Mostrar mensagens com a etiqueta CART 2439. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta CART 2439. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16895: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (37): 1 - O amigo Mohammed de Canquelifá

1. Em mensagem do dia 26 de Dezembro de 2016, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), autor do Livro "Memórias Boas da Minha Guerra", enviou-nos esta história destinada à sua série com o mesmo nome:

Caros amigos.

Junto a história de "O amigo Mohammed".

Trata-se da primeira das quatro que tenciono publicar. Esta, a primeira, relaciona-se com o Mohammed da Guiné. A segunda será dedicada ao Mohammed da Mauritânia, a terceira ao Mohammed de Marrocos e a quarta ao Mohammed de Santa Maria da Feira.

Espero que todas elas mereçam a vossa habitual atenção.

Grande abraço

José Ferreira Silva


Memórias boas da minha guerra

37 - O amigo Mohammed

1 - Da Guiné

Nos primeiros dias de Agosto de 1968, voltámos a passar por Fá Mandinga, primeiro local onde pernoitámos na chegada à Guiné (1 de Maio de 1967). Desta vez seguíamos lá mais para o norte, para Canquelifá, onde prevíamos passar pacificamente os últimos meses da nossa guerreira missão.


Vista do aquartelamento de Fá Mandinga

Todavia, o meu pelotão ficaria no Destacamento de Dunane, cerca de 2 meses, portanto afastado dos outros camaradas da Companhia. Se, por um lado, manteria uma forte ligação permanente ao meu grupo, por outro, ficava afastado dos camaradas mais chegados, especialmente dos outros graduados, com quem convivia mais de perto.

Por isso, quando segui para Canquelifá, levei uns dias a actualizar as conversas e a retomar aquele relacionamento intenso a que estava habituado.

Uma das coisas que me surpreenderam foi o facto do Furriel Enfermeiro ter passado a dormir na Enfermaria. Mas, como se dizia que o “Dotô” passava o tempo a atender os doentes, era evidente que pouco tempo lhe sobrava para relaxar/descansar na cama, perto dos outros Furriéis. Aliás, só o víamos a comer e a jogar um pouco às cartas, logo após o almoço.

Tive a oportunidade de verificar a fila de doentes que se estendia diariamente, logo de manhã, por boas dezenas de metros, junto da Enfermaria, à espera de serem atendidos. Também me apercebi de que, em pouco tempo, o “Dotô” ultrapassara tudo que era normal e razoável na competência e capacidades de um Furriel Enfermeiro a gerir a assistência a milhares de pessoas dispersas por uma zona num raio de várias dezenas de quilómetros.

Pois o “Dotô Berguinhas” era incansável e, após várias intervenções na salvação de casos perdidos, adquiriu o estatuto de santidade (ou de bruxedo). É que os milagres aconteceram mesmo!

Naquela região eram inúmeros os casos de lepra, uns mais avançados que outros, mas todos com o rótulo da previsível fatalidade. Mas o Berguinhas não se conformava. Ele esforçava-se, experimentava, arriscava. Mesmo que, porventura, tenha causado alguma morte antecipada, foi com boas intenções, pois gozava de uma reputação granjeada à custa dos seus vários “milagres”.

Eu sempre me relacionei muito bem com ele. Dizia-se que parecíamos “duas putas”, sempre unidos, sempre na brincadeira e sempre na procura de uma boa ambiência. Por isso, acompanhei bastante essa fase do melhor “Doutor” que jamais passou por Canquelifá.


O “Dotô Berguinhas” animava os serões com a sua teimosia em recitar o seu poema “A Formiga vai à Serra” (que nunca conseguia lá chegar)


Porém, um dia, após várias insistências, confessou-me a razão da sua quebra de alegria. Andava preocupadíssimo porque o filhote do amigo Mohammed estava muito doente e percebia que nada o iria salvar. Já tinha experimentado tudo e mais alguma coisa mas o miúdo não melhorava.



Funeral em Canquelifá

A criança morreu. Penso que consegui tirar alguma foto a esse funeral. Vi o Berguinhas a ser reconfortado pelo próprio pai do miúdo. Também vi, mais vezes, o Mohammed a inteirar-se da situação de outros doentes. Apesar de não ser habitual o meu envolvimento ou preocupação de maior com os nativos, esse Mohammed ficou-me “registado”.

Aproximou-se o final da comissão de serviço. Dali, de Canquelifá, iríamos viajar até Bissau, local que a maioria de nós nunca havia pisado. Estava a chegar a CArt 2439 para nos substituir, a fim de seguirmos para Bambadinca e aguardarmos o transporte fluvial até Bissau.

Foram dias de grande entusiasmo e alegria, contrastando com a tristeza e apreensão dos nossos substitutos. E para alegrá-los, lá surgiu a ideia do Berguinhas: - fazer uma recepção de “boas-vindas” aos graduados dessa Companhia.

No serão de 1 de Dezembro, vestimos os balandraus, com os gorros a preceito, enfiámos algum ronco nos braços e no pescoço e lá fizemos o nosso papel de simpáticos anfitriões. Virados para os periquitos, eu “lia” em “árabe” a mensagem desejada e o Cepa, que já, nesses tempos, evidenciava uma certa capacidade oratória, fazia a “rigorosa” tradução. E eu dizia:
- Shalalamagrramalgrraminchal ala grram… echegrram… (etc.,etc.)

O Cepa, traduzia:

"Caros amigos, colegas de infortúnio, 
nós compreendemos bem a vossa triste condição de periquitos.
 Já passámos por isso 
e sabemos quanto é doloroso aguentar as saudades dos nossos familiares, 
das nossas namoradas e dos nossos amigos.
Sabemos o que é sangrar do coração.
Sabemos também o que é chorar de raiva e desespero.
Isso terá que passar.
Alegrai-vos porque isto não vai durar sempre.
Não vai piorar e o tempo vai passar.
Procurai dar o vosso melhor, 
especialmente na camaradagem, na solidariedade e na compreensão.
Ajudai-vos mutuamente, para que o tempo passe o melhor possível.
Do fundo do coração, desejamos que tudo vos corra bem 
e, se possível, melhor do que correu a nós."

Abismados com tanta eloquência extraída de um escrito árabe, os periquitos interrogavam:
- Como conseguiram aprender árabe?

O Machado lá ia esclarecendo:
- Não é muito difícil. O maior problema é aspirar o “erre”, porque a malta tem tendência a escarrar sem querer. Além disso, juntando o AL às palavras, aprendemos muita coisa. Por exemplo: - Algarve, Almería, Algeciras, Almalaguês, Almeirim, Alcácer, Alfarroba, Alcagoitas… etc., etc.

E o Miranda acrescentava:
- É mesmo fácil. Vocês, ao fim de um mês, já podem manter conversa com os gajos.

No dia seguinte:
- Ó Silva, anda comigo devolver os balandraus que nos emprestaram - disse o Berguinhas.
- Mohammed, queremos agradecer-te o favor de emprestares este material. Aqui está.

O Mohammed aproveitou a oportunidade para tecer grandes elogios ao Berguinhas, a quem lhe disse:
- Foste o melhor “Doutor” que passou por Canquelifá. O pessoal deve-te muito e eu fico muito contente com teu trabalho.

Ia invocando o nome de Alá, ligando-o a esse trabalho e a esse sucesso. Encaminhou-nos para uma tabanca maior e mostrou-nos o seu interior. Era uma biblioteca impressionante. Ele era o responsável por ela. Além do Alcorão, mostrou-nos várias obras de grande interesse para ele e para o seu povo. Contou-nos que já tinha ido a Meca duas vezes e esperava lá voltar.

Explicou as origens do seu povo Mandinga e a sua ligação ao império Mali e do seu grande rei Sundiata Keita. Esse império, do grupo etno-linguístico Mandê, fundado no Século XIII, que se estendeu ao longo da costa da África Ocidental. Migraram para oeste a partir do Rio Niger. Dos conflitos com os Fulas, absorveram a sua ligação religiosa ao islamismo. Diz-se que hoje, cerca de noventa e nove por cento dos Mandingas seguem o Alcorão. Nos Séculos XVI, XVII e XVIII os Mandingas foram sendo capturados como escravos e vendidos para a América.

O Mohammed era um Senhor!


O Provérbio árabe

Quando nos despedíamos, pedi-lhe para nos dizer o que estava escrito naquele papel que eu “lera” aos periquitos. E ele leu-o pausadamente:

Provérbio árabe

Não digas tudo o que sabes
Não faças tudo o que podes
Não acredites em tudo que ouves
Não gastes tudo o que tens

Porque:

Quem diz tudo o que sabe,
Quem faz tudo o que pode,
Quem acredita em tudo o que ouve,
Quem gasta tudo o que tem;

Muitas vezes diz o que não convém,
Faz o que não deve,
Julga o que não vê,
Gasta o que não pode.
___________

Nota: - Vim a saber que o reconhecido apoio ao “Dotô Berguinhas” partira do Mohammed, quando fez destacar a “empregada da Enfermaria”, a tempo inteiro.

(Continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 26 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16641: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (36): O guerreiro da minha rua

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12992: Memórias de um Lacrau (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) (Parte XII): O Cunha, único até hoje, o fur mil Cândido Cunha... Ou Cor mil Lukas Títio, o antitropa...


Espinho > c. 1968 > CART 2479 > ainda em Espinho, no IAO, o Cunha está no centro da foto [, na segunda fila, de pé], facilmente identificado por ser o que se está a rir, se calhar por todos os outros estarem tão sérios. [Na 3ª fila. reconheço, à esquerda do Cunha, o Renato Monteiro; e na 4ª fila, *a esquerda do Bento, o Valdemar Queiroz. O segundo, a contar da direita,  na 1ª fila, parece ser o nosso grã-tabanqueiro Abílio Duarte] [LG]

Fotos (e legendas): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar. L.G.]

1. Continuação da publicação do álbum do Valdemar Queiroz [, foto à direita, Contuboel, 1969]... Desta vez, dedicado ao fur mil Cândido Cunha que, curiosamente já teve aqui uma passagem fugaz (*), quando o Valdemar Queiroz muito provavelmente ainda não acompanhava o nosso blogue:

Excertos de mensagens diversas do Valdemar Queiroz,

Assunto - O Cunha, único até hoje


(i)  9 de fevereiro de 2014 > 

(...) O que será feito do Cândido Cunha ? (*)

Entrámos  prá tropa em Santarém (10/07/67) e na EPC até os ilhós das botas por onde passavam os atacadores tinham que ser areados.

Faz este mês 45 anos, 18/02/69, da partida da rapaziada prá Guiné! (...)


(ii) 4 de março de 2014 

Sobre o ex-Fur Mil Cândido Cunha , ele, próprio, não quer saber de nada destas coisas.

Mas nós temos que saber quem foi o Cunha tal como, qualquer Miliciano que foi prá guerra, como foram tantos Milicianos, sargentos e oficiais,

O Cunha era um anti-tropa, mas entrou prá tropa, em 10/07/67, como eu, em Santarém, na Escola Prática de Cavalaria. Depois,  sempre com as botas engraxadas, até à exaustão, com as  [?] mais amarelas que o sol da madrugada, com as calças presas.  Depois fomos para a EPA, em Vendas Novas.[...]


(iii) 5 de março de 2014

Boa noite, caro Luís Graça.

É muito bom termos esta maneira de comunicarmos.

 Ainda sobre o ex-Furriel Mil Cândido Cunha (ele teria dito do ex-Furriel Cunha, o caraças!).

Tal com o eu, o Sousa e o Cunha,  éramos os mais velhos Furriéis Mil  da CART 2479. Fomos incorporados na tropa em 10/07/67, na EPC, em Santarém. Depois fomos, para a EPA, em Vendas Novas (Os Comandos do Sul).

Saímos duma tropa de boinas com grandes espadas reluzentes, calças apertadas, com um elástico, a meio da bota (das antigas), entre a primeira e segunda fivela, à golfe, ou à Mouzinho,  sempre bem engraxadas, e com umas grandes fitas vermelhas e amarelas na boina, quase a nos bater nos ombros. mas tudo à Cavalaria (nada de mariquice). 

Chegamos à EPA e foi do caraças. Queriam lá saber dos nossos tiques cavaleirescos. E lá estivemos e aguentamos as grandes cheias de Dezembro de 1967, depois eu fui para a Figueira da Foz dar instrução ao contingente geral e o Cunha ficou em Vendas Novas, a dar instrução ao CSM ou COM, não sei ao certo.

Mas, consta-se que na EPA, durante uma reunião de Oficiais, Sargentos e Cabos Mil. sobre um dispositivo de segurança, numa certa operação de treino de combate do CSM, e, depois, de todos apresentarem as suas questões, chegou a vez do Cunha, (que estava a desenhar uns autos de corrida no papel, dos seus mapas, etc.,) se pronunciar sobre o assunto, ao que ele teria dito: 
- VRRUMMMM!!!, VRRUMMMM!!! VRRUUMMMM!!!!..  Este é o meu novo modelo do Fórmula 
Um Lukas Titio (é de cair pró lado).

Ficou tudo siderado.

Nós. os três,  já éramos Fur Mil antes do embarque, os outros eram mais novos três /seis meses.

O Cunha sempre foi um anti-tropa., mas nunca foi apologista de bandalheira ou de fugir a responsabilidades, (outros mais 'valentões' o fizeram ou estavam doentes quando era preciso ir pró mato).

Quando era preciso, o Cunha lá estava, nunca fugiu ou arranjou desculpas, tal qual a maior parte de todo nós, mas havia um espertinho.

Por mais anti-tropa que ele fosse, foi o seu pelotão que, também, fez parte da célebre emboscada da Judy na estrada Piche-Madina  (?). , com saída de Piche, de noite, com o comando do Cap Paquim, em que emboscaram o IN e ele lá esteve a segurar a nossa cadela Judy, que os tinha seguido.

Também em Canquelifá por lá andou em dias de ataques ou minas na estrada. (*)

O Cunha podia ter posto o pelotão ... atenção pelotão, marchar pra.. trás, ou ter escrito no quico Cor Mill Lukas Titio, por ter um humor surrealista, não bem  entendido por nós, mas nunca se esquivou.

Por isso eu digo, neste momento: quero 'fugir' desta terra de um novo cinzentismo retrógrado, 'fugir' com o humor do Cunha e ficar na claridade/colorida de Vila Nova de Milfontes nos dias de verão. (**)

Um abraço,
Queiroz

PS - Em anexo uma foto dos Furriéis da CART 2479, ainda em Espinho, no IAO, o Cunha está no centro da foto, facilmente identificado por ser o que se está a rir, se calhar por todos os outros estarem tão sérios.

______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 28 de outubro de 2011 >  Guiné 63/74 - P8956: O Nosso Livro de Visitas (118): Cândido Filipe da Cunha, ex-Fur Mil da CART 11 (CART 2479) (Canquelifá)

(...) Recordarei sempre o 1.º Cabo [Aux Enf, José Manuel Justino]  Laranjo [, da CART 2439, com sede em Canquelifá,] que, dias antes, me tinha tratado do paludismo e fazendo planos para vir à metrópole conhecer a filha, me ia mostrando a foto da bebé que tinha nascido há oito dias.

Tinha eu já entrado (Canquelifá), e tomava duche, quando ouvimos os rebentamentos. O Cabo Laranjo foi um dos mortos e vi-o chegar deitado num Unimog... Recordações muito tristes. (...)



sábado, 15 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12839: Memórias de um Lacrau (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) (Parte VIII): fotos de Canquelifá, na fronteira nordeste: bajudas, final da festa do Ramadão, descanso dos guerreiros...


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70)  > Bajudas (1)


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70)  > Bajudas (2)


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) >    Festa do final do Ramadão (1)


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) >  Festa do final do Ramadão (2)... O Valdemar em tronco...


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70)  >  Festa do final do Ramadão  com o cap mil Pinto a assistir (1)... A meio, sentado, fardado...


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) >   Festa do final do Ramadão  com o cap mil Pinto a assistir (2)


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) >   Festa do final do Ramadão  com o cap mil Pinto a assistir (3)´


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70)  >     Conversas entre o Porto e Lisboa... Vários graduados...


Fotos (e legendas): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]



1. Continuação da publicação das Memórias de um Lacrau ... Texto e fotos enviadas, em 9 de fevereiro último, pelo Valdemar Queiroz {, foto atual à esquerda] (*)

Diz a última parte do texto, muito laconicamente:

"Depois, a partir de Nova Lamego, andámos em intervenção na zona leste, a nível de dois pelotões, por Cabuca, Cancissé, Madina Mandinga, Dara, Piche, Ponte Caium, Dunane, com permanência perlongada em Canquelifá, até nos fixarmos em Paunca e Guiro Iero Bocari."

Vamos apresentar fotos, com legendas destes vários lugares por onde passou o nosso camarada Valdemar Queiroz, esperando que ele e outros "lacraus" complementam esta informação.

Hoje são fotos da estadia em Canquelifá, junto à fronteira, a nordeste:  bajudas, final da festa do Ramadão, descanso dos guerreiros...

Sobre Canquelifá temos cerca de 8 dezenas de referências no nosso blogue. Nesta altura (1968/70), estava sediado em Piche o BART 2857, com a CCS em Piche e as subunidades de quadrícula em Bajocunda (CART 2438), Canquelifá (CART 2439) e Piche (CART 2440). Ver aqui o respetivo sítio.

_______________

Nota do editor:

(*) Último poste da série  > 12 de março de  2014 > Guiné 63/74 - P12827: Memórias de um Lacrau (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) (Parte VII): Fotos de estrada, onde a velocidade máxima era de 40 km (e nas povoações, 35 km)

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6910: Falando do BART 2857, da CART 2479, da CART 11 e da CACAÇ 11 (J. M. Pereira da Costa)

1. Mensagem de João Maria Pereira da Costa, um dos fundadores e administradores do blogue BART 2857.


Data: 16 de Janeiro de 2010


Assunto: GUINÉ 63/74 - P1015: CART 2479, CART 11 E CCAÇ 11 (ZONA LESTE, GABU, SUBSECTOR PAUNCA)

Sou Pereira da Costa, ex-furriel miliciano, Oper Info/CIOE,  da CCS/BArt 2857, em Piche
Sou um dos iniciadores, administradores e moderadores do blogue BArt 2857.

Caro Luis Graça, como foi quem colocou esta mensagem, pelo que lerá ao longo deste email, compreenderá as razões do mesmo.

O que o Carlos Marques dos Santos diz faz sentido,  que a CArt 2479, de Renato Monteiro desse origem à CCaç 11. O que posso complementar é que a CArt 2479 ou CArt 11 ou CCaç 11, esteve sediada em Piche, por período que,  de momento, não tenho elementos para o confirmar, pois aguardo que o Arquivo Militar me entregue uma cópia da História da Unidade do BArt 2857, que requisitei.

O Zé Teixeira diz que da História da CArt 2479 consta:

 Em Contuboel ministrou instrução a naturais de etnia fula criando uma sub-unidade mista que se transformou numa Companhia de Intervenção, formando a partir de Janeiro de 1970, CArt 11. Posteriormente terá passado a CCaç 11 a partir de Outubro de 1972. 

É bem possível, pois no período em que o BArt 2857 esteve em Piche, de Novembro de 1968 a Outubro de 1970, lembro-me da CArt 2479 e ouvir falar em CArt 11.

O que o Albano Costa diz tem coerência e até tem elementos que o confirmam.

Agora sou eu,  Pereira da Costa: vou ter que ler as histórias do Renato Monteiro e a História da Unidade da CArt 2479, se alguém me facultar, pela razão que vou descrever.

O BArt 2857 iniciou o seu próprio blogue [, em 20 de Setembro de 2009] (**). Acompanhamos outros, em especial, o vosso que me caiu de pára-quedas no meu email.

Estamos a preparar publicações entre elas uma de um acidente ocorrido, em 05/07/1969, na estrada Dunane/Canquelifá por accionamento de minas A/C sob Unimogs, onde estiveram envolvidas forças da CArt 2439, sediada em Canquelifá, pertencente ao BArt 2857 e forças da CArt 2479 / CART 11; pelo facto ocorreram mortos e feridos em número elevado, em ambas as forças com mais peso na CArt 2479 (pessoal ultramarino).

A publicação será em memória de um 1.º Cabo da CArt 2439, porque quando a lerem compreenderão a razão. Contudo não queremos esquecer os africanos e um metropolitano da CArt 2479. Para isso para além de informação e fotografias que já possuímos, gostariamos de as ter da CArt 2479, pois esta esteve como Companhia de Intervenção durante certo tempo (???)  adstrita ao BArt 2857, em Piche. (*)

Apelo a quem puder contribuir com informação e fotografias que o faça ou indique os contactos para as obter.

Um grande abraço de camaradagem ao Luís Graça que não tenho o prazer de o conhecer e muita força e coragem para transmitirmos todo aquele período que para alguns nunca existiu !!!!

Obrigado
Pereira da Costa


2. Comentário de L.G.:



Meu caro J. M.Pereira da Costa: Dei conta, só agora, da tua mensagem encalhada há muito nos postes por publicar... O teu pedido, no entanto, continua actual e peço aos nossos camaradas - nomeadamente aos que pertenceram à CART 2479 / CART 11, no período em questão (1969/70) - para te fornecerem os elementos pedidos...

Por outro lado quero-te dar os parabéns que criação e animação do blogue referente ao vosso batalhão, que vou passar a seguir. E desejar-vos uma bela festa de convívio, em Penafiel, no próximo dia 16 de Outubro. Fará então 40 anos que vocês regressaram da Guiné. Os meus parabéns por estas iniciativas.

Um terceiro ponto: quero-te  convidar pessoalmente para ingressares na nossa Tabanca Grande, o que não te impedirá de continuar a liderar o teu/vosso blogue. Vamos a caminho do meio milhar de membros da Tabanca Grande que, como tu sabes, reúne sob um vasto poilão, centenário, simbólico, os amigos e camaradas da Guiné... 

Queremos reforçar a presença da malta que, como tu, esteve no nordeste da Guiné, no sector de Piche. Basta-te, no teu caso, o envio de duas fotos, uma actual e outra do tempo da tropa. Um Alfa Bravo. Luís
_____________


Nota de L.G.:

(*) O BART 2857 (1968/70) era constituído pelas seguintes subunidades:  CCS (Piche), CART 2438 (Bajocunda), CART 2439 (Canquelifá) e CART 2440 (Piche). 

O pessoal deste batalhão vai realizar, em Penafiel, no próximo dia 16 de Outubro, a festa de confraternização do 40º aniversário do seu regresso da Guiné.

sábado, 16 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4356: Fichas de Unidades (2): BART 2857 (Sector L4), CART 2428 (Bajocunda), CART 2439 (Canquelifá), CART 2440 (Piche) (José Martins)

BATALHÃO DE ARTILHARIA 2857 

Unidade Mobilizadora: Regimento de Artilharia Ligeira nº 5 – Penafiel 

Comandante: Tenente-coronel de Artilharia José João Neves Cardoso 
                         Major de Artilharia Rui Pereira dos Santos 

2º Cmdt: 
Major de Artilharia Carlos Alberto de Castro Silva Gaspena 
Major de Artilharia António Nunes de Carvalho Pires 

Oficial de Informações e Operações/Adjunto: 
Capitão de Artilharia Orlando dos Santos Dias

Companhia de Comando e Serviços (CCS): 
Capitão de Artilharia José Vítor dos Santos Almeida 

Companhia de Artilharia nº 2438: 
Capitão de Artilharia Luís Carlos Santos Veiga Vaz 

Companhia de Artilharia nº 2439: 
Capitão Miliciano de Artilharia António Regência Martins Ferreira 
Alferes Miliciano de Infantaria Vítor José Monteiro Gouveia 
Capitão de Infantaria Manuel Maria Pontes Figueiras 
Alferes Miliciano de Infantaria Vítor José Monteiro Gouveia 

Companhia de Artilharia nº 2440: 
Capitão Miliciano de Artilharia Carlos Manuel Paquim da Costa 

Partida Embarque em 09 de Novembro de 1968 
Desembarque em 15 de Novembro de 1968 
Regresso em 05 de Outubro de 1970

Síntese da Actividade Operacional

Batalhão de Artilharia Nº 2857 
 
Em 24 de Novembro de 1968, assumiu a responsabilidade do Sector L4 (zona Leste) com sede em Piche, então criado por subdivisão da zona de acção do Batalhão de Caçadores nº 2835 (Nova Lamego), com sede em Piche e englobando os subsectores de Piche, Buruntuma, Canquelifá e Bajocunda, este até 27 de Junho de 1970, por ter passado então à responsabilidade do Comando Operacional Temporário nº 1 (COT 1); de 15 de Março de 1969 a 11 de Outubro de 1969, o batalhão foi integrado no Comando Operacional nº 5 (COP 5), então criado. 

Desenvolveu intensa actividade operacional, orientando o seu esforço para a realização de patrulhamentos, emboscadas e protecção e segurança dos itinerários e das populações da área, com especial incidência na reacção a fortes ataques aos aquartelamentos e povoações, desencadeados a partir de bases de fogo no exterior do território. 

Da sua actividade ressalta a detecção e destruição de 27 minas e a detecção e levantamento de mais 67. 

Em 12 de Agosto de 1970, foi rendido no sector de Piche pelo Batalhão de Cavalaria nº 2922, recolhendo em 28 de Agosto de 1970, a Bissau, afim de aguardar o embarque de regresso. 

Companhia de Artilharia nº 2438

Seguiu em 18 de Novembro de 1968 para Bajocunda, a fim de render a Companhia de Caçadores nº 1683, assumindo, em 25 de Novembro de 1968, a responsabilidade do subsector de Bajocunda, com um pelotão destacado em Copa, ficando integrada no dispositivo de manobrado seu batalhão e depois do COT 1. 

Em 15 de Agosto de 1970, foi rendida no subsector pela Companhia de Caçadores nº 2679, por troca, permanecendo, no entanto, em Bajocunda, em reforço do COT 1, até 21 de Setembro de 1970, após o que recolheu a Bissau, a fim de aguardar embarque de regresso.

Companhia de Artilharia nº 2439

Seguiu em 26 de Novembro de 1968 para Canquelifá, a fim de render a Companhia de Artilharia nº 1689, assumindo, em 01 de Dezembro de 1968, a responsabilidade do respectivo subsector, com um pelotão destacado em Dunane e ficando integrada no dispositivo de manobrado seu batalhão; em 03 de Abril de 1968 o pelotão destacado em Dunane recolheu à seda da subunidade, tendo sido deslocado por curtos períodos para Piche, em reforço da guarnição local. 

Em 21 de Agosto de 1970, foi rendida no subsector pela Companhia de Cavalaria nº 2748 e deslocou-se para Bissau, por fracções, a fim de aguardar embarque de regresso, tendo entretanto dois pelotões permanecido na zona Leste, em reforço temporário das guarnições de Nova Lamego e Canquelifá, até 20 de Setembro de 1970.

Companhia de Artilharia nº 2440

Seguiu em 22 de Novembro de 1968 para Piche, a fim de render a Companhia de Caçadores nº 2403, assumindo, em 01 de Dezembro de 1968, a responsabilidade do respectivo subsector, ficando integrada no dispositivo de manobrado seu batalhão. A partir de 06 de Julho de 1969, destacou um pelotão para a ponte do rio Caium e desde finais de Janeiro de 1970, outro pelotão para segurança e protecção dos trabalhos de construção e reordenamento de Cambor. 

Em 12 de Agosto de 1970, foi rendida no subsector pela Companhia de Cavalaria nº 2749 e enquanto dois pelotões seguiram desde logo para Bissau e Bolama, deslocou-se para Nova Lamego afim de reforçar temporariamente o Batalhão de Caçadores 2893, até 20 de Setembro de 1970, e após o que recolheu igualmente a Bissau, afim de aguardar o embarque de regresso. 

Observações – Tem história da unidade, que pode ser consultada, no Arquivo Histórico Militar (caixa nº 119- 2ª Divisão – 4ª Secção). 

Texto retirado do 7º Volume – Fichas das Unidades – Tomo II - GUUNÈ - da Resenha Histórico Militar das Campanhas de África, edição do Estado Maior do Exército. 

(José Martins) 
_________   

Nota de M.R.:  

Vd. Primeiro poste da série em: