domingo, 23 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19324: Feliz Natal 2018 (3): Fernando Tabanez Ribeiro, 2.º Tenente da Reserva Naval; Domingos Gonçalves, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1546 e Ernestino Caniço, ex- Alf Mil Cav, CMDT do PEL REC Daimler 2208

1. Mensagem do nosso camarada e amigo Fernando Tabanez Ribeiro (2.º Tenente da Reserva Naval, LFGs "Lira" e "Cassiopeia",  CTIG, 1972/73), com data de 11 de Dezembro de 2018:

Estimado camarada Carlos Vinhal: 
2018. Mais um Natal. 
Recordando o Natal ao calor da lareira nas nossas aldeias de outros tempos, aí vai um soneto para fazer o contraponto com os que passámos na Guiné "Até ao meu regresso. 
Como em tudo na vida, também o Natal é fruto dos tempos e das circunstâncias. 

Votos de saúde e paz para todos.
Fernando Tabanez Ribeiro


NATAL DAS ALDEIAS

Era assim o Natal antigamente, 
nas aldeias, em volta da lareira, 
velando uma chama verdadeira 
à luz da candeia, resplandecente. 

O cavador sorri benevolente, 
tem a neta ao colo na brincadeira 
com a boneca comprada na feira. 
Paz sublimada no rosto de um crente. 

Os velhos contam histórias às crianças, 
de embalar sonhos, que calam fundo. 
E avivam o lume e as lembranças. 

Natal de outros tempos, sereno e profundo, 
consoada simples das almas mansas, 
com Jesus presente a abraçar o Mundo.

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2. Mensagem do nosso camarada Domingos Gonçalves, (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1546 / BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68) com data de 22 de Dezembro de 2018:

Nesta quadra festiva desejo a todos os que, serenamente, sob a sombra da grande árvore da Tabanca Grande, passam algum do seu tempo, BOAS FESTAS de Natal, e um ano de 2019 cheio de saúde, e muitas coisas boas.

Que a todos, o Menino Jesus, tão celestial, proporcione um alegre Natal. Já quanto a esse velhote barrigudo, que tantas quimeras promete, tanta coisa virtual, não lhe liguem muito. Deixem-no subir pelas janelas, ou vaguear pelos telhados. Mas não lhe entreguem a chave da casa.

FELIZ NATAL
BOM ANO NOVO

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3. Mensagem do nosso camarada Ernestino Caniço (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Rec Daimler 2208, MansabáMansoa e Bissau, 1970/71):

Caros amigos 
Votos de Boas Festas, um óptimo 2019, especialmente com saúde, e, esperançado num bom 2050. 

Um grande abraço 
Ernestino Caniço



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4. Mensagem do nosso camarada José Firmino (ex-Soldado Atirador da CCAÇ 2585/BCAÇ 2884, Jolmete, 1969/71) com data de 4 de Dezembro de 2018:

Amigos e camaradas da Tabanca Grande
Para todos vós e respectiva família, os meus votos de um Santo Natal e um 2019 cheio de saúde.

José Firmino
CCAÇ 2585
Jolmete
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Nota do editor

Último poste da série de22 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19319: Feliz Natal 2018 (2): Fantasias de Natal (Manuel Luís R. Sousa, ex-Soldado At Inf do BCAÇ 4512/72)

Guiné 61/74 - P19323: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (10): José Manuel Cancela, ex-Soldado Apontador de Metralhadora da CCAÇ 2382 e Hélder Valério de Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF


1. Mensagem do nosso camarada e amigo José Manuel Cancela (ex-Soldado Apontador de Metralhadora da CCAÇ 2382, Bula, Buba, Aldeia Formosa, Contabane, Mampatá e Chamarra, 1968/70), com data de 21 de Dezembro de 2018:

Olá,amigos Tabanqueiros. 
Aqui vai a prova que estou cá, e continuarei. 

Um grande abraço a todos, com votos de festas felizes.
José Manuel Cancela

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2. Mensagem do nosso camarada Hélder Valério de Sousa (ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72), com data de 6 de 29 de Abril de 2018:

Caros Amigos
Acho que a proposta que foi feita para aproveitarmos esta Quadra para fazer "prova de vida" foi uma boa iniciativa e tenho pena que esteja com fraca resposta. Por isso vou tentar dar o meu pequeno contributo.

Sim, de facto "estou vivo" e agora com melhor ânimo, já que as análises e outros "elementos auxiliares de diagnóstico" têm dado resultados bons. Não é uma decisão definitiva, afinal a intervenção foi há apenas (vai fazer) 10 meses e é preciso, segundo o urologista, passar mais algum tempo para declarar a "morte dos bichinhos" mas lá que anima, isso sim.

Não quero fazer falsas promessas (deixo isso para os decisores do poder), apenas afirmo a minha intenção de poder aprofundar a minha colaboração com o Blogue.

Entretanto, umas "Festas Felizes"!

Abraços
Hélder V. Sousa
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19320: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (9): Faz hoje 47 anos que parti para o CTIG, com o meu BART 3873, e a minha CART 3494 (António Bonito, ex-fur mil)

Guiné 61/74 - P19322: Manuscrito(s) (Luís Graça) (148): Revisitando o Portugal profundo de 1960...Festa de Nª Sra. do Socorro, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses: 7 contos e 600 de foguetório, 2 bandas filarmónicas, 4 quilos de cavacas... para os anjinhos; 450 escudos para os padres; e mil escudos de vinho para os músicos...Quando as festas populares davam prejuízo e os mordomos tinham de abrir os cordões à bolsa, honrando a palavra dada...





Marco de Canaveses > Antiga freguesia de Paredes de Viadores  > Festa de Nossa Senhora do Socorro > Estrutura da despesa e receita > Documento s/d c. 1950/60]. Fonte: Arquivo da Quinta de Candoz

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)



1. Gosto de mexer nos papéis antigos: cartas, fotografias, faturas, diários, jornais... Estão lá pedaços dos nosso passado, das nossas vidas, individuais e coletivas 

Ontem, remexendo nos papéis do meu falecido sogro, José Carneiro (1911-1996), voltei a examinar, com mais atenção,  um documento manuscrito, sem data, com a discriminação das despesas e receitas da comissão das festas de Nossa Senhora do Socorro, que se realiza todos os anos, no último fim de semana do mês de julho. É uma romaria antiga, se bem que a capela tenha sido edificada nas últimas décadas do séc. XIX (c. 1875).

Estas terras são antiquíssimas. Já o concelho de Marco de Canaveses é uma criação do liberalismo, remonta a 1852, tendo resultado da anexação dos concelhos de Benviver, Canaveses, Soalhães, Portocarreiro e parte dos de Gouveia e Santa Cruz de Riba Tâmega.

O meu sogro, José Carneiro,  foi várias vezes mordomo destas festas, as fr N. Sra. do Socorro, consideradas uma das maiores e mais concorrids festas populares do concelho. O documento que encontrámos deve dizer respeito ao ano de 1960, segundo informação das mulheres da família que nestas coisas têm melhor memória do que os homens.

A minha cunhada Nitas  [Ana Carneiro] lembra-se, tinha ela 13 anos já feitos, de andar na festa a angariara dinheiro com as florinhas de papel, com um alfinete,  que eram espetadas na lapela do casaco dos cavalheiros, à entrada do recinto. As receitas que daí provieram ainda atingiram uma cifra razoável para a época: c. de 650$00... Mas, mesmo assim, insuficientes para pagar o imposto de selo: selar 35 programas, nas finanças, custava na altura  914$40  (!), uam exorbitância.
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O total de despesas desse  ano ultrapou os 24 contos, o quivalente, a preços de hoje,  a 10 726 euros.  Repare-se, que o foguetório já nessa altura representava quase um terço (31,1%)  do total das despesas.  Havia 4 fogueteiros,  que deitavam fogo à competição, havendo um prémio para o melhor...

Para a contratação de duas bandas de músicas, mais os Zés Pereiras, uns e outros pagos em dinheiro e em géneros, ia a maior fatia do bolo  (41,7%):

  • Banda de música dos Bombeiros Volunários: 4100;
  • Banda de música de Tio Mau: 2500;
  • Zés Pereiras: 450
  • Carne para os músicos: 1222;
  • Vinho para os músicos: 1000.
  • Mercearias, e pão:

Subotal: 10191,6.

As duas rúbricas somavam mais de 70% das despesas...  Ontem como hoje... Com uma diferença: as bandas filarmónicas tem de competir hoje com os "artistas de variedades" e "bandas de música ligeira" que têm cachês de dezenas de milhares de euros.

Deliciosa é a rúbrica das cavacas:  100 escudos de cavacas (4 quilos) para...os anjinhos (que animavam as procissões...). Ou as dos Zés Pereiras (450 escudos), sem esquecer a GNR que não andava a cavalo nem tinha meio de transporte próprio (400 escudos). Nas despesas com os padres (450 escudos),  inclui-se o pregador, que vinha de fora, e cuja obrigação era de arrebatar as almas e de pôr os corações a sangrar...

Apesar da pobreza generalizada (estamos em terras de rendeiros e de grande emigração...), também era vulgar as pessoas ofereceram à Nª Srª do Socorro objetos em ouro (brincos, cordões,  fios, pulseiras, etc.), como forma de pagamento de promessas. Essa prática terá aumentado com a emigração e com a guerra colonial, nos anos 60/70. Ainda me lembro de ver, nos anos 70, já no pós-25d e Abril, o andor da santa coberto de notas, escudos, francos, marcos...

 As receitas, nesse ano de 1960, foram inferiores às despesas... O prejuízo foi dividido pelos seis mordomos da comissão organizadora (cabendo 961$63, a cada um…).

 O meu sogro, além de proprietário agrícola, era construtor de ramadas, ofício que herdou do irmão mais velho. Temos registo da sua facturação de 3 ou 4 décadas.  A equipa de ramadeiros era flexível, variando entre 3 a 7, incluindo o próprio construtor e pelo menos um dos seus filhos (primeiro o mais velho, o António que irá para o Brasil e depois para Moçambque,  e a seguir  o Manuel Ferreira Carneiro, no final dos anos e, mais tarde, nos anos de 1963 a 1967, o José Ferreira Carneiro, o benjamim da família, que também foi mobilizado para Angola (1969/71)

Em geral, o construtor ganhava o dobro dos seus oficiais. Os honorários do construtor vão, nesta época (em que praticamente não havia inflação, até  meados dos anos 60) , entre os 30 e os 50 escudos, dependendo do cliente e da distância da obra em relação ao local do estabelecimento principal (que era Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses). As ferramentas eram dele. O material (esteios, em pedra, e mais tarde em cimento, bem como o fio de arame) eram fornecidos pelo cliente (, o proprietário). Fazia ramadas na região mas também em Trás-os-Montes, nas Quintas do Douro.

 Tudo isto para dizer que a soma que ele teve de desembolsar, como mordomo da festa,em 1960, equivalia a um mês de trabalho nas ramadas... Mas a palavra dada para ele era "sagrada",,, Ser mordomo era, de resto,  um privilégio e uma honra.

Enfim, outros tempos, outras gentes, outros princípios, outros valores!... E outras formas de sociabilidade e de de lazer.



Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz > 7 de Dezembro de 2007 > A Linha de Caminho de Ferro do Douro, entre o Juncal  e Mosteiró,   vista da Quinta de Candoz.


Foto (e legenda): © Luís Graça  (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Marco de Canaveses, Paredes de Viadores, Adro da Igreja de Nª Sra. do Socorro > 7 de setembro de 2013 > Festa da Família Ferreira  > Fotografia de grupo... Pelas nossas contas, e pelas fotos, teremos tido nesse ano mais de uma centena de presenças. A a nossa grã-tabanqueira Alice Carneiro é filha de Maria Ferreira e José Carneiro.

Foto (e legenda): © Luís Graça  (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné 61/74 - P19321: Parabéns a você (1546): Albano Costa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 4150/73 (Guiné, 1973/74); Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS do STM/QG/CTIG (Guiné, 1968/70); Felismina Costa, Amiga Grã-Tabanqueira e José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2679 (Guiné, 1970/71)




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Nota do editor

Último poste da série de 22 de Dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P13914: Parabéns a você (1545): Miguel Vareta, ex-Fur Mil Comando da 38.ª CCom (Guiné, 1972/74)

sábado, 22 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19320: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (9): Faz hoje 47 anos que parti para o CTIG, com o meu BART 3873, e a minha CART 3494 (António Bonito, ex-fur mil)


Lisboa > 22 de dezembro de 1971 > Partida do N/M Niassa para a Guiné


Bissau > Chegada do N/M Niassa, a 29 de dezembro de 1971

Fotos (e legendas): © António Bonito / Sousa de Castro  (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



 2. Nota complementar do Sousa de Castro:
Excerto do livro "BART 3873: HISTÓRIA DA UNIDADE"  >  Mobilização


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Nota do editor:

Último poste da série  > 22 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19317: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (8): Ainda ando por cá no reino dos vivos (Valentim Oliveira, ex-Soldado Condutor da CCAV 489)

Guiné 61/74 - P19319: Feliz Natal 2018 (2): Fantasias de Natal (Manuel Luís R. Sousa, ex-Soldado At Inf do BCAÇ 4512/72)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís R. Sousa, Sargento-Ajudante da GNR na situação de Reforma, (ex-Soldado da 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4512/72, Jumbembem, 1972/74), com data de 20 de Dezembro de 2018:

Nesta quadra festiva que se aproxima, que todos os meus familiares e amigos, que saúdo especialmente, se deixem envolver pela fantasia de que na noite de Natal o Menino Jesus, indiferente ao frio e à chuva, desce pela chaminé, enfarruscando as suas vestes, para deixar os presentes que ao longo do ano vamos pedindo.
A mesma fantasia que eu vivi há uns bons anitos atrás:


Fantasias de Natal…

Sempre me disseram, em criança, alimentando a minha fantasia, que o Menino Jesus, que eu via habitualmente num dos altares da capela de S. Luís, muito pequenino, de feições angelicais, de cabelo loiro, vestido com umas vestes brancas e resguardado numa redoma de vidro, nos visitava na altura do Natal, entrando pela chaminé, para deixar uns presentes nos sapatos que ali encontrasse.

Como é que aquele ser tão frágil e indefeso, – pensava comigo próprio, embora criança – tinha o vigor físico para, pela calada da noite, ao frio, à chuva ou à neve, subir ao telhado da nossa casa e descer depois ao interior, com a dificuldade acrescida de ali não existir qualquer chaminé? As chamas da fogueira crepitavam livremente até ao tecto, saindo o fumo por entre as telhas.
Mesmo assim, pelo sim e pelo não, na noite de Consoada, à falta de sapatos, lá ia colocando os socos junto à lareira, condição essencial para Ele deixar os presentes, segundo me diziam, na expectativa de que aquele Menino seria mesmo capaz de vencer tais obstáculos e descer através das "lares" para me deixar qualquer coisa – um carrinho, uma gaita. Oh...! Que alegria seria a minha.

No dia seguinte, ansiosamente, bem cedo, ia ver os socos que, para minha decepção e tristeza, continuavam intactos e sem qualquer presente. A explicação dos meus pais era a de que Ele não teria brinquedos suficientes para todas as crianças, mas que, provavelmente, no ano seguinte seria a minha vez, ou então, diziam-me, que ele não teria entrado pelo facto de a nossa casa não ter chaminé e de não querer "enfurretar" as suas vestes alvas de neve na fuligem das "lares".
Serviam-me de algum consolo estas explicações e consolidava-se em mim aquela ideia de que o Menino Jesus, tão frágil, correndo o risco de se partir o barro de que era feito, não seria capaz de subir ao telhado da nossa casa. Isto por um lado. Por outro, chegava a pensar que Ele discriminava os meus socos, daqueles que o Zé "Baloiro" dos Pereiros fazia, visto que o habitual, segundo me diziam, era porem-se na lareira na noite de Natal os sapatinhos. Coisa que eu não tinha.

Num desses anos da minha meninice, também por altura do Natal, encontrava-me na aldeia da Carrapatosa, onde passava alguns períodos com a minha avó materna. Mais uma vez, na noite de Consoada, levado pela mesma fantasia, a minha tia Aninhas aconselhou-me a colocar os socos no canto da lareira antes de ir para a cama. Com alguma relutância o fiz, pela experiência anterior e visto que a casa da minha avó também não tinha chaminé.

No dia seguinte, bem cedo, "inspeccionados" os socos, para minha surpresa e alegria, estavam atacados de rebuçados. Como criança que era, rejubilei de felicidade! Perante esta realidade, e não perdendo tempo em trincar e chupar alguns deles, percorrendo com o olhar toda a altura entre o tecto e a lareira, não pude deixar de pensar que o Menino Jesus da Carrapatosa era muito mais audaz do que o da minha terra, e imaginava como as suas vestes teriam ficado negras pela fuligem do cadeado das "lares", por onde ele teria descido feito alpinista.

Logo nesse dia, na ida à missa de Natal com a minha avó, a tia Aninhas e os meus primos, à capela de Santa Luzia, tive a curiosidade de reparar na sua imagem, supondo eu, pelo que fez durante a noite, que estaria toda enfarruscada de fuligem.
Para minha admiração, estava imaculadamente limpa, como era habitual, o que me deixou pensativo, concluindo que aquele menino em nada se comparava a outro qualquer. A mim, por exemplo. Porque se eu fizesse o que ele fez, a minha roupa estaria que nem a de um carvoeiro, impregnada de pó negro da lareira.

Só mais tarde tive a noção de que o Menino Jesus, para não se sujar e não apanhar o frio da noite, fez o cambalacho com a tia Aninhas, que era mordoma da capela, incumbindo-a de ali colocar os rebuçados, que Ele tinha requisitado nas tabernas do Eugénio ou do Cassiano de Campelos para serem debitados na Sua "conta". Aqueles a que eu tinha direito – os socos estavam repletos – em compensação dos anos anteriores que não me tinha trazido nada.

Manuel Sousa
(Excerto do meu livro ONDE A CEGONHA POISOU")
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de Dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19316: Feliz Natal 2018 (1): Natal diferente (Paulo Salgado, ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721)

Guiné 61/74 - P19318: Os nossos seres, saberes e lazeres (299): Viagem à Holanda acima das águas (4) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Outubro de 2018:

Queridos amigos,
O viandante desconhecia inteiramente o acervo monumental do museu Kroller-Muller, de Van Gogh sabia da existência de um museu em Amesterdão, de alguns quadros no Rijks, também de Amesterdão, nada sabia desta impressionante coleção privada. Mas a senhora Helen Kruller-Moller era profundamente eclética e deixou a Fundação com um espantosíssimo património que tem vindo a ser aumentado até aos dias de hoje. Se nos temos que orgulhar dos espaços da Gulbenkian e de Serralves, não deixa de assombrar a visita a um museu que abre para estes hectares mimosamente tratados e com um conjunto escultórico que não deve ter paralelo no mundo inteiro.
E depois de passear pelos jardins e até de visitar o acervo da sua escultora predileta, Barbara Hepworth, atirou-se impaciente para as salas mágicas dos óleos e desenhos de Vincent Van Gogh.
Como se contará a seguir.

Um abraço do
Mário


Viagem à Holanda acima das águas (4)

Beja Santos

O viandante ciranda pelo Museu Kröller-Müller, está fascinado pela coleção, pelas instalações, pelo espaço envolvente. Felizmente que pode entrar e sair quando lhe apetece. À hora da pitança do almoço, perdeu amor aos euros e comprou um catálogo para se situar o quando, o como e porquê desta esplendorosa casa de arte. A colecionadora Helene Kröller-Müller tinha dinheiro a rodos, em 1921 era detentora da mais importante coleção particular de Arte dos Países Baixos, e só estava a dar os primeiros passos. Em 1933, possuía 4 mil desenhos, 275 esculturas e centenas de quadros, a maior parte de altíssima qualidade. Depois leio os projetos arquitetónicos que envolveram alguns dos nomes mais importantes de arquitetos do seu tempo. A fatia de leão, o que sobretudo atrai o visitante é a impressionante coleção de Van Gogh, ocupa o núcleo central, mas o visitante é habilmente induzido a passear-se entre a Arte antiga e expoentes da Arte mais contemporânea, o mesmo se passa com o itinerário escultórico que se pode contemplar nos jardins. James Ensor, Seurat, Signac, aguçam o apetite logo à entrada. Veja-se este Signac intitulado “O Pequeno-Almoço”, obra pontilhista, próxima de Seurat, e com referências a Monet. O que atrai neste quadro de Signac são as cores complementares e contrastantes, as figuras são pintadas de frente ou de perfil, imóveis, sem nenhuma expressão ou sentimento, nada têm de retratos, Signac era um admirador dos anarquistas e daí a crítica implícita que faz à suficiência do mundo burguês.


Ensor é useiro em atmosferas de Carnaval, notabilizou-se pelas suas criações burlescas, há qualquer coisa de Bosch ou Breughel, são criaturas estranhas mascaradas, parecem retiradas do teatro popular e do confronto entre o bem e o mal. Para Ensor, a vida é uma mascarada onde se procuram dissimular as paixões e a bestialidade em cores vaporosas, alegres, que marcam o contraste com os temas cáusticos que ele explora.


A notável coleção inclui Picasso, Juan Gris, Fernand Léger, Mondriaan, Giacomo Balla, Marino Marini, Claes Oldenburg, Richard Serra ou Christo. Este Giacomo Balla intitulado “O Voo das Andorinhas” é uma das marcas de água de um dos maiores futuristas italianos. Os futuristas viviam centrados no movimento e na dinâmica. O que aqui há de inovador é o efeito que se pode comparar à sucessão de diferentes imagens de um filme, e o cinema era uma invenção bem recente.




Esta escultura é hoje um ícone da Arte italiana, aparece nas moedas de 20 cêntimos de Itália. É da autoria de Umberto Boccioni e chama-se “Forma Única da Continuidade no Espaço”. É menos importante o homem que marcha, o significado está na modificação das formas que sobrevêm quando se move no espaço. Entre o que separava os cubistas dos futuristas é que os primeiros consideravam que só havia um movimento, o observador desloca-se à volta do objeto e representa todas as facetas desse objeto; para os futuristas, o movimento é complexo porque há os homens e há as máquinas, ficaram célebres as telas futuristas com ciclistas e automóveis.


Esta composição em losango é de Piet Mondriaan, por quem o viandante tem uma indisfarçável admiração, inclui-o na trindade que revolucionou as Artes Plásticas no século XX , ao lado de Picasso e Matisse. Porque este Mondriaan experimentou de tudo, desde o figurativismo até ao geometrismo mais ousado. Começou no naturalismo, relacionou-se então com Van Gogh e Seurat, sofreu influências do cubismo analítico de Picasso, rompeu com os determinismos, considerando que as formas de base da beleza, o que dá harmonia e ritmo precisa de linhas diretivas ou linhas curvas, mesmo sinaléticas. Construiu tramas de linhas verticais e horizontais, que explorou nas suas idealizações arquitetónicas e até no design de interiores. Vê-se e é sempre uma lufada de ar fresco.


Fernand Léger foi um cubista que seguiu uma via diferente da de Picasso e Braque, chegando a soluções em que o volume é o dado plástico que funciona como elemento central. Foi infatigável a investigar os contrastes nas formas, nas cores e nos assuntos. Com a evolução, fascinou-se pelas máquinas no meio de um certo número de superfícies e de formas com cores vivas, é tudo referenciado à mecânica, com alusões à ideia de democracia, às possibilidades que devem ser facultadas a todos sem exceção.






A colecionadora julgava-se autora de um conceito original de Arte: até finais de século XIX a primazia pertencia aos realistas, aí começaram a marcar posição os idealistas, onde ela incluía Van Gogh, o seu artista de culto. Adquiriu pintura dos séculos XV, XVI, XVII e XVIII, e daí este Lucas Cranach, o Velho, esta tela de Vénus com o Amor percorre o mundo inteiro. Adquiriu Picasso como adquiriu Renoir, Gauguin ou Cézanne, veja-se antes de Lulas Cranach “O Barco Ateliê” de Monet, uma obra-prima do impressionismo: o que estava em causa era a imaterialidade da luz exterior, a instabilidade do céu e da água, a fugacidade do momento. Neste quadro as formas não possuem nenhum contorno nítido. Que beleza! E já chega de depenicar, voltear em torno do grande mestre que trouxe o viandante a este local, vamos mergulhar fundo nessa piscina olímpica de Vincent Van Gogh.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19294: Os nossos seres, saberes e lazeres (298): Viagem à Holanda acima das águas (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19317: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (8): Ainda ando por cá no reino dos vivos (Valentim Oliveira, ex-Soldado Condutor da CCAV 489)



1. Mensagem do nosso camarada Valentim Oliveira (ex-Soldado Condutor da CCAV 489/BCAV 490, ComoGuidaje e Farim, 1963/65), com data de 21 de Dezembro de 2018:

Caro amigo Carlos
É esta a prova de dizer a todos os tertulianos que ainda ando por cá no reino dos vivos. 
Muito em breve, e espero lá chegar, vou completar a soma dos dois setes. É certo, que já nada é igual à juventude dos anos vinte, mas como o clima das terras de Viriato é límpido, tudo ajuda a ter uma vigoridade mais ampla e forte. Talvez seja esta a razão da minha longividade. 
Bem, deixemo-nos de lamentos e vamos ao que interessa . 
Aqui vai!!!
Para todos os camarigos desejo um feliz Natal e um Ano Novo cheio de coisas boas. 
Abram o champanhe e bebam por mim, porque eu estou fazendo dieta. 

Um abraço a todos. 
Valentim Oliveira. 
Operação Tridente 
Ilha do Como

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2. Comentário do editor

Muito obrigado Valentim Oliveira pelo teu contacto pois há muito não nos davas notícias.
Não nos deixes tanto tempo sem saber de ti. Independentemente da idade, é muito perigoso estar vivo. Quanto aos dois setes, ainda te faltam os dois oitos e os dois noves.

Para ti e para toda a tua família, a tertúlia deseja o melhor Natal.
Abraço
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19312: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (7): Dois heróis da FAP, que por acaso são também o casal mais... 'strelado' do mundo: Miguel e Giselda Pessoa (BA 12, Bissalanca, 1972/74)

Guiné 61/74 - P19316: Feliz Natal 2018 (1): Natal diferente (Paulo Salgado, ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721)

1. Mensagem do nosso camarada Paulo Salgado (ex-Alf Mil Op Esp da CAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72), autor do livro "Guiné - Crónicas de Guerra e Amor", com data de 17 de Dezembro de 2018:


NATAL DIFERENTE

A aldeia de Nhane fica a cerca de cinquenta quilómetros de Bissau. Para lá se dirige Alberto e sua mulher, acompanhando António Kundé, funcionário superior do Ministério dos Assuntos Sociais, em visita a sua mãe.

É véspera de Consoada.

Pelo caminho, já nas cercanias da tabanca, repararam nos pequenos santuários animistas, erigidos a deuses muitos – e junto deles flores, ou folhas, ou conchas ou amuletos, sinal de recente visita de crente ansiando benesse divina.

Debaixo do alpendre, sentaram-se nas tropeças, e conversaram todos sobre a vida da tabanca: da lavoura, das festas, das misérias e sofrimentos de quem trabalha muito e padece mais, e da cidade ali tão perto e tão longe, onde alguns têm tudo ou quase tudo: camisa e calça alisada, pãozinho quente pela manhã, bebendo bom vinho, tanta coisa boa...

O tempo foge devagarinho.

O sol está a desaparecer por detrás das palmeiras e dos altos poilões (as noites, aqui em África, caem muito depressa!); as galinhas deixaram de rapar a terra e procuram um galho para noitarem; os porcos acomodaram-se; as mães começaram a arrastar os filhos e os netos para dentro de casa; os homens fumam a derradeira cachimbada.

O silêncio faz-se mais. Os visitantes preparam-se para partir.

Um velho, porventura o mais velho ancião da aldeia, pediu ao familiar António um momento de espera antes da partida. Entrou na sua casa e depressa regressou.

Nas suas mãos calosas, mas com pele sedosa e brilhante, trazia um pequeno ovo que depositou, candidamente, nas mãos brancas da mulher branca.

Santa véspera de Natal, sem ser Natal, em Nhane.

Paulo Salgado (Um ano destes… por terras da Guiné…)
Santo Natal para vós.
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Guiné 61/74 - P19315: Os 26 capitães que tombaram no CTIG (1953-1974), por combate, acidente e doença: lista corrigida e aumentada (Jorge Araújo)








Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue


OS 26 CAPITÃES QUE TOMBARAM NO CTIG [1963-1974]
- LISTA CORRIGIDA E AUMENTADA -
(ACIDENTE, COMBATE E DOENÇA)


1.  INTRODUÇÃO

Dando continuidade ao projecto de actualização das listas dos camaradas que tombaram no CTIGuiné durante a «Guerra do Ultramar» ou «Guerra Colonial» (1961-1974), estruturado por patentes segundo a tríade em que foram agrupadas as causas das suas mortes – acidente, combate e doença – apresento-vos, hoje, a lista dos camaradas «Capitães», corrigida e aumentada em relação à já publicada no nosso blogue [P6638] por iniciativa do camarada Carlos Cordeiro (1946.08.22-2018), falecido no passado dia 18 de Setembro em Ponta Delgada, sua terra natal, a quem prestamos a nossa sentida homenagem.

Como fonte privilegiada de consulta, recorremos à base de dados da «Academia Militar» - sítio: https://academiamilitar.pt/filhos-da-escola-do-exercito-e-da-academia-militar.html, com a devida vénia - retirando da bibliografia de cada um dos «Capitães» mortos em combate [exclusivamente, os do Quadro Permanente (nove)], os elementos necessários para a elaboração deste trabalho. Na lista abaixo fazem parte mais três nomes, sendo um Miliciano [Cap Dinis Corte Real] e dois de Recrutamento Local [Abna Na Onta e João Bacar Djaló].

Organizado segundo a metodologia anterior, onde os quadros de categorias são apresentados por ordem cronológica em relação a cada ocorrência, dou conta ao Fórum da lista dos camaradas «Capitães» dos três ramos das Forças Armadas, que tombaram no CTIGuiné. No quadro referente às "mortes em combate", para além dos elementos individuais, tomámos a liberdade de adicionar uma foto de cada um deles.

O capitão Corte Real (o 2.º da direita), na companhia de elementos da sua CCAÇ 1422, foi o único capitão miliciano a morrer em combate no CTIG [foto do camarada Veríssimo Ferreira, fur mil CCAÇ 1422 – P12453, com a devida vénia].


Entretanto, merece especial referência, pela macabra coincidência, a morte do Capitão José Jerónimo da Silva Cravidão, natural de Arraiolos, ocorrida na data do seu 25.º aniversário [4 de Junho, (1942-1967)], durante a «Op. Cacau», realizada pela sua CCAÇ 1585 na região de Bricama - Farim (vidé: P11688 e P11689).

Para que não fiquem na "vala comum do esquecimento", como costumamos afirmar, eis, então, os quadros estatísticos dos 26 (vinte e seis) capitães, nossos camaradas, que tombaram durante as suas Comissões de Serviço na Guiné.


2. QUADROS POR CATEGORIAS E ORDEM CRONOLÓGICA









Outras fontes consultadas [com cruzamento]:

http://www.apvg.pt/

http://ultramar.terreweb.biz/index_MortosGuerraUltramar.htm (com a devida vénia)

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

26NOV2018.