terça-feira, 4 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16557: Efemérides (237): Cerimónia de homenagem ao Combatente José Manuel Tomé, falecido na Guerra do Ultramar, e aos Combatentes da Freguesia da Senhora da Hora, a levar a efeito no próximo dia 8 de Outubro de 2016 (Carlos Vinhal)

Senhora da Hora, 13 de Julho de 2013


C O N V I T E

CERIMÓNIA DE HOMENAGEM AO COMBATENTE FALECIDO NA GUERRA DO ULTRAMAR JOSÉ MANUEL TOMÉ E AOS COMBATENTES DA FREGUESIA DA SENHORA DA HORA


O Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes vai promover a cerimónia em colaboração com a União das Freguesias de S. Mamede de Infesta e Senhora da Hora, que terá lugar no próximo dia 08OUT2016 (sábado), com o seguinte programa: 

10H30 - No edifício da União das Freguesias - Senhora da Hora, hastear da Bandeira Nacional e Hino Nacional cantado pelo Grupo Coral do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes. 

10H45 - Deslocação dos participantes para a Rotunda do Combatente onde convergem as ruas do Sobreiro, da Estação Velha e dos 4 Caminhos. 

11H00 - Início da cerimónia militar: 
- Toque de Sentido; 
- Leitura em voz alta do nome do combatente José Manuel Tomé, falecido na Guerra do Ultramar - Guiné, 9 de Dezembro de 1971; 
- Deposição de coroa de flores; 
- Toque de Silêncio; 
- Toque de Homenagem aos Mortos; 
- Minuto de Silêncio e cântico de salmo pelo Grupo Coral do Núcleo; 
- Evocação religiosa; - Toque de Alvorada; - Toque a Descansar; 
- Alocuções alusivas ao ato pelo Presidente do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, Tenente Coronel Armando Costa, pelo Presidente da Assembleia de Freguesia, Sr. Fernando Santos e pelo Presidente da Câmara Municipal, Dr. Guilherme Pinto; - Descerramento de placa alusiva ao evento; - Grupo Coral do Núcleo canta o Hino da Liga dos Combatentes; 
- Fim da cerimónia. 

11H45 - Porto de Honra com todos os participantes no edifício da União das Freguesias - Senhora da Hora e visita à exposição de pintura do sócio combatente do Núcleo, Major de Artilharia Simões Duarte.

Matosinhos, 12 de Setembro de 2016 

O PRESIDENTE 
Armando José Ribeiro da Costa 
Tenente Coronel
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16529: Efemérides (236): No passado dia 25 de Abril de 2016 foi inaugurado um Monumento, mandado erigir pelo Município de Armamar, homenageando os Combatentes da Guerra do Ultramar (José Firmino)

Guiné 63/74 - P16556: Blogues da nossa blogosfera (74): Exército Português: Recrutamento


Página de rosto do sítio do Exército Português - Recrutamento.  Também disponível no Facebook.




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Guiné 63/74 - P16555: Memória dos lugares (347): Monumento aos combatentes do ultramar, freguesia da Piedade, concelho de Lajes do Pico, ilha do Pico, Açores (Adelaide Barata Carrêlo)





Açores > Ilha do Pico > Lajes do Pico > Piedade > 2016 > Monumento aos combatentes do ultramar

Fotos: © Adelaide Barata Carrêlo (2016) Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem, de 23 de setembro p.p., da nossa 
amiga Adelaide [Barata] Carrêlo


Olá, Luís,

Passei pela Ilha do Pico estas férias, e como em todo o lado encontramos "raízes", no meio do nada encontrei um memorial aos Combatentes do Ultramar, na Freguesia da Piedade.

Numa pedra de basalto ficou a memória de heróis que não voltaram a sentir a brisa de um mar imenso e desta ilha única.

Mas enquanto falarmos deles, eles estarão connosco.

Um abraço
Adelaide Carrêlo


2.  Comentário do editor:

Obrigado, Adelaide, pela fotos e comentário. Os nossos camaradas dos Açores nunca serão esquecidas, mesmo que a gente fale deles menos do que eles merecem... Em todo o caso, este monumento parece-nos conter todos os nomes dos filhos, não do concelho de Lajes do Pico que fizeram a guerra do ultramar, incluindo os que lá morreram, mas apenas os da freguesia da Piedade (uma das seis freguesias).

 A ilha do Pico, que hoje tem c. de 4700 (censo de 2011) habitantes também pagou o seu "imposto de sangue", dez dos seus filhos morreram na guerra do ultramar / guerra colonial, 2 na Guiné, 3 em Angola e os restantes (5) em Moçambique. Os dois camaradas que morreram na Guiné não constam desta lista: Gabriel Pereira Bagaço e João Humberto Nunes Ávila.

Em 1960, o município tinha c. de 8200 habitantes, foi perdendo população por via da emigração e do envelhecimento.

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Nota do editor:

Último poste da série > 17 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16497: Memória dos lugares (346): Em abril de 1963, eu fui, com uma secção, de Taibatá (subsetor do Xime) até Satecuta (subsetor do Xitole), atravessando a mata do Fiofioli, e falei com o chefe e a população da tabanca de Satecuta, espantados por nos ver... Regressei pelo mesmo caminho, a tempo de almoçar a Taibatá... (Alcídio Marinho, ex-fur mil, CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65)

Guiné 63/74 - P16554: Parabéns a você (1142): Artur Conceição, ex-Soldado TRMS da CART 730 (Guiné, 1965/67) e Inácio Silva, ex-1.º Cabo Apont de AP da CART 2732 (Guiné, 1970/42)


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Nota do editor;

Último poste da série de > 3 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16550: Parabéns a você (1141): Cor Carlos Alberto Prata, ex-Capitão, CMDT das CCAÇ 4544/73 e CCAÇ 13 (Guiné, 1973/74) e Hélder Valério Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF (Guiné, 1972/74)

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16553: Em busca de... (272): Major inf (hoje possivelmente cor inf ref) Carlos Graciano de Oliveira Gordalina... O meu pai, antigo fuzileiro do DFE 12, encontrou há anos umas tábuas de madeira exótica (talvez alguns salvados) com o seu nome pintado a branco... Sabemos que este oficial foi secretário da direção da Liga da Multissecular Amizade Portugal - China, em 2011/14 (Rui Ribolhos)



1. Mensagem do nosso leitor Rui Ribolhos, com data de 21 de setembro passado:

 Caro Senhor,

Parabéns pelo vosso Blog! Sou filho de combatente e deparei-me com o vosso blog, quando procurava um nome de oficial.

No vosso Blog de terça-feira, 5 de janeiro de 2010 com o título Guiné 63/74 – P5595: Fichas de Unidades (6): COP 4 - Comando Operacional nº 4 (José Martins),  aparece o nome Major de Infantaria Carlos Graciano de Oliveira Gordalina.

Como posso entrar em contacto com este oficial, ou familiar? O seu número mecanográfico  era 51396011.

Agradecia qualquer ajuda ou alguma pista onde posso ir à procura.

Os melhores cumprimentos continuação de bom trabalho.

Rui Filipe

2. Esclarecimento do nosso colaborador permanente José Martins, com data de 23 de setembro p. p.:

Bom dia Luís e Carlos:

Esta malta mais nova, como aconteceu conosco, está na idade em que "tudo é eterno".

Há muita malta do nosso tempo, alguns um pouco mais velhos, ou já partiram ou já passam dos 70 ou 80 anos. Porém alguns ainda andam (?) por cá.

Quanto ao nosso consulente, sugiro que tente contactar   a Liga da Multissecular Amizade Portugal - China, da qual o militar procurado, Carlos Graciano de Oliveira Gordalina, foi secretário da direção de 2011 a 2014.

Desejo sorte na procura deste nosso camarada.

Para vós um abraço e desejos de um bom fim de semana.
Zé Martins

3. Nova mensagem de Rui Ribolhos , a quem foi dada esta informação do nosso Zé Martins:
Data: 23 de setembro de 2016 às 14:37
Assunto: Em busca de oficial

Caro Senhor Luís Graça,

O meu maior agradecimento pela preciosa ajuda. Já enviei mail para a dita liga e aguardo agora resposta.

A busca por este oficial prende-se com as coincidências desta vida. O meu pai foi Fuzileiro Especial na Guiné (DFE 12). Num dos seus passeios habituais pela zona em busca de madeira para usar no assador, encontrou algumas tábuas de madeira.

Como carpinteiro de paixão, verificou tratarem-se de tábuas de madeira exótica e no ato de as revirar verificou que duas tinham pintado a letras brancas: MAJ. GORDALINA Nº MEC 51396011 D.G.A. (noutra surgia CAP. rasurado e depois MAJ.)

O meu pai reconheceu tratar-se de um possível camarada que havia enviado/recebido pertences durante a Guerra de ou para a Metrópole. Não pensando mais no assunto e recolhendo-as na sua garagem por lá ficaram algum tempo.

Em conversa com o meu pai pensamos que seria interessante entregar as ditas a seu dono/camarada, partindo do principio que não fora ele a ver-se livre delas para ter espaço em casa!! e acreditando nós que serviram de reaproveitamento das mesmas ao longo dos anos por outras pessoas.

Assim cheguei a si e agora veremos o desenlace desta pequena história.

Realmente pensei que já podia não estar entre nós, mas vamos ver!

Poder-se-ia pensar porquê dar-se a este trabalho? ... Mas penso que é uma forma de preservar a memória de uns e de todos.

Pode partilhar este mail com o resto dos camaradas de armas, se achar de interesse. Conto-lhe depois o resultado

Cumprimentos,
Rui
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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de agosto de  2016 > Guiné 63/74 - P16426: Em busca de... (271): José Manuel de Medeiros Barbosa, natural de (e residente em) Bafatá, meu camarada em Angola, radiotelegrafista, Lumege, 1972/74 (José Alexandre Barros Ferreira)

Guiné 63/74 - P16552: Notas de leitura (885): Rescaldo de uma ida à Feira da Ladra, 17/9/2016 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Setembro de 2016:

Queridos amigos,


Foi uma manhã em cheio, já nem falo de tralha avulsa como chávenas ou molduras, encontrei "Mar, Além Mar, Estudos e Ensaios" de Avelino Teixeira da Mota, publicados entre 1944 e 1947 e editados em 1972 pela junta de investigações do Ultramar, inclui trabalhos fundamentais deste grande mestre da historiografia guineense como é o caso da sua incontornável investigação sobre o descobrimento da Guiné.
V
erdadeira surpresa foi a brochura elaborada em 1969 sobre a Guiné alusiva ao Ano Internacional do Turismo Africano e onde se escreve, candidamente, que há excelentes oportunidades para investir na Guiné.
E continuamos a desfilar fotografias de uma determinada unidade militar que por ali andou entre 1959 e 1961, gozando as delícias da paz.

Um abraço do

Mário




Rescaldo de uma ida à Feira da Ladra, 17/9/2016

por Beja Santos


1969 foi o Ano Internacional do Turismo Africano e a Agência Geral do Ultramar produziu uma brochura alusiva, mostrando as atrações turísticas, comunicações, formalidades para a viagem, onde ficar, onde obter informações, não deixando de mencionar que a província tinha boas perspetivas para investimentos. Não resisto a mostrar-vos a praça Honório Barreto e um belo DS a introduzir um toque de vanguardismo; mais adiante temos o bar da Associação Comercial e Industrial de Bissau, projeto arquitetónico que foi muito acarinhado ao tempo e onde o pintor José Escada andou a trabalhar na decoração; e temos uma imagem da Praia das Escadinhas em Bubaque, seguramente estão ali militares e famílias a deliciar-se em águas tépidas.





Mais algumas fotografias referentes a uma unidade militar que andou pela Guiné entre 1959 e 1961. Impressiona a qualidade da fotografia, trata-se, como é óbvio, de imagens pacíficas, não se vislumbra mais do que curiosidade. Felizmente, as imagens têm datas e alguma explicação. Em 16 de Junho de 1960, temos uma gazela na granja, fica a incógnita se se tratará da Granja de Pessubé, onde trabalhou Amílcar Cabral de finais de 1952 a 1954. Nesse mesmo dia temos dois oficiais com poilões imponentes e escreve-se: “A. J. com o alferes Rui Cardoso junto de duas árvores tipo Guiné, perto da carreira de tiro nova”; estamos agora em Cacheu, a 2 de Fevereiro e diz a legenda que se experimenta remar numa canoa indígena junto ao cais fluvial de Cacheu; dias mais tarde, a 26 de Fevereiro, temos soldados brancos a piscarem à cana enquanto das mulheres indígenas passam por ali transportando garrafões de aguardente de cana; alguns dias antes, a 18, o fotógrafo está em Varela e regista um quadro pintado na sala de jantar do restaurante, menciona-se que a sala se encontra num alpendre género esplanada com largas vistas para o mar; e em 11 de Março temos a vista parcial do barco de guerra francês Le Bourguignon, ancorado no Pidjiquiti; e por último temos um jovem tenente a pôr a sua correspondência na caixa do correio. Subsistem dúvidas se este é o fotógrafo, é um jovem oficial que aparece em repetidas outras imagens, de um modo geral neutras e igualmente o jovem oficial guarda um ar tristonho, e veste um camuflado que, em rigor, não devia ter sido usado entre 1959 e 1961, na Guiné. Bom seria que alguém identificasse esta unidade militar, se bem que eu não escuse ir bater à porta do Arquivo Histórico-Militar.







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Nota do editor

Último poste da série de 30 de Setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16540: Notas de leitura (884): “Vozes de Abril na Descolonização”, a organização é de Ana Mouta Faria e Jorge Martins, edição do CEHC – Centro de Estudos de História Contemporânea do Instituto Universitário de Lisboa, 2014 - Testemunho de Carlos de Matos Gomes (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16551: Inquérito 'on line' (69): ... Os filhos dos ricos e dos poderosos de então andaram comigo na escola (39%), mas não na tropa (45%) e menos ainda na guerra (52%)... Resultados preliminares (n=73)... Prazo de resposta até 5 de outubro, 4ª feira, às 19h44

1. INQUÉRITO DE OPINIÃO:~




 "OS FILHOS DOS RICOS E PODEROSOS DE ENTÃO ANDARAM COMIGO"...


Resultados provisórios, com base em 73 respostas:


4. Sim, andaram comigo 
na escola  > 29 (39%)

2. Não, não andaram comigo 
na tropa  > 33 (45%)


3. Não, não andaram comigo 

na guerra  > 38 (52%)


1. Não, não andaram comigo na escola  > 26 (35%)

5. Sim, andaram comigo na tropa  > 21 (28%)

6. Sim, andaram comigo na guerra  > 12 (16%)

7. Não sei / não me lembro  > 8 (10%)

Resposta múltipla. Votos apurados: 73

Dias que restam para votar: 2 (Termina em 5/10/2016, 4ª feira, às 19h44)

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Guiné 63/74 - P16550: Parabéns a você (1141): Cor Carlos Alberto Prata, ex-Capitão, CMDT das CCAÇ 4544/73 e CCAÇ 13 (Guiné, 1973/74) e Hélder Valério Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF (Guiné, 1972/74)


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Nota do editor

Último poste da série de 29 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16535: Parabéns a você (1140): António Bastos, ex-1.º Cabo At Inf do Pel Caç Ind 953 (Guiné, 1964/66)

domingo, 2 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16549: (De)caras (47): Ainda sobre a morte do alf mil Linhares de Almeida (1942-1967), nascido em Bissau e sepultado em Vila Nova da Barquinha (Domingos Gonçalves, ex-alf mil inf, CCAÇ 1546 / BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68)



Guiné >Bissau > s/d> Placa toponímica > Rua Alferes Linhares de Almeida... > Foto comprada na Feira da Ladra, em Lisboa, pelo nosso camarada e colaborador permanente Mário Beja Santos.

Segundo informação do amigo e camarada António Estácio, também ele nascido em Bissau, "depois da independência, houve mudança do nome da Rua Alferes Linhares de Almeida... passou a ser Rua 17, de acordo com o dia 20 de Janeiro de 1975 - Dia dos Heróis Nacionais". Segundo outro dos nossos amigos e camaradas, o Manuel Amante da Rosa, "o malogrado Juca era pessoa muito conhecida e popular no velho Liceu Honório Barreto". (*)

O nosso malogrado camarada é um dos 1209 mortos na guerra do ultramar / guerra colonial, que eram naturais da antiga província portuguesa da Guiné, segundo o precioso apuramento feito pelos editores, nossos camaradas, do portal Ultramar Terraweb. Está sepultado no cemitério da Praia do Ribatejo, concelho de Vila Nova da Barquinha.

Foto: © Mário Beja Santos (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso camarada Domingos Gonçalves [ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1546 / BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68]

Data: 2 de outubro de 2016 às 09:14
Assunto: Alferes Linhares de Almeida

Prezado Luís Graça:

Primeiro, desejo que passes um bom domingo.

Depois, ainda sobre a morte em combate do alferes Linhares de Almeida, envio, para eventual publicação, o seguinte texto, retirado do relatório de actividades do batalhão, BCAÇ 1887 [, a que pertencia a CCAÇ 1547, Fá Mandinga. Nova Lamego, Bula, Bigene, 1966/68)].

"A morte do alferes Linhares de Almeida foi extraordinariamente sentida na sua companhia,
por ser o seu elemento mais destacado na actividade operacional em que revelou inexcedível
coragem e valentia, que arrastavam e entusiasmavam pelo exemplo os restantes elementos.

A estas qualidades notáveis aliava qualidades pessoais também notáveis, que lhe granjearam
além do respeito, grande amizade e simpatia de todo o pessoal. Nesta operação, como de costume, o alferes Linhares de Almeida distinguiu-se pela forma como, após os primeiros tiros, marchou à frente de seus homens numa zona manifestamente perigosa, e como após os primeiros tiros ainda tentou reagir, até ser mortalmente atingido." (**)

Um abraço para todos os camaradas.

Domingos Gonçalves
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Notas do editor:

(*) Vd, postes de:


26 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13946: In Memoriam (208): Carlos Manuel Sousa Linhares de Almeida (Bissau, 1942 - Bigene, 1967), alf mil da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Fá Mandinga, Nova Lamego, Bula, Bigene, 1966/68), Juca para os amigos do Liceu Honório Barreto (Manuel Amante da Rosa / António Estácio)

Guiné 63/74 - P16548: Blogpoesia (472): "Segundo dia de Outubro"; "Me sinto um não pintor que quer escrever" e "Marés vivas", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. O nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) vai-nos enviando ao longo da semana belíssimos poemas da sua autoria, dos quais publicamos estes, ao acaso, com prazer:


Segundo dia de Outubro

Nasceu com sol
Este segundo dia de Outubro.
O mês das colheitas
E da abertura das escolas.

Quando a Natureza imponente
Se veste de tons,
Raiados de cores.

Do chão amarelo
Da palha cortada,
Saem as espigas
Para as eiras ao sol.

Das ramadas em pé,
Carregadas de uvas,
Saem os cestos
Que enchem as dornas
E regam de vinho
As canadas das mesas.

O mês da abundância
E da bênção gratuita,
Caída dos céus
Que abastecem de paz
As almas das gentes...

Berlim, 2 de Outubro de 2016
10h11m

jlmg

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Me sinto um não pintor que quer escrever

Vejo os tons e as cores.
Sei das formas.
Me falta o elo à alma
Que me acenda a luz.

Passam ideias diante de mim.
Vão esbaforidas, em debandada.
Minhas mãos não as alcançam.
E elas se vão.

Mas espero bem.
Chegará a hora.
Serena e clara.
De, como andorinhas,
Voltarem a poisar
No meu beiral.

As receberei feliz.
Cuidarei delas.
Um bom pastor.
Ficarei a vê-las
Em combinações alegres,
Descrevendo ideias,
Com tão lindas formas,
Minhas horas breves
Em que sou senhor...

Berlim, 1 de Outubro de 2016
12h29m

jlmg

************

Marés vivas

A lei do pêndulo
que vai e vem.
Dum lado enche,
Do outro vaza.

Uma ilusão.
O mesmo mar,
A mesma água.

É um baloiço
Que sobe e que desce
Que vem e que vai,
Preso ao chão.

Uma sinfonia intensa,
Braseira de sons,
Quadro de cores,
Bailado de cisnes,
Grinaldas de vento,
Ondas de mar.

Compasso das horas
Que chegam e passam.
Medida da vida
Que nasce e que morre...

Berlim, 29 de Setembro de 2016 10h26m

jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16545: Blogpoesia (471): Promessas de paz (José Teixeira)

Guiné 63/74 - P16547: Agenda cultural (503): Lançamento do livro do nosso camarada Paulo Salgado, "Guiné: crónicas de guerra e de amor", com prefácio de Mário Tomé... Dia 20 de outubro, 5ª feira, às 18h00, na Associação 25 de Abril, R Misericórdia, 95, Lisboa


Guiné > Região do Oio > Olossato > CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72) >  O alf mil cav op esp Paulo Salgado...

Foto: © Paulo Salgado (2010). Todos os direitos reservados.


1. Embora essencialmente operacional, o nosso camarada Paulo Salgado não se coibia de dar uma mãozinha quer no posto sanitário quer na educação de adultos. Na foto, vemo-lo, no Olossato, prestando ajuda como voluntário ao fur mil enf Carvalho.

Transmontano, professor primário, "ranger", numa companhia de cavalaria, comandada pelo cap cav Mário Tomé, ele já tinha vocação, na época, para a administração de serviços de saúde, a par de especial motivação e sensibilidade para as questões da cooperação e da solidariedade.

O nosso editor Luís Graça irá encontrá-lo, mais tarde, no ano letivo de 1981/82 em Lisboa, como aluno do Curso de Especialização em Administração Hospitalar, da Escola Nacional de Saúde Pública, depois de ter feito a licenciatura em direito pela FDUL , Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

Mas só depois da criação do nosso blogue, é que os dois deram conta, por volta de setembro de 2005, que tinham sido também "camaradas da Guiné" e partilhavam uma "paixão comum por África"... O Paulo (e a sua inseparável companheira, a Conceição Salgado, economista, também ela nossa grã-tabanqueira tal como a filha de ambos, doutorada em biologia, investigadora no Reino Unido, Paula Salgado) tem vivido nos últimos entre Vila Nova de Gaia e Luanda. Foi justamente em Luanda, na Clínica da Sagrada Esperança, que o Paulo falou, ao nosso editor Luís Graça,  há uns tempos, deste seu projecto literário que chega, finalmente, a bom porto.

Paulo, o nosso editor (, este fim em Candoa, nas vindimas,) manda dizer que lá estará, com todo o gosto e em representação da Tabanca Grande, na tua festa!... Dia 20 de outubro, às 18h00, na A25A, no Bairro Alto, em Lisboa. (CV)




Guiné – Crónicas de Guerra e Amor - Sinopse

Esta obra constitui um admirável mosaico de personagens que, na sua diversidade, fazem ressaltar a humanidade intrínseca de cada uma face a factos diversos, ocorridos em distintos momentos históricos. 

De forma engenhosa, inovadora e crítica, colhida da sua experiência e da sua inteligência emocional, o seu autor, Paulo Salgado, alferes miliciano presente na guerra colonial travada na Guiné entre 1970 e 1972, e consultor sénior na área da saúde, nas décadas de 1990 e 2000 na Guiné-Bissau, consegue, segundo Mário Tomé, que escreveu o prefácio, “fazer-nos sentir a tensão a um tempo subtil e tumultuosa, terna e violenta, que sustenta o relacionamento entre homens quando sujeitos a imposições cujo sentido verdadeiro desconhecem, sendo obrigados a obedecer, desenraizados, mas logo criando laços profundos num espaço e num tempo que lhes era de todo estranho, e que fazem evidenciar o lado certo da história” – razões fortes para um convite à leitura desta interessante obra.


2. Mensagem que recebemos do nosso amigo e camarada Paulo Salgado, com data de 12 de setembro último: 

 Meu caro Luís,

Pois bem, após algum tempo (demasiado tempo?), vai ser publicado pela Lema d'Origem, uma editora sediada em Carviçais, Moncorvo, cujo proprietário é um homem bom e empreendedor, além de escritor muito por fundo, o meu livro Guiné - Crónicas de Guerra e Amor.

Irá ser apresentado pelo jornalista (amigo de juventude e crítico sério) Rogério Rodrigues, na Associação 25 de Abril, e tem o prefácio de Mário Tomé.

Dir-te-ei a data brevemente, Se os editores do blogue entenderem interessante divulgar, na oportunidade, esta iniciativa, será um prazer e uma honra dar a conhecer o livro.

Até dentro de poucos dias para informar os editores do blogue da data certa.[, confirmada posteriormente: será a 20 de outubro, 5.ª feira, em Lisboa, na A25A - Associação 25 de Abril,  Rua da Misericórdia, 95]

Entretanto, estarei também em Lisboa no dia 28 de outubro na homenagem ao Prof. Coriolano Ferreira, na Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa.

Forte abraço.
Paulo Xavier Fernandes Cordeiro Salgado
Administrador Hospitalar - ENSP/UNL
Pós-graduado em Administração Pública - UMinho
Pós-graduado em Direito dos Contratos - UCP
Mestre em Gestão-Especialização em Gestão e Administração de Unidades de Saúde-UCP
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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de setembro de  2016 > Guiné 63/74 - P16505: Agenda cultural (496): Rescaldo da inauguração da exposição de pintura de Adão Cruz, levada a efeito no passado dia 17 de Setembro de 2016, no Museu de Ovar (Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P16546: Manuscrito(s) (Luís Graça) (98): Requiem para Iero Jaló, um bravo soldado

Requiem para Iero Jaló
um bravo soldado,

 

por Luís Graça





A guerra,
essa coisa tão primordial que é a guerra,
que estaria inscrita no teu ADN,
segundo dizem os sociobiólogos.
A guerra é a continuação da evolução

...por outros meios,
dirão os entomólogos,
especialistas em insetos sociais,
para quem a morte de um
ou de um milhão ou mais
de formigas, de alforrecas ou de seres humanos,
é-lhes totalmente indiferente.
Desde que triunfe o ADN,
um projeto de ADN,
forte e bem musculado.

Para ti, "tuga", 
a guerra é a aprendizagem da morte,
aos vinte e dois anos,
é a inocência que se perde para sempre
ao ver morrer pela primeira vez um homem, 

a teu lado.
É o impossível luto,
é a descoberta do mal absoluto.
─ Fight or flight!─
Não precisaste de fugir nem de lutar.
Recusaste o egoísmo genético,
recusaste a lógica absurda de matar ou morrer,
recusaste o cinismo,
recusaste a fria e calculista resignação
com que se juntam e amortalham
os cadáveres seguintes
e se contam nas paredes da caserna
os dias que faltam para a peluda.

Quarenta e cinco anos depois, venho dizer-te,
Iero Jaló, meu querido "nharro",
as palavras que ninguém te disse
no teu grotesco enterro:
– Descansa em paz, Ieró Jaló,
meu herói,
soldado atirador do 2º Grupo de Combate
da CCAÇ 2590
que virá mais tarde a chamar-se CCAÇ 12,
companhia de tropa-macaca,
o nosso bando de primatas sociais,
territoriais, 

predadores,
"tugas" e "nharros"...


Fazíamos parte da nova força africana
de Herr Spínola, o prussiano,
como eu lhe chamava, 

ao nosso Comandante-Chefe.
Não, não ligues, são outros contos,
outras histórias,
outros ajustes de contas
com as nossas doridas memórias.

Descansa em paz, Iero Jaló,
descansa em paz
debaixo do poilão secular,
sagrado,
na tua tabanca, 

no chão fula,
belíssimo poilão de uma triste tabanca,
cercada de arame farpado,
trincheiras 

e valas de abrigo.


Sei que eras do regulado de Cossé,
lá para os lados de Galomaro.
Desculpa-me ter esquecido o nome 

da tua tabanca
e a cara dos teus filhos
e o rosto das tuas mulheres,
agora órfãos e viúvas, sozinhos neste mundo.
Os teus campos estão tristes e inférteis,
já não dão o milho painço 

nem o fundo
nem a mancarra 

nem a noz de cola.
Os homens partiram para guerra,
voltam agora numa caixão de pinho.
Restam os feios e macabros jagudis,
poisados no alto da tua morança,
cheirando a morte,
pressagiando a desgraça.


Oito de setembro de 1969,
região do Xime.
operação Pato Rufia.

Progredimos toda a noite,
desde as 1h30 até ao amanhecer.
Morreste em linha,
aprumado como o teu poilão,
no assalto a um aquartelamento temporário do IN,
próximo da antiga estrada da Ponta do Inglês.
IN ?
Que estranho termo ou expressão,
uso-o por força do hábito,
por comodidade,
por lassidão,
por economia de análise.

Regressamos ao Xime com o teu cadáver às 16h00.
O heli só levou os feridos, incluindo o Malan Mané...

Curioso, nunca soube a tua idade,
não tinhas bilhete de identidade
de cidadão português.
Eras um fula preto,
um fula forro, não creio que fosses futa-fula.
Mas eu e o teu comandante de pelotão

levámos-te a enterrar na tua aldeia,
mais os teus camaradas, cristãos e muçulmanos,
que foram dizer-te o último adeus.
Com honras militares,
tiros de salva,
e a bandeira verde-rubra dos "tugas" 

por cima do teu caixão.
De pinho,
do verde pinho de Portugal.
Nem isto te deixaram fazer, o teu enterro,
à boa maneira dos teus,
o corpo embrulhado num pano branco,

metido na vertical...
sem o inútil caixão de verde pinho.

Portugal ? 

Ainda te lembras, Iero Jaló ?
Os brancos, os "tugas",
os senhores que vieram do norte e do lado do mar.
Não, já não tens que saber de geografia,
nem de história,
nem de geopolítica,
no sítio onde moras, debaixo do teu poilão.
Mas eu, mesmo ao fim destes anos todos,
eu deveria saber o nome da tua aldeia, no chão fula.
O teu nome, esse não esqueci: Ieró Jaló.
Esqueci foi o lugar onde nasceste,
e onde foste enterrado,
talvez Sinchã ou Sare qualquer coisa,
mas não faz mal.

O que interessa é que chorei por ti,
confesso que chorei por ti,
que morreste a meu lado,
e que levavas um prisioneiro,
teu irmão, negro, pela mão.
E que não eras meu irmão,
nem grande nem pequeno,
nem tinhas a mesma cor de pele,
nem a mesma religião,
nem a mesma língua,
nem a mesma pátria,
nem o mesmo continente.
Não comias carne de porco
nem bebias água de Lisboa.
Eras apenas um guinéu, um "nharro",
soldado-atirador de 2ª classe,
ganhavas 600 pesos de pré,
mais um saco de arroz por mês para alimentar a tua família.
Para mim, eras apenas um homem,
da espécie "Homo Sapiens Sapiens",

o que em latim quer dizer homem duplamente sábio,
a única que chegou até aos nossos dias,

o que primeiro que eu vi morrer a meu lado.


Nunca mais chorei por ninguém,
chorei por ti, Ieró Jaló,
chorei de raiva,

pela tua morte e pelo teu enterro.
Nascemos meninos,
mas fizeram-nos soldados,
azar o meu e o teu,
por termos nascido no sítio errado,
no tempo errado.
Imagino-te "djubi", 

à volta da fogueira,
na morança do marabu ou do cherno da tua tabanca,
decorando o Corão.
Uma das cenas mais lindas que eu trouxe da tua terra,
e que eu guardo na minha memória,
são os "djubis" à volta da fogueira,
soletrando tabuinhas em árabe ou coisa parecida.
Lembro-me de quereres aprender as letras dos "tugas"
para poderes ser soldado arvorado
e um dia chegares a primeiro cabo,

e, quem  sabe, sargento, alferes, capitão 
dos comandos africanos.

E
de repente, o capim,
o capim alto,
o sangue,
o capim pisado e empapado de sangue.,,
Pobre Ieró,
morto por um dilagrama dos nossos.
Alguém branqueou a tua morte,
alguém salvou a honra da companhia.
Um dilagrama rebentou no ar,
na tua cara,
na nossa cara.
Defeito de fabrico, alegou o autor do relatório, 

acidente de serviço no auge da batalha,
quando avançávamos em linha, no assalto
ao acampamento do IN,
levando pela corda o teu "turra",
o teu guia, o teu prisioneiro,
ainda mais jovem do que tu.
Malan Mané, mandinga,
tão crente como tu,
tão observador dos preceitos corânicos
como tu, meu querido "nharro".

E agora, Ieró,
que foste poupado à humilhação da derrota
e provavelmente até ao poilão dos fuzilamentos de Bambadinca,
e não viste o teu país sentar-se de pleno direito
à falsa mesa redonda do mundo...
Que farias tu com esta independência
contra a qual lutaste
sem querer,
sem saber,
sem poder ?
Onde estarão os teus filhos ?
E as tuas mulheres ?
E os teus netos ?

E os homens grandes da tua tabanca do Cossé ?
E os líderes do teu povo
que te obrigaram a combater ao lado dos "tugas" ?


Spínola, o homem grande de Bissau,
esse já morreu há uns anos largos atrás.
Não lês os jornais,
não chegaste a aprender o alfabeto latino
e a juntar as letrinhas e ler,
com a torre de Belém ao fundo:
– Esta é a minha pátria amada…
Pois é, o homem grande da Guiné morreu,

o Caco Baldé, 
como os "tugas" lhe chamavam, morreu,
não de morte matada, como a tua,
mas de acordo com a lei natural das coisas.
Quanto ao teu régulo,
devem-no tê-lo miseravelmente fuzilado
na parada de Bambadinca,
tal como aconteceu ao poderoso régulo de Badora,

Mamadu Bonco Sanhá,
tenente de milícias,
que havia trocado o cavalo branco
da gesta heroica do Futa Djalon,
por uma prosaica motorizada japonesa de 50 centímetros cúbicos...
Dono de centenas cabeças de gado, dizia-se,
e de uma harém de cinquenta mulheres,
uma em cada aldeia de Badora…
(Sei que não é verdade, 
segundo me jurou um dos seus netos,
nem o nosso puto Umaru Baldé era filho dele,
o Umaru que também já lá está  na terra da verdade, 
como a maior parte dos nossos camaradas guineenses,
da CCAÇ 12).

Hoje o que resta dos heróis do passado sucumbem
sob o peso das cruzes de guerra
ou pedem esmola nas ruas de Bissau,
tal como os teus filhos e netos.
Ou morrem de desespero e insolação
às portas do templo da deusa Europa,
em Ceuta e em Melilla,
em Lampedusa,
em Lisboa ou em Paris
e até em Lesbos, ilha grega à porta dos otomanos.


Que voltas o mundo deu, meu soldado,
desde esse dia já distante
em que a tecnologia da guerra
ou a lotaria do ADN te ceifou a vida.
Porquê tu, meu herói,
três meses depois de jurares bandeira
e te comprometeres,
por tua honra,
a defender uma pátria,  que não era tua,
até à última gota do teu sangue ?!
E do Malan Mané não tenho notícias,
se é isso que queres saber,
duvidava que ele tivesse sobrevivido
aos graves ferimentos do dilagrama dos "tugas".
Mas alguém me disse,
um camarada de Mansambo,
que sim, 

que o vira no hospital de Bissau,
em novembro de 1969.

E agora deixa-me dizer-te, amigo e camarada,
à laia de despedida:
não sei se um dia ainda terei coragem de voltar
à tua terra, ao teu chão.
Mas se porventura o fizer,
gostaria de perguntar pela tua aldeia,
e de procurar-te
e de ter tempo para conversar contigo,
só tu e eu, debaixo do teu poilão,
tendo apenas como testemunhas
Deus, Alá e os nossos bons irãs.

Guiné, Bambadinca, 8/9/1969
V9 24set 2016


PS –Voltei à tua terra, Iero Jaló, 

em março de 2008, 
mas não pude ainda, dessa vez, 
cumprir a minha promessa... 
Atravessei Badora e Corubal, a caminho do sul, 
mas não o Cossé, 
onde imagino que seja a tua tabanca...

___________

Nota do editor:

Último poste da série > 23 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16519: Manuscrito(s) (Luís Graça) (97): O 'prisioneiro' Malan Mané... a quem cedo, talvez demasiado cedo, deram um arma e uma bandeira e um hino

sábado, 1 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16545: Blogpoesia (471): Promessas de paz (José Teixeira)

 

1. Em mensagem do dia 29 de Setembro de 2016 o nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux. Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), enviou-nos este poema alusivo à paz que tanto desejamos e que cada vez é menos viável.


Promessas de paz

Prometem-me a paz das armas
Que calam armas matando pessoas,
E eu quero encontrar apenas a paz do pão,
Para matar a fome a quem estende a mão.
E construir em cada momento
A paz da solidariedade -
E do entendimento.

Prometem-me a paz das armas
Que calam armas espalhando a dor,
E eu quero encontrar apenas a paz do amor.
Para espalhar no mundo a esperança
Que o enche de afetos -
E de bonança.

Prometem-me a paz das armas
E as armas trazem mais armas
Enchendo o mundo de receios.
E eu quero encontrar apenas a paz do perdão,
Da paciência e da compreensão.
São para a paz, esteios -
E transformam as balas em pão.

José Teixeira
____________

Nota do editor

Último poste da série de 25 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16522: Blogpoesia (470): "Naquele olhar..."; Se tivesse o poder de amainar as tempestades..." e "Horas luminosas de sol...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 63/74 - P16544: (In)citações (103): As outras cartas da guerra... Do Umaru Baldé, da CART 11 e CCAÇ 12, para o Valdemar Queiroz (Parte VI): A última mensagem, de 18/4/2003... "Eu queria [saber] se [a] nossa malta me podia ajudar [a obter] meio[s] para [comprar] bilhete [de avião] para África, porque estou muito mal"... Ainda foi à sua terra, Demba Taco, antes de voltar, cada vez mais doente, para morrer em Portugal


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCS / BART 2917 (1970/72 > O Umaru Baldé, soldado da CCAÇ 12 (1969/71)... Depois da independência, veio para Portugal, ao fim de 24 (!) anos de exílio. Morreu em 2004, de doença prolongada... Vários antigos camaradas seus, "tugas", ajudaram-no a sobreviver (mesmo com limitações, trabalhou, no Parque das Nações, numa empresa de construção civil, graças aos bons ofícios do João Gonçalves Ramos, ex-soldado radiotelegrafista, da CCAÇ 12, 1969/71; o seu antigo comandante, hoje cor inf ref, Carlos Brito, assinou um documento para ele se poder candidatar a deficiente das forças armadas, etc.).

Para mim, que o cheguei a comandar, várias vezes, em operações, era uma criança na guerra... Não teria mais do que 16 anos quando eu conheci, em Contuboel fez a recruta e a especialidade (entre março e julho 1969)...

Era um belo efebo, com o seu inseparável cachimbo que ele usava para lhe dar o ar de "homem grande" que não tinha nem podia ter ...

Apesar de "puto", foi um bravo combatente e um temível apontador de morteiro 60, que manobrava como se fosse um morteirete, debaixo de fogo... Chegou a ficar com as mãos queimadas, numa das ocasiões em que fomos emboscados,,,  Fula, pertencia ao 4.º Gr Comb, 2.ª Secção (comandada pelo nosso querido amigo e camarada António Fernando R. Marques).

Não seio se casou, se deixou víúva(s), filho(s)...

Em homenagem à sua vida e à sua memória, decidi integrá-lo, a título póstumo, na nossa Tabanca Grande... Repousa em paz, Umaru... Serás o nosso grã-tabanqueiro nº 729... Tenho pena de nunca te ter visto mais, desde os últimos dias que passámos em Bambadinca, em março de 1971, antes do meu regresso a casa... Com tanta canseira da guerra, faltou-nos tempo para pôr a conversa em dia sobre a tua vida do "menino de sua mãe", nascido em Demba Taco, por volta de 1953... (LG)

Foto: © Benjamim Durães (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas daa Guiné. Todos os direitos reservados


1. Última de quatro cartas do Umaru Baldé (Demba Taco, c. 1953 - Lisboa, 2004), dirigidas ao Valdemar Queiroz, que foi seu instrutor, na recruta, no Centro de Instrução Militar de Contuboel, região de Bafatá, entre março e maio de 1969.





Outras cópias de igual teor devem ter sido dirigidas a camaradas da CART 11 e da CCAÇ 12 que se quotizaram para lhe comprar o bilhete de avião de regresso à Guiné-Bissau. 

Entretanto, como o estado de saúde do Umaru Baldé piorou, como era previsível (sem acompanhamento médico, esgotado o "stock" de medicamentos que levou, para a sua terra, etc.), ele teve de voltar para Portugal,  graças de novo à solidariedade dos seus amigos e 
camaradas (o António Fernando Marques, o João Ramos, etc.)... 

Não sabemos exatamente em que data é que regressou... Terá morrido, ao que parece, não no hospital (como supúnhamos), mas no quarto que tinha alugado, na Damaia, Amadora...  Está sepultado no cemitério do Lumiar, em Lisboa, no talhão dos muçulmanos... Prometo passar lá um dia destes, para o "último adeus" que não lhe pude dar em 2004.


Transcrição da carta, revisão e fixação de texto (parte manuscrita):


Sr. Queiroz, já é [há] uma ano [que] que não me telefonaste [telefonas],

nem [queres] saber como [é que eu] estou [a] viver neste momento.

Até você[s] devem saber que toda  [a] minha

confiança está nas pessoas que eu conhecia

desde a Guiné. E hoje estou cá em Portugal.

Sr. Queiroz, [é] para saber que neste [este] momento

é  muito difícil para mim, nem [até ] para comer

é cota a cota [gota  a gota] porque não estou  [a] trabalhar

porque estou doente. E na verdade estou à

espera da minha reforma. Mas antes disso 

estou mal. Eu queria [saber] se [a] nossa

malta me podia ajudar [a obter] meio[s] para

[comprar] bilhete [de avião] para África, porque estou muito

mal. Tenho [de] comer e pagar quarto e

luz e água, nem trabalho tenho.

Melhor[es] cumprimento[s] para ti e abraço

do Umaro [Umaru]  Baldé.

Lisboa, 18 abril [20]03
_____________

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16543: Inquérito 'on line' (69): Perguntar não ofende, mas às vezes pode incomodar... Os filhos dos ricos e dos poderosos de então andaram comigo na escola (25%), mas não na tropa (52%) e menos ainda na guerra (56%)... Resultados preliminares (n=44)... Prazo de resposta até 5 de outubro, 4ª feira, às 19h44

Bissau: Monumento ao Esforço da Raça
(c. 1950)
1. INQUÉRITO DE OPINIÃO: "OS FILHOS DOS RICOS E PODEROSOS DE ENTÃO ANDARAM COMIGO"...


1. Não, não andaram comigo na escola  > 17 (38%)


2. Não, não andaram comigo na tropa  > 23 (52%)

3. Não, não andaram comigo na guerra  > 25 (56%)

4. Sim, andaram comigo na escola  > 18 (40%)


5. Sim, andaram comigo na tropa  > 11 (25%)


6. Sim, andaram comigo na guerra  > 7 (15%)

7. Não sei / não me lembro > 4 (9%) 


2. Mais um inquérito (ou "sondagem"...) para responder no nosso blogue, até ao dia 5 de outubro, até às 7:44 PM (19h44)... Não se trata de nenhum trabalho de pesquisa científica, é apenas um passatempo, inocente... Não sabemos quem responde nem quem não responde... Se chegarmos aos 100, ótimo, é uma boa amostra de conveniência.

Até hoje de manhã, tínhamos 44 respostas, cujos resultados preliminares apresentamos acima.

Por favor, camarada,  coloca a(s) cruzinha(s) aqui. diretamente, ao canto superior esquerdo do blogue... A pergunta tem resposta múltipla... E, já sabes, perguntar não ofende... E também não queremos naturalmente incomodar ninguém... Só queremos conhecer a tua experiência ou a tua perceção... 

Na época,  em 1961/74, havia o serviço militar obrigatório e o país estava a braços com uma guerra em 3 frentes, bem longe de casa... Dizem que mobilizou perto de 1 milhão de homens...200 mil terão sido os refratários; desertores foram poucos... Alguns de nós acham que, na época, éramos todos portugueses e todos iguais... Mas outros acrescentam que havia alguns de nós que eram mais iguais do que outros... Em que é que ficamos ?


3. Alguns comentários na página do Facebook da Tabanca Grande, com de ontem e hoje:

(i) Domingos Robalo:

Já fiz a minha votação e gostaria de comunicar o seguinte: Fiz 24 meses de Guiné de maio 69 a 71.

O sobrinho do ministro Sá Viana Rebelo e o filho do deputado à Assembleia Nacional falecido no acidente de helicóptero em Mansoa foram meus camaradas na Artilharia (BAC1 / GAC7). O primeiro comandava um pelotão de artilharia, creio que em Canquelifá e o segundo estava em Catió.

Outros "ricaços" e filhos de industriais por lá andavam em pelotões no TO. Obviamente que a maioria eram de origem mais modesta mas nem por isso menos considerados ou desrespeitados. Era assim na Artilharia.

Não esquecer que a maioria dos nossos soldados eram de origem Guineense, [tendo sido] vitimas dos assassinatos a seguir à independência daquele País de gentes amigas e ainda saudosas de Portugal.

PS - Correcção: o primeiro [, o sobrinho do ministro Sá Viana Rebelo] estava em Saré Bacar, e estivemos juntos na "Operação Mabecos", em Piche, na semana de carnaval de 1971, operação de triste memória.

(ii) Augusto Carolino Carvalho:

Alguns andaram na Escola Primária, depois ninguém mais os viu, só de vez em quando é que vinham à Terra.

 (iii) Mario Vasconcelos:

Durante o serviço militar nunca me preocupou saber a origem daqueles que correspondiam ao esforço praticado. Os laços que nos irmanavam eram de tal modo fortes, que esse aspecto, para mim, era irrelevante. Suponho ser mais admissível dizer que, durante o ensino superior, alguns fossem dessa proveniência. E, portanto, muitos deles devem ter representado a nação em esforço de guerra. Verdadeiramente, não sei quantificar.

 (iv) Raul Castanha:

Não faço a minima ideia de quem eram, no inicio, os meus camaradas de guerra ou melhor de tropa. Fomos todos iguais e cada um ocupou o seu lugar com as suas responsabilidades. A questão que se deveria ter colocado é se cumpriram ou não o seu papel.~

(v) Manuel Amaro:

 Havia de tudo... uns inventavam doenças como o filho do Director do Hospital Militar... outros, como o filho de um General, meu vizinho, faleceu em Angola.

(vi) Manuel Belinha:

Na escola aonde eu andei, andavam todos, ricos e pobres, brincávamos juntos . Nos anos 50 não havia colégios privados. Isso são coisas das mentes deturpadas modernas e de quem perde tempo a fazer estes inquéritos. Esta página [Facebook da Tabanca Grande] é de grande utilidade para todos nós que estivemos na Guiné . Ficarei muito triste se ela for usada para fins políticos.  Na Guiné éramos todos camaradas unidos, porque ninguém sabia e não se discutia política.

A vida é assim mesmo. Uns imigraram, para o estrangeiro ou grandes cidades. A vida de criança, mal era se não mudasse na idade adulta. Conheço gente que era rica,  hoje está pobre, também conheço gente que era pobre,  hoje está rica.  É a sorte e o destino de cada um.

(vii) José Augusto de Araújo:

Eu também estive na Guiné de 69 a 71, e já há muito que sou adepto da Tabanca Grande!...  Ricos ou pobres, todos os que lá fomos sofremos na pele o inferno da guerra!...
___________

Guiné 63/74 - P16542: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (38): Ajuda para reportagem da SIC, antigos militares fotocines que tenham gravado as mensagens de Natal da RTP... precisam-se! (Madalena Durão, produtora)



1. Mensagerm de Madalena Durão, Produtora da SIC

Data: 26 de setembro de 2016 às 15:24

Assunto: SIC - ajuda para reportagem

Muito bom dia,

Contacto-o por indicação do administrador da página do Facebook Guerra Colonial Portuguesa 1961-1974.

Sou produtora na SIC informação. Neste momento estamos a preparar uma reportagem sobre repórteres da guerra colonial para a rubrica "Perdidos e Achados".

É uma rubrica emitida aos sábados no Jornal da Noite que procura saber que o que é feito de pessoas, locais,  acontecimentos que tenham marcado o país em determinada altura. Na sequência deste trabalho, venho pedir a sua ajuda para encontrar algum militar fotocine que tenha gravado as mensagens de Natal da RTP, para nos ajudar a perceber qual o seu papel, assim como algumas histórias que possa acrescentar à nossa reportagem.

Agradeço a colaboração,

Com os melhores cumprimentos
Madalena Durão
Produtora


2. Resposta do editor LG:

Madalema: Estive quase dois anos na Guiné, entre 1969/71, numa companhia africana, sempre no mato, e nunca vi nenhum bicho chamado "fotocine"... e muito menos equipas da RTP por altura do Natal...

Em todo o caso, no nosso blogue, pode encontrar uma referência a Vicente Batalha que foi Comandante do Departamento de Fotografia e Cinema 3011 (Angola, 1972/74), tendo tido em Mafra (EPI) instrutores ligados ao cinema como Jorge Botelho Moniz, Lauro António e Fernando Matos Silva... Tentem contactá-lo, vive em Santarém.

Caso a Madalena não veja inconveniente, vou publicar um poste com o seu pedido. Pode ser que apareça algum fotocine ou alguém que tenha conhecido um fotocine no teatro de operações da Guiné... O nosso blogue tem uma grande audiência e temos também uma página no Facebook.

Veja aqui uma história passada com uma equipa da RTP que foi gravar as mensagens de Natal num aquartelamento junto à fronteira com o Senegal:

Por outro lado, temos um camarada nosso, Constantino (ou Tino) Neves que aparece num vídeo de Natal da RTP... Vou-lhe dar conhecimento do seu pedido... mas é pouco provável que ele se lembre do nome do fotocine. Ele vive na Cova da Piedade, Almada.


Sobre o Natal na guerra, temos 189 referências... O Jorge Félix, por exemplo, que foi piloto de helicóptero, na BA 12, Bissalanca (1968/70), lembra-se de um operador da RTP, Serra Fernandes, que virá a encontrar mais tarde justamente na RTP. Hoje 
é natural que há esteja reformado (*).

Enfim, Madalena, aqui tem alguns contributos do nosso blogue em resposta ao seu pedido.(**).

Boa saúde, bom trabalho. E obrigado por se lembrar destes portugueses que pertencem a uma espécie em vias de extinção...

Boa pesquisa, boa sorte. LG
Luís Graça

PS - Ainda sobre os "fotocines", a tal dúvida que me persegue e que pus ao Fernando Matos Silva, numa sessão na Cinemateca, há uns meses, em que ele apresentou o seu filme "Acto dos Feitos da Guiné" (1980):

A minha dúvida é a de saber se os destacamentos de fotocine se limitaram a levar cinema aos quartéis do mato e a produzir programas de rádio ou a gravar as famosas mensagens de Natal e Ano Novo... ou se também "fizeram cinema" (atualidades de guerra, documentários, etc.), para além da "cobertura" de acontecimentos protocolares e propagandísticos...

E, se sim, por onde pára hoje esse material... que ninguém lhe põe a vista em cima, à parte os (poucos) documentários produzidos pela RTP no longo período em que decorreu a guerra colonial (1961-75)?

Ele, sim, foi "fotocine"... Mas não tenho o seu contacto. Conheci-o através da Catarina Laranjeiro, jovem cineasta... Talvez contactando a RTP, a Cinemateca... Veja mais sobre ele, neste sítio, da UBI
_________________

Notas do editor: