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quinta-feira, 20 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22215: Casos: a verdade sobre... (24): o roubo de 200 cartas (ou mapas) do Serviço Cartográfico do Exército, atribuido às Brigadas Revolucionárias, em dezembro de 1972: o seu impacto no CTIG (Luís Graça / C. Martins / António J. Pereira da Costa)


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Bambadinca, a porta do leste > Carta de Bambadinca > Escala 1/50 mil (1955) > Detalhe, posição relativa de Bambadinca, posto administrativo do concelho de Bafatá, com as várias direções: a norte,o regulado do Cuor (Finete e Missirá, Fá Mandinga); a nordeste, Bafatá; a sul, Mansambo, Xitole, Saltinho; a sudoeste, Xime; a oeste, Enchalé, Portogole... A única zona a que ainda não tinha chegado a guerra era a leste e imediatamente a sul de Bambadinca, abrangendo o regulado de Badora... Todos os outros regulados (Enxalé e Cuor, a norte do Geba), Xime e Corubal (a sul) estavam em guerra...

Infografia : Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015)

1. Comentários ao poste P22208 (*)

Luís Graça

C. Martins, salvo melhor opinião, e respeitando a tua, eu não daria tanta importância assim às acções das Brigadas Revolucionárias… (Enfim, acaba de morrer, vítima de Covid-19, um dos seus cofundadores e líder, o Carlos Antunes).

Leia-se, em todo o caso, com atenção este excerto da tese de doutoramento em História, já aqui citada po mim, a propósito do assalto aos serviços cartográficos do exército, em dezembro de 1972, pp. 289/290 (**)

"(…) 4.2.7. Assalto aos serviços cartográficos do exército

Em Dezembro de 1972, as Brigadas Revolucionárias realizam um assalto aos Serviços
Cartográficos do Exército e apoderaram-se de cartas militares de Angola, Guiné, Cabo Verde e Moçambique que seriam, posteriormente, entregues aos movimentos de libertação das colónias.

Eram mapas secretos, que registavam o posicionamento das tropas portuguesas no terreno e planos de ataque aos movimentos de libertação.

Os planos desta acção foram sofrendo várias alterações, pois parecia difícíl entrar nos
Serviços Cartográficos. Por fim, prevaleceu a ideia de fazer o assalto através do Laboratório de Engenharia Civil, por haver ligações entre as duas instituições e porque um dos elementos das BR, Maria Elisa da Costa, trabalhava aí. Maria Elisa confirmou a existência de mapas, mas não sabia como chegar a eles, nem tão pouco de que tipo de mapas se tratava. Porém, conhecia um funcionário dos Serviços Cartográficos que, na altura prestava serviço militar no Laboratório.

Reuniram com ele diversas vezes ao longo de várias semanas e compreenderam que a melhor forma de entrar nos Serviços Cartográficos seria de noite, de modo a retirar os mapas de madrugada. José Paulo Viana ficou encarregado de executar a acção, entrou disfarçado no edifício, escondeu-se, e às duas da manhã abriu a porta aos restantes elementos das Brigadas, que retiraram os mapas. 

Mais tarde, José Paulo Viana levou-os para Paris, de onde seguiram para Argel e foram aí entregues aos representantes do MPLA, PAIGC e FRELIMO na capital argelina (…) . Agostinho Neto, presidente do MPLA, chegou a enviar uma carta de agradecimento às Brigadas Revolucionárias pelo resgate das cartas militares de Angola (..) 

No total foram retirados cerca de 200 mapas que, de acordo com os movimentos de
libertação, constituíram um instrumento importante para a intensificação da luta, pois permitiram planear de modo mais eficaz a movimentação das tropas africanas no terreno.

A acção expressava a solidariedade e entreajuda entre os movimentos de libertação e as BR, traço fundamental da sua orientação, no sentido de articular a luta nas colónias com a luta no interior, já que defendiam que o fim da guerra colonial dependia do fim do regime.

A partir desta acção verificaram-se excepcionais medidas de segurança em todas as
instalações militares (...) , não impedindo, porém, que as BR viessem a realizar novas acções dentro da instituição militar, como se verificou em 1973. (,,,)"

 Ainda voltando à carga...

Meu querido amigo e camarada C. Martins, pergunto:

(i) em 200 cartas ou mapas que teriam sido roubadas dos serviços cartográficos do exército pelas Brigadas Revolucionárias, em dezembro de 1972 (e posteriormente entregues ao PAIGC, MPLA e FRELIMO, a partir de Argel), quantas seraim as respeitantes à Guiné ? (Só as da Guiné eram mais de 70, no total)...

(ii) a nossa doutora  Ana Sofia de Matos Ferreira (e seguraente o seu orientador) não sabia do que estava a falar quando escreveu esta enormidade: "Eram mapas secretos, que registavam o posicionamento das tropas portuguesas no terreno e planos de ataque aos movimentos de libertação." (!!!)

(iii) recorde-se que as cartas ou mapas da Guiné estão publicadas no nosso blogue, desde 2005, por cortesia do nosso camarada Humberto Reis: "Quando voltou à Guiné-Bissau, em 1996, em viagem de negócios (mas também em romagem de saudade), o Eng. Humberto Reis (ex-furriel miliciano da CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71) já tinha adquirido as 72 cartas da antiga província portuguesa, à escala de 1/50.000. (...) Em Dezembro de 94 já me custaram 450$00 cada uma". O mapa geral custou 600$00."

(iv) by the way, o Humberto gastou, em 2005, 33 contos pela aquisição das 73 cartas (, com a devida autorização da embaixada da República da Guiné-Bissau!), o que, a preços de hoje, equivaleria a cerca de... 200 euros (!);

(v) deixámos logo expressa, em 2005, a nossa homenagem aos nossos cartógrafos militares:

(...) "Fica também aqui a nossa homenagem aos valorosos cartógrafos militares portugueses. Esta (a de Bambadinca) e outras cartas da Guiné resultam do levantamento efectuado em 1955 pela missão geo-hidrográfica da Guiné – Comandante e oficiais do N.H. Mandovi. A fotografia aérea é da aviação naval (Março de 1953). Restituição dos Serviços Cartográficos do Exército. Fotolitografia e impressão: Arnaldo F. Silva. A edição é  da Junta das Missões Geográficas e de Investigações do Ultramar, do antigo Ministério do Ultramar, s/d. Digitalização efectuada na Rank Xerox (2005)."

(vi) todo este trabalho da cartografia portuguesa é dos anos 50, longe ainda do início da guerra, pelo que os mapas (ou cartas) nunca poderiam (nem nunca seria essa a intenção dos nossos cartógrafos) dar qualquer informação relevante sobre o dispositivo das nossas tropas (aquartelamentos e destacamentios)  e muito menos sobre as "barracas" do PAIGC...

(vii) se os mapas (ou cartas) tivessem chegado às mãos do PAIGC  no princípio da luta armada, talvez ainda pudessem ser uma boa ajuda e ter alguma mais valia para o movimento do Amílcar Cabral... Mas em 1973 ?!...Repare-se que não são sabemos quando chegaram às mais dos operacionais dos 3 movimentos nacionalistas: seguramente terão levado algunjs meses, tendo em conta o percurso, Lisboa - Paris - Argel - Comacri, etc.

(viii) no caso do PAIGC, por certo que o "material roubado" dos Serviços Cartográficos do Exército  já não chegou a tempo (útil)  da batalha dos três GG - Guidaje, Guileje, Gadamael, em maio/junho de 1973;

(vii) por outro lado, tirando um ou outro artilheiro, cabo-verdiano ou cubano, quem eram os comandantes da guerrilha que sabiam utilizar as nossas cartas, nomeadamente para efeitos de regulação de tiro de armas pesadas de infantaria e de arilharia  ?... Se é que alguma vez foram utilizadas!... )Memso em Guileje, foi tudo a "olhómetro"!)... 

C. Martins

(..) Quanto aos comunicados do PAIGC, valem o que valem, que é zero, aliás com o exagero e aproveitamento de sempre.

Quem colocou os engenhos explosivos, em Bissau, foram as BR. Cada um pense o que quiser. No mato gozamos com a situação caricata na piscina do QG.

Quanto a doutoramentos sobre a guerra colonial, de alguns só dá vontade de rir da ignorância tanto dos doutorandos como dos avaliadores.

Sobre as cartas militares se soubessem utilizá-las, nomeadamente para fazerem fogo com a artilharia, seria muito complicado para as NT.

Senti isso em Março de 74 quando fomos flagelados com granadas incendiárias caindo todas na orla da mata em frente aos obuses. Mais tarde soube que os cálculos de tiro foram feitos por oficiais cubanos, e mesmo estes, felizmente para nós, não eram muito eficazes, provavelmente porque tinham que mudar constantemente a base de fogos. (...)

António J. Pereira da Costa


Os "mapas" (cartas 1/50.000) eram classificados de "reservado". Obviamente que o trabalho de localização dos quartéis era um trabalho a fazer pelos guerrilheiros, o que não seria difícil. As nossas posições eram mais "conhecidas do que o peixe frito" e ninguém assinalaria a posição dos quartéis nos mapas em depósito no Serviço Cartográfico do Exército (SCE).

Devo esclarecer que as cartas do SCE - em 1/25.000 ou em 1/50.000 - eram muito perfeitas.

As cartas 1/25.000 (em uso na Metrópole) eram muito parecidas com pranchetas de tiro e durante muitos anos eram a única carta de fomento que existia no nosso país

Sempre me surpreendeu que o PAIGC não se tivesse envolvido mais cedo em acções de terrorismo urbano. Tinha todas as condições para isso. Ter-se-á limitado a colectar informação junto da estrutura militar ou civil (entre os habitantes da cidade).

Lembro o ataque a todos os quartéis da área de Bissau no noite de 09/10Jun71, assim como as flagelações à BA 12, que só pode ter sido levado a efeito com uma estrutura deste tipo.
A BA 12 considerava como ponto muito sensível a enfermaria que ficava junto da casa da guarda e a cerca de 5 metros da estrada. O pessoal da BAA 3434 tinha ali um posto de sentinela guarnecido por 3 homens e uma metralhadora quádrupla.

Dá-me a impressão de que os guerrilheiros tinham um certo receio que lhes tolhia(?) a eficácia. (,...) (***)


Revisão / fixação de texto: LG

_____________

Notas do editor: 
 
(**) Fonte: Ana Sofia de Matos Ferreira - Luta Armada em Portugal (1970-1974): Tese de Doutoramento em História, Especialidade em História Contemporânea. Lisboa: Universidade NOVA d4e Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Maio de 2015, 331 pp. (Tese apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em História, realizada sob a orientação do Professor Doutor Fernando Rosa, com o apoio financeiro da FCT - Fundação para a Ciência e Tecnologia.)

Disponível aqui em formato pdf:

https://run.unl.pt/bitstream/10362/16326/1/Tese%20Doutoramento%20Luta%20Armada%20em%20Portugal.pdf

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21554: Casos: a verdade sobre... (17): o mistério do "berço da nacionalidade": Madina do Boé? Lugajole? Vendu Leidi? Lela ou Malanta, já na Guiné-Conacri, na Estrada Nacional n.º 23, permitindo uma fácil (e segura) ligação à base de Boké?... (C. Martins / António Martins de Matos )

(...)

Texto da proclamação do Estado da Guiné-Bissau, pelo PAIGC, em 24 de setembro de 1973, documento datilografado, de 4 folhas, em formato  A4... Em parte alguma do texto há uma referência ao local, a não ser  "Região do Boé" (p. 4) ou "Região Libertada do Boé" (p. 2). 

Hoje há indícios crescentes de que a cerimónia, com a presença de alguns (poucos) observadores estrangeiros, se realizou no território da vizinha República da Guiné, nalguma localidade fazendo fronteira com a região do Boé mas servida pela Estrada Nacional nº 23, como era o caso de Lélaa e de Malanta, e portanto com fácil ligação à base de Boké, mais a sul.

Citação:
(1973), "Proclamação do Estado da Guiné-Bissau", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral - Iva Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40019 (2020-11-17) (com a devida vénia...)


1. Comentários ao poste P21539 (ª):
 
(i) C. Martins [, médico, ex-cooperante da AMI, na Guiné-Bissau, em 1998; ex-alf mil art, 23º Pel Art, Gandembel, 1973/74; profundo conhecedor da Guiné-Bissau e com informantes privilegiados no território tem mais de 3 dezenas de referências no nosso blogue; não integra a nossa Tabanca Grande por razões de deontologia profissional]:

Caro Rosinha,  esse médico não sou eu.

Estive em 98 durante a guerra civil como voluntário da AMI [, Assistência Médica Internacional], sediado em Canjufa , fazendo uma cobertura sanitária de toda a região de Gabú.

Sobre o tema supra já dei para este peditório.

Conheço a região do Boé, na época seca é quase desértico com caraterísticas de savana, e na época das chuvas cresce muito arvoredo junto às linhas de água e é praticamente intransitável.

Conheço a tabanca de Lugajole onde a AMI teve uma missão durante vários anos desde finais de 80 e principios dos 90.

Quem contactou com ex-guerrilheiros desde os de mais elevada hierarquia até aos de base, sabe perfeitamente qual é o tipo de comportamento: quando fala a orgãos de comunicação ou similares, o PAIGC segue a escola soviética (vidé Maria Turra ), mas quando em contacto meramente pessoal é pessoal muito simpáticos e não tem problema nenhum em dizer a verdade.

Têm muito respeito por nós, ex-combatentes, inclusive não têm problema nenhum em dizer que, se Portugal quisesse voltar novamente a administrar a Guiné,  eles não voltariam a revoltar-se contra nós.
Cada um que tire as suas conclusões.

PS - É evdienten que o PAIGC ao proclamar a independência [em 24 de setembro de 1973] tinha que dizer qie foi em território [libertado] da Guiné.
 


António Martins de Matos


(ii) António Martins Matos (ten gen pilav refor, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74]


Factos e Opiniões

Vamos aos factos: Nunca saberemos onde aconteceu a Declaração de Independência.

A razão de tal desconhecimento é ser um assunto sigiloso, do tipo Segredo de Estado. A República da Guiné-Bissau não pode reconhecer publicamente que a referida Declaração tenha sido feita fora do seu território.

Primeiro foi Madina do Boé, mais tarde agarrou-se a Lugajole [ou Lugadjole].

O filme sobre o evento, feito por uma equipa sueca, mostra viaturas a desfilar ao longo de uma estrada, debaixo de uma mata cerrada. Diz o presente post, “ainda hoje é quase impossível chegar a Lugadjole por estrada”.
 

Capa e contracapa da livro do António Martins de Matos, 
"Voando sobre um ninho de Strelas", 2ª edição, revista e aumentada 
(Lisboa, Sítio do Livro, 2020, 456 pp.)


Vamos às opiniões:

Para mim, que, por causa do livro sobre os Strelas, andei a esgravatar este assunto, encontrei variadas soluções, a terceira mais falada… Vendu Leidi.

A minha opinião é outra: 

Léla, a duzentos e vinte quilómetros de Bissalanca, fora do alcance dos Fiat-G 91 e apenas a três quilómetros da fronteira, já no território da Guiné-Conacri. Tem tudo o que aparece no filme: estrada, mata frondosa, segurança.

Quanto àquela historieta de terem levado as rampas dos Strelas mas se terem esquecido dos sistemas de pontaria…,  a história do capuchinho vermelho é mais credível.

Que os Strelas nem tinham rampas de lançamento!

(iii) C. Martins:

Caro A.M. Matos:

Quase no alvo... grande Pilav!

E.N. [Estrada Nacional]n.º 23 [, Guiné-Conacri],  mais a sul: localidade... não digo porque posso ser processado, e não tenho provas materiais.


(iv) Comentário do editor LG:

Já gastámos  "muita tinta" (neste caso, muitos Kbytes), à volta da toponímia associadas ao "berço" da Nação Guineense: durante anos aceitaram-se, acriticamente, em Portugal, na Guiné-Bissau e no resto do mundo, algumas "lendas e narrativas" do PAIGC à volta desta questão... Ainda hoje há trabalhos académicos (até da Academia Militar!) em que se refere o topónimo Madina do Boé como o local da declaração de independência unilateral (DUI) da Guiné-Bissau...

Pelo menos desde 2009 que nós aqui, nosso blogue, temos debatido esta questão que não é de lana caprina: "a verdade a que temos direito", não é só para alguns, é para todos... (**)

E vamos continuar a debater, sem intuitos polémicos, com serenidade, com assertividade, porque a guerra já acabou há muito e não há mais inimigos... Mas a História, essa, vai-se fazendo e refazendo... Daí que este e outros dossiês sobre a "história da Guiné, 1961/74" não chegarão ao fim, tão cedo, pelo menos nos tempos mais próximos... 

Infelizmente, os que protagonizaram a guerra,  de um e do outro lado,  estão a envelhecer, a adoecer e a morrer...  Do lado do PAIGC, já haverá muito pouca gente viva (e credível) que possa trazer algo de novo sobre a questão  do "berço da Nação"...

[Revisão e fixação de texto para efeitos de publicação neste blogue: LG]

(**) Vd., por exemplo, postes de:


20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3920: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (2): Opção inicial, uma tabanca algures no sul, segundo Luís Cabral (Nelson Herbert)

1 de março de  2009 > Guiné 63/74 - P3955: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (3): O local estava minado e o PAIGC sabia-o (Jorge Félix)

17 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4042: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (4): Ajudas de memória (Abreu dos Santos)

9 de outubro de  2009 > Guiné 63/74 - P5079: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (5): Lugajole, disse ele (Luís Graça)

domingo, 26 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20904: (De)Caras (157): O comerciante Mário Soares, de Pirada, quem foi, afinal? Um "agente duplo"? - Parte VI: Uma foto intrigante, com uma reprodução da "Guernica", de Picasso, tirada na sala de jantar, pelo alf mil médico Manuel Valente Fernandes, CCS / BCAV 8323 (1973/74)


Guiné > Região de Gabu > Pirada > c. 1973/74 > BCAV 8323 (Pirada, 1973/74) > "Residência do célebre sr. Mário Soares, um dos dois comerciantes instalados em Pirada em 1973. Três dos alferes do Batalhão: Transmissões, Tesoureiro e Médico (eu, à direita)"...

O nosso camarada C. Martins, que também é médico, em comentário de 19/10/2012,  foi o primeiro a chamar a atenção para a reprodução que está na parede: " Mesa farta, contraste volumétrico entre dois comensais, e o quadro de parede é tão só a "Guernica" de Picasso e por fim são servidos por um 'empregado'  de mesa a preceito. Para os padrões da Guiné..é obra. Ganda sortudos" (*)

Foto (e legenda): © Manuel Valente Fernandes (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O autor da foto, o  Manuel Valente Fernandes, ex-alf mil médico da CCS/BCAV 8323 (Pirada, 1973//4) , é membro da nossa Tabanca Grande desde 17/10/2012.



Pirada, abril de 1964, o Mário Soares, ao centro,ladeado
pelo  alf mil António Pinto, `sua direuta; e o alf méd

médico (e  intérprete do fado de Coimbra) Luiz Goes
 (1933-2012), à sua esquerda. 
Foto: António Pinto (2007)

Na foto, acima,  aparece o Demba, o criado, todo bem "afiambrado, já citado em 1964&65, pelo Carlos Geraldo... O anfitrião,  comerciante Mário Soares, deve ter sido o fotógrafo...

Através do Carlos Geraldo (**) , que o conheceu e privou com ele, a partir de 15/10/1964, sabemos que o Mário [Rodrigues] Soares era um bom copo e um bom garfo, sabia receber bem, adorava receber na sua casa os oficiais milicianos (e, eventualmente, capitães e oficiais superiores)  era Lisboeta, teria ido para a Guiné em finais dos anos 50, princípio dos anos 60, por causa de "problemas financeiros" (sic), tinha esposa, duas filhas e um filho, adolescentes (em 1965) (um deles, o rapaz, a estudar em Lisboa), era um civil com cultura acima da média, tinha gira-discos e discos em casa, além de um máquina de projetar cinema (, nºão sabemos de 8 0u 16 mm),,, E, claro, um gerador. 

Intrigante, porque deslocada, é esta "reprodução" da Guernica, de Pissau, um quadro gigantesco, a óleo, pintado em 1937, que se tornou um ícone da paz e da denúncai da guerra e do genocídio...

O Mário Soares, c. 1973/74.
 Foto de Manuel  Velente Fernandes
"Agente duplo", informador tanto da PIDE/DGS como do PAIGC ?... Não temos elementos conclusivos...

Curiosamente, na sua apresentação, o Manuel Valente Fernandes não qualquer referência a um eventual protagonismo do Mário Soares no processo de retração do dispositivo militar e na transferência do aquartelento para o PAIGC, em agosto de 1974... Nem sabemos se ele lá estava nessa altura. O médico nem sequer cita o seu nome, a propósito desses acontecimentos

(...) Obviamente tive vivências semelhantes a qualquer dos camaradas que estiveram neste TO. Do que me ficou ressalto:

(i) A experiência da intensa solidariedade que se gerou entre os camaradas que vivenciaram juntos o risco de vida de cada um e a permanente entreajuda, isto durante largos períodos. Materializa-se actualmente na emoção dos encontros de antigos camaradas (o meu batalhão mantém estes encontros).
(ii)  As perturbações na saúde mental de tantos camaradas. Tive a experiência de dois dos nossos que manifestaram psicoses agudas (um militar da CCS e outro da 1ª Companhia, em Bajocunda), ambos felizmente com bom prognóstico após a evacuação.

(iii) A vivência da paz: aqueles almoços entre membros do batalhão e membros do PAIGC, no período que mediou entre o 25 abril e 25 agosto 1974 (regresso a Bissau), durante o período de retração do dispositivo. Aquele convívio com os ex-inimigos não se esquece, incluindo as conversas respeitantes à ideologia política, um tema então tão apetecido pelos jovens milicianos portugueses. (...) (*)



Mário Soares > Pirada >
14/2/1974. Foto: António
Rodrigues  (2015)
2. Será que o Mário Soares foi mesmo preso, a seguir ao 25 de Abril, de acordo com a informação do médico José Pratas ? (**P) 

Não tenho aqui, em meu poder,  o livro, "Senhor médico, nosso alferes: Guiné, os anos de guerra" (Lisboa, By the Book, 2014). O Beja Santos, que  fez aqui, no blogue,  um  recensão dessa obra,  escreveu o seguinte:
 
(...) "Em Pirada, tinha um agente da PIDE na vizinhança, bom para seviciar e intimidar, o Carvalho, substituído pelo senhor Pereira que tinha farroncas mas com as flagelações termia como varas verdes.

"Também em Pirada vivia Mário Soares, com quem Pratas conviveu, pode aperceber-se como o Soares intermediava entre o PAIGC e as autoridades portuguesas, houve encontros secretos à mesa da sua sala de jantar ou no respaldo das cadeiras de lona. Tinha acesso privilegiado às informações da PIDE, ascendente junto das redes de informadores locais, geria com astúcia o assédio e a adulação das autoridades locais. Reflete sobre o drama deste protagonista entre dois campos em confronto".

E cita o autor, José Pratas:

“O tempo corria em seu desfavor, porque a guerra no terreno se perdia em cada dia que passava e era facilmente previsível a derrota da teimosia de Lisboa. No seu relacionamento com a tropa, este europeu, porventura o branco mais africano que conheci, só a muito custo conseguia refrear os impulsos beligerantes das chefias militares, sedentas de ação, indisponíveis, por dever de ofício, para tolerar diplomacias paralelas de que muitas vezes é feita uma guerra de guerrilha”.

"E veio a independência e mais problemas para Mário Rodrigues Soares", de acordo com a versão do José Pratas:

(...) “Poucos dias depois seria preso e enviado para Bissau. Ter-lhe-á valido a intervenção de Alpoim Calvão, que intercedendo a tempo junto do novo dono do Palácio do Governo, o terá arredado da mira das armas de um pelotão de fuzilamento. 

Deportado, chegou a Lisboa com a roupa suja que ainda trazia vestida, para ser detido de imediato no aeroporto da Portela pelo COPCON e arbitrariamente preso em Caxias sem culpa formada. Libertado sem julgamento, ultrapassou tranquilo todas as prepotências e perdoou com indiferença aos mandantes e funcionários do PREC”. (...) (***)


3. A historiadora Maria José Tíscar, no seu livro "A PIDE no Xadrez Africano: Conversas com o Inspector Fragoso Allas"( Lisboa, Edições Colibri, 2017, pp. 191/192), revela a identidade de dois comerciantes portugueses, que terão sido "informadores da PIDE" na Guiné, um deles o comerciante Rodrigo José Fernandes Rendeiro, que alguns de nós conhecemos em Bambadinca. 

Das conversas da autora com o antigo inspetor Fragoso Allas, vem à baila um outro nome,  o do Mário Soares, estabelecido em Pirada,

Contrariamente ao Rendeiro, que terá tido problemas logo a seguir ao 25 de Abril, pela sua ligação à PIDE/DGS, o Mário Soares teria ficado na Guiné-Bissau, após a  independência. Mas terá "caído em desgraça" e sido expulso do país, um ano e tal depois, em novembro de 1975.(****)

O inspector da PIDE/DGS, Fragoso Allas, entrevistado pela Maria José Tíscar, não deixa dúvida sobre a "duplicidade" do papel do Mário Soares que, legal e formalmente, nunca foi agente da polícia política. Cito o Mário Beja Santos (***);

(...) "A sua [de Fragoso Allas] grande preocupação era montar uma rede de informadores na Guiné, depois de ter avaliado a situação, reorganizou o gabinete do centro de cifra, seguiu-se a rede de informadores, os postos mais importantes da DGS estavam perto do Senegal, era o caso de Pirada, Bigene e Guidage, para a Guiné Conacri só havia o posto de Buruntuma. Explica a importância de Pirada [, as palavras do Fragosos Allas]:

“Estava localizado mesmo junto à fronteira com o Senegal. O posto estava dentro da casa de um comerciante. O agente da DGS ali colocado vivia dentro da casa do tal comerciante. Mas o que sucedia na prática era que o comerciante era mais agente da DGS que o próprio agente; 90% das vezes era o comerciante que atendia o rádio. Converteu-se num agente duplo. 

"O comerciante chamava-se Mário Soares. Era habilidoso, tinha boas relações com as autoridades portuguesas e tinha bons contactos, também, com as do Senegal. Teve atuações muito importantes para nós. O Mário Soares era útil como agente de contrainformação. Quando queríamos enviar informações falsas ao PAIGC dizíamos-lhe que era muito secreto e então ele ia logo transmiti-las. 

"As informações que ele fornecia sobre o PAIGC quase não serviam, porque nós sabíamos que ele também trabalhava para eles. Quando cheguei à Guiné, o General Spínola estava muito zangado com ele e queria mesmo expulsá-lo da província, mas isso não seria conveniente porque o posto da PIDE estava dentro da sua casa, pelo que me interessei para que ele continuasse na sua atividade”.

No Arquivo Amílcar Cabral não há referências ao comerciamte Mário Soares. E os ataques a Pirada muito provavelmente ele não os sabia com antecedência, por via do PAIGC. Tenho de falar pessoalmente com a investigadora Maria José Tíscar (, que conheci em fevereiro passado) e com o médico José Pratas, para saber qual o fundamento de cada uma das suas versões, nomeadamente no que diz respeito ao "fim da história".

Quer tempo caído em desgraça, a seguir ao 25 de Abril (segundo José Pratas), ou tenha ficado na Guiné, no tempo do Luís Cabarl (, segundo Maria José Tíscar), em recompensa pelos seus "pequenos favores" ao PAIGC (para logo a seguir, em novembro de 1975, ser expulso). a história deste homem parece confirmar o velho ditado popular: "Não se pode servir a dois senhores!"... A duplicidade, em tempo de guerra, é sempre um jogo perigoso.

[De qualquer não tendo aqui o livro à mão, recomenda-se a sua leitura, e em especial o capítulo dedicado à Guiné: A PIDE no Xadrez Africano: Angola, Zaire, Guiné, Moçambique (Conversas com o Inspetor Fragoso Allas) (2ª Edição).  de María José Tíscar, edição: Edições Colibri, janeiro de 2018 ‧ isbn: 9789896896799]

 ____________

Notas do editor:


(**) Vd. poste de 25 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20898: (De)Caras (129): O comerciante Mário Soares, de Pirada, quem foi, afinal? Um "agente duplo"? - Parte V: Quando fui a Pirada, em DO-27, em 2/5/1972, levar o inspector da PIDE/DGS, Fragoso Allas, a Pirada, para conversões secretas com os senegaleses... A 18 desse mês, Spínola encontra-se com o Senghor, em Cap Skiring (Gil Moutinho, ex-fur mil pil, BA 12, Bissalanca, 1972/74)

Vd. postes anteriores da série:

21 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20884: (De)Caras (128): O comerciante Mário Soares, de Pirada, quem foi, afinal? Um "agente duplo"? - Parte IV: Versões contraditórias sobre o "resto da história" deste português, de quem o ex-alf mil médico José Pratas (, BCAV 3864, Pirada, 1971/73) disse que foi "porventura o branco mais africano que conheci"

18 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20867: (De)Caras (127): O comerciante Mário Soares, de Pirada, quem foi, afinal? Um "agente duplo"? - Parte III (Depoimento do nosso saudoso camarada Carlos Geraldes)


(***) Vd. postes de: 


(****) Vd. poste de 3 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17929: (D)o outro lado do combate (16): O Rodrigo Rendeiro, depois de regressar a Bissau, terá fornecido preciosas informações à FAP , permitindo a localização (e bombardeamento) das bases do PAIGC em Morés e Dandum, segundo Maria José Tístar, autora de "A PIDE no Xadrez Africano: conversas com o inspetor Fragoso Allas", Lisboa, Colibri, 2017 (pp. 191/192)

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20578: Convívios (914): A festa dos 10 anos da Magnífica Tabanca da Linha: gente feliz, sem lágrimas, mas com saudades dos que já partiram - Parte II (Fotos de Jorge Canhão / Zé Rodrigues / Manuel Resende)


Foto nº 1  >  Em  primeiro plano, o régulo (e fotógrafo) da Tabanca. Manuel Resende, e um dos magníficos tabanqueiros de todas as horas,  o Armando Pires... Em segundo plano, o Virgínio Briote, o Mário Fitas e o Zé Rodrigues

47º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 16 de janeiro de 2020 >

Foto: © Jorge Canhão (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 2 > O Manuel Resende, o régulo, sempre sereno e discreto.

47º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 16 de janeiro de 2020 >

Foto: © José Rodrigues (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 3 > João Parreira e Mário Fitas... Em segundo plano, o Raul Folques e a Maria Irene (de costas)


Foto nº 4 > C. Caria e Domingos Robalo... Seguramente falando de obuses... Em segundo palno, o "Sintra"


Foto nº 5 > Da esquerda para a direita, José Martins, Luís Graça, Francisco Silva e Carlos Silva


Foto nº 6 > Da direita para a esquerda, Jorge Araújo (coeditor do nosso blogue) (Almada),  Arménio Conceição e a esposa, Madalena (Cascais), e por fim o Arménio Santos (Lisboa)


Foto nº 7 >  Aspeto geral da sala... Reconhece-se, na mesa em primeiro plano,  de perfil, o Carlos Silvério (Lourinhã), do lado esquerdo, e o Luís R. Moreira, do lado direito, mais a esposa Irene (Sintra)


Foto nº 9 > Outra mesa; da esquerda para a direita, de costas, a Maria Irene, a Alice Carneiro e Maria Elisabete; em segundo plano, de frente, Zé Carioca (que faz anos amanhã), Mário Fitas, João Parreira e Virgínio Briote.

47º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 16 de janeiro de 2020 >

Fotos: © Manuel Resende  (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 10 > O fidelíssio Diniz de Sousa e Faro


Foto nº 11 > Outro artilheiro, magnífico, António Duque Marques... Não falha nos convívios da Tabanca da Linha... mas ainda não pertence à Tabanca Grande...


Foto nº 12 > Hélder Sousa, o régulo da Tabanca de Setúbal, na outra banda,  que, um dia, anda há de ter... tabanqueiros!...


Foto nº 13 > Mais dois alentejanos, felizes, sem lágrimas: Zé Colaço e Mário Fitas


Foto nº 14 > O editor da Tabanca Grande, Luís Graça, que de vez em quando aparece na Tabanca da Linha... 

47º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 16 de janeiro de 2020 >

Fotos: © José Rodrigues  (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20565: Convívios (913): A festa dos 10 anos da Magnífica Tabanca da Linha: gente feliz, sem lágrimas, mas com saudades dos que já partiram - Parte I (Fotos de Luís Graça e Manuel Resende)


Foto nº 1 > Da esquerda para a direita,  Zé Carioca, Mário Fitas, dois "homens grandes" da Tabanca da Linha, co o nosso editor Luís Graça.


Foto nº  2 > Aspeto parcial da sala: o evento juntou 59 "magníficos", em dia de chuva...


Foto nº 3 > Gente que veio de longe, de Penamacor, a 275 km,  o C. Martins, o artilheiro de Gadamael, "um dos que fechou a guerra", e que neste foi  um dos quatro "periquitos"; quis takvez recordar os tempos de estudante de medicina, em que aqui viveu, em Algés...


Foto nº 4 >  Outro "periquito", Vasconcelos e Sá, oficial superior reformado (creio que coronel), da FAP..  Veio com o Estrela Soares.


Foto nº 5 > O "periquito" Joquiim Vieira (Lisboa)


Foto nº 6 > O quarto (e último) "periquito", o José Mota Pereira: estava radiante! Veterano da Guiné, de 1965/67...Prometeu integrar   (e escrever para) a Tabanca Grande!


Foto nº 7 > Da esquerda para a direita, Raul Folques (um "Torre e Espada", 'comando', herói de guerra), Virgínio Briote e Luís Graça

Fotos:  © Manuel Resende  (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto  nº 8 >  Em primeiro plano, a Maria Elisabete, esposa do Francisco Silva, que já há largos meses, não aparecia, por razões de saúde... Veio, co o Francisco, à última da hora... E ainda bem!... Foi muito bom voltar a vê-la... Quem faltou, desta vez, por razões de saúde, foi o António Marques e a Gina... Dois  históricos, dois Magníficos!... Desejamos rápidas melhoras à Gina, e até ao próximo encontro!... (A flor foi uma gentileza do "Sintra".)


Foto nº 9 > Um belo trio: Maria Elisabete, Alice Carneiro e Maria Irene, esposas respetivamente do Francisco Silva, Luís Graça e Virgínio Briote...


Foto nº 10  > Mais um casal simpático: Arménio Conceição e Madalena (Cascais)


Foto nº 11 > Outro Magnífico... casal "histórico": a Irene e Luís R. Moreira (outro combatente que soube "perdoar mas não esquecer": caímos os dois em minas A/C, em Nhabijões. Bambadinca, no fatídico dia 13/1/1971, eu, ele, o Marques, e outros...)


Foto nº 12 > Joaquim Nunes Sequeira, o "Sintra", que vive em Colares... Sempre afável, bem disposto... Traz sempr uma "coisinha" nova com ele: uma flor, umas tangerinas, um frasco de "água de Lisboa", um "recuerdo" da Guiné... (Neste caso, foi uma fotocópia de bilhetes de entrada num espetáculo da UDIB, Bissau que oremos reproduzir noutro poste)


Foto nº 13 > Miguel Rocha e Manuel Macias, dois grandes amigos e camaradas, um transmontano e outro alentejano (o Macias, da terra do Zé Saúde, Aldeia Nova de São Bento, Serpa)... (Zé, dei o recado ao Manuel: lá estaremos, dia 8 de fevereiro, às 15h, na Casa do Alentejo...)


Foto nº 14 : > O nosso coeditor. do blogue da Tabanca Grande, o  Jorge Araújo, além disso régulo de duas tabancas, Almada e... agora Emiratos!... (Tivemos oportunidade de falar, os dois, por vídeochamada, com a sua "mais que tudo", a trabalhar noutro continente...)


Foto nº 15 > Zé Rodrigues e Manel Joaquim, outros dois "históricos" da Magnífica


Foto nº 16 > Dpois régulos, o Manuel Resende (Taabnca da Linha) e Carlos Silva (Tabanca dos Melros, Fânzeres, Gondomar)


Foto nº 17 > Joaquim Vieira e João Pereira da Costa (, ambos de Lisboa)


47º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 16 de janeiro de 2020 >  

Fotos (e legendas): © Luís Graça  (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Escreveu ontem o régulo, Manuel Resende, na página doFacebook da Magnífica Tabanca Linha (grupo fechado):


Realizou-se hoje o 47º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha com a presença de 59 convivas. Comemorámos o 10º Aniversário da sua fundação, com a presença de dois fundadores, o Mário Fitas e o José Carioca.

Depois de algumas palavras alusivas ao momento pelo Mário Fitas, em que não foi esquecido o nosso querido amigo Jorge Rosales, cantou-se os PARABÉNS,  seguido de bolo e espumante.

Como já é costume, em todos os convívios temos caras novas e desta vez foram quatro, Joaquim Vieira, C. Martins, José Mota Pereira e Vasconcelos e Sá. Parabéns e sejam bem-vindos.


2. Comentou o Luís Graça, editor da Tabanca Grande (*):

Parabéns ao Manuel Resende que tomou "conta do barco" depois da doença e da morte do Jorge Rosales... Sempre amábel, afável, discreto, eficiente, prestável, impecável...Sempre preocupado com o bem-estar de todos, é o último a sentar-se à mesa depois de fazer a "cobertura fotográfica" de cada evento...

Depois do Hotel Riviera, em Carcavelos, a Tabanca da Linha assentou arraiais" em Algés, no "Caravela de Ouro"... E, penso, que em boa hoa e para  agrado geral: este local bate o outro em todos os parâmetros: acessibilidade, centralidade, comes & bebes...

Parabéns ao Zé Carioca e ao Mário Fitas, outros "dois homens", que representaram os 9 magníficos cofundadores, dois infelizmente já desaparecidos. O Mário lembrou o espírito de comaradagem e convivialidade que sempre tem norteado e  caracterizado os encontros da Magnífica.

Obrigado, Armando Pires (*) e Mário Fitas, pelas vossas palavras, simpáticas, em relação à minha pessoa e sobretudo à Tabanca Grande que, vaidosa, julga-se "a mãe de todas as tabancas"... Mas não há mães sem... pais & filhos!... 

O que é bonito é ver a alegria da malta, num dia como hoje, partilhando três horas do seu tempo, uns com os outros... AS fotos que reproduzimos acima testemunham isso...

Pessoalmente gostei de ter podido ir à festa dos 10 anos da Tabanca da Linha, por várias razões... E uma delas, talvez a principal, é que achei, desta vez, que consegui gerir bem o tempo, de modo a poder dar dois dedos de conversa com cada uma das várias mesas... E depois há sempre jovem "nova" a aparecer, pela primeira vez...Neste caso 4, num total de 59.

Sei que, nas noutras tabancas (do Centro, de Matosinhos, da Maia, dos Melros, só para citar algumas que se reunem com maior regularidade, sem esquecer o "Bando" que é "nómada" e, portanto "não atabanca"...) também reina este espírito, dos amigos e camaradas da Guiné...

E é com este espírito, jovial, que eu quero ver, este ano, a malta toda no próximo Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real... Estamos a negociar datas... o que não está fácil, por causa das muitas "agendas" de todos e de cada um..
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domingo, 8 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20425: Lições de artilharia para os infantes (9): Os Pel Art, de vez em quando, tinham que "tocar uma punheta" aos obuses, por razões de manutenção... (C. Martins, ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1973/74)


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > Agosto de 1972 > Espetacular foto noturna do obus 14 em ação...

Algumas características técnicas do Obus 14 cm m/943:  (i) Origem Reino Unido; (ii) Ano de fabrico: 1941 (entrada ao serviço: 1943); (iii) Calibre: 140 mm; (iv) Guarnição: 10 elementos; (v) Peso do obus 6190 Kg; (vi) Peso da granada HE; 40,5 Kg; (vii) Alcance: 15600 m; (viii) Campo de tiro horizontal:  -530 mil a +530 mil; (ix) Campo de tiro vertical;  -90 mil a 800 mil; (x) Cadência de tiro: 2 TOM; (xi) Locomoção Tração Automóvel... Observ: Foi descontinuado em 1987, é hoje peça de museu...

Foto (e legenda): © Vasco Santos (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário do nosso camarada C. Martins (, ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1973/74; hoje médico, reformado), ao poste P20423 (*)

Foto: Cortesia de António Rios (2019)
O GA7 [Grupo de Artilharia nº 7, em Bissau]  tinha uma oficina de reparação de obuses chefiada por um 1.º sargento.

Quando avariava um ou mais obuses,consoante o tipo de avaria, podia-se eventualmente fazer a reparação no próprio local, os Pel Art  tinham material de substituição, ou então deslocava-se um mecânico de Bissau, e em último caso o obus era substituído.

Os tubos (que para os infantes são canos) tinham estrias e, após mil tiros, tinham que ser substituídos porque estas se desgastavam, mas, para evitar isso, aconselhavam avivá-las o que dava uma trabalheira do "caraças".

Os graduados dos Pel Art  tinham uns conhecimentos de mecânica dos obuses não só para a manutenção como para eventuais pequenas reparações.

Algures no sul da Guiné um alferes de um Pel Art  perdeu um "cogumelo", que era uma peça em aço da culatra cujo o formato era isso mesmo, um cogumelo, e como ia ser substituído tinha que fazer o espólio do Pel Art.

Pediu ao Pel Art  da vizinhança, que amavelmente cedeu um. Este por sua vez resolveu a falta do dito incluindo-o no relatório dos estragos feitos por um ataque, evidentemente com mais uma picareta, uma pá e tralhas várias em armazém.

Sabia-se que ninguém lia o dito relatório, e se lessem que fossem lá verificar a veracidade da coisa.

Também se tocava periodicamente uma "punheta" aos obuses que consistia na lavagem dos tubos,  e esta parecia que os tubos estavam a ejacular, daí o respectivo nome.

Mais lições de artilharia, têm que pagar, porque andei eu a queimar os neurónios para vocês passarem a saber tanto como eu, só faltava mais essa!

Ah, na foto [, à esquerda],  está-se a reparar o aparelho de pontaria que era uma avaria frequente.

Saudações artilheiras (**)
C.Martins
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 7 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20423: Facebook...ando (54): António Rios, ex-fur mil mecânico de artilharia (GA 7, Bissau, 1972/74), algarvio de Vila Real de Santo António, a viver em Tavira

(**) Último poste da série > 23 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20375: Lições de artilharia para os infantes (8): Algumas características técnicas do obus 14 e da peça 11.4 (C. Martins, ex-cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1973/74; João Martins, ex-alf mil art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69)

sábado, 23 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20375: Lições de artilharia para os infantes (8): Algumas características técnicas do obus 14 e da peça 11.4 (C. Martins, ex-cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1973/74; João Martins, ex-alf mil art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69)


Guiné > Região de Gabu > Coluna Bafatá - Nova Lamego - Piche > Setembro de 1968 > Picada a caminho de Nova Lamego, com três peças 11.4.  As peças foram desembarcadas em Bambadinca, vindas de Bissau, na LDG 101. Seguiram depois em estrada alcatroada, até Bafatá. Só mais tarde é que foi construída uma estrada alcatroada entre Bafatá e Nova Lamego, com seguimento até Piche. Estas peças participaram na Acção Mabecos, 22-24 de fevereiro de 1971.

Foto (e legenda): © João José Alves Martins (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] (*)


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > 1969 > Álbum fotográfico do João Martins > Foto nº 135/199 > O temível obus 14... mais um elemento da guarnição africana do  Pel Art ali destacado.

Foto (e legenda): © João José Alves Martins (2012).   Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].(**)


VI Encontro Nacional da Tabanca Grande, 4 de junho de 2011.
Uma das  raras fotos do C. Martins, aqui de óculos escuros,
ao lado do J. Casimiro de Carvalho,
dois heróis de Gadamael.
Foto: Luís Graça (2011)
1. Comentário ao poste P20370 (***), por parte do nosso C. Caria , ex-alf mil art, cmdt do 23º Pel Art, Gadamael, 1973/74


O C. Martins - nosso leitor e camarada, mais conhecido por ter sido o "último artilheiro de Gadamael" , comandante do Pel Art 23, que acabará por (con)fundir-se com o 15, mas também médico, reformado,  a viver no Portugal profundo, - não faz parte formalmente da nossa Tabanca Grande (TG), por razões que ele invocou, de natureza  deontológica, éticas e profissional, razões que sempre  entendemos e respeitámos. . Isto quer dizer que: (i) nunca pediu para aderir à TG; (ii) nunca aceitou o nosso convite para ingressar na TG; (iii) nunca se apresentou ao "pessoal da caserna", como mandam as NEP do blogue; (iv) nem nunca enviou as duas fotos da praxe. Tem cerca de 3 dezenas de referências no blogue, foi em tempos presença assídua nos Encontros Nacionais da Tabanca Grande, em Monte Real

Alcance do obus 14...16 km. E da peça 11,4...18 km
Peso de ambos sensivelmente 7 toneladas

Para pôr a peça ou obus em posição de tiro,(abrir sapatas,colocar espoleta na granada e introduzi-la no tubo, colocar carga,fechar culatra principal,introduzir escorva na culatra auxiliar, puxar cordel para accionar disparo) levava no mínimo 1 minuto para artilheiros experientes.

Após o obus estar pronto para disparar,  o comandante introduzia os dados de tiro no aparelho de pontaria,  verificava níveis e fazia a respectiva rectificação com a cruzeta colocada normalmente atrás do obus.

Convém referir que em situação normal de estacionamento em quartel, o obus estava em posição de tiro e as granadas estavam já com a respectiva espoleta e as cargas à disposição.

A espoleta era armada pela rotação da granada após a saída do tubo.

A velocidade da granada à saída era de 600 m /s

A elevação do tubo ía de -5º a 45º-

Se se fizessem vários tiros directos com uma elevação baixa corria-se o risco de rebentar os hidráulicos.

O grande perigo que todos os artilheiros temiam era o rebentamento da granada à boca do tubo..Invocava-se Santa Bárbara e vai disto!...

Se bem que a dotação de cada obus 14 fosse de 10 serventes,  fazia-se tiro com menos, dependia da experiência de cada um.

Havia um Pel Art  algures na guiné que conseguia fazer tiro de 20 em 20 segundos e,  para gáudio dos infantes,  terminava-se sempre com 3 tiros em simultâneo,  era um "mini ronco".

Ah!, já me esquecia,  a granada do 14 pesava 45 kg e da peça 11,4 25 kg. (**)

Saudações artilheiras

C.Martins

2. Informação do João Martins (ex-alf mil art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69; vive em Lisboa: tem 55 referências no nosso blogue]


Sobre o obus 14 (cm e não mm...), ele já nos deu, em tempos,  as seguintes explicações técnicas (**)::

(...) "14 cm é o diâmetro da alma do canhão. Recordo que um obus é constituído por "reparo", a parte que assenta no chão e que tem duas "flechas" à retaguarda para que não recue, o "canhão" que começa na "culatra" que é a parte onde se colocam as "granadas" e os "cartuchos" com diferentes dimensões e cargas, conforme a força impulsionadora que se pretende, e que está relacionada com a distância, e, finalmente, a "massa recuante" que é o sistema hidro-pneumática que, após o tiro, leva o "canhão" à posição inicial.

Quando estive em Bedanda, e antes de rumar a Gadamael-Porto, com destino a Guileje, os 3 obuses estavam dirigidos para 3 direções bem distintas porque os ataques eram provenientes de 3 lados bem diferenciados, pelo que, regra geral, não disparavam simultâneamente, além de que estavam em extremos do aquartelamento.

Recordo-me que um dia, alguém vestido de modo "estranho" me perguntou se os obuses disparavam só para longe, ou, também, para perto. Respondi que só para longe. É claro que, naquela noite, perceberam quando queriam entrar no aquartelamento, que também disparava para perto. Os africanos que se encontravam no interior da moranças é que não gostaram do "festival" porque as granadas, que pesam 45 kg, passaram-lhes a rasar, eu diria que entre 1 metro e 2 metros. Numa das fotografias das minhas memórias, vê-se um furriel a acimentar o chão, onde o obus rodava... 


Enfim, algumas das minhas muitas recordações...que não esquecerei facilmente.. (...) (**)

Portanto, , no  essencial, pode dizer-se o seguinte:

(i) a peça de 11.4 cm e o obus 14 cm eram parecidos (mesmo reparo );

(ii) a peça 11. 4 era de menor calibre mas tinha o tubo mais comprido que o obus 14.(****)
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Notas do editor:


(**) Vd. poste de 26 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9947: Memórias da minha comissão (João Martins, ex-alf mil art, BAC 1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69): Parte VI: Bedanda, com o obus 14: um dos locais que me deixou mais saudades...

(***) Vd. poste de 22 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20370: Fotos à procura de uma... legenda (113): Camaradas artilheiros, quando media, em comprimento, o conjunto Berliet ou Mercedes ou Matador + reboque + obus 14 ou peça 11,4 ?.. 15 metros!... E quanto pesava ? 15 toneladas!... Façam lá o TPC: 9 bocas de fogo, mais 9 rebocadores, mais 9 Unimogs e Whites, mais 300 homens em armas... mais 500 granadas... Qual o comprimento (e o peso= de uma coluna destas, a progredir numa picada, no mato, de Piche, a caminho da fronteira, "Acção Mabecos", 22-24 de fevereiro do século passado, numa guerra do outro mundo ?!..

(****) Último poste da série > 30 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20107: Lições de artilharia para os infantes (7): Tal como o Strela reduziu a liberdade do nosso movimento aéreo, o radar de localização de armas (vulgo contra-morteiro) teria congelado a artilharia do PAIGC... (Morais da Silva / António J. Pereira da Costa / Luís Graça / Manuel Luís Lomba)

Postes anteriores:

10 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10019: Lições de artilharia para os infantes (6): O obus 14 de Bedanda em tiro direto... (C. Martins / Rui Santos)

17 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9915: Lições de artilharia para os infantes (5): Quando o oficial de dia fez um levantamento de rancho... (C. Martins, Cmdt do Pel Art, Gadamael, 1973/74)

4 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9852: Lições de artilharia para os infantes (4): O que era uma bateria (ou bataria)... (C. Martins, Cmdt do Pel Art, Gadamael, 1973/74)

16 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9496: Lições de artilharia para os infantes (3): Fazer a rotação, de 180º, do obus 14, para apoiar Jemberém (C. Martins, CMDT do Pel Art, Gadamael, 1973/74)

15 de fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7791: Lições de artilharia para os infantes (2): O artilheiro Doutor, Mansambo, CART 2339, 1968/69 (Torcato Mendonça)

14 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7782: Lições de artilharia para os infantes (1): Como era feito o tiro de obus 14 (C. Martins, ex-Alf Mil, Pel Art, Gamadael)

segunda-feira, 15 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19980: 15 anos a blogar desde 23/4/2004 (11): quando os "artilheiros" davam lições aos "infantes", habituados a comer e a calar... (C. Martins, alf mil art, cmdt do 23º Pel Art, Gadamael, 1972/74)


Guiné > Região de Tombali > > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971 >  A saída do obus 14, de noite. Foto espetacular do  ex-alf mil médico Amaral Bernardo, membro da nossa Tabanca Grande desde Fevereiro de 2007.

Foto (e legenda): © Amaral Bernardo (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. A propósito de "infantes" e de "artilheiros" (*)... 

O C. Martins - nosso leitor e camarada, mais conhecido por ter sido o "último artilheiro de Gadamael" , alf mil art, comandante do 23º  Pel Art, que acabará por (con)fundir-se com o 15, mas também médico, hoje, no Portugal profundo, periférico, - não faz parte formalmente da nossa Tabanca Grande (TG), por razões alegadamente deontológicas, éticas e profissionais,  que eu entendo e respeito. Isto quer dizer que: (i) nunca pediu para aderir à TG; (ii) nunca aceitou o meu convite para ingressar na TG; (iii) nunca se apresentou ao "pessoal da caserna", como mandam as NEP do blogue; (iv) nem nunca enviou as duas fotos da praxe; (v) nem muito menos gosta que a gente lhe mostre a cara ou o use o seu nome profissional.. Mesmo assim tem 27 referências no nosso blogue.

Em contrapartida, é (ou foi) leitor assíduo, fã do nosso blogue, comentador quase diário, há alguns anos atrás, dos nossos postes, e frequentador dos nossos encontros nacionais (, já não foi aos dois últimos, o de 2018, por razões imprevistas de saúde...). É um profundo conhecer da Guiné,  onde depois da independendência fez voluntário como médico de uma ONG, enfim, é um verdadeiro amigo do povo guineense... Tem, além disso - e excecionalmente - uma série feita com os seus comentários neste blogue...

Já em tempos lhe transmitimos que tínhamos saudades das suas "lições de artilharia para os infantes", da sua boa disposição, do seu sentido de humor de caserna, da sua saudável irreverência, enfim, dos seus comentários, por vezes desconcertantes,  mas sempre certeiros, ou não fosse ele um artilheiro e, para mais, o último artilheiro de Gadamael!...Sabemos que alguns não lhe perdoaavam esse pequeno detalhe do seu currículo, mas a verdade é que alguém tinha que fechar a porta da guerra... E em Gadamael coube-lhe a ele, que nem sequer foi voluntário para a tropa, era dirigente estudantil quando foi apanhado pela "ramona"...

Será sempre aqui lembrado como um bom contador de histórias, com grande  sentido de humor, e muitas memórias da tropa, da guerra e da paz, que ele se dignou partilhar connosco, seus camaradas da Guiné...  Enfim, um "bravo da Guiné"!

Esta história que (re)publicamos a seguir,  é uma verdadeira lição de um "artilheiro", para os pobres coitados ds "infantes" que já cá, na metrópole, nos quartéis de Norte a Sul, comiam e calavam... Já nessa altura perguntavamos aqui: foi a tropa uma escola de virtudes ? Quero eu dizer, a tropa do nosso tempo... Aprendia-se lá só coisas de artilharia, infantaria, cavalaria, transmissões ? Mas também valores como os da justiça, equidade, liberdade, integridade, honestidade, coragem moral, patriotismo ?...

Espero que o C. Martins nos leia (ainda) e se sinta honrado com a republicação desta história  que é também uma forma singela de o associarmos às  discretíssimas comemorações dos quinze anos do blogue de todos nós (**)... Não sei se ele já se reformou, se sim (, mesmo que médico nunca arrume o estetoscópio e dispa a bata), acho que está na altura de ele entrar por aí adentro, na nossa Tabanca Grande, de mãos nos bolsos, a assobiar e dizer: - Rapaziada, finalmente cheguei!

2. Lições de artilharia para os infantes > Quando a gente nem sempre come e cala...

por C. Martins (***)

Este tema é muito interessante: Relação entre comandantes e comandados e vice-versa. Atitudes, justiça, injustiça, abuso de poder, capacidade de liderança ou não, coesão ou espírito de corpo. Todos nós tivemos casos, independentemente da categoria ou posto hierárquico. 

A propósito de rancho... Lembro-me de um caso passado num regimento de uma cidade alentejana. O oficial de dia fez um levantamento de rancho !!!!.

Este tinha por hábito não se limitar a provar a comidinha da bandeja, mas verificar as pesagens dos géneros segundo as NEP. Era vitela à jardineira: tanto de ervilhas, cenouras, batatas e a carne da dita.
Iniciado o repasto, que a bem da verdade o pessoal comia com sofreguidão, o dito oficial, olhando de soslaio para pratos e travessas repara que havia ervilhas, cenouras, grande quantidade de batatas e, surpresa, a carne praticamente tinha-se evaporado!.

- NINGUÉM COME MAIS, CAR...!!! - berra o gajo com um galãozito transversal no ombro, e enceta uma corrida frenética até à cozinha onde se depara com grandes nacos de carne sobre a bancada.

Transtornado, enfia uma cabeçada no 1º sargento vago-mestre ou lá o que era:
- Você está preso, seu f... da p...!. E estão todos presos, seus cabr...f...das p..., bandidos, gatunos! ...

Mais calmo, tenta contactar o comandante que não estava, o 2.º também não... Bem, a alternativa era o contacto com o QG da região militar. Atende o oficial de dia da respectiva:

- ... Fez o quê ?!! Você já desgraçou a sua vida!

Nesse dia almoçou-se só às cinco da tarde.

O sorja f... da p... tinha por hábito gamar a carne e outros géneros que vendia a talhos e estabelecimentos civis, com a conivência dum cabo RD... Os outros elementos da cozinha eram ameaçados para se calarem. A justiça militar atuou com penas exemplares... O aspiranteco teve um elogio verbal e foi mobilizado para o CTIG.

Qualquer coincidência com a realidade não foi mera ficção.

C. Martins

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Notas do editor: