segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20534: Notas de leitura (1253): Um relato que se vai aprimorando de edição para edição: Liberdade ou Evasão, por António Lobato (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Dezembro de 2019:

Queridos amigos,
A narrativa do Major Lobato melhora de edição para edição, estou consciente que este aprimoramento vem da reflexão a que ele tem procedido, o que dá um caráter mais intimista à história do seu cativeiro. E, no entanto, somos agarrados sem qualquer possibilidade de despegar a nossa atenção tão avassaladora, veja-se logo aquela aterragem que lhe salva a vida em condições excecionais:  

"O ponto de contacto com o solo confirma-me a justeza do planeamento, mas surge um imprevisto que do ar foi impossível de detectar - o terreno não é totalmente liso; sulcos profundos, espaçados metro a metro, cortam-no de lés a lés. É uma bolanha, terreno preparado para a cultura do arroz. Ao intradorso das asas do T-6 estão suspensas duas metralhadoras Browning, saliências que, ao entrar nos sulcos da bolanha, oferecem uma forte resistência ao deslizar do avião no solo. Atendendo a que este tipo de aterragem é feito com o trem recolhido, o entrar das metralhadoras num dos sulcos teve o efeito de arrancar instantaneamente as asas à aeronave. Fico sentado dentro de um charuto que rebola agora dentro de si mesmo, ao longo do terreno".

E assim vai começar o cativeiro, o mais longo cativeiro da guerra. Um relato superior, de um homem que soube superar a adversidade, que procurou fugir, mas que teve que esperar pela Operação Mar Verde para ser restituída a liberdade.

Um abraço do
Mário


Um relato que se vai aprimorando de edição para edição:
Liberdade ou Evasão, por António Lobato (1)


Beja Santos

António Lobato foi o mais longo cativeiro da guerra colonial. No prólogo das diferentes edições do seu livro, dá-nos uma síntese dos acontecimentos e da situação que viveu, nestes termos precisos:

“Em 1963, no céu português da Guiné, dois aviões da Força Aérea colidem na sequência de uma missão de ataque ao solo e após um deles ter sido atingido por projécteis inimigos.

Um dos aparelhos despenha-se em plena selva e o piloto morre; o outro, aterra de emergência numa bolanha e o piloto, depois de agredido à catanada pela população local é capturado por guerrilheiros do PAIGC e conduzido à vizinha República da Guiné Conacri. Aí, é-lhe facultado optar entre e deserção e a cadeia.

Optando pela fidelidade aos princípios do seu povo, é encarcerado na temível Maison de Force de Kindia, com o rótulo de criminoso de guerra.

Durante sete anos e meio é submetido a maus-tratos, subnutrição, isolamento e contínuas ameaças de morte pelos agentes de um governo pró-soviético chefiado por um dos maiores tiranos da África Ocidental – Sékou Touré.

Tenta três vezes a evasão, mas só na última consegue respirar, durante uma semana, o ar fresco da liberdade. Percorre cerca de noventa quilómetros em plena selva, atravessando a cadeia montanhosa do Futa Djalon em direção à Guiné Portuguesa. Ao sexto dia, é recapturado e reconduzido à prisão de onde partira.

Ao cabo de mês e meio de total isolamento, é transferido de prisão e libertado, tempos depois, durante a Operação Mar Verde, chefiada pelo Comandante Alpoim Calvão.

É por instâncias de familiares e amigos, por dever de cidadania e para comemorar os vinte e cinco anos do regresso à liberdade que hoje se propõe condensar em curtas páginas, não apenas os horrores, mas sobretudo algumas das vias possíveis de sobrevivência no meio hostil e o consequente enriquecimento da pessoa humana, quando, perante situações-limite, consegue vencer-se a si próprio”.

Não se irá aqui cotejar as inúmeras alterações introduzidas de edição para edição. O que se pretende relevar é a melhoria substancial da qualidade literária e a introdução de um processo intimista, em edição recente, António Lobato revela as estratégias de que se socorreu para que a tremenda solidão da clausura não o destruísse, pelo menos moral e psicologicamente.

Fala-nos da sua juventude transmontana em Paderne, como se alistou jovem na Força Aérea, depois temos o curso de pilotagem em S. Jacinto, a fase básica na Base Aérea n.º 1 em Sintra, em 22 de maio de 1958, um acidente quase que o ia matando, após dois meses de imobilização, e ao fim de cerca de oito meses de treino intensivo, ei-lo pronto para voar mais alto. Tem 21 anos e é-lhe confiada a tarefa e a responsabilidade de ensinar outros a voar. E, como ele escreve, em 1960 rebenta a guerra colonial.

 A Força Aérea não possui na Guiné qualquer tipo de estrutura. Em julho de 1961, em companhia de um outro camarada, seguirá para a Guiné em missão de soberania. Em 19 de setembro de 1961 descola pela primeira vez da pista de Bissalanca aos comandos de um T-6. Descreve com incisão e economia todos estes acontecimentos, casa-se, regressa à Guiné com a mulher e em 21 de maio de 1963 parte em missão para a Ilha do Como, um acidente obriga-o a uma aterragem de emergência, aterra no Tombali, é ferido e levado por guerrilheiros do PAIGC para território da Guiné Conacri.

Não é despiciendo observar como naquela região do Tombali há população afeta ao PAIGC e os guerrilheiros movimentam-se com certo à-vontade. A guerrilha tinha capturado um barco da Sociedade Comercial Ultramarina, de nome Bandim, transportará Lobato para o cativeiro. É bem tratado em Sansalé, tem feridas graves na cabeça e num braço. Seguem no Bandim até Boké. Segue-se um prolongado interrogatório. É interrogado, pretendem saber qual o regime político em Portugal, o que ele sabe da situação colonial, Lobato remete-se ao silêncio, depois de ter dado os seus dados militares, depois de uma longa viagem entra na Maison de Force de Kindia.  

“Entramos num hexágono aberto para o céu, com duas portas em cada um dos seis lados. Encaminham-me para a direita e indicam-me uma dessas portas, em ferro maciço, com o número 7 ao centro, encimada por uma grelha, feita em varão de diâmetro não inferior a 3 centímetros. Entro e a pesada porta fecha-se atrás de mim com aquele ruído sinistro das portas de todas as prisões do mundo. Dou quatro passos e chego ao fim do espaço de que posso dispor. Do lado direito, fazendo corpo com a parede e até dois terços de comprimento, ergue-se, até à altura de sessenta centímetros, um bloco maciço de cimento armado sobre o qual assenta um velho colchão de pano cheio de palha. Depreendo que é a minha cama. Não sei bem porquê, mas sinto um forte cansaço. Sinto-me deprimido como antes nunca me tinha sentido. Apetece-me chorar. Atiro-me para cima da palhaça e não consigo conter os soluços que me sufocam. Choro tudo o que tenho a chorar e adormeço no cume da infelicidade”.


Major António Lobato no programa Prós e Contras, em 2007, com a devida vénia

Segue-se a descrição do dia-a-dia, ele é o prisioneiro da cela n.º 7, falam-nos do currículo de Sékou Touré e como ele mantém o seu regime de terror; vamos saber como é a sua cela, a degradação a que vai ser sujeito, o início da sua luta para se manter corajoso. A condição física começa a dar sinais de ruína, como ele próprio comenta:  

“Porque não como uma boa parte das magras refeições, sinto que vou perdendo, lenta mas seguramente, toda a pujança da juventude; porque não me é fornecido qualquer tipo de medicamento, começa a ter fortes ataques de paludismo; porque a alimentação é pobre demais, a cárie dentária torna-se num flagelo; porque permaneço imóvel horas sem fim, começo a ter problemas de bexiga, a urinar pus e a sentir dores de barriga e cólicas insuportáveis. Os ataques de paludismo surgem a uma cadência semanal e manifestam-se por acessos de frio, que me obrigam a bater os dentes durante horas, seguidos de vagas de calor, que me deixam exausto e banhado em suor. As dores de dentes, por vezes são tão intensas que me perturbam a visão e provocam vómitos e tonturas próximas do desmaio. A degradação do meu estado físico, se, por um lado, é dolorosa e me perturba a mente, por outro, prende-me o pensamento ao corpo e não me deixa grandes hipóteses de fuga em busca de recordações bem mais amargas que as dores da carne”.


A última edição que conheço desta obra data de 2014, DG Edições, Linda-a-Velha.

(continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 3 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20523: Notas de leitura (1252): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (39) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20533: O nosso blogue em números (64): em 2019 entraram apenas 18 novos membros da Tabanca Grande... Somos agora 801 (dos quais 77 falecidos)... Começa a ser difícil recrutar, doravante, novos membros à medida que a nossa idade avança... Já os amigos do Facebook são mais de 3 mil...


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2020)


1. No final de 2019, a Tabanca Grande contava com 801 membros, também designados como "grã-tabanqueiros" ou "tertulianos", sentados simbolicamente à volta de um sagrado e protetor poilão... 

Em 2018 eram 783, e em 2017 eram 765... Quer dizer que em cada um destes dois anos entraram 18 novos membros (Gráfico nº 3).(*)

Nestes últimos dois anos, a média mensal é, pois, de 1 admissão e meia...

 De 2009 (n=390) a 2012 (n=595), o crescimento médio mensal era alto (c. 5,7). De então para cá, esse indicador tem vindo a diminuir: de 2013 a 2019 é agora de apenas 2,3 por mês.

Comparando os últimos 7 anos (2012-2018), tivemos um média anual de c. 26,9 entradas para a Tabanca Grande.

Em 188 meses, ou seja, 15 anos e 8 meses da nossa história  tivemos em média, 4,26 novos membros por mês, o que é notável. (**)

2. Este ano que findou, tivemos menos "baixas" do que nos anos anteriores (2018 e 2017). Foram 4 os camaradas que "da lei da morte já se libertaram", e cuja memória vamos continuar a honrar e a manter viva:

Carlos Marques dos Santos (1943-2019)
Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019)
Jorge Rosales (1939-2019)
Mário Gualter Pinto (1945-2019)

Em 2018 e 2017 faleceram 18 camaradas. Chegados ao fim do ano de 2019, temos um total de 77 amigos e camaradas da Guiné entretanto falecidos, desde 2007, ano em que morreu o nosso primeiro grã.tabanqueiro, o José Neto (1929-2007). Nestes 77 incluí-se o mais recente, já falecido este ano de 2020, o Fernando Franco (1951-2020).

3. Em 2019 conseguimos alcançar a meta (desejada)  das 8 centenas de amigos e camaradas da Guiné. Mas começa a ser difícil recrutar, doravante, novos membros à medida que a nossa idade avança...

Não confundir, no entanto, membros da Tabanca Grande, formalmente registados (n=801), com amigos do Facebook, da nossa página Tabanca Grande Luís Graça. Hoje são 3033, o ano passado eram 2813. Entraram, portanto, 220.

O processo de adesão de uns e outros é diferente: o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné acolhe essencialmente ex-combatentes que estiveram no TO da Guiné, entre 1961 e 1974, e que querem partilhar memórias do tempo da sua comissão de serviço (fotos, histórias, depoimentos, etc.).

Por outro lado, o blogue tem um conjunto regras editoriais que os membros da Tabanca Grande têm de respeitar. No entanto, há uma série de "amigos do Facebook", ex-camaradas da Guiné, que bem poderiam integrar o nosso blogue... Para isso basta, contactar os editores por email, pedindo expressamente a sua entrada no blogue da Tabanca Grande [leia-se: como membros do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]. 

Junto com o pedido, exige-se duas fotos (uma atual, à paisana, e outra do "antigamente", fardado) e duas linhas de apresentação: sou o fulano tal, estive na companhia tal, no período tal, passei pelos sítios tais e tais...
________________

Guiné 61/74 - P20532: In Memoriam (361): Fernando Alberto Silva Franco (1951-2020), ex-1.º Cabo Caixeiro do PINT 9288 (Guiné, 1973/74)

IN MEMORIAM


Fernando Alberto Silva Franco (1951-2020)

1. Ontem cerca da meia-noite, chegava às nossas caixas de correio a notícia há algum tempo esperada mas que não queríamos receber, enviada pelo Hélder Sousa:

Caros amigos 
Desta vez cabe-me cumprir o dever de informar do falecimento do Fernando Franco, homem do Blogue, participante no 1.º Encontro. 

Estava mal, a piorar desde há algum tempo e acabou por falecer no IPO em Lisboa. 
A notícia foi-me dada por um amigo comum o António Fernandes Costa (o "Tony" como eu lhe chamo desde que foi meu instruendo em Abril/Maio de 1970 no RTm no Porto e incorporando o Agrupamento de Transmissões mais tarde em Bissau).

O velório será amanhã, dia 6 de Janeiro a partir das 16:00 na Igreja de Benfica com funeral dia 7 de Janeiro com celebração às 13:30 na referida Igreja e saída do corpo para os Olivais às 14:00. 

Uma tristeza.
Hélder Sousa


2. Comentário do editor CV:

Vou ter saudades daquela voz cava a saudar: Olá, companheiro...

Desde que nos conhecemos na Ameira mantivemos um contacto permanente, à distância "vi" crescer a sua neta Mafalda (a Mafaldinha) e soube do nascimento dos seus dois netos, quase seguidos, e mais tarde de mais outro neto.

Ia-me dando conta das suas maleitas, as próprias da nossa idade, até que um dia me deu a trágica notícia de que padecia de uma doença terminal, com prazo de vida muito curto, estupidamente, digo eu, prognosticado cruamente por um dos médicos que o assistiu.

Encarou com alguma serenidade, pareceu-me à distância, a doença que o vitimava, mantendo a esperança de conseguir viver mais anos dos que lhe havia sido indicado.

Falei com ele a última vez no dia 31 de Dezembro passado e achei-o muito debilitado, mas longe de pensar que o seu fim estaria tão próximo.

Para a Guida, sua esposa; filhos; netos; irmão e demais familiares, deixo em meu nome pessoal as mais sentidas condolências, na certeza de que comigo estão os editores e a tertúlia do nosso Blogue, e em especial os camaradas que o conheceram pessoalmente.


3. Lembramos que o seu Corpo estará em Câmara Ardente hoje a partir das 16h00, na Igreja de Benfica e que o seu funeral será amanhã, dia 7, pelas 14h00, antecedido por Missa de Corpo Presente pelas 13h30.


4. Em preito de homenagem ficam aqui algumas fotos de Fernando Franco que seleccionamos:


Bissau, 1973

Bissau, 1973

Ameira, 2006 > I Encontro da Tertúlia > Fernando Franco e a sua inconfundível barba

Ortigosa, 2008 > Fernando Franco; David Guimarães e Carlos Marques Santos (também falecido recentemente)

Ameira 2006 > O Encontro dos Encontros > Fernando Franco escuta com a maior atenção o nosso baladeiro/fadista, grande camarada e amigo, Vacas de Carvalho.

Ortigosa, 2009 > Fernando Franco com o seu antigo Comandante, o ex-Alf Mil João Lourenço. De pé o camarada António Santos

Ameira, 2006 > António Baia, ex-1.º Cabo Aux. Enfermeiro e Fernando Franco, ambos militares do PINT 9288

Lisboa, 10 de Junho de 2007 > Os camaradas Vacas de Carvalho, Fernando Franco e Hugo Moura Ferreira

Lisboa, 2008 > Minitertúlia do PINT 9288 > António Baia e Fernando Franco ladeados por dois camaradas de Pelotão

Ortigosa, 2009 > Fernando Franco com a sua Guida, com quem se fazia acompanhar sempre que participava nos Encontros Nacionais da Tertúlia.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 2 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20520: In Memoriam (360): Carlos Marques dos Santos (1943-2019): "O meu pai chegou, no último dia do ano, à sua última morada, onde agora descansa... Que 2020 me dê a coragem de aprender a viver sem ele...O vosso camarada faria hoje, 5ª feira, 77 anos... Ergam uma taça por ele!" (Inês Santos)

Guiné 61/74 - P20531: Efemérides (317): "Cantar & pintar os reis" na aldeia serrana de Pereiro, Cadaval, 5-6 de janeiro de 2016, com o Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019)


Serra de Montejunto > Cadaval > Vilar > Pereiro > Noite de Reis, 5-6 janeiro de 2016 > Da esquerda para a direita, Eduardo Jorge, João Batista, Esmeralda, Alice, Luís Graça e Dina...


Numa da casas da aldeia de Pereiro, que abre as suas portas a todos os "reiseiros", sejam os de dentro ou os de  fora... E são muitos, alguns "reiseiros" foram-no pela primeira vez, como eu e a Alice (na foto, à direita, em segundo plano), os "condes da Lourinhã".

Do lado esquerdo, de boné, por causa do frio da noite, o nosso saudoso camarada Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019), o "visconde do Vimeiro",  um dos quatro camaradas, membros da Tabanca Grande, que perdemos em 2019, e cuja memória prometemos honrar e manter aqui viva:

Carlos Marques dos Santos (1943-2019)
Jorge Rosales (1939-2019)
Mário Gualter Pinto (1945-2019)

Na foto, ao lado do Eduardo, está o nosso amigo comum João Tomás Gomes Batista, o "barão de Óbidos" (, engenheiro técnico agrícola, safou-se da guerra colonial, mas estagiou em Angola, enquanto aluno da Escola de Regentes Agrícolas de Santarém; é natural do Bombarral, é empresário em Óbidos).


Faltava, na foto, o "marquês do Seixal",  Jaime Bonifácio Marques da Silva, nosso grã-tabanqueiro, que também alinhou nesta noitada, e que não ficou na foto por mero acaso; mas tínhamos a Dina, sua esposa, em primeiro plano, à direita, e a Esmeralda, sua irmã mais nova, ao centro.



O "duque do Cadaval", o Joaquim Pinto Carvalho, que é natural do Cadaval, fora também convidado (ou, melhor, "desafiado"), mas não pôde comparecer por razões de agenda. Os duques têm sempre agendas mais complicados do que os marquese, condes, viscondes e barões...

Foto: © Eduardo Jorge Ferreira (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Recorde-se a origem desta história que é bonita: na véspera de partir para a Guiné, em 1973, o Eduardo (, voluntário na FAP, foi ex-alf mil, da polícia área, BA 12, Bissalanca, 1972/74,) descobriu aqui essa tradição da serra de Montejunto: os BRM (os "bons reis magos") cantam-se, há muito, em duas aldeias, Avenal e Pereiro, do concelho de Cadaval (e, ao que parece, também, do outro lado da serra de Montejunto, na Ota, em Alenquer). 

Foi à aldeia de Pereiro, pela primeira vez, na noite de Reis, na véspera de partir para a Guiné.  Ficou encantado pelo calor humano e a a hospitalidade daquela gente serrana. E prometeu lá voltar, no regresso a casa, são e salvo.

Nestas duas aldeias serranas  do lado ocidental das faldas de Montejunto, Pereiro e Avenal, em todas as casas onde há vivos, e que abram as suas portas aos "reiseiros",  são feitas pichagens (hoje com spray e com moldes), com  as seguintes inscrições BRM ["Bons Reis Magos"] + estrela de David + ano. E, claro, cantam-se os reis, e abrem-se as adegas.


Há uns anos atrás, o Eduardo (que vivia em A-dos-Cunhados, Torres Vedras) voltara a Pereiro, conforme o prometido,  para o "cantar & pintar os reis"... E no início de 2016 desafiou alguns amigos e camaradas da Tabanca de Porto Dinheiro / Lourinhã, de que ele era o régulo. 

Confesso que foi das noites mais lindas que passámos juntos, em vida dele.



Encontrámo-nos no Vimeiro, ao fim da tarde, do dia 5 de janeiro de 2016 (*). Jantámos no Restaurante Residencial Braga, e dali partimos para a serra (menos de 25 km, cerca de meia hora de carro)... Ao chegar a Pereiro, concluímos logo que  fora uma grandessíssima asneira jantar no Vimeiro: em dia de Reis, no Pereiro, come-se e bebe-se toda noite, anda-se em bando, de casa em casa, que as portas estão escancaradas!... Tudo à borla!... Só tem que se comprar o copo de barro, que anda ao peito, com uma fita (, vd. foto acima,) para não se perder!... É uma noite de fraternidade e de festa!...

Infelizmente, este ano o Eduardo já não foi à aldeia do Pereira "cantar e pintar os reis", como o fazia religiosamente todos os anos, desde do regresso da Guiné, "são e salvo"...  Este ano ele já não foi "reiseiro"... A morte surpreendeu-o, estupidamente, na Clínica da CUF em Torres Vedras, na sequência de uma vulgar cirurgia ambulatória!... Em 23 de novembro de 2019... Que raiva!... 


Este ano pensei em ti, meu "reiseiro", e tive pena de não ter forças (e oportunidade) para te substituir na aldeia do Pereiro, pegar no teu "testemunho" e honrar a tua memória (**)... 


Fica esta dívida por saldar, mas vamos ver se para o ano, a "nobreza" toda do Oeste, ou pelo menos os teus amigos e camaradas mais chegados, os "duques do Cadaval" (o Joaquim Pinto de Carvalho e a Céu), o "marquês do Seixal" (o Jaime Sikva) os "condes da Lourinhã" (, eu e a Alice), o "barão de Óbidos" (o João Batista), e outros mais, "nobres" e "plebeus", que se queiram juntar, conseguem "arranjar agenda" para te poder homenagear, em Pereiro, na noite de 5 para 6 de janeiro de 2021...  


Para Ribamar, em 12 de outubro de 2020, segunda-feira da festa de N. Sra. de Monserrate, já temos lugar marcado!... E até os "reis de Nova Iorque", o dom João Crisóstomo e a dona Vilma Kracun, virão de propósito, das luzes da ribalta, para se juntar a nó
s!... E tu não vais faltar, meu querido amigo e camarada Eduardo!... E a tua São também vai lá estar, e pelo menos um dos teus filhos gémeos (, o que estiver mais perto, o João, que o Rui está em Inglaterra, não é isso ?!).


2. Homenagem ao "reiseiro" Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019)(*)



Em louvor dos "reiseiros" de Pereiro, Cadaval, Montejunto!


por Luís Graça


Que importa a noite fria de janeiro,
Se o desafio é ir a Montejunto,
Os Reis cantar na aldeia de Pereiro
E a amizade celebrar em conjunto?!

E a amizade celebrar em conjunto,
Homens e mulheres, velhos e moços,
E, se não houver salpicão nem presunto,
Come-se o chouriço, as pevides e os tremoços.

Come-se o chouriço, as pevides e os tremoços,
Que o Eduardo Jorge é o nosso guia,
Em voltando da Guiné com todos os ossos,
Prometeu que a Pereiro voltaria.

Prometeu que a Pereiro voltaria.
Lá nas faldas daquela bela serra,
As janeiras cantar com alegria,
Com mais alguns camaradas de guerra.

Com mais alguns camaradas de guerra,
Qual frio, qual carapuça, qual nevoeiro,
Viemos de longe cantar os reis nesta terra,
Que Portugal hoje chama-se Pereiro.

Que Portugal hoje chama-se Pereiro,
E tem da brisa atlântica um cheirinho,
Pode não haver, como no Norte, o fumeiro,
Mas há o branco, o tinto e o abafadinho.


Mas há o branco, o tinto e o abafadinho,
E quem canta e pinta os reis é reiseiro,
Nesta noite é rei, e não está sozinho,
O nosso Eduardo, grã-tabanqueiro.

Pereiro, Vilar, Cadaval
5-6 de janeiro de 2016. 
Revisto hoje, dia de Reis.


2. Excerto so sítio Câmara Municipal de Cadaval > Eventos >  Cultura > Cantar e Pintar de Reis



(...) O Cantar e Pintar de Reis é uma tradição originária das aldeias serranas do concelho do Cadaval (e também de Alenquer), que pretendia ser um voto para o novo ano, o qual, no calendário romano se inicia a 6 de janeiro.

Como manda a tradição, na madrugada de 5 de Janeiro (a partir das 22 h aprox.), um grupo munido de lanternas, pincéis e tintas voltará a percorrer as ruas das aldeias de Avenal e Pereiro, assinalando as casas com símbolos tradicionais, enquanto, atrás, segue uma multidão espontânea, reunindo comunidade e visitantes, cantando versos essencialmente alusivos aos reis Magos, bem como aos proprietários das casas que vão pintando. Em cada casa, far-se-á a habitual paragem para comer e beber. A festa durará, como sempre, até de madrugada e enquanto o público resistir.

É habitual no dia seguinte, realizar-se um “almoço de reis”, pelas respetivas coletividades locais.


Vale a pena participar, partilhando do espírito e do calor humano da população destas aldeias e contribuindo para manter viva esta tradição tão profundamente implantada no concelho do Cadaval. (...)


______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 6 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16925: Manuscrito(s) (Luís Graça) (108): Com o Eduardo Jorge Ferreira, o Jaime Bonifácio Marques da Silva e outros amigos da Tabanca do Oeste, cantando as janeiras em Pereiro, nas faldas da serra de Montejunto


(**) Último poste da série > 6 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20419: Efemérides (316): Foi há 50 anos que desembarquei em Bissau: fomos para a guerra, privilegiámos a paz! (António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639, Binar, Bula e Capunga, 1969/71)

Guiné 61/74 - P20530: Parabéns a você (1735): Paulo Santiago, ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Guiné, 1970/72)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 5 de Janeiro de 2020  > Guiné 61/74 - P20526: Parabéns a você (1734): João Meneses, ex-2.º Tenente FZE do DFE 21 (Guiné, 1971); Ricardo Figueiredo, ex-Fur Mil Art do BART 6523 (Guiné, 1973/74) e Valentim Oliveira, ex-Soldado Condutor da CCAV 489 (Guiné, 1963/65)

domingo, 5 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20529: Blogpoesia (654): "Parecem pardais...", "Que sabemos nós?..." e "Clamor ao vento", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana, que continuamos a publicar com prazer:


Parecem pardais...

Esvoaçam ideias na mente.
Parecem pardais buscando um ninho.
Lhes abro as portas e poisam tão leves.
Vêm cansadas. Querem brilhar.
As lanço ao caminho.
Mensagens de paz.
Harmonia e justiça.
Corram o mundo tão seco e carente.
Sejam sementes.
Dêem fruto. Germinem.
Cubram de verde e de pão os campos famintos.
Regalem tristezas.
Reine a paz.

Berlim, 31 de Dezembro de 2019
9h7m
Jlmg

********************

Que sabemos nós?...

Que sabemos nós do Universo?
Desvendar os seus segredos é tarefa ingente que nunca atingirá o fim.
Que sabe a humanidade sobre a vida nas galáxias?
Dos átomos e das moléculas,
Suas leis, milimetricamente, respeitadas.
A teoria quântica e a de Einstein.
Centelhas ínfimas dum mundo imenso.
Por muito brilhantes, nos deixam na ignorância.
Qual o papel do homem no seio dele?
E, perante ele, que valor tem e capacidade o poder da nossa mente?
Com ela, fomos capazes de poisar na Lua e chegar a Marte, depois de dois milénios de reflexão.
Mas não sabemos como funciona e o verdadeiro papel da nossa consciência…

Berlim, 2 de Janeiro de 2020
20h30m
Jlmg

********************

Clamor ao vento

Brado ao vento invista sua fúria a afugentar o mal do mundo.
Um vendaval apague de vez a perversidade das consciências.
A violência dum tornado reduza a pó todos os castelos da corrupção na terra para que a justiça reconquiste, de vez, a humanidade.
Dissipe todas as núvens que obscurecem as inteligências dos poderosos e aviltam suas vontades.
Destroce todos os exércitos sanguinários que, pelo mundo, sacrificam a vida e os sonhos de inocentes.
Reine para sempre a paz e a bonança da prosperidade de todos os povos.

Berlim, 4 de Janeiro de 2020
9h21m
Jlmg
____________

Nota do editor

Último poste da série de 29 de Dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20509: Blogpoesia (653): "Noite de Natal", "Depois do Natal" e "Com açafates", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P20528: O nosso blogue em números (63): em 2019, o número de visualizações de páginas foi de 770 mil (, cerca de 2210 por dia)



Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2020)



1. O nosso blogue atingiu, no final do ano de 2019 (*), os 11,6 milhões de visualizações de páginas (grosso modo, de "visitas", o que não é exatamente igual a "visitantes"...), segundo as estatísticas do nosso servidor, o Blogger: 


(i) 1,8 milhões desde o início do blogue, em 23/4/2004 até maio de 2006;

 e (ii) 9,8, milhões, desde então até 31/12/2019 (Gráfico 2).

 Em 2019  são 770 mil,  10 mil mais do que em 2018.  De 2011 a 2019, temos um média anual de cerca de um milhão, ou pouco menos:  955 mil (**)

Importa recordar que, no início do blogue, no período de abril de 2004 a maio de 2010, tínhamos um outro contador; o saldo acumulado de visualizações de páginas não transitou automaticamente, a partir de maio de 2010. Quando o Blogger disponibilizou um contador, começou a contagem no zero....

Em 2018, tinhamos menos de 800 mil visualizações de páginas / visitas (, em rigor, 760 mil), o que dava  média diária de 2080. 

Em 2019, com um total de 770 mil visualizações, a média diária é ligeiramente superior: 2110 visualizações por dia / cerca de 88 por hora / cerca de 1,5  por minuto.

2. Não podemos desagregar este número pelos meses do ano. Mas sabemos que o movimento é variável conforme os meses, as semanas, os dias e as... horas (Gráfico nº 4).

Sabemos, pela experiência passada, que os dias com menor movimento são ao fim de semana (sábado e domingo) e aos feriados (, por exemplo, neste período, foi o Dia de Natal, o que registou menos visitas; em 2018, foi o último dia do ano).

E  os dias com mais movimento são os do início da semana (segunda e terça-feira). Também sabemos que, em geral, depois do almoço e depois do jantar há mais movimento, mas isso tende a mudar com a generalização  das Redes Sem Fio e da Internet móvel.


Gráfico nº 4 - Evolução diária das visualizações do blogue no período de 6/12/2019 a 3/1/2020 (à 19h30). Total de vizualizações: 76 288. Total de comentários: 391. As visualizações variavan entre as 7 917 (em 14/12/2019) (Máximo) e as 1040 (em 25/12/2019).

Fonte: Adapt de Blogger (4/1/2020, 19h00)

Guiné 61/74 - P20527: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (2): o elogio do arroz de lingueirão do "100 Pratus - White Sand Club", restaurante e bar de tapas, Praia da Areia Branca, Lourinhã


Lourinhã > Praia da Areia Branca > O Arroz de lingueirão do "100 Pratus - White Sand Club"




Lourinhã > Praia da Areia Branca >  O elogio do Arroz de lingueirão do "100 Pratus - White Sand Club"


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2019) . Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Em fevereiro de 2018, já lá vão quase dois anos, inaugurámos uma nova série: "No céu não há disto...Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande"... 

Com muita pena minha, vejo que os nossos "vagomestres' andam falhos de inspiração ou, mais provavelmente, "cansados da guerra"... Como nós todos!... Esperavam-se sugestões, para a construção do roteiro gastronómico da Tabanca Grande... Mas não vieram. Fartos de coer "estilhaços de frango" ou "esparguete de cavala" estamos nós...

Lembrei-me desta série porque há dias, no último dia do ano, levei os meus cunhados do Porto, o Gusto e a Nitas,  a visitar a Quinta da Bacalhoa -. Adega / Museu + Palácio,  logo de manhã, às 10h00, e no regresso fomos comer um peixinho grelhado (garoupa e linguado) no "Baluarte de Sado" (*)...

Às vezes, a nota da "segunda vez" não é tão boa como a da "primeira"... Neste caso, repito o elogio que fiz no poste que inaugurou esta série (*)..

2. O que me traz aqui hoje, quase dois anos depois, é um  "arroz de lingueirão", que comi num  restaurante da minha terra, daqueles todos envidraçados que agora crescem como cogumelos ao longo da nossa costa... Neste caso, junto à foz do Rio Grande, na Praia da Areia Branca, na Lourinhã, "capital dos dinossauros".

Chama-se, algo pomposamente, "100 Pratus - White Sand Club"... Nem é rigorosamente um "restaurante", mas mais um bar de tapas e saladas, que também serve  refeições de faca e garfo, no interior e na esplanada...Tem página no Facebook, lincar aqui:

Confesso que ultimamente sou fã da "comidinha" do "100 Pratus"... Simples, caseira, apetitosa, bem apresentada e bem servida, em qualidade e quantidade...E a preços perfeitamente razoáveis, Além de ser um dos meus locais preferidos para a cavaqueira de sábado de manhã, com os meus amigos de tertúlia, e de ter gente a servir, amabilíssima, simpática e professional, e, ainda, de ter uma localização privilegiada, à beira mar, é já também uma surpreendentemente agradável referência em termos de restauração. 

Nos últimos tempos já lá comi dois pratos muitíssimo bem confeccionados; uma cachupa (que bem merecia uma morna!) e uma feijoada de choco... E ontem, sábado, comi um arroz de lingueirão que se soube pela vida, como se costuma dizer por aqui!... 

Enfim, foram três "pratus" de chapa 100!..A minha forma de apreço e gratidão é,. muitas vezes, a de escrever umas quadras populares, ou até um soneto, na toalha de mesa de papel ou até no guardanapo. E foi o que fiz ontem, e que hoje aqui reproduzo.

Tenho duas expressões para elogiar as nossas fabulosas comidinhas portuguesas, do tempo das nossas mães e avós, e que alguns restaurantes, incluindo alguns da nossa querida terra, conseguem "replicar"... Uma dessas expressões, usava-a com o meu velho pai, quando o levava a almoçar, já estava ele, com a minha mãe, num lar: "Coma, pai, que no céu não disto!"... (Sem ofensa, para os crentes)... Outra expressão que eu uso, para fazer uma elogio às nossas comidinhas, seja em casa ou no restaurante, é a seguinte: "Ó Avilez, não tens cá disto ?!"... (Sem ofensa, para o grande "chef" Avillez...).

Elogio do arroz de lingueirão do "100 Pratus"

1

Mas que arroz divinal,
O de lingueirão, do "100 Pratus",
Por aqui não há igual,
Nem argumentos contra factos.

2
Parabéns à cozinheira,
Vou cá voltar outra vez,
Isto é comida caseira,
Disto não tem o Avillez.

3
Com cebolinha, cremoso,
Sem areia, nem uma pontinha,
Podia estar mais caldoso,
Diz a minha Alicinha.

4

Para mim, estava perfeito,
Comi que nem rei nem duque,
E prometo, logo que der jeito,
Pôr um "gosto" no Facebook!



Luís Graça (Lourinhã),
Praia da Areia Branca,
Restaurante "100 Pratus",
4/1/2020, 14h30


PS1 - Já lá pus um "gosto" no Facebook do "100 Pratus"... E deixei lá estas quadras. Aliás, deixei lá o manuscrito com as quadras...É  uma forma de praticar a arte do  dom de dar, receber e retribuir... Devo acrescentar o que me disse  a gerência: fazem o arrozinho de lingueirão, sempre que há matéria-prima, lingueirão fresco, na praça. Por acaso hoje havia, vi-o nas bancas da praça da Lourinhã a 11,99 € o quilo. A cachupa é também quando calha, uma vez por mês... Mas o melhor é consultar a respetiva página do Facebook. O prato do dia é anunciado na véspera.

PS2 - Declaração de conflito de interesses: não sou dono, nem sócio, nem amigo do dono do restaurante...Nem   nenhum familiar ou amigo meu trabalha no "100 Pratus"... Sou apenas cliente, quando lá vou, em geral ao fim de semana, à Praia da Areia Branca, Lourinhã. É um dos meus locais de tertúlia.

Guiné 61/74 - P20526: Parabéns a você (1734): João Meneses, ex-2.º Tenente FZE do DFE 21 (Guiné, 1971); Ricardo Figueiredo, ex-Fur Mil Art do BART 6523 (Guiné, 1973/74) e Valentim Oliveira, ex-Soldado Condutor da CCAV 489 (Guiné, 1963/65)



____________

Nota do editor_

Último poste da série de 1 de janeiro de 2020 >  Guiné 61/74 - P20518: Parabéns a você (1733): Margarida Peixoto, Amiga Grã-Tabanqueira - Penafiel

sábado, 4 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20525: O nosso blogue em números (62): em 2019 publicámos 1192 postes, uma média de 3,3 por dia... A nossa produção tende agora a estabilizar-se, depois de ter vindo a decrescer desde 2010 (, ano em que batemos o recorde, com 1955 postes, ou seja, cerca de 5,4 por dia)



Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2020)


1. O início do novo ano, neste caso o famoso Vinte-Vinte, é também, por  tradição,  a altura de "prestar contas" aos nossos leitores, com a publicação de estatísticas  do nosso movimento bloguístico durante o ano anterior (*).

O número de postes publicados, durante o ano de 2019, foi de 1192, praticamente o mesmo valor do ano anterior, . Em 2017, publicaram-se 1262 postes... O número de postes anuais tinha vindo a decrescer desde 2010, ano em que foi atingido o recorde (n=1955) (Gráfico nº 1) (**)

Desse total de 1192 postes publicados, a distribuição pelos três editores foi a seguinte:

Carlos Vinhal > 47,5%
Éduardo Magalhães Ribeiro > 1,7%
Luís Graça > 50,8 %

Embora haja, desde março de 2018, um novo coeditor, o Jorge Araújo, tem sido o editor Luís Graça a ultimar a edição dos seus postes, pelo que não nos é possível discriminar a sua produção.

O Jorge Araújo, agora a passar uma temporada na Tabanca dos Emiratos, ainda não frequentou o "workshop de edição" que lhe vai permitir a plena autonomia como coeditor. É, em todo o caso, uma excelente e feliz "aquisição" (, usando a linguagem futebolística...) para a nossa equipa.

Mantem-se a média dos 3,3 postes publicados, em média, por dia. A semana em que se publicou mais postes foi a de 5 a 12 de maio de 2019: 31 postes (média diária: 4,4). E a que teve menos postes publicados, foi a de 10 a 17 de fevereiro: 14 (2 por dia).

 A particularidade do nosso blogue é que, quer faça sol, quer faça chuva, seja domingo ou feriado, há sempre alguém a trabalhar e a publicar, todos os dias,  um poste... Alguns dos postes  podem ficar "agendados" de um dia para o outro... Como se costuma dizer, é comida pronta a usar, que fica no frigorífico de um dia para o outro...

Que fique registado, em letra de forma, um voto de louvor aos nossos dois coeditores do Norte, o Carlos Vinhal e o Eduardo Magalhães Ribeiro: a sua lealdade e a sua dedicação não têm preço,  a Tabanca Grande (, a começar pelo fundador e administrador do blogue,) tem por eles um elevado apreço, estima, consideração e amizade.

Obrigado, Carlos, obrigado, Eduardo, obrigado, Jorge, em nome de todos os amigos e camaradas da Guiné!... LG

(Continua)
______________

Guiné 61/74 - P20524: Os nossos seres, saberes e lazeres (371): Do alto de Ourém, de onde se avista Sicó, Alvaiázere, Lousã e a Serra da Estrela (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Julho de 2019:

Queridos amigos,
Ourém Velha, sem favor, está entre as mais belas vilas portuguesas, tem ali perto concorrência como Dornes ou Óbidos, ou mesmo Sardoal, Constância e Golegã. O Paço, agora em fase de reabilitação, é uma peça única na nossa arquitetura, meio civil, meio militar, andando por ali à volta a bisbilhotar a grandiosidade do Paço dos Condes de Ourém encontramos reminiscências das nossas construções militares no Norte de África e da arquitetura toscana, recorde-se que começou a ser levantado em finais da Idade Média, e está de paredes meias com o soberbo castelo que indicia a Reconquista Cristã.
O viandante, que é fotógrafo amador e bem canhestro, tem procurado estudar, para estas coisas de fortalezas e aparentados a boa hora para captar as imagens, e não esconde o seu contentamento pelo registo destas imagens.

Um abraço de despedida, e até à próxima viagem,
Mário


Do alto de Ourém, de onde se avista Sicó, Alvaiázere, Lousã e a Serra da Estrela

Beja Santos



Entre as mais belas vilas de Portugal, Ourém goza de um soberbo paço ducal, singularíssimo. Em meados do século XV, o 4.º Conde de Ourém, Marquês de Valença e filho primogénito do Duque de Bragança, aqui mandou erguer uma residência fortificada, um misto de castelo do Norte de África e de palácio toscano, coisa raríssima entre nós. Escolheu bem o local, bem perto do castelo que pertenceu aos Árabes, está num topo de escarpas, e o que daqui se avista é soberbo numa rotação panorâmica: temos Sicó mais perto, não longe a Serra d’Aire e Candeeiros e lá ao fundo as penhas da Serra da Estrela. Como se escreve em “As mais belas vilas e aldeias de Portugal”, Editorial Verbo, 1984, “Nos cumes do alcantilado monte elevam-se o Castelo e os Paços da Ourém Velha. As muralhas protegem também a semicircunferência do povoado, que foi pelo menos romano, suevo, visigodo e árabe antes de ser definitivamente cristão”. Pois bem, o espetacular Paço dos Condes é o principal núcleo monumental de Ourém Velha.



Volta-se a citar esta obra da Editorial Verbo: “Construído no século XV, impressiona pela majestosa força, imponente conjunto de torreões, aligeirados e até tornados esbeltos pela cimalha em cachorrada de tijolo formando arcaturas ogivais. Janelas também rematadas em ogiva abrem para o espaço interior e um friso de tijoleiras salientes é mais um elemento deste original e entre nós raro decorativismo”. É impressionante, é como se puséssemos um pé no fim da Idade Média, só um senhor muito poderoso se podia ter abalançado a este empreendimento. E quase logo a seguir, Ourém começou a perder a aura que o seu nobre procurara impor.




E continuando a citação: “Como os gigantescos degraus, as torres sobem a crista do monte que culmina no arruinado castelo, toda uma afirmação de grandeza e poder devida em grande parte a D. Afonso, Conde de Ourém e Marquês de Valença, primogénito do 1.º Duque de Bragança e grande impulsionador de Ourém. O seu túmulo, belíssima peça escultórica, encontra-se na cripta da Capela-Mor da Colegiada, na zona felizmente poupada pelo terramoto de 1755, que arrasou praticamente a igreja e grande parte da vila. Escapou à brutalidade do sismo a arca tumular, mas não à dos franceses em 1810, que espalharam as ossadas do neto de D. João I e de Nuno Álvares Pereira e roubaram e queimaram tudo quanto puderam em Ourém”.




Ourém Velha tem soberbos atrativos turísticos, a despeito de muita casa arruinada, há por ali belas habitações, há muito restauro, goza de uma importante pousada, tem alojamento local e um posicionamento estratégico que permite ao turista ir visitar as pegadas dos dinossauros, as colinas e os vales banhados por ribeiros e pelo rio Nabão, o Parque Natural das Serras d’Aire e Candeeiros, o Parque do Agroal e também Fátima, bem perto.



A chamada vila medieval merece pois uma visita demorada, veja-se aqui a Porta de Santarém e ao lado a linda Capela de Nossa Senhora da Conceição completamente vestida de azulejos seiscentistas.




Enfim, há muito mais a visitar na vila medieval de Ourém, casas brasonadas, a antiga cadeia, o antigo Hospital da Misericórdia, a rua da antiga Judiaria, a Calçada da Carapita, a Calçada da Mulher Morta. O Posto de Turismo deve ser visitado, tem habitualmente belas exposições e boa bibliografia oureense para os interessados.


O viandante tinha imensas saudades de aqui regressar, gosta de usufruir do panorama único, de se reencontrar com este local grandioso do tempo da Reconquista e de contemplar o Paço dos Condes de Ourém, que conforme as imagens ilustram está numa fase de beneficiação e restauro. Aconteceu, mesmo em jeito de despedida, no cimo de uma escadaria apanhar esta atmosfera verdejante e aqueles seres irreais ao fundo, são coisas da imaginação que metem fadas, duendes e histórias de mouras encantadas… Histórias que fazem parte de Ourém, diga-se em abono da verdade.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 28 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20507: Os nossos seres, saberes e lazeres (370): Umas férias à sombra do Forte do Pessegueiro (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20523: Notas de leitura (1252): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (39) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Julho de 2019:

Queridos amigos,
O bardo descarrega as suas penas, o seu companheiro de viagem prossegue em grande círculo, vai ao início da guerra, às suas primícias, tenha o leitor curiosidade e fartas leituras o esperam, tanto para entender o que foi a ascensão nacionalista na Guiné e como cedo se impôs o pensamento de Amílcar Cabral, como para acompanhar a digressão do aparato subversivo, em ondas os insurretos foram-se formar na China e na Checoslováquia, mais tarde na URSS, muito mais tarde virá o apoio cubano, entrementes haverá notórios progressos no armamento.
Por isso aqui se recupera as memórias do "Homem Ferro", um fuzileiro que conheceu a subversão desde 1962, por muitas andanças, em 1963, se apercebeu do alastramento da guerrilha e dos seus focos poderosos.
E aqui também se fala da CCAÇ 675, em 1964 encontraram Binta como território onde agentes do PAIGC se deslocavam folgadamente. Os reforços portugueses foram chegando a conta-gotas, revelar-se-ão insuficientes para estancar a dispersão da guerrilha.
A lira do bardo tem acordes de sofrimento, temos toda a vantagem em tentar perceber os ventos que sopram da guerrilha.
É o que aqui se faz.

Um abraço do
Mário


Missão cumprida… e a que vamos cumprindo (39)

Beja Santos

“Dois colegas com azar
os seus dias terminaram.
O pessoal do Batalhão
grande mágoa passaram.

Para serem tratados
os médicos os examinaram
e algumas chapas lhes tiraram.
Sendo ambos operados
alguns dias foram passados
e soro começaram a levar.
Fartaram-se de penar
com os sofrimentos de gravidade
e foram para a eternidade
dois colegas com azar.

O Francisco António foi o primeiro
que a morte levou.
O António Amaro, desmoralizado
ao ver a falta do companheiro,
o 1.º Cabo e o Furriel enfermeiro
a falar o reanimaram.
A verdade não lhe contaram
para ver se ele não esmorecia.
Mas como o azar o perseguia
os seus dias terminaram.

Este último se aguentou
quarenta e seis dias a sofrer.
Mas começou a emagrecer
porque a hemorragia não estancou.
De dia a dia piorou
levando muita injeção.
A 10 de maio se soube então
que o último suspiro deu.
Pois ele e o Francisco comoveu
o pessoal do Batalhão.

Os pais com aflição
souberam que os filhos tinham morrido.
Pois lançaram grande gemido
naquela região.
Perto da mesma povoação
estes rapazes se criaram
para o Ultramar abalaram
despediram-se com suspiros e ais
e no fim do tempo seus queridos pais
grande mágoa passaram.”

********************

Continua a litania dos padecimentos, o bardo não pára de trombetear desaires e agonias, parece que todo o Batalhão está exposto às mais rudes provas. É nisto, por contraste, que este companheiro do bardo vasculha esta nova guerra da Guiné na sua fase primigénia e encontra um relato sobre os primórdios da luta armada, até ao seu desenvolvimento. Dele já fez referência em obra sua com parceria, intitulada “Da Guiné Portuguesa à Guiné-Bissau: um roteiro”, Fronteira do Caos Editores, 2014, tem a ver com as memórias de um combatente intitulada “Homem Ferro”, seu autor é Manuel Pires da Silva, responsável pela edição, com data de 2008. Tem-se sempre em conta que o leitor é leigo, iniciou-se nestas leituras da guerra da Guiné, procura compreender como desabrochou o conflito na área militar, mais complexo é explicar que houve uma prolongada germinação do nacionalismo, formaram-se diferentes partidos, em 1959, Amílcar Cabral em reunião com outros companheiros do Partido Africano para a Independência, tomaram decisões de fundo, Rafael Barbosa e outros ficaram no interior da Guiné em subversão, Cabral e outros partiram para Conacri para encontrar apoios que dessem incremento sério à guerrilha, como veio a suceder, o mesmo Cabral capitaneou os grandes debates com forças concorrentes, o PAIGC, a partir de 1965, foi reconhecido como a força categórica e exclusiva na frente da libertação nacional. Vejamos agora o que viveu um jovem, a partir de 1962, é um relato que dá muito para pensar.

As memórias do fuzileiro Manuel Pires da Silva trazem surpresas, uma delas é abrir novas perspetivas ao que se passou na Guiné em 1962, ninguém desconhece que as investigações dirigem-se sempre para os acontecimentos a partir de Janeiro de 1963, insista-se que há como que uma nebulosa sobre os preparativos da subversão e a respetiva resposta do lado português. Manuel Pires da Silva conta-nos como se fez marujo, ele levou uma vida atribulada em Vale de Espinho, concelho do Sabugal, mourejou no campo, trabalhou com o pai numa oficina de carpinteiro de carros de bois, andou a furar batentes de portas com martelo e formão, fez a instrução primária, andou no contrabando e apanhou alguns sustos. Adolescente, veio com o irmão mais velho para Lisboa, deram-lhe trabalhos de construção civil, foi depois carpinteiro de cofragem, sentia-se desalentado, queria ir mais longe. Inscreveu-se na Marinha, fez a recruta em Vila Franca de Xira, aos 17 anos era segundo-grumete voluntário. Em 1961, foi frequentar o curso de Fuzileiro Especial, recebeu a boina.

É incorporado no DFE 2, destinado à Guiné, ali chega em Junho de 1962. Que missões tiveram? Fazem guarda ao Palácio do Governador, levam prisioneiros do PAIGC para a Ilha das Galinhas, são mandados para o Sul, onde o PAIGC já desencadeava ações de sabotagem. A primeira operação de reconhecimento visava obter informações das gentes das tabancas de Campeane, Cacine, Gadamael Porto, entre outros lugares; seguem depois para Bula, havia fortes suspeitas de guerrilheiros infiltrados naquela zona. Descreve o efetivo da Marinha, ao tempo. O DFE 2 é pau para toda a obra: operação em Darsalame; vão ao rio Corubal em lanchas de fiscalização, “chegam às tabancas e só vêem velhos, mulheres e crianças, que fogem para todo o lado. Rebentam-se canoas, interrogam-se pessoas, mas ninguém sabe nada”. Em Dezembro, vão até Caiar. “Quando se tentava contactar com a população da tabanca, surge o tiroteio, o primeiro contacto com as armas de fogo do inimigo. O comandante é ferido no pé direito, tendo sido o primeiro fuzileiro ferido em combate”. Pouco antes do Natal, voltam ao rio Corubal, os botes são postos na água e sobem o rio. “Passada cerca de meia hora após largar do navio, ouvem-se rajadas de pistola-metralhadora”. E escreve mais adiante: “A situação agravava-se de dia para dia. O Comandante-Chefe andava preocupado, pois Lisboa não mandava reforços suficientes. Esta preocupação era partilhada pelo Comandante da Defesa Marítima, Capitão-de-Fragata Manuel Mendonça”.

Em Março de 1963, fazem batidas nas áreas de S. João, Tite e Fulacunda, no mesmo mês em que os guerrilheiros se apoderaram dos navios “Arouca” e “Mirandela” perto de Cafine. A situação agrava-se no rio Cobade e Cumbijã, os guerrilheiros atacam ousadamente as embarcações. Na sequência do acidente aéreo que vitimou um piloto e levou à captura do Sargento-Piloto Lobato, os fuzileiros bateram a zona, encontraram o cadáver do piloto sinistrado e os restos do avião. “Os guerrilheiros tinham a população do Sul completamente controlada. Os fuzileiros estavam ali sozinhos a remar contra a maré”. Em Julho, com o apoio de um pelotão de paraquedistas, passam Gampará a pente fino. É nisto que foi necessário acudir na área do Xime, todos os dias há fugas para o mato; no mês anterior, foram até à tabanca de Jabadá, tendo sido recebidos a tiro. O inimigo já desencadeia ações violentas a partir da mata do Oio. “Entretanto, a ilha do Como começa a tornar-se intransitável devido à presença dos guerrilheiros”; a tabanca de Jabadá continua em pé de guerra, a aviação lança bombas de napalm, para intimidar os guerrilheiros, o destacamento desembarca e só encontra velhos e miúdos feridos. A guerra surge à volta de Porto Gole, o inimigo não se deixa intimidar e reage com muito fogo, os fuzileiros sentem-se encurralados, aproveitando uma aberta, eles retiram e pedem apoio da aviação. No dia seguinte voltam, desta feita assaltam o objetivo. “Quando o bombardeamento pára, o destacamento arranca para o assalto final. Depara-se com mais de 50 casamatas, algumas crianças feridas, a chorar, e dois ou três velhos, também feridos. Registam as informações que eles querem dar”. Quando estão a retirar, recebem instruções da aviação, um grupo de guerrilheiros voltou ao objetivo. Os fuzileiros conversam entre si, tanto esforço e o inimigo não se apresenta. A seguir a este relato, o DFE 2 anda numa completa dobadoira, seguem para Gã Vicente e descobrem um novo inimigo, as abelhas. Por esse tempo vão chegando à Guiné mais reforços, o DFE 7, mas a subversão ultrapassa a capacidade de tomar sempre a iniciativa, a fazer fé em tudo quanto ele escreve, o Sul não dá parança. O que está hoje historicamente provado, e muito bem documentado. Em Novembro, é por de mais evidente que o PAIGC controla as ilhas de Como, Cair e Catunco. A resposta é a operação Tridente em que o DFE 2 participa. O DFE 9 chega em finais de Fevereiro.

Tudo se agrava no rio Corubal, as embarcações são constantemente alvo de emboscadas, atacam a navegação na Ponta do Inglês, e mesmo no canal do Geba. Volta-se à península de Gampará, vão com o apoio de forças terrestres, conclui-se que o inimigo não estava até então implantado no terreno. E depois atacam Cafal Balanta, Cafal Nalu e Santa Clara, há fogo do inimigo que só deixa de reagir quando chegam os T6. E no mês de Junho acabou a guerra para o DFE 2. Ele volta à metrópole, à Escola de Fuzileiros, é convidado para dar instrução. E em Outubro de 1965, lá vai Manuel Pires da Silva no DFE 13 a caminho de Luanda.

Vamos agora mais adiante, ao Diário da CCAÇ 675, a Companhia do Capitão do Quadrado, quando chegaram em meados do ano de 1964 à região de Binta, encontraram tudo em estado de sítio, já se fez referência à sua mentalidade ofensiva, o Capitão do Quadrado foi ferido e está hospitalizado em Bissau, a unidade militar em agosto nomadiza até Guidage, no fim do mês regressa o Capitão do Quadrado e em setembro recomeça a polvorosa, golpes de mão, patrulhamentos, batidas.
Também o furriel-enfermeiro é poeta como o nosso bardo, deixa um sinal dos seus afetos numa publicação de caserna, abre com versos melancólicos, lágrimas de despedida lá no cais, são os dias de viagem até à Guiné, ele questiona:  
“Viverei? Voltarei a ver os meus? A Pátria Querida?”.

E despede-se com versos confiantes, animosos:
“À dúvida, ao desânimo, seguem-se a segurança, a fé;
O dever do bom português é mais forte. Vamos lutar,
As dificuldades, os sacrifícios vencem-se de pé.
Mais fortes, mais homens, com honra havemos de voltar.

E quando chegar esse dia ansiosamente esperado,
os vossos corações alvoraçados, delirantes
Voltarão a descortinar no cais festivo, engalanado,
Sorridentes mães, esposas, noivas, felizes como dantes.”

Mas ainda há muito que contar desta Companhia. E um dia destes, pasme-se, chega a hora do BCAV 490 ir para território menos atribulado. Bissau espreita, o estado de ânimo do bardo dará sinais de uma candura, de um rejuvenescimento que desconhecíamos desde aqueles tempos em que a grande questão era a má comida da recruta.

(continua)
____________

Notas do editor

Poste anterior de 27 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20504: Notas de leitura (1250): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (38) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 30 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20514: Notas de leitura (1251): “Dias Sem Nome, Histórias soltas de um médico na guerra da Guiné”, por João Trindade; By the Book, edições especiais, 2019 (2) (Mário Beja Santos)