terça-feira, 13 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21447: A galeria dos meus heróis (38): Don't worry, be happy! / Não te chateies, sê feliz (Luís Graça)










Luís Graça, Tabanca de Candoz, 2011

Fotos (e legenda): © Luís Graça  (2011) Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


A galeria dos meus heróis >  Don't worry, be happy! 

por Luís Graça


1. O que é que um gajo faz, das oito às nove, junto à entrada de um hospital, para mais oncológico ?

Aqui, esperas, desesperas, esperas. Que a esperança é a última coisa a morrer, diziam-te na tropa os gajos mais otimistas, os safados dos instrutores, coirões velhos,  cabos RD, readmitidos, que sabiam que já não iam à guerra, nem nunca morreriam pela Pátria.

Joga-se com a teoria das probabilidades: daqui a cinco a anos, terás cinco por cento de hipóteses de estar vivo, se te diagnosticarem um cancro no pâncreas, diz o teu amigo que está lá dentro a esta hora… Pálido como a cal da parede, sentado na sala de espera, esperando o pior, imaginas tu...Como o réu que aguarda a sentença do juiz...

Também ele espera, desespera, espera. Imaginas tu, que nunca entraste no IPO, por medo, por superstição, ou muito simplesmente porque nunca até agora precisaste de lá ir.  (Cruzes, canhoto!)... 

Enganas-te, já não se pintam paredes com cal, que era antigamente um bom desinfetante. Nem se cobrem os mortos com cal, hoje são cremados, sobretudo se morrerem de cancro. Dantes, no tempo em que morreu a tua mãe, não se pronunciava sequer a palavra cancro, escrevia-se nos jornais, na notícia necrológica, que o fulano de tal morrera de doença de evolução prolongada. Ou maligna. Um eufemismo. Um pudor hipocrático. Uma hipocrisia social. Como se houvesse doenças benignas!...

Esperas dentro do carro, mal estacionado, em segunda fila. E, talvez para não desesperares, jogas o jogo do “voyeurista”. Não, não espreitas o mundo pelo buraco da fechadura, mas estás meio escondido, na semiobscuridade do interior do teu carro, a ver o que se passa lá fora, à tua volta… Simplesmente, para passar o tempo, fazer horas... Não sejas cínico: estás apenas a tentar a disfarçar o nervoso miudinho, a tentar esquecer ao que vieste, acompanhar um amigo em sofrimento, com uma espada de Dâmocles em cima da cabeça...

Do teu posto de observação, vê-se num raio de noventa graus. Aqui o teu olhar, mesmo distraído, é seletivo. O olho de periscópio do camaleão podia ter-te dado jeito lá na guerra, quando atravessavas a bolanha ou cambavas o rio, mas não aqui, que tens para ver apenas o que se passa entre o nº 15 e o nº 19 do prédio ou prédios, à tua frente, no início da Av Madame Curie.

Por uma questão, digamos, de eficiência oftalmológica, tens de estreitar o teu campo de visão. É um ângulo de noventa graus, abarcando sensivelmente um quarto do pequeno, pequeníssimo, mundo que te circunda.

E que nada tem de deslumbrante, empolgante ou até de interessante essa nesga do planeta. O que vês é o pequeno mundo do formigueiro humano, mesmo que seja gigante aos olhos da formiga: a saída de casa para a rua, o metro, o trabalho, o café, a creche, a escola, o hospital, ou o simples passeio higiénico com o cão pela trela… Nem sequer vês quem entra e quem sai do IPO, estás de costas, uns com cancro,  outros sem cancro... Mas era talvez o único sítio que te deveria prender a atenção: daqui a um bocado o teu amigo (e antigo camarada de armas) sai, cabisbaixo ou de cabeça erguida…

Estás inclinado a apostar que ele sairá de cabeça erguida, mesmo com um prognóstico reservado: era, tanto quanto te lembras dele na Guiné, à distância de meio século,  um dos gajos tesos, que mostravam grande lucidez, dignidade, calculismo, sangue-frio  e coragem na adversidade. Qualidades, de resto, que lhe valeram um louvor. 

Nunca tiveste grandes amigos. Se é que tiveste amigos... E muito menos daqueles do peito, como se costuma dizer. Este é um deles, dos muito poucos que te ficaram para a vida.  Estiveram, ambos, na guerra. Sempre te tratou por "mano". Ele, o Zé Conde,  era um exímio caçador, e tu um reles fotógrafo amador, nas horas vagas. 

Ele sempre foi muito mais corajoso e determinado do que tu: como  caçador saía ao lusco-fusco, sempre convicto de que ia caçar alguma coisa de jeito, na orla da bolanha  ou, à noite, no fim da pista de aviação. Quem espera, sempre alcança. E ele apanhava, lebres,  galinhas de mato, rolas, raramente caça grossa, uma gazela ou um javali. Qualquer coisa, enfim, com que a malta pudesse matar a malvada nos dias seguintes, lá na messe. 

Tu eras como o fotojornalista do quotidiano: punhas a máquina a tiracolo, e ias dar um giro domingueiro pelas tabancas. Nunca fostes capaz de levar a máquina para o mato, para uma operação. Aliás, nunca fostes sequer um fotógrafo de jeito. E  perdeste tantos momentos de tirar fotos com sangue, suor e lágrimas,  ou seja com emoção, que é afinal o sal da vida!

Há tempos ele pediu-te para o acompanhares até ao IPO. "Alguma coisa de grave?", pergunta, estúpida, da tua parte. "Eh!, pá, porra...parece que estou com um cancro", respondeu-te ele...Ele não disse logo cancro, disse carcinoma, neoplasia, linfoma, ou outra merda qualquer,  enfim, um vocábulo mais técnico, mais neutro, mai<<<s tranquilizador... "Mas hoje não há nada que não tenha remédio, até o sacana do cancro", arrematou depois, com ironia. "Parece que estou  com um cancro na próstata... Fiz uma biópsia, vou lá saber o veredicto".

Ficaste sem pinga de sangue, sem jeito para lhe responder, assim apanhado de chofre. Balbuciaste umas palavras, secas,  de solidariedade: " Os amigos são para as ocasiões... Vou contigo ao IPO, nunca lá entrei... mas a gente desenrasca-se".

Em Lisboa não tem ninguém. E dos dois filhos, o que está mais perto é em Angola, de quem, aliás,  és padrinho de casamento . Tem um outro na Austrália. Somos um raio de um povo repartido pelos cinco continentes, com os filhos, os sobrinhos  e os netos separados dos pais, dos tios e dos avós.  

E quem vem da província, não está habituado ao trânsito de Lisboa. Foste buscá-lo ontem a Sete Rios. Desta vez, veio no "Expresso", de vespera. Ficou na tua "morança", agora demasiado grande para um homem que vive só. Ofereceste-te para ir buscá-lo a casa. Recusou, polidamente. Se tivesses insistido, teria aceite, Quando vier aos tratamentos, se vier, virá de ambulância. É sócio dos bombeiros da terra, não longe da capital, em Samora Correia. Trabalhou como técnico agrícola lá nas Lezírias.

2. Farmácia Curie, nº 15A. Frente à entrada principal do IPO. Grande cartaz publicitário, que cobre a montra. Faz propaganda a um “medicamento” que, depois, vai-se a saber, é apenas uma “vitamina”… Uma "mesinha", como se dizia na Guiné. Do Laboratório Militar, que dava para tudo, até para a tusa, o paludismo, a dor de corno, a saudade, a neuratesnia, o medo ...Tomava-se com uísque, as "pastilhas LM"...

Mas qual a diferença entre uma coisa e outra, numa botica onde é pressuposto vender-se tudo o que te faz bem à saúde e até o que te mata ?!...E ainda por cima tem o nome de alguém, uma mulher, que nunca foi boticária, a Madame Curie, a avaliar pelo que sabes das palavras cruzadas. Prémio Nobel de qualquer coisa, física ou química, sabes lá.

“Absorvit – don't worry, be happy!”: em inglês, em letras garrafais, para consumo do turista estrangeiro que, por engano, se aventurar por estas bandas da cidade onde o trânsito é caótico, por causa das obras na Praça de Espanha.

E, logo a seguir, em letras mais pequenas, tipo legenda de filme, para o indígena lusitano, tratado por você, por deferência ou cinismo: “Sente-se em baixo ? Viva o seu lado positivo da vida”. (Eh!, pá, o gajo que traduziu a frase, devia ter chumbado no exame em inglês!).

Mas adiante: ficas a saber que o “Absorvit é muita vitamina”… E registas no teu bloco de notas: “A vida tem dois lados, ou dois polos: um positivo, outro negativo. E às vezes funde-se como as lâmpadas”. Já lá vai o tempo em que se fabricavam lâmpadas elétricas e fusíveis para toda a vida... Que bom, quando na vida não havia curto-circuitos ! (... Idiota, quem te meteu essa cabeça ?!)

Fazes coleção de frases feitas, expressões lapidares, lugares comuns, grafitos, provérbios excêntricos, anexins, citações famosas... É um dos teus passatempos, além da sopa de letras, no café do teu bairro, com a bica depois do almoço. Disseram-te que era bom para prevenir o Alzheimer, ou pelo menos adiá-lo. És um hipocondríco de merda, tens um medo das doenças que te pelas. De resto, quem não tem ? Até os médicos e os padres... Espantosamente os muros do IPO parecem estar livres dessa peste dos grafiteiros. Talvez os gajos  sejam supersticiosos e lá, no íntimo, tenham um medo do caraças do deus do cancro que os vigia, qual big brother. Não acreditas em deus, mas começas a suspeitar que há um deus do cancro.

E vem-te á cabeça, uma frase cruel que te iumpressionou, do Camilo Castelo Branco, nas "Memórias do Càcere"... Deixa-me ver se a encontro aqui... ""Ignoro (...) se Deus deixou remédio para os defeitos das suas obras; confesso só que é ukm blasfemo atrevimento querer-lhas corrigir"...

Enfim, ficas a saber que há um lado da vida que se trata com antibiótico, outro com vitamina. Antibiótico, faca, bisturi, laser, rádio, quimioterapia, penicilina, morfina, etc., vem tudo a dar no mesmo. O que será o que esconde aquela fachada do IPO onde nunca entraste ?

Não disfarças a tua ansiedade, confessa. Nunca lidaste bem com as doenças, sobretudo a dos outros. E muito menos com a morte dos que te eram queridos: a tua primeira mulher, ainda tão jovem, os teus pais, já velhotes... Estás a escrever furiosamente como se fumasses cigarros uns atrás dos outros. Já não fumas há muito. Desde os anos 80, quando apanhaste aquela maldita  pneumonia, a seguir a uma  vulgar gripe sazonal. Ou crise palúdical, sezóes de África ? ... Chegaste a temer tratar-se da doença nova que então espalhava o terror entre a malta que estivera em África, o HIV-Sida. No teu caso, na Guiné e depois em Angola. Lembras-te do médico que não conseguiu escondeu o nervosismo: depois de te apalpar no baixo ventre, foi logo direitinho ao lavatório do cubículo para lavar as mãos... O que estranhaste: os médicos que tu conhecias, até então não lavavam as mãos à gfrehte do doente...

Deixaste de fumar por conselho médico, mas sobretudo por medo do cancro do pulmão. “O medo tem muita força, meu amigo”, diz o Zé Conde que está lá dentro à espera do veredicto dos médicos. Como se os médicos tivessem o poder da vida ou da morte. Ou não têm ?!


3. Há mais carros em segunda fila. Estás no teu carro, no lugar do condutor, enquanto aguardas o regresso do teu amigo, teu "mano"  e teu compadre que vieste acompanhar.  Estás impaciente, vê-se que não gostas de esperar, muito menos à porta de um hospital, para mais oncológico. Até na barriga da tua mãe, não gostaste de esperar. Acabaste por nascer prematuro.

Estás no lugar do condutor. O do morto é ao lado. Lembras-te das colunas logísticas que fazias na Guiné. Ias na GMC do tempo da guerra da Coreia. Sentado ao lado do condutor. No lugar do morto. 

Continuas mal estacionado, agora no lugar reservado às cargas e descargas da farmácia e estabelecimentos contíguos. A esta hora da manhã já não há lugares livres para estacionar. Aqui e no quarteirão à volta, delimitado pelos muros do IPO, a Av Madame Curie e a Rua Professor Lima Basto. Tiveste que fixar os nomes das ruas e chegar  ao IPO pelo GPS... Estás em Lisboa há uma porrada de anos, e ainda há sítios que tu não conheces... 

Nem a pagantes, lá dentro ou cá fora, há lugares de estacionamento. O lisboeta não gosta de pagar o estacionamento do carro. Daqui um bocado o gajo da EMEL ou o polícia municipal vai chatear-te. Mas ainda é cedo. Não te enerves. 

À tua frente, ao lado da Farmácia, na esquina da Avenida Madame Curie, fica a tabacaria e papelaria Polana… Nº 17A, se bem descortinas o número de polícia. Deve ser de alguém que retornou de África, de Moçambique, uma das joias da coroa do nosso império colonial. Tens uma vaga ideia de ouvir falar do Hotel Polana, havia um dos gajos da companhia na Guiné que era moçambicano. Nunca fostes para esses lados do Índico. Trabalhaste em Angola. Há anos que não voltas lá, a última vez foi para estar  com
 o teu filho e o teu afilhado. E agora tens lá netos que ainda não conheces.

Há um corropio de gente que vai comprar tabaco ou cartões da raspadinha. Acabam de entrar e sair dois jogadores compulsivos, com o ar de quem não acordou em dia de sorte. Para tudo é preciso sorte. No amor, no jogo, na caça, na guerra. Mas tentam,  uma e outra vez. Contaste até seis, as raspadinhas que eles deitaram fora. Depois desistiram e perderam-se no meio da  multidão, ao dobrar da esquina. Amanhã talvez tenham mais sorte. Afinal, só calha a quem joga. Também devem acreditar que há um deus da sorte, como há um deus do cancro.

As mães levam as criancinhas para a escola, logo de manhã. Vão com ar ensonado, as criancinhas, ainda a comer o resto do papo-seco. Por que é que, meu Deus,  dão pão de plástico às criancinhas ?!... Passeiam os vizinhos os cãezinhos. Um pai, com ar apressado, leva um carrinho de bebé, com duas crianças, a mais velha dependurada no estribo, em posição instável. Já vão atrasados para a escolinha.

Os velhos, como tu, já apareceram nas esplanadas, a seguir à Tabacaria e Papelaria Polana, no nº 17A, se não erras.  Não perdem pitada dos primeiros raios de sol. E que raio de nome é o do restaurante, no nº 19 ? “Bogani Desperta Caxito”, lê-se no toldo. Café, pastelaria, take away, restaurante Caxito. Outro topónimo de ressonância africanista, neste caso uma cidade de Angola, a norte de Luanda, mas onde tu nunca foste quando   lá  estiveste. 
Quanto a Bogani, é marca de café, deduzes tu. Bogani Desperta. Enquanto há gente que espera, desespera, espera, à porta do IPO..., ficas a saber que o Bogani Desperta.

Não é mal pensado, um  comes & bebes aqui à beira de um hospital, para mais oncológico, por onde passam centenas, milhares de pessoas, todos os dias. Um gajo pode estar a morrer de cancro, mas continua a comer todos os dias, nem que sejam bifanas, pizas ou hambúrgueres (se é assim que se escreve). 

E no nº 17 o restaurante Quinta Avenida. Que nome pomposo! Faltam-te os arranha-céus, para te sentires em Nova Iorque. O edifício mais alto, por aqui, ainda é o velhinho, quase centenário,  IPO, que não terá mais do que seis ou sete andares, se bem os contaste, por deformação profissional. Em Angola, eras o "senhor engenheiro pela Universidade Técnica de Lisboa". Cá, dizias, com graça, no tempo da Expo 98, que eras um "trolha da construção civil com diploma de engenheiro". 

Se o polícia te aparecer a chatear-te, dizes que estás à espera de um doente. O que é  verdade mas não adianta. Ele põe-te a mexer. E, se refilares, ameaça-te com  "o papelinho da multa", a arma dos pequenos poderes. Dantes, na tropa, embrulhavam-te em papel selado. Ainda és desse tempo, vê como estás velho. Agora acabaram com o papel selado. Azul. Vinte e cinco linhas. E margens regulamentares.

Mas ainda é cedo para te preocupares com o polícia ou o fiscal da EMEL. A esta hora estão a fazer a barba para pegar ao serviço. Depois vão tomar a bica, dar uma olhadela pelo jornal "A Bola", no quiosque da esquina e, pelo meio da manhã, talvez venham para a rua exercer a função. 

4. Não sabes qual é a função do pâncreas mas deve ser um órgão fodido...Devias saber mais da anatomia e fisiologia do corpo humano. E a função do fígado ? E do baço ? E da tripa ?  E até do raio da próstata!... Nunca deste conta da tua... 

"Don't worry, be happy": é a melhor frase do dia, regista-a aí, no teu caderninho. Se tu a repetires muitas vezes ao longo do dia, talvez resulte e tu consigas chegar à tua casa, vazia, onde ninguém te espera, nem um cão nem um gato,  no Bairro de Santos, com o ar de quem ainda pode vir a esperar algumas coisas boas da vida, e até dar-se ao luxo de aspirar a ser feliz. Põe a felicidade na tua lista de desejos a pedir ao Pai Natal. se ainda acreditas nalguma coisa.

Segue as instruções do teu psicoterapeuta: "Relaxe, respire fundo, peito aberto, coração ao alto!"... Ou "ao largo ?" Há uns que são mais aviadores, e ordenam-te " "coração ao alto!". Outros são mais marinheiros, e berram "coração ao largo!". 

Mas, não, não tens psicoterapeuta, se calhar até gostavas de ter, a tua ex, a segunda,  também tinha, as amigas dela também tinham... Os psis faziam parte da herança de família mas tu é que pagavas a conta... Nunca deu certo um gajo ir para África trabalhar quem nem um mouro e deixar cá as gajas, o cão e o gato. Hoje não tens mulheres, nem cães, nem gatos.

"Don't worry, be happy!"...É bom saber que alguém te ajuda (ou pode vir a ajudar) quando estás na merda. Um condutor de ambulância do Alentejo profundo (Mértola, se bem consegues ver pelo retrovisor o que está escrito na frente da viatura...) veio para aqui, à esquina da farmácia, fumar um cigarro eletrónico. Agora também está na moda, o raio do cigarro eletrónico. 

Mas reparaste, logo à entrada do IPO, num cartaz de 2 por 2 metros com os dizeres: "IPO sem tabaco"... Ao fim destes anos todos ? ... Afinal, tu estás muito à frente do IPO... Tu conseguiste deixar de fumar, depois de apanhares um cagaço... O cagaço faz bem à saúde. Os fumadores deviam apanhar um cagaço. Um pequeno cagaço não lhes faria mal.

Uma jovem sai do nº 15 para o trabalho com a lancheira na mão. Também está na moda, a lancheira na mão, de casa  para o trabalho... O que fará ela ?... "Call centre", adivinhas tu!...Bingo!... Mais uma aventura do país dos "call centre".

Há mais carros estacionados em segunda fila, com os condutores lá dentro e os piscas ligados, à espera de alguém que foi ao IPO. É um corropio de carros e ambulâncias a entrar e a sair do IPO, olhas tu pelo retrovisor.

Um assistente operacional (é assim que  se diz  agora ?!, dantes dizia-se operário), com a bata do IPO, vem também à Tabacaria. Na esplanada há já quatro pessoas, dois homens e duas mulheres, a fumar. Um condutor de ambulância da Cruz Vermelha Portuguesa compra o "Record". A menina do Restaurante Quinta Avenida monta o resto das mesas e cadeiras da esplanada que ocupa parte do passeio. O segurança do IPO também vem comprar raspadinhas. Há duas jovens a tomar café. Uma, mais gordinha, fuma. A outra, mais magrinha, também fuma e está ao telemóvel. Devia ser proibido fumar num raio de cem metros do IPO, apontas tu no teu bloco de notas. E agora até dizem que os telemóveis também fazem mal à saúde. Por causa das radiações.  És um trolha da construção civil, não sabes nada de (ir)radiações, ionisantes ou não-ionisantes. 

Porra, afinal o que faz mal à saúde, é um gajo estar vivo!... A vida é que faz mal ao cancro!...O cancro da mama, do esófago, da próstata, do pàncreas, da pele, do fígado, dos pulmões...

Uma mulher de meia idade veio cá fora raspar um cartão. Raspa com raiva. Ou é fé e determinação ? Não lhe saiu nada. A Santa Casa da Misericórida de Lisboa (SCML) tem um móvel, à porta das papelarias,  com um caixote do lixo só para os restos da raspadinha. Ecológica, a Santa Casa, amiga do ambiente.

Tens um marco do correio, vermelho, mesmo à tua frente. Um senhor, já mais velho do que tu, muito para cima dos 80, mas ainda com farta cabeleira branca, com ar de sido inglês e diplomata no Extremo Oriente, na outra incarnação, vem pôr uma carta no marco do correio... Já não vias este gesto, civilizado, urbano, romântico, e tão terno,  há muitos anos. Quem será a felizarda da destinária ? Afinal, nunca é tarde para amar... (Se bem te recordas, era uma canção italiana do teu tempo de Guiné.)

Um casal (ele, mestiço, não digas mulato que é racista) entra na papelaria. Mulatas são as mulas. Ela acaba de fumar e mandar a beata para o chão. Há gente sem educação cívica. Ou és tu que  estás hoje mais sensível e intolerante ?!... Em Luanda, fazias o mesmo... Mas Luanda tinha metros e metros cúbicos de lixo a cada esquina.

Mais uma mãe com a criancinha pela mão. Saem batas brancas, de vez em quando, do IPO. Vêm aqui tomar qualquer coisa na Pastelaria. Não dá para ver o que consomem nem muito menos para ouvir as conversas lá dentro. Uma bata branca sentou-se cá fora, puxa de um cigarro. O café puxa o cigarro, ainda te lembras do teu vício quando fumavas nos anos 80 ?... Grande estúpido!

Uma jovem mãe também se senta, com um carrinho de bebé. Fuma e fala ao telemóvel. Desalmadamente. E é feliz ou parece sê-lo. A maternidade torna as mulheres felizes, aponta aí no caderninho,.

A Farmácia Curie não tem mãos  a medir, tem muita clientela, velhos que vêm aviar receitas. É uma mina, a velhice, para os boticários, os médicos, os fisioterapeutas, os nutricionistas, os SPA, os ginásios, os hospitais. "Teme a velhice, que nunca vem só", apontaste há dia este provérbio dito popular, no teu caderninho. "Vade mecum", também lhe chamas.

Os estabelecimentos estão todos bem situados, só o nº 15 é que te parece ser uma entrada de um prédio de habitação, com porteira. Se contaste bem, o prédio tem quatro andares e, pelo estilo e estado de conservação, deve ser dos anos 30.  Disso percebes tu, que foste encarregado de obras, ganhaste bom patacão no tempo da Expo... (Patacão, graveto, cacau... em crioulo da Guiné.)

A menina do restaurante Quinta Avenida veio, agora, fardada a rigor, de preto,  e com um guardanapo branco no braço, fumar cá fora um cigarro eletrónico. Adoras as mulheres fardadas, ficam com um ar sexy, quando combinam bem o preto e o branco. Um adolescente de origem africana, auscultadores nos ouvidos, passa a falar alto ao telemóvel, e a gesticular, com ar gingão de rapper angolano. Parece feliz. A vida é bela quando um gajo está na casa dos verdes anos e não tem que ir para a puta da guerra, como tu foste na idade dele. Ou não está à espera de um amigo, à porta do IPO.

Mais um estúpido de um gajo a fumar à porta do Bolgani Desperta Caxito. Deve ter 60 anos. Sabes lá se tem 60 anos, nunca foste bom a tirar idades... Nem pintas.  Se tivesses tirado a pinta à tua, nunca te terias casado com ela, nem ela te deixaria viúvo aos 40 e picos anos. Porra, mal tiveste tempo de a amar!

Mais um jovem e uma velha a fumar na esplanada. Na papelaria, o negócio do tabaco e da raspadinha continua em alta, e ainda o dia é uma criança. Estás visivelmente irritado com a demora do teu amigo...E o IPO ali ao lado, a mexer-te com os nervos.

5. Desistes aqui do teu jogo, desistes de continuar a observar e a registar o formigueiro humano. Fechas o vidro do carrro mas ainda dá para ver a mulher da limpeza da farmácia a apanhar as beatas que formam  uns montinhos à porta. Tudo por causa da merda da raspadinha. Deviam depositar o lixo à porta da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, a tal fábrica de fazer milionários excêntricos.

Pelo retrovisor, apercebes-te que o teu amigo, camarada e compadre está de volta, o rosto inexpressivo, impávido e sereno, como nos dias, de manhã muito cedo, em que iam, os dois, de Unimog, cada um a comandar a sua secção, encher os bidões de água na "Fonte das Bajudas" (ou das "beijudas", dizia ele, marialva do Ribatejo)

- Está no ir, mano : começo para a semana a quimeoterapia,  daqui a umas semanas radioterapia!... Não vou morrer desta merda, e até pode ser que me safe, diz-me  o urologista...

Ligas o carro, fazes inversão de marcha, lês pela última vez o idiota do anúncio do Absorvit: "Don't worry, be happy!"... Que é como quem diz: "Foda-se!, sè feliz!"

Não falaram mais  pelo caminho, foste levá-o a casa, a 30 ou 40 quilómetros de Lisboa. Mas reviste, nessa manhã, na viagem de regresso, todo o filme da morte do "Campino", filho e neto de campinos, que era o condutor da GMC que transportava os bidões da água. Era um filme com cinquenta anos, a preto e a branco, com duas testemunhas,  mudas e impotentes, tu e o Zé Conde, o teu doente do IPO... 

Mas um gajo, por muito que queira, não esquece o que viu e sofreu. Há meses que não havia sinais de atividade do IN (abreviatura de Inimigo, o turra), nas imediações do quartel, a menos de dois ou três quilómetros.  Era uma operação de rotina, duas ou três vezes por semana. A água era racionada. Deixou de se picar o caminho quando se ia à água da "Fonte das Bajudas", de resto frequentada pela população local, maioritariamente fula... Os gajos nunca punham minas antipessoais. Até esse dia fatídico em que o "Campino", que ia à frente,  acionou uma mina anticarro  reforçada, já no início da época das chuvas.  

Restos do seu corpo e da pesada viatura foram encontrados num raio de cento e tal metros. Era um puto porreiro, deixou viúva e uma filha que nunca chegou a conhecer. Falava muito com o furriel Zé Conde, eram os dois ribatejanos,  e trabalhavam  antes da tropa na Quinta do Infantado, na Companhia das Lezírias,  na coudelaria. Adorava touros e cavalos.  Lembraste-te sempre dele, quando passas por aqui, por Porto Alto. 

Ao chegar a Samora Correia, à porta do restaurante, já conhecido,  onde almoçariam enguias fritas e umas sandochas de codorniz desossada, no Tretas & Lérias, o Zé Conde, o teu doente do IPO, só te disse, com um sorriso amarelo:

- Lembras-te ?... Há cinquenta anos,  a gente costumava dizer um para o outro: não te chateies, mano,  a vida continua... dentro de momentos!

- "Don't worry, be happy!" - martelaste tu, très vezes,  com a cabeça no retrovisor...

© Luís Graça (202o). Revisto: junho de 2023.

Guiné 61/74 - P21446: Parabéns a você (1881): Mário Ferreira de Oliveira, 1.º Cabo Condutor de Máquinas Ref da Marinha (Guiné, 1961/63)

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Nota do editor

Último poste da série de 12 de Outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21443: Parabéns a você (1880): Cátia Félix, Amiga Grã-Tabanqueira

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Guiné 671/74 - P21445: Notas de leitura (1314): “Guerra Colonial", por Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes; Porto Editora, 2020 - O mais rigoroso manual de divulgação de toda a guerra colonial (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Outubro de 2020:

Queridos amigos,
Não podemos ignorar que o tema da guerra colonial continua a suscitar, sobretudo na classe sénior, uma controvérsia maniqueísta, há permanentemente um dedo acusador de que o rumo da guerra podia ter sido outro, diferente do que sucedeu ao 25 de Abril. Estes dois investigadores manifestam-se arredados de prós e contras, consultaram fontes documentais, e acima de tudo dão no seu manual um pano de fundo como mais ninguém até hoje ensaiou na literatura destinada ao grande público, é uma narrativa onde não se foge ao essencial do que é a guerra subversiva, guerrilha e contra-guerrilha, qual o ideal imperial do Estado Novo personificado em Salazar, o deflagrar da guerra e o seu alastramento, os homens e os dispositivos, as populações envolvidas, escolhem-se três generais distintos para relevar o comportamento pragmático, passando pelo destemor pessoal até à motivação ideológica de desejar uma vitória impossível. Os autores não fogem a esta discussão acirrada entre aqueles, em diferentes quadrantes ideológicos, associados à nostalgia e ao saudosismo, responsabilizam o 25 de Abril por se ter conduzido o desfecho da guerra para o caos e para a vergonha da retirada, mostrando, com a evidência dos documentos, a situação crítica que se estava a viver em Angola, na Guiné e em Moçambique, nas vésperas do 25 de Abril.

Um abraço do
Mário


O mais rigoroso manual de divulgação de toda a guerra colonial (2)

Mário Beja Santos

"Guerra Colonial", por Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes, Porto Editora, 2020, só de longe é uma reedição, ganhou a forma de livro de consulta, transformado numa grande angular onde os dois investigadores, seguramente os mais habilitados nesta vertente historiográfica, deram uma arrumação muito mais ventilada para políticas, doutrinas, territórios, organização das Forças Armadas, movimentos de libertação, populações envolvidas, ritos do quotidiano, balanço, o pós-guerra, elenco de figuras cimeiras intervenientes nos três teatros de operações. É timbre dos autores o rigor, a comunicação acessível só possível de quem muito sabe, o desnudar mitos diáfanos da fantasia de quem ainda hoje propala toda aquela guerra era por natureza sustentável e um ato patriótico. O texto de Adriano Moreira, em que este académico esculpe Salazar, o seu regime e o seu pensamento sobre o ideal imperial, é uma peça de indiscutível importância. Luís Salgado de Matos regista igualmente o relacionamento entre a Igreja e o regime face aos conflitos coloniais e averba com oportunidade que as independências de Angola e de Moçambique vieram mostrar que a Igreja Católica nestes territórios tinha uma implantação suficientemente forte para poder sustentar-se sozinha, o que é facto indesmentível. O mesmo investigador aborda a economia e a guerra, esta era paga pela metrópole, como ele escreve: “Em 1971, as colónias contribuíam com apenas 18% dos 12 milhões de contos de despesas operacionais de defesa, uma proporção que ficava permutada da sua participação na receita total do Estado. A metrópole gastava com a guerra cerca de 40% da despesa pública. Em 1974, aos custos morais e humanos da guerra – que eram os mais decisivos – acrescentava-se o prejuízo económico. À vontade da independência africana ameaçava sobrepor-se a da independência branca”.

Três generais são analisados, pela forma como fizeram a guerra: Costa Gomes, Spínola e Kaúlza de Arriaga. Costa Gomes chega a Angola em 1970, fora aberta a Frente Leste, ali se movem os três movimentos independentistas. E delineou uma estratégia de reorientação do esforço para as imensas planícies do Leste em detrimento das florestas dos Dembos e das margens do rio Zaire. Aumentou o número de distritos dentro da zona militar Leste, convocou múltiplas forças auxiliares. Consegue pôr a UNITA a combater o MPLA, lançou no terreno unidades táticas de contra-infiltração. “Um aspeto caraterístico da sua manobra foi o modo de emprego das forças africanas. Costa Gomes, ao contrário de Spínola na Guiné, não as integrou em qualquer projeto político destinado a alterar o status quo existente”. Os autores alongam-se na figura de Spínola, na análise das suas primeiras Diretivas, a sua enorme preocupação em pôr os guineenses do seu lado. Mexe no dispositivo criando Comandos de Agrupamento Operacional e os Comandos Operacionais, irá utilizar as forças africanas na contra-guerrilha e as milícias na proteção e enquadramento da autodefesa das populações. Consegue manter a situação equilibrada até 1972, será depois ultrapassado por uma nova estratégia e pelo uso de armamento mais sofisticado. Promoveu os Congressos do Povo, envolveu-se em operações que desencadearam fiascos diplomáticos, apercebeu-se que toda a sua orientação depois dos acontecimentos de Maio de 1973 era posta em causa, todo aquele plano de retração que inicialmente aceitou e que Costa Gomes assinou era o princípio do fim, nada do que ele sonhara para uma Guiné inteiramente dos guineenses.

Kaúlza de Arriaga terá uma ação de comando assumida e radicalmente ideológica, não podia admitir outro resultado que não fosse a vitória sem compromissos. Quando ele chega a Moçambique, a FRELIMO já está a esboçar um plano para avançar até ao Tete. Kaúlza lança em força a Operação Nó Górdio, vão encontrar as bases da FRELIMO abandonadas. Cahora Bassa, como se veio a demonstrar, não era um empreendimento primacial, exigiu a mobilização de um volume de meios cada vez maior para a defender, acabou por ser o Nó Górdio de Kaúlza, acrescido da denúncia dos massacres de Wiriamu, tal como Marcello Caetano já estava desavençado com Spínola acabou igualmente o relacionamento de confiança com Kaúlza e Arriaga. Ele regressa e vem para conspirar.

Este importante roteiro mostra como se desenvolveu o esforço de guerra, como foi evoluindo o comportamento da ONU dos anos 1960 para 1970, como nasceu o Movimento dos Capitães. E temos as feridas, a mais óbvia e visível foram os deficientes, escreve o presidente da ADFA que durante a guerra terão sido evacuados da frente de combate cerca de 25 mil militares afetados por deficiências motoras, sensoriais, orgânicas e motoras.

E chegou a hora da polémica interminável, se a guerra estava ou não perdida. As investigações têm progredido e os autores revelam o que se estava a passar sobretudo em 1974 em Angola, Moçambique e Guiné. Resumindo, em Angola não se estava a caminho de nenhuma vitória militar nem política: existia uma séria e assumida ameaça colonial sobre Cabinda e o Norte, a situação no Leste não inspirava confiança ao nosso aliado sul-africano, considerava-se que o programa de aldeamentos era desastroso; em Moçambique a situação era crítica, para além da continuação das ações nas zonas tradicionais de guerrilha, a FRELIMO estava a infiltrar grupos cada vez mais para Sul, abatera três aviões rodesianos que apoiavam as operações de contraguerrilha, o grosso dos meios estava empenhado na defesa de Cahora Bassa e nas linhas de reabastecimento à barragem, nas zonas restantes as forças portuguesas corriam atrás dos acontecimentos. Na Guiné, é onde tudo ia pior, primeiro com a chegada dos mísseis terra-ar e depois com os acontecimentos de Maio de 1973. Põem-se em cima da mesa o plano de retração. “Para a constituição deste reduto eram considerados os seguintes ponto-chave, a manter a todo o custo: Aldeia Formosa, Cufar, Catió, Farim, Nova Lamego e Bafatá, a Ilha de Bissau associada às regiões de Bula e de Mansoa. Isto é, reduzir a soberania a um reduto central. Esta solução é a clara admissão de que as forças portuguesas abdicavam da posse de boa parte do território da Guiné e das suas populações para se concentrarem num reduto central”. Enquanto tudo isto se passa, Marcello Caetano tentou várias saídas para o problema colonial e a guerra, pensa-se numa independência branca para Moçambique e Angola, há conversações em enviados secretos do Governo Português com o PAIGC e o MPLA, por três vezes Caetano procura a admissão junto do Almirante Tomás, este respondeu: “Já é tarde para qualquer um de nós abandonar o cargo”.

As investigações evoluíram muito e os saudosistas da sustentabilidade da guerra colonial veem cair por terra toda a sua carga emocional. Um só exemplo, referente à Guiné. Em 27 de novembro de 1973, o Comandante da Zona Aérea, Coronel Lemos Ferreira, enviou uma carta a Costa Gomes a explicar o que se passara na Guiné. Refere as possibilidades militares do PAIGC, que incluíam o patrulhamento aéreo feito por aviões MiG-15 e MiG-17 da República da Guiné Conacri, a eliminação de duas guarnições portuguesas junto da fronteira, a existência de blindados e armas anti-aéreas e anti-carro. E escreve textualmente: “Sabendo-se que a sobrevivência militar desta Província Ultramarina assenta quase exclusivamente no pessoal e nos meios da Força Aérea, por ser patente que as forças terrestres não parecem capazes de suportar e reagir a uma safanão forte por razões conhecidas, nomeadamente a sua reduzida motivação, deduz-se o risco de, apesar de sermos aqueles que mais intensamente procuramos remar contra a maré, acabarmos por ser o pião das nicas, por não termos realizado o milagre integral, ou seja, impedir todo e qualquer ataque inimigo!”.

Manual de referência, roteiro, obra-prima de divulgação, nada supera no panorama editorial português esta guerra colonial, totalmente indicada para antigos combatentes, investigadores e curiosos das novas gerações, manifestamente indiferentes às apoplexias do saudosismo.
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Notas do editor:

Poste anterior de 5 de outubro de 2020 > Guiné 671/74 - P21419: Notas de leitura (1312): “Guerra Colonial", por Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes - O mais rigoroso manual de divulgação de toda a guerra colonial (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 7 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21426: Notas de leitura (1313): "O Cântico das Costureiras", de Gonçalo Inocentes (Matheos) - Parte IV (Luís Graça): as primeiras minas e fornilhos A/C

Guiné 61/74 - P21444: Efemérides (338): Para que não se esqueça o fatídico dia 12 de Outubro de 1970 - Emboscada do Infandre que vitimou 10 dos nossos camaradas (Jorge Picado, ex-Cap Mil, CMDT da CCAÇ 2589)


Gravura retirada do Poste 2162, trabalho exaustivo sobre a emboscada de Infandre de autoria do nosso camarada Afonso Sousa.[2]


1. Mensagem do nosso camarada Jorge Picado (ex-Cap Mil do CAOP 1,
Teixeira Pinto, e CMDT da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa e da CART 2732, Mansabá, 1970/72) com data de 11 de Outubro de 2020, recordando a emboscada do Infandre, ocorrida há precisamente 50 anos, no fatídico dia 12 de Outubro de 1970, que vitimou mortalmente 10 militares das NT:

Amigo e camarada Carlos Vinhal
Como estamos em 11 de Outubro, pedia-te mais um trabalhinho na nossa Tabanca.



PARA QUE NÃO SE ESQUEÇA

Completa-se amanhã meio século duma triste efeméride passada na Guiné. A para mim maldita emboscada efectuada ao pessoal de Infandre, quando pouco depois do meio-dia regressavam à base após saída de Mansoa e Passagem por Braia.

Acontece que por casualidade também será segunda-feira e quando estou escrevendo este email, domingo, a esta hora, naquela data, estaria aguardando a coluna que me transportaria de regresso a Mansoa a partir do cruzamento de Infandre, ou a passar pelo fatídico local, quiçá já em Mansoa.

Gostaria que colocasses uma pequena lembrança no Blogue, como homenagem aos bravos que perderam, aí, as suas vidas e que continuam presentes, as suas lembranças, para quem ainda está neste mundo.

Abraços
JPIcado


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2. Nota do editor:

Transcreve-se parte do poste P7115 de 12 de Outubro de 2010[1] onde o Jorge Picado, CMDT da CCAÇ 2589, relata exaustivamente o desenrolar da terrível emboscada:

RECORDANDO. 

HOMENAGEM AOS CAMARADAS MORTOS NA EMBOSCADA DO INFANDRE

Foi há quarenta anos. Segunda-feira, 12 de Outubro de 1970, entre o meio dia e as 13 horas, ou mais exactamente talvez perto do meio dia e meia hora.

A coluna tinha saído de Mansoa, no seu regresso ao Destacamento de Infandre, pouco depois das 12 horas e nas messes do Batalhão, o pessoal iniciara pouco depois a refeição do almoço, quando se ouviram as primeiras explosões, quais lúgubres sinais agoirentos de que algo estava a correr mal com “a Nossa Gente”. 
 

Esquema da emboscada à coluna de Infandre em 12 de Outubro de 1970, enviado pelo nosso camarada Jorge Picado (Poste 2807)

Pois se o barulho era de tão perto... só podia relacionar-se com a coluna saída há tão pouco do Quartel, pois, àquela hora do dia, não era provável que fosse ataque ao Destacamento de Braia, o mais próximo, para os sons serem tão audíveis.

A corrida para as Transmissões, assim o confirmou.

Nem a rápida saída do pessoal de Braia, a poucos quilómetros do funesto local, mas apanhado igualmente com os talheres na mão, e por onde tinham acabado de passar poucos minutos antes, evitou a destruição que encontraram. Mas minoraram, pelo menos o que podia ter sido uma maior hecatombe.

Este triste acontecimento provocou-me grande trauma psicológico de imediato, deixando-me bastante afectado e marcou-me por muito tempo.

Passados 40 anos sobre esta data, quero aqui recordar nesta Tabanca Grande e prestar sentida homenagem, àqueles que então nos deixaram para sempre.

Furriel Mil Op Esp NM 15398468, Dinis César de Castro, da CCaç 2589/BCaç 2885
1.º Cabo NM 17762169, José da Cruz Mamede, do Pel Caç Nat 58/CCaç 2589
1.º Cabo NM 82062566, Joaquim Baná, do Pel Caç Nat 58/CCaç 2589
Soldado NM 19055368, Duarte Ribeiro Gualdino, da CCaç 2589/BCaç 2885
Soldado NM 18901168, Joaquim João da Silva, da CCaç 2589/BCaç 2885
Soldado NM 06975968, Joaquim Manuel da Silva, da CCaç 2589/BCaç 2885
Soldado NM 82047266, Betiqueta Cumba, do Pel Caç Nat 58/CCaç 2589
Soldado NM 82067668, Gilberto Mamadú Baldé, do Pel Caç Nat 58/CCaç 2589
Soldado NM 82023966, Idrissa Seidi, do Pel Caç Nat 58/CCaç 2589
Soldado NM 82040866, Tangatná Mundi, do Pel Caç Nat 58/CCaç 2589

Devo acrescentar a esta lista, dos que morreram nesse dia, o nome do Soldado NM 82066965, Serifo Djaló, do Pel Caç Nat 58/CCaç 2589, que tendo sido um dos feridos que foram evacuados no dia seguinte, 13OUT70, para o HM 241 de Bissau, veio a falecer em 17OUT70, segundo informações fornecidas por pessoal da CCaç 2589, num dos últimos encontros em que estive presente.

Quanto aos feridos, evacuados em 13OUT70 para o HM 241 de Bissau, da HU apenas se pode extrair a lista dos pertencentes ao Pel Caç Nat 58/CCaç 2589 e que foram, além do que atrás indico como tendo depois falecido:

2.º Sargento Mil NM 05040966, Augusto Ali Jaló
1.º Cabo NM 82038960, Jamba Seidi
Soldado NM 82043366, Jorge Cantibar
Soldado NM 82065965, Malam Dabó
Soldado NM 82094468, Samba Canté

Tendo em consideração que na HU, sobre este acontecimento, a notícia é muito resumida, mas refere 9 feridos graves, dos quais um é Furriel (?), e 8 feridos ligeiros, sem outras referências, verifica-se que a lista dos feridos evacuados só menciona os 6 (dos quais um morreu posteriormente) para o HM de Bissau.

Não quero acreditar que os outros 3 feridos graves tenham ficado em Mansoa e por isso, fica-me no entanto uma dúvida que ainda não consegui esclarecer, pelo menos quanto ao 1.º Cabo NM 14992669, José Fernandes Pereira, da CCaç 2589/BCaç 2885, que foi evacuado em 02DEZ70 para a Metrópole por ferimentos em combate, se não teria sido um dos feridos nesta emboscada, uma vez que depois dela não há registo de ter havido, até esta data de Dezembro, qualquer ocorrência de combate com baixas.

Jorge Picado
Ex-Cap Mil Art
CCaç 2589, CART 2732, CAOP 1
11 de Outubro de 2010
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Notas do editor:

[1] - Vd poste de 12 de outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7115: Efemérides (53): Recordando os camaradas mortos na emboscada do Infandre no dia 12 de Outubro de 1970 (Jorge Picado)

[2] - Vd poste de 7 de outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2162: O fatídico dia 12 de Outubro de 1970 - Emboscada no itinerário Braia/Infandre (Afonso M. F. Sousa)

Último poste da série de 6 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21425: Efemérides (337): O 4 de Outubro, dia do meu mentor espiritual, Francisco de Assis (1181-1226)... É uma ocasião também para lembrar os 7 capelães do Exército, no CTIG, que eram da Ordem dos Frades Menores (João Crisóstomo, Nova Iorque)

Guiné 61/74 - P21443: Parabéns a você (1880): Cátia Félix, Amiga Grã-Tabanqueira

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Nota do editor

Último poste da série de 11 de Outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21439: Parabéns a você (1879): Benito Neves, ex-Fur Mil Cav da CCAV 1484 (Guiné, 1965/67), Eduardo Campos, ex-1.º Cabo TRMS da CCAÇ 4540 (Guiné, 1972/74) e Patrício Ribeiro, ex-Fuzileiro Naval (Angola, 1969/72)

domingo, 11 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21442: Fotos à procura de... uma legenda (134): Em maio de 1969, ao tempo do BCAÇ 2852, a Cilinha terá pernoitado em Bambadinca?


 Foto n.º 1  
 


Foto n.º 2
 

Foto n.º 3
 

Foto n.º 4


Foto n.º 5

Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Maio de 1969 > Parada do quartel de Bambadinca: visita da presidente do Movimento Nacional Feminino, Cecília Supico Pinto (1921-2011), mais conhecida por "Cilinha" (Fotos nº.s 4 e 5) e atuação do conjunto musical  "Os Bambadincas"  (Fotos nºs 1, 2 e 3), junto ao edifício, em U, onde ficavam as messes e os quartos dos oficiais e sargentos. (*)

Fotos: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Não é que isso seja relevante para a História com H grande, no âmbito da Guerra na Guiné (1961/74)... Mas na foto n.º 1,  já tirada ao anoitecer (e, por isso, de muito fraca resolução), vê-se um vulto, que parece ser uma figura feminina, de saia-calça azul, a falar com um dos elementos da banda. 

Hoje pomos a hipótese de ser a "Cilinha"...

O autor das fotos, José Carlos Lopes (**), não tem ideia de ela ter pernoitado no "resort" de Bambadinca. Falámos, em 2013,  ao telefone, a esclarecer este ponto: o mais provável, para ele,  era ser uma das senhoras que viviam em Bambadinca (por ex., a esposa do tenente Pinheiro, chefe da secretaria, a esposa do dr. David Payne, alf mil médico, ou outra: julgo que o ten cor Pimentel Bastos, comandante do batalhão, também lá tinha a esposa; mas estas senhoras tiveram que recolher a Bissau depois do ataque ao quartel de 28/5/1969).

Esta visita, da presidente do MNF - Movimento Nacional Feminino, dá-se talvez duas semanas antes do ataque a Bambadinca. No dia anterior ou no dia seguinte ela estava de visita ao Olossato, visita essa documentada no nosso blogue, (***)

Na visita ao Olossato, em 11 de maio de 1969, ela veio expressamente de Bissau, de helicóptero, acompanhada da sua secretária, e do comandante da CCAÇ 2402,o cap inf Mário José Vargas Cardoso. Foi, nessa ocasião. "graduada" em capitão do Exército Português.


Guiné > Região do Oio > Olossato > CCAÇ 2402 (1968/70) > 11 de maio de 1969 > Visita da "CIlinha" e da sua secretária. À sua esquerda, o cap inf Vargas Cardoso.


Foto: © Vargas Cardoso / Raul Albino  (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



2. Da leitura do livro de Sílvia Espírito Santo ("Cecília Supico Pinto: o rosto do Movimento Nacional Feminino". Lisboa: A Esfera dos Livros, 2008), deduzo que a dirigente do MNE - uma mulher poderosa até à morte de Salazar e que detestava o Marcelo Caetano - tenha estado na Guiné, pelo menos 4 vezes. 1964, 1966, 1969 e 1974... 

 Diz ela, na pág. 116: "Eu fui a quase todo o lado [da Guiné]. com excepção de Guerrilhe [, Guileje ?], Medina (sic) do Boé e Gadamaela [, Gadamael ?]. Não me venham dizer a mim que a Guiné estava toda tomada, por amor de Deus". 

Foi também da sua iniciativa convidar artistas na moda, como a Florbela Queirós ou o conjunto "João Paulo" para atuar, no Ultramar, no mato (pp.143 e ss.).

Mas há contradições nas suas declarações a respeito da Guiné e dos sítios aonde foi. Por exemplo, em entrevista à  revista "Combatente", da Liga dos Combatentes, em 16/7/2005, terá declarado o seguinte: "

(...) "A guerra em Angola estava ganha. A Guiné era um problema e sendo ela perdida, seria muito complicado para o resto. A Guiné foi grave. A minha 'Guinezinha', como eu costumo dizer, tão pobrezinha... Olhe que tenho a camisola amarela de zonas de intervenção visitadas. Cheguei a ir umas quatro vezes a Madina do Boé, a Buruntuma, a Nova Lamego e a muitas outras zonas de combate. Nunca virei a cara e posso andar em qualquer sítio de cabeça bem levantada. Muitas vezes ia à frente das colunas e cheguei inclusivamente a 'picar' a estrada." (...)

Na última visita à Guiné, em finais de fevereiro e primeira quinzena de março de 1974, sabemos que ela (e possivelmente a secretária que a acompanhava) dormiu pelo menos duas vezes no mato: em Gadamael (segundo informação do nosso camarada Carlos Milheirão ****) e em Bafatá, segundo relato do então já major de infantaria Vargas Cardoso (***).

Comentando a visita a Bambadinca,  que deve ter sido antes ou depois de 11 de maio de 1969, o nosso camarada Ismael Augusto escreveu-nos o seguinte, em 26 de setembro passado:

(...) "O oficial ao lado da Cilinha [, Foto n.º 4,[ não é do batalhão [, BCAÇ 2852,], logo não é o tenente coronel Pimentel Bastos.

Devo dizer-te e tanto quanto me recordo, que [a Cilinha] foi recebida com curiosidade, mas sem nenhum entusiasmo pela parte dos milicianos. Era no entanto uma figura com alguma popularidade e apresentava-se de forma muito simpática.

Grande abraço e boa saúde para ti e para todos os nossos Camaradas da Guiné neste ano dos 50 do regresso do BCaç 2852. Tenho umas fotos que tirei na saída de Bambadinca e a caminho do Xime que irei enviar. " (...)

É de recordar (e de esclarecer) o seguinte a respeito das visitas da presidente do MNF ao CTIG, à sua "Guinezinha":

(i) muitos militares não apreciavam a sua visita aos aquartelamentos e destacamentos do mato, e sobretudo a sua integração em colunas auto, na medida em que isso representava um acréscimo de mobilização de meios e medidas de segurança;

(ii) era uma mulher poderosa até à morte de Salazar, mas em relação ao sucessor deste,  Marcelo Caetano, a antipatia era mútua;

(iii) devido às boas relações com Spínola e à esposa, Helena, em 1969, a "Cilinha" ainda pôde dispor de algumas "mordomias", como helicóptero às ordens (, uma aeronave cuja operação era cara: o helicanhão, por exemplo, custava na época quinze contos por hora, o equivalente, a preços de hoje, a 4600 euros!);

(iv) a "Cilinha" nunca foi enfermeira diplomada: frequentou o 1.º ano do curso de enfermagem da Escola de Enfermagem de São Vicente de Paula, entre outubro de 1941 e junho de 1942; para ser enfermeira, teria, na época, que abdicar de casar;

(v) pelo menos em fevereiro / março de 1974, terá pernoitado mo mato, pelo menos duas vezes, em Bafatá (***) e em Gadamael (****);

(vi) de resto, as suas visitas só poderiam realizar-se no tempo seco (, de preferência entre fevereiro e maio);

 Enfim, pode ser que alguém ainda possa (e queira) acrescentar algo mais a estas fotos (*****).
 (**) Vd. poste de 23 de janeiro de  2013 > Guiné 63/74 - P10993: Álbum fotográfico do ex- fur mil José Carlos Lopes, amanuense do conselho administrativo da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) (8): Há festa no quartel: visita da Cilinha e do conjunto musical das Forças Armadas, em abril ou maio de 1969


(...) "Na 4ª e última comissão (Mar72 a Jul74), fui oficial de operações do BCAÇ 3884, responsável pelo sector de Bafatá, e a partir de Nov73 já major, acumulei com o Comando de Batalhão.

Em data que não consigo precisar (final de 73 princípio de 74) [, fins de fevereiro e primeira quinzena março de 1974] a Cilinha visitou Bafatá e algumas unidades do sector, tendo pernoitado uma noite na cidade.

Após o jantar, foi convidada para uma sessão de fados em casa do Capitão Médico, a qual se prolongou noite fora, num agradável e moralizante serão, com muitos oficiais e sargentos da guarnição.

Todo o “mundo” militar, sabia das qualidades de “fadista” da Presidente do MNF.

No dia seguinte, a nossa visitante, seguiu viagem para NOVA LAMEGO, com escolta do meu Batalhão, sendo apresentada ao Comando de Agrupamento.

Soubemos dois dias depois, que a coluna militar que a escoltava em visita à guarnição de Canquelifá (se a minha memória não me falha), fora emboscada pelo PAIGC.

Em resultado desse contacto, a “Cilinha", como enfermeira (que era) da Cruz Vermelha, procurou ajudar um dos nossos feridos, o qual terá falecido nos seus braços. (...)


(...) Comentário:

C. Martins: Relativamente ao post sobre a D. Cilinha e contrariando-o um pouco, tenho quase a certeza de que ela pernoitou em Gadamael. De resto, se bem me lembro, ia acompanhada de uma outra senhora de que não me lembro o nome. Já pela noite dentro, encontrando-nos nós no Bar da messe de oficiais, entrou um soldado completamente "pirado" com uma granada descavilhada na mão e a gritar que "f...a aquela m...a toda". A D. Cilinha, aparentando muita serenidade, abeirou-se dele e lá conseguiu acalmá-lo. Também me lembro de termos sido flagelados enquanto ela lá estava e que foi a única pessoa que permaneceu no seu lugar, tendo todos nós corrido para os abrigos. Após o ataque, o capitão Patrocínio (com quem aprendi a fazer ski-aquático na bolanha), perguntou-lhe porque é que ela não se tinha ido abrigar, tendo-lhe ela respondido que não valia a pena porque "só se morre uma vez".

Abraço. (Carlos Milheirão) CCAÇ 4152,  13 de junho de 2013 às 16:18 (...)

(*****) Último poste da série > 10 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21437: Fotos à procura de... uma legenda (127): Levantamento de um campo de minas A/P: chão felupe, setembro de 1974, uma notável sequência fotográfica do António Inverno (ex-alf mil Op Esp / Ranger, 1º e 2ª CART / BART 6522 e Pel Caç Nat 60, São Domingos, 1972/74)

Guiné 61/74 - P21441: Blogues da nossa blogosfera (143): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (54): Palavras e poesia


Do Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.


POEMA DE OUTONO

ADÃO CRUZ

© ADÃO CRUZ

Ainda caiem a meus pés
bolinhas de sol e pérolas de chuva
do alto da varanda que eu já fui
e fazem brilhar humildemente
a ilusão das cores e a frouxa luz
que há na sombra dos dias.
O poema mais lindo da minha vida
ainda não nasceu.
Sonhei criá-lo hoje contigo
neste princípio de Outono
semente e fruto de teus jovens abraços.
Mas tu caminhavas na outra margem
de rosto escondido atrás da máscara
fugindo do amor banal
olhos baços de chorar sem lágrimas
a alma tão resignada de cruéis memórias
que o beijo ardente se perdeu no rio.
O meu rio
outrora vivo e turbulento
hoje parado e vencido nos braços do estuário
onde me dizem que ainda há versos
voando perdidos e dispersos
como gaivotas bailando.
Mas o mar ali tão perto tudo engole
nas furiosas ondas do seu ancestral poder
devorando qualquer poema antes de nascer.
Que ao menos a réstia de luz do fim da tarde
mesmo sem bolinhas de sol e pérolas de chuva
me deixe pintar a memória da emoção
na tela sofrida e nua do teu corpo
deitado sobre a luminosa doçura da ilusão.

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Nota do editor

Último poste da série de 4 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21416: Blogues da nossa blogosfera (142): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (53): Palavras e poesia

Guiné 61/74 - P21440: Blogpoesia (700): "Santuário de São Bento da Porta Aberta", "A força da inspiração" e "Ser o primeiro", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


Santuário de São Bento da Porta Aberta

Terras verdes do alto Minho
Onde o céu azul parece mar.
Ali nasceu a devoção ao santo que faz milagres
Aos aflitos que lhe vêm bater à porta.
Sem discriminações.
Pobres e ricos.
Só é preciso ter a fé.
Procissões de gente sobem até lá constantemente.
Com a esperança na sua alma de uma graça lhes valer.
Aquele Santo que povoou o ocidente de mosteiros.
Ensinou as gentes a lavrar as terras.
Atravessou o mar e foi ao Brasil
Onde é cultuado como em Portugal.
Bendito sejas ó grande santo benfeitor
Como Bento é vosso nome…


Berlim, 9 de Outubro de 2020
16h28m
Jlmg


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A força da inspiração

O rosto se transfigura quando a inspiração lhe banha a alma na execução duma obra bela.
Ondas indefinidas perpassam todo o corpo.
Ficam em brasa as chamas de beleza.
Quase em delírio orgâsmico, os dedos do pianista e do poeta e qualquer artista, incandescem sobre as teclas.
Se evolam as sensações e o ar fica deslumbrante de emoção ao rubro.
Só a alegria do parto dum recém-nascido se lhe assemelha.
Candente manifestação divina é a força da inspiração humana…


Berlim, 9 de Outubro de 2020
18h22m
Jlmg


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Ser o primeiro

Nunca quis ser o primeiro em nada.
Aquele despique das boas notas entre a rapaziada da turma.
Durante algum tempo, fiz parte dos quatro melhores do ano.
Depois, comecei a baixar.
A matéria das cadeiras não me entusiasmava.
Matemática e ciências não me seduziam.
Por fim, estava entre os razoáveis.
A maioria.
Na faculdade, suei as estoupinhas para passar em cada cadeira.
Nalgumas, chumbei.
Só mais tarde, ganhei consciência de que o saber consiste no que fica dentro de nós. E nos alimenta a vida.
Não é a quantidade. Sim, a qualidade, é que conta.
O despique é natural na juventude.
Saber pensar por si é a meta…


Bar dos Motocas, arredores de Berlim,
15h11m
8 de Outubro de 2020
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 4 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21415: Blogpoesia (699): "O tagarela", "Fidelidade" e "O mistério do talento", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P21439: Parabéns a você (1879): Benito Neves, ex-Fur Mil Cav da CCAV 1484 (Guiné, 1965/67), Eduardo Campos, ex-1.º Cabo TRMS da CCAÇ 4540 (Guiné, 1972/74) e Patrício Ribeiro, ex-Fuzileiro Naval (Angola, 1969/72)


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Nota do editor

Último poste da série de 10 de Outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21436: Parabéns a você (1878): Manuel Resende, ex-Alf Mil Art da CCAÇ 2585 (Guiné, 1969/71)

sábado, 10 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21438: Os nossos seres, saberes e lazeres (415): No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (10) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Abril de 2020:

Queridos amigos,
Vir a Viana e não visitar Santa Luzia é como ir a Roma e não ver o Papa. Os comentários sobre o templo gigantesco que o arquiteto Ventura Terra traçou naquele monte sacro que permite uma das mais deslumbrantes panorâmicas que a Natureza permite, nem sempre são lisonjeiros, e aqui se cita José Hermano Saraiva que acha que lhe falta alma. Daqui a um século falamos. Também se disse cobras e lagartos do neomanuelino e do neogótico e veja-se como o Palácio da Pena e a Quinta da Regaleira se transformaram em poderosíssimas atrações turísticas. O tempo urge, toma-se novamente o funicular, depois da lavagem de alma que aquela vista purificada propiciou, e desce-se, sem perda de tempo, para desfrutar o património da Misericórdia de Viana do Castelo, não há que enganar, a igreja, a sua riqueza azulejar, a decoração do teto, a aparato das talhas, as pinturas, o esplendor do órgão, é uma unidade que dá pelo termo da magnificência do Barroco, é incomparável, a sua visita é obrigatória. E depois aproveita-se o remanescente da luz do dia para ir à Viana moderna, a última etapa neste lugar onde a Ribeira Lima entra no Atlântico.

Um abraço do
Mário


No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (10)

Mário Beja Santos

José Hermano Saraiva, no primeiro volume de O Tempo e a Alma, Círculo de Leitores, 1986, depois de se ter debruçado sobre os monumentos notáveis de Viana e antes de anotar o que era a Viana moderna, fala do Monte de Santa Luzia, dizendo o seguinte: “Ali, o mais notável é o miradouro, vista emocionante. Foi a vista que atraiu o santuário, o hotel, o elevador. O tema é inevitável perante estes monumentos modernos: gosta, não gosta, e a negativa é a resposta mais fácil. O projeto do santuário é do arquitecto Ventura Terra, e as obras foram realizadas entre 1890 e 1930, embora depois disso se tivesse ainda trabalhado muito. Anteriormente, tudo o que havia era uma capela, onde se chegava por uma tortuosa vereda entre mato cerrado. O arquitecto planeou conforme o gosto do seu tempo: uma igreja que combina elementos tradicionais numa mescla revivalista a que se chamava estilo românico-bizantino. As dimensões são impressionantes para a parcimónia portuguesa; as cúpulas e as rosáceas aspiram deliberadamente à escala monumental, mas o conjunto parece mais um grande jazigo do que uma alegre casa de Deus. Algo falta. Os arquitectos medievais dispunham de um ingrediente essencial para conferir autenticidade e emoção aos edifícios que planeavam: um forte sentimento religioso. A régua de cálculo não tem esse valor, e não sei se o computador o sabe encontrar. Em todo o caso, a importância relativa da basílica revela que Viana não parou e que não se envergonha da contemporaneidade”. É um texto um tanto agridoce, uma no cravo, outra na ferradura. Viajar no funicular é entusiasmante, com aquele cruzamento com a composição que desce, é também assim com os ascensores de Lisboa. Trepam-se os degraus e aguarda-nos um dos cenários mais desafogados com que a Natureza nos privilegiou.
Santa Luzia e o funicular fazem parte da proposta das visitas obrigatórias em Viana. O monumento dá pelo nome de Templo do Sagrado Coração de Jesus. Quem subir ao zimbório tem à sua disposição uma paisagem incomparável. No seu exterior podem ver-se várias peças graníticas da primitiva capela, pedras de um arco de 1694; capitéis e instrumentos usados na construção. Ninguém deve fugir à viagem pelo funicular, mesmo que se possa ir de carro facilmente. É a mais longa viagem de todos os funiculares do país, com os seus 650 metros. Quem já teve oportunidade de em Paris visitar o Sacré-Coeur, de onde aliás se tem uma vista soberba sobre a cidade, encontra similitude com este gigantismo, e até nas afinidades decorativas. Dizer-lhe que falta alma, como acima observou José Hermano Saraiva, é um tanto excessivo, é uma outra abordagem da espiritualidade, basta olhar atentamente para a pintura da cúpula e lembrar o que Almada Negreiros, numa dimensão mais modernista, deixou na Igreja de Nossa Senhora de Fátima em Lisboa.
De seguida, apresento uma sucessão de imagens captadas neste miradouro de Viana e no seu monte sagrado. Não há nada que se compare em panoramas de mar, de campo e cidade, de rio e de montanhas. Carlos Ferreira de Almeida, no seu livro sobre o Alto Minho, escreve: “Lá muito em baixo vêem-se os telhados cúbicos da cidade, as docas e o mar azul, contornando de espuma a praia longa. Lá no fundo há um rio adormecido entre veigas e ínsuas, e, ao lado, o anfiteatro das montanhas com os seus aldeamentos. Daqui podemos mirar grande parte das freguesias que o concelho de Viana tem”. Tempo houvesse, e metia-me ao caminho, para vasculhar estes arrabaldes de Viana: visitar Areosa e Carreço, e depois Afife, gostava de ver o antigo casino remodelado, e nunca fiquei indiferente aos aspetos agrestes da Serra d’Arga. Duvido ter condições quando se fizer o trajeto de Viana para Ponte de Lima poder parar nas freguesias, já não haverá com certeza luz do dia, quantas vezes, a ler a Carlos Miguel de Abreu de Lima de Araújo o Aurora do Lima se falava em Cardielos, Lanheses, São Romão de Neiva, que deu aso a que ele me explicasse o trabalho dos sargaceiros, do mesmo modo como ele me contava o que há de empolgante no Auto da Floripes. O que não se vê hoje, ficará para a próxima.
É a meditar nos trajes à vianesa, no ouro disposto nas ourivesarias, na magnificências das perspetivas que Santa Luzia oferece que regresso à cidade, saio do funicular e embrenho-me nas ruas até à Praça da República, vou visitar a Misericórdia e o seu conceituado anexo, uma igreja que é monumento nacional, uma Misericórdia, cuja confraria apareceu em 1520 e que nos legou um património fabuloso e que contrasta, pela exuberância, com a severidade da fachada tardo-medieval dos velhos Paços do Concelho.

(continua)
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Notas do editor

Vd poste de 3 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21412: Os nossos seres, saberes e lazeres (413): No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (9) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 6 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21424: Os nossos seres, saberes e lazeres (414): Adão Cruz expõe as suas pinturas na Taberna do Doutor - Rua da Firmeza, Porto

Guiné 61/74 - P21437: Fotos à procura de... uma legenda (133): Levantamento de um campo de minas A/P: chão felupe, setembro de 1974, uma notável sequência fotográfica do António Inverno (ex-alf mil Op Esp / Ranger, 1º e 2ª CART / BART 6522 e Pel Caç Nat 60, São Domingos, 1972/74)



Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4



Foto nº 5


Foto nº 6



Foto nº 7

Guiné > Região do Cacheu > Chão felupe > 1974 > BART 6522/72 (1972/74)


Fotos (e legendas):  © António Inverno (2010). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. A propósito do Poste P21435 (*), achámos oportuno voltar a reproduzir uma notável sequência fotográfica de uma "desminagem", feita pela nosso camarada António Inverno (ex-alf mil Op Esp/Ranger, 1.ª e 2.ª CART / BART 6522 e Pel Caç Nat 60 (S. Domingos, 1972/74). As imagens foram hoje reeditadas e melhoradas. Não sabemos quem foi o fotógrafo, que também correu riscos: talvez tenha sido o fur mil Ferreira, que integrava o pequeno grupo de sapadores...

O poste P7480 (**)  tem já quase dez anos, e na altura não se pode dizer que tenha passado despercebido, uma vez que tem até agora cerca de 370 visualizações, mas sem qualquer comentário. Esperamos que desta vez os nossos leitores sejam mais generosos...


(...) A seguir anexo uma sequência de fotos de uma desminagem, efectuada por mim num campo de minas anti-pessoal, que eu havia montado numa zona descampada e que servia de protecção estratégica contra eventuais infiltrações do IN, por aquela parcela de terreno entre S. Domingos e Susana.

A instalação do dispositivo foi concretizada seguindo os habituais ensinamentos assimilados na instrução prática e teórica do CIOE [, Centro de Instrução de Operações Especiais].  partindo de um ponto de referência seguro e obrigatoriamente de fácil identificação no terreno, para melhor permitir, em dias futuros, também de modo perfeitamente seguro, o posterior efeito de levantamento.

A selecção de um ponto de referência único e inequívoco, e o desenho de um preciso e claro croqui, foi sempre a minha principal preocupação, pois podia dar-se o facto de não ser eu, quando necessário fazê-lo, a efectuar a sua desinstalação ou levantamento, com queiram chamar-lhe.

A instalação do campo em apreço, decorreu normalmente, mina a mina, calculando e preservando sempre o perigoso risco que representava o cumprimento rigoroso de uma missão destas.

Este sistema havia sido montado aquando da nossa chegada a Susana, em fins de 1972, e teve que ser levantado antes da nossa retirada em Setembro de 1974.

Penso que não era preciso dizer aqui que,  se a montagem foi, de algum modo, facilmente implantado no terreno, já não posso dizer o mesmo quanto ao acto de levantamento.

Quem sabe e/ou viu os efeitos físicos e psíquicos,  num ser humano, do rebentamento de uma mina anti-pessoal,  sabe do que eu falo.

Assim, lá parti para o terreno ciente que não podia errar, pois o lema que aprendera em Lamego com o monitor de Minas e Armadilhas, dizia que, com os explosivos deste género, só se podiam falhar 3 vezes: a primeira, a única e a última!

Tomadas todas as precauções e apesar da adrenalina e dos suores frios que nos causavam estes “trabalhinhos”, tudo correu bem felizmente.

Na última foto [, nº 7] podem ver um buraco com as ossadas de um pequeno animal, que morrera ao fazer detonar umas das minas.

Legendagem das fotos [, reproduzidas acima]:

"Melhor que uma excelente picagem, e tínhamos homens altamente especializados nessa matéria, era ter um detector de minas (metais)" [Foto nº 1]

"Rapidamente começamos a decobrir (eu, o fur Mil Ferreira, o sold "Castiço" e o Mulata) a primeira das piores e mais traiçoeiras assassinas da guerra" [, Foto nº 2].

"Dá-me aí uma faca se faz favor" [Foto nº 3]

"Aqui está a gaja" [Foto nº 4]

"Com cuidado... muito cuidado! ]Foto nº 5]

"Aqui está ela fora da terra, vou retirar-lhe a espoleta e pronto, já não fará mal a ninguém" [Foto nº 6]

"Esta não preciso levantá-la. Só um buraco e uns ossitos, como último sinal de que aqui acontecera uma morte." [Foto nº 7]

Um abraço, António Inverno Alf Mil Op Esp/Ramger, BART 6522/72 e Pel Caç Nat 60 (1972/74)



O António Inverno,   com a sua "inseparável AK 47,  ao fim do dia, na magnífica e sempre bela Ponta Varela".



Emblema do Batalhão de Artilharia nº 6522/72. Cortesia de Carlos Coutinho

 
Sobre o BART 6522/72 (1972 - 1974), ver a ficha de unidade.

Resumindo:

(i) mobilizado pelo  RAL 5,  Penafiel;

(ii) divisa: " Por uma Guiné Melhor":

(iii) comandante: ten cor art João Corte-Real de Araújo Pereira;

(iv) embarcou em Lisboa em 6 de dezembro de 1972, tendo desembarcado em Bissau a 13 desse mesmo mês; a  3ª Companhia embarcou por fases, via aérea, entre 7 e 15 de dezembro de 1972;

(v) receber a IAO . Instrução de Aperfeiçoamento Operacional, em Bolama; 

(v) guarneceu os seguintes aquartelamentos e destacamentos:  Ingoré, São Domingos, Susana, Sedengal, Varela, Antotinha, Apilho, Gendem, Barro, Bigene, e Ganturé;

(vi) a 1ª companhia esteve em São Domingos; a 2ª em Susana e Varela; a 3ª em Ingoré e Sedengal; a CCS, em Ingoré e Antonina;

(viii) coube-lhes já na retração, a desativação e entrega de diversos aquartelamentos e destacamentos ao PAIGC;

(ix) regressaram para Bissau, de onde embarcaram a 30 de agosto e 3 de setembro de 1974

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Guiné 61/74 - P21436: Parabéns a você (1878): Manuel Resende, ex-Alf Mil Art da CCAÇ 2585 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21432: Parabéns a você (1877): José Carmino Azevedo, ex-Soldado CAR do BCAV 2868 (Guiné, 1969/71) e Manuel Barros Castro, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCAÇ 414 (Guiné e Cabo Verde, 1963/65)