Senhor,
as barreiras,
os medos,
dá força às minhas asas,
que me levantem aos céus
e todos os dias me tragam  
para junto dos filhos teus.

Quero voar aqui,
sem nunca daqui sair,
pois é aqui que se voa
até ao momento de partir...

E quando então me chamares,
que as asas que Tu me deste,
se aquietem, Senhor,
porque apenas quero ser levado
nas asas do Teu amor...

Monte Real, 20 de maio de 2008.

Fonte: Joaquim Mexia Alves - Orando em verso: poemas. Lisboa: Paulus Editores. 2012. 142-143


2. Comentário de L.G.:


Estranha coincidência...Ao Joaquim que me acaba de dizer, por mail, e em post scriptum, que "na terça feira [ passada, dia 17, ] morreu 'mais' uma irmã minha. A família grande vai ficando pequena".., eu respondi-lhe de imediato nestes termos:

"Joaquim: Embora esperada, a morte é sempre um mistério e deixa uma dor muito funda nos seres humanos. És uma homem de fé, e a fé ajuda-nos a superar as nossas limitações humanas e terrenas. Também eu comecei a ir ao cemitério e a falar em voz alta com o meu pai... Recebe um xicoração fraterno... Curioso, hoje ia (vou) 'postar' um poema teu...Vê se gostas. Está agendada para antes do almoço"...

Gosto deste poema, porque ele aborda, de maneira singela mas profunda, o conflito intrapessoal entre o ter e o ser... "Deste-me asas para voar/ e eu não voo"... E o voar aqui deve ser entendido metaforicamente: voar é realizar-se como pessoa, como ser humano, nas suas dimensões mais nobres, na sua plenitude... Há um "lastro" (a materialidade mesquinha das coisas terrenas)  que não nos deixa descolar e ganhar alturas... Não basta "ter" asas para voar, é preciso "saber" voar... Voar que não é o mesmo que "voltear"... (Como diz o nosso povo, prosaicamente, "tudo o que volteia no ar, tem um dia de se aquietar"). Esse mesmo povo que, na sua sabedoria de vida, também nos diz (e, de algum modo, nos tranquiliza): "Dá Deus asas a quem sabe voar"... O mesmo povo, crente mas irónico, que sabe tirar lições do passado, da sua experiência própria: "Muita saúde e pouca vida, que Deus não dá tudo"...

Se sim, se Deus não dá (nem pode dar) tudo, fiquemos então ao menos com a poesia e com os nossos poetas, sob o poilão mágico e fraterno da nossa Tabanca Grande...
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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de julho de 2012 >
14 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10153: Blogpoesia (192): Quem somos? (Felismina Costa)

Guiné 63/74 - P10167: Parabéns a você (451): José Santos, ex-1.º Cabo Aux. Enf.º da CCAÇ 3326 (Guiné, 1971/73)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 17 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10159: Parabéns a você (447): Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf.º da CART 3492/BART 3873 e José Manuel Pechorro, ex-1.º Cabo Op. Cripto da CCAÇ 19

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10166: Fauna & Flora (28): A Mamba-verde, particulamente temida pelos recolectores de chabéu ...

Mamba-verde - Dendroaspis viridis Hallowvell  (Família Elapidae - Proteroglypha).


[Imagem à esquerda: Aguarela do pintor Silva Lino (1911-1984)]


Principais caraterísticas desta espécie de serpente (*):

(i) Serpente longa (comprimento: até 210 cm) e relativamente delgada, com a cabeça estreita, pescoço pouco distinto e cauda comprida, atilada;


(ii) Olhos pequenos, com pupila redonda; coloração verde-olivácea, por cima, e amarelada ou esverdeada na face ventral, com escamas e placas finamente debruadas de negro;

(iii) Dentes: dentadura proteroglifodonte: dentes inoculadores sulcados, erécteis mas não retrovertíveis, na parte anterior do maxilar, sem precedência de outros dentes;


(iv) Sinais da mordedura: três pares de perfurações dilatadas, inoculadoras, ladeando o extremo anterior de duas linhas de perfurações, mais finas, dos dentes normais palatino-pterigóides; 

(v) Veneno:  mortal, neurotóxico;

(vi) Costumes:  espécie arborícola, frequentando plantações de palmeiras, bananeiras, etc., muito agressiva, especialmente na época da reprodução, e, por isso, temida pelos nativos, que chegam a ser perseguidos;

(vii) Reprodução por oviparidade;

(viii) Alimento: aves e pequenos roedores;

(ix) Distribuição geográfica: desde o Senegal até à Costa do Marfim; encontra[va]-se com relativa frequência na [antiga] Guiné Portuguesa, hoje Guiné-Bissau; em São Tomé foi coligida por A. Moller (1885), mas não tornou a ser assinalada, nem encontrada durante as pesquisas recentes da Missão Científica; em Angola, encontram-se as espécies D. jamesoni e D.angusticeps, ao passo que em Moçambique existe apenas esta última. 



Fonte: Cortesia do sítio Triplov > Serpentes do ultramar português

Referência bibliográfica: FRADE, Fernando - Serpentes do Ultramar Português. Garcia de Orta. Lisboa; 1955; III (4), pp. 547-553. Em colab. com Sara Manaças. Legendas e notas de aguarelas de Silva Lino.

Vd. tambEm em Google >Imagens >Dendroaspis viridis Hallowvell [Nome comum em inglês:  Western Green Mamba]



2. Comentário de L.G.:

Ainda há dias, falando com um amigo e conterrâneo meu, L.R., antigo alf mil pil Al III, no TO da Guiné (1970/72), parece que era relativamente frequente o pedido de helievacuações para civis que faziam a recolha do chabéu, trepando às palmeiras, e se atiravam, instintivamente, para o chão, muitos metros abaixo, quando eram surpreendidos por uma mamba verde (n

ão confundir com a vulgar cobra verde, em inglês a smooth green snake, norteamericana, não venenosa)... 

De acordo com as observações da missão científica que estudou, em meados dos anos  40 do séc. XX, a fauna da Guiné (chefiada por essa grande figura de naturalista que foi o prof Fernando Frade, cuja vida e obra merece ser melhor conhecida pelos nossos leitores ), esta espécie - a mamba verde - abundava nos palmeirais e nas plantações de bananeiras, e era particularmente temida pelos "nativos" da Guiné, recolectores de chabéu [vd. imagem em baixo; cortesia do sítio Novas da Guiné-Bissau]...



Fui testemunha de um caso desses, numa ponta, em Contuboel, por volta de junho/julho de 1969... Na Guiné, chamávamos-lhe simplesmente a cobra verde ou cobra verde das palmeiras...

Claro que "os desgraçados chegavam todos partidos ao hospital de Bissau", acrescentava o L.R., o meu amigo e conterrâneo, piloto da FAP...
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Nota do editor:

 Último poste de 10 de julho de 2012 > Guiné-Bissau - P10138: Fauna & Flora (27): A cobra cuspideira (de seu nome científico Naja nigricollis Reinhardt)

Guiné 63/74 - P10165: Em bom português nos entendemos (9): Uma declaração de amor, bem humorada, à língua portuguesa (Teolinda Gersão + netos)


Sítio do Observatório da Língua Portugesa (OLP)... Constituído em Junho de 2008, o OLP -  é uma associação sem fins lucrativos que tem por objectivos contribuir para:  (i) o conhecimento e divulgação do estatuto e projecção, no mundo,  da Língua Portuguesa; (ii) o estabelecimento de redes de parcerias visando a afirmação, defesa e promoção da Língua Portuguesa; e (iii) a formulação de políticas e decisões que concorram relevantemente para a afirmação da Língua Portuguesa como língua estratégica de comunicação internacional, hoje já com 250 milhões de falantes.


1. Porque (i) somos um blogue lusófono, com milhões de "baites" debitados para a blogosfera,  e (ii) fazemos questão de "em bom português nos entendermos", todas as questões da defesa e da promoção da língua portuguesa não nos são indiferentes, antes pelo contrário... Além disso, também (iii) temos (muitos de nós) filhos e netos em idade escolar, fazendo por isso parte da comunidade educativa... Mais: (iv) como antigos combatentes, também gostamos de escrever e de contar histórias aos mais novos, na escola ou fora dela... Temos, na Tabanca Grande, (v) gente que até já dá autógrafos e tem livros sobre a temática da guerra colonial... Enfim, e não menos importante, (vi) achamos que ninguém é dono da língua portuguesa, a começar pelo sr. ministro da educação de Portugal, mais todos os srs. ministros da educação da CPLP e os demais (e)duqueses, portugueses, brasileiros ou outros. Para aqueles que a têm como língua materna é provavelmente a única coisa que nada nem ninguém lhes pode roubar, mesmo cortando-lhes... a língua.


Com a devida vénia ao Observatório da Língua Portuguesa, reproduz-se aqui um bem humorado mas oportuno e contundente artigo de crítica ao atual estado do ensino da língua portuguesa, a nível do ensino básico e secundário, sob a forma de uma redação de um neto, João Abelhudo, do 8º ano C (Cê... de Carvalho). A autora é a avó Teolinda Gersão, que também é contra o NAO (Novo Acordo Ortográfico). O texto foi originalmente publicado no jornal "Público".


Teolinda Gersão é uma conhecia escritora de língua portuguesa. [Foto à esquerda]:  (i) nasceu em Coimbra; (ii) estudou Germanística e Anglística nas Universidades de Coimbra,Tuebingen e Berlim; (iii) foi leitora de Português na Universidade Técnica de Berlim; (iv) docente na Faculdade de Letras de Lisboa e posteriormente professora catedrática da Universidade Nova de Lisboa, onde ensinou Literatura Alemã e Literatura Comparada até 1995; (v) partir dessa data passou a dedicar-se exclusivamente à literatura;  (vi) além da Alemanha (3 anos), viveu ainda em São Paulo, Brasil (2 anos...reflexos dessa estada surgem em alguns textos de Os Guarda-Chuvas Cintilantes,1984); (vii) conheceu Moçambique, cuja capital, então Lourenço Marques, é o lugar onde decorre o romance A Árvore das Palavras (1997); (ix) foi ainda escritora residente na Universidade de Berkeley (Fevereiro e Março de 2004).

B. Teolinda Gersão faz uma declaração de amor à Língua portuguesa

Tempo de exames no secundário, os meus netos pedem-me ajuda para estudar português. Divertimo-nos imenso, confesso. E eu acabei por escrever a redacção que eles gostariam de escrever. As palavras são minhas, mas as ideias são todas deles.11-06-2012

Redacção – Declaração de Amor à Língua Portuguesa

Vou chumbar a Língua Portuguesa, quase toda a turma vai chumbar, mas a gente está tão farta que já nem se importa. As aulas de português são um massacre. A professora? Coitada, até é simpática, o que a mandam ensinar é que não se aguenta. Por exemplo, isto: No ano passado, quando se dizia “ele está em casa”, ”em casa” era o complemento circunstancial de lugar. Agora é o predicativo do sujeito.”O Quim está na retrete” : “na retrete” é o predicativo do sujeito, tal e qual como se disséssemos “ela é bonita”. Bonita é uma característica dela, mas “na retrete” é característica dele? Meu Deus, a setôra também acha que não, mas passou a predicativo do sujeito, e agora o Quim que se dane, com a retrete colada ao rabo.


No ano passado havia complementos circunstanciais de tempo, modo, lugar etc., conforme se precisava. Mas agora desapareceram e só há o desgraçado de um “complemento oblíquo”. Julgávamos que era o simplex a funcionar: Pronto, é tudo “complemento oblíquo”, já está. Simples, não é? Mas qual, não há simplex nenhum, o que há é um complicómetro a complicar tudo de uma ponta a outra: há por exemplo verbos transitivos directos e indirectos, ou directos e indirectos ao mesmo tempo, há verbos de estado e verbos de evento, e os verbos de evento podem ser instantâneos ou prolongados, almoçar por exemplo é um verbo de evento prolongado (um bom almoço deve ter aperitivos, vários pratos e muitas sobremesas). E há verbos epistémicos, perceptivos, psicológicos e outros, há o tema e o rema, e deve haver coerência e relevância do tema com o rema; há o determinante e o modificador, o determinante possessivo pode ocorrer no modificador apositivo e as locuções coordenativas podem ocorrer em locuções contínuas correlativas. Estão a ver? E isto é só o princípio. Se eu disser: Algumas árvores secaram, ”algumas” é um quantificativo existencial, e a progressão temática de um texto pode ocorrer pela conversão do rema em tema do enunciado seguinte e assim sucessivamente.
No ano passado se disséssemos “O Zé não foi ao Porto”, era uma frase declarativa negativa. Agora a predicação apresenta um elemento de polaridade, e o enunciado é de polaridade negativa.

No ano passado, se disséssemos “A rapariga entrou em casa. Abriu a janela”, o sujeito de “abriu a janela” era ela, subentendido. Agora o sujeito é nulo. Porquê, se sabemos que continua a ser ela? Que aconteceu à pobre da rapariga? Evaporou-se no espaço?
A professora também anda aflita. Pelo vistos no ano passado ensinou coisas erradas, mas não foi culpa dela se agora mudaram tudo, embora a autora da gramática deste ano seja a mesma que fez a gramática do ano passado. Mas quem faz as gramáticas pode dizer ou desdizer o que quiser, quem chumba nos exames somos nós. É uma chatice. Ainda só estou no sétimo ano, sou bom aluno em tudo excepto em português, que odeio, vou ser cientista e astronauta, e tenho de gramar até ao 12º estas coisas que me recuso a aprender, porque as acho demasiado parvas. Por exemplo, o que acham de adjectivalização deverbal e deadjectival, pronomes com valor anafórico, catafórico ou deítico, classes e subclasses do modificador, signo linguístico, hiperonímia, hiponímia, holonímia, meronímia, modalidade epistémica, apreciativa e deôntica, discurso e interdiscurso, texto, cotexto, intertexto, hipotexto, metatatexto, prototexto, macroestruturas e microestruturas textuais, implicação e implicaturas conversacionais? Pois vou ter de decorar um dicionário inteirinho de palavrões assim. Palavrões por palavrões, eu sei dos bons, dos que ajudam a cuspir a raiva. Mas estes palavrões só são para esquecer. Dão um trabalhão e depois não servem para nada, é sempre a mesma tralha, para não dizer outra palavra (a começar por t, com 6 letras e a acabar em “ampa”, isso mesmo, claro.)

Mas eu estou farto. Farto até de dar erros, porque me põem na frente frases cheias deles, excepto uma, para eu escolher a que está certa. Mesmo sem querer, às vezes memorizo com os olhos o que está errado, por exemplo: haviam duas flores no jardim. Ou: a gente vamos à rua. Puseram-me erros desses na frente tantas vezes que já quase me parecem certos. Deve ser por isso que os ministros também os dizem na televisão. E também já não suporto respostas de cruzinhas, parece o totoloto. Embora às vezes até se acerte ao calhas. Livros não se lê nenhum, só nos dão notícias de jornais e reportagens, ou pedaços de novelas. Estou careca de saber o que é o lead, parem de nos chatear. Nascemos curiosos e inteligentes, mas conseguem pôr-nos a detestar ler, detestar livros, detestar tudo. As redacções também são sempre sobre temas chatos, com um certo formato e um número certo de palavras. Só agora é que estou a escrever o que me apetece, porque já sei que de qualquer maneira vou ter zero.

E pronto, que se lixe, acabei a redacção - agora parece que se escreve redação. O meu pai diz que é um disparate, e que o Brasil não tem culpa nenhuma, não nos quer impor a sua norma nem tem sentimentos de superioridade em relação a nós, só porque é grande e nós somos pequenos. A culpa é toda nossa, diz o meu pai, somos muito burros e julgamos que se escrevermos ação e redação nos tornamos logo do tamanho do Brasil, como se nos puséssemos em cima de sapatos altos. Mas, como os sapatos não são nossos nem nos servem, andamos por aí aos trambolhões, a entortar os pés e a manquejar. E é bem feita, para não sermos burros. 

E agora é mesmo o fim. Vou deitar a gramática na retrete, e quando a setôra me perguntar: Ó João, onde está a tua gramática? Respondo: Está nula e subentendida na retrete, setôra, enfiei-a no predicativo do sujeito.

João Abelhudo, 8º ano, turma C (c de c…r…o, setôra, sem ofensa para si, que até é simpática).



Teolinda Gersão, junho, 2012
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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10074: Em bom português nos entendemos (8): O angolês, termos angolanos que pode dar jeito integrar no nosso léxico (Luís Graça, com bué de jindandu para o Raul Feio e demais kambas kalus)

Guiné 63/74 - P10164: Blogues da nossa blogosfera (52): Estrada fora... de Gama Carvalho, a viver em Braga, e que esteve em Piche e Buruntuma, no BCAV 8323 (1973/74)


Blogue Estrada Fora, de Carlos da Gama. Existe desde abril de 2011. O Carlos da Gama vive em Braga e é um apaixonada autocaravanista. Micha é a sua autocaravana. As "memórias da Micha" já deram cerca de 180 postes. Há também  algumas recordações do tempo da Guiné (1973/74).


1. Mensagem. de ontem, enviada pelo nosso leitor (e camarada) Gama Carvalho:


Boa noite: Já há algum tempo que passo horas a ver o seu magnífico blog - repositório de memórias da Guiné.


Eu sou um ex-combatente. Estive em Buruntuma em 1974 e em Piche em 1973.

Aqui lhe deixo umas crónicas que escrevi no meu blog http://memoriadamicha2011.blogspot.pt e que podem ser pesquisadas no Google.

Estrada fora >  O mais belo nascer do sol
 Estrada fora > Fidelidade canina
 Estrada Fora > No cais de Alcântara

etc...

Abraço
Gama Carvalho

2. Comentário de L.G:

Obrigado, camarada, pelas tuas gentis palavras. Considera o nosso blogue também como teu. Ficas, desde já convidado a integrar a nossa Tabanca Grande, onde cabe toda a malta que passou pela Guiné (1961/74) , dos velhinhos aos piras. Sobre o teu batalhão, temos mais de duas dezenas de referências... Podes trazer a tua Micha, que também há espaço para ela. Sei que gostas de correr mundo... Vou convidar os nossos leitores a visitar o teu blogue. Também temos autocaravanistas entre os mais de 565 camaradas e amigos da Guiné, que leem e fazem este blogue de partilha de memórias e de afetos. Como camaradas que somos, tratamo-nos por tu. Aparece. Vou reproduzir um dos teus postes, o  da partida para a Guiné.  Felizmente partiste e chegaste!!... Um Alfa Bravo (ABraço) do Luís Graça.


3. Estrada fora, de Carlos da Gama > 23 de junho de 2011 > No cais de Alcântara... (Reproduzido com a devida vénia)

Alcântara estava ensolarada naquele longínquo dia 13 de Setembro do ano de 1973.
Lisboa corria apressada pelas ruas e tinha-se enchido de gente da província que viera para uma última despedida dos jovens soldados que, pela tarde, embarcariam no Niassa, rumo à Guiné. 

A grande maioria vinha do Alentejo já que o Batalhão de Cavalaria 8323/73 tinha-se constituído e formado em Estremoz. Apenas uns poucos, como eu, eram do norte do país.
Tudo, para mim, era novidade nos meus vinte anos. Não fazia a mínima ideia que final me estava destinado naquele filme de que era um protagonista forçado. Nenhum familiar eu tinha no cais do desespero e da saudade. Para além da penúria da deslocação a Lisboa, num tempo em que não existiam auto-estradas, eu assim preferi. Já imaginava que a melancolia seria ampliada pelas emoções da despedida para um destino todo feito de incertezas.

Ao meio da tarde, embarquei na companhia dos cerca de 500 homens, de várias toneladas de equipamento e armamento militar e de umas largas dezenas de caixões destinados a dar abrigo aos corpos daqueles que por lá deixassem a vida. 

Quando as amarras libertaram o navio do cais, Lisboa ouviu o rumor crescente do choro da multidão que, numa constante agitação, se despedia com acenos ansiosos, com desejos de boa-sorte, com olhares fixos, com palavras de revolta e de um desespero impotente. Um cenário melodramático que atingia em cheio o coração dos embarcados.

Lembro que me recolhi a um canto do navio, de frente para o cais, assistindo, atónito, àquelas emoções libertadas com intensa comoção. Ao meu lado, vi soldados em pranto convulso enquanto as suas mãos se dirigiam para o local donde partiam lamentos lancinantes e se mostravam lenços brancos agitados com melancólica ternura.  Vi alguns, mais desesperados, a desfalecer, quer devido às fortes emoções, quer ao excesso de álcool de que tinham abusado. Daí o cheiro pestilento dos bafos etílicos misturados com vómitos imundos espalhados pelo chão.

Durante a alongada espera do soltar das amarras, ainda em pleno Tejo, perpassou pela minha alma a proibida letra de uma melodia do cantor de intervenção, Adriano Correia de Oliveira: «Tejo que levas as águas, correndo de par em par, lava a cidade de mágoas, leva as mágoas para o mar!». 

Aquela despedida deixou-me em grande sobressalto e despertou em mim algumas questões para as quais não conseguia encontrar respostas. Sobretudo, a razão porque os homens e mulheres do meu país, apenas ali, no cais de Alcântara, reagiam à dor de ver partir os seus filhos para incertas paragens de sangue, suor e lágrimas.

Mas foi lá longe que, para além da lógica da guerra, lidei com uma realidade económica e social que jamais julguei existir e que me impressionou profundamente. A Guiné era, e continua a ser, um território sem cor, sem alma, sem economia, sem organização social, sem horizontes, sem liberdade, sem vida … sem quase nada! 

Na sua história, teve, apenas, um líder, por quem nutro uma grande admiração, que, um dia, sonhou com a liberdade e ousou lutar por ela: Amílcar Cabral. Não fosse o seu cobarde assassinato perpetrado pela polícia política portuguesa (**), uns meses antes de eu lá chegar, e a Guiné teria podido sonhar com um futuro melhor. Apesar da pobreza!

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 1 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10098: Blogues da nossa blogosfera (51): "Uma boa e rápida recuperação Meu Coronel", in Swedish Lapland to Key West (José Belo)


(**) A autoria material e sobretudo moral do assassinato de Amílcar Cabral ainda hoje é e continuará a ser objeto de grande controvérsia. Questão já aqui amplamente debatida no nosso blogue. A nós interessa-nos a busca da verdade histórica. 

terça-feira, 17 de julho de 2012

Guiné 63/74 – P10163: Convívios (459): Convívio da CART 2771 “Os Duros”, Nova Sintra, 1970/72 (Herlânder Simões)

1. O nosso Camarada Herlander Simões, ex-Fur Mil At Inf (MAI1972 a JAN1974), foi destinado à CCAÇ 16 (sem chegar a ser colocado) e seguindo para a CART 2771 os "Duros" de Nova Sintra. Posteriormente, foi enviado para os "Gringos" de Guileje (CCAÇ 3477 - 1971/73), que inicialmente se encontrava sediada em Nhacra, enviou-nos a seguinte mensagem.

 Convívio da CART 2771 “Os Duros”




Caros Camarigos,



Finalmente, ao fim de tantos anos, consegui encontrar os meus camaradas da CART 2771, com quem tive o privilégio de conviver durante 6 meses. 

Este reencontro posso agradecer ao meu companheiro, o ex-Furriel Miliciano José Manuel Rodrigues Cunha, pois foi ele que me encontrou pela Net e me contactou para o nosso convívio.

Foi com grande emoção que reencontrei os meus camaradas de algumas aventuras pelas bolanhas da Guiné. 

Neste convívio realizado na Mealhada, comemorou-se ainda os 40 anos do regresso dos Duros a Portugal.

Um abraço a todos os Ex combatentes.
Herlander Simões 
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 



Guiné 63/74 - P10162: Cartas do meu avô (13): Décima primeira (Parte I): A toga de juiz que não cheguei a envergar... (J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Bissau, Cachil e Catió, 1964/66)


A. Continuação da publicação da série Cartas do meu avô, da autoria de J.L. Mendes Gomes, membro do nosso blogue, jurista, reformado da Caixa Geral de Depósitos, ex-Alf Mil da CCAÇ 728, que esteve na região de Tombali (Cachil e Catió) e em Bissau, nos anos de 1964/66. [, Foto à esquerda, com os netos]. As cartas, num total de 13, foram escritas em Berlim, onde vivem os netos, entre 5 de março e 5 de abril de 2012. (*)

B. DÉCIMA PRIMEIRA CARTA > De Novo Para Lisboa (Parte I)

I - A Frustração do CEJ (Centro de Estudos Judiciários)


A actividade que exercia na Caixa, [como jurista,] era muito específica e rotineira. Por outro lado, não me deixava tempo para exercer a advocacia a sério.

Embora, pelo pouco que fiz, deu para conhecer os meandros negros que a envolvem na prática. Pude verificar e constatar,  com muita surpresa e desconforto, que para se singrar na advocacia,  numa terra pequena como era Aveiro, tinha de se lançar mão de métodos que exigiam o estômago que eu nunca tive.

Era-me muito indigesto ter de comprar por bom preço, se quisesse singrar e não fechar as portas, as boas graças de todo o cortejo de gente que trabalhava atrás dos balcões de serviços públicos, desde as Conservatórias todas, às secções dos tribunais.

Quem lá mandava e geria o curso dos papéis em azul papel selado, salvo raras excepções, eram toda a sorte de escrivães, que ali entravam com a quarta classe ou o 5º ano dos liceus. Vindos do mundo rural.





Cabeçalho do famigerado papel selado, símbolo da burocracia e da arrogância dos burocratas, entretanto extinto em Portugal como forma de cobrança do imposto de selo... Vigorou mais de 3 séculos ... 'Embrulhar alguém em papel selado' era uma expressão, coloquial, corrente, na tropa, no nosso tempo... Era sinónimo de ameaça (por ex,, fazer uma participação)  por parte de um superior hierárquico... (LG)


Ao fim de muitos anos, conheciam melhor que os magistrados toda a ladainha processual naqueles calhamaços que eles manipulavam lambendo os dedos e escozipavam à sovela. Do outro lado, era a exacerbada arrogância flatulenta da maioria dos causídicos da praça. Já muito bem instalados, na terra, com forte raizame subterrâneo que chegava a todo o terreno. Irradiavam uma feroz competição onde eu não podia entrar, nem aceitar. 


O exercício da magistratura judicial era um espaço que, desde miúdo, me seduzia. Conheci figuras de juízes veneráveis lá na terra onde cresci que me fascinaram. Lembro-me do Dr. Maltês, muito bem. Com suas barbas brancas. Eram pessoas finas, impecáveis, respeitadoras e distantes de todas as influências. Pareciam sacerdotes da Justiça. Ora, como advogado que era, eu tinha a hipótese de ir frequentar o curso de formação de magistrados no Centro de Estudos Judiciários, em Lisboa. Era um direito que tinha e que a entidade patronal não podia impedir. Não tinha nada a perder. Podia optar pelo ordenado de um ou do outro lado. Se gostasse ficava. Se não,  voltava ao meu posto de trabalho. A idade que tinha era a adequada. Sentia-me na minha capacidade física máxima para o desafio. Não podia deixar passar o tempo.




Antiga cadeia do Limoeiro, sede do Centro de Estudos Judiciários desde 1979 < Gravagura (aguarelada) do pintor (1858-1947). Cortesia do sítio Rede do Conhecimento da Justiça (LG) 

Entrei no CEJ naquele ano. Como Auditor de Justiça. A maioria eram jovens,  rapazes e raparigas,  saídos das faculdades de direito. Para eles, o CEJ era, sobretudo, uma óptima oportunidade de emprego e de uma boa carreira. Éramos, desde logo considerados da família de magistrados.  Muito bem tratados pelos magistrados instrutores. Saídos da carreira prática. As aulas eram muito intensas. Num curto espaço de tempo, os instruendos revisitavam,  com o seu sentido prático muito apurado, todas as cadeiras de direito processual. Com provas teóricas e práticas. Exigentíssimas. Numa abordagem tão profunda e imediata, que deixava os advogados-alunos, numa grande dificuldade.

Falo por mim. Habituado a dispor de todo o tempo do mundo para analisar os casos práticos e consultar as fontes, via-me grego para corresponder com suficiência. O direito penal estava-me bastante distante do que era necessário. Sentia que, não obstante, meia dúzia de meses depois, se fosse aprovado, eu estaria à frente duma pessoa para a julgar com toda aquela ferramenta penal que eu não dominava. Comecei a sentir-me cada vez mais desconfortado, à medida que o tempo avançava. Cada sentença que eu tinha de elaborar como exercício prático deixava-me muito embaraçado. Era como se fosse a sério. Ter de aplicar uma pena de prisão...nunca imaginei o que sentiria de facto...Passar o resto da minha vida, aí uns dez a doze anos a exercer uma tarefa tão delicada, surgiu-me claramente como manifestamente impossível. Resolvi desistir. Quando fui comunicá-lo ao director do CEJ, Desembargador A. Leandro (**), este ficou desapontado e lamentou, nestes termos que não esqueço:
- Tenho, temos muita pena, pode crer. A toga de juiz assentava-lhe muito bem...tinha e tem o exacto perfil para o cargo.

Foi o melhor prémio que eu queria tanto ouvir. Por mim, estava ganho o desafio que me tinha posto, contra tudo e todos. Sobretudo a família...Regressei a Aveiro. Cá por dentro, como um vencido. Embora tivesse sido muito bem recebido. Percebi-o quando lhes revelei que já tinha decidido ir para o contencioso central. Ficaram visivelmente desapontados, sobretudo o gerente e os que trabalhavam mais próximos comigo. Não esconderam. Tive pena mas já estava comprometido com o director do contencioso. Por isso, mais uma vez tive de vir para Lisboa. (...)

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 9 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10136: Cartas do meu avô (12): Décima carta: a casa das Quintãs, Aveiro (J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Bissau, Cachil e Catió, 1964/66)

(**) Juiz conselheiro Dr. Armando Acácio Gomes Leandro, diretor do CEJ entre 1990 e 1998...




Guiné 63/74 - P10161: Memória dos lugares (188): Lisboa, Belém, os vivos e os mortos, o passado e o futuro... (Luís Graça)




Lisboa > O Tejo e o Centro Champaliimaud... > 4 de julho de 2012 > O Pedro e a sua família... Um quadro que poderia ter sido pintado por um surrealista, italiano (Giorgio di Chirico) ou português (António Dacosta)... Ou até por um respeitável "velho do Restelo", mais agarrado às âncoras do passado do que capaz de desfraldar as velas loucas do futuro... Afinal, donde vimos, para onde vamos ? Nós, o coletivo a que chamamos Portugal e os portugueses...



Lisboa > 4 de julho de 2'012 > O Pedro e a família, em Belém, junto ao Monumento aos Mortos do Ultramar > Inaugurado em 1994,  o monumento é uma homenagem a todos os soldados que morreram ao serviço de Portugal, entre 1961 e 1975. A parede em redor do monumento (, parede exterior do forte do Bom Sucesso, ) está revestida com mais 180 placas com o nomes gravados dos cerca de 9000 combatentes que a morte ceifou no Ultramar, nessa época (em combate, em acidente, em doença).




Lisboa > 4 de julho de 2012 > A lista infindável de mortos... 1969, 1970, 1971, 1972... Felizmente, não consta lá o nome do avô e pai José Ferreira Carneiro, natural de Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canveses, que fez a guerra de Angola, em Camabatela (1969/72)...



Lisboa > Pastéis de Belém  (*) > 4 de julho de 2012 > O Diogo, turista ocasional, fã do Iphone e da playstation,  tripeiro, de 9 noves anos, num dos lugares obrigatórios de Lisboa, para quem vem à capital que já o foi de um vasto império, donde vinham a cana de acúçar e o pau de canela... 


Fotos : © Luís Graça  (2012). Todos os direitos reservados.


1. Há dias passei por Belém, numa visita guiada em que servi de cicerone a um casal de sobrinhos meus, do Porto, e entre outras coisas fui mostrar-lhes o monumento aos mortos do Ultramar (ou aos combatentes ?), que eles pura e simplesmente desconheciam... Lisboa tem muitas coisas para ver, e a descobrir, de preferência  a pé e devagar, em certas horas do dia, em certos dias da semana... mas os cemitérios e os monumentos aos mortos não serão, de certo,  para  os jovens, os lugares que lhes despertarão mais interesse e curiosidade.

Estacionámos por ali perto, junto ao forte do Bom Sucesso (hoje transformado num  ainda obscuro, vazio e triste museu do combatente) com a ideia de ir visitar o Centro de Investigação da Fundação Champalimaud, a doca de Pedrouços, a Torre de Belém, a caminho dos pastéis de Belém que estão para Lisboa e os seus mouros como as francesinhas estão para o Porto e os seus morcões...

O Pedro é um morcão querido, um sobrinho da minha mulher de quem eu gosto muito,  tem hoje trinta e  poucos anos, e fez muitas vezes férias juntamente com os meus filhos em pequeno. É filho do meu cunhado, José Ferreira, que fez a sua comissão de serviço militar (sic), em Angola, em Camabatela, no tempo da guerra do ultramar ou guerra colonial, como quiserem. É além disso um jovem que já sentiu, muito cedo, adolescente, a dor imensa da perda precoce e irreparável de uma mãe, vitimada por doença à época incurável...

O Pedro, que é pescador e músico de jazz, e um qualificado técnico de inspeção de gás do Instituto de Soldadura e Qualidade, na delegação do Porto,  ficou impressionado com a lista infindável de nomes de combatentes que morreram pela Pátria no antigo ultramar português, ou melhor dizendo, na(s) guerra(s) colonial(ais). Eu próprio me virei para o seu filho, de nove anos, e comentei:
- Já viste, Diogo, meu morcão ?!...  Se o nome do teu avô estivesse inscrito nestas paredes, tu nunca terias nascido...

Não sei se o puto, entretido com um dos seus jogos de guerra preferidos, no Iphone, me ouviu e, em caso afirmativo, se entendeu a minha mensagem... Ele (e o pai) pertence a um geração que felizmente não conheceu a guerra, as suas angústias, incertezas e horrores... O Diogo é, além do mais, um filho do séc XXI, da aldeia global, da realidade virtual, do Iphone, do Ipad, do cinema 3D, da playstation, da televisão digital, da Web 2... Pergunto-me como lhes podemos contar, a ele e à sua geração,  a história desta guerra, parte integrante da nossa história pátria... Como sermos suficientemente sábios, assertivos e incisivos, sem cairmos no risco de nos tornarmos patéticos, demagógicos, ridículos ?



Pela minha parte estou seguro - pelo que conheço dele - que o meu cunhado nunca contou ao filho, muito menos ao neto, as suas peripécias lá pelas fazendas do café, no norte de Angola, entre 1969 e 1972 [, foto à direita]... Ele era 1º cabo radiotelegrafista, de rendição individual, não sabe sequer o número da companhia a que esteve adido nem nunca mais encontrou (nem procurou) um camarada de guerra, ou os seus antigos camaradas de guerra... 


Pura e simplesmente ele fechou, como muitos outros de nós,  esse capítulo da sua vida. Restam-lhe as muitas dezenas de cartas e aerogramas que recebia da família, e que ele organizou, meticulosamente, em Camabatela, por data e remetente, e que trouxe consigo, religiosamente, como património valioso.  Restam-lhe ainda uma mão cheia das cartas que ele enviou à mana Chita... e que escaparam aos trambolhões do espaço e do tempo. 


Não tenho netos. Ainda. Mas,  quando (e se) os tiver, prometo trazê-los pela mão, até aqui a Belém, à Torre de Belém e ao Forte do Bom Sucesso, e esperar que me façam perguntas sobre este imenso mural onde estão os nomes dos nossos camaradas mortos... A memória de um povo transmite-se de geração em geração.  De preferência, "en su sitio", e de viva voz, pelos mais velhos, para os mais novos...

L.G. (**)

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Notas do editor:

(*) História do pastel de Belém:

"O sabor da Tradição:

"No início do Século XIX, em Belém, junto ao Mosteiro dos  Jerónimos, laborava uma refinação de cana-de-açúcar associada a  um pequeno local de comércio variado.

"Como consequência da revolução Liberal ocorrida em 1820, são em  1834 encerrados todos os conventos de Portugal, expulsando o  clero e os trabalhadores.  nNuma tentativa de sobrevivência, alguém do Mosteiro põe à venda  nessa loja uns doces pastéis, rapidamente designados por 'Pastéis de Belém'.

"Na época, a zona de Belém era distante da cidade de Lisboa e o  percurso era assegurado por barcos de vapor. No entanto, a  imponência do Mosteiro dos Jerónimos e da Torre de Belém,  atraíam os visitantes que depressa se habituaram a saborear os  deliciosos pastéis originários do Mosteiro.

"Em 1837, inicia-se o fabrico dos 'Pastéis de Belém', em instalações nanexas à refinação, segundo a antiga 'receita secreta', oriunda do  convento. Transmitida e exclusivamente conhecida pelos mestres  pasteleiros que os fabricam artesanalmente, na 'Oficina do
Segredo'. Esta receita mantém-se igual até aos dias de hoje.

"De facto, a única verdadeira fábrica dos 'Pastéis de Belém'  consegue, através de uma criteriosa escolha de ingredientes, proporcionar hoje o paladar da antiga doçaria portuguesa".



Fonte: Pastéis de Belém

(**) Último poste da série > 13 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10149: Memória dos lugares (187): Gabu, ontem e hoje (Tino Neves, ex- 1º cabo escrit, CCS / BCAÇ 2893, 1969/71)