Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça, com o objetivo de ajudar os antigos combatentes a reconstituir o puzzle da memória da guerra da Guiné (1961/74). Iniciado em 23 Abr 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência desta guerra. Como camaradas que fomos, tratamo-nos por tu, e gostamos de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 18 de abril de 2024
Guiné 61/74 - P25407: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (39): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Material apreendido ao PAIGC
"A MINHA IDA À GUERRA"
João Moreira
MATERIAL APREENDIDO AO PAIGC
1970/MAIO/14:
1 - Pistola metralhadora PPSH
1970/MAIO/27:
1 - Carabina SIMONOV
1 - Mochila
1 - Par de botas
1 - Marmita
1 - Granada de RPG-2
1970/JULHO/13:
4 - Carabinas MOSIN NAGANT
1970/NOVEMBRO/19:
1 - Pistola metralhadora PPSH
1970/DEZEMBRO/30:
1 - Espingarda MAUSER
1971/MARÇO/05:
1 - Carabina MOSIN NAGANT
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Nota do editor
Último post da série de 11 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25371: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (38): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Batalhas com o PAIGC
Guné 61/74 - P25406: Em busca de... (324): António Gameiro, ex-alf graduado capelão, BCAÇ 2884 (Pelundo, 1969/71) (Manuel Resende, ex-alf mil, CCAÇ 2585, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71)
1, Mensagem de Manuel Resende (ex-alf mil, CCaç 2585/BCaç 2884 Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71); régulo da Tabanca da Linha;
Data . segunda, 15/04/2024 , 22:44
Assunto - Identificação de pessoas
Caro amigão Luis:
Publicaste hoje na tua grandiosa página do Blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné um assunto que li e reli. Falas do Capelão do BCAÇ 2885, o Sr. Padre José Torres Neves.(*)
Acontece que eu ando procurando há já muito tempo o meu capelão, o Padre António Gameiro.
Tenho procurado incessantemente pelo P. Gameiro. Já fui ao Seminário da Consolata em Fátima e não ha rastos dele.
Será que este camarada dele, o José Torres Nves, pois foram e vieram juntos, saberá algo dele?
Num convívio disseram-me que tinha deixado de ser padre, não sei se é verdade. Mas gostava de saber dele.(**)
Será que o Padre Neves pode dizer algo? Não tenho contactos. Tenho algumas fotos dele, se for necessário.
Abraço
Manuel Resende
2. Resposta do nosso editor LG:
quarta, 17/04/2024, 09:06
Obrigado, Manel, não há dúvida que o António Gameiro esteve na Guiné como capelão. É nº 56 da lista de todos os capelães que passaram pelo CTIG. E o José Torres Neves é o nº 57. UM e outro foram e vieram na mesma dta (vd. poste P16636 (***)
Caros amigos, votos de ótima saúde.
Já enviei uma msg ao Padre Zé Neves (que está numa missão em África) solicitando alguma informação sobre o assunto.
Não tenho grande fé na resposta pois o Padre Neves não me tem respondido, não sei se pelo isolamento ou pela idade.
Se tiver alguma informação voltarei ao contacto.
Um abraço, Ernestino
Junto duas fotos que tenho do Sr. Padre (Capelão) António Gameiro.
Uma é no T/T Niassa que nos levou para a Guiné em 7 de Maio de 1969.
Outra tirada em Jolmete, numa das visitas que ele nos fez ainda em 1969. Ele estava no Pelundo com o Batalhão, tal como o médico Dr. Calado, e visitavam as Companhias.
Estou a tentar obter mais fotos dele, já comecei, mas ontem foi-me confirmado que ele abandonou o sacerdócio. Já tinha ouvido essa versão. Aguardemos por algo mais concreto.
Abraço aos amigos Luis e Caniço.
Manuel Resende
(*) Vd. poste de 15 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25390: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XV: Visita ao Enxalé
Guiné 61/74 - P25405: De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (5.ª estadia, 2024): crónicas de Rui Chamusco (ASTIL) (excertos) - Parte II
(...) 2 mar 2024 - Nem tudo é o que parece.
Rui Chamusco, professor de música. Lourinhã (2012). Foto do autor |
Zinon Sobral (a trabalhar na Inglaterra) e nora do Eustáquio, para conhecê-la pesoalmente e para a pudermos ajudar e animar pois bem precisa dessa ajuda.
Mais ao menos à hora combinada lá vamos nós para Tassitolo (tassi=mar e tolo=três). Nem imaginam o que é preciso para chegar à casa da Nanda. Como ontem choveu a cântaros, não eram três mares, eram muitos mares. Ou seja, o percurso está cheio de grandes covas e buracos, em caminhos muito estreitos, onde só a grande perícia do condutor (sempre o Eustáquio) conseguiu levar a pikup (o "barco") a bom porto. Caminhos rodeados de folhas de cinco
envelhecido, que até arrepia ter de passar por entre eles.
E fizemos este trajeto quatro vezes, pois levamos a Nanda a almoçar connosco ao Timor Plaza.
E pensar que tantas e tantas vezes já passamos em Tassitolo, todo muito bonito para quem passa na marginal. Mas quem se pergunta o que está lá para dentro? Quanta barracas, quantas “chabolas” esconde todo aquele arboredo. “Quem vê caras não vê corações”. “As aparências iludem”.“Nem tudo o que reluz é ouro”.
E pensar que tanta gente vive nestas condições, e noutras ainda mais gravosas. Dói o coração não podermos fazer grande coisa para a resolução de tantas necessidades. Mas pergunto: Porquê uns têm tanto e outros tão pouco? Onde está a distribuição das riquezas? Porquê tanta opulência de alguns?
"Aí Timor!.... Ouvem-se as vozes dos teus avós. Aí Timor! Se outros calam, cantemos nós”.
4 mr 2024 - A esperança é a última coisa a morrer
O desencontro de há dias com as irmãs Franciscanas de Nossa Senhora das Vitórias, mais concretamente com a irmã Flaviana, aconteceu hoje, às horas marcadas, em Fatumeta. O objetivo desta visita era saber qual o processo perante o ministério para requisitar professores para a ESFA, uma vez que estas irmãs também têm uma escola particular em Baucau.
Surpresa das surpresas: também elas não têm professores para essa escola, porque o atual ministério da educação timorense este ano ainda não colocou os professores. Parece que não estamos sós nesta angústia pela falta de professores. Segundo explicou a irmã Flaviana, o ministério tem dado respostas desconcertantes, como por exemplo: “ a vossa escola não tem professores? Há escolas públicas que nem cadeiras e carteiras têm.” E assim nos arrumam de vez. (...)
7 mar 2024 - "Prá frente é que é o caminho, para trás mija a burra”
Cada dia com sua surpresa. Logo de manhã, ainda muito perto de casa, quando o Eustáquio e eu nos dirigíamos para Dili rumo a Baucau e Com, um facto insólito que nos pôs logo bem dispostos, à gargalhada. No caminho estreito onde quando se cruzam veículos algum deles tem de esperar, deparámo-nos com uma carrinha que não avançava nem recuava.
Foi então que o condutor, o senhor Jaime, saiu do veículo e comentou para o Eustáquio: “eu não consigo fazer marcha atrás. Já aí vem o meu irmão para fazer a manobra”. E o irmão que chegou no seu “motor” (motorizada), sem cerimónias entra no veículo e, sem qualquer dificuldade recua e sai do caminho para que nós pudéssemos passar. (...)
Lourinhã > O Rui e o "mano" Gaspar Sobral. Foto: LG (2017) |
7 mar 2024 - Encontros e desencontros
Esta foi a terceira vez que, estando em Timor, fomos até à Escola Cafe de Baucau, a fim de visitarmos a educadora Palmira Baltazar, tojeira raiana do nosso concelho de Sabugal. E, como se diz, não há duas sem três. Desta vez acertamos na “mouche”.
A Palmira depressa se deu conta da nossa presença que, desde a janela observávamos a sua aplicação ao trabalho árduo numa sala de aula cheia de crianças do pré-escolar. A reação foi surpreendente por ser uma visita inesperada, mas que nos trouxe muita alegria pois, finalmente, nos pudemos encontrar tão longe da nossa terra natal. E durante algumas horas (hora de almoçar) conseguimos pôr a conversa em dia, assim como partilhar ideias e informações sobre os projetos de solidariedade da Astil. Foi muito bom. Obrigado, Palmira e colega que nos acompanharam durante a nossa curta estadia em Baucau.
Depois, fiz questão de passarmos pela casa da diocese a fim de visitar a estátua que ergueram ao amigo e colega de trabalho na comunidade portuguesa de Gentilly (arredores de Paris), Dom Basílio do Nascimento (já falecido), que durante muitos anos foi figura preeminente da igreja católica de Timor-Leste.
7, 8 mar 2024 - Até Com, em direção ao oriente...
Como agradecimento à professora Angelina que teve a coragem e a amabilidade de se deslocar à Escola São Francisco de Assis, em Boebau/Manati, programamos esta pequena viagem por Timor a fim de lhe darmos a conhecer esta parte oriental da ilha; Manatuto, Baucau, Laha, Lautem.
Em Com assentamos o arraial. Numa pensão que já conhecíamos fizemos a nossa morada, Ainda que as condições meteorológicas não fossem as melhores, deu perfeitamente para relaxar, gozar um pouco das águas mornas deste mar e saborear sobretudo o bom peixe desta baía.
A presença portuguesa dos tempos coloniais ainda se faz notar na fortaleza em ruínas que existe na outra ponta da baía, e dos nomes e apelidos portugueses que aqui, como em qualquer outra parte de Timor, as pessoas ostentam. E foi assim que mal procurei pelo senhor Ângelo Silva (para lhe dar um abraço do amigo comum Henrique Semedo), depressa me indicaram a casa onde morava. Foi mais um momento agradável, e uma satisfação enorme de poder ser útil. (...)
11 mar 2024 - A caminho de Liquiçá
Para hoje a nossa tarefa é esta: ir a Liquiçá apresentar a Maria (pré-escolar) e a Titânia (5º ano) provinda da Escola São Francisco de Assis. O processo de matrícula e transferência já tinha sido tratado com a professora Tereza Costa, coordenadora da Escola Cafe de Liquiçá, e por isso foi mais uma questão formal que tivemos de fazer.
Graças à amabilidade e competência da coordenadora tudo foi mais fácil. Amanhã as duas alunas começam a frequência deste ano escolar, e esperamos que com sucesso. Obrigado, professora Tereza. Obrigado, colegas professores, que exerceis com zelo a vossa nobre profissão.
Aproveitamos também a estadia em Liquiçá para passar pelo Município, para ver como estavam as coisas em relação ao acordo de colaboração com o município de Sabugal (Portugal). Já há mais de 15 dias que eu fui portador de material informativo sobre o concelho de Sabugal, que foi entregue formalmente ao assessor do senhor presidente do município, com a promessa de marcar uma reunião entre ambos a fim de lhe dar informações sobre o teor desse acordo de colaboração.
Em conversa com o senhor Renato Serrão, um dos elementos que integrou a equipa que visitou o Sabugal e assinou o dito acordo, e que integra a nova equipa que atualmente preside ao município, fiquei a saber que que não sabia de nada, mas que iria averiguar a situação para depois me comunicar. E assim vai a vida por aqui. Ficamos pasmados com esta gente. Parece que estamos sempre a recomeçar, pois o que foi feito pelos outros, mesmo que seja bom, não é comunicado e, pior ainda, não é aceite. (...)
12 mar 2024 - Acontece... e com frequência
Tudo fizeram para o conseguir, e conseguiram-no. Fala-se bahassa em todo o lado, desde as crianças aos mais velhos. O tétum e o português são as línguas oficiais, mas desiludam-se os que pensem que são as línguas mais faladas.
Apesar dos muitos esforços dos governos de Portugal e de Timor Leste, o bahassa está muito bem implantado. Ouve-se bahassa na rádio, vêm-se programas na televisão, fala-se bahassa na rua. Ainda hoje, quando saímos do aeroporto Nicolau Lobato, ao fazermos o pagamento do estacionamento aconteceu. O Eustáquio entregou o talão respetivo e perguntou em tétum: Hira? Em português: Quanto é? A resposta do funcionário em serviço foi pronta: “Satu dólar” que em bahassa quer dizer 1 dólar.
E digam lá se não temos nada a aprender no domínio do ensino da língua portuguesa!...
12 mr 2024 - Será que é desta?...
A professora Angelina muita preocupada com a resolução da grande necessidade da Escola São Francisco de Assis, a saber: colocação de professores que garantam a sustentabilidade da ESFA, conseguiu um encontro importante que nos poderá trazer alguma esperança. Marcou um encontro para dia 12, no qual ela já não esteve presente porque já regressou a Portugal, no Hotel Timor, com o senhor Dr. Joaquim Cunha, nada mais nada menos que o Assessor Internacional no Ministério da Administração Interna de Timor-Leste.
À hora marcada, lá estávamos nós (eu e o Eustáquio) para o encontro agendado. Depois de nos conhecermos mutuamente, criou-se logo um clima de diálogo muito ameno porque, para além de tudo, ambos estudamos desde crianças no Porto, com lugares-comuns a recordar.
Apesar da importância do cargo que exerce, o Dr. Joaquim (Joaquim como ele me disse para chamar) é uma pessoa muito simples e muito afável. Quis saber do projeto de solidariedade da Astil, e em particular da Escola São Francisco de Assis. Até prometeu que, quando possível, lhe faria uma visita.
Ainda mais, vai fazer todos os possíveis para que sejamos recebidos pela ministra da educação do governo de Timor-Leste a Dra. Dulce Soares. Será com certeza uma porta aberta para concretizarmos o pedido que temos em mãos. Oxalá a senhora ministra tome a decisão favorável à proposta que lhe iremos apresentar. Que São Francisco de Assis e todos os santos nos valham e nos acudam...
13 mar 2024 - Chuva! Chuva e mais chuva!...
Hoje parece não deixar de chover, umas vezes chuviscos outras vezes mais forte e com algum vento. O sol ainda não apareceu. Será a despedida do inverno? Isto está a complicar-se para o nosso lado, uma vez que temos marcada a celebração do 6º aniversário da ESFA para o dia 16, e ainda a mais na montanha.
Agora chove bem, e ouve-se um ruído ensurdecedor da água a bater nos telhados de zinco que todas as casas daqui têm. Vou pedir ó São Pedro que feche as torneiras do céu para estes próximos dias. Caso contrário, vale mais adiar a festa. Não sei não!... A ver vamos.
14 mar 2024 - Cancelamento da festa do 6º aniversário de ESFA
A notícia veio logo cedo, e caíu que nem um bomba: o temporal que assolou as montanhas de Boebau, Hatumassi e outras fez estragos incalculáveis, derrubando árvores, levando telhados, arrastando terras e enxurradas que bloquearam o caminho de acesso. Nem as angunas passam. Não há luz porque alguns postes de eletricidade ficaram sem fios com o tombo das árvores, não há comunicações.
Perante este cenário destrutivo, não nos resta mais que tomar a decisão de cancelar a festa do aniversário prevista para o dia 16, uma vez que não há condições para tal. As escolas também têm estado fechadas. Também no telhado do edifício da ESFA há estragos. (...)
15 mar 2024 - Em cada esquina um amigo
Estava eu e o Eustáquio no átrio da sua casa examinando árvores e arbustos, quando surge uma criança, talvez que já tenha dois anos e meio, trajando a roupa com que saímos do ventre da nossa mãe, e gritava:Malae!... Malae!...
Como a criança já conhecia o Eustáquio, foi-se aproximando, aproximando até que lhe ouvimos o seguinte comentário: “ Malae mutin los!” ou seja “o malae (que neste caso sou eu) é muito branco!”
Pudera, já katuas (velhote) como sou, com cabelo branco, pele branca e de camisola branca, como não ser muito branco? Bem-dito e bem observado por este menino engraçado. Mas não quis mais conversa comigo, talvez tivesse medo, e depressa se pirou dali. (...)
(Continua)(Seleção, revisão / fixação de texto, edição de fotos, negritos e italicos: LG)
Timor Leste > Posição relativa de Boebau e da Escola de São Francisco de Assis, nas montanhas de Liquiçá. Liquiçá é a sede do munícipio, com cerca de 20 mil habitantes. Recorde-se que em Abril de 1999, na sequência da campanha de terror que antecedeu o referendo sobre a independência, mais de 200 pessoas foram mortas na igreja católica de Liquiçá, quando membros da milícia Besi Merah Putih, apoiados por soldados e polícias indonésias, atacaram a igreja. De Dili a Boebau, em plena montanha, são cerca de 50 km (e de Liquição 20 km) que em viatura podem demorar a percorrer 4 ou 5 horas, niomeadamenet na época da monção (chuvs)...
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Nota do editor:
Último poste da série > 17 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25398: De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (5.ª estadia, 2024): crónicas de Rui Chamusco (ASTIL) (excertos) - Parte I
Guiné 61/74 - P25404: No 25 de Abril de 1974 eu estava em... (30): Em Bolama, à espera do meu "periquito"... Embarquei nos TAM, em meados de maio, a expensas minhas (João Silva, ex-fur mil at inf, CCAV 3404, Cabuca; CCAÇ 12, Bambadinca e Xime; CIM, Bolama, 1972/74)
Assim ficamos durante largos dias, vivendo de boatos, alguns mais tarde confirmados como a prisão do Comandante-Chefe.
Recordo que uns dias mais tarde, não é para rir, fomos informados pelo major Lima, uma bela peça, que poderíamos, se o quiséssemos, participar numa manifestação do PAIGC.
Depois a bagunça que veio afectar os que, como eu, aguardavam a chegada do periquito. Acabou por não chegar. A muito custo e depois de alguma insubordinação, lá fui para Bissau onde aguardei alguns dias no QG o embarque nos TAM.
No dia aprazado eu e muitos outros militares fomos informados de que não tínhamos lugar no avião porque este estava ocupado pelo pessoal da DGS (Direç ão-Geral de Segurança) e família.
Fomos à TAP, comprámos o bilhete e, no dia seguinte, já em meados de maio de 1974, aterrámos em Lisboa.
Penso não haver muitos militares que fizeram a viagem de regresso a sua casa pagando do seu bolso.
Foi a primeira benesse que o 25 de Abril me ofereceu.
João Silva ex-furriel mil, Ccav 3404, Cabuca, Ccaç 12, Bambadinca e Xime, CIM, Bolama.
2 de maio de 2014 às 15:45 (*)
2. Fichas de unidade > CIM - Centro de Instrução Militar
Identificação; CIM
Cmdt: Cap Inf José Manuel Severiano Teixeira
Cap Inf António Lopes de Figueiredo
Cap Inf António Ferreira Rodrigues Areia
Cap Inf Laurénio Felipe de Sousa Alves
Cap Inf António Feliciano Mota da Câmara Soares Tavares
Cap Inf João José Louro Rodrigues de Passos
Cap Inf Alcino Fernando Veiga dos Santos
Cap Inf António de Matos
Cap Art Samuel Matias do Amaral
Cap Inf Carlos Alberto Antunes Ferreira da Silva
Maj Cav Carlos Manuel de Azeredo Pinto Melo e Leme
Maj Inf Carlos Alberto Idães Soares Fabião
Maj Inf Fernando Jorge Belém Santana Guapo
Maj Cav José Luís Jordão de Ornelas Monteiro
TCor Inf Octávio Hugo de Almeida e Vasconcelos Pimentel
TCor Cav Raúl Augusto Paixão Ribeiro
Cor Inf Carlos Emiliano Fernandes
Síntese da Actividade Operacional
Era uma unidade da guarnição normal, tendo sido criada inicialmente em
Bissau no aquartelamento de Santa Luzia, a partir de 17Mar59, com a finalidade
de ministrar instrução militar ao pessoal residente na Guiné e já recenseado
e com documentos de identificação nacionais.
do subsector respectivo, o qual englobava ainda as ilhas de Bijagós.
recenseamento local para formação de diversas especialidades, efectuou ainda a
IAO de unidades e subunidades metropolitanas, esta instrução especialmente a
partir de meados de 1970, e estágios de Oficiais e Sargentos para enquadramento
de unidades africanas da guarnição normal.
Em 14Set74, na sequência do plano de retracção do dispositivo e após
entrega do aquartelamento de Bolama ao PAIGC, o Centro foi desactivado e extinto.
(*) Vd. poste de 1 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13078: O golpe militar de 26 de abril de 1974 no TO da Guiné: memorando dos acontecimentos, pelo cor inf António Vaz Antunes (1923-1998) (Fernando Vaz Antunes / Luís Gonçalves Vaz): Parte I
(**) Último poste da série > 14 d abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25386: No 25 de abril de 1974 eu estava em... (29): Bissau, Depósito de Adidos, era oficial de justiça, na Secção de Justiça... e a viver com a minha mulher, em "segunda lua de mel"...( Joaquim Luis Fernandes, ex- alf mil, CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973, e Depósito de Adidos, Brá, 1974)
Guiné 61/74 - P25403: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-Chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte XVIII: a versão do cor inf António Vaz Antunes (1923-1998), na altura comdt interino do COMBIS ( Memorando digitalizado e transcrito pelo seu filho, engº Fernando Vaz Antunes)
Guiné > Bissau > 1974 > O cor inf António Vaz Antunes (à esquerda, na imagem) com o gen Bettencourt Rodrigues, e outros oficiais numa visita do Comandante-Chefe a uma unidade em Bissau. Fotografia do arquivo pessoal do Coronel António Vaz Antunes.
Guiné > Região do Oio > Farim > 1974 > O cor inf António Vaz Antunes com militares e população local. Fotografia do arquivo pessoal do coronel António Vaz Antunes.
Fotos (e legendas): © Fernando Vaz Antunes (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
24Abr1974
Considerando que 26 era feriado em Bissau, e para aproveitamento de tempo, solicitei à Chefia Srvc Transportes passagem para Bolama, a partir das 09:30.
25Abr
Conhecimento por camaradas, do Movimento das Forças Armadas em Lisboa: através da BBC ao fim da tarde, depois de actividades várias no CTIG e COMBIS, tive conhecimento do triunfo do Movimento.
22:00 horas – como de hábito, desloquei-me para o COMBIS para pernoitar, depois de ter recebido comunicação telefónica do Chefe do Estado Maior do CTIG [3] para recomendar ao pessoal de guarda a máxima atenção na vigilância com vista a garantir a segurança dos quartéis contra qualquer tentativa do IN.
À chegada ao COMBIS recebi a mensagem escrita que repetia a recomendação telefónica. Dei as necessárias instruções ao Oficial de Dia.
Logo de seguida voltei para o quarto e pouco depois ouvi a repetição da mensagem, feita agora por emissor da Guiné e mais tarde repetida pelo PFA [Programa das Forças Armadas] , vulgo “PIFAS”.
26Abr
Às 08:00 dirigi-me para a Praça Honório Barreto, de uniforme nº 1 (branco), acompanhado do Cor Lemos [4]
Terminada a cerimónia, voltei ao quarto e mudei de farda.
09:45 – Chegada ao QG/CCFAG para tomar parte no briefing diário. Enquanto aguardava no local habitual, juntamente com outros oficiais – nomeadamente Cor Vaz, Cor Pilav Amaral Gonçalves, Cmdt Ricou e Comodoro Brandão [5] –, o Cmdt Lencastre chegou conduzindo um Volkswagen muito apressadamente, travou bruscamente e dirigiu-se a correr ao Comodoro a quem comunicou qualquer coisa, de que eu só percebi “vêm aí pára-quedistas”.
Este informou-me que eram os pára-quedistas que estavam a cercar o QG. Perguntei qual a intenção, respondeu não saber. Perante a impassibilidade destes, dirigi-me à sala de reuniões para onde tinha visto entrar o Sub Chefe do Estado Maior – Ten Cor Monteny [6] –, disse-lhe o que se tinha passado e ele respondeu-me que não sabia de nada.
Faltavam o General Cmdt Chefe, o Brigadeiro Adjunto [9] e o CEM/QG/CCFAG [10]. Não estranhei, por supor que estariam ocupados – e não era a primeira vez que o Comodoro presidia à reunião.
Logo que todos tomaram lugares – e havia muito mais oficiais que era habitual em briefing de rotina, especialmente considerando que era feriado –, adiantou-se para a frente o Ten Cor Mateus da Silva [11] que pedia atenção e disse:
O Comodoro fez um gesto afirmativo de cabeça e disse: “Bem, vamos ao briefing!”.
Além disso, em 33 anos de Oficial nunca se me tinham deparado tais procedimentos dentro das estruturas militares, pelo que pedia o esclarecimento da situação.
Fiquei perplexo, o Comodoro não respondeu, mas fitava-me como esperando a minha reacção, e então retorqui:
Entretanto entraram no gabinete o Comodoro, o Cor Vaz, o Cmdt Ricou e o Cmdt Lencastre. Após breves palavras que o primeiro disse ao Sr. General, em termos de lamentação (que eu não entendia… ), esclareci-o que o Sr. General autorizava que eu o acompanhasse. Perguntei por guia de marcha, e disse-me que não era precisa. Indaguei sobre hora e local de reunião e fui informado que podia reunir-me no Palácio, ao Sr. General, até às 13 horas.
Quando chegava à entrada do Depósito de Adidos, acesso ao COMBIS, estava a formar junto à porta, muito apressadamente, um Pelotão do Batalhão de Comandos Africanos, transportado para ali numa viatura pesada estacionada em frente. O Pelotão estava completamente armado, inclusive com LGF e armas automáticas, equipado e municiado.
Deduzi que seria por minha causa, mas nem parei nem interferi. Rapidamente reuni os meus haveres após o que chamei o Ten Cor Altinino e o Cap Bicho para os informar que deixava o COMBIS, mas não tinha dados que me permitissem transmitir o Comando.
Cerca das 12:45 cheguei ao Palácio com a minha bagagem. Cerca das 14h, quando vi chegar a guia de marcha para o Brig. Leitão Marques e Cor. Hugo Rodrigues da Silva, telefonei ao Cor Vaz, Chefe do EM/CTIG solicitando uma guia também para mim. Às 15:30 o Cor Vaz e o Ten Cor Monteny disseram-me que o Comodoro não assinava a guia e não autorizava que eu saísse.
Surpreendido por esta nova versão, procurei o Comodoro para que me esclarecesse. Estava num dos corredores do Palácio para tomar parte na cerimónia de tomada de posse do novo Governo da Província. Respondeu que não estava na disposição de autorizar que saísse quem pedisse. Lembrei-lhe que eu não o pedira – ele é que o ordenara. Reagiu atirando-se para um sofá e declarando que se quisesse embarcar que embarcasse, mas que não me passava guia.
Mais tarde, já no aeroporto, pedi-lhe para me atender em particular, e solicitei que recordasse o que se tinha passado e a ordem que me dera, e a situação em que me colocara na presença de dezenas de oficiais. Decidiu então que me enviaria a guia pelo correio e autorizou que embarcasse.
Chamei o Cor Vaz e o Ten Cor Monteny e, estando também presente o Cmdt Ricou, o Comodoro deu ordem ao Cor Vaz para me enviar a guia para o DGA [14] no dia seguinte.
Nessa mesma ocasião, disseram (não me lembro quem) ao militar que fazia policiamento à porta de passagem para a gare, que eu podia embarcar.
(24-26Abr1974) – Cor António Vaz Antunes
Fernando Vaz Antunes, documento inédito, cedido pelo autor ao Luís Gonçalves Vaz e ao blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
[1] - Brigadeiro Octávio de Carvalho Galvão de Figueiredo, 2º Comandante do CTIG e, por inerência, Comandante do COMBIS (Comando da Defesa Militar de Bissau).
[2] - Batalhão de Artilharia nº 6520/73, mobilizado pelo RAL5-Penafiel e aerotransportado entre 01 e 04Abr74, do AB1-Portela para a BA12-Bissalanca, de onde marchou para o CIM-Bolama.
[3] - Coronel de cavalaria CEM Henrique Manuel Gonçalves Vaz (CEM/QG-CTIG desde 07Jul73 até 14Out74)
[4] -«A cerimónia começou mais tarde porque se aguardou, em vão, a chegada do Gen Cmdt Chefe. A dada altura, por decisão do Comodoro Brandão que estava presente, deu-se início à cerimónia com uma alocução do então Maj de infantaria Alípio Emílio Tomé Falcão, Comissário Provincial da MP na Guiné.» [AVA]
[5] - António Horta Galvão de Almeida Brandão, Comandante do ComDefMarG (Defesa Marítima da Guiné).
[6] - António Hermínio de Sousa Monteny, Tenente-Coronel CEM
[7] - José Manuel de Bethencourt Conceição Rodrigues, desde 29Set73 Governador e CCFAG.
[8] - «Houve entretanto um curto impasse: o Monteny continuava a escrever uns papéis, que eu lhe retirei da secretária repetindo-lhe que fosse de imediato – e ele foi. Isto passou-se na sala, enquanto o resto do pessoal estava fora. Quando o Monteny saiu, vim atrás dele, mas ao chegar à porta vi que os que estavam fora, incluindo o Comodoro, vinham entrando para o briefing, e eu fiz o mesmo, enquanto o Monteny descia o jardim.» [AVA]
[9] - Brigadeiro Manuel Leitão Pereira Marques.
[10] - Coronel CEM Hugo Rodrigues da Silva. [O QG/CTIG era o Quartel General do Exército (situado nas instalações militares de Santa Luzia), enquanto o QG/CCFAG era o Quartel General de todas as Forças Armadas em serviço naquele território (situado no antigo Forte da Amura, mesmo em frente ao cais de Bissau). O coronel Henrique Gonçalves Vaz, CEM/CTIG na altura destes acontecimentos, irá desempenhar as funções de Chefe do Estado-Maior do CTIG/CCFAG (Comando Unificado), após este Golpe Militar.]
[11] - António Eduardo Domingos Mateus da Silva, TCor Engº Trms, desde Jul72 Comandante do AgrTmG.
[12] - «O Mateus da Silva propôs-se ocupar os cargos de Secretário Geral e Encarregado do Governo – o que veio a acontecer –, tendo sido “empossado” cerca das 12h quando nós estávamos ainda no Palácio do Governo (e residência do Governador).» [AVA]
[13] - «O Capitão era o José Manuel Barroso, miliciano, que dirigia o semanário “Voz da Guiné” (e mais nada); era casado com a “fulana” que estava em Bissau para estudar a instalação da Universidade de Bissau, recebendo por isso 15 contos X mês … .» [AVA] [equivalente, a preços de hoje, a 2860 euros, editor LG]
[14] - Depósito Geral de Adidos (Calçada da Ajuda, em Lisboa).
(*) Vd. postes de:
2 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13080: O golpe militar de 26 de abril de 1974 no TO da Guiné: memorando dos acontecimentos, pelo cor inf António Vaz Antunes (1923-1998) (Fernando Vaz Antunes / Luís Gonçalves Vaz): III (e última) Parte(**) Vd. último poste da série > 15 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25388: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-Chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte XVII: O meu pai, cor Henrique Gonçalves Vaz, que não pertencia ao MFA, deu um abraço de despedida, apreço e respeito ao seu Com-Chefe no momento da sua destituição (Luís Gonçalves Vaz)
(***) Nota de Luís Gonçalves Vaz:
quarta-feira, 17 de abril de 2024
Guiné 61/74 - P25402: Consultório Militar do José Martins (81): Dia 16 de Março de 1974 - Parte VI - O dia
Parte VI de "Dia 16 de Março de 1974", um trabalho da autoria do nosso camarada José Martins (ex-Fur Mil TRMS, CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), enviado ao Blog em 10 de Abril de 2024. Neste dia ensaiou-se a primeira tentativa de derrube do regime vigente, conhecida por Levantamento ou Golpe das Caldas, por ter sido protagonizada por militares do antigo RI 5 das Caldas da Rainha.
Dia 16 de Março de 1974 - Parte VI
O dia
18:00
● O Major Monroy do Regimento de Infantaria n.º 5 transmitiu ao Major Guimarães, pessoalmente, ordens do Brigadeiro Serrano, 2.º Comandante da Região Militar de Tomar, para que entrasse no quartel do Regimento de Infantaria nº. 5. Uma vez aí dentro, o 2.º Comandante da Região Militar de Tomar deu ao Major Guimarães como missão, coadjuvar o Comandante Interino do Regimento de Infantaria n.º 5 e, à Companhia de Caçadores do Regimento de Infantaria n.º 7, constituir uma força de intervenção imediata. [RI7a]
18:30
● A DGS pede esclarecimentos sobre acontecimentos de Lamego. O Brigadeiro Pedro Serrano manda levantar dispositivo de cerco ao quartel do Regimento de Infantaria n.º 5, e dispensa a Companhia da GNR. [CGg]
18:45
● Passou em Palhoça para Caldas da Rainha 1 autocarro militar de 30 a 40 lugares, em que seguiam o respectivo condutor e provavelmente mais 2 sargentos, relata o Batalhão n.º 2 da GNR. [B2g]
19:00
● É divulgada uma nota oficiosa da Secretaria de Estado da Informação e Turismo, informando: «Na madrugada de sexta-feira para sábado, alguns oficiais em serviço no Regimento de Infantaria 5, aquartelado nas Caldas da Rainha, capitaneados por outros que nele se introduziram, insubordinaram-se, prendendo o comandante, o segundo comandante e três majores e fazendo em seguida sair uma Companhia auto transportada que tomou a direcção de Lisboa. O Governo tinha já conhecimento de que se preparava um movimento de características e finalidades mal definidas, e fácil foi verificar que as tentativas realizadas por alguns elementos para sublevar outras Unidades não tinham tido êxito. Para interceptar a marcha da coluna vinda das Caldas foram imediatamente colocadas à entrada de Lisboa forças de Artilharia 1, de Cavalaria 7 e da GNR. Ao chegar perto do local onde estas forças estavam dispostas e verificando que na cidade não tinha qualquer apoio, a coluna rebelde inverteu a marcha e regressou ao quartel das Caldas da Rainha, que foi imediatamente cercado por Unidades da Região Militar de Tomar. Após terem recebido a intimação para se entregarem, os oficiais insubordinados renderam-se sem resistência, tendo imediatamente o quartel sido ocupado pelas forças fiéis, e restabelecendo-se logo o comando legítimo. Reina a ordem em todo o País.» (in «Região de Leiria» de 23/03/1974)". [JM]
19:10
● O Comandante da GNR de Caldas da Rainha informa, o Comando Geral da GNR, que o Brigadeiro Serrano dispensou a Companhia da GNR, iniciando o regresso ao seu quartel. [PCR]
19:30
● O Comandante da GNR de Caldas da Rainha informa, o Chefe do Estado-Maior da GNR, que tinha chegado um autocarro para transportar as tropas sublevadas e que as forças sitiantes tinham entrado no quartel, tendo o Regimento de Infantaria n.º 7 e o Regimento de Infantaria n.º 15 ficado a guarnecê-lo. [PCR]
● O relatório do Comando-Geral da GNR reporta a ordem dada à Companhia do Batalhão n.º 1 da GNR, através da Brigada de Transito da GNR, para regressar. Deste facto informa o Comando do Batalhão n.º 1 da GNR. [CGg]
● O Batalhão n.º 2 da GNR reporta, que chegou às Caldas da Rainha o autocarro que passou em Palhoças. O pessoal do Regimento de Infantaria n.º 7, Regimento de Infantaria n.º 15 e Escola Prática de Cavalaria que cercou o quartel, passou para o seu interior, sendo a guarnição feita pelo Regimento de Infantaria n.º 15. No exterior apenas permanecia um auto metralhadora. Iniciou o regresso a Lisboa a Companhia de Batalhão n.º 1 da GNR. [B2g]
20:00
● O Comando-Geral da GNR indica passagem a estado de Prevenção Simples. É destacado um pelotão da 1.ª Companhia do Batalhão n.º 1 da GNR, para a Trafaria. [CGg] 21:30
● Os oficiais detidos no Regimento de Infantaria 5 (Caldas da Rainha), foram transferidos para a enfermaria do Regimento de Artilharia Ligeira 1 (Moscavide), sob escolta, donde alguns passaram, depois, para a Casa de Reclusão Militar de Lisboa, no Forte da Trafaria. No dia seguinte, trinta e cinco Aspirantes a Oficial Miliciano, além de Sargentos, Furriéis e Cabos Milicianos, foram conduzidos sobre prisão para o Campo Militar de Santa Margarida, às 03h00, acusados de participação nos acontecimentos de 16 de Março, onde seriam depois interrogados pelo Tenente-Coronel Andrade e Sousa. [JM]
● O Comandante da GNR de Caldas da Rainha informa, superiormente que os oficiais sublevados tinham saído em duas viaturas com destino a Lisboa. [PCR]
22:00
● Relata a Escola Prática de Cavalaria que sai do Regimento de Infantaria n.º 5 um autocarro com os oficiais desta unidade, rumo a Lisboa. [EPC]
● O Comandante da GNR de Caldas da Rainha informou o Comando Geral da GNR que a situação era normal em toda a cidade. [PCR]
22:15
● Informação do Batalhão 1 da GNR de que a sua companhia regressou ao quartel. [CGg]
22:22
● O Comandante Batalhão n.º 3 da GNR (Évora) informa que, um sargento e alguns marinheiros se dirigiram pelas 22:00 ao Posto da GNR de Alcochete. Pretendiam entrar no posto, alegando uma "missão especial", mas acabaram por retirar. O Comandante do Posto da GNR do Barreiro soube, através do Comandante dos Fuzileiros Navais, que tais marinheiros procuravam contactar dois sargentos da Marinha. [CGg]
22:25
● O Comandante da GNR de Caldas da Rainha informa que, pelas 21:10, partiram em dois autocarros os oficiais sublevados (entre eles um Major) e mais alguns elementos do grupo de 33 implicados. Os aspirantes e cabos milicianos ficaram, no quartel, em regime de detenção. A Companhia de Caçadores do Regimento de Infantaria n.º 7 foi rendida pela Companhia de Caçadores do Regimento de Infantaria n.º 15 e no comando do Regimento de Infantaria n.º 5, já se encontra o legitimo comandante. [CGg]
22:30
● A força da Escola Prática de Cavalaria recebe ordem para regressar ao quartel, em Santarém, onde chegou cerca das 00:50. [EPC]
22:35
● Passou em Palhoça uma coluna auto com 2 viaturas PSP seguidas do autocarro militar e um camião com tropas, prosseguindo em direcção à Espinheira. [B2g]
22:45
● Comandante da GNR de Caldas da Rainha comunicou que passou a desempenhar funções de Oficial de Dia ao Regimento de Infantaria n.º 5 o Major Guimarães, do Regimento de Infantaria n.º 7, e que tinha vindo para Lisboa, cerca das 21:10 uma viatura com 33 Oficiais, aproximadamente. Os cabecilhas do ocorrido foram o Major de Cavalaria Manuel Soares Monge e o Major de Infantaria Luís António de Moura Casanova Ferreira que não pertenciam ao Regimento; Capitão Varela, Capitão Faria e um Capitão Médico que aderiram ao movimento dos outros oficiais, do Quadro Permanente, e alguns milicianos. [B2g]
23:01
● O Comandante de Batalhão n.º 2 da GNR informa que, pelas 22:35, passou em Palhoças uma coluna vinda do Regimento de Infantaria n.º 5 e constituída por duas viaturas da Policia Militar, um autocarro (com os implicados) e um camião de militares. A população de Caldas da Rainha encontra-se curiosa mas calma. [CGg]
23:16
● O Comando-Geral da GNR informa o Chefe do Estado-Maior da marcha da coluna vinda de Caldas da Rainha. [CGg]
23:45
● O Comandante da GNR de Caldas da Rainha informou superiormente que a situação continuava sem alteração. [PCR]
● O Comando-Geral da GNR regista, no seu relatório, que o Comandante da GNR de Caldas da Rainha informa que, na cidade, está tudo calmo. [CGg]
23:50
● Após reconhecimento do local, o Comandante da GNR de Caldas da Rainha informou ter tudo retomado a normalidade.
(continua)
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Nota do editor
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Guiné 61/74 - P25401: Historiografia da presença portuguesa em África (419): Será que Bissau foi capital da Guiné antes de 1941? O estado da questão (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
A questão é muito interessante mas não vislumbro documentação que sustente a existência de Bissau como capital da Guiné portuguesa, será efetivamente capital em 1941. A colónia não dispunha de superfície antes da Convenção Luso-Francesa de 12 de maio de 1886, como colónia era uma ficção territorial, tinha praças, feitorias e presídios, nunca encontrei qualquer documento que tratasse Bissau como capital. E depois temos toda aquela documentação da segunda metade do século XIX, caso de Travassos Valdez, onde se mostra Bissau como uma praça e uma povoação entregue a degredados, muitas vezes revoltando-se contra o governador e prendendo-o, sujeita a uma permanente hostilidade. Que capital era esta, podem ajudar-me a esclarecer a questão?
Um abraço do
Mário
Será que Bissau foi capital da Guiné antes de 1941? O estado da questão
Mário Beja Santos
Tenho como dado assente que a Guiné portuguesa jamais teve capital até 1879. É uma questão de lógica, a região dependia do governador de Cabo Verde e da Guiné, com a monarquia constitucional, a referência à Guiné como território não existe na Constituição, somente se menciona a existência da povoação de Cacheu e da Praça de Guerra de S. José de Bissau. É nisto que ao ler os cadernos de campo do professor Orlando Ribeiro, resultado da sua viagem à Guiné em 1947, que considero documento científico de leitura obrigatória, a edição foi coordenada por Philip J. Havik e Suzanne Daveau, investigadores experimentados, Edições Húmus, 2010, encontro na página 60 a seguinte nota:
“As origens de Bissau remontam ao século XVI, mas somente em 1692 é elevada a capitania. Com a construção da fortaleza no último quartel do século XVIII, Bissau começa a ultrapassar Cacheu – que foi um dos primeiros e principais portos na costa da Guiné – como entreposto comercial. A partir de 1835, Bissau obtém o estatuto de capital (em 1855 é criado o município) até 1879.”
Comecei a pesquisar no Boletim Cultural da Guiné portuguesa, número especial de outubro de 1947, há um título Efemérides da Guiné portuguesa, que tem por autores Teixeira da Mota, Fausto Duarte e outros, e procurei o que tinha acontecido em 1835. Em 30 de agosto é promulgado um decreto pelo Governo de Lisboa criando a Comarca da Guiné, dirigida por um Subprefeito, sujeita à prefeitura de Cabo Verde, nada mais. Consultei depois o n.º 32 da revista Ultramar, 1968, todo ele dedicado à Guiné e onde consta do historiador António Alberto Banha de Andrade um longo artigo intitulado História breve da Guiné portuguesa. O autor menciona a remodelação administrativa de 16 de maio de 1832. Na Guiné passou a haver uma subprefeitura em Bissau, ficando o Subprefeito com funções de intermediário entre a população e o Prefeito, colocando-se em 1834 a sede da administração em Bissau, nesse ano Honório Pereira Barreto foi nomeado provedor de Cacheu, não há qualquer referência a Bissau como capital.
Bom, o melhor era dirigir-me a um alfobre de documentação, a Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa. Comecei por ler a obra Ensaios sobre a statistica das possessões portuguezas, por José Joaquim Lopes de Lima, Lisboa, Imprensa Nacional, 1844. Sendo obra de referência e dedicada à Rainha, seria inevitável aludir a elementos essenciais. Pois o que encontrei no capítulo X, dedicado à Guiné de Cabo Verde, são digressões históricas da nossa presença na região e menção aos estabelecimentos existentes: praça de Cacheu, presídio de Farim, presídio de Ziguinchor, presídio de Bolor, praça de guerra de S. José de Bissau (esta apresentada como reduto quadrangular de boa cantaria, flanqueada por quatro baluartes, dentro da praça havia quartel para o governador), Ilhéu do Rei, Geba, ilha de Bolama e ilha das Galinhas. Estranhíssimo não se falar em capital, havia somente governador em Bissau como responsável da praça, desde finais do século XVIII.
Outra fonte consultada foi a História de Portugal, de Joaquim Veríssimo Serrão, Editorial Verbo, 1986, dois volumes. No volume VIII, referente a 1832-1851, refere o autor: “A reforma de 1832 mantinha a Comarca da Guiné na dependência ultramarina de Cabo Verde, criando uma Subprefeitura em Bissau e uma provedoria em Cacheu. O governador Manuel António Martins tomou medidas de proteção para com a Guiné, fazendo um novo regulamento para a alfândega e criando um hospital militar dirigido por uma comissão a que presidiu Honório Pereira Barreto.” No volume IX, alusivo ao período 1851-1890, observa o historiador: “Uma das primeiras medidas da Regeneração, no tocante à Guiné, foi a de criar um lugar de governador para todas as parcelas da mesma região, o qual ficaria sujeito ao governador-geral de Cabo Verde. Aquele funcionário teria residência em Bissau, cabendo-lhe também visitar a praça de Cacheu duas vezes por ano. O governador tinha igualmente poderes militares.” E depois faz-se uma alusão ao Visconde Sá da Bandeira: “A Sá da Bandeira se deve a elevação de Bissau a vila por considerar que a povoação tinha já um número suficiente de habitantes para dispor de instituições municipais. Justificava-se ainda a medida por ser a capital da Guiné portuguesa e a residência do respetivo governador.” Aonde o Visconde de Sá da Bandeira foi encontrar a capital da Guiné não se sabe, mas que o visconde refere a capital vem no Diário do Governo de 2 de maio de 1858.
A primeira referência a uma capital em documento autenticado com o nome do rei vem no suplemento ao n.º 15 do Boletim Oficial do Governo-Geral da Província de Cabo Verde, de 17 de abril de 1879, que reza o seguinte: “Dom Luíz, por graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, etc., fazemos saber a todos os nosso subditos, que as côrtes gerais decretaram e nós queremos a lei seguinte: art.1. – o território da Guiné portuguesa formará uma província independente de outra qualquer província portuguesa, terá a sua séde na ilha de Bolama.”
Isto o que consegui apurar na Biblioteca da Sociedade de Geografia, graças à total disponibilidade da sua bibliotecária. Mantém-se o mistério da data de 1835 para a capital de Bissau que os historiadores daquela época e posteriores jamais mencionam. Os coordenadores do trabalho de Orlando Ribeiro também não invocam a fonte. Chegou a vez de se submeter a questão a historiadores que possam ajudar a desenvencilhar este enigma de Bissau como capital como Bolama. Desconheço a fonte informativa do Visconde Sá da Bandeira, não será de estranhar que ele confunda o governador da Praça de S. José de Bissau como instalado numa capital. Acresce que nós temos relatos como o do governador Carlos Pereira, o primeiro nomeado com a implantação da República, que alude ao completo estado de degradação em que se encontrava a fortaleza e o povoado até ao Pidjiquiti, tudo numa imundície e desmazelo intoleráveis, uma estranhíssima capital permanentemente fustigada pelas hostilidades dos régulos da ilha, o quadro de Bissau estava cercado de muros altos para se proteger de permanentes agressões. Como é que era possível falar-se de Bissau como capital, somente mencionada esta como existente em 1835 e invocada com tal título em 1858, sem nenhum documento comprovativo, e, em completo contradição com o facto de que só perto da sua desvinculação de Cabo Verde nem o estatuto de distrito autónomo tinha.
É a questão que deixamos aos historiadores, oxalá possam clarificar este imbróglio, já que documentos históricos comprovativos de Bissau como capital só temos estas duas referências sem alusão a fontes. Vamos esperar.
Nota do editor
Último post da série de 10 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25365: Historiografia da presença portuguesa em África (418): O Esmeraldo de Situ Orbis, de Duarte Pacheco Pereira, as suas referências à Guiné (2) (Mário Beja Santos)