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quarta-feira, 6 de abril de 2011

Guiné 61/74 - P8055: O Mundo é Pequeno e a Nossa Tabanca... é Grande (40): A aparição do Florimundo Rocha, de Lagoa, Algarve (Carlos Alexandre, ex-Sold Trns, CCAÇ 3546, Piche e Ponte Caium, 1972/74)




Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Destacamento da Ponte do Rio Caium > Legenda rectificada (*): Quatro camaradas, quatro amigos: Da esquerda para a esquerda: (i) Serra (sold atirador, natural de Barcelos, e não o 1º Cabo Santiago, que é da Covilhã); (ii) Florimundo Rocha (sold condutor auto, algarvio de Lagoa); (iii) Carlos Alexandre (operador de transmissões, fadista, carpinteiro naval, natural de Peniche); e (iv) Jacinto Cristina (padeiro e municiador do morteiro, natural de Ferreira do Alentejo)...

Foto gentilmente cedida pelo meu amigo (e camarada) Jacinto Cristina,d e Figueira de Cavaleiros, Ferreira do Alentejo.


Foto: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



1. Mensagem de Carlos Alexandre, outro bravo de Caium, membro da nossa Tabanca Grande, a viver em Peniche:

Data: 2 de Abril de 2011 15:00
Assunto: A aparição do Rocha


Luís, boa tarde. Como era de esperar, ao ter conhecimento desta nova aparição (*), e como não podia deixar de ser, apenas esperei horas decentes para fazer o contacto telefónico, e por volta das doze e trinta surgiu a mesma voz perdida há trinta e sete anos atrás aquando,  por força das circunstâncias, o batalhão [, o BCAÇ 3883, ] regressou a Portugal e deixou os de rendição individual ao Deus dará,  sem o mínimo de condições de agir, dado o estado físico e psicológico subjacente aos dias vividos naqueles lugares... Mas até aí em grupo, onde nos identificávamos como um colectivo e nesse colectivo éramos como um por todos e todos por um,  como é evidente eu tal como outros que lá ficaram, fomos entregues ao desprezo angustiante, por aqueles cuja responsabilidade, no mínimo, era acompanhá-los e deixá-los bem entregues, para que não tivessem de passar o que é próprio de quem se sente completamente só e ao abandono, depois de termos passado por onde passámos.

Foi com muita expectativa e alegria que marquei os números indicados, e com eles o prazer de falar com o Rocha [, o Florimundo Rocha] (*). A conversa foi curta, apenas uma troca de informações, mas ficou presente a importância da sua presença no próximo encontro do batalhão a realizar nem sei quando nem onde, mas espero contactá-lo quando receber essa informação.

O Rocha estava instalado no abrigo em frente ao das transmissões, os companheiros destes grupos estavam mais perto uns dos outros,  como é natural, por consequência o contacto estava mais presente, a nossa relação era mais achegada, pertencíamos ao grupo dos abrigos do lado de Buruntuma.

Foi um prazer falar com o Rocha, espero ser muito maior o encontro depois destes anos todos.

Já a gora permitam-me voltar ao mesmo esclarecimento, o companheiro indicado como sendo o Santiago não corresponde à verdade, como já foi referenciado anteriormente, e segundo o Rocha esse companheiro é o Serra. O Rocha saberá identificá-lo melhor deu.

Obrigado pela presença tão especial que o passado nos presentei-a através do vosso esforço.

Carlos Alexandre.
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 1 de Abril de 2011 | Guiné 63/74 - P8029: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (39): Florimundo Rocha, natural de Lagoa, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 3546, 1972/74 (Piche, 1972/74), outro "bravo da Ponte Caium", sobrevivente da emboscada de 14/6/1973

quinta-feira, 31 de março de 2011

Guiné 63/74 - P8024: Tabanca Grande (274): Fernando de Sousa Henriques, ex-Alf Mil Op Esp /RANGER da CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883 (Canquelifá, 1972/74)


1. Respondendo ao nosso convite para se juntar a nós nesta Tabanca Grande, o Camarada Fernando de Sousa Henriques ex-Alf Mil OpEsp / RANGER na CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883 (Canquelifá, 1972/74), enviou-nos as habituais fotos e um convite para o lançamento do seu próximo livro.

Nascido em Estarreja (Aveiro) em 1949, formou-se em Química e em Electrotecnia, na cidade do Porto e foi professor, tendo, posteriormente, passado por Empresas como a Mobil Oil Portuguesa e os CTT, até se fixar como Assessor, na Administração Portuária. Ainda hoje mantém a sua actividade de Engenheiro.
Na CCAÇ 3545 foi adjunto do Comandante de Companhia, tendo partido em Março de 1972 rumo à Guiné e regressado em Julho de 1974.
Em 1973 comandou uma Companhia de Instrução de Milícias em Bambadinca, por escolha do Comandante de Batalhão, do Major de Operações e do seu Capitão, de quem era adjunto (selecção esta resultante da sua especialidade - Operações Especiais / Ranger).

2. Convite
O Fernando Henriques aproveita esta sua apresentação, para nos convidar para estarmos presentes no lançamento de um novo Livro com o título: “Picadas e caminhos da vida na Guiné”, que irá ter lugar pelas 18h00, do próximo dia 20 de Maio (6ª feira) no Museu Militar do Porto, sito à Rua do Heroísmo, nº 329 – Porto, pedindo-nos também para que façamos o favor de divulgar este evento, não só junto das nossas rodas de amigos, como ainda junto dos nossos Camaradas e de outras Entidades e Organizações com que nos relacionemos.


3. Sobre o lançamento livro teceu-nos as seguintes considerações:
Foi o Coronel Castro Neves, Capitão em Canquelifá e Comandante da Companhia que fomos render, que me escreveu o Prefácio do Livro. Ele vem de propósito de Lisboa para estar naquela Cerimónia.
O mesmo acontece com o Coronel Raul Folques dos Comandos Africanos que irá fazer a apresentação do Livro e que foi o Homem que me “safou”, em Março de1974, dos ataques e do cerco que as forças do PAIGC (comandadas, ali no Leste e na altura, pelo Nino Vieira e pelo Ansumane Mané) lançaram e montaram ao meu aquartelamento.
Penso que não podia ter escolhido nem outras, nem melhores pessoas, para colaborarem comigo. Mostraram-se sempre prontas e disponíveis.
4. Sobre o conteúdo do livro resumiu assim:
É um relato de viagem rocambolesca de retorno a um País – Guiné (Bissau) – passados que foram mais de 36 anos. Paralelamente, procura relembrar as vivências doutros tempos difíceis e “sofridos” em que, em nome do Dever, se combatia e sofria.
Utilizando a terminologia e o calão da altura, descreve a viagem de um pequeno grupo que pretendia revisitar os locais onde cada um dos seus elementos tinha estado em tempo de Guerra.
Interessante o conjunto de situações e de coincidências que acabam por ter lugar naquele longo e intenso deambular por Terras do Fim do Mundo e onde foram recebidos calorosamente pelas suas Gentes. Já não há lugar para ódios ou racismo, mas sim para um apertar de mãos, como irmãos.
Foi assim o encontro com antigos Combatentes, ainda vivos, independentemente do lado por que tinham combatido, que acabava invariavelmente em fortes e fraternos abraços.
Percorrendo as, outrora tão amadas como temidas, Picadas, refere continuamente pessoas a precisarem urgentemente de ajuda para ultrapassarem as condições de apenas sobrevivência em que vivem, à margem do Mundo – aquele mesmo onde se apregoa a solidariedade e a amizade entre as Pessoas e os Povos.
5. Outras Obras Publicadas pelo Henriques:
- Um Icebergue chamado 25 de Abril
- No Ocaso da Guerra do Ultramar
- Nandinho - Os primeiros 6 anos dos últimos 60… (Conto infantil)
6. Outro elemento do BCAÇ 3883 entre nós:
2. O Fernando Henriques vem juntar-se ao nosso Camarada tertuliano Jacinto Cristina, do mesmo batalhão, que formou fileiras aqui em 24 de Março de 2010 e que, sendo Soldado Atirador, passou a Padeiro da sua companhia, a CCAÇ 3546 (Piche e Caium).
3. Amigo RANGER Henriques, como é habitual cabe-me a mim oferecer-te aqui, em nome do Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote, demais Camaradas tertulianos desta Tabanca Grande, os nossos melhores votos de boas-vindas e transmitir-te que ficamos a aguardar que nos contes alguns episódios da tua estadia na Guiné, que ainda recordes (dos locais, das pessoas, seus hábitos e costumes, dos combates, dos convívios, etc.) e, se tiveres mais fotografias daquele tempo, que nos as envies, para as publicarmos.

Recebe pois o nosso virtual abraço colectivo de boas vindas.
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Notas de M.R.:
Vd. Também sobre a literatura Fernando os seguintes postes:
Vd. último poste desta série em:

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7742: O Nosso Livro de Visitas (106): José Fernando Estima, natural de Águeda, ex-Fur Mil, CCAÇ 3546/BCAÇ 3883, Piche, Cambor (1972/74)


Guiné > Zona Leste > Carta de Piche (1957) > Escala 1/50000 > Pormenor da posição relativa de Piche, Cambor (na estrada Piche-Canquelifá) e Ponte Caium (na estrada Piche-Buruntuma)...


Telefonou-me há dias o José Fernando Estima, morador em Espinhel, Rua Cabo do Lugar, nº 140, 3750 Águeda.


Foi Furriel Miliciano da CCAÇ 3546/BCAÇ 3883, a mesma subunidade do Jacinto Cristina e do Carlos Alexandre, dois bravos da Ponte de Caium. Pertencia ao 2º Gr Comb. Esteve em Piche, em Camajabá e em Cambor, a norte de Piche, na estrada para Canquelifá: no destacamento de Cambor passou mais de um ano, enquanto o 3º Gr Comb estava na Ponte Caium (havia um outro grupo em Buruntuma). Fiquei com a ideia de que também terá estado em Canquelifá...

Desse tempo lembra-se do Cap Cristo (Cap Mil Inf Fernando Peixinho de Cristo, comandante da CCAÇ 3545, sediada em Canquelifá)… Lembra-se de passar pela Ponte Caium… (Falámos do monumento, desenhado pelo Carlos Alexandre e construído pela malta do 3º Gr Comb, os "Fantasmas do leste"...mas não tenho a certeza de ele ter uma ideia precisa desse monummento)...


Lembra-se do Cristina… E lembra-se de ter voltado ao Xime (a 1ª vez, desembarcou lá, vindo de LGD, de Bissau, em Março de 1972)… Da segunda vez, lembra-se de ter encontrado um 1º cabo da sua terra, que levava 11 urnas para Bissau… (Este episódio deve ter ocorrido em Abril de 1972, e deve estar relacionado com a emboscada no Quirafo, de 17 de Abril de 1972)... Lembra-se de ter feito a viagem de regresso, com os seus camaradas, desarmados, à civil, de Piche ao Xime (ou a Lamego ?), com "segurança" do PAIGC ao longo da estrada...

O nosso camarada Estima trabalha em Aguada de Cima, Águeda, mesmo junto ao Restaurante Vidal, um dos restaurantes de referência dos apreciadores de leitão (Dizem que serviu em 1996 três leitões para um banquete da Rainha Isabel II)… Não conhece o Paulo Santiago, em contrapartida é amigo (ou conhecido) do Victor Tavares, nosso camarigo, ex-1º Cabo pára-quedista da CCP 121/BCP 12 (Bissalanca, BA 12, 1972/74).

O Estima pediu a sua entrada formal na nossa Tabanca Grande. Ficou de pedir ajuda,  a um dos seus filhos ou filhas,   para digitalizar fotos do seu álbum. Pediu-me para mandar um abraço à malta da sua companhia e do seu batalhão, extensivo a toda a Tabanca Grande.

Recorde-se aqui o historial da CCAÇ 3546/BCAÇ 3883:

(i) O BCAÇ 3883 foi mobilizado pelo RI 2, tendo partido para a Guiné, de avião, em Março de 1972 ( o comando e a CCS em 19/3/1972; a CCAÇ 3544, a 20; a CCAÇ 3545, a 22; e a CCAÇ 3546 a 23); (ii) A CSS ficou sediada em Piche; (iii) O comandante era o Ten Cor Inf Manuel António Dantas; (iv)  O comandante da CCAÇ 3546 (Piche, Cambor, Ponte Caium e Camajabá) era o Cap QEO José Carlos Duarte Ferreira; (v) As outras companhias do BCAÇ 3883 eram a CCAÇ 3544 (Buruntuma e Piche; teve dois comandantes: Cap Mil Inf Luís Manuel Teixeira Neves de Carvalho; Cap Mil Inf José Carlos Guerra Nunes) e a CCAÇ 3545 (Canquelifá e Piche; comandante, Cap Mil Inf Fernando Peixinho de Cristo);   (vi) O batalhão regressou a casa, de avião, em Junho de 1974.
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Nota de L.G.:

Último poste da série > 2 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7709: O Nosso Livro de Visitas (105): José Figueiral, ex-Alf Mil da CCAÇ 6 (Bedanda)

domingo, 26 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P7039: Álbum fotográfico de Jacinto Cristina, o padeiro da Ponte Caium, 3º Gr Comb da CCAÇ 3546, 1972/74 (3): De facto, Eduardo, nem só de pão vive o homem...

. 


1. Estive ontem com o Jacinto, a sua esposa Maria Goretti, a sua filha Cristina, o seu genro Rui Silva e a sua neta...numa tarde agradabilíssima, partilhando memórias e emoções... O dia acabou com um arroz de lebre que poria a salivar, senão um regimento, pelo menos o estado-maior...


Tenho cada vez mais admiração por este homem, o Cristina (como era conhecido na sua companhia, a CCAÇ 3546) que foi para a Guiné, casado, pai de uma filha de três anos, e que mal sabia ler e escrever... Que a vida foi-lhe madrasta e a sua meninice acabou cedo: aos onze anos já trabalhava no duro, para o "pai e patrão"  (ainda vivo, com 89 anos)...

Foi a Goretti que foi a sua professora, em casa e no monte, no meio do gado que ele guardava, ainda antes do tempo da recruta (que ele fez em Viseu, no RI 14, vd. foto ao lado, à direita), ensinando-lhe as letras suficientes para ele ler os aerogramas e as cartas, sofridas e apaixonadas, que ela lhe mandaria depois, de Figueira de Cavaleiros,  para o Ultramar (para onde quer que ele fosse, Angola, Guiné  ou Moçambique), e para de volta ele lhe contar,  a ela (e só a ela),  os seus segredos e sofrimentos, sem necessidade de partilhar a sua vida íntima com mais ninguém (e nomeadamente os camaradas que tinham andado da escola)... 

É uma grande lição de amor!!! E foi a mesma Goretti, a Maria Goretti, quem o incentivou, dez anos depois de regressar da Guiné, a meter-se no negócio do pão: afinal, ele tinha sido o melhor padeiro do leste... Por que é que não haveria de  montar a sua empresa, em vez de andar à jorna ?!

Continuação da  publicação do álbum  fotográfico de Jacinto Cristina (Sold At Inf, CCAÇ 3546, 1972/74) (*).











Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Ponte Caium > Dois monumentos de homeagem aos bravos de Caium, construídos presumivelmente em 1975: (i) Memorial aos mortos da CCAÇ 3546 (1972/74): "Honra e Glória: Fur Mil Cardoso, 1º Cabo Torrão, Sold Gonçalves, Fernandes, Santos, Sold AP Dani Silva. 3º Gr Comb,  Fantasmas e Lestos (?). Guiné- 72/74"; (ii) "Nem só de pão vive o home. Guiné, 1972-1974".


Recorde-se o trajecto do Jacinto Cristina e dos seus camaradas: 

(i) o Cristina fez a recruta no RI 14, em Viseu, e a especialidade no RI 2, Abrantes; 

(ii) foi mibilizado para a Guiné, como Sold At Inf, da CCAÇ 3546; 

(iii) esta subunidade  pertencia ao BCAÇ 3883, mobilizado pelo RI 2; 

(iv) a CSS estava sediada em Piche; 

(v) o comandante era o Ten Cor Inf Manuel António Dantas; 

(vi)  o comandante da CCAÇ 3546 era o Cap QEO José Carlos Duarte Ferreira; 

(vii) as outras companhias do BCAÇ 3883 era a CCAÇ 3544 (Buruntuma e Piche; teve dois comandantes: Cap Mil Inf Luís Manuel Teixeira Neves de Carvalho; Cap Mil Inf José Carlos Guerra Nunes) e a CCAÇ 3445 (Canquelifá e Piche; comandante, Cap Mil Inf Fernando Peixinho de Cristo);

 (viii) estas quatro subunidades partiram para a Guiné de avião, o comando e a CCS/BCAÇ 3883, em 19/3/1972; a CCAÇ 3544, a 20; a CCAÇ 3545, a 22; e a CCAÇ 3546 a 23; 

(ix) Regressaram a casa, de avião, em Junho de 1974.


Fotos: © Eduardo Campos (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.



O mais espantoso foi que, quando eu cheguei lá a casa, em Figueira de Cavaleiros, por volta das 16h de ontem, sábado, e lhe dei as duas fotos do Eduardo Campos, o Jacinto comentou, logo de rajada:
- Mas é o mê forno!...

Há dois monumentos que se conservam na ponte de Caium, mandados erigir por alguém da CCAÇ 3546 que terá sido empresário na Guiné-Bissau, depois da independência... O Jacinto diz que poderá ser um ex-furriel do 1º Gr Comb. Um desses monumentos é uma simples base de pedra, encimada pelo forno de Caium, que pura e simplesmente terá sido cirurgicamente "removido" e "trasladado" do sítio onde estava originalmente... E nessa pedra pode ler-se a melhor homenagem que alguém poderia  fazer aos heróis de Caium: "Nem só de pão vive o homem. 72-74"...

O Cristrina agradece, emocionado, ao Eduardo  Campos as fotos que ele lhe mandou, bem como ao "mais velho" Luís Borrega, pelos comentários que deixou no blogue...






Ferreira do Alentejo > Figueira de Cavaleiros > 25 de Setembro de 2010 > Jantar em casa do Jacinto Cristina (aqui à esquerda, seguido da sua filha Cristrina, do seu genro, o médico Rui Silva, meu ex-aluno e grande amigo, e eu próprio, brindando aos nossos felizes encontros).



Ferreira do Alentejo > Figueira de Cavaleiros > 25 de Setembro de 2010 > Jantar em casa do Jacinto (aqui ao lado da esposa, Maria Goretti; em segundo plano, a filha única do casal, Cristina, que tinha 3 anos quando o pai foi mobilizado para a Guiné, em 1972, e que rezava todos os dias por ele...




Ferreira do Alentejo > Figueira de Cavaleiros > 25 de Setembro de 2010 > Jantar em casa do Jacinto  > O famoso arroz de lebre à moda da Maria Goretti... (Só falta o gosto e o cheiro, para completar a foto).




Ferreira do Alentejo > Figueira de Cavaleiros > 25 de Setembro de 2010 > Jantar em casa do Jacinto   > Até à última gota de... uísque. Buchanan's, from Scotland, for the Portuguese Armed Forces... with love... Esta foi comprada em Bissau, em Junho de 1974, e aberta no nosso primeiro encontro, na festa de anos da Cristina, em Março passado.


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2010).  Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].





Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Destacamento da  Ponte do Rio Caium > Da direita para a esquerda: Jacinto, Alexandre (Trms, natural de Peniche), Rocha (condutor, algarvio) e Santiago (1º cabo, atirador, estavana na cantina, onde havia uma arca a petróleo, pelo que, apesar de tudo, não faltava a cerveja, a coca-cola e a  fanta, estupidamente geladinhos)... Na ponte, estava o 3º Gr Combate (c. 30 elementos).




Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Destacamento da  Ponte do Rio Caium, 3º Gr Comb, 1973/74 > O "campo da bola",  no lado esquerdo da ponte, no sentido Piche/Buruntuma... Um bocado da lala que circundava as margens do Rio Caium...




Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Destacamento da  Ponte do Rio Caium, 3º Gr Comb, 1973/74 > Da esquerda para a direita, quatro bons amigos: JacintoCristina, Rocha, Sobral (amigalhaço do Jacinto, hoje residente no Cercal do Alentejo, Santiago do Cacém) e um quarto camarada que o Jacinto não conseguiu identificar (seria alguém de rendição inidvidual, proveniente de outra companhia)... 

Estão vestidos, dois, "para a fotografia"... Da ponte não se podia ir a lado nenhum, por razões de segurança: afinal, estava-se a escassos quilómetros da fronteira com a Guiné-Conacri onde o PAIGC gozava de total liberdade de movimentos; por outro lado, verdadeiramente não havia onde ir ... A sul da ponte do Rio Caium corria o Rio Coli, que servia de fronteira, e de que o Caium era um afluente... A nordeste da ponte, havia uma aldeia fula, a cerca de 3 quilómetros... Ele não se lembra do nome: pela carta de Piche, verifica-se haver (pelo menos antes da guerra) duas tabancas a nordeste da ponte: uma mais próxima, Temanco (Malã Dalassi): e outra mais acima, Sinchã Mádi Maudô.

O Jacinto nunca lá foi a Temanco (julgo que seja esta a tabanca em causa), sobretudo depois de um conflito, na ponte, com uma lavadeira e, por tabela, com o régulo, conflito esse que deu origem a um processo disciplinar, que foi "limpo" com a chegada do novo Governador Geral e Com-Chefe, em meados de 1973, o Bettencourt Rodrigues... (A solução salomónica a que se chegou foi: a lavadeira pagou 250 pesos por uns calções de banho que levaram sumiço (e que nem eram dele,era de um furriel); ele, Cristina, teve que pagar 200 pesos por um brinco da lavadeira, que ele partiu ou amolgou...).

O Jacinto e o Sobral tinham uma máquina fotográfica comprada a meias (...por 500 escudos, em 2ª mão, a um rapaz de Grândola, da companhia de Canquelifá)... O tenente (dos serviços gerais) de Piche, da CCS do batalhão, é que revelava as fotos... O Jacinto e o Sobral revendiam-nas, salvo erro,  a três escudos por foto ("metade era lucro", confessa)... Maduro e responsável, com mulher e filha na Metrópole à espera dele, o Cristina não era homem para gostar o pré, logo no primeiro dia, em bebedeiras de cerveja... "Andava sempre com um conto no bolso", mas sabia gastar com conta, peso e medida...



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > Destacamento da Ponte de Caium > O Alexandre e o Jacinto...


fotos: © Jacinto Cristina (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


[Fotos digitalizadas, editadas e legendadas por L.G.]

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Nota de L.G.:

(*) Último poste da série > 25 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7036: Álbum fotográfico de Jacinto Cristina, o padeiro da Ponte Caium, 3º Gr Comb da CCAÇ 3546, 1972/74 (2): Os tempos livres de um caiumense...

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6382: (Ex)citações (71): Djaló, o teu irmão Braima morreu (Do Comandante do BCAÇ 3883, para o Alf Comando Graduado Amadu Djaló, em 25 de Setembro de 1973)


Senegal > Dacar > 1998 > Amadu Djaló, com a sua filha Ana Djaló, que vive em Londres (*)

Foto: © Amadu Djaló  (2010). Direitos reservados


Do livro de Amadú Bailo Djaló, Guineense, comando, português: 1º volume, comandos africanos, 1964-1974. Lisboa: Associação de Comandos, 2010, pp. 264/265 (**):

O Braima, meu irmão mais novo, frequentou o curso de Comandos de 1972, em Fá Mandinga. Estivemos juntos nos Comandos quase perto de um ano. Uma vez, íamos efectuar um assalto com helicópteros a oeste de Madina do Boé. O assalto era para ser desencadeado depois do bombardeamento da aviação. Quando era assim tínhamos que sair dos helicópteros com o dedo no gatilho.


Calhou o meu irmão ir no meu grupo e, quando chegámos à BA 12, eu só tinha olhos para o meu irmão. Cada vez que levantava a cara, só o via a ele. Então pedi ao Capitão Folques para mandar o meu irmão para outro grupo, para que fosse numa situação menos perigosa. O capitão aceitou o pedido e trocou-o.

Realizámos o assalto sem problemas do nosso lado. O bombardeamento causou vítimas ao PAIGC, apoderámo-nos de vários materiais e regressámos a Bissau, de helicóptero também.

Depois, em 5 de Junho de 1973, eu e mais oito oficiais fomos transferidos para a CCAÇ 21. A nossa companhia ficou com sede em Bambadinca[] e passámos a actuar na zona leste.

Em Setembro estávamos em Piche. A coluna regressava nesse dia [, 25 de Setembro de 1973] , vinha trazer géneros. Eu estava sentado no posto da administração, a conversar com os funcionários, quando chegou um soldado europeu.
- Meu alferes, o nosso Tenente-Coronel mandou-o chamar.

No caminho, o militar perguntou-me se eu tinha algum irmão nos Comandos.
- Sim, tenho – Respondi.
- Morreu! Mas o meu alferes não diga nada ao nosso Tenente Coronel. [Ten Cor Inf Manuel António Danas, Comandante do BCAÇ 3883].

Fiquei sem ter nada para dizer- Quando chegueui à sala de operações, o Tenente-Coronel disse-me

- Djaló, o teu irmão morreu. A coluna já partiu para Bambadinca, mas tens aí uma viatura para te levar e, depois, a viatura regressa com a coluna.

Não esperei mais nada. Tomei lugar no carro, rumo a Bafatá. Quando cheguei a minha casa, encontrei lá muita gente. O condutor parou. Dei-lhe dinheiro para almoçar no restaurante e disse-lhe que aguardasse ao pé da estrada,pela coluna de regresso.

O meu irmão Braima Djaló morreu na Cobiana (#), numa operação da 3ª CComandos. Nesse dia perdi o meu irmão mai amigo. (pp. 264/265)
_ __________

(#) Segundo nota do editor (Virgínio Briote) (p. 265), foi no decurso da Op Gema Opalina, na região de Cobiana, de 24 a 27 de Setembro de 1973. Um dos agrupamentos, com 40 homens, depois de helitransportado para a zona, caiu numa forte emboscada montada da mata para o tarrafo. As NT sofreram 3 mortos (Fur Quintino Rodrigues e Sold Lama Djaló e Braima Djaló) e 7 desaparecidos (Tem Jalibá Gomes, 1º Cabo Albino Tuna e Sold Ali Jamanca, Braima Turé, Vicente Djata, Demba Só e Eusébio Fodé Bamba). Destes desaparecidos soube-se, dias depois, que 4 tinham sido aprisionados pelo PAIGC, incluindo o Ten Jalibá Gomes que foi levado para Conacri, passando a partir de então a colaborar com o PAIGC até à independência. Com os vencimentos atrasados que o Exército lhe pagou, comprou depois um táxi. Morreu em Bissau, de acidente com o táxi, que se incendiou.

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Notas de L.G.:

(*)   Vd. postes de:



(**)  Vd. poste de:

quarta-feira, 24 de março de 2010

Guiné 64/74 - P6042: Tabanca Grande (209 ): Jacinto Cristina, natural de Ferreira do Alentejo, CCAÇ 3546 (Piche e Caium, 1972/74): Foi soldado atirador, mas a guerra fê-lo padeiro...


Guiné > Zona Leste > Piche > Destacamento de Caium &gt CCAÇ 3546 (Piche e Camajabá, 1972 / 1973) > Foto de de meados de 1972 (*). O destacamento ficava na estrada que ligava Piche a Buruntuma. Foi nesta foto que se reconheceu,, por mero acaso, o Sold Jacinto António Grilo Cristina, natural de Figueira de Cavaleiros, Ferreira do Alentejo, pai de uma amiga minha...

Não imaginam a alegria dele quando eu, ao abrir o portátil e pesquisar no blogue postes sobre Piche e Caium, deparei com esta foto que nos foi enviada pelo Henrique Castro (e depois com a foto da ponte, da autoria do Luís Borrega, que o antecedeu em Piche e em Caium)... O Jacinto, com olho de lince, disparou logo:
- Mas este sou eu!

A minha amiga Cristina fazia anos, veio de propósito da Madeira com o marido para estar com os pais (é filha única), e convidou-nos, a mim e à Alice, para ir jantar à casa paterna nesse dia,  9 de Janeiro transacto... Há dias perfeitos: esse foi porventura um deles... A felicidade do Jacinto e da esposa era notória (devido à presença da filha, do genro, da neta e dos amigos de Lisboa)... Além o jantar foi uma delícia (estão a imaginar um borreguinho assado no forno do padeiro, com as ervinhas especiais do Alentejo, e acompanhado com um fabuloso tinto da região, sem falar do pão, do queixo e das azeitonas da nossa perdição!)... A nossa amiga  mais emocionada ficou ao ver, com a lágrimazinha ao conto do olho, o pai ao recuar, assim, 40 anos na sua vida e voltar de novo a  Caium, ao destacamento de Caium, onde penou 14 meses da sua vida, num total de 27 meses de comissão na Guiné!...

Dias mais tarde, a nossa amiga Cristina confidenciou-nos:
- Amigos, foi o aniversário mais feliz da minha vida!- E prometi-lhe que ia pôr o Jacinto (que eu conheci pela primeira nessa noite) em título de caixa alta no nosso blogue, logo que ela me mandasse duas ou três fotos do Jacinto em Piche e em Caium... Há dias ela cumpri a sua parte, no nosso acordo,  e eu agora estou a cumprir a minha...

Bom, e é caso para se voltar a dizer que o mundo é pequeno e o nosso blogue é ... grande! (É uma força de expressão, não levem à letra, nem me julguem mal).

Na foto acima, o Jacinto é o militar que está no meio, sentado no banco de detrás do Unimog. Tinha chegado a  Piche há poucos meses...(Partida para a Guiné em 23/3/1972; regressso, 27 meses depois, em 23/6/1974).

Foto: © Henrique Martins de Castro (2008). Direitos reservados



Guiné > Zona leste > Piche > Destacamento da ponte de Rio Caium visto da margem direita do Rio Caium. Foi aqui que o sold Jacinto Catarino viu morrer, à sua frente, o furriel da sua secção, numa armadilha montada pelas nossas próprias tropas... [ Fur Mil Op Esp Amândio de Morais Cardoso, natural de Valpaços, morto em acidente, em Piche, a 19 de Fevereiro de 1973, rezarão as crónicas...].

"Passei um ano em Piche, e o resto do tempo,  14 meses,  em Caium. As nossas instalações eram uns bidões cheios de areia, uns em cima dos outros, com um chapa de zinco por cima.  Todas as noites o furriel fazia uma armadilha com uma granada de mão junto do rio. Dava um jeio à cavilha de modo a ela soltar-se facilmente se alguém ou um animal tropeçasse no fio. Podia ser uma gazela que ia ao rio beber água ou podia ser um turra. Tantas vezes a bilha foi à fonte que partiu-se"...

O Cristina assistiu, horrorizado, à morte imediata do furriel (de que já não se lembra o nome) bem como de um camarada que ficou gravemente ferido, cego de um olho, e que foi helievacuado. Nunca mais teve notícias dele. Isto terá sido em 1973, em data que ele já não pode precisar. O pelotão não tinha alferes.

Em Caium, o Cristina entretinha-se a fazer o pão. "Ajeitou-se, quando era mais moço via a mãe amassar a massa  e a enfornar"... Aliás, a sua profissão hoje é padeiro. Faz o o melhor pão de Figueira de Cavaleiros. Trabalha de noite para que os seus clientes tenham o pão fresquinho e saboroso pela manhã. Posso-vos jurar que é uma maravilha de pão. Dorme de tarde até às oito. É um homem disciplinado e trabalhador. Antes da tropa, foi assalariado agrícola. Casou para se tornar independente da casa do pai, como qualquer jovem alentejano do seu tempo.  Antes de ir para a Guiné, já tinha a seu cargo mulher e filha. Tem muito orgulho em ter-lhe dado, à filha,  o curso de engenheira. Conhecemo-nos há largos anos, quando ela casou com um amigo meu, médico, o Dr.Rui Silva.

Foto:  © Luís Borrega (2009). Direitos reservados




Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ3546 (Piche e Camajabá, 1972 / 1974) > Em primeiro plano, o Cristina; atrás, a meio, o Charlot, do seu grupo de combate, o 3º pelotão. O Charlot morreu em combate. 

O Cristina fez a recruta no RI 14, em Viseu, e especialidade no RI 2, Abrantes. A CCAÇ 3546 pertencia ao BCAÇ 3883, mobilizado pelo RI 2. A CSS estava sedeada em Piche. O comandante era o Ten Cor Inf Manuel António Dantas.  O comandante da CCAÇ 3546 era o Cap QEO José Carlos Duarte Ferreira (o Cristina já não se lembrava do nome).

As outras companhias do BCAÇ 3883 era a CCAÇ 3544 (Buruntuma e Piche; teve dois comandantes: Cap Mil Inf Luís Manuel Teixeira Neves de Carvalho; Cap Mil Inf José Carlos Guerra Nunes) e a CCAÇ 3445 (Canquelifá e Piche; comandante, Cap Mil Inf Fernando Peixinho de Cristo).

Pela informação de dispomos, estas quatro subunidades partiram para a Guiné, possivelmente de avião, com um dia de diferença: o comando e a CCS/BCAÇ 3883, em 19/3/1972; a CCAÇ 3544, a 20; a CCAÇ 3545, a 22; e a CCAÇ 3546 a 23.



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ3546 (Piche e Camajabá, 1972 / 1974) >  Destacamento da Ponte Caium > Da esquerda para a direita: O 1º Cabo Pinto, e os soldados Ramos, Cristina (segurando granadas de morteiro 60), o Wolkswagen, o Fernando, de pé (outro que morreu em combate) e o Silva (que percorreu 18 km com um tiro no pé!)...

Em data que o Cristina já não pode precisar, a sua companhia sofreu uma violenta emboscada, entre Piche e Buruntuma, montada por um grupo "estimado em 400" elementos IN (ou "turras, como a gente lhe chamava")...Um RPG 7 atingiu a viatura da frente da coluna, que ia relativamente distanciada do grosso da coluna, e que explodiu...Houve de imediato 4 mortos: O Charlot e o Fernando foram  dois deles... Dos outros dois o Cristina já não se lembra.

Com as granadas de mão dos mortos, o Wolkswagen conseguiu aguentar o ímpeto da emboscada, mas chegou a ter uma Kalash apontada à cabeça... Ninguém sabe como ele  se safou... O Silva por sua vez levo um tiro no pé, fugiu, e mesmo ferido fez 18 km até ao aquartelamento...

Tempos bem duros que o Cristina recorda com emoção... Não é muito dado a convívios, e além disso é homem de fracas letras. Quem lhe vai emprestar o endereço de email é a filha Cristina (nome próprio)... Mas aqui fica o telemóvel para algum camarada do seu tempo de Piche e de Caium o poder contactar (sempre de manhã): 964 346 202.

 Prometi-lhe, a ele e à filha,  que o poria na galeria da nossa Tabanca Grande. Em contrapartida, ele prometeu-me contar-me mais histórias do soldado que a guerra obrigou a fazer-se padeiro...(Além de padeiro, era o municiador - e às vezes  apontador - do morteiro 81, no destacamento de Caium; é outra história que ele tem para nos contar...).



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ3546 (Piche e Camajabá, 1972 / 1974) > O Cristina abrindo valas em meados de 1973




Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ3546 (Piche e Camajabá, 1972 / 1974) > O 3º pelotão... O Cristina é o terceiro da primeira fila, a contar da esquerda para a direita...

Fotos: © Jacinto Cristina (2010). Direitos reservados

____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 30 de Setembro de 2008  > Guiné 63/74 - P3252: Tabanca Grande (90): Henrique Martins de Castro, ex-Sold Cond Auto da CART 3521 (Piche, Bafatá e Safim, 1971/74)

(...) Já em Piche, a malta da Companhia fazia colunas a Canquelifá, Buruntuma, Nova Lamego, Bambadinca, Bafatá, Galomaro, etc., operações, patrulhas e psíco - que,  para quem não sabe, era dar um certo apoio e levar medicamentos (mesinho).

Estivemos em Piche mais ou menos até Agosto de 1972, só o primeiro Gr Comb ficou em Piche adido ao BCAÇ 3883. A Companhia seguiu para Bafatá com o segundo, terceiro e quarto Gr Comb.

A Companhia ficou com terceiro e quarto Gr Comb adidos ao BCAÇ 3884 em Bafatá, o segundo foi reforçar para Galomaro o BCAÇ 3872. (...)


(**) 27 de Abril de 2009> Guiné 63/74 - P4252: Os Bu...rakos em que vivemos (7): Destacamento de Rio Caium (Luís Borrega)

(...) Era uma ponte estreita em pedra e cimento com 59 metros de comprimento sobre o Rio Caium, na estrada Piche – Buruntuma. Estava situada a 17,5 km de Piche, a 3,5 Km do Destacamento de Camajabá (pertença da CCav 2747,  sediada em Buruntuma) e a l8,5 Kms de Buruntuma.



O aquartelamento estava instalado no tabuleiro da ponte. Dois abrigos à entrada e dois abrigos à saída. Estes eram feitos de bidões de gasóleo de 200 litros, cheios de terra, uns em cima dos outros, cobertos com troncos e cimento por cima. Ao meio do tabuleiro a cozinha, o depósito de géneros e o refeitório. Eram uns barracos, cujo telhado eram chapas de zinco. Havia ainda um nicho com uma santa e do lado esquerdo (sentido Buruntuma) estava o forno.


Como armamento pesado tínhamos um Canhão sem recuo montado num jeep e um morteiro 81 mm num espaldão apropriado. O restante do armamento era HK21 e RPG 7,  apreendidos ao IN. Dilagramas, morteiro de 60 mm e G3 distribuídas pelo Grupo de Combate.


Para nos reabastecermos de água (para beber, cozinha e banhos) tínhamos que nos deslocar a 2 km do aquartelamento, a um poço cavado no chão, com um Unimog a rebocar um atrelado carregado com barris de vinho (50 litros) vazios, que eram cheios com latas de dobrada liofilizada, adaptadas para o efeito.


Como era de difícil solução a localização de um heliporto, foi decidido superiormente, manter sobre a estrada, uma superfície regada com óleo queimado, para a aterragem de helicópteros.


Como se pode imaginar, nas horas de lazer o tempo era preenchido a jogar cartas, ler, escrever à família. Quase todos os dias tínhamos saída à agua, patrulhamento às áreas em redor, etc.


Os dias e as noites eram passados nos limites do espaço, do tempo, na expectativa dum ataque – e quando este começasse, já estaríamos cercados por todos os lados, porque ali não havia milícias, nem tabanca, nem pista de aviação ou possibilidade de retirada (só saltando o parapeito da ponte e atirarmo-nos ao rio uns bons metros mais abaixo).


A desvantagem da área diminuta tinha contrapartidas benéficas: era mais difícil ao PAIGC acertar com os morteiros e a nossa artilharia tinha mais à vontade nos tiros de retaliação, nos limites do alcance das peças de 11,4 instaladas em Piche. (...)

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4811: Informações adicionais ao Poste 4800 (Hélder Sousa)

Hélder Valério (*), ex-Fur Mil de Transmissões TSF, Piche e Bissau, 1970/72, deixou este comentário no poste "Guiné 63/74 - P4800: Em busca de... (85) O Fiat do..." (**):

Caros amigos e camaradas, em particular o José Rocha, das Transmissões do BART 2875 de Piche.
Não sou a pessoa mais indicada para responder às dúvidas que ele apresenta e mesmo um ou outro aspecto não entendo bem.
No entanto vou tentar alinhar algumas informações/respostas que podem ajudar.

Na área onde o José Rocha esteve, Piche, já pudemos ler aqui no Blogue que a organização territorial mudou à medida da evolução do esforço de guerra e das suas vicissitudes. Não indo mais atrás no tempo, temos que o BART 2857, esteve na zona de 68 a 70, sendo depois substituído de 70 a 72 pelo BCAV 2922, o qual, por sua vez foi substituído pelo BCAÇ 3883. Os dois últimos Batalhões tinham como área, para além da "sede", Piche, Companhias colocadas em Buruntuma e Canquelifá e seus Destacamentos, sendo que o do José Rocha também tinha inicialmente Bajocunda, salvo erro.

Também se fala muito de Copá, que pertencia organizacionalmente a Pirada, mas que, segundo o livro/relato da história da CCAÇ 3545 feito e publicado por Fernando Sousa Henriques, Alf Mil Op Esp daquela Unidade, como ficava no limite da sua área de intervenção, era algumas vezes apoiada por eles.

Sobre os "comentários sobre Canquelifá de 72/74 feito por pessoas que nunca lá puseram os pés", não sei bem a que é que o José Rocha se refere, mas é realmente verdade que há um P1216 (***) de António Santos, das Transmissões do Pelotão de Morteiros 4574/72 que na época estava adstrito ao Batalhão sediado em Nova Lamego e que diz: "Copá foi extinto em 14 de Fevereiro de 1974, após violentas flagelações, Mareué idem em 11 de Março de 1974, mas o aquartelamento mais sacrificado foi o de Canquelifá, que sofreu flagelações a toda a hora. Neste caso a arma mais utilizada foi o morteiro 120, e houve abrigos que não resistiram.

A 20 de Março de 1974, entrou em cena o Batalhão de Comandos Africanos, com as três Companhias que dele faziam parte integrante. Saíram de Nova Lamego em coluna composta por viaturas militares e civis e dirigiram-se para o local. A operação durou 3 dias, de 21 a 23 de Março 1974. Segundo os canhenhos militares, capturaram 3 Morteiros 120, 1 RPG, 2 espingardas, 367 granadas de Morteiro e deixaram 26 mortos do lado IN (do nosso lado nada dizem)...

Mas cá o rapaz, no dia 22 [de Março de 1974], como não fazia nada, e porque o condutor da ambulância era do meu pelotão e foi chamado à pista, eu fui com ele. Chegados ao local, era um vaivém de helicópteros que traziam mortos e feridos. Eu dei uma mãozinha para pegar nas macas. Retirava dos helis e, segundo instruções do médico, ora pousava na pista (estava morto), ora colocava num Dakota que estava logo ali (estava muito ferido)... Vi pernas destroçadas por estilhaços de não sei de quê!"

Calculo que a referência aos tais "comentários sobre Canquelifá por pessoas que nunca lá puseram os pés" seja, de facto, retativa ao que o António Santos relata, mas fico sem saber se o que o José Rocha pretende é algum tipo de esclarecimento sobre o que o António Santos diz, por se estar a falar dum local que em tempos anteriores tinha pertencido à área de acção do Batalhão do José Rocha e ele, José Rocha, não ter tido conhecimento (o que o A. Santos refere é passado em Março de 74...) ou porque a "coisa" lhe parece "mal contada".

Nessa época eu também já não estava na Guiné, por isso só posso "ajudar" relatando o que a propósito está no tal livro com a história da CCAÇ 3545, Companhia que estava em Canquelifá, e que diz, para esse dia:
"A 22 de Março, pelas 08H30, um grupo IN, estimado em mais de 200 elementos, emboscou uma coluna constituída por duas Chaimites, uma White, três Berliet e quatro Unimog, no itinerário Piche-Nova Lamego, na região de Bentem, causando às NT 6 mortos, 15 feridos graves e 3 feridos ligeiros, que se discriminam a seguir".

No livro referido ("No Ocaso da Guerra do Ultramar", de Fernando de Sousa Henriques) apresentam-se então os nomes dos vitimados, que foram:

- mortos:
Fur. Manuel Joaquim Sá Soares, responsável pela Chaimite;
Fur. José António Teixeira, responsável pela White;
Sold. Vítor Manuel Jesus Paiva;
Sold. João da Costa Araújo;
Sold. Bambo Nanqui;
Sold. Bailo Baldé.

- feridos graves:
Fur.Carlos Manuel Fanado (ficou sem as duas pernas);
Fur. Carlos M. Charifo;
Fur. Cherno Jaló;
1.º Cabo Manuel da Silva Saavedra;
1.º Cabo Silvino Neto de Matos;
1.º Cabo José Bacar Sané;
Sol. Adelino Dias;
Sold. Numar Camará;
Sold. Carlos Alberto Queba;
Sold. Braima Balde;
Sold. Seco Maru Baldé;
Sold. Rachide Bari;
Sold. Ingala Embaló;
Sold. Pedro Dias;
Sold. Ba Turé.

- feridos ligeiros:
Fur. Pedro Manuel dos Santos;
Sold. Joaquim Rolando Pinto;
Sold. Domingos Dias Salgado.

Após a listagem das nossas baixas, o relato remata com "nesta forte emboscada, em que o IN, que se encontrava instalado do lado Sul da estrada e com elementos seus em cima das árvores, sujeitou toda a coluna a intenso fogo de RPG-2 e RPG-7, assistiu-se, logo de início, à destruição de 1 viarura Chaimite, que ardeu juntamente com o condutor e o Furriel que a comandava, de 1 White e de 1 Berliet. O IN capturou ainda 3 espingardas G3, 1 metralhadora HK21 e 1 Racal TR-28. De registar o facto de o 1.º Cabo Augusto Nunes da Graça ter resgatado da Chaimite, já em chamas, o Capitão Fernando Ferreira e o Furriel Pedro Santos".

Espero que estes dados possam ajudar o António Santos a dar corpo à notícia que tinha dado antes sobre as consequentes evacuações a partir de Nova Lamego e que possam também satisfazer as dúvidas do José Rocha.

Aproveito para relembrar o José Rocha que ao tempo dos acontecimentos acima descritos a estrada Piche-Nova Lamego já era toda alcatroada e bem desmatada em ambos os lados, o que dava uma (falsa) sensação de segurança, pela ideia que se tinha que seria possível ver á distância qualquer problema que o IN eventualmente pretendesse colocar.

Isto que acima relatei foi o que aconteceu em parte do 1.º trimestre de 74, sendo que no que diz respeito aos tempos de 70-72, ou seja do Batalhão que sucedeu ao do José Rocha, isso já está no que o Francisco Palma escreveu.

No que diz respeito à questão do Fiat abatido, na zona, tudo o que li, no Blogue e no livro que dei conta, foi de facto em 31 de Janeiro de 74. O mês de Março foi também muitas vezes indicado como um mês funesto para a nossa FA, por força dos abates de Fiat's, mas em 1973, nunca vi nada referido a 74, mas também não consigo ler tudo.

Relativamente à história do piloto do avião abatido em 31 de Janeiro, que andou pelo Senegal, utilizou bicicleta, passou por Dunane e foi até Piche, já foi tudo contado, recontado e reafirmado.

Espero ter ajudado.

Um abraço
Hélder S.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 27 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4593: Controvérsias (22): As influências dos grandes mestres (Hélder Silva / José Brás)

(**) Vd. poste de 8 de Agsoto de 2009 > Guiné 63/74 - P4800: Em busca de... (85) O Fiat do Pilav Gil foi abatido em Janeiro ou em Março de 1974? (José Rocha)

(***) Vd. poste de 27 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1216: A batalha (esquecida) de Canquelifá, em Março de 1974 (A. Santos)

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3871: Em busca de... (65): Pessoal de Copá, 1ª Companhia do BCAV 8323/73 (Hélder Sousa)


1. Mensagem de Helder Sousa (*):

Caro amigo e camarada [, Luís Graça, ] não precisas agradecer.

Vou procurar com mais minúcia mas acho que será difícil porque esse Destacamento [, de Copá,] não pertencia às Unidades do Batalhão do autor do livro [, Fernando de Sousa Henriques, ex-Alf Mil Op Esp] e, em princípio, o livro [No Ocaso da Guerra do Ultramar,] retrata como que a história da sua Unidade [CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883, Canquelifá, 1972/74]. Mas, realmente, não custa procurar.

Em todo o caso, e partindo do princípio de que toda aquela dramática história é verdade (e não tenho razões para duvidar), deve ter sido uma situação bem constrangedora, com o pessoal em grande desorientação, configurando de facto uma situação de deserção, tanto mais que alguns ficaram no quartel, e depois a grande felicidade de ter aparecido, mesmo na hora (ou será que tiveram conhecimento superior do que se estaria a passar?) a ordem para a desactivação, originando toda a operação de dissimulação do sucedido, com o regresso dos militares ausentes ao seu quartel, em operação de escolta de camaradas de outra Unidade.

É verdade que aqui faltam complementos: como é que os que ficaram em Copá receberam os regressados; como é que tudo (ou quase tudo) ficou no segredo dos deuses.

Pois lá será mais uma das situações peculiares em que o T.O. da Guiné foi fértil. Angústia, desespero, heroísmo, camaradagem, sangue, suor, lágrimas, etc.

Um abraço
Hélder Sousa


2. Mensagem anterior do editor L.G.:

Helder: Obrigado pela tua iniciativa. Sabemos pouco de Copá. Foste muito oportuno. O livro [, No Ocaso da Guerra do Ultramar,]tem alguma foto de Copá ? Há referências ao destacamento de Mareué, a leste de Copá, e que também foi abandonado na mesma altura ? Se souberes mais coisas, apita. Um abraço. Luís

3. Comentário de L.G.:

Sabe-se que António Rodrigues (o protagonista do livro O Princípio do fim) era soldado condutor auto, tendo sido mobilizado para a Guiné em 1973, através da 1ª Companhia do Batalhão nº 8323. Encontrava-se entre o pessoal que teve de abandonar o destacamento de Copá em 14 de Fevereiro de 1974.

Natural de Gondizalves, a três quilómetros de Braga, e a viver actualmente no Porto, o António Rodrigues terá feito um relato (manuscrito) sobre a sua experiência militar, com destaque para os meses mais dramáticos que passou em Copá, até ao abandono daquele destacamento pelas NT. Esse relato terá sido facultado a Benigno Fernando (n. 1960, em Massarelos, Porto) que o redescreveu e publicou (O Princípio do Fim, Porto, Campo das Letras, 2001). Formal e legalmente, o Benigno é que é o autor do livro...

Um sobrinho do António Rodrigues, de seu nome Rui Alves, garantiu-nos que "o [soldado] condutor Antonio Rodrigues existe mesmo, alias, é meu tio... A família é de Braga mas ele reside actualmente no Porto. Para qualquer contacto que por acaso alguém queira fazer, deixo o meu e-mail: rui_alves_52@hotmail.com".

Seria interessante (e sobretudo importante) o António Rodrigues (ou o sobrinho, Rui Alves) poder entrar em contacto connosco. O próprio Fernando de Sousa Henriques ( telemóvel 919 534 059; mail: fernando.sousa.henriques@gmail.com), engenheiro, a viver actualmente em Ponta Delgada, poderá também eventualmente esclarecer algunas das nossas dúvidas. L.G.
___________

Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste da série Em busca de... > 3 de Fevereiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3833: Em busca de... (64): Militares do BCAÇ 3872, Guiné 1971/73 (Luís Borrega)

(**) Sobre Copá, vd. postes de:

28 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3809: Os últimos dias do destacamento de Copá, Janeiro/Fevereiro de 1974 (Helder Sousa / Fernando de Sousa Henriques)

26 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3795: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (1): O princípio do fim, a história do Soldado António Rodrigues

26 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3797: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (2): Unidades de intervenção no subsector de Bajocunda

28 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3810: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (3): Unidades de comando em Bajocunda

30 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3817: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (4): Unidades de coordenação na Zona Leste

Vd. ainda sobre Copá (destacamento das NT abandonado em 14/2/74):

8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1410: Antologia (57): O Natal de 1973 em Copá (Benigno Fernando)

27 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1216: A batalha (esquecida) de Canquelifá, em Março de 1974 (A. Santos)

30 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P3004: PAIGC: Op Amílcar Cabral: A batalha de Guileje, 18-25 de Maio de 1973 (Osvaldo Lopes da Silva / Nelson Herbert)

13 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2937: A guerra estava militarmente perdida? (16): António Santos,Torcato Mendonça,Mexia Alves,Paulo Santiago

26 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3795: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (1): O princípio do fim, a história do Soldado António Rodrigues

16 de Julho de 2007 >Guiné 63/74 - P1958: Vídeos da guerra (1): PAIGC: Viva Portugal, abaixo o colonialismo (Luís Graça / Virgínio Briote)

(... ) Referência ao vídeo da televisão francesa, a antiga ORTF, disponível em INA - Institut National de l' Audiovisuel

GUINEE : LA GUERILLA AU GRAND JOUR MAGAZINE 52 ORTF - 04/07/1974 - Video 12m 32s / DVD 3 €

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3809: Notas de leitura (12): Os últimos dias do destacamento de Copá, Janeiro/Fevereiro de 1974 (Helder Sousa / Fernando de Sousa Henriques)

(...) "O livro tem como título principal No Ocaso da Guerra do Ultramar, e como subtítulos Uma Derrota Pressentida,. Notícias de um Correspondente de Guerra, Combatente na Guiné e é da autoria de Fernando de Sousa Henriques.

"Obtive-o num encontro de camaradas que pertenceram à CCS do BCAV 2922, sediada em Piche, sendo esse Batalhão (e as suas Companhias colocadas em Buruntuma e Canquelifá) substituído pelo BCAÇ 3883, ao qual o autor do livro pertencia, mais propriamente integrando a CCAÇ 3545. Como o autor retrata os mesmos locais e até faz largas referências à fase de 'passagem de testemunho' entre esses dois Batalhões, foi natural ter aparecido nesse convívio.

"Da ficha técnica pode-se retirar que a impressão e acabamentos pertenceram a Coingra, Lda, mas não tem mais indicações a não ser os contactos com o autor que sabemos ser Fernando de Sousa Henriques, ter o telemóvel 919534059 e o endereço de mail
fernando.sousa.henriques@gmail.com , para o caso de algum camarada o quiser contactar.

"O autor foi Alferes Miliciano de Operações Especiais e encontrou-se na Zona Leste no período de 1972-74 sendo que foi testemunha directa do final do conflito pois o regresso só ocorreu em Julho de 1974. É natural do concelho de Estarreja e encontra-se radicado na Ilha de S. Miguel (Açores) onde desenvolve a sua actividade profissional (na Administração Portuária do Porto de Ponta Delgada), colaborando activamente com a ADFA-Açores" (*).


1. Mensagem do Hélder Sousa, ex-Fur Mil de Transmissões TSF (Bissau e Piche, 1970/72)(*):

Caros Editor e Co-Editores

Procurando responder ao apelo feito pelo Luís Graça no sentido de se obterem mais elementos sobre os acontecimentos do Destacamento de Copà(*), aqui envio alguma coisa sobre o que está no tal livro que em tempos comentei, da autoria de Fernando de Sousa Henriques, intitulado No Ocaso da Guerra do Ultramar.

O autor dedica algumas páginas a esse Destacamento (pág 330 a 334), aos seus últimos dias, Destacamento esse que pertencia à Companhia de Pirada e não à sua Companhia, de Canquelifá, mas estava naquela zona entre os limites de acção de uns e outros. Vejamos o que ele conta. Trata-se sem dúvida de relato muito curioso, no mínimo, e que certamente trará mais algumas interrogações, mas está lá no livro!

Copà - Localização geográfica nas coordenadas: 12º 30' Latitude Norte; 13º 55' Longitude Oeste

"A partir da terceira semana de Janeiro de 1974, o IN começou a flagelar, igualmente, um Destacamento que se localizava em Copà, aproximadamente a Noroeste (NW) do nosso aquartelamento, sujeitando-o a fortes bombardeamentos. Esse Destacamento pertencia à Companhia sediada em Pirada, aquele e esta localizadas próximo da fronteira com o Senegal e, respectivamente, nas imediações dos marcos fronteiriços 63 e 68. Devido à sua proximidade do nsso aquartelamento, consideravamo-lo como se de um nosso 'enteado' se tratasse, já que filho não podia ser atendendo à sua cadeia de comando.

"Se com os obuses 14 podíamos e fazíamos o batimento da zona em redor de todo o destacamento de Copà, com os obuses 10,5 só conseguíamos atingir as imediações daquele Destacamento e apenas do lado que ficava mais próximo de nós.

"No dia 31 de Janeiro, como atrás se referiu, dois pelotões da nossa Companhia efectuaram um patrulhamento em direcção ao Marco 61, que envolvia o reconhecimento das imediações da Copà. Assim, seguimos até Cantire, onde inflectimos para Oré Maundé e Orèodé, duas Tabancas recentemente abandonadas, tendo as suas populações sido levadas pelo IN, como denunciavam os vestígios, bem visíoveis, dos roddos das viaturas utilizadas 'nessa limpeza' e que se dirigiam em direcção ao Senegal, detectados num patrulhamento efectuado dias antes. Dali fomos até às imediações de Copà, aproximando-nos daquele aquartelamento por Leste. Voltou a detectar-se, também ali, a existência de múltiplos rodados de diversas viaturas pesadas, bem como o estabelecimento de pequenas trincheiras e, para espanto geral, o abandono de inúmeros cunhetes vazios. Ficámos estupefactos perante tais imagens, pois não contávamos com aquele 'estendal todo' no meio da mata. O IN estivera ali em força, estabelecendo os seus morteiros (82 e 120) a Noroeste daquele e a uma distância de uns 3 km do mesmo, sem ter a mínima preocupação de eliminar vestígios da sua presença no local. Após termos procedido a um reconhecimento daquela área onde o IN estivera instalado, precisamente fora do alcance dos obuses 10,5, rumámos em direcção a Canquelifá, já que não estava previsto qualquer contacto com o pessoal daquele aquartelamento.

"A partir do início de Fevereiro, esse destacamento passou a estar sujeito a fogo de morteiro de 120 mm, com intensidade variável, mas algumas das vezes até inusitada. Através das comunicações via rádio comunicávamos com aquela força para inferirmos da sua situação. O Furriel, comandante daquele Destacamento, e o próprio responsável pelas transmissões, de início ainda gracejavam, referindo-se aos ataques como se de jogos de futebol se tratassem e dizendo que só levavam golos, sem conseguirem marcar nenhum. Não tinham a possibilidade de levantarem a cabeça, quanto mais ripostarem e, ainda por cima, com o quê? Nós, com os nossos obuses 10,5, de má memória, lá íamos, de vez em quando, tentar a nossa sorte nas 'barbas' daquele aquartelamento, mais próximo do nosso, sabendo, de antemão, que só o barulho dos rebentamentos das granadas é que poderia incomodar o IN.

"O IN, como se verá a seguir, aproveitava-se dessa circunstância e desferia sossegadamente e nas calmas os seus ataques. Nós ouvíamos, por vezes, as suas transmissões onde começou a aparecer, cada vez com maior frequência, um linguarejar em espanhol, sinal de que os internacionalistas cubanos também por ali andavam. Normalmente durante a noite, ouvíamos o roncar de viaturas que deviam proceder ao reabastecimento das diferentes posições no terreno ou, então, à mudança das mesmas com transporte de pessoas, armas e munições.

"Esta situação trazia-me preocupado, pois se viessem ao assalto ao nosso Aquartelamento a nossa posição seria débil, no caso de utilizarem viaturas blindadas, de que se ouvia falar, uma vez que só dispunhamos de umas três ou quatro bazucas, usadas, nos patrulhamentos, e sem nenhum pessoal treinado para a luta anti-carro. Os RPG-2 e RPG-7, usados pelo IN, revelavam-se de manejo mais fácil e eficaz.

"Retomando o assunto: Copà passou a ser 'abonado' quase diariamente, com as flagelações a ocorrerem a horas sempre diversas e com durações igualmente variáveis.

"Lá para a segunda quinzena de Fevereiro [***], depois de uns três dias seguidos de assédio forte a Copà e aí a meio de uma tarde, que nunca esqueceremos, foram aparecendo aos poucos e em pequenos grupos, ou isoladamente, os elementos provindos daquele Destacamento. O pessoal vinha todo sujo, camuflado, se existia, em desalinho, arma às costas ou ao ombro, desorientado e de olhar perdido. Enfim, uma lástima.

"Aqui foi uma das outras vezes em que recordei a tal frase muito usada e divulgada, mesmo em cartazes, nos meios militares, que assentava como uma luva perante o cenário que se me apresentava. A frase, já anteriormente citada, rezava assim: 'O Exército é o Espelho da Nação'.

"Mas prosseguindo. Tinham fugido, praticamente aos pares, do Inferno em que Copà se transformara. Primeiro demos-lhes de beber e de comer e depois procurámos saber o que tinha acontecido, embora, antecipadamente, já soubessemos a resposta. Lá fomos sabendo pormenores à medida que foram acalmando. Como todos sabíamos estavam a ser sujeitos a flagelações cerradas, dia após dia, que lhes foi destruindo o aquartelamento e a moral. Não conseguindo aguentar mais, fugiram naquela tarde, depois de terem passado palavra uns aos outros, dirigindo-se desorientados para o nosso aquartelamento que era o que lhes ficava mais próximo. Ainda hoje estou para perceber como é que não foram interceptados pelo IN. Sem o saberem, deixaram para trás o Furriel, o fulano das transmissões e não sei se mais alguém. Aquilo era deserção. Confrontados com a idéia de regresso, diziam que preferiam ser mortos.

"Entretanto, recebíamos uma mensagem, de que não posso precisar a origem, adiantando-nos que, na manhã do dia seguinte, ir-se-ia proceder à desactivação daquele Destacamento, sendo dali retirada a sua guarnição, sendo que em tal operação estariam envolvidas as unidades de pára-quedistas. Foi um fim de dia agitado. O Capitão Cristo a confirmar essa Operação de resgate e a reunir-se com alguns dos nossos Milícias no sentido de se arranjar uns dois ou três elementos, entre População e Milícias, que conhecessem bem aquela parte da região, para servirem de guias e levarem de volta aqueles elementos transviados que nos tinham ali caído inusitadamente. Paralelamente, os Alferes e Furriéis falavam com os mesmos no sentido de os convencer a regressarem à procedência, em face das novas notícias. Duas tarefas que não se revelaram tão fáceis como poderia parecer. Foi tudo muito estudado e planeado para se ter êxito no que se pretendia: enfiar no Destacamento sem serem interceptados pelo IN e fazer de conta que os mesmos nem dali tinham saído. Houve certa resistência dos mesmos em regressarem, mas ao cabo de umas horas convenceram-se de que aquela, embora arriscada, operação era o melhor para eles, pois não passavam ali de uns 'miseráveis desertores'.


"Um dos factores de maior peso na mudança de atitude daqueles homens foi o caso de terem abandonado o Furriel e mais um ou dois dos seus camaradas. Esse facto que, inicialmente, desconheciam era o que mais os constrangia, sendo por isso aquele que foi mais vezes utilizado, a par do relativo à desactivação do seu aquartelamento, daí a umas quantas horas. Assim, por volta das 03H30, lá seguiu o grupo de militares com os seus guias. O Capitão não dormiu bem nessa noite, tal como eu. Acho que todos suspirámos de alívio quando os guias regressaram a são e salvo com a 'encomenda entregue', o mesmo voltando a acontecer logo que se teve conhecimento de que a Operação de evacuação de Copà se tinha realizado com êxito.

"Sempre me surpreendeu o IN não ter interceptado os fugitivos, bem como não ter ido ao assalto final do Destacamento. Estava a actuar nas calmas, para além de talvez ignorar o que nele se estava a passar. Sabia que a sua queda era inevitável e uma questão de dias, não precisando de expor os seus homens. Se tivessem ido ao assalto após todas as flagelações efectuadas, acho que apanhariam, praticamente à mão, os nossos Militares, totalmente debilitados quer física, quer psicologicamente que dali só tinham uma saída: a morte.

"Para o Furriel e os seus dois ou três acompanhantes, que junto dele sempre se mantiveram, aqui fica exarado um voto de louvor.

"Mais sós ficámos, já que o nosso 'enteado' nos tinha abandonado, deixando mais uma parcela de território para nos 'estendermos', em comunhão com o IN.

"E assim reza a História sobre o final de um Destacamento em terras-do-fim-do-mundo: O Destacamento de Copà. Muito resistiu, embora passivamente, por não ter a mínima chance de ripostar."

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Nota de H.S.:

O Capitão Cristo referido no texto acima era o Cap Mil Fernando Peixinho de Cristo, Comandante da Companhia, CCAÇ 3545, colocada em Canquelifá e pertencente ao BCAÇ 3883 e à qual pertenceu o autor do texto inserto no livro também acima identificado, o então Alf Mil Op Esp Fernando de Sousa Henriques.
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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 10 de Novembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3430: Bibliografia de uma guerra (36): No ocaso da Guerra do Ultramar, de Fernando Sousa Henriques. (Helder Sousa)
Sobre o autor e o livro, vd. também o artigo, publicado no Diário dos Açores, 9/11/2007 > "No Ocaso da Guerra do Ultramar" relata uma vivência militar na Guiné, por Vera Borges

(...) "Em declarações ao Diário dos Açores, Fernando de Sousa Henriques qualifica o seu trabalho como sendo um livro 'de factos, de vivências, sentimentos e simbolismo, de grande interesse histórico'.
(...) "Repleto de ilustrações, o título do livro No Ocaso da Guerra do Ultramar, remete-nos para um significado: 'os últimos dias da Guerra do Ultramar' (...).
"O livro procura retratar 'como se vivia e se passava na Zona Leste da Guiné, com fronteiras com o Senegal e a Guiné-Conacri, entre 1972-74, num período em que o IN (Inimigo) incrementava aí a sua actividade, procurando levar a cabo a denominada Limpeza do Leste que, a concretizar-se, aumentaria consideravelmente as chamadas Zonas Libertas, permitindo-lhe maior notoriedade e projecção a nível Internacional e um eventual assento na ONU', ressalva o autor.
"Por outro lado, Fernando de Sousa Henriques pretende transmitir ao leitor o período de 'sufoco vivido pelas nossas tropas (NT), perante o cada vez maior poder ofensivo que o IN continuadamente vinha a apresentar, contando mesmo com elementos internacionalistas a integrarem já as suas fileiras'.
(...) "Esta é a segunda obra publicada de Fernando de Sousa Henriques, a primeira tem como título: Um Icebergue Chamado 25 de Abril. 'A Revolução dos Cravos' foi vivida à distância pelo autor, porque nesta altura se encontrava no Ultramar, tendo este acontecimento histórico sido decisivo para o término da guerra colonial.
"Fernando de Sousa Henriques formou-se, no Porto, em Química, e, posteriormente, em Electrotecnia. Em São Miguel seguiu um percurso profissional muito diferenciado, tendo percorrido áreas como as do Ensino Técnico, desenvolvido trabalhos diversos, em especial a nível de Projecto e Fiscalização, no âmbito da sua Formação Profissional, com relevância para a Engenharia Electrotécnica, passando por Empresas como a Mobil Oil Portuguesa e os CTT. Em 1989 assumiu o cargo de Engenheiro-adjunto da Junta Autónoma do Porto de Ponta Delgada".

(**) Vd. postes de:

26 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3795: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (1): O princípio do fim, a história do Soldado António Rodrigues
e
26 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3797: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (2): Unidades de intervenção no subsector de Bajocunda

(***) Deve ser primeira quinzena de Fevereiro de 1974, já que oficialmente o destacamento terá sido abandonado a 14/2/74.