segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21444: Efemérides (338): Para que não se esqueça o fatídico dia 12 de Outubro de 1970 - Emboscada do Infandre que vitimou 10 dos nossos camaradas (Jorge Picado, ex-Cap Mil, CMDT da CCAÇ 2589)


Gravura retirada do Poste 2162, trabalho exaustivo sobre a emboscada de Infandre de autoria do nosso camarada Afonso Sousa.[2]


1. Mensagem do nosso camarada Jorge Picado (ex-Cap Mil do CAOP 1,
Teixeira Pinto, e CMDT da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa e da CART 2732, Mansabá, 1970/72) com data de 11 de Outubro de 2020, recordando a emboscada do Infandre, ocorrida há precisamente 50 anos, no fatídico dia 12 de Outubro de 1970, que vitimou mortalmente 10 militares das NT:

Amigo e camarada Carlos Vinhal
Como estamos em 11 de Outubro, pedia-te mais um trabalhinho na nossa Tabanca.



PARA QUE NÃO SE ESQUEÇA

Completa-se amanhã meio século duma triste efeméride passada na Guiné. A para mim maldita emboscada efectuada ao pessoal de Infandre, quando pouco depois do meio-dia regressavam à base após saída de Mansoa e Passagem por Braia.

Acontece que por casualidade também será segunda-feira e quando estou escrevendo este email, domingo, a esta hora, naquela data, estaria aguardando a coluna que me transportaria de regresso a Mansoa a partir do cruzamento de Infandre, ou a passar pelo fatídico local, quiçá já em Mansoa.

Gostaria que colocasses uma pequena lembrança no Blogue, como homenagem aos bravos que perderam, aí, as suas vidas e que continuam presentes, as suas lembranças, para quem ainda está neste mundo.

Abraços
JPIcado


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2. Nota do editor:

Transcreve-se parte do poste P7115 de 12 de Outubro de 2010[1] onde o Jorge Picado, CMDT da CCAÇ 2589, relata exaustivamente o desenrolar da terrível emboscada:

RECORDANDO. 

HOMENAGEM AOS CAMARADAS MORTOS NA EMBOSCADA DO INFANDRE

Foi há quarenta anos. Segunda-feira, 12 de Outubro de 1970, entre o meio dia e as 13 horas, ou mais exactamente talvez perto do meio dia e meia hora.

A coluna tinha saído de Mansoa, no seu regresso ao Destacamento de Infandre, pouco depois das 12 horas e nas messes do Batalhão, o pessoal iniciara pouco depois a refeição do almoço, quando se ouviram as primeiras explosões, quais lúgubres sinais agoirentos de que algo estava a correr mal com “a Nossa Gente”. 
 

Esquema da emboscada à coluna de Infandre em 12 de Outubro de 1970, enviado pelo nosso camarada Jorge Picado (Poste 2807)

Pois se o barulho era de tão perto... só podia relacionar-se com a coluna saída há tão pouco do Quartel, pois, àquela hora do dia, não era provável que fosse ataque ao Destacamento de Braia, o mais próximo, para os sons serem tão audíveis.

A corrida para as Transmissões, assim o confirmou.

Nem a rápida saída do pessoal de Braia, a poucos quilómetros do funesto local, mas apanhado igualmente com os talheres na mão, e por onde tinham acabado de passar poucos minutos antes, evitou a destruição que encontraram. Mas minoraram, pelo menos o que podia ter sido uma maior hecatombe.

Este triste acontecimento provocou-me grande trauma psicológico de imediato, deixando-me bastante afectado e marcou-me por muito tempo.

Passados 40 anos sobre esta data, quero aqui recordar nesta Tabanca Grande e prestar sentida homenagem, àqueles que então nos deixaram para sempre.

Furriel Mil Op Esp NM 15398468, Dinis César de Castro, da CCaç 2589/BCaç 2885
1.º Cabo NM 17762169, José da Cruz Mamede, do Pel Caç Nat 58/CCaç 2589
1.º Cabo NM 82062566, Joaquim Baná, do Pel Caç Nat 58/CCaç 2589
Soldado NM 19055368, Duarte Ribeiro Gualdino, da CCaç 2589/BCaç 2885
Soldado NM 18901168, Joaquim João da Silva, da CCaç 2589/BCaç 2885
Soldado NM 06975968, Joaquim Manuel da Silva, da CCaç 2589/BCaç 2885
Soldado NM 82047266, Betiqueta Cumba, do Pel Caç Nat 58/CCaç 2589
Soldado NM 82067668, Gilberto Mamadú Baldé, do Pel Caç Nat 58/CCaç 2589
Soldado NM 82023966, Idrissa Seidi, do Pel Caç Nat 58/CCaç 2589
Soldado NM 82040866, Tangatná Mundi, do Pel Caç Nat 58/CCaç 2589

Devo acrescentar a esta lista, dos que morreram nesse dia, o nome do Soldado NM 82066965, Serifo Djaló, do Pel Caç Nat 58/CCaç 2589, que tendo sido um dos feridos que foram evacuados no dia seguinte, 13OUT70, para o HM 241 de Bissau, veio a falecer em 17OUT70, segundo informações fornecidas por pessoal da CCaç 2589, num dos últimos encontros em que estive presente.

Quanto aos feridos, evacuados em 13OUT70 para o HM 241 de Bissau, da HU apenas se pode extrair a lista dos pertencentes ao Pel Caç Nat 58/CCaç 2589 e que foram, além do que atrás indico como tendo depois falecido:

2.º Sargento Mil NM 05040966, Augusto Ali Jaló
1.º Cabo NM 82038960, Jamba Seidi
Soldado NM 82043366, Jorge Cantibar
Soldado NM 82065965, Malam Dabó
Soldado NM 82094468, Samba Canté

Tendo em consideração que na HU, sobre este acontecimento, a notícia é muito resumida, mas refere 9 feridos graves, dos quais um é Furriel (?), e 8 feridos ligeiros, sem outras referências, verifica-se que a lista dos feridos evacuados só menciona os 6 (dos quais um morreu posteriormente) para o HM de Bissau.

Não quero acreditar que os outros 3 feridos graves tenham ficado em Mansoa e por isso, fica-me no entanto uma dúvida que ainda não consegui esclarecer, pelo menos quanto ao 1.º Cabo NM 14992669, José Fernandes Pereira, da CCaç 2589/BCaç 2885, que foi evacuado em 02DEZ70 para a Metrópole por ferimentos em combate, se não teria sido um dos feridos nesta emboscada, uma vez que depois dela não há registo de ter havido, até esta data de Dezembro, qualquer ocorrência de combate com baixas.

Jorge Picado
Ex-Cap Mil Art
CCaç 2589, CART 2732, CAOP 1
11 de Outubro de 2010
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Notas do editor:

[1] - Vd poste de 12 de outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7115: Efemérides (53): Recordando os camaradas mortos na emboscada do Infandre no dia 12 de Outubro de 1970 (Jorge Picado)

[2] - Vd poste de 7 de outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2162: O fatídico dia 12 de Outubro de 1970 - Emboscada no itinerário Braia/Infandre (Afonso M. F. Sousa)

Último poste da série de 6 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21425: Efemérides (337): O 4 de Outubro, dia do meu mentor espiritual, Francisco de Assis (1181-1226)... É uma ocasião também para lembrar os 7 capelães do Exército, no CTIG, que eram da Ordem dos Frades Menores (João Crisóstomo, Nova Iorque)

Guiné 61/74 - P21443: Parabéns a você (1880): Cátia Félix, Amiga Grã-Tabanqueira

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Nota do editor

Último poste da série de 11 de Outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21439: Parabéns a você (1879): Benito Neves, ex-Fur Mil Cav da CCAV 1484 (Guiné, 1965/67), Eduardo Campos, ex-1.º Cabo TRMS da CCAÇ 4540 (Guiné, 1972/74) e Patrício Ribeiro, ex-Fuzileiro Naval (Angola, 1969/72)

domingo, 11 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21442: Fotos à procura de... uma legenda (134): Em maio de 1969, ao tempo do BCAÇ 2852, a Cilinha terá pernoitado em Bambadinca?


 Foto n.º 1  
 


Foto n.º 2
 

Foto n.º 3
 

Foto n.º 4


Foto n.º 5

Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Maio de 1969 > Parada do quartel de Bambadinca: visita da presidente do Movimento Nacional Feminino, Cecília Supico Pinto (1921-2011), mais conhecida por "Cilinha" (Fotos nº.s 4 e 5) e atuação do conjunto musical  "Os Bambadincas"  (Fotos nºs 1, 2 e 3), junto ao edifício, em U, onde ficavam as messes e os quartos dos oficiais e sargentos. (*)

Fotos: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Não é que isso seja relevante para a História com H grande, no âmbito da Guerra na Guiné (1961/74)... Mas na foto n.º 1,  já tirada ao anoitecer (e, por isso, de muito fraca resolução), vê-se um vulto, que parece ser uma figura feminina, de saia-calça azul, a falar com um dos elementos da banda. 

Hoje pomos a hipótese de ser a "Cilinha"...

O autor das fotos, José Carlos Lopes (**), não tem ideia de ela ter pernoitado no "resort" de Bambadinca. Falámos, em 2013,  ao telefone, a esclarecer este ponto: o mais provável, para ele,  era ser uma das senhoras que viviam em Bambadinca (por ex., a esposa do tenente Pinheiro, chefe da secretaria, a esposa do dr. David Payne, alf mil médico, ou outra: julgo que o ten cor Pimentel Bastos, comandante do batalhão, também lá tinha a esposa; mas estas senhoras tiveram que recolher a Bissau depois do ataque ao quartel de 28/5/1969).

Esta visita, da presidente do MNF - Movimento Nacional Feminino, dá-se talvez duas semanas antes do ataque a Bambadinca. No dia anterior ou no dia seguinte ela estava de visita ao Olossato, visita essa documentada no nosso blogue, (***)

Na visita ao Olossato, em 11 de maio de 1969, ela veio expressamente de Bissau, de helicóptero, acompanhada da sua secretária, e do comandante da CCAÇ 2402,o cap inf Mário José Vargas Cardoso. Foi, nessa ocasião. "graduada" em capitão do Exército Português.


Guiné > Região do Oio > Olossato > CCAÇ 2402 (1968/70) > 11 de maio de 1969 > Visita da "CIlinha" e da sua secretária. À sua esquerda, o cap inf Vargas Cardoso.


Foto: © Vargas Cardoso / Raul Albino  (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



2. Da leitura do livro de Sílvia Espírito Santo ("Cecília Supico Pinto: o rosto do Movimento Nacional Feminino". Lisboa: A Esfera dos Livros, 2008), deduzo que a dirigente do MNE - uma mulher poderosa até à morte de Salazar e que detestava o Marcelo Caetano - tenha estado na Guiné, pelo menos 4 vezes. 1964, 1966, 1969 e 1974... 

 Diz ela, na pág. 116: "Eu fui a quase todo o lado [da Guiné]. com excepção de Guerrilhe [, Guileje ?], Medina (sic) do Boé e Gadamaela [, Gadamael ?]. Não me venham dizer a mim que a Guiné estava toda tomada, por amor de Deus". 

Foi também da sua iniciativa convidar artistas na moda, como a Florbela Queirós ou o conjunto "João Paulo" para atuar, no Ultramar, no mato (pp.143 e ss.).

Mas há contradições nas suas declarações a respeito da Guiné e dos sítios aonde foi. Por exemplo, em entrevista à  revista "Combatente", da Liga dos Combatentes, em 16/7/2005, terá declarado o seguinte: "

(...) "A guerra em Angola estava ganha. A Guiné era um problema e sendo ela perdida, seria muito complicado para o resto. A Guiné foi grave. A minha 'Guinezinha', como eu costumo dizer, tão pobrezinha... Olhe que tenho a camisola amarela de zonas de intervenção visitadas. Cheguei a ir umas quatro vezes a Madina do Boé, a Buruntuma, a Nova Lamego e a muitas outras zonas de combate. Nunca virei a cara e posso andar em qualquer sítio de cabeça bem levantada. Muitas vezes ia à frente das colunas e cheguei inclusivamente a 'picar' a estrada." (...)

Na última visita à Guiné, em finais de fevereiro e primeira quinzena de março de 1974, sabemos que ela (e possivelmente a secretária que a acompanhava) dormiu pelo menos duas vezes no mato: em Gadamael (segundo informação do nosso camarada Carlos Milheirão ****) e em Bafatá, segundo relato do então já major de infantaria Vargas Cardoso (***).

Comentando a visita a Bambadinca,  que deve ter sido antes ou depois de 11 de maio de 1969, o nosso camarada Ismael Augusto escreveu-nos o seguinte, em 26 de setembro passado:

(...) "O oficial ao lado da Cilinha [, Foto n.º 4,[ não é do batalhão [, BCAÇ 2852,], logo não é o tenente coronel Pimentel Bastos.

Devo dizer-te e tanto quanto me recordo, que [a Cilinha] foi recebida com curiosidade, mas sem nenhum entusiasmo pela parte dos milicianos. Era no entanto uma figura com alguma popularidade e apresentava-se de forma muito simpática.

Grande abraço e boa saúde para ti e para todos os nossos Camaradas da Guiné neste ano dos 50 do regresso do BCaç 2852. Tenho umas fotos que tirei na saída de Bambadinca e a caminho do Xime que irei enviar. " (...)

É de recordar (e de esclarecer) o seguinte a respeito das visitas da presidente do MNF ao CTIG, à sua "Guinezinha":

(i) muitos militares não apreciavam a sua visita aos aquartelamentos e destacamentos do mato, e sobretudo a sua integração em colunas auto, na medida em que isso representava um acréscimo de mobilização de meios e medidas de segurança;

(ii) era uma mulher poderosa até à morte de Salazar, mas em relação ao sucessor deste,  Marcelo Caetano, a antipatia era mútua;

(iii) devido às boas relações com Spínola e à esposa, Helena, em 1969, a "Cilinha" ainda pôde dispor de algumas "mordomias", como helicóptero às ordens (, uma aeronave cuja operação era cara: o helicanhão, por exemplo, custava na época quinze contos por hora, o equivalente, a preços de hoje, a 4600 euros!);

(iv) a "Cilinha" nunca foi enfermeira diplomada: frequentou o 1.º ano do curso de enfermagem da Escola de Enfermagem de São Vicente de Paula, entre outubro de 1941 e junho de 1942; para ser enfermeira, teria, na época, que abdicar de casar;

(v) pelo menos em fevereiro / março de 1974, terá pernoitado mo mato, pelo menos duas vezes, em Bafatá (***) e em Gadamael (****);

(vi) de resto, as suas visitas só poderiam realizar-se no tempo seco (, de preferência entre fevereiro e maio);

 Enfim, pode ser que alguém ainda possa (e queira) acrescentar algo mais a estas fotos (*****).
 (**) Vd. poste de 23 de janeiro de  2013 > Guiné 63/74 - P10993: Álbum fotográfico do ex- fur mil José Carlos Lopes, amanuense do conselho administrativo da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) (8): Há festa no quartel: visita da Cilinha e do conjunto musical das Forças Armadas, em abril ou maio de 1969


(...) "Na 4ª e última comissão (Mar72 a Jul74), fui oficial de operações do BCAÇ 3884, responsável pelo sector de Bafatá, e a partir de Nov73 já major, acumulei com o Comando de Batalhão.

Em data que não consigo precisar (final de 73 princípio de 74) [, fins de fevereiro e primeira quinzena março de 1974] a Cilinha visitou Bafatá e algumas unidades do sector, tendo pernoitado uma noite na cidade.

Após o jantar, foi convidada para uma sessão de fados em casa do Capitão Médico, a qual se prolongou noite fora, num agradável e moralizante serão, com muitos oficiais e sargentos da guarnição.

Todo o “mundo” militar, sabia das qualidades de “fadista” da Presidente do MNF.

No dia seguinte, a nossa visitante, seguiu viagem para NOVA LAMEGO, com escolta do meu Batalhão, sendo apresentada ao Comando de Agrupamento.

Soubemos dois dias depois, que a coluna militar que a escoltava em visita à guarnição de Canquelifá (se a minha memória não me falha), fora emboscada pelo PAIGC.

Em resultado desse contacto, a “Cilinha", como enfermeira (que era) da Cruz Vermelha, procurou ajudar um dos nossos feridos, o qual terá falecido nos seus braços. (...)


(...) Comentário:

C. Martins: Relativamente ao post sobre a D. Cilinha e contrariando-o um pouco, tenho quase a certeza de que ela pernoitou em Gadamael. De resto, se bem me lembro, ia acompanhada de uma outra senhora de que não me lembro o nome. Já pela noite dentro, encontrando-nos nós no Bar da messe de oficiais, entrou um soldado completamente "pirado" com uma granada descavilhada na mão e a gritar que "f...a aquela m...a toda". A D. Cilinha, aparentando muita serenidade, abeirou-se dele e lá conseguiu acalmá-lo. Também me lembro de termos sido flagelados enquanto ela lá estava e que foi a única pessoa que permaneceu no seu lugar, tendo todos nós corrido para os abrigos. Após o ataque, o capitão Patrocínio (com quem aprendi a fazer ski-aquático na bolanha), perguntou-lhe porque é que ela não se tinha ido abrigar, tendo-lhe ela respondido que não valia a pena porque "só se morre uma vez".

Abraço. (Carlos Milheirão) CCAÇ 4152,  13 de junho de 2013 às 16:18 (...)

(*****) Último poste da série > 10 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21437: Fotos à procura de... uma legenda (127): Levantamento de um campo de minas A/P: chão felupe, setembro de 1974, uma notável sequência fotográfica do António Inverno (ex-alf mil Op Esp / Ranger, 1º e 2ª CART / BART 6522 e Pel Caç Nat 60, São Domingos, 1972/74)

Guiné 61/74 - P21441: Blogues da nossa blogosfera (143): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (54): Palavras e poesia


Do Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.


POEMA DE OUTONO

ADÃO CRUZ

© ADÃO CRUZ

Ainda caiem a meus pés
bolinhas de sol e pérolas de chuva
do alto da varanda que eu já fui
e fazem brilhar humildemente
a ilusão das cores e a frouxa luz
que há na sombra dos dias.
O poema mais lindo da minha vida
ainda não nasceu.
Sonhei criá-lo hoje contigo
neste princípio de Outono
semente e fruto de teus jovens abraços.
Mas tu caminhavas na outra margem
de rosto escondido atrás da máscara
fugindo do amor banal
olhos baços de chorar sem lágrimas
a alma tão resignada de cruéis memórias
que o beijo ardente se perdeu no rio.
O meu rio
outrora vivo e turbulento
hoje parado e vencido nos braços do estuário
onde me dizem que ainda há versos
voando perdidos e dispersos
como gaivotas bailando.
Mas o mar ali tão perto tudo engole
nas furiosas ondas do seu ancestral poder
devorando qualquer poema antes de nascer.
Que ao menos a réstia de luz do fim da tarde
mesmo sem bolinhas de sol e pérolas de chuva
me deixe pintar a memória da emoção
na tela sofrida e nua do teu corpo
deitado sobre a luminosa doçura da ilusão.

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Nota do editor

Último poste da série de 4 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21416: Blogues da nossa blogosfera (142): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (53): Palavras e poesia

Guiné 61/74 - P21440: Blogpoesia (700): "Santuário de São Bento da Porta Aberta", "A força da inspiração" e "Ser o primeiro", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


Santuário de São Bento da Porta Aberta

Terras verdes do alto Minho
Onde o céu azul parece mar.
Ali nasceu a devoção ao santo que faz milagres
Aos aflitos que lhe vêm bater à porta.
Sem discriminações.
Pobres e ricos.
Só é preciso ter a fé.
Procissões de gente sobem até lá constantemente.
Com a esperança na sua alma de uma graça lhes valer.
Aquele Santo que povoou o ocidente de mosteiros.
Ensinou as gentes a lavrar as terras.
Atravessou o mar e foi ao Brasil
Onde é cultuado como em Portugal.
Bendito sejas ó grande santo benfeitor
Como Bento é vosso nome…


Berlim, 9 de Outubro de 2020
16h28m
Jlmg


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A força da inspiração

O rosto se transfigura quando a inspiração lhe banha a alma na execução duma obra bela.
Ondas indefinidas perpassam todo o corpo.
Ficam em brasa as chamas de beleza.
Quase em delírio orgâsmico, os dedos do pianista e do poeta e qualquer artista, incandescem sobre as teclas.
Se evolam as sensações e o ar fica deslumbrante de emoção ao rubro.
Só a alegria do parto dum recém-nascido se lhe assemelha.
Candente manifestação divina é a força da inspiração humana…


Berlim, 9 de Outubro de 2020
18h22m
Jlmg


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Ser o primeiro

Nunca quis ser o primeiro em nada.
Aquele despique das boas notas entre a rapaziada da turma.
Durante algum tempo, fiz parte dos quatro melhores do ano.
Depois, comecei a baixar.
A matéria das cadeiras não me entusiasmava.
Matemática e ciências não me seduziam.
Por fim, estava entre os razoáveis.
A maioria.
Na faculdade, suei as estoupinhas para passar em cada cadeira.
Nalgumas, chumbei.
Só mais tarde, ganhei consciência de que o saber consiste no que fica dentro de nós. E nos alimenta a vida.
Não é a quantidade. Sim, a qualidade, é que conta.
O despique é natural na juventude.
Saber pensar por si é a meta…


Bar dos Motocas, arredores de Berlim,
15h11m
8 de Outubro de 2020
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 4 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21415: Blogpoesia (699): "O tagarela", "Fidelidade" e "O mistério do talento", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P21439: Parabéns a você (1879): Benito Neves, ex-Fur Mil Cav da CCAV 1484 (Guiné, 1965/67), Eduardo Campos, ex-1.º Cabo TRMS da CCAÇ 4540 (Guiné, 1972/74) e Patrício Ribeiro, ex-Fuzileiro Naval (Angola, 1969/72)


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Nota do editor

Último poste da série de 10 de Outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21436: Parabéns a você (1878): Manuel Resende, ex-Alf Mil Art da CCAÇ 2585 (Guiné, 1969/71)

sábado, 10 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21438: Os nossos seres, saberes e lazeres (415): No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (10) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Abril de 2020:

Queridos amigos,
Vir a Viana e não visitar Santa Luzia é como ir a Roma e não ver o Papa. Os comentários sobre o templo gigantesco que o arquiteto Ventura Terra traçou naquele monte sacro que permite uma das mais deslumbrantes panorâmicas que a Natureza permite, nem sempre são lisonjeiros, e aqui se cita José Hermano Saraiva que acha que lhe falta alma. Daqui a um século falamos. Também se disse cobras e lagartos do neomanuelino e do neogótico e veja-se como o Palácio da Pena e a Quinta da Regaleira se transformaram em poderosíssimas atrações turísticas. O tempo urge, toma-se novamente o funicular, depois da lavagem de alma que aquela vista purificada propiciou, e desce-se, sem perda de tempo, para desfrutar o património da Misericórdia de Viana do Castelo, não há que enganar, a igreja, a sua riqueza azulejar, a decoração do teto, a aparato das talhas, as pinturas, o esplendor do órgão, é uma unidade que dá pelo termo da magnificência do Barroco, é incomparável, a sua visita é obrigatória. E depois aproveita-se o remanescente da luz do dia para ir à Viana moderna, a última etapa neste lugar onde a Ribeira Lima entra no Atlântico.

Um abraço do
Mário


No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (10)

Mário Beja Santos

José Hermano Saraiva, no primeiro volume de O Tempo e a Alma, Círculo de Leitores, 1986, depois de se ter debruçado sobre os monumentos notáveis de Viana e antes de anotar o que era a Viana moderna, fala do Monte de Santa Luzia, dizendo o seguinte: “Ali, o mais notável é o miradouro, vista emocionante. Foi a vista que atraiu o santuário, o hotel, o elevador. O tema é inevitável perante estes monumentos modernos: gosta, não gosta, e a negativa é a resposta mais fácil. O projeto do santuário é do arquitecto Ventura Terra, e as obras foram realizadas entre 1890 e 1930, embora depois disso se tivesse ainda trabalhado muito. Anteriormente, tudo o que havia era uma capela, onde se chegava por uma tortuosa vereda entre mato cerrado. O arquitecto planeou conforme o gosto do seu tempo: uma igreja que combina elementos tradicionais numa mescla revivalista a que se chamava estilo românico-bizantino. As dimensões são impressionantes para a parcimónia portuguesa; as cúpulas e as rosáceas aspiram deliberadamente à escala monumental, mas o conjunto parece mais um grande jazigo do que uma alegre casa de Deus. Algo falta. Os arquitectos medievais dispunham de um ingrediente essencial para conferir autenticidade e emoção aos edifícios que planeavam: um forte sentimento religioso. A régua de cálculo não tem esse valor, e não sei se o computador o sabe encontrar. Em todo o caso, a importância relativa da basílica revela que Viana não parou e que não se envergonha da contemporaneidade”. É um texto um tanto agridoce, uma no cravo, outra na ferradura. Viajar no funicular é entusiasmante, com aquele cruzamento com a composição que desce, é também assim com os ascensores de Lisboa. Trepam-se os degraus e aguarda-nos um dos cenários mais desafogados com que a Natureza nos privilegiou.
Santa Luzia e o funicular fazem parte da proposta das visitas obrigatórias em Viana. O monumento dá pelo nome de Templo do Sagrado Coração de Jesus. Quem subir ao zimbório tem à sua disposição uma paisagem incomparável. No seu exterior podem ver-se várias peças graníticas da primitiva capela, pedras de um arco de 1694; capitéis e instrumentos usados na construção. Ninguém deve fugir à viagem pelo funicular, mesmo que se possa ir de carro facilmente. É a mais longa viagem de todos os funiculares do país, com os seus 650 metros. Quem já teve oportunidade de em Paris visitar o Sacré-Coeur, de onde aliás se tem uma vista soberba sobre a cidade, encontra similitude com este gigantismo, e até nas afinidades decorativas. Dizer-lhe que falta alma, como acima observou José Hermano Saraiva, é um tanto excessivo, é uma outra abordagem da espiritualidade, basta olhar atentamente para a pintura da cúpula e lembrar o que Almada Negreiros, numa dimensão mais modernista, deixou na Igreja de Nossa Senhora de Fátima em Lisboa.
De seguida, apresento uma sucessão de imagens captadas neste miradouro de Viana e no seu monte sagrado. Não há nada que se compare em panoramas de mar, de campo e cidade, de rio e de montanhas. Carlos Ferreira de Almeida, no seu livro sobre o Alto Minho, escreve: “Lá muito em baixo vêem-se os telhados cúbicos da cidade, as docas e o mar azul, contornando de espuma a praia longa. Lá no fundo há um rio adormecido entre veigas e ínsuas, e, ao lado, o anfiteatro das montanhas com os seus aldeamentos. Daqui podemos mirar grande parte das freguesias que o concelho de Viana tem”. Tempo houvesse, e metia-me ao caminho, para vasculhar estes arrabaldes de Viana: visitar Areosa e Carreço, e depois Afife, gostava de ver o antigo casino remodelado, e nunca fiquei indiferente aos aspetos agrestes da Serra d’Arga. Duvido ter condições quando se fizer o trajeto de Viana para Ponte de Lima poder parar nas freguesias, já não haverá com certeza luz do dia, quantas vezes, a ler a Carlos Miguel de Abreu de Lima de Araújo o Aurora do Lima se falava em Cardielos, Lanheses, São Romão de Neiva, que deu aso a que ele me explicasse o trabalho dos sargaceiros, do mesmo modo como ele me contava o que há de empolgante no Auto da Floripes. O que não se vê hoje, ficará para a próxima.
É a meditar nos trajes à vianesa, no ouro disposto nas ourivesarias, na magnificências das perspetivas que Santa Luzia oferece que regresso à cidade, saio do funicular e embrenho-me nas ruas até à Praça da República, vou visitar a Misericórdia e o seu conceituado anexo, uma igreja que é monumento nacional, uma Misericórdia, cuja confraria apareceu em 1520 e que nos legou um património fabuloso e que contrasta, pela exuberância, com a severidade da fachada tardo-medieval dos velhos Paços do Concelho.

(continua)
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Notas do editor

Vd poste de 3 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21412: Os nossos seres, saberes e lazeres (413): No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (9) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 6 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21424: Os nossos seres, saberes e lazeres (414): Adão Cruz expõe as suas pinturas na Taberna do Doutor - Rua da Firmeza, Porto

Guiné 61/74 - P21437: Fotos à procura de... uma legenda (133): Levantamento de um campo de minas A/P: chão felupe, setembro de 1974, uma notável sequência fotográfica do António Inverno (ex-alf mil Op Esp / Ranger, 1º e 2ª CART / BART 6522 e Pel Caç Nat 60, São Domingos, 1972/74)



Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4



Foto nº 5


Foto nº 6



Foto nº 7

Guiné > Região do Cacheu > Chão felupe > 1974 > BART 6522/72 (1972/74)


Fotos (e legendas):  © António Inverno (2010). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. A propósito do Poste P21435 (*), achámos oportuno voltar a reproduzir uma notável sequência fotográfica de uma "desminagem", feita pela nosso camarada António Inverno (ex-alf mil Op Esp/Ranger, 1.ª e 2.ª CART / BART 6522 e Pel Caç Nat 60 (S. Domingos, 1972/74). As imagens foram hoje reeditadas e melhoradas. Não sabemos quem foi o fotógrafo, que também correu riscos: talvez tenha sido o fur mil Ferreira, que integrava o pequeno grupo de sapadores...

O poste P7480 (**)  tem já quase dez anos, e na altura não se pode dizer que tenha passado despercebido, uma vez que tem até agora cerca de 370 visualizações, mas sem qualquer comentário. Esperamos que desta vez os nossos leitores sejam mais generosos...


(...) A seguir anexo uma sequência de fotos de uma desminagem, efectuada por mim num campo de minas anti-pessoal, que eu havia montado numa zona descampada e que servia de protecção estratégica contra eventuais infiltrações do IN, por aquela parcela de terreno entre S. Domingos e Susana.

A instalação do dispositivo foi concretizada seguindo os habituais ensinamentos assimilados na instrução prática e teórica do CIOE [, Centro de Instrução de Operações Especiais].  partindo de um ponto de referência seguro e obrigatoriamente de fácil identificação no terreno, para melhor permitir, em dias futuros, também de modo perfeitamente seguro, o posterior efeito de levantamento.

A selecção de um ponto de referência único e inequívoco, e o desenho de um preciso e claro croqui, foi sempre a minha principal preocupação, pois podia dar-se o facto de não ser eu, quando necessário fazê-lo, a efectuar a sua desinstalação ou levantamento, com queiram chamar-lhe.

A instalação do campo em apreço, decorreu normalmente, mina a mina, calculando e preservando sempre o perigoso risco que representava o cumprimento rigoroso de uma missão destas.

Este sistema havia sido montado aquando da nossa chegada a Susana, em fins de 1972, e teve que ser levantado antes da nossa retirada em Setembro de 1974.

Penso que não era preciso dizer aqui que,  se a montagem foi, de algum modo, facilmente implantado no terreno, já não posso dizer o mesmo quanto ao acto de levantamento.

Quem sabe e/ou viu os efeitos físicos e psíquicos,  num ser humano, do rebentamento de uma mina anti-pessoal,  sabe do que eu falo.

Assim, lá parti para o terreno ciente que não podia errar, pois o lema que aprendera em Lamego com o monitor de Minas e Armadilhas, dizia que, com os explosivos deste género, só se podiam falhar 3 vezes: a primeira, a única e a última!

Tomadas todas as precauções e apesar da adrenalina e dos suores frios que nos causavam estes “trabalhinhos”, tudo correu bem felizmente.

Na última foto [, nº 7] podem ver um buraco com as ossadas de um pequeno animal, que morrera ao fazer detonar umas das minas.

Legendagem das fotos [, reproduzidas acima]:

"Melhor que uma excelente picagem, e tínhamos homens altamente especializados nessa matéria, era ter um detector de minas (metais)" [Foto nº 1]

"Rapidamente começamos a decobrir (eu, o fur Mil Ferreira, o sold "Castiço" e o Mulata) a primeira das piores e mais traiçoeiras assassinas da guerra" [, Foto nº 2].

"Dá-me aí uma faca se faz favor" [Foto nº 3]

"Aqui está a gaja" [Foto nº 4]

"Com cuidado... muito cuidado! ]Foto nº 5]

"Aqui está ela fora da terra, vou retirar-lhe a espoleta e pronto, já não fará mal a ninguém" [Foto nº 6]

"Esta não preciso levantá-la. Só um buraco e uns ossitos, como último sinal de que aqui acontecera uma morte." [Foto nº 7]

Um abraço, António Inverno Alf Mil Op Esp/Ramger, BART 6522/72 e Pel Caç Nat 60 (1972/74)



O António Inverno,   com a sua "inseparável AK 47,  ao fim do dia, na magnífica e sempre bela Ponta Varela".



Emblema do Batalhão de Artilharia nº 6522/72. Cortesia de Carlos Coutinho

 
Sobre o BART 6522/72 (1972 - 1974), ver a ficha de unidade.

Resumindo:

(i) mobilizado pelo  RAL 5,  Penafiel;

(ii) divisa: " Por uma Guiné Melhor":

(iii) comandante: ten cor art João Corte-Real de Araújo Pereira;

(iv) embarcou em Lisboa em 6 de dezembro de 1972, tendo desembarcado em Bissau a 13 desse mesmo mês; a  3ª Companhia embarcou por fases, via aérea, entre 7 e 15 de dezembro de 1972;

(v) receber a IAO . Instrução de Aperfeiçoamento Operacional, em Bolama; 

(v) guarneceu os seguintes aquartelamentos e destacamentos:  Ingoré, São Domingos, Susana, Sedengal, Varela, Antotinha, Apilho, Gendem, Barro, Bigene, e Ganturé;

(vi) a 1ª companhia esteve em São Domingos; a 2ª em Susana e Varela; a 3ª em Ingoré e Sedengal; a CCS, em Ingoré e Antonina;

(viii) coube-lhes já na retração, a desativação e entrega de diversos aquartelamentos e destacamentos ao PAIGC;

(ix) regressaram para Bissau, de onde embarcaram a 30 de agosto e 3 de setembro de 1974

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Guiné 61/74 - P21436: Parabéns a você (1878): Manuel Resende, ex-Alf Mil Art da CCAÇ 2585 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21432: Parabéns a você (1877): José Carmino Azevedo, ex-Soldado CAR do BCAV 2868 (Guiné, 1969/71) e Manuel Barros Castro, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCAÇ 414 (Guiné e Cabo Verde, 1963/65)

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21435: Fotos à procura de... uma legenda (132): O sapador só se engana três vezes: a primeira, a única e a última (António J. Pereira da Costa)


Guiné > Região de Quínara > São João  > CCAÇ 423 (1963/65) > c. 1964 >  O fur mil Arménio Dias de Almeida a levantar uma mina A/C... Será morto, por ferimentos em combate (, não sabemos em que circunstâncias), na zona de São João- Nova Sintra, em 9 de janeiro de 1964. Estas podem ser das últimas fotos dele, na estrada Nova Sintra-Fulacunda.


Fotos (e legenda): © Gonçalo Inocentes (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Comentário do nosso camarada António J- Pereira da Costa, cor art ref (*):

Isto é um bocado o jogo do gato e do rato. Só as minas metálicas , como é o caso da que figura nas fotos é detectável com o detector. Ouve-se um ruído constante nos ouvidos que aumenta logo que surja o campo magnético criado pela mina.

As minas de madeira de fabrico soviético ou as de plástico de fabrico na Itália ou nos "países de Leste" não são detectáveis pelo detector.

O método da "pica" passou a ser o único que funcionava quer fossem minas A/P ou A/C e era necessário que não se fizesse muita força ao carregar no solo. Ouvia-se também um som cavo e o terreno era "mais dura" uma vez que não permitia a penetração da ponta da pica.

Chamo a atenção para a utilização de uma pá  [4] para afastar a terra à volta da mina. É um erro técnico uma vez que algumas (todas as) minas [1] era armadilháveis e funcionariam logo que removidas - lembro o caso do Cap Guimarães (CArt 1690)- e podiam matar quem estivesse próximo.

Os ingleses sempre defenderam o princípio "uma mina, um homem" para evitar que a explosão atingisse mais de um combatente, pois nesse caso a mina não seria mais eficaz do que um simples tiro de espingarda...

Por fim, lembro que as minas A/C de madeira também podiam ser postas a funcionar como A/P, com umas pequenas alterações que qualquer sapador conhece.

Há mais dois erros técnicos na acção do sapador: tem as mangas para baixo [3]  e não parece estar numa posição estável [2]. 

As mangas bem arregaçadas destinam-se a sentir um eventual arame de tropeçar que o "insidioso" ali tenha colocado.

A posição do sapador tem de ser estável para que, inadvertidamente, não se desequilibre e faça um movimento errado para com a própria mina ou nas suas proximidades que também podem estar armadilhadas. Agachado, nunca! Magoou-se assim um M/A na CArt 1692.

Aconselha-se a trabalhar apoiado no quadrilátero definido pelos pés e joelhos.

O sapador só se engana 3 vezes: a primeira, a única e a última.

Claro que estamos a falar do início da guerra em que a malha das unidades era pouco densa e a nossa experiência no assunto não era grande. Estávamos a aprender por dedução e experiência e isso é sempre um período muito doloroso.

2. Comentário do editor LG:

Não sabemos se o fur mil Arménio Dias de Almeida era sapador, mas devia ter pelo menos o curso de MA [Minas e Armadilhas]. Acrescente-se às pertinentes observações do nosso Tó Zé, mais o seguinte: o quico em cima dos olhos [6] também não era boa ideia, tal como o cinturão com as cartucheiras [5].

Sempre vimos os nossos camaradas que levantavam minas, trabalhar com a faca de mato..., rentes ao chão,  deitados de bruços. Mas temos no nosso blogue outros especialistas, a começar pelo nosso coeditor Carlos Vinhal,  que podem comentar com autoridade estas fotos, e enriquecer a(s) legenda(s). (**)

(**) Último poste da série >  20 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21377: Fotos à procura de... uma legenda (125): a borboleta Almirante-vermelho europeu (Vanessa atalanta)...que, para fugir do frio, chega a percorrer distâncias até 2 mil quilómetros

Guiné 61/74 - P21434: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (22): A funda que arremessa para o fundo da memória

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Outubro de 2020:

Queridos amigos,
Paulo Guilherme vai arrumando as suas memórias da Guiné, tem ainda fotografias, foi recolhendo ao longo dos anos correspondência avulsa, metodicamente envia a Annette episódios que ele classifica como mais relevantes, mês a mês, estamos em janeiro de 1969. Aqui e acolá, manda a efabulação dos acontecimentos, surgem lacunas, é o caso do Natal de Missirá de 1968, marcou-o profundamente aquela festa, irrepetível pelo que ele conseguiu arregimentar de ajudas, ninguém se negou enviar-lhe as vitualhas da Consoada, houve cabrito para a população, pão fresco, arroz feito à moda portuguesa, com base em cebola frita, alho e calda de tomate, um regalo. Mas Paulo quis contar pessoalmente a Annette as alegrias daqueles momentos, perdeu-se esse episódio o que ganhou a comunicação destes cinquentões arrulhados. O que é mais surpreendente é como Annette vai gravando na sua própria pele o passado remoto do seu amoroso, ela própria estuda a História de Portugal, vive eufórica à espera da chegada de Paulo, nunca o presente foi tão intenso à custa da descoberta de um passado, para ela totalmente improvável, um ano antes. Assim se vai fundamentando o milagre da Rua do Eclipse, para aqui converge uma clamorosa paixão, aqui aportam documentos de uma guerra que ocorreu num pequeno ponto da chamada Alta Guiné, aqui se configura e molda o futuro promissor de dois amantes que aproveitaram um acaso para ressuscitar as suas vidas.

Um abraço do
Mário


Esboços para um romance – II (Mário Beja Santos):
Rua do Eclipse (22): A funda que arremessa para o fundo da memória


Mário Beja Santos

Mon amoureux, Estou felicíssima porque tu chegas dentro de dois dias, felizmente que as minhas reuniões fora de Bruxelas coincidem com a tua vinda, terei reuniões em Lille, amanhã, e em Eindhoven logo a seguir, sigo diretamente de Lille para lá, a reunião acaba por volta das quatro horas, estarei em Zavantem à hora que indicas. Entretanto, vou conhecendo pormenores da tua família, quanto adorei a história da tua mãe, o falecimento da tua avó de sangue com bilharziose dois meses depois da tua mãe nascer, o teu avô entregou a sua custódia aos padrinhos de batismo. Tocou-me muito aquele pormenor de ele abrir um lenço e mostrar umas jóias que eram da tua avó Amália, seria um agradecimento, havia ainda outras duas filhas para que era preciso descobrir acolhimento e a tua nova avó respondeu-lhe: “Compadre, a partir de hoje a Gigi é nossa filha, a filha que eu não pude gerar e que vai ser a candeia dos meus olhos. Reparta essas jóias por quem vai receber a Fernanda e a Lídia, a Gigi terá a seu tempo todas as joias que os novos pais lhe puderem oferecer”. Mandaste muito mais fotografias da tua mãe, tu não sabes se estas imagens foram tiradas em Malanje, N’dalatando (Vila Salazar) ou mesmo Lucala, de que tu guardas uma bandeira em seda, datada de 13 de março de 1913 e referente à constituição da Coletividade Recreativa e Musical de Lucala, vi a fotografia, que pormenor de trabalhos na seda! Vi com a lupa que a primeira imagem é referente ao Natal de 1916, tem a tua mãe dois anos, sorridente, com um ar maroto abraçada pela sua nova mãe, por detrás da Dona Ângela, visivelmente mais velho, o Sr. Costa. Meu Deus, como era possível aquelas roupagens em clima tropical húmido! A segunda fotografia, tu não vais acreditar, pareceu-me um cenário de estúdio, como sabes melhor do que eu, os fotógrafos concebiam arranjos de estúdio espantosos com carros e aviões, cadeiras estofadas, imitações de fachadas de casas, mas estive a ver ao pormenor, acredito que a imagem foi tirada com paisagem natural, abraça a tua mãe a Tia Lucília, a irmã da tua Avó Ângela, que ternura, como a força do amor pode superar a voz do sangue. Obrigado pela lembrança, meu adorado Paulo, indo a este passado, e sabendo como tu respeitas tanto, posso perceber outras coisas que reforçam o meu sentimento por ti.

A propósito, tu perguntaste-me o que gostaria de visitar em Lisboa, nas férias do Natal. Imagina tu que fui encontrar numa das minhas estantes o catálogo de uma exposição que visitei em Antuérpia salvo erro em outubro de 1991, tinha o nome em português Feitorias, a Arte em Portugal no Tempo dos Grandes Descobrimentos (fins do século XIV até 1548), fiquei deslumbrada, até descobri elementos da História anterior à Bélgica que desconhecia completamente. Os portugueses instalaram-se primeiramente em Bruges e daqui partiram para a Antuérpia, precisavam de comerciar produtos portugueses e africanos e levar mercadorias para o comércio de escravos. Fiquei impressionada com o intercâmbio cultural que se realizou, feliz por saber que a pintura flamenga da mais alta qualidade estava nos vossos museus, como Gérard David, Hans Memling, Quentin Metsys e até o meu tão apreciado Albrecht Dürer, pois gostaria muito de ver o quadro dele alusivo a São Jerónimo. Uma noite destas, pude ler com cuidado o catálogo da sua edição francesa, vários historiadores debruçam-se sobre as condições excecionais que os portugueses encontraram para a sua aventura marítima quando a demais Europa vivia em permanente conflito, o vosso sistema de alianças que de vários ziguezagues encontrou o seu eixo nos Ingleses, e li apaixonadamente o mundo científico que fundamentou a vossa aventura náutica e até adormecer contemplei com profunda admiração todas aquelas obras de arte de várias proveniências adquiridas com o comércio euro-africano e euro-asiático. Nesta exposição das Feitorias não vieram duas obras-primas da Arte Portuguesa, os Painéis de Nuno Gonçalves e a Custódia de Belém, atribuída esta a um dos vossos maiores escritores, Gil Vicente. Pois gostaria muito, se formos ao Museu Nacional de Arte Antiga, de as visitar.

São Jerónimo, pintado por Albrecht Dürer, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa

Chegaram os documentos e imagens referentes a janeiro de 1969, que acontecimentos tu descreves!
Primeiro, regressavam vocês a Missirá e apareceu na estrada um guineense com o pavor estampado no rosto, à cautela mandaste parar a coluna, não se tratasse de um expediente para uma emboscada, levaram o homem para Missirá e ele contou que houvera um ataque a embarcações civis à entrada do Geba estreito, tu não sabias de nada ainda, nesse dia enviaras um furriel a Mato de Cão, receberas instruções para ires a Bafatá falar com o Comandante do Agrupamento, ele queria a tua opinião quanto à eventualidade de se criar uma tabanca em autodefesa entre Missirá e Finete, em Canturé, apoiavas a ideia desde que entregassem um pelotão de milícia e dessem armas à população, reforçarias assim o sistema defensivo, mas em termos logísticos já não era possível, estava em marcha a criação de um novo aldeamento perto de Bambadinca, tu dizes chamar-se Nhabijões, não havia meios para Canturé. Este homem espavorido fora apanhado à mão quando se atirara à água, em desespero desatou a correr para dentro do mato e assim apanhou a estrada, todo esfarrapado e sempre a olhar para trás, com medo de possíveis seguidores.

Segundo, a tal viagem que fizeste de avioneta sobrevoando o Cuor e regulados limítrofes, a tua estupefação quando viste terrenos cultivados na região de Gambiel, a cerca de quatro quilómetros em linha reta de Missirá, nesta altura, e era essa a grande surpresa, tu já percorreras todas aquelas florestas, daí a tua surpresa quando lá do alto avistaste uma miríade de caminhos que saíam de Madina em direção a Belel e para mais longe e que derivavam para os tais terrenos cultivados no outro lado do rio Gambiel. Mal refeito do choque, fizeste um patrulhamento até Gambiel, que na carta que acabo de receber tu tratas como um dos locais mais belos do mundo, um verdadeiro Éden tropical, altíssimas palmeiras de Samatra como que vergadas sobre as bermas do rio, numa grande extensão, pensaste então que tinha sido obra do tal cartógrafo, Armando Cortesão, que por ali andara umas boas décadas antes. E vocês meteram-se pela mata para explorar do lado de cá onde é que havia terrenos lavrados. É nesse afã de quererem passar despercebidos, confiantes no sombreado da floresta impenetrável que, como trovões, ouviu-se o silvo de três morteiradas, um estrondo medonho, afinal vocês tinham sido avistados, os guerrilheiros procuravam intimidar. Tu ripostaste também com fogo de morteiro e dois destemidos bazuqueiros teus avançaram para terreno aberto, completamente destemidos, um verdadeiro combate nas duas margens do rio Gambiel. É nisto que uma morteirada estoira perto desses dois bazuqueiros, levantando rios de lama mas igualmente fazendo erguer aqueles dois homens, teme-se o pior, um deles levanta-se prontamente e pega no seu armamento, outro parece inanimado, geme baixinho, leva-se o ferido para dentro da segurança da mata, tem as pernas estilhaçadas, presume-se haver gravidade, findou a patrulha, regressa-se a Missirá, o bazuqueiro de nome Abdulai Djaló, conhecido entre vós pelo nome de Campino, e evacuado para Bissau, regressará uma semana depois, com as duas pernas entrapadas, tinham sido felizmente estilhaços superficiais, no mês seguinte, escreves nos teus apontamentos, este Campino viverá a teu lado, hora a hora, a agonia de uma operação que teve contornos horríveis, mesmo à entrada de Madina estoirou uma armadilha que matou e sinistrou e irá obrigar a uma retirada que teve aspetos catastróficos, onde não faltou um brutal ataque de abelhas, entre tanto sofrimento, tu prometes contar em breve o que aconteceu.

Terceiro, descobriste os efeitos do rancor, a canalhice de uma denúncia, um pequeno grupo de milícias de Finete, seguramente apoiado pelo comandante, o pedante Bazilo Soncó, que só vive para se pavonear, com a sua farda imaculada, que houve as tuas sarabandas, pois tu exiges-lhe que ande no mato ao lado dos seus homens, coisa que ele não faz, entregou uma carta ao comandante de Bambadinca falando nos teus maus-tratos, que só tens olhos para Missirá e desprezas Finete, a carta era tão mal engendrada que o comandante te chamou e te pediu para descobrires por onde começava calúnia tão ruim, enquanto conversavas com o comandante já uma comitiva de Finete estava à porta para denunciar o golpe baixo dos intriguistas, tu foste a Finete e tudo se resolveu num ápice, não era possível expulsar Bazilo nem os seus poucos sequazes, a intriga morreu no choco e a malandragem neutralizada. E tu concluíste que as insidias não têm fronteiras e os gestos miseráveis não escolhem a cor da pele.

Obrigado por estes documentos, meu adorado Paulo, contribuem para te conhecer melhor, para estar cada vez mais próxima de ti. Tenho uma surpresa à tua espera, uma surpreendente exposição do Palácio das Belas-Artes, prepara-te para ver peças de uma qualidade insuperável da cerâmica chinesa. Vem depressa, vem com a tua fogosidade, aquele ímpeto que me sacia a alma e a carne, sinto-me dona do mundo com este privilégio do teu amor. Bien à toi, Annette.

(continua)

O esplendor do Geba
Uma escultura Bijagó, entre a alegria da festa e a devoção animista
Aos aviadores italianos, falecidos num desastre aéreo, nos anos 1930, Bolama
Monumento ao presidente Ulysses Grant, Bolama (monumento desaparecido)
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21409: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (21): A funda que arremessa para o fundo da memória

Guiné 61/74 - P21433 - Os nossos capelães (10): Frei José António Correia Pereira, OFM, natural de Ponte de Lima, ex-alf mil capelão, BCAÇ 3884 (Bafatá, 1972/74) (Manuel Oliveira Pereira, ex-fur mil, CCAÇ 3547, Contuboel, 1972/74)


Foto nº 1 > Ponte de Lima > 2019 > 50º aniversário da missa nova de  José António Correia Pereira, aqui sentado, na primeira fila: é o terceiro a contar da esquerda para a direita; o primeiro da ponta é o nosso camarada Manuel Oliveira Pereira. Os restantes são amigos, ex-colegas e ex-camaradas.


Foto nº 2 > Ponte de Lima > 2019 > 50º aniversário da missa nova de  José António Correia Pereira, aqui de costas à direita.   O nosso camarada Manuel Oliveira Pereira foi um dos membros da comissão organizadora do evento: aparece aqui na foto, junto ao altar, a dirigir-lhe a palavra.


Fotos (e legendas): © Manuel Oliveira Pereira (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem do nosso amigo e camarada, de Ponte de Lima, o Manuel Oliveira Pereira, ex-fur mil, CCAÇ 3547 / BCAÇ 3884 (Contuboel, 1972//74), membro da nossa Tabanca Grande, da primeira hora;

Date: sexta, 9/10/2020 à(s) 03:46
Subject: Post 21432 - Capelães Militares 

Meu caro Luis, as minhas saudações.

Aqui vai uma achega, ao vosso pedido. (*)

José António Correia Pereira (nº 84 da lista publicada no poste P19023) (**),  meu ex-camarada, amigo e conterrâneo,  foi Capelão Militar  na Guiné, entre Março de 72 a Junho de 1974, integrado no BCAÇ 3884, sediado em Bafatá ( com companhias de quadrícula em Geba, Contuboel, Fajonquito, Sare Bacar). 

Regressado à metrópole, novas missões lhe são confiadas pela sua Ordem: professor, tutor e missionário, em  Moçambique. 

Novamente em Portugal, é nomeado responsável pela feitura de todas as publicações e livros da sua congregação  (OFM). 

Homem de grande cultura e intelectualidade, é autor de diversos livros e tradutor de várias obras de lingua alemã. Foi igualmente responsável das paróquias de Vila Real e Penafiel.

O Zé António, tal como eu, natural de Ponte de Lima, comemorou no ano transacto, o 50° aniversário de vida sacerdotal. Algumas centenas de pessoas da comunidade onde nasceu, aproveitaram o momento para o homenagear a que se juntaram muitos dos seus amigos, familiares, paroquianos, antigos e velhinhos professores, autoridades civis, religiosas e, também, uma mão cheia de ex-camaradas.

O Padre Zé António, continua o mesmo Homem. Um ser humano bom, calmo, ponderado e sempre com uma palavra de conforto e esperança.

Presentemente, é o responsável pela casa da Ordem Franciscana em Leça da Palmeira. Matosinhos.

Abraço
Manuel Oliveira Pereira
 
PS. Junto duas fotografias, cujos registos correspondem ao dia em se comemorou o 50° aniversário de "missa nova". Na primeira o Pe. Zé António é o terceiro, em primeiro plano,  a contar da esquerda. Os outros, somos nós os ex-camaradas.


2. Comentário do editor LG:

Informação adicional sobre o Frei José António Correia Pereira,  a quem desde já convidamos a sentar-se à sombra do fraterno poilão da Tabanca Grande, apadrinhado pelo Manuel Oliveira Pereira (, estando disponível o lugar nº 820):

(i) sacerdote franciscano, é natural de Gaifar, concelho de Ponte do Lima;

(ii) tirou a licenciatura em teologia pela Faculdade de Teologia de Paderborn, Alemanha, e em Filosofia pela Faculdade de Filosofia da Universidade Católica Portuguesa, Braga;

(iii) viveu como missionário na Guiné-Bissau e em Moçambique onde lecionou filosofia no Seminário interdiocesano da Matola;

(iv) foi diretor do centro de Franciscanismo durante três anos e é diretor da Editorial Franciscana há mais de quinze anos.


(**) Vd. poste de 17 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19023: Os nossos capelães militares (9): segundo os dados disponíveis, serviram no CTIG 113 capelães, 90% pertenciam ao Exército, e eram na sua grande maioria oriundos do clero secular ou diocesano. Houve ainda 7 franciscanos, 3 jesuitas, 2 salesianos e 1 dominicano.

 Vd. postes anteriores:

17 de setembro de  2018 > Guiné 61/74 - P19021: Os nossos capelães (8): Adelino Apolinário da Silva Gouveia, do BCAÇ 506: "Os filhos da p... matam-me!"... (Alcídio Marinho, ex-fur mil, CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65)

25 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16638: Os nossos capelães (6): Libório [Jacinto Cunha] Tavares, o meu Capelini, capelão dos "Gatos Negros", açoriano de São Miguel, vive hoje, reformado, em Brampton, AM Toronto, província de Ontario, Canadá (José Martins, ex-fur mil trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70)

25 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16636: Os nossos capelães (5): Relação, até à sua independência, dos Capelães Militares que prestaram serviço no Comando Territorial Independente da Guiné desde 1961 até 1974 (Mário Beja Santos)

17 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13616: Os nossos capelães (4): O bispo de Madarsuma, capelão-mor das Forças Armadas, em Gandembel, no natal de 1968 (Idálio Reis, ex-alf mil, CCAÇ 2317, Gandembel / Balana, 1968/69)

5 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13577: Os nossos capelães (3): O capelão do BCAÇ 619 ia, de Catió, ao Cachil dizer missa... Creio que era Pinho de apelido, e tinha a patente de capitão (José Colaço, ex-sold trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)

5 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13576: Os nossos capelães (2): Convivi com o ten mil Gama, de alcunha, "pardal espantado"... Muitas vezes era incompreendido, até indesejado por alguns, pois tinha coragem para denunciar os abusos, quando os presenciava (Domingos Gonçalves, ex-allf mil, CCAÇ 1546 / BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68)

5 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13575: Os nossos capelães (1): Conheci em Bedanda o ten mil Pinho... Ia visitar-nos uma vez por mês para dizer missa... E 'pirava-se' logo que podia (Rui Santos, ex-alf mil, 4.ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65)