domingo, 3 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20307: Manuscritos (Luís Graça) (173): as cores quentes e frias do outono da Tabanca de Candoz - Parte II


















Marco de Canaveses > Paredes de Viadores >Candoz > Quinta de Candoz > 2 de novembro de 2019 > As cores "outonais"... Morte e renascimento da mãe-natureza,,,


Fotos (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O quente e o frio, a paleta de cores do outono... era o que me faltava na Guiné... Havia belos poilões, bissilões, cabaceiras, acácias,... mas faltava-me as cores dos vinhedos depois das vindimas, já em pleno outono quando as folhas mudam de cor, entrando as plantas no processo (cíclíco) da morte e do renascimento... 

Fiz uma seleção de fotos tiradas na Tabanca de Candoz, no dia de finados... Esta é a parte II.

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Guiné 61/74 - P20306: Blogpoesia (643): "Cissiparidade poética", "Asas partidas" e "Quando tudo entorpece", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana, que continuamos a publicar com prazer:


Cissiparidade poética

A natureza viva rege-se por uma lei fatal e benéfica.
É a lei da dependência.
Nenhum ser perfeito é autónomo.
Sua origem o prende à união de princípios.
O masculino e o feminino.
O resultado não é uma soma.
É um alter “ego”.
Com sua identidade.
Única e independente.
Cada um o seu percurso.

Assim as ideias e a realidade da poesia.
Gravitam no ar as ideias de cada pessoa.
Se transmitem pela linguagem.
A junção dos sons geram palavras.
Os seus signos.

O diálogo é fértil.
Suscita ideias que não existiam.
Combiná-las é uma arte.
Seu motor é o fogo da inspiração.

Berlim, 28 de Outubro de 2019
12h40m
Jlmg

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Asas partidas

Sonhos imperfeitos.
Sombrias desgraças.
Páginas negras.
Estilhaços de vidas.
Falsas quimeras.
Grinaldas rasgadas.
Compassos de espera.
Ramadas sem uvas.
Amores de praia.
Tardes perdidas.
Searas sem grão.
Até os pássaros choraram.
Aldeias desertas
Porque os campos secaram.
Matas queimadas pela fogaça do crime.
Ribeiro afoito de inverno que morreu no Verão.
Romagens sonhadas que a crise matou.
Almas vibrantes que secaram de amor.
Tanta riqueza na mina que a voragem sem freio,
Impiedosamente, extinguiu.
Quermesses ao rubro que a tempestade,
Num repente, destroçou.

Ouvindo Mozart, Piano Concert Nr 24 c Moll KV 491 Rudolf Buchbinder Piano & Conducter, Wiener Phi
Berlim, 30 de Outubro de 2019
10h47m
Jlmg

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Quando tudo entorpece…

É o fim da combustão.
Quando tudo entorpece.
Desmaiam as forças.
Dão estalos as articulações.
Se encurtam as passadas.

Dá jeito a bengala.
Mais não seja para conforto.

O que parecia longínquo há pouco tempo, depressa se aproximou.
Me davam pena os velhinhos.
Pelos bancos de jardim.

Já penso como eles quando traço meu passeio.
Não me sinto tão alquebrado.
Nem aceito os anos que já conto.
É real a maior longevidade.

Não me vejo como os eu via.
Há saúde. Isso é o que importa…

Berlim, 31 de Outubro de 2019
13h2m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 31 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20294: Blogpoesia (642): "Porque tardaste?" - Poema de Juvenal Amado dedicado ao seu neto que hoje completa o seu primeiro ano de vida

Guiné 61/74 - P20305: Parabéns a você (1702): Ten-General PilAv Ref António Martins de Matos, ex-Tenente PilAv da BA 12 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 2 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20300: Parabéns a você (1100): Abílio Magro, ex-Fur Mil Amanuense do CSJD/QG/CTIG (Guiné, 1973/74)

sábado, 2 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20304: Manuscritos (Luís Graça) (172): as cores quentes e frias do outono da Tabanca de Candoz - Parte I
















Marco de Canaveses > Paredes de Viadores >Candoz > Quinta de Candoz > 2 de novembro de 2019 > As cores "outonais"... Morte e renascimento,,,


Fotos (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Agora que corremos o risco de, num futuro ainda próximo, deixarmos de ser um país temperado, com quatro estações, sabe bem vir aqui até ao Norte e apanhar três dias de chuva sem parar... e ver a paisagem com cores outonais, numa  magnífica paleta de tonalidades, quentes e frias, onde predomina os verdes escurecidos, os amarelos alaranjados, os vermelhos alaranjados,  os violetas, os azuis arroxeados, os castanhos, os brancos sujos... 

É essa mistura de cores quentes e frias que gosto de encontrar, quando aqui volto, à Tabanca de Candoz, depois das vindimas... Este ano nem sequer vim às vindimas... Na Guiné só havia duas estações, e era um sufoco. Sempre me faltou o outono e, de certo modo, a primavera. Mas o outono é(era) uma estação especial da minha infância... Reencontro-o  aqui, por estes dias...


Tabanca de Cando< As nossas comidinhas >
No dia dos mortos,
arroz de pica no chão (não é de cabidela,
porque há quem não o possa comer...)
Comem-se castanhas e romãs, bebe-se o vinho verde do ano passado, acabado de engafarrar, mais espumoso do que o espumante, com quase 13 graus, mistura fabulosa de azal, loureiro e alvarinho... Não há rolhas que o aguentem este ano...

É o nosso São Martinho, depois de evocados e homenageados os nossos queridos mortos, que ele  não há flores que cheguem para as campas nos cemitérios  nesta altura...

O almoço, neste dia, antes de "atacar o cemitério" (missa e visita às campas), é "o arroz de pica no chão"... Simplesmente, cinco estrelas!... 

E, à laia de provocação, a gente diz, à mesa: 
"Ó Avillez, tens cá disto ?"... Em voz alta, que esta gente, à mesa, é ruidosa e galhofeira... 

Como se pode ler no "Cancioneiro de Candoz" (2ª edição revista e aumentada, 2017. p. 105), "É um povo hospitaleiro / Que sabe receber e dar, / Se na fé é o primeiro, / Não fica atrás no folgar".

E, no entanto, com chuva, sem sol, no dia dos mortos, este tempo presta-se à meditação e... à depressão!... Os dias são curtos, a noite chega cedo... E já se acende a lareira.

Ainda dependente da canadiana, lá me atrevo a dar uma volta pela terra, à procura de "santieiros" (cogumelos) e sobretudo das cores outonais... Aqui deixo uma seleção de fotos em três partes... Nem todos os amigos e camaradas da Tabanca Grande, que vivem na cidade, têm o privilégio de, como eu,  sentir o pulsar da natureza, que é vida, rodeado de dois rios, o Douro e o Tâmega e de montanhas altas, da serra de Montemuro à serra da Aboboreira, com o Marão mais lá ao longe...

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Guiné 61/74 - P20303: (De)Caras (140): Ainda o comerciante António Augusto Esteves, transmontano, fundador da Casa Esteves, falecido em Lisboa em 1976 (Lucinda Aranha)


Guiné- Bissau > Bissau > c. 1975 > Novo mapa, pós-colonial, da capital da nova república, já com as novas designações das ruas, avenidas e praças, que vieram substituir o roteiro português: Av 3 de Agosto, Av Pansau Na Isna, etc. Veja-se a localização do porto do Pidjiguiti (para os barcos de pesca e de cabotagem), à esquerda do porto de Bissau (para os navios da marinha mercante).

Foto: © A. Marques Lopes (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. A Casa Esteves ficava no nº 33 da Av Domingos Ramos (antiga Rua Administrador Gomes Pimentel), que era paralela à Av Amílcar Cabral (antiga Av República), à esquerda (no sentido descendente) e à Rua Osvaldo Vieira (, à direita).

Revendo a Bissau do tempo  do seu pai (, que foi lá empresário entre 1946 e 1973),  Manuel Joaquim dos Prazeres (1901-1977),  Lucinda Aranha Antunes, refere a Casa Esteves, fundada por António Augusto Esteves (*), localizando-a na Baixa de Bissau, nestes termo:

 "Revia ainda as ruas paralelas [à Av da República], com os bairros residenciais de casas de um ou dois pisos, com varandins que ajudavam  a refrescar, alegrados por vasos de rosas, sardinheiras, pervíncas e zínias; à direita, o Hospital e o Grande Hotel, à esquerda, o mercado, a Casa Esteves, a Tipografia das Missões, o campo de futebol [Estádio Sarmento Rodrigues, depois Lino Correia].
  
[in: "O Homem do Cinema - A la Manel Djoquim i na na bim" [Alcochete, Alfarroba, 2018, p. 99]


2. Mensagem de Luís Graça, com data de ontem:

Querida amiga Lucinda:

Só agora li, de lápis na manhã, o seu livrinho, que é um monumento de ternura, sobre a saga da sua família, o Nequinhas, a Julinha, as manas, os amigos... incluindo o "compadre" Esteves... Vou  fazer uma detalhada recensão do seu livro, que eu um dia ainda gostaria de ver transformado em guião para um filme sobre o Manel Djoquim, em Cabo Verde e na Guiné...

Mas agora gostava que comentasse o poste que acabei de editar (*)... Sei que trocou muitos dos nomes (a começar pelas manas...), mas este Esteves é mesmo o fundador da Casa Esteves (que eu conheci em Bafatá, a casa não o senhor),

Tem ideia de quando morreu ? E era de donde ? Como é que uma mulher vai para o Cacheu, em 1922, como professora ? Os filhos (filha, filho...) ficaram por lá ?!... A Casa Esteves ainda existe, apesar da miséria de Bissau...

Tenho fotos para lhe mandar do último encontro de Monte Real,com a Lena Carvalho, a Lena do Enxalé...De resto, já me autorizou a publicá-las no blogue...Será para breve, com a recensão... (O Beja Santos já fez uma, mas eu quero fazer a minha...) .

Beijinhos.Um abraço para o marido e nosso camarada, Antunes. Luís.

PS - Por estes dias estou na Tabanca de Candoz, mas passo agora mais tempo na Lourinhã...

3. Resposta de Lucinda Aranha. 

Guiné-Bissau > Bissau > s/d > Av Domingos Ramos >
Casa Esteves.
Foto: cortesia da página do Facebook
O Valdemar Queiroz diz que a foto
não é de 1980/90 mas sim dos anos 60 (*)

com data de hoje:

Caro Luís,

Li o que escreveu e, devo agradecer ter-me alertado. Há perguntas que me faz no mail para as quais nāo tenho respostas certas, só hipóteses. Falei com o sr. Pereira, genro do Esteves, que me propôs um novo encontro em casa dele onde se sente mais à vontade para falar do que ao telefone.

Contrariamente ao que escreveu, o Esteves morreu antes do meu pai, em 1976, em Lisboa, de cancro no pâncreas. Era de Trás-os-Montes, casou lá, penso que ele e a D. Maria eram de Mirandela. É aí que compraram uma boa casa, quando enriqueceram. Tiveram um filho, o Fernando que também morreu de cancro, e 3 filhas, a Maria Arminda, casada com o Pereira, a Clotilde, viúva do Costa,  e a Mariazinha que também já morreu. 

Não sei os motivos que levaram a D Maria a ir dar aulas na Guiné, eventualmente vantagens de carreira ou desejo de melhorarem a vida. O Esteves distanciou-se da mulher que passou a viver em Mirandela, e tinha uma companheira, a Olga, que conheceu nas condições que conto no livro, e que depois veio viver para Lisboa . Teve outras companheiras na Guiné, pelo menos uma indígena de que tomámos conhecimento após a sua morte, quando constou , para grande desgosto da Olga, que havia um filho por lá. Disse-me o Tony Tcheka que lá tem uma filha que montou um excelente ressort.

Quanto à Casa Esteves,  o Pereira, o genro,  tomou conta dela até 18 de Dezembro de 74, altura em que entregou a direcção a 3 empregados de confiança que a entregaram ao Costa quando regressou de férias de Portugal. O cunhado adoptou uma política mais consentânea com os tempos da revolução e foi o fim da Casa Esteves.

Quando tiver informações mais precisas logo lhe direi.

Adorei que tenha gostado do livro, espero a recensão,, quanto às foyos tem inteira liberdade para as postar.

Um abraço saudoso, Lucinda Aranha



"Sou mesmo a do meio com um ar de beicinho. A mais velha é a minha irmã Teresinha,  filha do primeiro casamento do meu pai,  e as restantes somos do segundo. As três mais velhas nasceram em Santiago, Cabo Verde, a pequenina da ponta em Bolama, nos Bijagós, Guiné Bissau,  e eu em Lisboa"... Foto e legenda (2016): página do Facebook, Lucinda Aranha Antunes - Andanças na Escrita (Com a devida vénia...).

4. Comentário de Patrício Ribeiro (*):

A Casa Esteves, na Av. Domingos Ramos, (na Avenida onde existia a Solmar), esteve alugada nos anos 2000 e durante diversos anos a uma Sra. Portuguesa, que praticava Comércio Geral.

Mas, desde alguns anos, que o edifício é um Banco Comercial.

Guiné 61/74 - P20302: Efemérides (314) : No dia de Finados, lembremos os nossos queridos mortos da Tabanca Grande: já lá vão 75 em 798














Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Cemitério local > 1 de novembro de 2019 > "Festa dos nossos queridos mortos"




Fotos (e legendas): © Luís Graça(2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Cemitério local > 1 de novembro de 2019 >  Mais um amigo da família, o Manuel Serafim Mendes Santos, natural da Granja, que partiu este ano, em 16/7/2019, aos 70 anos. Estudou no seminário,  vivia no Montijo, tem um filho na América, foi quadro superior da Segurança Social... Fez a guerra colonial em Moçambique. Encontrávamo-nos, de vez em quando, em Lisboa. É mais um camarada, que entra a título póstumo, para a Tabanca de Candoz. 



Foto (e legenda): © Luís Graça(2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Há anos, há mais de 40, que eu venho aqui, a estes terras, de vale do Tâmega e do Sousa, que foram berço da Nação, para recordar os nossos "queridos mortos"...Não, não vou, neste dia, à minha terra, na Estremadura, onde não há o mesmo "culto dos mortos". É o único dia do ano, e o único sítio do mundo,  em que eu assisto a uma missa católica.


Aqui os cemitérios enchem-se de flores, de velas, de cãnticos, de orações, de eflúvios, de lágrimas e suspiros, e sobretudo de vivos (*)... Que vêm dizer aos seus queridos mortos coisas tão elementares, singelas, autênticas, sinceras como o seguinte. Aqui se reza em voz alta e se fala com os mortos:

"Espera por mim, pai, mãe, irmão, avô, avó..., aquece-me o lugar, reza por mim, está frio aí em baixo para ir contigo, deixa-me ainda ver o meu neto entrar na Faculdade, casar e ter filhos, que serão os meus bisnetos... 

"Morreste cedo, meu querido pai, mãe, irmão, avô, avó..., mas eu quero ir contigo, o mais tarde melhor, mesmo com as mazelas todas que o médico de família já me diagnosticou... 


"Não me leves a mal, temos toda a eternidade para estarmos juntos, conversar, rever a nossa vida,  de fio a pavio, de trás para a frente, de frente para trás, contar histórias, recordar os bons velhos tempos cá da terra da alegria... Sim, porque pode haver o céu das bem aventuranças, como promete o padre da freguesia que acaba de dizer a missa de Dia de Finados,  mas esta a única terra da alegria que eu conheço...

"Em boa verdade, eu nem sei o que fazer com o tempo todo, uma eternidade, que me vai calhar na rifa... Deixa-me viver mais uns aninhos, guarda-me o lugarzinho à direita de Deus Pai, mete-me uma cunha, se for preciso, afinal eu nunca te pedi nada em vida... Receio que também haja cunhas no céu... Desde que nascemos,  estabelecemos redes clientelares... Se for preciso, eu mando rezar mais umas missas... Se não for possível junto à direita de Deus Pai, pode ser logo na primeira fila, num lugarzinho onde eu possa ainda ver e ouvir... Já vejo mal e ouço pior... 

"Não quero perder pitada de nada do primeiro dia do resto da minha vida eterna... Acho que o primeiro dia é que deve ser empolgante. Tenho receio que depois vá morrer de tédio... Em boa verdade, vivo apavorado com essa perspectiva de eternidade, de viver durante séculos e séculos até ao fim do mundo... Simplesmente, eu queria dormir um sono profundo, eterno, sem despertador, para me compensar das noites de alvoroço e de angústia em que o cabo quarteleiro me chamava às tantas da madrugada para mais uma operação na noite negra da Guiné"...





Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz > Quinta de Candoz > 2 de novembro de 2019 >  As cores do outono da nossas vidas...

Foto (e legenda): © Luís Graça(2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Nesta efeméride (**), o dia de Finados, 2 de novembro, eu quero aqui recordar os nossos queridos mortos..., a começar pelos da Tabanca Grande!


Recordo-me de todos, os 75, que "da lei da morte já se libertaram", um a um, por ordem alfabética, do Agostinho [Valentim Sousa] Jesus (1950-2016), ex-1.º Cabo Mecânico Auto da CCS/BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74) ao Vítor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014), cor art ref, DFA, ex-cmtd da CART 2715 (Xime, 1970/72), que fiz sentar, a título póstumo, à sombra do nosso poilão, no lugar nº 781, no dia em que se comemorava os 48 anos da Op Abencerrragem Candente, em que as NT tiveram 6 mortos e 9 feridos graves na antiga picada da Ponta do Inglês... e eu estava lá. (LG)

O primeiro a finar-se foi o cap SGE Zé Neto (1929-2007)(***), o último o António Manuel Carlão (1947-2018) (****). Em boa verdade, o mais recente dos nossos grã-tabanqueiros a partir foi o Mário Pinto (1945-2019) (*****).

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Lista dos amigos/as e camaradas da Tabanca Grande que da lei da morte se foram libertando, desde 2007 até hoje (n=75 num total de 798):


Agostinho Jesus (1950-2016)
Alfredo Dinis Tapado (1949-2010)
Alfredo Roque Gameiro Martins Barata 
(1938-2017)
Amadu Bailo Jaló (1940-2015)
António da Silva Batista (1950-2016)
António Dias das Neves (1947-2001)
António Domingos Rodrigues (1947-2010)
António Manuel Carlão (1947-2018)
António Manuel Martins Branquinho (1947-2013)
António Manuel Sucena Rodrigues (1951-2018)
António Rebelo (1950-2014)
António Teixeira (1948-2013)
António Vaz (1936-2015)
Armandino Alves (1944-2014)
Armando Teixeira da Silva (1944-2018)
Augusto Lenine Gonçalves Abreu (1933-2012)
Aurélio Duarte (1947-2017)

Carlos Cordeiro (1946-2018)
Carlos Filipe Coelho (1950-2017)
Carlos Geraldes (1941-2012)
Carlos Rebelo (1948-2009)
Carlos Schwarz da Silva, 'Pepito' (1949-2014)
Clara Schwarz da Silva (1915-2016)

Daniel Matos (1949-2011)

Fernando Brito (1932-2014)
Fernando [de Sousa] Henriques (1949-2011)
Fernando Rodrigues (1933-2013)
Francisco Parreira (1948-2012)
França Soares (1949-2009)

Gertrudes da Silva (1943-2018)

Humberto Duarte (1951-2010)

Inácio J. Carola Figueira (1950-2017)
Ivo da Silva Correia (c.1974-2017)

João Barge (1945-2010)
João Caramba (1950-2013)
João Henrique Pinho dos Santos (1941-2014)
João Rebola (1945-2018)
João Rocha (1944-2018)
Joaquim Cardoso Veríssimo (1949-2010)
Joaquim Peixoto (1949-2018)
Joaquim Vicente Silva (1951-2011)
Joaquim Vidal Saraiva (1936-2015)
Jorge Rosales (1939-2019)
Jorge Teixeira (Portojo) (1945-2017)
José António Almeida Rodrigues (1950-2016
José Eduardo Alves (1950-2016)
José Fernando de Andrade Rodrigues 
(1947-2014)
José Luís Pombo Rodrigues (1934-2017)
José Manuel P. Quadrado (1947-2016)
José Marques Alves (1947-2013)
José Moreira (1943-2016)

José (ou Zé) Neto (1929-2007)

Luís Borrega (1948-2013)
Luís Encarnação (1948-2018)
Luís Faria (1948-2013)
Luís F. Moreira (1948-2013)
Luís Henriques (1920-2012)

Manuel Carneiro (1952-2018)
Manuel Castro Sampaio (1949-2006)
Manuel Martins (1950-2013)
Manuel Moreira (1945-2014)
Manuel Moreira de Castro (1946-2015)
Manuel Varanda Lucas (1942-2010)
Maria da Piedade Gouveia (1939-2011)
Maria Manuela Pinheiro (1950-2014)
Mário Gualter Pinto (1945-2019)
Mário Vasconcelos (1945-2017)

Nelson Batalha (1948-2017)

Rogério da Silva Leitão (1935-2010)

Teresa Reis (1947-2011)

Umaru Baldé (1953-2004)

Vasco Pires (1948-2016)
Victor Condeço (1943-2010)
Vítor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014)  


Requiescant in pace, camaradas!
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Notas do editor:


(*) Vd. postes de;

8 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17945: Manuscrito(s) (Luís Graça) (128): O Dia de Fiéis Defuntos na Tabanca de Candoz: aqui a tradição ainda é o que era... Parte II - Fotos

6 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17939: Manuscrito(s) (Luís Graça) (127): O Dia de Fiéis Defuntos na Tabanca de Candoz: aqui a tradição ainda é o que era...


1 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13833: Manuscrito(s) (Luís Graça) (41): Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris


(**) Último poste da série >  1 de novembro de  2019 > Guiné 61/74 - P20299: Efemérides (313): Na Guerra da Guiné, há 55 anos: A emboscada comandada por Osvaldo Vieira à escolta sob o meu comando, na estrada Mansabá-Farim, ao cair da tarde daquele 1.º de Novembro de 1964

(***)  Vd, poste de 31 de maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1805: In memoriam (1): Adeus, Zé Neto (1929-2007) (José Martins, Humberto Reis, Luís Graça, Virgínio Briote e outros)

(****) Vd. poste de 21 de setembro de 2019 >  Guiné 61/74 - P20164: In Memoriam (348): António Manuel Carlão (Mirandela, 1947- Esposende, 2018), ex-alf mil at inf, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel, Nhabijões e Bambadinca, 1969/71... Entra para a Tabanca Grande, a título póstumo, sob o nº 797.

(*****) Vd. poste de 11 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19882: In Memoriam (343): Mário Gualter Rodrigues Pinto (1945-2019), ex-fur mil art, CART 2519 (Buba, Mampatá e Aldeia Formosa, 1969/71)... Era chefe de cozinha, e vivia no Barreiro... O corpo já seguiu para a capela mortuária da igreja do Lavradio, Barreiro, e o seu funeral realiza-se esta tarde pelas 16h15 (Herlânder Simões / Luís Graça)

Guiné 61/74 - P20301: Os nossos seres, saberes e lazeres (362): A minha ilha é um cofre de Atlântidas (4) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Maio de 2019:

Queridos amigos,
Ter vivido quase seis meses em Ponta Delgada, um lugar onde se criaram raízes, aonde se regressa sempre com o coração aos saltos, tal o peso das lembranças, justificava plenamente que lhe fosse consagrada um dia para rever pessoas e lugares, a lembrança guardou dados essenciais, muito boa gente acolheu o viandante, lhe deu guarida, lhe abriu igualmente outras portas.
É uma cidade pronta para surpresas, súbito se encontra o antigo professor de Cultura Portuguesa, António Machado Pires, há sempre uma lembrança, o velho professor não pára de escrever, ou sobe-se ao Instituto Cultural de Ponta Delgada onde viveu Armando Cortes Rodrigues, que ali amesendou o viandante e lhe deu livros, particularmente a correspondência que com ele trocou Fernando Pessoa.
Foi um dia abençoado, logo a seguir parte-se para um lugar mágico, o Vale das Furnas.

Um abraço do
Mário


A minha ilha é um cofre de Atlântidas (4)

Beja Santos

O viandante confessa que saiu a custo do Museu Carlos Machado, ainda vão aqui imagens deste imenso adeus que mete erupção vulcânica, um belíssimo pormenor do seu exterior, um Cristo crucificado na Cruz de Santo André, ele não conhece uma imagem com este vigor e carga mística que se aparente e há ali um resto de um lintel do passado que fala do tardo-gótico, de que São Miguel beneficiou, não em grandeza nem largueza, quem aqui chegava demorava muito tempo aos benefícios temporais, foi a ilha a desmatar desde a aurora do povoamento, a própria Igreja precisou de bastante tempo para se consolidar, a todos os títulos podemos conhecer um pouco desta epopeia lendo uma obra ímpar intitulada “O Livro das Saudades da Terra”, de Gaspar Frutuoso, o que para o caso importa é o volume IV reportado a São Miguel.





Pergunto ao leitor se esta fachada barroca da Igreja do Colégio dos Jesuítas, onde pregou o Padre António Vieira, não é de estarrecer, pelo equilíbrio das proporções, pelo ajustamento cromático e pela pomposidade contida, quando aqui o viandante chegou, há mais de cinquenta anos, não era visitável, alguém mesmo falou em obras de Santa Engrácia, enfim, hoje dá gosto por aqui deambular no núcleo da Arte Sacra, esplendoroso e até pensar o que teria sido o interior deste templo se tivesse as obras acabadas, o que nunca chegou a acontecer. Se me perguntarem, respondo logo: é visita obrigatória, por dentro e por fora.


Terá sido num dos últimos dias de fevereiro de 1968 que o viandante entrou em casa do poeta do Orpheu Armando Cortes Rodrigues, vinha como convidado e para amesendar, foi recebido por uma voz estentórea, alguém do primeiro andar o saudava, vestido como um gaúcho, o viandante sempre deu voltas à cabeça se aquela indumentária não metia até guizos, algo chocalhava em fatiota tão bizarra. Mas o importante foi o acolhimento, era poeta perguntador e quando a conversa deslizou para o primado da etnografia, meu Deus!, que entusiasmo a falar dos romeiros, do interior das casas agrícolas, e também da história, a explicação do ciclo da laranja, as famílias dos donatários. De uma humildade só própria dos grandes talentos, ao falar de Vitorino Nemésio todo tremia, conhecia praticamente de cor essa obra-prima da literatura portuguesa da primeira metade do século XX, “Mau tempo no canal”. Pois o viandante bateu à porta desta casa sita na Rua do Frias, veio cumprimentar o diretor da instituição cultural, que o recebeu prazenteiro. E fotografou desenhos de Armando Cortes Rodrigues, o tal, que à saída do jantar lhe deu o volume da correspondência que Fernando Pessoa com ele trocara.



O viandante, por uma questão de pudor, não vai contar a conversa havida com os amigos com quem se encontrou, mas para lá chegar passou pela Igreja-Matriz, uma preciosidade do manuelino, como aqui se pode ver, e com algumas novidades, tem exuberância sem cordames, o que se dá ao leitor é a porta principal e a porta lateral da direita do templo com um pormenor retirado da fachada principal. O dia nascera claro na cidade, beneficiou-se da luz que releva o génio dos canteiros que lavraram esta pedra, espera-se que até à eternidade ela perdure, para bem do que há de melhor do estilo manuelino.




O infatigável amigo do viandante, Mário Reis, a pretexto de umas obras que iria ver no Vale das Furnas, deu boleia, foi-se de Ponta Delgada à Ribeira Grande, daqui seguiu-se para as Caldeiras com o mesmo nome, o leitor que procure adivinhar como esta água é fervente, turbilhonante, expelindo vapores de enxofre. É uma visão que a uns intimida, e com uma certa razão, é sempre um sinal que o interior da terra se pode revolver num certo instante e gerar abismos, desgraças, as consequências mais imprevisíveis. Por ora, fique-se com estes tons turquesa de algo de medonho que, na justa medida desta imagem, até pode ser tomado, vamos lá, como uma piscina de água férrea.


O viandante regressa ao Vale das Furnas, vem munido de literatura apropriada, neste caso, “Uma Viagem ao Vale das Furnas em Junho de 1840”, por Bernardino José de Sena Freitas, Fidalgo da Casa Real, Comendador da Ordem de Cristo, que assim começa: “O pitoresco e romântico Vale das Furnas, pequena aldeia assentada no interior da ilha de São Miguel, cercada de altíssimas rochas no circuito talvez de três léguas, demora ao nordeste da cidade de Ponta Delgada, e contém 334 fogos e 1320 habitantes”. Pode ser que a distância seja esta mas muito mudou quanto a fogos e habitantes, como adiante falaremos. E fica-se com a imagem de um hotel onde houve o bom gosto de ao fazer a sua expansão manter as linhas Arte-Deco, da face primitiva, em meados da década de 1930, e convém nunca perder de vista que aqui dentro está um dos mais lindos parques portugueses, com espécies de todo o mundo.


(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20277: Os nossos seres, saberes e lazeres (361): A minha ilha é um cofre de Atlântidas (3) (Mário Beja Santos)