segunda-feira, 15 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14748: Efemérides (193): No passado dia 10 de Junho de 2015 foi inaugurado um Memorial aos Combatentes do Concelho de Santarém (Armando Pires)

1. Mensagem do nosso camarada Armando Pires (ex-Fur Mil Enf.º da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70), com data de 14 de Junho de 2015:

Inauguração do Memorial aos Combatentes do Concelho de Santarém


FINALMENTE! 

No passado dia 10 de Junho, em Santarém, minha terra natal, foi inaugurado um Memorial aos Combatentes. 

Um Memorial simples mas de grande dignidade, tão grande quanto aquela de que se revestiu a sessão solene da sua inauguração. 

Obra do esforço e da vontade de ex-combatentes, desde logo o Arnaldo Vasques, que lançou a ideia abraçada pelo Carlos Marçal, actual Presidente das Juntas de Freguesia da cidade de Santarém, e apadrinhada pelo Coronel na Reforma, Garcia Correia. 

Com o apoio da Câmara Municipal foi constituída uma comissão ‘ad hoc’, que integrou, ente outros, o também ex-combatente (e DFA) Coronel na Reforma Correia Bernardo, e o Presidente do Núcleo de Santarém da Liga dos Combatentes, Carlos Pombo. 

A obra, para a qual decorre ainda uma recolha de fundos, é de autoria do escultor Salter Cid, e foi erguida no jardim fronteiro ao antigo Presídio Militar, hoje Casa de Portugal e de Camões. 

A população da cidade foi convidada a estar presente à cerimónia, juntando-se a muitos antigos combatentes, à guarda de honra formada pelos estandartes das várias Juntas de Freguesia do Concelho, e das Associações de Combatentes dos distrito. 

Uma Guarda Militar com fanfarra prestou as honras devidas, ganhando profundo respeito e silêncio o Toque a Mortos, durante o qual foram chamados pelos nomes, com grito de “PRESENTE!”, os 49 homens mortos em combate. 
À chamada dos seus nomes, correspondiam os seus familiares vivos, especialmente convidados para o momento, com a deposição de flores na base do memorial. 

Não foi apenas uma justa Homenagem, foi, finalmente, e permito-me afirmar, a reconciliação da cidade com uma geração de homens que a honraram na vida e na morte. 

As fotos que se seguem, cedidas pela Junta de Freguesias, ilustram os momentos mais significativos da inauguração.

Armando Pires

O Memorial aos Combatentes dos Concelho de Santarém

Momento solene do descerramento do Memorial. À direita, Ricardo Gonçalves, Presidente da Câmara Municipal de Santarém, à esquerda o Coronel Reformado Garcia Correia.

Estandartes das Juntas de Freguesia e de Associações de Combatentes.

Guarda de Honra Militar e estandarte do Núcleo de Santarém da Associação de Comandos.

O Coronel Reformado Garcia Correia proferindo o seu discurso, vendo-se à sua direita o ex-combatente Arnaldo Vasques, grande dinamizador do projecto.

Ricardo Gonçalves, Presidente da Câmara Municipal de Santarém, usando da palavra para homenagear todos os antigos combatentes do concelho.

Em nome das Forças Armadas, a deposição de uma coroa de flores na base do Memorial.

O momento de maior emoção e significado de toda a cerimónia. Aquele em que os familiares dos militares mortos em combate colocavam flores no memorial com os seus nomes.
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14731: Efemérides (192): 75º aniversário do gesto heroico de Aristides de Sousa Mendes ao decidir ajudar a salvar milhares de seres humanos fugidos ao terror nazi...Dia da Consciência, no próximo dia 17 de junho, celebrado com missas em diversas partes do mundo cristão, de Bordéus ao Vaticano, de Cabanas de Viriato a São Paulo, de Fátima a Newark ... Exposição e sessão de homenagem nesse dia, no Centro Cultural Franciscano, Lisboa (João Crisóstomo, Nova Iorque)

Guiné 63/74 - P14747: Notas de leitura (728): “Olhos de Caçador”, de António Brito, Porto Editora, 2014 (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Julho de 2014:

Queridos amigos,
Como em todas as histórias dos Fernãos Mendes Pinto, a comissão de Zé Fraga é um entrançado do hílare e do patético, da bazófia e do ato destemido, da suprema doação à canalhice extrema.  
“Olhos de Caçador” avulta pelo seu poder poliédrico, a sua capacidade em tratar magistralmente os extremos, tratando-os, por vezes como oposições redibitórias. Como Fernão Mendes Pinto, Zé Fraga regressará altamente condecorado e depois será esquecido, e terá o pendor de se destruir, ou quase. Se a boa literatura é uma história bem contada, mesmo que se confabule de excessos e de situações ditas inverosímeis, este livro está entre as obras obrigatórias da literatura da guerra colonial.

Um abraço do
Mário


Olhos de Caçador: Livro soberbo, o poliedro das brutalidades da guerra (3)

Beja Santos

“Olhos de Caçador”, de António Brito, Porto Editora 2014, é a história de uma peregrinação. Na esteira de narrativas empolgantes de quem andou a espiolhar pelo Império, temos aqui a história de um homem que preza a sua liberdade, que teima em ser rebelde e tem os seus códigos de honra. Atirado para Moçambique, terá manifestações de grande valentia, solidariedade, passará por vicissitudes extraordinárias. Incluindo o horrendo da guerra. Neste momento Zé Fraga está no Posto 36, foi castigado pelo Galo Doido, alcunha do capitão Vinhais, entre eles há um ódio que cresce ao rubro. Zé Fraga já comeu carne humana e agora anda em patrulhamentos, é preciso intimidar os frelimos. Numa dessas incursões, apanham um machambeiro que se vê forçado a levar a tropa até uma base da guerrilha. As coisas correm mal: morre guia e um dos soldados. Zé Fraga procura vingar-se:
“Deixei um presente escondido debaixo do cadáver do guia: uma granada descavilhada pronta a rebentar quando o primeiro camarada lhe mexesse. Sempre gostei de fazer surpresas, de oferecer presentes. Sou um mãos-largas. Quando voltámos a passar pela represa, entalei outra granada dentro do cântaro da água. Alguém ia ficar com uma grande dor de cabeça”.

No regresso, descobrem que os guerrilheiros cercam o Posto 36. E reagem:
“- Fraga, se há um preto na árvore, os outros devem estar perto – concluiu o alferes. 
- O mais certo é estarem junto da mesma árvore, aguardando as informações do vigia – disse-lhe eu. 
- A iniciativa é nossa – respondeu o Azedo. – Fraga, precisamos dos gajos vivos. Necessitamos de informações. 
- Os que estão no chão, talvez. O que está na árvore, duvido. 
- Que se foda o que está na árvore. Rebenta-se com o gajo. 
- Quem é o melhor atirador? – perguntei-lhe. 
- É o Velhinho, porquê? 
- Ponha-o a vigiar a árvore. Se o turra se mexer, o Velhinho que acabe com o cabrão. Nós cercamos os que estão no chão. 

Com o Velhinho a visar o preto empoleirado nos ramos, caminhámos curvados, dissimulados no capim. O turra na árvore estava de costas para nós, a olhar extasiado para o aquartelamento. Se continuasse assim e se não se voltasse, não daria pela nossa aproximação. Ainda não tinha a certeza onde estariam os outros, por isso fiz sinal ao Azedo para aguardar, enquanto eu avançava um pouco mais. Gatinhei uns metros, até que os vi, sentados no chão, quatro cabeças escuras espreitando através das árvores. A sua atenção estava concentrada na algazarra dos soldados dentro do aquartelamento. Fascinados por espreitarem a tropa colonialista, como diziam na propaganda, não me viram chegar, seguido do alferes e do resto da patrulha. Devem ter escutado o restolhar nas folhas, porque se viraram quando lhes caímos em cima, as armas prontas a trespassá-los, aos berros, para os intimidar e espantar o nosso próprio receio. No meio da gritaria, ouvi dois tiros vindos lá de trás, e um vulto a cair da árvore como um cocô maduro. Fiel à fama de caçador, o Velhinho acabar de abater a sua presa”.

Mas nem tudo era bravura no Posto 36, Zé Fraga cedo se apercebeu que havia para ali muita farsa: falsas patrulhas; relatórios mentirosos, um chorrilho de aldrabices para contentar Nampula. Devem-se a Brito descrições espantosas de perfis militares, é o caso do disfuncional Rosca Moída que tinha um atraso mental, por isso nunca tivera uma arma distribuída, para o manter ocupado, o tenente colocara-o a apanhar as folhas que caiam das árvores. Quando haviam flagelações e toda a gente recolhia aos bunkers, o Rosca fazia o contrário, corria para o meio do acampamento aos gritos. “Nunca se chegou a saber como o Rosca teve acesso às munições mas, por volta da hora do almoço, quando o cozinheiro mexia o panelão com a colher de pau e alguns esfomeados já rondavam de marmita na mão, o Rosca aproximou-se e atirou para a fogueira um punhado de balas. A princípio ninguém se apercebeu do que ele tinha feito, mas, quando as munições começaram a rebentar e as balas a silvar em todas as direções como de fogo-de-artifício em arraial popular, é que compreendeu o gesto louco do Rosca. Quem podia corria e saltava às cambalhotas, mordendo o pó para fugir daquele desvario. A primeira vítima foi o panelão do almoço, o guisado jorrando em esguichos gordos sobre a fogueira. Depois foi o cozinheiro, atingido nas nádegas anafadas por uma das balas que atravessou a panela. Com a fogueira a cagar chumbo em vez de fagulhas, quatro dos esfomeados da marmita apanharam a sua dose de chumbo. Tombaram na poeira, contorcendo-se aos gritos de ‘acudam’ e ‘chamem o enfermeiro’. O único que se safou foi o Rosca, que, à distância segura, apontava o pau e gritava ‘pum, pum, pum’.

O enfermeiro é confrontado com fraquezas humanas. O do Posto 36 atravessava um crise de paludismo, foi necessário chamar o de Magolé, de alcunha o Peida Grande, o que faz e descobre é assim descrito:
“O Peida Grande passou os dias a cuidar das mazelas dos doentes e a tratar dos ferimentos dos mais azarados. Cozeu os golpes, limpou o pus das infeções, mudou pensos, distribuiu antibióticos, meteu halazona na água inquinada, injetou soro nos desidratados, obrigou os teimosos a engolir pastilhas de sal para compensar os excessos de sudação, extirpou matacanhas debaixo das unhas, queimou micoses das virilhas com tintura de iodo, obrigou os porcalhões a tomar duche debaixo de um regador suspenso com um pau.

O Peida Grande tornou um tipo popular. As recomendações que fez, os cuidados de saúde que impôs e os hábitos de higiene que introduziu no Posto 36 elevaram a moral da guarnição. Até ao dia em que o tenente escolheu os soldados para a patrulha seguinte. Dos dez escolhidos, metade apareceu na tenda da enfermaria com golpes nas pernas, braços e pés. Queixavam-se de dores que os impedia de caminhar ou de mover os braços. O Peida Grande examinou os ferimentos, apalpou-se e cheirou-os, depois olhou para os cinco, demoradamente. Saiu sem responder. Foi falar com o tenente, contando-lhe que o grupo escolhido para a patrulha se tinha automutilado fazendo golpes nos pés, nas pernas e nos braços; que tinham esfregado os ferimentos com sal e tinham urinado em cima para acelerar a infeção”.

O regresso a Magolé é quase dantesco, trata-se de uma coluna constituída por um amontoado de desvalidos e sofredores, com várias urnas às costas, há um ataque de abelhas, o único alívio encontrado eram umas fumaças de suruma pela noite fora. Em Magolé o Galo Doido que torturara barbaramente vários prisioneiros, fora denunciado pelo alferes Perdigoto, que irá testemunhar contra o capitão em Nampula. O padre Tomé incita Zé Fraga a ajudá-lo a arranjar mantimentos e medicamentos para as populações. É nisto que vai entrar e cena um rei da malandrice que dá pelo nome de Mãozinhas, um ladrão habilidoso, também fadado para outros negócios escuros. Zé Fraga precisa de vitaminas, antibióticos, comprimidos para espantar a malária e vai pagar em erva ao Mãozinhas.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14737: Notas de leitura (727): “Olhos de Caçador”, de António Brito, Porto Editora, 2014 (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P14746: (Ex)citações (282): Sexo em tempo de guerra... Ha(via) um raio de um "santo inquisidor" dentro de cada um de nós... (Francisco Baptista, natural de Brunhoso, Mogadouro; ex-alf mil inf, CCAÇ 2616, Buba, 1970/71, e CART 2732 , Mansabá, 1971/72)

Francisco Baptista, hoje
1. Mensagem, de 6 do corrente, do Francisco Baptista [ ex-alf mil inf, CCAÇ 2616 / BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72)] (*)


Em Buba, bem perto de Nhala, terra de fulas, onde estive 17 meses, só havia uma bajuda balanta. As outras mulheres, cerca de trinta ou menos, eram casadas com soldados da milícia.

Tinha uma lavadeira,chamada Suado, com uma tez bastante clara, com um rosto sem ser redondo, nem comprido, perfeito e simétrico, uns olhos negros, vivos, cintilantes, uns dentes alvos e perfeitos, que davam mais graça ao olhar quando sorria.´

Tinha um filho de alguns meses, os soldados do meu pelotão diziam por vezes na brincadeira, que ele era filho do falecido alferes Queiroz, que eu tinha ido substituir. Não era, pela simples contagem  dos tempos se percebia isso. 

A Suado era uma jovem alegre e divertida, tinha uma pele que ao contacto, parecia de seda, uma Xerazade islâmica, que com inteligência, sorrisos sedutores e pequenas conversas, que não chegavam a ser estórias, conservava o cliente e a amizade entre homem e mulher que é tão difícil cultivar.

Fui para Mansabá, os restantes 7 meses, já sonâmbulo e desinteressado dos movimentos da Terra, contente com o cheiro e o calor dessa África, que embala os homens como meninos, quando querem dormir.

Francisco Baptista, c. 1970/72
Em Mansabá lembro-me duma bajuda, que gostava de namoriscar com todos os tropas, sem ser muito bela, não deixava de ser simpática nesse convívio divertido com a malta. Não sei, nunca quis saber se haveria outro envolvimento, com alguns, para lá dessas chalaças, tanto do agrado dos homens e das mulheres.

O que escrevi atrás é em parte uma cópia do comentário que fiz ao poste nº. 14519 do nosso amigo Manuel Carvalho, sobre os bailaricos de Jolmete. Transcrevi-o por me parecer que se enquadra
neste diálogo que se pretende mais objectivo sobre as nossas relações com as mulheres da Guiné.

Temos que aceitar que para a maioria dos militares de todas as frentes de combate não havia religião ou moral que pudesse combater essa urgência, tão premente,provocada pela idade, pela angústia dos dias, do que o relaxe que podiam sentir numa relação intíma nos braços duma mulher, o mais amigável possível.

É elementar em toda a natureza a atracção entre o masculino e o feminino, se as raparigas das nossas aldeias ou do nossas ruas ou bairros citadinos estavam longe íamos sentir atracção sexual por outras mulheres que estivessem mais próximas. É díficil reprimir a natureza e estavamos nos nossos verdes anos com produção de muitas hormonas. Alguns dos nossos camaradas já eram casados, outros teriam casado se não fosse esse longo exílio de dois anos de guerra. 

Alguns para maior desgraça perderam a mulher com quem sonharam casar porque ela entretanto teve outras solicitações e não conseguiu esperar. Mas nas sociedades patriarcais de subsistência, onde a repressão se exercia mais sobre as mulheres, até a atracção sexual delas ficava condicionada às exigências sociais e religiosas. Uma sociedade reprimida deixa de poder ter comportamentos normais para ter comportamentos estereotipados.

Em relação às mulheres terei sido um como os outros mais ou menos tentado, se bem que tanto em Buba como em Mansabá as bajudas ou mulheres islâmicas ou islamizadas (as mandingas de Mansabá) tinham um pudor e conceito de honra que superava as católicas de Portugal.

Dos 80 ou 90 por cento dos militares que, segundo Jorge Cabral (**), não tiveram qualquer relação sexual em África, na sua maioria terão tentado conseguir esse objectivo, sem êxito. Descontando os tais 5 ou 10 por cento de homossexuais e os outros 10 por cento de demasiado tímidos. Portanto 60 a 70 por cento terá tentado a sua sorte, a grande maioria sem êxito.

Eu que teoricamente me inclinava pelo amor livre, já não sei se por convicção ou para benefício próprio, teria uma trabalheira enorme em convencer desse jeito as mulheres da tabanca , já que as da minha aldeia ou região não iam muito nessa treta. A minha consciência sempre demasiado vigilante e pronta a acusar-me, nunca me permitiu usar de artifícios e artimanhas para
fazer mais uma conquista. 



Guiné > Região Leste > Setor L1 (Bambadinca) > Fá Mandinga > Pel Caç Nat 63 > c. 1969/1970> O Jorge Cabral e as suas queridas bajudas mandingas... E a propósito, diz ele na estória cabraliana nº 25 (***): "Contaram-me que uma bajuda que tivera um filho do Furriel X, o seguiu até Bissau, e na hora da partida do navio entrou na água com o bebé, tendo morrido ambos. Então jovem e ingénuo literato, cheguei a alinhavar uma ópera, na qual imaginava o militar em pranto, a querer lançar-se ao mar e a ser impedido pela força das armas" (JC)…

Foto: © Jorge Cabral (2006). Todos os direitos reservados [Com um grande abraço, "alfero Cabral",  e votos de boas melhoras]

Na minha consciência mora um padre da inquisição que me tem infernizado os dias e me tem privado de muita da alegria que a vida me podia proporcionar. Uma longa ditadura que tanto nós como os nossos pais sofremos encheu-nos a alma de fantasmas inquisidores. Ficamos destroçados por eles e por uma guerra noutro continente que nos caiu em cima e não procurámos.

Não vou julgar ninguém, estávamos todos deslocados, a muitos milhares de quilómetros da nossa terra numa idade em que não tínhamos a presença e as palavras da mãe, das irmãs, ou das namoradas para acalmar a nossa ansiedade.

Desculpo todos esses camaradas mais carentes ou saudosista do abraço e carinho de uma mulher, que conseguiram ter esse conforto tão importante para ajudar a suportar esses dias de desolação e pesadelo. Sobre as consequências desses actos já me pronunciei . Sem querer fazer julgamentos sumários, já que não sou juiz, nem padre de qualquer religião, um dia poderei dar uma opinião mais extensa do que a que já dei . Hoje acho que já basta, para qualquer camarada que tenha a paciência de me ler.

Um abraço, Francisco Baptista
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Notas do editor:


(...) E o Amor, existiu? Não falo de mulheres grandes a partir catota, nem de bajudas a partir punho, e muito menos das rápidas e alcoolizadas visitas às casas de prazer, para... mudar o óleo. Amor mesmo, paixão, dele para ela, dela para ele. Difícil, raro, mas aconteceu. (...)

domingo, 14 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14745: Fotos à procura de... uma legenda (54): Marchas populares, marchas militares, tropa-fandanga, tropa-macaca... Qual a diferença ?




Vídeo  (1' 15''), alojado em You Tube > Luís Graça




Vídeo (1' 16''), alojado em You Tube > Luís Graça




Vídeo (0' 58''), alojado em You Tube > Luís Graça


Foto nº 1 


Foto nº 2


Foto nº 3
 

Foto nº 4





Foto nº 5


Foto nº 6


Foto nº 7


Foto nº 8


Foto nº 9


Foto nº 10


Foto nº 11


Foto nº 12


Foto nº 13


Foto nº 14

Lisboa > Av da Liberdade > Noite de 12 para 13 de junho de 2015 > Desfile das marchas populares de Lisboa...


Fotos (e vídeos): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados


1. Confesso que, em 40 anos, a viver e a trabalhar em Lisboa, foi a primeira vez que tive ocasião de assistir, horas a fio, a um desfile destes... Para mais, sentado no chão... Fui acompanhar um casal de sobrinhos do norte, gente gaiteira...

Para não me aborrecer, levei a máquina fotográfica, fiz vídeos e fotos... E depois até me consegui divertir um pouco com as bocas brejeiras e "sexistas", sobretudo,  delas, as mulheres, da assistência, gente popular dos bairros populares de Lisboa que ainda teimam em sobreviver, em Lisboa: "Ai faneca, comia-te todo!"; "A sardinha é liiiiiinda!"; "A tua sardinha é boa, mas ainda melhor é o meu carapau";  "Ai, querido, que vais tão lindo"; "Alfama é que é!"; "Oh!, cameraman, vira o coiso pra cá que a gente também somos filhos de Deus!"...

De regresso a casa por volta da uma e tal da noite, depois de me ter perdido do meu  grupo (, que a confusão era muita, com manga de turistas à mistura!), e visionar as fotos, comecei a pensar na possível relação entre marchas (militares e populares) e expressões como "tropa-fandanga" e "tropa-macaca" (*)...

Os seres humanos "adoram" tanto a "festa" como a "guerra"... E sobretudo precisam da "festa" depois da "guerra"... Sei que a cerveja esgotou na avenida da Liberdade... À uma e tal, quando o exército dos "almeidas" (os "jagudis" de Lisboa), num ápice varreram e  limparam a avenida e as laterais,  de alto a baixo, tive que me contentar com um copo de sangria... E se eu já a merecia uma "bejeca"!

Fica aqui o desafio para o leitor para legendar as fotos, à escolha (**)... se tiver humor e pachorra! Aqui vai uma ajudinha, socorrendo-me da "sabedoria" dos provérbios populares:

"Folguemos enquanto podemos, que noutra hora choraremos" ou "Enchida a pança, vamos à dança"...Ou ainda: "Em mulher de Alfama, homem do mar e relógio das Chagas, pouco há que fiar",,, Ou mas eu adoro é aquele provérbio que garante: "Em Lisboa, nem sangria má nem purga boa"... Também gosto deste: "Se não é no baile que se emprenha, é lá que se engenha".. E deste: "O soldado paga com sangue a fama do capitão"... É verdade em todas as guerras, e foi verdade na Guiné...

E já que o Santo António de Lisboa dá para a brejeirice, tomem lá mais este (que também tem a ver com tropa): "Matrimónio, praça sitiada: os de fora querem entrar, os de dentro querem sair"... Mas não percamos o fio à meada: o mote é mesmo "marchas (populares e militares), tropa-fandanga e tropa-macaca... No meio de tudo isto, fica o povo, que é quem mais... ordenha! (porque ordenar, ordenar, ordena pouco ou nada!, hoje como ontem...). O povo que é que mais... ordenha!,,, E quem mais marcha!... (Sempre foi assim, não foi ?!).

2. Estamos a falar da 83.ª edição das Marchas Populares de Lisboa, que contou com 20 marchas em competição e duas fora de concurso (A Voz do Operário e a dos Mercados) a descerem, como é da tradição,  a Avenida da Liberdade. Vi, na Net, horas depois,  que o bairro do Alto da Pina foi a marcha vencedora... . O segundo e o terceiro lugares foram atribuídos às marchas de Alfama e de  Alcântara, respetivamente.

Coisa que eu não sabia:  as marchas populares de Lisboa são avaliadas numa escala de 0 a 20 pontos em dois momentos, no MEO Arena, e no desfile na Avenida da Liberdade, nas categorias de Coreografia, Cenografia, Figurino, Melhor Letra, Musicalidade, Melhor Composição Original e Desfile,

Por categorias, o Alto do Pina levou ainda para casa o título de melhor figurino e melhor desfile da Avenida. Já a marcha de Alfama venceu nas categorias de melhor musicalidade, melhor composição original, com "Marinheiro de Alfama", e melhor coreografia, neste caso ex-aequo com a marcha da Madragoa. Alcântara venceu na cenografia e a marcha de São Vicente conquistou o título de melhor letra. E para o ano há mais!...

Este ano, as marchas em concurso foram as seguintes: Bela Flor, Mouraria, Santa Engrácia, Marvila, Alfama, Graça, São Domingos de Benfica, Carnide, Madragoa, Benfica, Bica, Alcântara, Bairro Alto, São Vicente, Olivais, Baixa, Lumiar, Alto do Pina, Beato e Ajuda. Como convidados, desfilaram também, na  Avenida da Liberdade,   o Agrupamento de Macau, a Marcha Popular de Faro, a Marcha da Madeira e o Agrupamento CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (de que não tenho infelizmente fotos)... Desfilaram ainda os gloriosos 32 noivos de Santo António.

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Notas do editor:

(*) Origem da expressão "tropa-fandanga".... Recorro ao incontornável Ciberdúvidas da Língua Portuguesa ("espaço de esclarecimento, informação, reflexão e promoção do idioma oficial dos países integrantes da CPLP, via Internet"):

"O termo tropa-fandanga é formado de duas palavras: o substantivo tropa e o adjetivo fandanga.

"Tropa é um termo oriundo do francês troupe, redução de 'troupeau', «rebanho» (final do séc. XII), provavelmente do latim 'turba', «multidão em desordem ou movimento». Começou por designar um bando de animais e uma grande quantidade de pessoas juntas, uma multidão. No século XV, já a palavra era utilizada como designação de conjunto de homens de armas: este significado permanece, coexistindo, ao longo dos séculos, com o de grande quantidade de pessoas. No plural (as tropas), o termo passa a designar essencialmente os corpos militares que compõem o exército, o próprio exército, enquanto no singular tem várias acepções, da qual importa aqui a de «bando, multidão». Por curiosidade, refira-se que esta palavra é da família de trupe (tem a mesma etimologia), que significa conjunto de artistas, de comediantes, de pessoas que atuam em conjunto e, ainda, na gíria coimbrã, um grupo de estudantes trajados dispostos a exercer a praxe.

"A palavra fandanga é a forma feminina do adjetivo fandango, formado do substantivo que designa a conhecida dança popular sapateada, termo este que entra em Portugal, vindo de Espanha, apenas no século XVIII. Pela conjugação da vivacidade da música, do ritmo, do barulho provocado pela dança e dos que nela participavam, o substantivo fandango passa a ser usado, em sentido figurado, na acepção de «balbúrdia». Surge, então, o adjetivo fandango, com o significado de «ordinário», «desprezível», «caricato», registado em dicionários portugueses no início do século XX.

"Cria-se, assim, o termo tropa-fandanga, que significa gente desordenada, indisciplinada, grupo de pessoas que não merecem consideração, gente desprezível.

"Maria Regina Rocha 2 de julho de 2013". [Reproduzido com a devida vénia].



(**) Último poste da série > 3 de junho de  2015 > Guiné 63/74 - P14693: Fotos à procura de... uma legenda (53): Ou le(ge)ndas e narrativas.. à procura de fotos (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P14744: Libertando-me (Tony Borié) (21): Glória, a quem chamavam Lola e às vezes Ruça (2)

Vigésimo primeiro episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66.




Glória, Lola, a Ruça (2)

Hoje andamos de bicicleta, passámos pela praia, não vimos a Glória, a quem também chamavam “Lola” e, às vezes, “Ruça”, mas vamos continuar com a sua história, cá vai.

Os anos foram passando, a Glória, que também era a “Lola” e às vezes a “Ruça”, frequentou a escola primária de Castanheira do Vouga, vindo fazer o exame de segundo grau na escola de Águeda, onde obteve a classificação de quinze valores, já estava crescida, começou a ficar com uns peitos saídos, umas ancas largas, as pernas altas, as feições da cara modificaram-se, os lábios carnudos e rosados, o cabelo comprido com as tais madeixas louras, os vestidos já lhe eram curtos, quase toda a sua roupa lhe era curta, estava uma rapariga bonita.

Os rapazes na aldeia diziam:
- A “Ruça”, está boa como milho!

O pai Aniceto, quando ouvia isto, corria com um pau atrás dos rapazes, dizendo:
- “Ruça”, é a burra da tua mãe!

Quase todos os rapazes andavam de olho nela, ela não prestava atenção a nenhum, excepto ao Jorge, filho do ferreiro. O Jorge era mais velho do que ela uns meses, era um rapaz franzino, um pouco envergonhado, não convivia muito com os outros rapazes, pois ajudava o pai, o senhor Silvestre, na forja e, mais tarde, era ele que fazia as contas da oficina de ferreiro, eram só dois filhos, ele e uma irmã mais nova que tinha vindo mais tarde. Andou na escola com a Glória, ficava triste e, às vezes, até se envolvia com os outros rapazes, quando estes lhe chamavam “Ruça”. Não se importava muito que lhe chamassem “Lola”, até gostava, mas “Ruça”, isso não, ficava com alguma fúria e, quando se envolvia com alguém, perdia sempre, acabava por andar sempre com marcas na cara e no corpo, era por isso que não convivia com muitos dos rapazes da sua idade.

Quando se aproximava da Glória, ficava um pouco embaraçado, mas assim que começasse a falar com ela, todo o receio desaparecia, sentia-se muito bem na companhia dela, e ele percebia que a Glória também largava tudo para estar com ele. Iam-se vendo um ao outro, até que certo dia, ela lhe disse:
- Oh Jorge, nós gostamos tanto um do outro, temos que começar a namorar.

Ele, nem a deixou acabar de falar, disse, com o ar mais feliz do mundo:
- Oh Glória, pois tu, já és a minha namorada há muitos anos, não sei se já percebeste, pois eu sinto muitos ciúmes quando algum rapaz olha para ti.

Ela, com ar também feliz, dá-lhe um beijo na face, o que o fez corar. Passaram a ser namorados, a partir dessa altura, aprenderam um com o outro todos os segredos do amor. Tanto o pai Aniceto, como o senhor Silvestre, viram este namoro com bons olhos, só a mãe Madalena, é que ficou um pouco furiosa, pois via que ia perder a “mãe” dos seus filhos. Não perdia oportunidade para a repreender, e às vezes até a ameaçava com pancada se ela perdia tempo a falar com o Jorge e, deste modo, alguma tarefa ficava para trás, noutras palavras, fazia-lhe a vida negra.

Os irmãos, alguns já tinham saído da escola, continuavam a ver na Glória, a sua mãe, chamavam-lhe “Lola”, portanto ajudavam-na, e diziam-lhe:
- Oh “Lola”, vai namorar, que nós fazemos todas as tuas tarefas.

A Glória ficava algumas horas na conversa com o Jorge, o Aniceto e a Madalena, talvez preocupados, com a lida da lavoura, em arranjar o dinheiro para todas as despesas, mais o compromisso do pagamento aos senhores donos das terras que eles cultivavam, não reparavam que a Glória, já crescida, precisava de roupa nova e melhor. Como era a única rapariga na família, pois o último irmão também nasceu rapaz, era a que vestia diferente, alguma roupa que crescia da mãe, uns vestiditos de chita, umas camisolitas e uns sapatitos de lona, comprados na feira, que ao sábado se realizava na vila de Águeda, lá ia andando, ninguém reparava, que como a roupa lhe ia ficando mais curta, mais sobressaíam as virtudes que o criador lhe tinha dado, em outras palavras, quanto menos roupa tinha, mais jeitosa era à vista de todos.


Mas os pais tinham mais com que se preocupar, a Glória estava em casa para trabalhar e tomar conta dos irmãos, era como se fosse um objecto da casa, daquele sistema implantado desde sempre. O senhor Silvestre, preocupado com o futuro do seu filho Jorge, certo dia vem à fala com o Aniceto e diz-lhe: 

Oh Aniceto, temos que casar os garotos. O meu Jorge já está próximo da idade de ir “às sortes”, queria ver se o livrava da tropa, pois se for militar vai acabar na guerra do ultramar, e isso nunca vai acontecer, pelo menos enquanto eu for vivo.

Toda a gente no lugar sabia que o senhor Silvestre era “do contra”, não gostava do regime, uma certa vez até foi interrogado pela polícia do estado. Ele, como sabia as dificuldades do filho Jorge, franzino, pouco corajoso, mas com alguma inteligência, pois sabia de números, até lhe tratava das contas da oficina, na companhia da Glória iria ser outro homem.

A Glória era trabalhadeira, habituada a sacrifícios, criou os irmãos, vestia qualquer roupa, respondia aos rapazes da aldeia, quando lhe atiravam algum piropo mais atrevido, dizia:
- Vai dizer isso à tua irmã, cabrão!

A Glória era assim, desenvolta, activa e habituada a andar descalça, a acudir aos pedidos e choros dos irmãos, enfim habituada a sofrer. Tinha sido criada no meio de dificuldades, ela nem sabia o outro lado bom da vida, tudo isto era normal para ela. Na aldeia dizia-se:
- A “Ruça” vai ser uma mulher de armas!

O senhor Silvestre, pai do Jorge, também era um homem de trabalho, tinha algumas economias, tinha na ideia casar o filho e mandá-lo para fora do país, para fugir ao serviço militar, tinha alguns contactos e conhecimentos na vila, dos “amigos do contra”. A ideia era casar o filho, e com a desculpa da “lua de mel”, metê-los num avião para o México, mais propriamente para a colónia de férias de Acapulco. Daí, com os seus contactos, iriam atravessar a fronteira, clandestinos, para o outro lado, ou seja para os Estados Unidos. Este plano já tinha funcionado com algumas famílias “do contra”, portanto também iria funcionar com o seu filho Jorge e a sua futura esposa Glória, a quem também chamavam “Lola” e, às vezes, “Ruça”.

(Continua)

Tony Borie, Junho de 2015.
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14710: Libertando-me (Tony Borié) (20): Glória, a quem chamavam Lola e às vezes Ruça (1)

Guiné 63/74 - P14743: Parabéns a você (920): Francisco Silva, ex-Alf Mil Art da CART 3492 e Pel Caç Nat 51 (Guiné, 1971/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 10 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14724: Parabéns a você (919): Alcides Silva, ex-1.º Cabo Estofador do BART 2913 (Guiné, 1967/69)

sábado, 13 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14742: (Ex)citações (281): Sexo em tempo de guerra... O ponto de vista de um ex-capelão (Mário S. de Oliveira)

1. Mensagem de Mário de Oliveira, nosso grã-tabanqueiro,  mais conhecido como Padre Mário da Lixa), é um  dos nososs conhecidos capelães que fizeram a guerra colonial  devido aos seus problemas com o Exército, a PIDE/DGS e a hierarquia da Igreja [, foto atual à direita].

Foi alf mil capelão, CCS/BCAÇ 1912, Mansoa, entre novembro de 1967 e em março 1968; vive no concelho de Felgueiras; foi jornalista e  autor de vasta obra de reflexão espiritual e teológica. O seu último, "Fátima, S.A." mereveu destaque no "Expresso". (*)

De: Mario de Oliveira

Data: 5 de junho de 2015 às 20:57

Assunto: (Ex)citações...

Oh raio...o "pessoal" afina logo á primeira, se calhar sem aprofundar bem o simbolismo da questão. Aqui, no meu ponto, ninguém tem que se envergonhar de nada porque...era a própria política "colonialista" de uma "colonização manca"​ - falta de efetivos humanos para colonizar - que incentivava a interligação do homem branco com a mulher africana, na intenção de que (segundo D. Carlos e outros), o novo ser vivo que acaso viesse ao mundo dessa "interligação" passasse a ser o chefe de posto/cipaio/fiscal/chefe de a, b, c, dependências governamentais, para colmatar a falta de "minhotos, transmontanos, beirões (como eu), tudo na procura de "popular" os locais onde acaso tivessem assentado pé.

Ironicamente, a interligação, não comtemplava a interligação entre "a mulher branca" e o africano. Aqui, é que assenta o fulcro da questão.

No aspeto pessoal de cada quem, cada um dos intervenientes terá que ter na sua consciência a sua ligação com as africanas. Houve e há muitos que o fizeram "honestamente" por se terem assimilado-convivido com as mulheres africana em questão e, a estes, só e de louvar porque constituíram uma família.

Mas, não duvido absolutamente nada, que outros o fizeram por necessidade fisiológica e, quiçá, de uma forma pouco respeitosa. Cada um que tenha o seu descargo de consciência mas envergonhar-se...seria errado. Arrepender-se talvez fosse mais aconselhável. (**)


Abraço a todos.

Máio S. de Oliveira

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Notas do editor:

(*)  Sobre o último livbro,m "Fátima", o nosso camarada escreveu-nos o seguinte, em mensagem de 5 do corrente:

Olá, camarada Luís Graça:
Tomo a liberdade de te fazer chegar esta informação:

A PROPÓSITO DE FÁTIMA S.A.

Saiu em meados de Maio 2015 e, até agora, só eu já despachei pelos CTT quase 200 exemplares para outras tantas pessoas que se me dirigiram interessadas na sua aquisição. A 2.ª edição sai agora, na 2ª semana de Junho. Até o grupo Leya já se rendeu ao Livro e faz encomendas à pequena Editora do Livro, Seda Publicações.

Na minha qualidade de presbítero-jornalista, "viajei" por dentro dos Documentos oficiais disponibilizados pelo Santuário de Fátima e pude ficar a conhecer todo o “segredo” de Fátima, desde 1917 até aos nossos dias. O resultado desta minha investigação é este Livro de 288 pgs, 14 capítulos

Cada exemplar fica por 17€ + 2,35€ de portes de correio. Poderei suportar os portes, se assim entenderem. Enviem-me o v/ endereço postal e o Livro vai ter a vossa casa, autografado por mim. Depois, fazem a transferência bancária para o NIB da m/ conta-reforma: 0007 0000 0077 5184 2312 3. 

Os meus direitos de Autor são integralmente para o Barracão de Cultura. Espero as v/ encomendas. Não se arrependerão. 

O meu abraço, Mário.

Guiné 63/74 - P14741: Os nossos seres, saberes e lazeres (100): Passeio turístico a Sanxenxo (Galiza) promovido pelo Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes (Carlos Vinhal)

Foto de família com os combatentes, seus familiares e amigos

No passado fim de semana de 6 e 7 de Junho, o Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes organizou e proporcionou,  aos seus sócios e amigos, um passeio até à nossa vizinha Galiza, Região de Espanha onde os portugueses se sentem como em casa.

Do acontecimento aqui se deixa um texto elaborado pelo Núcleo.


Passeio turístico a Sanxenxo

06 e 07 JUN2015

O Núcleo da Liga de Combatentes de Matosinhos realizou um passeio turístico a Sanxenxo nos dias 6 e 7 com um grupo de 25 sócios e familiares, de acordo com o seu plano de atividades para o corrente ano.

A concentração dos participantes foi em frente ao Regimento de Transmissões e deu-se início à viagem, num confortável autopullman, pelas 10h00 com destino a Sanxenxo, tendo a chegada ao Hotel Ribeiro de *** na Playa das Areas acontecido pelas 12h30, onde foi servido um almoço buffet.

No interior do autocarro reinava a boa disposição

Pelas 15H30 realizou-se o passeio de barco pela Ria Arosa, acompanhado de apresentação por guia local que nos mostrou as explorações marisqueiras, observação do fundo marinho e fauna local, finalizando este longo e agradável passeio com uma degustação de mexilhões, camarões e vinho acompanhado de música e, na altura da saída do barco, ouviu-se o nosso Hino Nacional.

 Este catamaran esteve reservado exclusivamente ao nosso grupo

 Um dos viveiros de marisco da Ria de Arosa

No cais, após o desembarque, a foto de família exclusivamente masculina

Seguiu-se uma visita à ilha de La Toja, conhecida pelas suas paisagens paradisíacas, pela sua fábrica de sabonetes e cosméticos feitos com água mineral da zona e pela Capela de San Caralampio, vulgarmente conhecida pela Capela das Conchas.

 Capela de San Caralampio revestida exteriormente por conchas

Um pormenor da parede exterior da Capela
Foto: © Carlos Vinhal

A tarde terminou com a ida de alguns sócios a banhos dados os 31 graus registados, seguindo-se o jantar – uma mariscada - que se iniciou pelas 21h00 e que se revelou, pela quantidade e qualidade do marisco, uma prova difícil de terminar, mesmo para os mais resistentes nestas lides.





Sem comentários

Este 1.º dia não poderia terminar da melhor maneira, assistindo-se a uma tradicional queimada galega levada a efeito por dois cidadãos galegos num ritual de purificação para queimar os males todos das vidas dos que estavam presentes banindo bruxas, diabos, maus olhados e afins seguido de baile que terminou já noite dentro.

Queimada galega
Foto: © Carlos Vinhal

A leitura da oração contra todos os males

 A animação é bem visível, principalmente entre as senhoras

No 2.º dia, já restabelecidos do esforço físico e digestivo do dia anterior, realizou-se da parte da manhã uma visita a Sanxenxo que se encontrava em preparativos para a procissão local do Dia do Corpo de Deus e onde se destaca a sua conhecida e aprazível praia.

 Vista de uma das praias de Sanxenxo

Em Dia de Corpo de Deus davam-se os últimos retoques nos tapetes para a Procissão

Depois do almoço no Hotel iniciou-se a viagem de regresso a Portugal com paragem e visita à bonita e pitoresca vila piscatória de Combarro.


Dois aspectos de Combarro

Este tipo de atividade, realizada pelo Núcleo pela primeira vez, caracterizou-se por momentos muito agradáveis de boa-disposição e de convívio num revitalizante fim de semana cheio de alegria e radioso sol.

Todos estavam felizes e cooperantes e foi motivo de referência o extenuante e esclarecedor trabalho do vogal da Direção, Sargento Ajudante Osório, na sua função de “guia” e a forma simpática e hospitaleira revelada pelos funcionários do hotel que inclusive fizeram questão de a demonstrar por escrito à entrada do hotel: “portugueses irmãos dos galegos – benvindos”.

Texto: Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes
Fotos: Núcleode Matosinhos e Carlos Vinhal
Legendas: Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14726: Os nossos seres, saberes e lazeres (99): Tomar à la minuta (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P14740: O cruzeiro das nossas vidas (22): A viagem no Alenquer, a chegada, o desembarque e o rumo ao destino (José Martins)

1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 3 de Junho de 2015, falando-nos desta vez da chegada a Bissau.

Meus amigos
Depois da Partida, eis que chega a Chegada (passe o pleonasmo).
Faz 47 anos que pisei aquela que é, para nós, a segunda pátria.
No próximo dia 10, fará 45 anos do regresso definitivo.

Abraço
Zé Martins


A CHEGADA

Dos doze passageiros que embarcaram no Alenquer, apenas três eram milicianos. Os restantes, os marinheiros e um furriel enfermeiro, eram do quadro permanente.

A viagem foi tranquila, pois despojados das fardas, que foram encerradas nos armários até ao dia do desembarque, todos vestíamos roupas civis. O próprio fardamento da tripulação, nada tinha a ver com o rigor militar.

Dado o reduzido número de passageiros, até o aviso de que as refeições iam ser servidas, era transmitido pessoalmente no convés, ou, quando caso disso, com pancadas leves na porta dos alojamentos.

Calmamente, com a calma que o mar transmite, fomos passando os dias em que foram sendo percorridas as milhas náuticas que nos separavam de África, até que, na manhã de 3 de Junho [ano de 1968], as máquinas reduziram a pressão e o barco ancorou ao largo de Bissau. Era uma Segunda-feira.

Ponte-cais, Bissau. Em primeiro, vê-se o monumento a Diogo Cão. 
Bilhete-postal, colecção "Guiné Portuguesa, 110". © Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte - Publicações e Artes Gráficas, SARL. Colecção: Agostinho Gaspar / Digitalizações: Luís Graça & Camaradas da Guiné 2010.

Lá longe, no cais, havia um grande vaivém de pessoas e barcos. Já não era o dia de “São Vapor” de que nos fala Amândio César no seu livro Guiné 1965 – Contra Ataque, assim era chamado o dia em que atracava um barco ao porto, fazendo com que a população se deslocasse até lá.

Ao largo, assim que começaram a descer as LDM – Lanchas de Desembarque Médio – houve um autêntico enxame de pequenas embarcações, movidas a motor ou a remos, em torno das mesmas a oferecer a venda de serviços ou comida tradicional. A tripulação que descera já dentro das lanchas, ia assumir de imediato a sua missão deslocando-se para o cais militar. Abandonaram aquela zona entre acenos despedidas e votos de boa sorte.
Mesmo nas vindas a Bissau, de férias ou em serviço, nunca mais voltei a encontrar estes companheiros de viagem. A Guiné é pequena, mas as coisas nunca estão ali à mão.

No porto do rio Geba, em Bissau, a chegada e a partida de embarcações era banal que o Alenquer teve de aguardar, ao largo, autorização e espaço no cais para poder atracar.

A acostagem só se efectuou perto da hora de jantar.
O Imediato veio informar-nos que, a partir daquele momento, a viagem tinha terminado. No entanto, como já era tarde, aconselhava-nos a pernoitar no barco, porque sendo já tarde, era muito difícil arranjar acomodações militares ou mesmo civis. Mais! Como iam demorar cerca de dois dias com as operações de descarga do navio, podíamos continuar alojados no mesmo, como convidados, devendo, no entanto, providenciar a nossa instalação futura.

Antes de jantar fomos a terra. Queríamos começar a conhecer a terra, mas também, tomar algo de fresco, porque o calor, mesmo para os que já lá estavam há algum tempo, era, digamos, insuportável. Andando e observando a cidade fomos dar ao Café Bento, conhecido pela “5.ª Repartição do QG”, uma vez que se encontrava sempre, a qualquer hora, repleto de militares em passagem por Bissau, quer na ida ou regresso de férias, quer por se encontrarem em consulta externa no Hospital Militar ou ainda a aguardar colocação.

Nos cafés a lista dos serviços que ofereciam, das bebidas aos tabacos, eram quase iguais às que oferecia qualquer café da metrópole. A diferença era no preço: a moeda local, o Peso, não tinha centavos ou pelo menos não circulavam, sendo o arredondamento efectuado, quase sempre, para a unidade inferior, o que naquela altura representava algum benefício.
As notas emitidas na metrópole eram sempre muito bem recebidas, já que tinham um valor acrescido de dez por cento. Às moedas já não lhes atribuíam qualquer mais valia.

No dia seguinte, segunda-feira, apresentamo-nos no Quartel-General do CTIG, em Santa Luzia, ficando a aguardar transporte para as respectivas unidades. Tínhamos o tempo todo livre, mas teríamos de nos apresentar, todos os dias, no Serviço de Pessoal do QG, a fim de sabermos quando e de que forma seria efectuado esse transporte para as nossa unidades.

Nesse mesmo dia, Terça-Feira dia 4 de Junho, durante o almoço a bordo do Alenquer, o imediato veio falar connosco, informando-nos que a descarga do navio estava a ser mais rápida do que o previsto. Seria aconselhável, para nós que, o jantar e a pernoita, fossem efectuadas já em terra, uma vez que tudo indicava que largassem ainda durante a madrugada do dia seguinte.

Terminada a refeição fomos apresentar, ao comandante e tripulação do navio, as nossas despedidas e sobretudo, agradecer a forma amável e distinta com que nos tinham tratado desde que a saída de Lisboa. Depois lá rumámos em direcção aos alojamentos destinados aos sargentos no Quartel-General em Santa Luzia, a escassos quilómetros da cidade.

Como era de prever, e isso mesmo já tínhamos constatado, o local, apesar de limpo e arejado, era o protótipo de local de passagem. As camas não dispunham de roupa nem havia qualquer local onde se pudesse requisitar material de aquartelamento.
Acomodamo-nos o melhor possível para passar a noite, não sem antes termos visitado o bar de sargentos, para o que já começava a ser habitual: tomar uma qualquer bebida fresca.

No dia seguinte, após passagem pelo Serviço de Pessoal para cumprimento das instruções recebidas, e não havendo qualquer previsão de transporte para os nossos destinos, como que impulsionados por uma mola dirigimo-nos ao cais.

Navio de carga "Alenquer" - Armador: Sociedade Geral do Comércio, Indústria e Transportes - Lisboa
Com a devida vénia a Navios Mercantes Portugueses

Surpresa... tristeza... desilusão... O Alenquer já não estava nem no porto nem se avistava no estuário. Já tinha partido.

O desalento foi total. Foi como se nos tivessem cortado o cordão umbilical, que nos ligava à metrópole. Dias depois cada um seguiu o seu rumo, que, acaso do destino, ficava quase nos vértices do triângulo que a província formava: Nova Lamego, Bedanda e Farim.

José Martins
14/JULHO/2000
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14672: O cruzeiro das nossas vidas (21): Os últimos dias, a família, os amigos e finalmente o embarque, em 28/5/1968 (José Martins)