segunda-feira, 21 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18659: Notas de leitura (1068): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Junho de 2016:

Queridos amigos,
O trabalho deste franciscano é o mais importante sobre a história da missionação na Guiné. Não é uma história risonha, iremos detetando obstáculos logo entre o século XV e XVI, os missionários encontravam muçulmanos indefetíveis, vinham impreparados para resistir àquele clima mortífero, a presença do colonizador era diminuta e o traficante de escravos de modo algum se podia relacionar bem com esses missionários que pretendiam batizar os nativos.
Teremos que ir forçosamente por partes, a trama é naturalmente complexa e enorme, estou seguro que quem se interessa pelo tema encontrará neste relato um investigador dotado de uma enorme capacidade de surpreender.

Um abraço do
Mário


História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema (1)

Beja Santos

Em 1982, a Editorial Franciscana, Braga, dava à estampa aquele que é mais importante documento histórico sobre a missionação católica na Guiné, do século XV ao século XX. O padre franciscano Henrique Pinto Rema conheceu perfeitamente a Guiné e começou a publicar o produto da sua investigação no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, ainda na década de 1960, continuou as suas investigações nos anos seguintes e a obra publicada em Braga é seguramente o documento mais abalizado para o conhecimento da missionação católica.

O livro abre com a evangelização da Guiné entre 1434 e 1533. Explica pormenorizadamente o projeto henriquino e como este deu um passo decisivo com a ultrapassagem do Cabo Bojador em 1434. O Infante D. Henrique fez acautelar o seu projeto através da chancela de Roma. Assim, pela Bula Romanus Pontifex (8 de Janeiro de 1454), Nicolau V confiou ao Infante a conquista, ocupação e apropriação de todas as terras, portos, ilhas, mares, desde os cabos Bojador e Não até à Guiné, com poder de legislar e impor tributos e penas, invadir, conquistar e ocupar terras de mouros e pagãos, edificar mosteiros e igrejas com privilégio de padroado. A Bula Inter Cetera, de Calisto III, datada de 13 de Março de 1456, insiste na entrega à Ordem de Cristo da “espiritualidade nas ilhas, vilas, portos, terras e lugares desde os cabos de Bojador e Não até por toda a Guiné”. A Bula Dum Fidei Constantium, de Leão X (7 de Junho de 1514) em que se reserva ao rei de Portugal e dos Algarves todas as igrejas e benefícios eclesiásticos, desde os cabos Bojador e Não até aos índios, ficando sujeitos à jurisdição canónica do Vigário e Santa Maria de Tomar.

Analisando o problema da escravatura, Pinto Rema recorda que o Batismo era a primeira porta que se abria para obter o estatuto de negro forro. São muitas as referências nas Crónicas onde encontramos menções aos pretos forros. Está perfeitamente documentado que os missionários, designadamente a partir do século XVIII estiveram na vanguarda da batalha contra a escravatura. Todo este processo está perfeitamente documentado, e assim chegamos ao Marquês de Sá da Bandeira que em Dezembro de 1836 por decreto pôs termo ao tráfico de negros em todas as possessões portuguesas. Em 3 de Novembro de 1856 foi abolido completamente o trabalho forçado dos escravos; em 1876, a abolição da escravatura era um facto assente.

Entremos agora propriamente na missionação da Guiné. Religiosamente, a Guiné estava muçulmanizada ao Norte, pelo contacto com os mercadores do rei de Túnis, e era cada vez mais idólatra à medida que se avança para o Sul. Esta idolatria aparece ricamente documentada nos depoimentos, entre outros, de Valentim Fernandes, Jerónimo Münzer, Luís de Cadamosto.

Havia falta de religiosos por causa da extensão do território bem como pela extrema pobreza dos habitantes, é assim que observa Pio II em Outubro de 1462. Em Dezembro desse ano, o franciscano Frei Afonso de Bolando foi nomeado prefeito da missão da Guiné, com direito de “escolher quaisquer religiosos e pessoas para tal necessárias”. Mas só chegou à costa Ocidental africana muito depois, na década de 1470. O autor comenta que a escolha não terá sido a mais correta numa altura em que havia já um profundo diferendo entre as coroas portuguesa e castelhana quanto à natureza da missionação. Nesta época, já os portugueses tinham atingido o fundo da Serra Leoa e encontrado as ilhas do arquipélago de Cabo Verde. Os territórios desde os cabos Bojador e Não até ao Sul da Serra Leoa formavam a “província da Guiné”.

O autor resume a missão à Guiné com a chegada dos franciscanos e que se revelou ineficaz por diferentes razões: clima mortífero, o isolamento em que viviam os missionários, as dificuldades sentidas como inultrapassáveis criadas pelos prosélitos do islamismo, a dificuldade de penetrar em terras selvagens e inóspitas. Por motivos idênticos se tornaram ineficazes as expedições dos missionários dominicanos a Benim e ao Senegal em 1487 e 1488 respetivamente.

Uma carta de D. João III a Clemente VII, datada de 20 de Maio de 1532, pedia-se a elevação da diocese do Funchal a sede metropolitana. Ficar-lhe-iam sufragâneas as dioceses dos Açores, Cabo Verde e Guiné, S. Tomé (Costa da Mina e Congo) e Goa. Esta petição real foi deferida. A criação do bispado em Santiago que iniciou uma nova era na missionação do arquipélago de Cabo Verde e Guiné.

O primeiro testemunho da criação de uma igreja em território onde de facto havia presença portuguesa foi a igreja de ilha de Goreia, hoje Senegal. Cerca de 1456, Diogo Gomes consegue chegar à fala com o poderoso rei Nominans, chefe do país de Barbara, ao Norte da embocadura do rio Gâmbia. Este escreveu ao Infante D. Henrique para pedir um sacerdote e que se batizasse toda a gente. Desconhece-se o êxito evangelizador junto deste rei.

O rei Bemoim, da região de Jaloph, entre os rios Senegal e Gâmbia, manifestou interesse em ser batizado, veio até Lisboa onde foi batizado com pompa e circunstância tendo como padrinhos a família real, regressou ao seu reino numa armada comandada por Pêro Vaz da Cunha, pretendia-se construir uma fortaleza na foz do rio Senegal. Por razões não explicadas, tudo acabou por terminar mal, Pêro Vaz da Cunha matou D. João Bemoim à punhalada, a explicação que deu a D. João II foi de que havia suspeita de traição, o rei reprovou-o, a fortaleza não se construiu.

Desde a primeira hora que se conhece a expressão “grumetes” da Guiné, eram os naturais que a partir do momento em que eram batizados se consideravam brancos. Este conceito terá um grande peso na figura do grumete e na história da precária missionação que aconteceu na Senegâmbia e depois na Guiné Portuguesa.

Em jeito, de conclusão foram magros os frutos de evangelização colhidos na Guiné durante o primeiro século, depois de 1434, quando Gil Eanes dobrou o Cabo Bojador, até 1533, ano da criação da diocese de Cabo Verde e Guiné. Por razões facilmente explicáveis, a evangelização em Cabo Verde foi um sucesso total. E dentro dos limites do atual território da Guiné-Bissau nada de especial se construiu. Henrique Pinto Rema vai analisar seguidamente as primeiras missões da costa da Guiné, entre 1533 e 1640.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18649: Notas de leitura (1067): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (35) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18658: Convívios (857): 37º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, 5ª feira, dia 24 de maio, no restaurante "Caravela de Ouro", Algés. Inscrições até às 24 horas de hoje, 2ª feira (Manuel Resende)



A MAGNÍFICA TABANCA DA LINHA - 37º CONVÍVIO


1. Vai realizar-se no próximo dia 24 de maio, quinta-feira, com início às 12 horas, mais um convívio da Magnífica Tabanca da Linha, no Restaurante "CARAVELA DE OURO" em Algés. Esperamos que mais uma vez seja do vosso agrado. O Almoço será servido às 13 horas.

E M E N T A

APERITIVOS
Bolinhos de bacalhau - Croquetes de vitela - Rissóis de camarão - Tapas de queijo e presunto Martini tinto e branco - Porto seco - Moscatel.

SOPAS
Creme de legumes - Creme de marisco

PRATO DE PEIXE
Arroz de garoupa

SOBREMESA
Salada de fruta ou Pudim

Café

BEBIDAS
Vinho branco e tinto (Ladeiras de Santa Comba-vinho da casa)
Águas - Sumos - Cerveja


PREÇO POR PESSOA - - - - - 20.00€
(Crianças dos 5 aos 10 anos pagam metade)

Restaurante "Caravela de Ouro":

Morada: Alameda Hermano Patrone, 1495 Algés (Jardim de Algés, junto à marginal)

Inscrições até às 24 horas do dia 21: 

(i) telemóvel  ou e-mail:

Jorge Rosales 914 421 882 - jorge.v.rosales@gmail.com
Manuel Resende 919 458 210 - manuel.resende8@gmail.com


Basta dizer  "vou" ao convite na página de grupo no Facebook

(Nota: quem disser “vou” no Facebook e vier acompanhado, não esqueçam de dizer, mesmo que seja em comentário)

2. Até 16 de maio último, havia já cerca de 36 inscrições. Temos mais 4 ainda pendentes de confirmação, mas já somos um grupinho bom. 

Tinha falado em fazermos uma foto de capa nova para o nosso grupo, e faremos, mas 40 é exactamente metade dos já habituais. Espero que até segunda feira ainda apareçam mais alguns.

Manuel Resende

domingo, 20 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18657: Blogues da nossa blogosfera (93): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (12): "Céu Azul"


Do Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.
 
CÉU AZUL 

ADÃO CRUZ
céu azul.png 

Acordei hoje com o céu azul
Não só o que me entrava pela janela
Mas também o que me saía da alma.
Ambos se fundiam numa mancha celestial
Onde se inscreviam versos
Muito dispersos
De um poema azul sem igual.
Não havia dores
As estrelas cintilantes há muito se apagaram.
Não havia sangue
Há muito que o sol-pôr adormeceu.
Não havia nada.
Apenas a glória de um poema azul
Fruto maduro da madrugada
Mãe fertilizada
De um sonho-sémen da memória.
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18628: Blogues da nossa blogosfera (92): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (11): "Poema do desgaste e do contraste"

Guiné 61/74 - P18656: Blogpoesia (567): "Altos andores...", "Partilhar...", e "Cirurgia dos mistérios...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Altos andores...

Mesmo amarrados,
quanto mais altos,
os andores das festas,
e os que não são,
com estardalhaço,
tombam e se estatelam no chão.
Nem os santos que eles levam lhes valem.
Na vida, também.
Aqueles ricaços muito ricos,
com fazendas e palácios,
com fábricas de tudo e nada,
por mais fundos sejam os alicerces,
não sobrevivem ao terramoto
que a vida é.
Até os castelos pedregosos,
depois de mortos,
se desfazem com o vento e a chuva da erosão.
De nada serve a opulência.
Basta uma gripe
que se apanha à fresca e mal tratada,
para tudo se acabar.
Tudo fica...

ouvindo concerto nº 3 de Rachmaninov por Martha Argerich
Roses, 13 de Maio de 2018
dia de chuva
Jlmg

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Partilhar...

Do que nos coube ou conseguimos, é preciso partilhar o que nos sobra.
Há sempre alguém a quem pode faltar.
Porque não lhe coube ou não consegue.
Cada um tem seus talentos. Aquele a mais que o normal. Pessoal e intransmisível.
É assim a natureza.
A partilha gera a união e a solidariedade.
Enriquece e fortalece o bem geral.
A desigualdade resulta da ausência desse hábito natural.
Gera o confronto e o tumulto.
A inveja e a competição sem regra.

ouvindo Nocturno de Chopin
dia enevoado e frio
Roses, 14 de Maio de 2018
8h8m
Jlmg

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Cirurgia dos mistérios…

Há tantos mistérios para dissecar ao sol.
Faltam cirurgiões, sérios e competentes.
Que peguem neles, um a um, e os traduzam na expressão mais simples.
Para que o vulgo entenda como a origem os expressou.
O da vida é o maior.
Sua fonte e seu sentido.
A variedade imensa das suas formas.
Desde as mais simples até às paragens intrincadas da mente humana.
O da energia.
Onde está sua raiz,
Onde o motor primeiro?
A atracção simbiótica pelos semelhantes
Que se verifica nos vários reinos.
Desde a conjugação à união.
Mas o maior de todos é aquele sentimento
Que prende os corpos e eleva as almas…

Mafra, 18 de Maio de 2018
21h18m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de Maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18627: Blogpoesia (566): "Vi o vento irado...", "Pedras e flores...", e "Pairando no ar...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P18655: E as nossas palmas vão para... (16): João Crisóstomo, nosso camarada da diáspora lusitana, por 3 razões: (i) foi homenageado pelos correios de Israel; (ii) continua solidário com Timor Leste; e (iii) convida-nos a todos para a sua festa do próximo dia 16 de setembro, em Paradas, A-dos-Cunhados, Torres Vedras


Foto: Cortesia de LusoAmericano, 19 de janeiro de 2018



Recorte do jornal LusoAlericano, 19 de laneiro de 2018



Timor Leste > Foto nº 1



Timor Leste > Foto nº 2


Timor Leste > Foto nº 3


Fotos (e legendas): © João Crisóstomo  (2018). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça / Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de nosso amigo e camarada da diáspora, João Crisóstomo (Nova Iorque), ativista de causas sociais, ex-alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67):


Data: 2 de maio de 2018 às 20:37
Assunto: Verão 2018...

Caro Luis Graça, e… todos os meus caríssimos amigos e suas respectivas queridas,

Este é longo, mas...

Quisera mas não dá para mencionar os nomes da tanta gente boa que fazem o favor de me conceder a sua amizade. Vou fazer o possível para ligar pelo telefone a tantos quantos puder, bem consciente porém de que agora com estes "facebook, "linkedins", e tantas redes ( que eu quase não uso porque são labirintos para mim) é muito difícil encontrá-los…enfim!


(i) Estão todos convidados, caros amigos e camaradas, para a festa dos Crispins & Crisóstomos, no próximo dia 16 de setembro, em Paradas, A-dos-Cunhados, Torres Vedras


Mas vamos primeiro ao mais importante: Eu e a minha querida [, Vilma,]   vamos passar umas semanas na Eslovénia e a seguir vamos a Portugal (, fins de Agosto até meados de Setembro) e como não vou poder ir visitar toda a gente individualmente como gostaria, estou a organizar maneira de nos encontrarmo.nos: é que estamos ainda celebrando o nosso quinto aniversário… e assim aproveito para convidar os meus amigos e familiares para uma tarde de amizade…

Portanto a todos vocês que me fazem o favor da vossa amizade que eu tanto aprecio: camaradas da Guiné, camaradas de tempos de seminário, e tantos outros que ao longo dos meus (já!) 74 anos de vida,  foram aparecendo para com a sua amizade fazerem de mim um felizardo… e evidentemente aos meus familiares Crispins e Crisóstomos… ponham na vossa agenda :

"Domingo Dia 16 de Setembro , na Associação para o Desenvolvimento das Paradas, Rua José Fereira, 5,  Paradas- A-dos-Cunhados, Torres Vedras (, junto à estrada de Santa Cruz para A-dos-Cunhados) a partir das 13.00 pm."

Será ocasião para desfrutar a nossa amizade,  revivendo tempos e experiências, bons uns e outros até menos bons, mas que foram talvez ocasião e início das relações de amizade que agora nos unem.


(ii) Emissão de selo, pelos correios de Israel, de homenagem aos meus esforços para o reforço do diálogo interreligioso

O Luís Graça pediu-me para dar notícias actualizadas e quis que lhe enviasse algo sobre um "reconhecimento" por parte da autoridade postal de Israel pelos meus esforços que foram considerados benéficos para o relacionamento entre o cristianismo e judaísmo. (*)

Francamente ninguém pode ficar mais surpreso do que eu fiquei; quando me falaram num selo pensei que era brincadeira. Mas depois ele "apareceu". Não quero estar a pretender fingida modéstia, mas acho que isto revela mais a generosidade de quem isto sugeriu do que o valor do recipiente. Mas está feito. E porque o Luís Graça assim me pediu, junto notícia que sobre o assunto saiu num jornal comunitário nestas paragens.

(iii) Notícias da minha recente estadia em Timor-Leste

Na mesma conversa telefónica,   o Luís Graça pediu-me para enviar também algo sobre a minha ida a Timor Leste… Mas isso,  meus caros,,  por mais que eu quisesse nunca poderia descrever cabalmente o que isso foi: na verdade foi uma experiência extraordinária que francamente sinto que apenas sou capaz de descrever quando o faço em conversa pessoal, um a um.

Tudo o resto é muito insuficiente,não chega. Mas a título de info, envio um "Comunicado" que, como Presidente da LAMETA,  enviei aos órgãos de informação especialmente sobre uma recente diligência efectuada com êxito naquele território e à qual este movimento pró-timorense esteve associado com êxito.

Juntamente também incluo 3 fotos e legendas sobre esse acontecimento e outros relacionados [Vd. ponto 2].

Desculpem o comprimento deste, que ser conciso é qualidade que infelizmente não possuo. Espero que a vossa paciência e compreensão compensem as minhas faltas.(**)

Um abraço com amizade,

Até 16 de setembro se Deus quiser!.

João

2. “Press Release” > Exposição na Universidade de Dili recorda apoio  das comunidades luso-americanas a Timor-Leste e inauguração de escola São Francisco de Assis em Boebau

LEGENDA DAS 3 FOTOS [Vd. acima]

Foto 1 > Uma das alas da exposição LAMETA na Escola Rui Cinatti em Dili. Esta exposição estará patente a partir de 5 de Maio na Universidade Nacional de Timor-Leste em Dili no âmbito das celebrações do 16º aniversário da independência nesta instituição de ensino superior.

Foto 2  > A população recebe o Embaixador de Portugal em Timor-Leste José Pedro Machado Vieira e outros convidados durante a cerimónia da inauguração da nova Escola S. Francisco de Assis, que a população de Boebau chama agora “sua”.

Foto 3 > Quando as pessoas sonham, a obra nasce. Alguns dos responsáveis pela ideia e pela obra da nova escola de Boebau: Rui Chamusco, João Crisóstomo e Gaspar Sobral.


O 16º aniversário da independência de Timor-Leste vai ser assinalado pela Universidade Nacional timorense com uma exposição sobre o papel das comunidades luso-americanas no apoio à independência daquele país.

Os 120 documentos, que ficarão expostos a partir de 5 de Maio na Universidade Nacional de Timor-Leste (UNTL), reproduzem em formato alargado páginas do livro “LAMETA, MOVIMENTO LUSO-AMERICANO PARA A AUTODETERMINAÇÃO DE TIMOR-LESTE” publicado em 2017 e no qual o activista João Crisóstomo dá conta do que foi o esforço pro-Timor da organização LAMETA e de muitos líderes comunitários luso-americanos partir de 1996 e até à independência timorense em 20 de Maio de 2002.

Os documentos a expor na UNTL estiveram já patentes em Março na “Escola Portuguesa” Rui Cinatti, em Dili, e na chamada “Escola dos Jesuistas” Amigos de Jesus, onde atrairam a atenção da população docente e discente de Dili bem como um importante sector da população da capital.

Esta exposição mereceu a atenção dos meios académicos da Universidade timorense que também quis dar a conhecer os documentos no seu estabelecimento de ensino superior. Esta exposição terá como curadora a professora Dra. Sabina da Fonseca.

“Tive algum papel influente na organização das exposições nas escolas Rui Cinatti e na Escola dos Jesuitas, mas a notícia de que a Universidade Nacional de Timor-Leste ia repetir a exposição dos documentos na suas instalações já a recebi depois de ter chegado aos Estados Unidos” – disse João Crisóstomo que esteve em Março em Timor-Leste para participar na inauguração da nova Escola S. Francisco de Assis, que ajudou a construir na zona montanhosa de Boebau-Manati.

Escola está inaugurada

A inauguração da Escola S. Francisco de Assis teve lugar em 19 de Março de 2018 como resultado da confluência de boas vontades e do envolvimento directo de três pessoas determinadas que fizeram questão de se deslocar a Timor para a cerimónia da inauguração: o professor reformado Rui Chamusco do Sabugal; Gaspar Sobral, timorense natural de Boebau e também residente no Sabugal, e o activista luso-americano João Crisóstomo, residente em Queens, NY.

O activista luso-americano tinha estado em Timor-Leste em Maio de 2017, quando da celebração do 15º aniversário da independência. Durante a estadia teve oportunidade de visitar algumas das áreas mais afastadas da capital entre as quais a região montanhosa de Boebau-Manati. Foi nesta aldeia de Boebau que Crisóstomo, rodeado de dezenas de crianças dessa aldeia e de outras vizinhas sem acesso à educação por falta de escolas, resolveu associar- se a Rui Chamusco e Gaspar Sobral que, já com alguns tijolos e vigas na aldeia, esperavam melhor altura para concretizar o seu sonho de construir uma escola para a população local.

De regresso aos Estados Unidos, Crisóstomo tentou obter o apoio de diversas pessoas para lançar uma campanha a favor da construção desta e de muitas outras escolas nas regiões montanhosas de Timor-Leste. O projecto, contudo, chocou quase sempre com a resposta de que Timor-Leste era rico em petróleo e que dispunha dos meios financeiros para alargar a rede escolar.

“ Lembrei-me do caso de Portugal de há cinquenta anos , com abundantes reservas de ouro, enquanto o país carecia de escolas e infra-estruturas básicas… Com ou sem petróleo, a verdade é que o país tem ainda imensos fogos a apagar e as vidas de centenas ou milhares de crianças do interior não podem ser, entretanto, hipotecadas ao analfabetismo; e decidi por isso dar eu própio o primeiro passo em frente, juntando-me à generosidade do professor Chamusco. O chefe da aldeia deu o terreno e o professor Chamusco e eu colocamos no projecto algumas das nossas poupanças. A escola foi inaugurada em Março!” – disse João Crisóstomo, que fez questão de ir a Timor assistir à inauguração.

A inauguração contou com a presença do embaixador de Portugal José Pedro Machado Vieira, de Mons. Mario Godamo, da Nunciatura Apostólica e representando a Santa Sé, e de outras figuras da vida timorense, que se submeteram às agruras de uma longa viagem por estradas térreas do interior timorense. Também teve ampla participação popular já que o dia de festa fez com que todos os trilhos fossem dar a Boebau.

Com as dificuldades que a língua portuguesa ainda conta em Timor-Leste, há agora mais uma escola onde se ensina em português.

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 18 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18103: (De)Caras (102): O nosso João Crisóstomo em estampilha comemorativa da Fundação Internacional Raoul Wallenberg, emitida pelos correios postais do estado de Israel

(**) Último poste da série > 21 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18545: E as nossas palmas vão para... (15): Diamantino Varrasquinho, ex-fur mil, Pel Caç Nat 52 (Mato Cão, 1971/73), alentejano de Ervidel, Aljustrel, que, não sendo ainda nosso grã-tabanqueiro, volta a vir ao nosso Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, em 5 de maio de 2018, depois de se ter inscrito seis vezes em anos anteriores (2008, 2011, 2012, 2013, 2014 e 2016)

Vd. também postes de:


Guiné 61/74 - P18654: Parabéns a você (1438): Mário Pinto, ex-Fur Mil Art da CART 2519 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 19 de Maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18650: Parabéns a você (1437): Joaquim Martins, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4142 (Guiné, 1972/74) e Xico Allen, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 3566 (Guiné, 1972/74)

sábado, 19 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18653: Consultório militar do José Martins (37): Monumento aos Combatentes de Vila Chã da Beira

1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 4 de Maio de 2018:

Boa noite
Foi amor à primeira vista pelo monumento datado de 1965. Foi só reunir os elementos e aqui vai um pequeno texto.
Temos de convidar o camarada a fazer parte do blogue. Há necessidade de novos elementos e novas histórias. Atrás de um, outros virão.

Bom fim de semana.
Zé Martins


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Nota do editor

Último poste da série de 9 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18618: Consultório militar do José Martins (36): Registo Militar de Henrique Pedro Daniel de Duarte Silva Y Aranda

Guiné 61/74 - P18652: Os nossos seres, saberes e lazeres (268): Monsanto revisitada (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 2 de Março de 2018:

Queridos amigos,
Antes de mais, uma breve explicação. Ao viajar-se em grupo, manda o espírito gregário que os viandantes permutem imagens, ninguém nos substitui o olhar mas dá prazer ver o que os outros olham, assim se aprende a alargar a imaginação, a esporear a curiosidade para novas tentativas e ensaios.
Recebi outros modos de olhar Monsanto, deram-me tal satisfação que aqui vos venho partilhar, espero dar-vos idêntica satisfação em pôr os olhos na vastidão destes fraguedos, nesta lavagem dos olhos por tanto espaço apertado e simultaneamente aberto à vastidão.
Aqui vos ofereço um pequeno festim de imagens, porque Monsanto merece e muito.

Um abraço do
Mário


Monsanto revisitada

Beja Santos

A itinerância que se iniciou num monte alentejano nos arredores de Estremoz e que findou nas Termas de S. Pedro do Sul teve um ponto alto em Monsanto, foi destino aclamado unanimemente pela companha, uns desconheciam de todo, outros tinham vagas reminiscências. O viandante quando pega na câmara não reparte emoções, vai sempre ao encontro daquilo que o surpreende, mesmo em situações de revisão, o que não era o caso. Concluídos os apontamentos da viagem, distribuiu-os pela companha, recebeu as emoções de outros, é com satisfação e prazer da partilha que aqui se mostra o que outros viram e confecionaram, o que os deslumbrou exatamente no mesmo tempo em que o viandante andava em roda livre a surpreender-se naquela cultura ciclópica. O resultado aqui está.



Andavam todos pelas alturas, a coscuvilhar pelos recantos, a ver pelo canto do olho o esplendor da paisagem, até Espanha. Alguém fotografou um membro da companha criando a ilusão de que está em plano inclinado, quem vê não atina com as sinuosidades daqueles caminhos que apontam para o castelo. E a primeira imagem mostra a energia do que é assentar casa entre fragas e penedias, ali se pode sorver o ar lavado que sobe das planuras e arrepiar-se com as ventanias que se escapam pelas veredas das montanhas.



Que belo contraste entre uma casa incrustada na lage e aquele penedo sobrançeiro, qual periscópio de submarino, a vigiar o movimento de tudo quanto se passa lá em baixo, penedo de longa memória, possui informações que vêm do tempo das legiões romanas e da moirama, dos afrontamentos vindos de Castela, por vezes com exércitos mercenários, tudo por aqui passou, os pedregulhos ficaram inabaláveis, decididamente território pátrio.



Há quem critique a intervenção feita neste glorioso castelo, faltam-nos conhecimentos para entrar nesse debate. O que o viandante dispõe à vista desarmada é de uma construção medieval de grande imponência, bem enxertada naquelas toneladas de penedia. E permitam a observação de que aquela bela escada da segunda imagem parece levar o caminhante até ao céu, aqui se confessa o deslumbramento por tão belo contraste entre o vigor da pedra, aquela densidade da muralha, a intervenção do azul-celeste a matizar a massa volátil do forro das nuvens.



Nestas coisas de castelos medievais que, com a perda de função, são por vezes umas indigestas atrações turísiticas, uns espaços para visitar a alta velocidade, e tantas vezes com o desconforto de não haver um guia que situe o monumento no seu tempo, cada um fica com total liberdade de se empolgar com pormenores. Veja-se que os céus estavam de feição, nem sabem os pintores de profissão ou de práticas de fim-de-semana o que perderam naquele dia, tão promissores foram os céus, a luz e os contrastes da pedra.


E pronto, deu-se uso a trabalho alheio, Monsanto merece, aqui muito se penou para se falar português, o turista que sabe que tem à sua espera o conforto das residências, nem lhe ocorre pensar do que foi viver na dureza destas alturas, lembra-se o viandante de um passeio que fez a Piódão, escorria água de todas as bandas, a humidade dificultava o respirar, entanto todos se deslumbravam até que descendo pela aspereza de um caminho uma mulher embaiucada olhou o grupo de revés e comentou em voz alta: “Pois é, é muito bonito para ver e depois regressar às vossas casas, vêm até aqui para matar a curiosidade e nunca mais se lembram de quem cá fica!”.

Por isso e por tudo mais, o viandante promete voltar a Monsanto, também por curiosidade e amor a quem lá vive.

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Nota do editor

Último poste da série de 12 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18625: Os nossos seres, saberes e lazeres (267): De Estremoz para as Termas de S. Pedro do Sul (4) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18651: XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (26): o Jaime Bonifácio Marques da Silva, o grande embaixador da aguardente DOC Lourinhã


O Jaime Bonifácio Marques da Silva - Seixal / Lourinhã [BCP 21, Angola, 1970/72] é um dos meus amigos e camaradas mais generosos que eu conheço... Este ano aceitou o convite para estar presente no XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande... E fez questão de trazer consigo duas garrafas de aguardente DOC Lourinhã... Da sua garrafeira particular... E quis partilhá-las com todos nós... As duas garrafas desapareceram, mas chegaram para todos, incluindo os empregados que nos serviram à mesa... Autarca e professor de educação física em Fafe durante 40 anos, antes de voltar definitivamente à sua terra, Seixal, Lourinhã, o Jaime despediu-se dos seus vizinhos oferecendo a cada um um garrafa de aguardente DOC Lourinhã, uma produto único, de excelência, que é já também uma marca de Portugal... Em relação ao Cognac e ao Armagnac, a aguardente DOC Lourinhã não tem complexos de inferioridade quando apreciado em provas cegas... O único problema é o da escala de produção... mas também de marketing e de história... A Aguardente Doc Lourinhã tem um quarto de século de existência, legal... Mas há mais de 200 anos que a Região da Lourinhã fornece aguardentes para a a região demarcada do Douro...


Tanto o Jaime Silva como a Alice Carneiro são membros da Colegiada de Nossa Senhora da Anunciação da Lourinhã que tem justamente "como principais objectivos a defesa, o prestígio, a valorização e a divulgação da Aguardente Vínica da Região Demarcada da Lourinhã"... Foi o que fizeram os dois no nosso XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real...


O Jaime, o Eduardo Magalhães Ribeiro e o J. Casimiro Carvalho, que ficaram na mesma mesa...


Brindando ao passado, ao presente e ao futuro, à Tabanca Grande, à amizade, à camaradagem...


Os brindes foram-se alargando...


"No céu não há disto... e em Guileje também não havia!", parece querer dizer o régulo da Tabanca da Maia, o J. Casimiro Carvalho...


"Se para o ano houver mais disto, prometo voltar" (confidenciou-me o "herói de Gadamael")...


Os brindes alargavam-se ao Agostinho Ribeiro e ao Hélder Sousa (na ponta esquerda...)


Da esquerda para a direita. Agostinho Ribeiro, Hélder Sousa, Alice Carneiro, Jaime Silva, Eduardo Magalhães Ribeiro e J. Casimiro Carvalho


Miguel Pessoa & Giselda Pessoa - Lisboa [Bissalanca, 1972/74], com o António Martins de Matos pelo meio ouvem o Jaime Silva, ex-alf mil paraquedista do BCP 21 (Angola, 1970/72) a falar de um produto de que ele é "connaisseur": a aguardente DOC Lourinhã.... Só 3 regiões demarcadas de aguardente vínica no mundo: Cognac, Armagnac e... Lourinhã!


O Jaime Silva a explicar ao nosso ten gen  pilav ref, António Martins de Matos - Lisboa [Bissalanca, 1972/74] que a Lourinhã não é só a capital dos dinossauros...


O Jaime Silva e o Arménio Santos - Lisboa [Aldeia Formosa, 1968/70]: o antigo deputado da Assembleia da República e dirigente sindical da UGT


O António Mendes (Carapinheira / Montemor-o-Velho) que o nosso editor Luís Graça vem a descobrir que é pai da sua colega da ENP/NOVA, a professora Sílvia Lopes... Mais uma vez o Mundo foi Pequeno e a Nossa Tabanca... foi Grande.

Monte Real > XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 5 de maio de 2018 >

Fotos (e legendas): © Miguel Pessoa (2018). Todos os direitos reservados [Edição:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P18650: Parabéns a você (1437): Joaquim Martins, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4142 (Guiné, 1972/74) e Xico Allen, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 3566 (Guiné, 1972/74)


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Nota do editor

Último poste da série de 18 de Maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18645: Parabéns a você (1436): Joaquim Fernandes Alves, ex-Fur Mil Art da CART 1659 (Guiné, 1967/68)

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18649: Notas de leitura (1067): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (35) (Mário Beja Santos)

BNU em Bissau


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Dezembro de 2017:

Queridos amigos,
Admito que esta exposição assume por vezes um caráter fastidioso pela quantidade de pormenores que o gerente carreia nos seus relatórios para Lisboa. Somos forçados a intuir que a economia agrícola guineense suscitava um gradual interesse, como se veio a demonstrar pelas aplicações financeiras que irão ser feitas em diferentes áreas do desenvolvimento agrícola.
Não deixa de surpreender, quando se leem os relatórios concomitantes ao período da guerra, como os relatórios põem acento tónico nas experiências agrícolas, nas presunções de novos mercados, nas potencialidades da terra, a despeito da tremenda desarticulação em que se encontrava território, fruto da guerrilha. Para entender a tendência, é também necessário atender às necessidades prementes da metrópole, carente de oleaginosas.
Tinha chegado a era do Óleo Fula.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (35)

Beja Santos

Estamos em meados da década de 1950, há expansão mas surgem contratempos imprevistos. É o que se lê no relatório a seguir ao descabelado elogio à vinda do General Craveiro Lopes em visita oficial à Guiné:
“No que respeita à Dependência, mantiveram-se os seus resultados em curva ascendente, embora no último trimestre do exercício tivessem sido suspensas as transferências, no que a Filial deixou de receber cerca de 300 contos, por se terem esgotado as disponibilidades do Fundo Cambial, em consequência de terem ficado, durante alguns meses, sem poderem ser exportados, produtos num valor total de 40 mil contos, que excederam os contingentes fixados para a metrópole e para que não foram conseguidos outros mercados externos”. O ministro do Ultramar terá entretanto tomado providências pelo que o gerente mostra regozijo: “Essa circunstância, aliada às boas colheitas do ano agrícola em curso, permitem-nos encarar com maior optimismo o novo exercício e esperar que, no seu termo e pela sexta vez consecutiva, a Dependência volte a apurar os mais elevados resultados desde a sua abertura”. E despede-se impante: “Ao deixarmos esta encantadora e prometedora Guiné, para iniciarmos uma licença que utilizamos pela primeira vez em 30 anos consecutivos de serviço prestado à nossa Instituição, vamos com a certeza de que, pelo menos no corrente ano ainda, a Dependência não interrompe o caminho do progresso que tão marcadamente vem trilhando”.

É simultaneamente risonha e inquietante a situação que faz da evolução da praça:
“O comércio continua a expandir-se, pois, dia a dia, aumenta o número de comerciantes por toda a Província, a que agora está a juntar-se uma nova classe de indivíduos que mediante apenas o pagamento das licenças de importação e camarárias, pois não têm estabelecimento nem empregados, convertem-se em comerciantes ambulantes, vendendo em todos os locais ao comércio retalhista, a preços mais reduzidos e em concorrência com o comércio atacadista grande e pequeno, e estes continuam a não vender o suficiente para que sempre se preparem e esperam, de que resultam permanentes e excessivas existências, com todos os seus inconvenientes e a que, em boa verdade, parece que só restringindo a importação se poderia pôr cobro.
Embora a produção da mancarra, que continua a ser o pilar em que assenta a vida comercial desta Província, tenha sido inferior no ano findo, nem por isso o comércio esteve menos activo, pois dois importantes factores vieram compensar fortemente essa quebra e que foram os preparativos para a recepção de Sua Excelência o Presidente da República, cuja visita, acompanhado do então Ministro do Ultramar, Senhor Comandante Sarmento Rodrigues, que foi dilecto Governador desta Província, encheu de júbilo a sua população, e as muitas e vultosas obras que tiveram início ou continuaram nesse ano, ao abrigo do Plano de Fomento e para as quais o Estado integrou no seu orçamento, do mesmo ano, como despesa extraordinária, verbas que excederam 33 mil contos”.

Na segunda parte deste relatório de exercício de 1955 debruça-se exaustivamente sobre a situação das colheitas:
“A produção vegetal continua a ser a base da economia guineense, constituindo, mesmo praticamente, toda a sua produção, pois em 1954, último ano de que está feito ao apuramento oficial, traduziu-se por 91% do valor das exportações e acrescentando-lhe a produção florestal, sobra 94%.
Esta produção é obtida quer por meio da lavoura – a mancarra e o arroz – quer por simples colheita – o coconote – tendo essas duas oleaginosas, naquela ano, constituído cerca de 85% do valor da exportação.
Ainda sem qualquer expressão na exportação, vários outros produtos são também cultivados e desempenham importante papel na economia interna, como seja o milho, a cana-sacarina e a mandioca, sobretudo o primeiro, cuja produção anual tem sido avaliada em mais de 7 mil toneladas.
A cultura da mancarra, como toda a agricultura e colheita na província, continua a ser feita inteiramente pelos indígenas, em regime de rotação, sendo as suas maiores áreas de produção a circunscrição civil de Farim e a parte Norte de Bafatá e Gabu, onde os solos são mais ligeiros e a pluviosidade menor, como convém, sendo de notar que a grande área de produção de mancarra tem, nesta parte de África, o seu limite meridional dento da Guiné Portuguesa.
A sua cultura, feita em excesso, constitui, como se sabe, um perigo para os solos e vegetação, motivo porque se considera uma sorte para a Guiné que as áreas cultivadas não tenham atingido a desmedida proporção que se verifica no Senegal, onde já se põem graves problemas de revalorização do meio natural, que estão muito longe de ter a mesma acuidade entre nós.

Todavia, julga-se possível aumentar consideravelmente a produção da mancarra na Guiné, em condições que não ameassem o actual equilíbrio ecológico e para isso aconselha-se um grande esforço de colaboração entre indígenas, comerciantes e Estado; a progressiva melhoria de sementes, na forma da sua distribuição e armazenagem do produto e na procura de técnicas de cultura mais perfeitas. Se tal obra não for levada a efeito, receia-se que a Guiné corra o risco da ‘senegalização’, por motivo do crescimento da população e do aumento da procura e porque sem a progressiva racionalização cultural, assistir-se-á ao incremento da destruição da vegetação e ao encerramento dos pousios.
Felizmente é este o ponto de vista do governador desta Província, como já o demonstrou quando reuniu todos os régulos e ‘grandes’ da Guiné para lhes expor as suas ideias quanto aos problemas da produção, conforme referimos na nossa informação anterior, e posteriormente quando convocou a reunião no seu gabinete os gerentes das principais casas exportadoras para com eles estudar as medidas a tomar sobre a melhoria da semente da mancarra, como também da necessidade de serem construídos celeiros em melhores condições de adaptabilidade e conservação, por se ter atribuído então, ao mau estado das sementes a enorme quebra verificada na última colheita.

Como se sabe, a mancarra produzida é quase totalmente exportada, saindo ou entrando uma parte pelas fronteiras terrestres, por contrabando tanto dos indígenas como de alguns comerciantes, consoante as flutuações da cotação, mas sendo a saída o caos mais frequente.
Só há poucos anos uma fábrica começou a produzir óleo de mancarra mas irregularmente, por razões de ordem financeira e técnica, pois, tendo uma capacidade muito maior, apenas produziu 105 mil litros em 1951, mais de 42 mil em 1953, mais de 331 mil em 1954 e nada produziu em 1955, estando outras em construção que permitirão o total abastecimento interno e exportação do excedente, tendo a Sociedade Comercial Ultramarina iniciado já a elaboração da sua, em regime experimental”.
É minucioso nos detalhes, alarga-se em perspetivas animadoras.

Também se revela bastante documentado quanto ao arroz, como se pode ler:
“Ao completar-se a pacificação, a Guiné importava arroz, e autores como Ernesto de Vasconcelos e Carlos Pereira, nos seus livros, sugeriam a necessidade de ser intensificada a sua cultura para se chegar ao autoabastecimento.
No último quarto de século, porém a produção aumentou consideravelmente e não só se chegou a esse autoabastecimento como foram exportadas razoáveis quantidades para a metrópole, quando ela se não abastecia por si, e sobretudo, digamos mesmo, frequentemente, até há pouco mais de ano, para o Senegal, Guiné Francesa e Gâmbia, mas quase todo clandestinamente, não figurando portanto, nas estatísticas alfandegárias.
Continua esse cereal a ser não só a base da alimentação da população indígena como a principal produção da Guiné. Segundo estudos recentes baseados na fotografia aérea, as principais zonas produtoras de arroz de regadio da Guiné têm uma extensão de 78 mil hectares, os quais não incluem as pequenas bolanhas. O rendimento por hectare tem sido avaliado na Guiné entre 1800 e 3000 quilos (2500 a 5500 nos arrozais novos do Sul) e aplicando à área total indicada acima o rendimento, baixo, de 2000 quilos, obtém-se uma produção da ordem de 150 mil toneladas, número que se considera excessivo. Julga-se que a estimativa oficial que vem sendo apresentada de uma produção arrozeira de 45 a 60 mil toneladas peca por defeituosa e que não se errará avaliando-a à volta de 100 mil toneladas anuais.
Na zona litoral, as áreas de mangal e lalas salgadas com possibilidade de aproveitamento orizícola excedem 100 mil hectares. Com a sua ocupação e melhoria dos métodos agrícolas, creio que a produção poderia triplicar, isto é, atingir um valor da ordem das 300 mil toneladas, como também se considera que uma orientação feita nesse sentido constituiria, sem dúvida, uma das bases de uma sã economia guineense.

Como se informou em devido tempo, a colheita do arroz do ano anterior – 1954/1955 – foi boa e dela ficaram largos excedentes – umas 10 mil toneladas – para que não se conseguiram mercados externos e ainda em princípios do corrente ano o problema da sua colocação não se achava solucionado e a que virá dar-lhe maior acuidade a certeza de uma nova colheita mais abundante, havendo porém, a esperança de que chegarão a bom termo as negociações em curso para o escoamento da razoável parte desse excedente e para o que o governo acaba de dar forte, se não decisiva contribuição, suspendendo até 31 de Dezembro do corrente ano as sobretaxas que recaem sobre a exportação do arroz descascado e em meio preparo, podendo, assim, ser reduzido o seu preço e provocar maior interesse dos mercados consumidores externos”.

O relatório fala ainda do coconote e óleo de palma e não deixa de tecer algumas considerações sobre as obras dos portos, o respetivo movimento e até a vida económica e financeira dos municípios. Da leitura destes relatórios fica-nos a convicção de que o BNU está a fazer uma aposta muito forte na vida agrícola da Guiné, fosse qual fosse a preparação do relator não é entendível que chega a tais minudências do funcionamento do mercado se acaso em Lisboa não houvesse um grande interesse em conhecer em profundidade o que se estava a passar na agricultura guineense.

Clipper em Bolama 

Nota que revela com o BNU também fazia, inicialmente, empréstimos sob penhores

(Continua)
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Nota do editor

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Último poste da série de 14 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18631: Notas de leitura (1066): “Tatuagens da Guerra da Guiné”, pelo Capitão Luís Riquito; Guerra e Paz Editores, 2018 (Mário Beja Santos)