quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24684: Manuscrito(s) (Luís Graça) (234): O nosso vizinho Eça de Queiroz (1845-1900), cujos restos mortais repousam em campa rasa no cemitério de Santa Cruz do Douro, Baião (deveriam ser trasladados para o Panteão Nacional no próximo dia 27, por decisão unânime da Assembleia da República)







Baião > Santa Cruz do Douro > Cemitério local > 20 de setembro de 2023  Aqui repousam, desde 1989 os restos mortais do escritor José Maria Éça de Queiroz (Póvoa do Varzim, 1845 - Paris, 1900).  Estavam originalmente no cemitério do Alto de São João, em Lisboa. Serão transladados para o Panteão Nacional, no próximo dia 27 de setembro por decisão da Assembelia da República. A decisão tem o apoio da Fundação Eça de Queiroz e da maior parte dos herdeiros. (Alguns porém terão aparecido a contestar, à última hora, a decisáo parlamentar)

Na lápide, em pedra de granito, pode ler-se em letras já muito descoloridas e praticamente ilegíveis: "Aqui descansa entre os seus, José Maria Eça de Queiroz (1845-1900)".








Baião > Santa Cruz do Douro > Quinta de Tormes > Fundação Eça de Queiroz  > 20 de setembro de 2023 > Eu, a Alice. e os nossos amigos Laura Fonseca e Jaima Silva fizemos uma visita à Quinta de Tormes e sede da Fundação Eça de Queiroz. Uma visita virtual pode também ser feita aqui, comodamente, sem sair do sofá... Ao fim de muitos anos, fizemos pela primeira vez uma visita ao cemitério de Santa Cruz do Douro onde sabíamos que repousavam, desde 1989,  os restos mortais do escritor, em jazigo de família. (*)

O acesso à Quinta de Tormes faz-se pela Estrada Nacional nº 108.

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Já aqui viemos, a Alice e eu, há muitos anos, ainda muito antes da criação da Fundação Eça de Queiroz (em 1997). A Alice era amiga da família,  e em especial da dona Maria da Graça Salema de Castro (1919-2015) (**).  (Ela e o marido, o neto de Eça de Queiroz, Manuel Benedito de Castro, foram pioneiros na construção de uma das primeiras vinhas de cruzeta na regão dos Vinhos Verdes; além disso,  a Maria da Graça Salema de Castro foi a entusiástica criadora da "Obra do Bem-Estar Rural de Baião", juntamente com o marido, o neto do Eça,  o "Dom Manuel", como lhe chamavam carinhosamente as gentes desta terra tão esquerida durante décadas. )

Somos vizinhos, da Quinta de Candoz à Quinta de Tormes, são uns escassos quilómetros. Gostamos de cá trazer os nossos amigos. Além do espaço museológico queirosiano, a casa que remonta ao séc. XVI, a quinta, etc., há um restaurante que também se recomenda. servindo alguns dos famosos pratos queirosianos. 

Vale a pena fazer uma visita guiada, à Quinta de Tormes, bem como conhecer (sem canadianas) o(s) caminho(s) do Jacinto:

(...) Proposta de percurso pedestre que de acordo com o relato do romance “A Cidade e as Serras”, tem início na Estação de Tormes (Aregos) prolongando-se serra acima por caminhos de natureza até Tormes ou Quinta de Vila Nova. A Estação é um dos elementos fundamentais do itinerário, pois é neste cenário que a expectativa urbana se confunde com a rusticidade do lugar, onde a curiosidade sobranceira de Jacinto se verga perante a graciosidade acolhedora da pequena infra-estrutura instalada entre a serra omnipresente e a, agora, calmaria das águas do rio. (...)

Em suma, meus amigos, há mais mundo, para além do Algarve, Lisboa, Porto e Coimbra... E Baião é uma concelho, fabuloso, a descobrir.
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 20 de setembro de  2023 > Guiné 61/74 - P24676: Manuscrito(s) (Luís Graça) (233): Quinta de Candoz, as primeiras cores outonais...

(**) Maria da Graça Salema de Castro (1919-2015):

(...) Nascida em Lisboa em 1919, frequentou o Curso de Assistente Social e a Alliance Française, casando-se aos 21 anos. Depois de uma estada de cinco anos em Luanda, Angola, o casal fixou definitivamente residência em Baião, na casa materna de Manuel de Castro, a Quinta de Vila Nova, na freguesia de Santa Cruz do Douro.

Maria da Graça Salema de Castro participou na “Obra do Bem-Estar Rural”, um movimento para o desenvolvimento local do concelho que criou uma escola, abriu acessos rurais no concelho, realizou colónias de férias para crianças, fez acompanhamento social e criou o primeiro centro de saúde. Já depois da morte do marido, e dando seguimento a um projeto de ambos, criou, em 1990, a Fundação Eça de Queiroz, instituição de utilidade pública sem fins lucrativos, cuja atividade é a divulgação e promoção nacional e internacional da obra do escritor, um dos maiores nomes da literatura portuguesa. A ação da Fundação, que completa 25 anos a 9 de setembro, tem-se desenvolvido nas áreas cultural, educativa, artística e de promoção do desenvolvimento social. (...)


Fonte: Centro Nacional de Cultura > 7 de setembro de 2015 >MARIA DA GRAÇA SALEMA DE CASTRO (1919-2015)

Guiné 61/74 - P24683: Recortes de Imprensa (135): Jornal "Voz da Guiné" (5): Reprodução das 5.ª e 6.ª páginas do número 353, de 7 de Setembro de 1974 (Abílio Magro)

1. Continuação da publicação da transcrição das páginas do jornal Voz da Guiné de 7 de Setembro de 1974, enviada pelo nosso camarada Abílio Magro (ex-Fur Mil Amanuense (CSJD/QG/CTIG, 1973/74), em 16 de Setembro de 2023:

Bom tarde camarada do capim, dos Megabytes e das artroses!
Como me constou que andas com falta de trabalho, aqui te envio umas coisinhas para te entreteres nas noites de insónia.
Trata-se do resto das páginas do “Voz da Guiné” de 7 de Setembro de 1974 (6 a 12).
Com o decorrer das transcrições fui-me apercebendo que o “Voz da Guiné” era bem capaz de ser o “órgão oficial do PCP da Guiné” tal é a quantidade de textos virados à esquerda.
Vários não transcrevi por nada terem a ver com a Guiné portuguesa e outros que transcrevi, se achares que o pessoal não vai gostar, não publiques para evitar discussões políticas.
Se alguém estiver interessado nalgum texto que não transcrevi (indico o assunto na página), terei todo o gosto em o transcrever, com calma descontracção e estupidez natural.
Entretanto, como não tenho nada para fazer (não gosto de lavar a louça), vou-me dedicar ao jornal do dia 10 que esse sim, tem mais interesse por ser a edição especial do dia do reconhecimento, por Portugal, da independência da Guiné-Bissau.

Bom entretenimento
Abraço
Abílio Magro


(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE SETEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24675: Recortes de Imprensa (134): Jornal "Voz da Guiné" (4): Reprodução da 4.ª página do número 353, de 7 de Setembro de 1974 (Abílio Magro)

Guiné 61/74 - P24682: Convidam-se os Antigos Combatentes a assinarem esta Petição a enviar ao Presidente da Assembleia da República com as reivindicações justas e prementes que se enumeram. Iniciativa do nosso camarada José Maria Monteiro, ex-Marinheiro Radiotelegrafista

1. Mensagem do nosso camarada José Maria Monteiro, ex-Marinheiro Radiotelegrafista (LFP Bellatrix, 1969/71 e Comando Naval da Guiné, 1971/73), com data de 18 de Setembro de 2023:

Meu distinto camarada Carlos Vinhal
Junto cópia da PETIÇÃO, que pretendo enviar ao senhor presidente da Assembleia da República, pelo que solicito a sua publicidade no BLOGUE, se entenderes.

Solicito ainda que convides todos os camaradas (ANTIGOS COMBATENTES), para querendo, colaborar na assinatura da aludida PETIÇÃO, indicar o nome e o número do cartão de cidadão/B.I., elementos de identificação que deverão ser remetidos para o meu email josemaria51@outlook.pt, sendo certo que os A.C. agradecerão a tua colaboração.

Grande abraço
José Maria Monteiro


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Excelentíssimo Senhor
Presidente da Assembleia da República,
Prof. Dr. Augusto Santos Silva

“...PETIÇÃO…”


Nós, Antigos Combatentes da passada guerra colonial, estamos pelo presente a pedir a Vossa Excelência para que, na qualidade de Presidente da Assembleia da República e com as competências que lhe estão atribuídas, possa sensibilizar e fazer com que os partidos com assento parlamentar se atentem e deliberem sobre a petição que agora lhe dirigimos em exclusivo, pois não queremos de forma nenhuma partidarizar a nossa pretensão, que obviamente haverá Antigos Combatentes, partidários de todas as sensibilidades políticas.

Brevemente, o Orçamento Geral do Estado para 2024 será debatido na Assembleia da República e a oportunidade, de se atender a um mínimo de consideração e ajuda aos Antigos Combatentes, é agora.

A nossa justa pretensão é um complemento de outras iniciativas de Antigos Combatentes que se têm manifestado por várias formas, que de entre outras, fazemos notar a greve de fome do nosso camarada Fernando Rosa e o Congresso Nacional de Antigos Combatentes.

Destarte, o grupo de Antigos Combatentes que subscreve esta petição não tem dúvidas em ser intérprete, dos desejos e necessidades da maioria; combatentes sexagenários, septuagenários e octogenários que cumprindo um dever patriótico combateram nas ex colónias portuguesas, pelo que vem, com o devido respeito por melhor entendimento, apresentar as reivindicações a seguir indicadas.

Esta reivindicação que pedimos, exigimos e merecemos é inteiramente justificada por inúmeras razões.

Nós, Antigos Combatentes fomos submetidos a condições pouco conhecidas pela maioria do povo português e por isso realçamos as principais:
- O perigo dos combates e emboscadas
- Os mortos e os feridos que carregamos
- Os traumas físicos e psicológicos dos próprios e das famílias
- A fome e a sede que por lá passamos
- A água inquinada
- A insalubridade dos climas
- A alimentação de má qualidade e as abomináveis rações de combate
- Os locais inóspitos para dormir quantas vezes dentro de abrigos
improvisados e lamacentos
- As pragas dos mosquitos
- A falta de higiene
- A malária que quase todos sofreram
- O débil apoio médico e de enfermagem
- A ansiedade e o medo, feitos heroísmos - O exagero no consumo de tabaco e de bebidas alcoólicas
- As perdas a nível profissional e remuneratório e muito, mas muito mais,
condições que contribuíram para a actual débil saúde dos antigos
combatentes, ainda vivos.

O que pretendemos?
Pretendemos, uma pensão de guerra mensal, vitalícia para todos os Combatentes na Guerra Colonial no valor mensal de 100€, cujo valor é para ajuda nas crescentes despesas de saúde, inerentes à idade dos Antigos Combatentes, cuja maioria tem pensões baixas.

É um subsídio razoável e mais que justo por uma razão comparativa com o reconhecimento nacional relativamente a presidentes da República, ministros, deputados, autarcas, juízes, embaixadores, oficiais superiores e muitas outras personalidades a que se achou por bem recompensar, os quais por certo o merecem e daí se releva também o nosso merecimento senão maior, pelo menos igual, atendendo às condições de guerra onde estivemos ao serviço da Pátria.

Numa consideração à parte e que é geral aos Antigos Combatentes, e nos parece pertinente, achamos por bem que Portugal esteja em diversas acções de paz, ajude a Ucrânia e os seus combatentes com os inerentes encargos e daí toda a legitimidade, legal, lógica, ética e moral entre outras, para sermos também nós, atendidos nas nossas necessidades.

Apelamos a todas as entidades para nos darem a atenção que merecemos e da qual somos credores da longa divida de gratidão da Pátria para com os seus heróis.

Assim e por isto solicitamos a Vossa Excelência, que dentro das atribuições e competências de que é detentor se empenhe em promover, o mais depressa possível esta justa reivindicação, que é tardia, com a agravante de o tempo de vida de todos nós se estar a esgotar devido à inevitável lei da morte.

Contamos com o seu apoio, a favor de todos os Antigos Combatentes que lutaram pela bandeira nacional.

Nós somos a voz dos Combatentes

Lisboa 18/09/2023

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Assinam esta petição:

Nome completo (………..) Identidade (Indicar o nº do Cartão de Cidadão ou B.I.)
Nome completo (………..) Identidade (Indicar o nº do Cartão de Cidadão ou B.I.)
Nome completo (………..) Identidade (Indicar o nº do Cartão de Cidadão ou B.I.)

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Nota do editor

Ver aqui: Exercício do Direito de Petição

Guiné 61/74 - P24681: Blogues da nossa blogosfera (183): "Portugal e o passado", de Fernando Magro (1936-2023): a "revolta da Maria da Fonte" (1846)


"Maria da Fonte", por Roque Gameiro (Quadros da História de Portugal, 1917). Imagem do domínio público, cortesia de Wikimedia Commons


1. O nosso camarada Fernando Valente (Magro), que acaba de falecer aos 87 anos (*), tinha um blogue, "Portugal e o Passsado", onde publicou, entre 2011 e 2014, duas dezenas de pequenos textos sobre alguns temas da História de Portugal, que lhe eram caros.

Outro dos seus blogues tinha por título "Histórias da vida real", publicado em 2016. Tem 21 postes ou postagens.

É nossa intenção ir repescar um ou outro texto, até como homenagem ao nosso camarada.  São blogues da nossa blogosfera (**). 

Já tive ocasião de lhe deixar um comentário, no poste que a nossa Tabanca Grande lhe dedicou ontem,  e que começa por ser dirigido ao Anílio Magro, o primeiro dos Magro a integrar o nosso blogue (*)

(...) Abílio, pela tua mão chegou-nos, à Tabanca Grande, o teu 'mano velho', o Fernando, e outro dos mais novos, o Álvaro. Nenhuma família portuguesa conseguiu meter 'três manos', e para mais 'Magro', na tertúlia dos bravos da Guiné... E que chegarnm a estar juntos no CTIG!... E mais: nenhuma família portuguesa, como a dos Magro, conseguiu esta proeza de ter seis (!) filhos ao serviço da Pátria, ao tempo da guerra do ultramar, colonial ou de África (como se quiser), entre 1961 e 1974.

É, pois, com grande tristeza que eu recebo, de ti, através do blogue, a notícia de que o 'mano velho' Fernando deixou a Terra da Alegria.

Não o cheguei a conhecer pessoalmente, mas li os seus escritos, os seus postes, um dos seus livros... Para ti, para os restantes manos, para a viúva, filhos e demais família vai a minha solidariedade na dor...

A morte é sempre uma perda irreparável. Resta-nos ao menos a consolação de que o Fernando ficará no 'panteão' dos amigos e camaradas da Guiné... Não aspiramos à eternidade como os deuses e os heróis (que para os gregos ascendiam ao estatuto de semideuses). Simplesmente procuramos que os nossos antigos camaradas, que connosco fizeram a guerra e a paz, não sejam esquecidos... Afinal, morrer é sobretudo ficar enterrado na vala comum do esquecimento. Queremos continuar a lembrar e a honrar a memória do Fernando! (...)


Os dois blogues acima referidos foram mantidos graças á ajuda (informática ) do seu neto Manuel Gonçalo Gomes de Almeida Pinho Valente, na altura estudante universitário, a quem dirigimos também os nossos votos  de pesar pela perda do seu querido avô.


2- Blogues da Nossa Blogosfera > 
Portugal e o passado, de Fernando Magro > sábado, 28 de junho de 2014  >A Revolta da Maria da Fonte (**)

Foi chamada assim a rebelião que eclodiu no Minho, em Abril de 1846, durante o governo de Costa Cabral, no tempo da Rainha D. Maria II.

Começou por ser uma pequena arruaça de mulheres que tinha por cabecilha Maria da Fonte, uma rapariga da aldeia de Fonte Arcada, pertencente ao concelho de Póvoa de Lanhoso, no Minho.

Esta arruaça teve como causa, ou pretexto, a não aceitação das leis de Costa Cabral que proibiam os enterros nas igrejas.

A primeira manifestação verificou-se em 19 de Março de 1846 quando um grupo de mulheres armadas de chuços e foices, na aldeia de Santo André de Frades, concelho de Póvoa de Lanhoso, obrigou o pároco a dar sepultura dentro da igreja ao corpo de uma mulher que ia a enterrar.

Os tumultos prosseguiram e no mês seguinte alastraram por todo o Minho e Trás-os-Montes, começando a tomar uma feição de luta de guerrilhas e de movimento miguelista perante a intervenção de uma força de infantaria vinda de Braga.

Costa Cabral pediu às câmaras poderes extraordinários para restabelecer a ordem. Esses poderes - suspensão de garantias, lei marcial - foram concedidos apesar da oposição de muitos deputados. Costa Cabral enviou então para o Norte, como comissário do governo, seu irmão José, ao tempo ministro da Justiça, para sufocar a rebelião.

As medidas que este tomou mais excitaram os ânimos e acenderam a revolta. Em Vila Real surge a primeira Junta Provincial revoltosa, presidida pelo morgado Mateus, logo seguida de outras espalhadas por todo Norte, pelas Beiras e até pela Estremadura. Também em Santarém se organiza uma Junta, presidida por Manuel Passos, ao mesmo tempo que o visconde de Vinhais que comandava a divisão miliciana de Trás-os-Montes,  se coloca ao lado dos revoltosos.

José Costa Cabral vê-se obrigado a regressar a Lisboa. Perante tão grave alastramento do movimento revolucionário, o Duque da Terceira, presidente do Ministério, convocou uma reunião do gabinete a que presidiu a própria Rainha, aí declarando que não tinha força suficiente para debelar a revolta e propondo, como único meio de lhe pôr cobro, a imediata demissão do Ministério. Perante a gravidade da situação, apesar da protecção que sempre dispensara a Costa Cabral, a Rainha concordou.

O movimento saíra pois vencedor e os irmãos Cabral, vencidos, emigraram para Espanha.

Nesse tempo era compositor residente no Teatro Nacional de S. Carlos o maestro Ângelo Frondoni. Ocupava esse lugar por concurso público,  tendo sido preferido entre outros concorrentes, dos quais constava um nome que foi mais tarde reconhecido mundialmente: Giuseppe Verdi.

Ângelo Frondoni, entusiasmado com a revolta das mulheres, encabeçada pela Maria da Fonte Arcada, compôs a música vibrante do Hino da Maria da Fonte, também conhecido por Hino do Minho, hino que ultrapassou as barreiras do tempo por ser considerada uma obra- prima entre as composições do seu género, sendo ainda nos tempos actuais muitas vezes executada por orquestras sinfónicas.

Publicada por Fernando Magro à(s) 15:12

(Seleção, revisão e fixação de texto, para efeitos de publicação deste poste no nosso blogue: LG)
 
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 20 de setembro de 2023 >  Guiné 61/74 - P24678: In Memoriam (486): Fernando de Pinho Valente Magro (10/05/1936 - 18/09/2023), ex-Cap Mil Art do BENG 447 (Bissau, 1970/72) (Abílio Magro)

(**) Últmo poste da série > 10 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24383: Blogues da nossa blogosfera (182): Uma "mulher de armas", a holandesa Noraly (nome de guerra, "Itchy Boots") que, com a sua especial Honda CRF 300 L Rally, acaba de atravessar a Guiné-Bissau

Guiné 61/74 - P24680: Parabéns a você (2207): José Macedo, ex-2.º Tenente Fuzileiro Especial do DFE 21 (Bissau, 1973/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 19 de Setembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24670: Parabéns a você (2206): José Emídio Marques, ex-1.º Cabo Aux. Enfermeiro da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4616/73 (Jumbembém, Farim e Canjambari, 1974)

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24679: Historiografia da presença portuguesa em África (386): Grandes surpresas na publicação "As Colónias Portuguesas", Revista Ilustrada (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Fevereiro de 2023:

Queridos amigos,
O que surpreende nesta publicação, para além de gravuras que julgo completamente inéditas, como é o caso da localização dos estabelecimentos comerciais no Rio Grande antes do seu desaparecimento em consequência da guerra do Forreá, é a franqueza dos comentários, o alerta permanente para a debilidade do nosso posicionamento político-militar, são narrativas em que não se ilude minimamente o estado da vida colonial, deplora-se o desmazelo com que foi tratada a intervenção tardia no Forreá, a má qualidade das tropas, o armamento anacrónico, alerta-se para os métodos capciosos da presença francesa no rio Nuno e fundamentalmente no Casamansa, haverá acusações severas a administrações negligentes nos presídios, como veremos no ano de 1885 (no presente texto faz-se uma súmula das referências aos anos de 1883 e 1884). Estranha-se que a historiografia não tenha prestado a devida atenção ao que se escreve nesta importante publicação.

Um abraço do
Mário



Grandes surpresas na publicação As Colónias Portuguesas, Revista Ilustrada (1)

Mário Beja Santos

A publicação "As Colónias Portuguesas", revista ilustrada, publicou-se entre 1883 e 1891, era inequivocamente dirigida à classe política, não descurava a atração de investimentos, procurava dar informação aos funcionários da administração colonial e a potenciais estudiosos do Terceiro Império. Comecei, na Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa, por percorrer o volume referente a 1883 e a 1884. E fui surpreendido por gravuras para mim totalmente inéditas, mesmo que conhecesse o conteúdo. Por exemplo, desconhecia por inteiro a marcação das feitorias portuguesas no Rio Grande de Buba, na sua época áurea, foi um período flamejante que acabou de forma caótica por causa da guerra do Forreá, mesmo quando as autoridades portuguesas conseguiram encontrar um régulo fiel que estabilizasse as relações entre Fulas e Biafadas, os estabelecimentos comerciais apagaram-se. A imagem deixou para a posteridade a localização desses empreendimentos que depois se reduziram à insignificância ou ao apagamento. Nada mau, para quem pretenda investigar a localização destes empreendimentos.

Os aspetos mais curiosos da revista ilustrada eram as pequenas notícias, seja da autoria da redação, seja de alegados correspondentes. Logo no n.º 1 se diz que o clima da Guiné é incompatível com o aturado serviço de europeus. “Aceite este princípio, qualquer organização militar terá que subordinar-se ao emprego do soldado preto como principal componente. Os quadros de oficiais, sargentos e cabos seriam europeus, porém na condição única em que o homem branco pode utilizar-se na Guiné, não servindo efetivamente mais de um ano. A permanência levada além deste período é a doença, a inutilidade.” E avança-se com mais observações sobre o modo de emprego da guarnição militar: ou pela ocupação permanente dos diversos estabelecimentos da Província, fracionando a força; ou a concentração dela na capital, quando o prestígio militar tivesse assegurado o respeito do gentio ou o seu receio, mediante alguns corretivos cujo efeito moral repercutido em todo o país o intimidasse. E avançam-se mais elementos sobre o que deve ser a formação da força armada: um efetivo de 570 homens, 4 capitães, a força disseminada por Geba, Farim, Bissau e Bijagós.

O autor inclina-se para a colonização da Ilha das Galinhas, usando a etnia Fula. Quem assina o artigo é Augusto de Barros que volta à carga no n.º 5 de maio de 1883 com o artigo intitulado "A Praça e o Porto de Buba no Rio Grande de Bolola". Vale a pena reproduzi-lo:
“A praça de Buba é o estabelecimento da Guiné, modernamente assinalado pelos sucessos militares a que a sua sustentação tem dado lugar. Acha-se este estabelecimento a 39 milhas de Bolama no terminal navegável do Rio Grande de Bolola. Este ponto apresenta todo o interesse de um moderno estabelecimento comercial e militar.
Nos primeiros anos de administração da recente Província, ocupou Buba incessantemente a melhor parte da atenção das autoridades, tanto pela importância que adquiriu como mercado de produtos do interior e importados como pela necessidade premente de resolver as relações duvidosas com os chefes gentílicos e a sua complicada política no Forreá (ou território de Fulas-Forros) cuja posse não estava definitivamente reconhecida aos atuais ocupantes. Os negociantes portugueses e estrangeiros estabelecidos em Buba e em outras dependências do Rio Grande, pagavam aos chefes gentílicos uma renda anual pelo direito de ali comerciarem. Cometeram-se abusos por parte dos senhorios, foi o caso da tolerância na posse de escravos. Daí o conjunto de episódios de ocupação militar.”


Elenca o rol de desavenças com o chefe de Bolola, relata como se fortificou Buba com o apoio da população Mandinga e não deixa de referir que diariamente afluía a Buba uma média de 20 a 30 escravos que imediatamente eram tornados livres, ganhara-se a guerra do Forreá, desistira-se do imposto (de nome daxa). Mas mantiveram-se incessantes as lutas entre Fulas-Futas e Fulas-Forros, com consequências sérias na economia. A cultura da mancarra, principal elemento de tráfico, não aguentou esta permanente instabilidade, os negócios paralisaram no Rio Grande e todos os comerciantes franceses retiraram-se.

As notícias sobre a Guiné sucedem-se na publicação, como se exemplifica. Alerta-se para o facto de os rios Nunez (hoje, rio Nuno) e Casamansa absorverem nos flancos a decrépita Guiné toda a atividade e todos os capitais que podiam operar em S. Domingos, no Geba e Rio Grande de Bolola. E, então, o autor faz o seu comentário amargo:
“Uma província que apresenta estes sintomas de derrocada financeira e tem já o orçamento num desequilíbrio de 89 contos de défice, exige que se lhe acuda com algumas medidas salvadoras. A par deste estado lastimoso da fazenda, está hoje a complicada questão política gentílica: a guerra por toda a parte, ameaçando os pontos ocupados onde o nosso domínio se refugia, o desprestígio da falta de dinheiro, o desprestígio da falta de homens dedicados, porque a dedicação em pura perda acaba por mandar tudo ao diabo; a falta de saúde sem compensação, a falta de soldados, a falta de tudo, tem feito da província da Guiné uma tristíssima exibição de inépcia administrativa.”

Quem assina o artigo é Augusto de Barros que volta à liça no n.º 8 (1883) referindo o estabelecimento português no Rio Grande de Bolola, dizendo que se trata de uma paliçada de 900 metros, aproximadamente construída ao modo gentílico, é isto a fortificação de Buba. E volta a lamentar-se: “Que compensações pode oferecer a qualquer aliado gentílico um governador sem dinheiro, com pouco força armada, sem influência séria sobre os naturais, para chamar ao seu campo aliado por quem se bate?”

Passamos agora para o n.º 6 da revista de junho de 1884. Está em cima da mesa o caso de Ziguinchor, dá-se notícia das palavras do deputado Soza Machado (um dos deputados de Cabo Verde) a propósito dos acontecimentos em torno do presídio de Ziguinchor: “Não há soldados na Guiné e os poucos que compõem o batalhão de caçadores e a companhia de artilharia são em geral tão maus que passam a maior parte do tempo metidos no calabouço.”

O redator efetivo António A. Ferreira Ribeiro torna claro que as condições militares na Guiné eram péssimas: as espingardas Lee-Enfield distribuídas tanto ao batalhão como à companhia de artilharia estavam em tal estado de que se tornavam mais um perigo na mão dos soldados que um meio de defesa. E faz um reparo verdadeiramente brutal:
“Não são soldados os que servem na Guiné; são depósito de malfeitores enviados para aqui da metrópole e das outras províncias, a qual, considerada por todos como a pior, é tida pelas nossas justiças militares e civis como o tabelado onde outrora se executavam os assassinos, os ladrões e os traidores à Pátria.”


Edificações do quartel em Bolama, finais do século XIX
(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 13 DE SETEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24647: Historiografia da presença portuguesa em África (385): O império da Casa Gouveia em 1970, a grande empresa guineense (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24678: In Memoriam (486): Fernando de Pinho Valente Magro (10/05/1936 - 18/09/2023), ex-Cap Mil Art do BENG 447 (Bissau, 1970/72) (Abílio Magro)

IN MEMORIAM

Fernando de Pinho Valente Magro (10/05/1936 - 18/09/2023)
Ex-Cap Mil Art (BENG 447 - 1970/72)


Conforme a notícia veiculada pelo seu mano Abílio Magro, faleceu no passado dia 18, no Hospital Eduardo Santos Silva de Vila Nova de Gaia, o nosso camarada Fernando de Pinho Valente Magro, ex-Cap Mil Art, que entre 1970 e 1972 cumpriu a sua comissão de servço no CTIG ao serviço do BENG 447.

Foi sepultado hoje pelas 10h00 da manhã no jazigo de família, no cemitério de Gulpilhares, onde repousa já a sua esposa, a senhora D. Maria Helena, companheira de toda a vida, até em Bissau.

A tertúlia do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, associando-se à dor da família deste nosso amigo e camarada, apresenta, especialmente ao seu filho Fernando Manuel e aos manos Magro, as mais sentidas condolências. 


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O Cap Mil Art Fernando Valente Magro foi apresentado à tertúlia pelo seu irmão Abílio, em 5 de Julho de 2013 - (Vd. P11806), e que assumiu a tarefa de nos enviar, para publicação no Blogue, o livro "Memórias da Guiné", que Fernando Magro escreveu a propósito da sua comissão de serviço.

Neste livro podemos encontar narrativas de ordem pessoal e profissional, usos e costumes do povo guineense assim como os acontecimentos mais importantes, contemporâneos da permanência do autor na Guiné enquanto oficial do BENG e professor na Escola Comercial e Industrial de Bissau. 


Quem não tiver o livro "Memórias da Guiné", que se lêem com agrado, podem aceder a este marcador "Memórias da Guiné".

Por último, lembra-se que o Cap Mil Fernando Magro foi um dos 6 manos Magro que estiveram na Guerra do Ultramar, e um dos 3 que fizeram a sua comissão de serviço na Guiné.

Honremos a sua memória
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Nota do editor

Último poste da série de 15 DE SETEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24658: In Memoriam (485): Fernando da Silva Costa (1951-2018), ex-fur mil trms da CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa 1973/74)... Faleceu em 2018

Guiné 61/74 - P24677: Dos calores da Guiné aos frios da Gronelândia (2): Ilulissat, Gronelândia, agosto de 2023 (António Graça de Abreu)


Foto nº 8


Foto nº 9


Foto nº 10


Foto nº 11

Gronelândia, Ilulissat, agosto de 2023

Fotos (e legendas): © António Graça de Abreu (2023). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação da série "Dos calores da Guiné aos frios da Gronelândia" (*), da autoria do nosso amigo e camarada António Graça de Abreu: 

(i) ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74; 

(ii) membro da nossa Tabanca Grande desde 5/2/2007; 

(iii) tem 326 referências no blogue;

 (iv) é escritor, autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); 

(v) no nosso blogue, é autor de diversas séries: 

  • Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo; 
  • Viagem de volta ao mundo: em plena pandemia de COVID 19, tentando regressar a casa (em coautoria com Constantino Ferreira);
  • Excertos do "meu diário secreto, ainda inédito, escrito na China, entre 1977 e 1983"; 
  • Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias; 
  • Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74)

Dos calores da Guiné aos frios da Gronelândia (2)

por António Graça de Abreu (Foto nº 16)


Eu sei que isto são mais coisas para o nosso camarada Zé Belo, alcandorado há uns bons cinquenta anos lá pelas faldas da Lapónia, com alces a rondar-lhe a casa, em Kiruna, na bravia e gelada Suécia, e uns saltos a Narwik, na primorosa Noruega.

Mas eu também nasci com passaporte de coelho, o que até deu direito, quase numa anterior reencarnação, a participar numa guerra quente na Guiné-Bissau. Agora, Agosto de 2023, aos 76 anos, viajei durante duas semanas pela Gronelândia e pela Islândia, terras frias, tal como a Lapónia, lá no topo do mundo. Cruzei o círculo polar ártico, entretive-me a passear entre fiordes, icebergues e glaciares. Fiz bonitas fotografias, escrevi quase uma dúzia de esmerados textos. Se tiverem paciência, leiam, serão um contraponto fresco e pacífico aos calores bélicos que vivemos em África há cinquenta anos atrás. Aí vai:




Foto nº 12


Foto nº 13


Foto nº 14


Foto nº 15


Ilulissat, Gronelândia


Baía de Ilulissat, um mar de icebergues polvilhando as águas frias. Estamos duzentos e cinquenta quilómetros a norte do círculo Polar Ártico, a 69 graus de latitude . (Fotos nºs, 8., 9, 10 e 11).

 Provavelmente, foi desta baía que, entre muitos milhares de outros, desceu para os mares da Terra Nova o grande icebergue em que embateu o Titanic, na fatídica noite de Abril de 1912.

Hoje, Agosto de 2023, temos talvez o dia mais quente do ano, tempo primaveril, dez graus de temperatura. 

Uma avó gronelandesa  (Foto nº 12) empurra um carrinho com um bebé, seu neto, e usa uma blusa fina, duas mocetonas da terra, de anca larga e peitos fartos, empregadas de um hotel, saem para a rua vestindo camisas de Verão.

Dizem-me que a cidade de Ilulissat (significa “icebergues” na língua local) é o destino turístico mais popular para os fascinados por aventuras que varrem, ao de leve, o solo ímpar da Gronelândia. (Foto nº 13).

Uma caminhada de três quilómetros leva-me até às bordas do Icefjord, e depois Sermermiut, um imenso glaciar que é Património Mundial pela Unesco. Trata-se de um lugar sagrado pelos deuses e justifica a honra. São quilómetros e quilómetros quadrados de espantosos amontoados de gelo, com paredes que se elevam a mais de cem metros de altura, tudo enterrado no mar ou assentado há dezenas de séculos na pedra da costa. Vistas de extasiar, de estarrecer. 

Pena os mosquitos perto do glaciar, nas zonas onde não há gelo. São melgas negras, ferozes, que mordem, sedentas de sangue fresco. Derreteu a neve, veio o ténue calor do Ártico e, na vegetação rasteira dos pântanos entretanto criados, surgiram milhões e milhões de mosquitos.

Regresso a pé a Ilulissat (Fotos nºs 14, 15 e 17).

As casinhas desiguais, em madeira, coloridas, a construção parece barata e pouco sólida para aguentar o frio e o gelo de grande parte do ano. Porém, dentro, os lares são confortáveis, calafetados com fibra de vidro, seguros. 

Não existe saneamento público, cada casa tem uma fossa própria onde se despejam os dejectos. Uma vez por semana passa um camião cisterna que leva o conteúdo fétido e acastanhado das fossas. Em Ilulissat chamam-lhe o “camião chocolate.”

Os cinco mil habitantes da cidade vivem da pesca, da caça, da construção naval, do comércio, do turismo

Muitos têm traços fisionómicos aparentados com os mongóis, os olhos rasgados, a pele dura. São os esquimós, ou mais rigorosamente os inuites, porque a palavra “esquimó” que significa “os que comem carne crua” tem hoje um sentido pejorativo e já não é usada para os definir. 

Os 150 mil inuítes hoje existentes, resultantes de migrações do passado, estão espalhados por estas regiões acima do Círculo Polar Ártico, o norte do Alasca, o Canadá, a Sibéria e por toda a Gronelândia. 

Em Ilulissat, nasceu Knud Rasmussen (1879-1933), de pais missionários protestantes dinamarqueses. Explorador e antropólogo, -- a sua casa aqui está transformada em museu --, foi o primeiro a viajar e a escrever exaustivamente sobre os inuites e as terras e gelos do Ártico. 

De resto, a Gronelândia, a maior ilha do mundo, com 2,2 milhões de quilómetros quadrados (quase tudo montanhas de gelo) e apenas 56 mil habitantes, é ainda hoje, uma região administrativa da Dinamarca. 

Fala-se na independência plena do território que já tem bandeira, curiosamente com as cores da Dinamarca, duas metades de um círculo sobrepostas, uma rubra, o sol da meia-noite, a outra metade branca, o gelo de todo ano. (Fotos nºs 16 e 17)



Foto nº 16


Foto nº 17

© António Graça de Abreu (2023)

(Revisão / fixação de texto / negritos, e edição e numeração  de fotos, para publicação deste poste no blogue: LG)
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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de setembro de  2023 > Guiné 61/74 - P24650: Dos calores da Guiné aos frios da Gronelândia (1): Fiorde de Prins Christian Sund, Gronelândia, agosto de 2023 (António Graça de Abreu)

Guiné 61/74 - P24676: Manuscrito(s) (Luís Graça) (233): Quinta de Candoz, as primeiras cores outonais...



















Quinta de Candoz,  19 de setembro de 2023> As primeiras cores outonais...

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Há quase cinquenta anos (vai fazer em 2025) que venho a Candoz (*). Aliás, ao Norte, ao Porto, à Madalena, V. N. Gaia. Para vergonha minha, antes do 25 de Abril, só conhecia o país, o Centro e o Norte, até à ria de Aveiro (e o Sul ainda pior, a margem esquerda do Tejo, Setúbal e pouco mais).

E nestes anos todos,  as transformações foram muitas, para não dizer profundas, radicais, estruturantes, em todos os domínios, a nível do indivíduo, da família, do habitat, do território, da economia, da sociedade, das organizações e instituições, etc. Da saúde à educação, do trabalho aos transportes, do lazer à cultura, da sexualidade à religiosidade, da política ao futebol, etc., etc.,

Mas, aqui em Candoz, no “país profundo”, onde o povoamento era (e ainda é) disperso e a predomina(va) o minifúndio,  ainda apanhei tantas “coisas do antigamente” (ou ainda estavam frescas na memória das gentes do vale do Tâmega)…

Listo apenas algumas (uma trintena) que me acorrem, ao sabor do teclado e no decurso desta época de vindimas (em que vim passar 15 dias a Candoz) (**), sem qualquer ordem de precedência, importância ou relevância, e esperando que os nossos leitores acrescentem outras tantas (positivas ou negativas, não têm que fazer juízos de valor; por exemplo, há outras "coidas boas" que persistem, e ainda bem nestas nossas pequenas terras , como o valor dado à família e à "leiras" (transmitidas de geração em geração ), o apego à liberdade, a linguagem chã,  a lealdade, a frontalidade, a nobreza de carácter,  o princípio da "palavra dada", a hospitalidade, a amizade, a camaradagem... 

Mas aqui vai a minha lista (que é meramente exemplificativa.  e muito "enviesada" pela minha vivència nortenha  limitada e esporádica, não tendo eu...  o ADN genético e cultural desta gente):

(i) a luta dos rendeiros contra a parceria agrícola e pecuária, formas pré-capitalistas de exploração da terra, com o pagamento das “rendas” em géneros (e em geral, numa proporção fixa, por exemplo ao terço, a meias, etc.);

(ii) a estratificação social nos campos (no passado): “”fidalgos”, pequenos proprietários, rendeiros…e cabaneiros (gente sem terra nem casa) (e que na igreja também se dispunham pela mesma ordem, com homens e mulheres, socioespacialmente separados);

(iii) os salamaleques da “servidão da gleba” (também do tempo da outra senhora): “com a sua licença, eu senhor e meu amo”, dizia o caseiro para o “fidalgo”, desbarretando-se a 10 metros de distância;

(iii) as juntas de bois lavrando a terra com arados de ferro;

(iv) a criação, em cortes, do gado bovino (o “tourinho”, mais bem tratado que a “canalha”, porque rendia dinheiro ao ser vendido na grande feira do Marco (de Canaveses);

(v) a cultura do milho de regadio, exigente em água e mão de obra (escondia-se o milho nas “minas”, as nascentes de água, para escapar à requisição do governo nos anos da guerra e pós-guerrra);

(vi) a vinha de bordadura (e na sua grande maioria, videiras de tinto… jaquê, um híbrido americano de há muito proibido mas sempre tolerado; de fraca graduação e pior qualidade, o “jaquê” chegava a maio já era intragável; de resto, nas vindimas toda a uva podre ia “para o tinto”; e não havia vinho verde branco,o que se fazia era “para o padre”()

(vii) o vinho tinto bebido da malga de barro vidrado ou da “caneca de porcelana”;

(vi) as “serviçadas” como a vindima, a malha do centeio, a desfolhada do milho, a espadelada do linho, a matança do porco, etc. . em que os vizinhos se ajudava, uns aos outros;

(vii) os grandes cestos de vime de 50 kg de uva que os “homes” transportavam aos ombros, por leiras e solcalcos abaixo (ou acima)nas vindimas,  até ao “lagar do vinho” (em geral, no piso térreo, da casa, e com chão sibroso por causa da temperatura ambiente):

(viii) a matança do porco e à salgadeira   (que era o “governinho da tia Aninhas”);

(ix) o valor comercial da madeira de carvalho, castanho e pinho (madeira nobre hoje destronada pelo eucalipto);

(x) a água de consortes (como a água de Covas, de que o meu sogro tinha direito a utilizar,só no solstício do inverno, uma vez por semana, das 10h da manhã às 6h00 da tarde;

(xi) os “montes” (pinhais) que eram “rapados” todos os anos, não só para limpeza e prevenção dos incêndios como sobretudo por causa da importância que tinha o mato para fazer “a cama dos animais” e depois o estrume;

(xii) a “esterqueira” (ao pé da porta onde se faziam todos os despejos domésticos);

(xiii) as longas caminhadas a pé (para se ir à missa, à romaria, à feira, à repartição de finanças na sede do concelho,  mas também ao "monte", ao "engenho" do m0leiro, ao médico, ao hospital da misericórdia);

(xiv) a escassez de meios de tração mecânica na lavoura (tratores, motocultivadores, etc.) e de transporte automóvel;

(xv) a “venda” que era mercearia, tasca, casa de comidas (para os de fora), cabine pública de telefone, caixa de correio, etc. (em geral à beira da estrada, e num ponto central, no "alto", por exemplo);

(xvi) a sardinha “para três” (que chegava de Matosinhos na Linha do Douro até ao Juncal, e depois era transportada à canasta e vendida de porta em porta);

(xvii) a típica gastronomia de Entre Douro e Minho, o caldo moado, as cebolinhas do talho, os salpicões feitos em vinho tinho verde, o anho com arroz de forno, as papas de farinha de pau, o arroz de cabidela, o bacalhau lascudo n0o Natal, a aletria, etc.

(xviii) só os homens usavam calças (!);

(xix) a virgindade (feminina) antes do casamento;

(xx) o medo da noite,   das trovoadas, das bruxas, dos lobisomens, o pensamento mágico, a aprendizagem através da oralidade à volta da lareira;

(xxi) a importância das feiras e romarias como factor de lazer, de socialização, de negócios, de informação, conhecimento e propaganda;

(xxii) os “bailes mandados” e as “tunas rurais do Marão”;

(xxiii) a luz do candeeiro a petróleo ou querosene;

(xxiv) o caciquismo político e eleitoral:

(xxv) o “varapau”  como símbolo da virilidade e da masculinidade (mas também de violência) (a ponto de ter sido proibido na via pública, nas festas e nos bailes, sendo o seu cumprimento fiscalizado pela GNR):

(xxvi) a fraca monetarização da economia (fazia-se algum dinheiro com a venda das uvas, do milho, do tourinho);

(xxvii) a autossuficiência da economia do pequeno campesinato familiar onde o pai era “pai e patrão” e  a “ranchada de filhos”  era garantia de mão de obra abundante e gratuita"... E em que sé cultivava e tecla o linho  e as raparigas tinh o "bragal";

(xxviii) a emigração (para o Brasil e depois para França e Alemanha);

(xxix) o obscurantismo religioso, político e cultural;

(xxx) as “grandes mulheres”, as "Marias da Fonte",  que em geral se escondem(iam) atrás dos seus “homes” ( de varapau na mão)…

… E dito isto, continuo a gostar de cá vir, em épocas emblemáticas, festivas, do Natal à Páscoa, da festa da Senhora do Socorro às vindimas... Claro, aos batizados, casamentos, festas da família, enterros… (E há perdas recentes, que nos deixam dor profunda e eterna saudade.)

E gosto de continuar a fotografar Candoz, ao longo das quatro estações e das várias horas do dia. E em particular nesta época do ano em que aparecem as primeiras cores outonais e os primeiros cogumelos. 

E continuo a eleger Candoz como tema da minha escrita (em prosa ou em verso, e nomeadamente nos meus/nossos blogues). Afinal, sou um pobre "citadino"... 

Que o leitor desculpe esta obsessão... É como a Guiné: estivemos lá menos de dois anos, e o blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné já vai a caminho dos vinte. Por menos, já me quiseram mandar para a psiquiatria. (LG)

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