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quarta-feira, 24 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4571: Dando a mão à palmatória (21): Irra é “AB” de Abraços, ou de Alfa Bravo e não de Almeida Bruno (Jorge Teixeira/Portojo)





1. Mensagem de Jorge Teixeira, ex-Fur Mil do Pelotão de Canhões s/recuo 2054 (Catió, 1968/70), esteve adido aos BARTs 1913 e 2845, com data de 19 de Junho de 2009:




Camaradas,

Há dias assim...

Deve ser da idade, como diz a minha médica, ou de outra coisa qualquer, digo eu.

Lendo os comentários que a malta generosamente deixou no meu "poste", sobre Desertores e Afins, interpretei errada e distraidamente o “AB”, ali empregue no fim da mensagem, que o António Matos deixou escrito.

E também a referencia ao pedido de desculpas. Até respondi que infelizmente não conhecia o homem e comentei que… talvez ele um dia apareça.

Hoje de manhã ao ler os "postes" da malta, lá vejo num deles uma referência a AB, que logo deduzi “Alfa Bravo”, iniciais da palavra ABRAÇOS.

Mas só depois de ler a sua célebre frase: "Toma nota Bruno" - que é verdadeira, pois um dia ouvi-a da boca do próprio -, é que a minha mona começou a girar ó pra trás e veio relembrar-me o AB do comentário do Matos… eheheheheheh…

Acreditem, acredita Matos, que o que escrevi em relação ao teu comentário foi com o pensamento bem longe do homem “AB” de quem tanto gostamos.

Foi uma autêntica ingenuidade.

Há dias assim...

A talhe de foice, deixo aqui uma boca que foi ouvida na Tabanca de Matosinhos na quarta-feira.

Um dos camaradas disse-me que ele, o AB, foi deixar flores no nosso monumento em Lisboa.

Pesquisei, já pedi ao camarada “Pira de Mansoa” para investigar, por aí no blogue, se alguém confirma.

Pura curiosidade...

Terá sido uma “piada” dele?

Um abraço para toda a Tabanca.

Um abraço especial para ti do,
Jorge/Portojo
___________

Nota de M.R.:

(*) Vd. poste anterior, desta série em:

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3897: Dando a mão à palmatória (19): O meu amigo ex-Fur Mil Pil Ramos, de Vila Nova Famalicão (Humberto Reis)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Fá Maninga > 1970 > O Fur Mil Pil Ramos deixa-se fotografar com o Major Leal de Almeida, e mais oficiais (graduados) da recém criada Companhia de Comandos Africanos (embrião do futuro Batalhão). Houve um erro, involuntário, da nossa parte, ao idenficar o piloto. O seu amigo, Humberto Reis, membro fundador da nossa Tabanca Grande, e meu antigo camarada da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71). A foto é do Jorge Caiano, ex-1º Cabo Especialista, Melec/AV (Bissalanca, BA12, 1969/70), a residir desde 1974 no Canadá.

Foto: © Jorge Caiano (2009). Direitos reservados.


1. Mensagem do Humberto Reis, com data de 13 do corrente:

Luís:

Como sabes, sou mais dado a ler e fazer do que a escrever, além de que não sei, nem perguntei a ninguém como se faz, para escrever directamente no blogue.

Posto isto, façam lá uma correcção no Post 3879 (*). O piloto que está na foto é o meu grande amigo, com quem voei muitas vezes, ex-Fur Mil Pil Ramos, de Vila Nova de Famalicão, e na vida civil piloto de aeronaves no Alentejo.

Não é que o ofenda, ou a qualquer outro, terem lá escrito alferes, mas quem não o conheceu bem, como foi o meu caso, fica a olhar para a foto e a imaginar quem seria o alferes Ramos. O [Jorge] Félix conheceu-o bem pois ambos são do nosso tempo, apesar do Ramos ser mais novo que ele.

Aquele abraço

Humberto

2. Comentário de L.G.:

Meu caro Humberto:

Tens toda a razão. Estes pequenos lapsos estão sempre a acontecer. Não sei se o erro foi nosso ou do Jorge Caiano, que identificou o piloto. Julgo que foi nosso. Daí eu fazer questão de publicar o teu reparo nesta série, que serve para isso mesmo, dar a mão à palmatória (**), como no tempo da nossa escolinha. O Ramos, se nos estiver a ler, também vai aceitar, de mão grado, os nossos pedidos de desculpa.

Quanto à inserção (directa) de comentários no nosso blogue, tens as instruções, aqui mesmo à mão, na coluna do lado esquerdo do nosso blogue, logo a seguir à indicação do nº de visitantes... No caso do poste em questão, poderías apor directamente o te comentário: bastava clicares duas vezes no link "comentários", que vem no final do texto. De qualquer modo, assim tive eu o prazer de comunicar directamente contigo através do blogue.

Um bom resto de fim de semana para ti. Um beijinho à Teresa, com votos de boa saúde. Luís
__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 12 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3879: FAP (9): Jorge Caiano, ex- 1º Cabo Esp Melec, BA12, 1969/70, no Canadá desde 1974

(**) Vd. último poste desta série > 16 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3633: Dando a mão à palmatória (18): O meu reparo (Belarmino Sardinha)

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3633: Dando a mão à palmatória (18): O meu reparo (Belarmino Sardinha)

1. Mensagem de Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, 1972/74, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, com data de 15 de Dezembro de 2008:

Caros Camaradas,

Costumo deixar à vossa consideração a publicação dos textos que envio. Embora este não seja diferente, gostaria que fizessem o favor de o publicar, compreenderão a razão depois de o lerem.

Com um abraço para todos,
BSardinha


2. O Meu Reparo

Fazer a leitura diária deste espaço, tem-me levado a fazer a minha segunda comissão, ao remexer nas coisas que os meus pais guardaram dessa minha estada na Guiné para as quais nunca mais me tinha dado voltar a olhar.

Mas à medida que vou separando e lendo vou descobrindo coisas que pura e simplesmente não me lembrava ou, constato-o agora, não cheguei a ter conhecimento.

O que a seguir refiro não terá qualquer importância para os acontecimentos na Guiné ou para os restantes membros da Tabanca Grande, mas tem-no para mim e para a pessoa que foi visada num texto que enviei e foi divulgado (*).

Estive de férias na Metrópole em Fevereiro/Março de 1974. Não podia vir depois dessa data por me faltarem menos de três meses para acabar a comissão.

Encontro agora uma carta, escrita em 19 de Março de 1974 pelo então 1.º Sarg.º Vasco, Chefe da Rede Interna do STM em Bissau, onde me diz para não lhe levar nenhum capacete por serem mais caros do que na Guiné.

Sem conhecimento desta carta, talvez por ela ter chegado numa altura em que eu já devia estar de regresso à Guiné, não evitou a animosidade que se gerou entre nós.

Passados todos estes anos, confesso que não deixaria de ajuizar este caso como o fiz se não visse esta carta, mas entendo, depois de estar conhecedor do seu conteúdo, ser devido o reparo. Está feito nas mesmas condições em que foi referido.

Um abraço para todos.
BSardinha

3. Nota dos Editores:

Dizia Belarmino Sardinha no P3377:

O então 1.º Sargento Vasco, Chefe do Posto Director do STM em Bissau, havia-me pedido, ou mandado, levar-lhe um capacete para se passear de mota, dizendo-me qual o modelo e inclusive onde o deveria comprar, na altura, na esquina da Rua das Pretas com a Avenida da Liberdade. Como não se tinha chegado à frente com o dinheiro, na altura entre 1.500$00 a 1.800$00, nem via nele grande interesse em o querer pagar, quando regressei disse-lhe que estavam esgotados. Não gostou. Daí a ter-me oferecido para ir substituir a Bolama o camarada que ia de férias foi um passo.
___________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 29 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3377: O meu baptismo de fogo (19): Como, porquê e não só (Belarmino Sardinha)

Vd. último poste da série de 13 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3611: Dando a mão à palmatória (17): Cumbijã fica entre Mampatá e Nhacobá, mapa de Guileje (Antero Santos / Vasco da Gama)

terça-feira, 24 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2983: Dando a mão à palmatória (14): O Régulo Iero não veio na coluna (Jorge Picado)



Jorge Picado,
ex-Cap Mil,
CCAÇ 2589 e CART 2732,
Guiné 1970/72




1. No dia 22 de Junho recebemos uma mensagem do nosso camarada Jorge Picado, com uma correcção ao poste 2807 (1), entre algumas ideias que também expõe.

Amigo Carlos

Já se passaram alguns dias sem dar notícias, mas não foi por esquecimento. Apenas para além das obrigações com os meus netos, tenho agora a passar uns tempos cá na terra, o meu único irmão ainda vivo, emigrante nos USA, está doente… de forma que a minha disponibilidade diminuiu ainda mais. Mas não me esqueci de aparecer por aí e espero fazê-lo numa das vossas quartas-feiras. Depois aviso-te para me indicares como lá chegar, indo de combóio até ao Porto e depois de metro.

Fiz algumas tentativas para contactar ex-camaradas da minha CCAÇ 2589, pois agora não me conformo por não os ver a contar os seus sofrimentos e também as boas recordações muito mais ricas que as minhas.

Já estive pessoalmente com um ex-1.º Cabo de Trms Victor Vieira e falei pelo telefone com o ex-Alf Assude, mas com este foi uma conversa relativamente curta e não foi possível obter alguns esclarecimentos que desejo sobre o assunto de 12OUT70 (P2807).

No quase dia que passei com o Victor Vieira pressionei-o bastante para transmitir ao papel a sua vida de militar na Guiné, porque é riquíssima de factos operacionais e de militância de Apsico. Eu já sabia algo, mas agora ainda fiquei mais impressionado pelo muito mais que me contou, já que nada sabia sobre o ano anterior à minha chegada à CCAÇ.

Vou só referir que desde o 1.º dia que desembarcaram em Bissau assumiu as funções de comando duma Secção do seu Pelotão (logo como se fosse Furriel) porque o Sargento do quadro respectivo instalou-se imediatamente em Bissau (até montou um negócio, acho que de batatas fritas!) e depois de 8 meses de actividade operacional por Mansoa, Porto Gole e Bindoro, foi encarregado de acções de Apsico (sem no entanto ser dispensado das operacionais) fundamentalmente no Infandre, onde praticamente cumpriu o resto da comissão, ainda que tenha desenvolvido algumas em Braia.

Deu a instrução primária a muitas crianças de ambos os sexos e até a adultos das milícias.

Tenho de conseguir que ele não deixe perder todo o manancial de factos que, graças à sua excelente memória armazena. Pena é que sobre o 12OUT70, pessoalmente não tenha assistido, porque estava de férias na Metrópole quando se deu tal acontecimento, mas confirmou-me que era o Pelotão do Alf Mil Assude que estava em Braia e foi ele que acorreu em socorro, estando o Alf Mil Almeida no Infandre, como aliás eu tinha na ideia.

Sobre este Alf Mil Almeida (que julgo era licenciado em letras) aí dos teus lados (Porto?, Matosinhos?, Póvoa?), ninguém mais conseguiu contactar com ele, apesar de terem tido conhecimento que trabalhou na empresa das Páginas Amarelas. Creio que bloqueou o seu contacto.

Quero para já, mesmo antes de obter quaisquer informações do Assude que promovas umas correcções no meu P2807 se for possível, pois a verdade acima de tudo.

“Referi que o Régulo Iero também veio na coluna e que depois foi capturado.”

Não é verdade pelo que me penitencio, mas tenho uma desculpa. Lembrava-me que tinha deixado de ver este régulo no Infandre. Sabia quanto ele tinha a cabeça a prémio.

Dada a sua posição como régulo do Cubonge, por direito ancestral e mansoanca como era, tinha muito prestígio e exercia uma grande influência sobre todos os chefes das Populações vizinhas estando totalmente ligado às NT.

Enganei-me porque a sua captura tinha acontecido quando eu me encontrava de férias na Metrópole de 5JUL-9AGO70 e por isso passou-me. Transcrevo o que consta da História da Unidade (HU) no Cap II/Fasc 12 : “Em 111630JUL70, foi raptado o Régulo IERO BAMBA, empenhado na recuperação de um chefe In importante”.

Será que conseguirei ver esta e outras histórias contadas pelo ex-1.º Cabo de Trms da CCAÇ 2589 Victor Vieira? Tenho uma certa esperança, porque agora não o vou largar até que ele se decida.

Quanto ao posicionamento dos Pelotões da CCAÇ naquela época, posso agora afirmar que no Infandre estava o Pelotão do Alf Mil Almeida (um ex-camarada da zona metropolitana do Porto). Pelo que a foto que está no P2162 (2) onde se identificam os Furriéis Serralha e Simões (pertenciam ao Pelotão do Almeida) não é desse período.

Em Braia estava estacionado o Pelotão do Alf Mil Assude. Em boa verdade a ideia que guardava na memória era a de que tinha sido o Assude que me informara que a coluna não tinha parado, que ele tinha acorrido logo que possível, tinha mandado fazer fogo de morteiro para a zona adjacente à medida que avançavam e que tinha dado com o Augusto Djaló ferido.

Este ex-2.º Sarg Mil, louvado e condecorado em 20AGO70 por S.Exa. o Ministro do Exército, também tinha a cabeça a prémio, pela sua posição militar e social.

Da HU Cap II/Fasc 15 (Período de 01OUT70 a 31OUT70) A – Situação Geral

2.Inimigo, pode ler-se: - “Em 121230OUT, numeroso grupo In (mais de 100 elementos), utilizando Mort, LGrGog e Arm Aut, emboscou uma coluna que se dirigia a Infandre, na região MANSOA 5 F3. O In, que chegou ao corpo a corpo, provocou 10 mortos (01 Furriel), 09 feridos graves (01 Furriel) e 08 feridos ligeiros e reteve 01 praça.”

Depois em B – Actividades e relativo a 14OUT pode-se ler : - “… notícia C-3 refere que o grupo In que fez a emboscada à coluna de Infandre em 12OUT, passou por NHAÉ, nessa mesma noite, em direcção a QUERÉ”. E mais à frente - “Em 22OUT70, notícia B-2 refere que o ataque à coluna de Indandre em 12OUT, foi executado por dois grupos, com cerca de 50 elementos cada, sendo um de SANSABATO (armas pesadas) e outro de QUERÉ.”.

Anexo também o esquema da emboscada que já digitalizei.

Esquema da emboscada à coluna de Infandre em 12 de Outubro de 1970, enviado por Jorge Picado

Para já é tudo.
Um abraço e até à próxima oportunidade.
J Picado
_____________

Notas de CV:

(1) Vd poste de 3 de Maio de 2008> Guiné 63/74 - P2807: Estórias de Jorge Picado (1): A emboscada do Infandre vivida pelo CMDT da CCAÇ 2589 (Jorge Picado)

(2) Vd. poste de 7 de Outubro de 2007> Guiné 63/74 - P2162: O fatídico dia 12 de Outubro de 1970 - Emboscada no itinerário Braia/Infandre (Afonso M. F. Sousa)

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2823: Dando a mão à palmatória (11): Operação Gavião, 5 de Abril de 1968, com as CART 2338 e 2339 (Torcato Mendonça / Beja Santos)

1. Mensagem, com data de 7 de Maio, do Torcato Mendonça, algo enigmática, procurando esclarecer (?) alguns pontos (obscuros...) da actuação das NT no decurso da Op Gavião (Sector L1, Bambadinca, Abril de 1968, ao tempo do BART 1904, 1966/68):

Meu estimadíssimo Tigre:

Falamos… em Monte Real… O Cascalheira corresponde. Era amigo do Zé Almodôvar, etc. O Guia não foi no joelho [que foi ferido, foi morto] … Estás a imaginar a cervical... Pensa numa faca balanta (*)… O Saiegh seguia, no regresso, à frente com o grupo dele e eu, com o meu, à esquerda… A tua segunda memória não diz tudo. Não se escreve, fala-se… Falaremos.

O Tura morreu nos meus braços. Foi o primeiro e paro… Por que é o cheiro da morte, com sangue, doce ou adocicado ? Entranha-se e nunca sai.

Obrigado pelo texto sobre o Jacques Attali e outros. Manda sempore… Eu mando-te um abraço forte, extensível a quem nos ler. Quero estar a abraçar-vos breve, brevemente. O nosso caríssimo amigo Luís Graça tem as fotos. São de todos, se assim o entenderem.

Abraços do
Torcato Mendonça


2. Mensagem do Beja Santos, com data de 8 de Maio:


Mendonçal e Torcatal figura, camaradas: 

Uma rectificação em prol da verdade. Entraram-me à noite em casa numa gritaria crioula o Queta e o Cherno, as minhas duas memórias de conselho permanente. Durante a tarde, habituado que estou a conversar com os vivos e os mortos neste romagem a 40 anos atrás, dei comigo a conversar com o Saiegh, ele falava-me entusiasmado com a Operação Gavião, eu sabia que ele lá tinha estado, até porque o Pel Caç Nat 52 se chamava os Gaviões, certamente homenagem do Saiegh a esta operação.

A meio da tarde, ciente de que tinha conversado com o Saiegh, ciente que o furriel Vaz não podia ter ido na operação, tinha sido punido e deslocado para a zona de Geba de onde foi levado por forças do PAIGC, pedi aos meus conselheiros que viessem clarificar tudo. 

Quebá Soncó foi mesmo ferido, a entrada em Madina foi suave, vocês mandaram canhonadas (entenda-se morteiradas) sobre Belel. Lamento a falta de precisão e dou comigo a pensar porque é que não registamos os depoimentos de todos os Chernos e Quetas, a História vai perder a riqueza destes testemunhos. Seria interessante publicar-se o relatório da operação.

Um abraço para todos,

Mário Beja Santos

3. Mensagem do editor, L.G., enviada atraés da tertúlia:


Caríssimos, Mário e Torcato (c/c Henrique Matos e Carlos Marques dos Santos):

Vou rectificar, até por que também meti os pés pelas mãos, ao sugerir que o TM já estava xoné (ou, em alentejano, alzheimariado…) ao trocar a CART 2339 (que era a dele) pela CART 2338 (irmã gémea)… Ora, estas duas unidades participaram na Op Gavião (5 de Abril de 1968) bem como noutras operações, conjuntas, no Sector L1 (Bambadinca), embora a CART 2338 estivesse sediada em Nova Lamego… Mea culpa… Isto dá direito a palmatória… Um Alfa Bravo. Luís


PS – Vou ver se alguém tem o relatório da Op Gavião, que deve constar da história do BART 1904 (que anteceu o BCAÇ 2852, em Bambadinca) bem como da história da CART 2338 e/ou da CART 2339. 

Já em tempos publiquei um poste do Carlos Marques Santos, ex- Fur Mil da CART 2339, onde há um relato pormenorizado da Op Gavião (era sempre dramático andar pelo Cuor, até Belel, quanto mais a Madina…). Vou republicar este texto (memorialístico)… 

O CMS foi um activíssimo e precioso colaborador da 1ª Série do nosso blogue (que já fez três anos, em abril passado…), que por razões de saúde tem andado um pouco mais afastado das lides bloguísticas (mas vamos ter oportunidade de lhe dar um grande Alfa Bravo, em Monte Real). Foi ele que pescou o TM para a nossa tertúlia.

30 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXIII: Diário do CMS (CART 2339)(1): Um homem ficou para trás e não há voluntários para o ir buscar...


PS - Já agora, Mário [Beja Santos] e Henrique [Matos], digam-se se houve mortos vossos, sepultados in loco, em Missirá, no Enxalé, em Porto Gole… Sei que houve, no meu tempo e do Mário, um soldado do Pel Caç Nat 52 que desapareceu no Rio Geba… Os vossos mortos guineenses onde foram sepultados ? Em Bambadinca ? Nas terras natais ? Vd. lista do A. Marques Lopes que foi acabada de publicar e donde não constam… os portugueses guineenses… LG
__________

Nota dos editores:

(*) Vd. poste de 7 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2817: Blogoterapia (51): O Alentejo do Casadinho e do Cascalheira, o Tura Baldé, a Op Gavião... (Torcato Mendonça / Beja Santos)

(...) Resposta do Beja Santos (ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70):

(...) Tempos depois a Operação Gavião, em Abril de 1968. Participaram a companhia do Enxalé (capitão Pires, Zagalo Matos e outros), a tua companhia [a CART 2339] e os Pel Caç Nat 52 e 53. Inicialmente, estava destinado a ser uma operação de 5 dias, ficou-se em menos de três.

Vocês saíram do Enxalé, numa lala perto de Madina, Tura Baldé, um milícia de Demba Taco, ao beber água numa fonte encontrou-se com um soldado do PAIGC que lhe deu um tiro, desacasos da fortuna. Na operação Gavião, o guia era Quebá Soncó, o filho primogénito do régulo Malã, que foi atingido por um tiro numa rótula, foi-lhe amputada a perna" (...).

Guiné 63/74 - P2822: Dando a mão à palmatória (10): Não foi salvaguardada a propriedade intelectual e a privacidade do Hugo Moura Ferreira

1. Mensagem do Hugo Moura Ferreira, ex-Alf Mil, CCAÇ 1621 (Cufar) e CCAÇ 6 (Bedanda) (1966/68), residente em Lisboa e membro da nossa tertúlia, desde 22 de Dezembro de 2005:

Caros amigos.

Achei interessante o Post Guiné 63/74 - P2820 (1). Só tenho um reparo a fazer que peço resolvam com rapidez, embora saiba que isso já é um pouco extemporâneo, mas que refere a informação do foro pessoal que foi inserida no referido post.

Não concordo que na reprodução do oficio que me foi remetido pelo AGE, e reproduzido integralmente, não tenha sido apagada a minha morada.

Já repararam que tudo o que é necessário saber sobre mim ali está expresso? Assim agradeço que reparem, urgentemente, esta anomalia que não esperava pudesse acontecer, sem a minha autorização expressa, que obviamente não daria, no Blogue que é visitado por tanta gente a nível mundial. Afinal existem editores que têm que verificar o material que recebem e que se propõem inserir.

Os direitos de autor e de confidencialidade têm que ser salvaguardados em tempo, por quem publica.

Desculpem a forma mais ou menos agastada como me exprimi, mas como falo e procedo com o coração...

Obrigado, cumprimentos e abraços.

Hugo Moura Ferreira

2. Comentário do editor:

Hugo: Tens toda a razão. Não devia ter acontecido. O mal está feito. O lapso, no entanto, já foi corrigido, de imediato (1). A atribuição da propriedade do documento era conjunta. Sabemos que o documento original era teu, já que a resposta te era dirigida, enquanto autor do requerimento. O Benito Neves falcultou-nos uma cópia, com a melhor das intenções. E nós reproduzimo-la com a melhor das intenções. No entanto, houve uma falha no controlo de qualidade. Errar é humano. Aprendemos com os erros. Fizeste bem em indignar-te. Bom fim de semana. Luís Graça.

__________

Nota de L. G.:

(1) Vd. poste de 9 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2820: Aqueles que nem no caixão regressaram (2): O caso do José Henriques Mateus, da CCAV 1484, natural da Lourinhã (Benito Neves)

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2792: Dando a mão à palmatória (9): O Cap Jorge Picado foi CMDT da CART 2732 (Carlos Vinhal)




Jorge Picado,
ex-Cap Mil,
CCAÇ 2589 e CART 2732,
Guiné 1970/72



1. No dia 20 de Abril de 2008, o nosso novo camarada Jorge Picado cumpria a formalidade do envio das fotos da praxe para a fotogaleria do nosso Blogue.

De acordo com as normas, anexo envio 1 foto da Guiné, para que o Carlos Vinhal identifique alguns dos camaradas da CART2732.

Enviarei mais 2, uma de cada vez.

Estou procurando alguns esclarecimentos para responder ao solicitado sobre a Emboscada do Infandre.





Foto 1> Bissau> O ex-Cap Mil Jorge Picado em frente ao HM 241


2. No próprio dia 20 era enviada resposta

Caro camarada Jorge Picado

Bem-vindo ao nosso Blogue.

Li com atenção o que escreveu sobre o seu percurso na Guiné. Teve cá uma actividade e peras.

Com respeito à sua passagem por Mansabá, com muito pesar meu, não tenho ideia da sua presença na minha CART 2732.

Estive ausente de férias na Metrópole entre 15 de Fevereiro e mais ou menos 23 de Março de 1971.

Após a minha chegada tive uma actividade operacional muito intensa com uma série de Operações para os lados de Farim. Não sei se participou em alguma. Por outro lado, por motivos que mais tarde poderei aflorar, eu não aparecia na Secretaria da Companhia.

O CMDT da CART 2732 era na altura, e desde o dia 7 de Outubro de 1971, o Cap Alberto Pinto Catalão que deu baixa ao HM241 de Bissau sucessivamente em Fevereiro, Março e Junho de 1971.

Em Agosto de 1971 foi evacuado definitivamente para o HMP de Lisboa, em boa hora, porque aquela alminha não gostava de mim nem um bocadinho e acabaria por me dar uma porrada.

Já agora, para ter uma ideia de quantos comandantes tivemos, vou enumerá-los.

1.º - Cap Prego Gamado que deu baixa ao HMP antes do embarcarmos no Funchal com destino à Guiné.

2.º - Já em Mansabá (17ABR70), herdámos o Cap Carreto Maia que transitou da Companhia que ali substituímos, por lhe faltarem uns meses para acabar a Comissão.

3.º - Em JUL70 chegou o Cap José Maria Belo (de boa memória) que acabou por ser evacuado para o HMP com graves problemas de pele.

4.º - Em OUT70 chegou o famoso Cap Alberto Pinto Catalão (meu inimigo de estimação) que andou sempre a correr para o HM241 até conseguir ser definitivamente evacuado para Lisboa. Terá sido num destes intervalos que o senhor comandou a CART 2732?

5.º - Finalmente em OUT71 chegou o Cap Mil Santos Caeiro que aguentou até ao nosso regresso em MAR72.

Se bem se deve lembrar, quando esteve em Mansabá havia muita confusão pois estávamos a construir a estrada do Bironque até ao K3. Tinha sido activado em Novembro de 1970 o COP 6 que teve entre vários comandantes o então Major Correia de Campos, já o senhor andaria por sítios bem mais complicados.

Não estaria o Jorge afecto ao COP 6 e comandado esporadicamente a CART 2732?

A História da Unidade CART 2732 não faz menção ao seu comando.

Foto 2> Mansabá, 13 de Abril de 1971> Festa de batizado da filha do senhor José Leal e da dona Olinda (?).
OBS:-Fotografia enviada por Jorge Picado, onde entre outros se encontra este vosso co-editor


Com respeito à foto que mandou, tirada no dia 13 de Abril de 1971 num almoço oferecido pelo senhor José Leal, no dia do batizado da sua filhota, vou dizer quem está nela.

As pessoas estão numeradas.

1 - Eu mesmo, o Fur Mil Vinhal (à civil) (CART 2732)
2 - O Alf Mil Bento, meu comandante de pelotão (CART 2732)
3 - O Alf Mil Médico, Rolando (se não me engano no nome)
4 - Fur Mil Enf Marques (CART 2732)
5 - Chefe de Posto (Autoridade Civil de Mansabá)
6 - Senhor José Leal (nosso anfitrião)
7 - Alf Mil Op Esp Rodrigues (CART 2732)
8 - Alf Mil Casal (Que comandava a Companhia nos intervalos em que não tínhamos Capitão)
Finalmente o Jorge está entre o senhor José Leal e o Alferes Casal.

Outro assunto.

Uma vez que foi Cap Mil, há-de explicar-nos como foi apanhado a laço para fazer a comissão na Guiné. Temos um caso semelhante ao seu, o ex-Cap Mil Ferreira Neto da CART 2340, que já com família constituída foi lá parar, depois de ter feito o serviço normal obrigatório uns anos antes por cá.
(...)
Um abraço com votos de muita saúde do,
Carlos Vinhal


3. Na mesma data Jorge Picado respondia

Finalmente encontrámo-nos. Os Alferes Bento e Casal eram aqueles de quem sabia os nomes e recordava-os. Também fomos mandados a pé a Fátima (1) à procura dum célebre Morteiro 82 no dia 29 de Março de 1971, precisamente com os 2 Pelotões do Casal e do Bento reforçados com 2 secções de Mil.ª, juntamente com 1 Pelotão (?) de Páras que a certa altura se separou de nós, para contornara bolanha a partir de Berecodim, pelo Sul, seguindo nós pelo Norte.

Possivelmente o Carlos também foi.

Tenho cópia do relatório de acção "Urtiga Negra" do Agr. A, que seria aquele que eu comandava.

Nem calcula os tratatos de imaginação que fiz, sem conseguir chegar a uma decisão para decifrar a leitura das coordenadas de modo a localizá-las numa fotocópia da carta que consegui. Binta 8H8-74 e Binta 8I0-79!

Eu não fui colocado no COP 6. Fui colocado na CART, graças às artimanhas desse tal Catalão, de cujo nome não mais me esqueci. Posso acrescentar como se deu tal conhecimento.

Encontrando-me em Bissau desde a manhã do dia 15 de Fevereiro de 1971, depois de ter deixado a coluna do BCAÇ 2885 no desvio para o Cumuré, onde não entrei, fiquei aboletado, não sei se era este o termo usado, nas instalações do Clube de Oficiais, junto ao QG em Santa Luzia, a aguardar futura colocação.

No quarto onde pernoitava apareceu igualmente para pernoitar o Cap Catalão, que já conhecia, visto que, desde 27 de Novembro de 1970 fui colocado em Cutia, para efectuar a protecção das colunas para Mansabá, que se destinavam aos trabalhos de asfaltamento da estrada para Farim (ou melhor até ao rio Cacheu).

Efectuei 23 escoltas e tenho algumas recordações, como o Carlos se deve lembrar, pelo menos do dia 28 de Dezembro de 1970 (2), segunda-feira depois do Natal... mas voltemos ao Catalão que era do QP.

Tinha vindo para consultas ao HM, no intuito, como me confessou, de se livrar de Mansabá. Todos os dias por volta da hora do almoço, encontrávamo-nos no quarto, para uma banhoca antes do dito e depois dele regressar do HM e eu da minha visita ao QG para saber o meu futuro, perguntando-me ele:
- Então já tem colocação? - e a minha resposta era - Não.

Animava-me dizendo saber que havia vagas em Bissau, enquanto as suas diligências iam dando frutos... não sei se uma licença para tratamento...

O pior foi no dia 5 de Março, uma má sexta-feira, quando no QG me informaram que tinha sido colocado no DA, além do QO, indo em Diligência para a CART 2732 substituir, durante o seu impedimento o respectivo Comandante.

Iam-me caíndo os ditos cujos aos pés ao receber logo a respectiva ordem de marcha que me meteram nas mãos, para que não houvesse dúvidas. E eu que já tinha em perspectiva uma ida para o CAOP 1, que era bem melhor... nem calcula o que mentalmente lhe chamei...

Ao chegar ao quarto e perante a cena do costume, quase sem o encarar respondi-lhe: - Fui colocado na CART 2732. Sigo amanhã para Mansoa.
Desapareceu, nunca mais o vi, porque nessa noite não foi dormir ao quarto...
Como vê, também esse nome não me deixa saudades.

Quanto ao meu funcionalismo público, posso dizer-lhe que já era dos antigos Serviços Agrícolas, quando fui caçado para fazer de Capitão e já tinha os meus 4 filhos!

Um abraço e igualmente muita saúde.
Jorge Picado


4. Em 21 de Abril nova mensagem para o Jorge Picado

Caro Jorge
Afinal temos mais em comum do que eu sonhava. Na verdade também participei na operação em 29 de Março de 1971, chegado há poucos dias de férias da Metrópole.

Curioso que o Jorge e o Catalão se tenham cruzado antes da sua nomeação para a CART 2732.

Segundo o que consta na História da CART 2732, no dia 29MAR71 - 2 GCOMB reforçados com 2 SEC MIL/PEL MIL 253, em BINTA 8H8-74, contactaram com GR IN com cerca de 10 elementos. NT reagiram com fogo de armas automáticas, dilagramas e morteiro 60, pondo os elementos IN em fuga para SW, sofrendo 2 mortos confirmados. Capturada 1 Mauser, 3 granadas de Canhão S/R B-10 e destruído 1 celeiro com cerca de 300Kg de milho.
As NT foram flageladas com morteiro 82 sem consequências. (Acção Urtiga Negra).

Acontece que as granadas de canhão S/R capturadas, foram inspeccionadas por mim antes que alguém lhe mexesse, não fosse, estarem armadilhadas.

Já agora, lembre-me se foi sob o seu comando e se foi nesta operação que se passou este caso.

Era já tarde alta, estávamos completamente estourados, quem comandava incluído, até porque era um pouco mais velho que nós, e o Comandante da Operação que de avioneta dirigia a Acção, queria que nós fossemos ainda a determinado objectivo. Lembro-me que o nosso capitão, que eu não conhecia muito bem, ter desobedecido terminantemente às ordens de quem lá de cima não compreendia que naquela altura estávamos completamente esgotados, e ter-se dirigido para o K3 onde nos mataram a sede que nos atormentava há longas horas.

Lá recuperámos as forças, até voltarmos para Mansabá em meios auto.
Ficámos todos contentes e admiramos a coragem do nosso comandante por nos poupar a mais um esforço inútil.

Mais tarde, em 12 de Abril, integrado na Acção Urtiga XXVII, numa emboscada na Bolanha de Iribato, tivemos um contacto de que resultou a morte do milícia Sul Bissau. Quem comandava as forças era o Alf Bento.

Dias difíceis que já lá vão.

Mande a estória da sua convocatória para o curso de capitães e posterior mobilização para a Guiné.
São experiências de vida notáveis, tanto mais que já tinha família constituída.

Um abraço
Carlos

Notas de C.V.

(1) Fátima era uma tabanca ocupada pelo IN, onde cada operação era certeza de contacto e muito fogo de parte a parte. Não havia Fé que valesse nesta peregrinação.

(2) Julgo que o Jorge Picado se refere a um acontecimento insólito que foi o IN ter feito, na estrada alcatroada que ligava Mansabá a Mansoa, na zona de Mamboncó, 5 enormes buracos com cerca de 2 a 2,5 metros de diâmetro e 60 a 80 centímetros de profundidade, ao longo de 200 a 250 metros.
Estes buracos obrigavam as colunas auto a pararem naquela zona, a picar a berma por onde as viaturas tinham forçosamente de passar e a um reforço de segurança enquanto se transpunha estes obstáculos.
Verdade se diga que em pouco tempo a Engenharia Militar repôs a normalidade, procedendo à reparação da estrada.
_______________

Notas dos editores:

Vd. postes de 9 de Abril de 2008> Guiné 63/74 - P2736: Tabanca Grande (60): Apresenta-se o Jorge Picado, ilhavense, ex- Cap Mil, CCAÇ 2589, CART 2732 e CAOP 1 (1970/72)

de 10 de Abril de 2008> Guiné 63/74 - P2748: Para o estimado Jorge Picado (Afonso Sousa)

segunda-feira, 17 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2658: Dando a mão à palmatória (6): Desabafo do Mário Dias (José Teixeira)

1. Em 17 de Março de 2008, José Teixeira, recém chegado da Guiné-Bissau, onde acompanhou o Simpósio Internacional de Guiledje, enviava-nos esta mensagem

Caríssimos editores.
Ao assaltar o blogue, logo após a minha chegada da Guiné, deparei com o Desabafo do Mário Dias (1), contestando um artigo meu, resultante de uma conversa com o Raúl Fodé (2), sobre a sua justificação para não se dedicar à agricultura.

Se possível, gostava que o texto em anexo fosse publicado, não como uma justificação, mas muito mais como um obrigado ao Mário, pela reposição legal dos factos.

Com votos de uma boa Páscoa
J.Teixeira

2. O Desabafo do Mário Dias
Por José Teixeira

Como não podia deixar de ser, o desabafo do Mário Dias, mereceu de minha parte uma leitura atenta e uma reflexão profunda.

Reconheço-lhe autoridade para melhor que ninguém repor a verdade dos factos, que eu de algum modo, sem intenção, poderei ter adulterado ao tentar expor o pensamento do Raúl Fodé, no que respeita à exploração de que eram vítimas os indígenas no período antes da eclusão da guerra colonial.

De facto, o Mário, melhor que ninguém pode falar sobre estes assuntos. Bem haja pela sua atitude esclarecedora.

Por mim devo apenas dizer que tentei passar ao papel, o sentimento que me ficou após uma conversa passada há cerca de 39 anos com o Raúl. Logicamente distorcida pelo tempo que passou e pela possível traição da memória.
Posso afirmar que na altura, sensível como era a injustiças sociais, por estar ligado à Juventude Operária Católica (JOC) fiquei perturbado com a descoberta, a qual de algum modo vinha dar razão à luta do PAICG.

O que retive da dita reflexão, foi que a diferença entre o preço de venda ao comerciante e a margem de lucro deste, era de um para quinze e utilizei a linguagem figurada, para melhor me fazer entender.
Também é evidente para mim, que anda meio mundo a tentar enganar o outro meio. No comércio, muitas vezes ganha o mais esperto e o africano também tem esperto no cabeça.

Os testemunhos do Mário reflectem uma vida intensa na Guiné, uma experiência de comerciante, que não me deixa margem para dúvidas.

Só tenho a agradecer ao Mário Dias o esclarecimento objectivo, da verdade legal, sem esquecer que nem sempre e sobretudo nem todos os comerciantes eram, como em tudo, sérios e honestos. Que a máquina estatal colonizadora protegia o colonizador e estava interessada, naturalmente, em obter os produtos agrícolas a preços baixos.

Continua a escrever, melhor que qualquer um de nós, pois podes contribuir para a História da relação entre estes dois povos, que hoje mais que nunca, se sentem irmãos.
Zé Teixeira
________________

Notas dos editores:

(1) - Vd. post de 15 de Março de 2008> Guiné 63/74 - P2644: Economia colonial: O preço da mancarra no meu tempo (Mário Dias, empregado da NOSOCO, em 1955/59)

(2) - Vd. post de 5 de Fevereiro de 2008> Guiné 63/74 - P2507: Estórias do Zé Teixeira (24): Raúl Fodé (José Teixeira)

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P2008: Dando a mão à palmatória (1): A fotografia dos saudosos majores Pereira da Silva, Passos Ramos e Osório (João Tunes / Editores)

Guiné > Chão Manjaco > 1970 > Os três majores (Pereira da Silva, Passos Ramos e Osório) em acção psico, numa lancha a motor. O Alferes, que aparece em primeiro plano, poderá ser o Palmeiro Mosca, também assassinado em 20 de Abril de 1970. Por lapso, num post anterior, os três majores apareceram por outra ordem, errada (1).

Foto: Cortesia de
Afonso M.F. Sousa (2007)

Guiné > Bissau > 1970 > A única fotografia dos três majores que até agora tínhamos publicado (2): da esquerda para a direita, Pereira da Silva (1º), com a sua enorme bigodaça; Passos Ramos (2º) e Magalhães Osório (4º). Há um quarto oficial (o 3º, na fotografia) que presumimos ser o Alf Mil Palmeiro Mosca, também assassinado em 20 de Abril de 1970.

Fonte: Maria da Graça Passos Ramos / Círculo de Leitores. In: ANTUNES, J.F. - A Guerra de África: 1976-1974. Vol. I. Lisboa:
Círculo de Leitores. 1995. p. 373. (com a devida vénia...)

1. Mensagem do João Tunes:

Camaradas editores,

Quando foi editado o Post 2004, fiz um comentário chamando a atenção que a fotografia com os majores mortos no chão manjaco tinha legendas trocadas em que se chama Passos Ramos a Pereira da Silva e vice-versa (1).

Como conheci os majores pessoalmente em Teixeira Pinto (Canchungo), tendo-me tornado amigo de Passos Ramos e Pereira da Silva (3), de quem fiquei admirador e muito me doeu as suas perdas e, sobretudo, a forma cobarde e sádica como foram assassinados, não tenho dúvidas quanto ao erro cometido. O comentário ficou para apreciação dos editores e até ao momento continua não publicado e a gralha na foto mantem-se. O que acho que já não fará a glória do PAIGC como trocar identidades não é a melhor forma de se homenagear alguém.

Não sei porque é que o comentário continua em stand-by e porque continua a troca de nomes entre os dois militares a que, justamente, se quis prestar homenagem. Não faço questão em que o comentário seja editado mas, no mínimo, o respeito para com estes nossos camaradas caídos em combate impõe que os seus nomes não sejam trocados e a gralha seja rapidamente corrigida.

Ainda pensei que os três editores tinham ido de férias em simultâneo mas verificando que continum a publicar posts, um pelo menos deve estar de serviço. A esse, endereço este apelo. Escuto.

Melhores saudações do
João Tunes

2. Comentário de L.G.:

Camarada João: Mal cheguei do Norte, inseri o teu comentário. Por enquanto sou eu que modero os comentários que, em princípio, são sempre publicados, desde que respeitem as nossas regras de convívios e as nossas normas editoriais... Mas é mais uma tarefa que vou ter que delegar.
Isto quer dizer, portanto, que não posso imputar qualquer responsabilidade aos nossos camaradas co-editores que, para além do mais, são tão ou mais voluntários e voluntaristas do que eu e que, como deves imaginar, não estão nem não podem estar permanentemente no computador, com a caixa do correio aberta.
Portanto, o erro de troca de nomes só pode ser imputado a mim. O Afonso mandou-ne a foto mas eu não sei se as legendas são da sua autoria. Fui eu (e mais ninguém) que editei o post (1) e, como tal, eu deveria ter detectado o erro. Até por que conhecia o teu post e a descrição que fazias do Pereira da Silva com a sua enorme bigodaça (3)... Não detectei o erro, lamento, dou a mão à palmatória (que é para isso que ela existe...).
João, obrigado pelo teu oportuno reparo e teu já proverbial olhar clínico, treinado e sempre atento às gralhas, aos erros, aos lapsos, etc., que muitas vezes borram a pintura cá da nossa blogosfera... As minhas desculpas aos familiares, amigos e camaradas dos saudosos majores Pereira da Silva e Passos Ramos.
3. Comentário posterior (31 de Julho) do Afonso M.F. Sousa:
Homens de rija têmpera (se quiserem: "camaradas e amigos"):
Acabo de chegar da Mealhada, onde estive em casa da irmã do José da Cruz Mamede a mostrar-lhe o dossiê sobre a triste ocorrência do 12 de Outubro de 1970, lá para os lados de Mansoa e que, também, não vi ainda publicado no Blogue.
(...) Quanto à fotografia [dos três majores] recebia-na no dia em vos enviei o up-date ao dossiê O Massacre do Chão Manjaco. Enviou-ma, por mail, um simpático militar (Albino Silva) que, à altura desta trágica ocorrência, estava em Jolmete. Não sei se foi legendada por ele, mas o facto é que a recebi assim (...).
_________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 27 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2004: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (Anexo A): Depoimento de Fur Mil Lino, CCAÇ 2585 (Jolmete, 1970) Guiné 63/74 - P1503: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (6): Fotografia dos três majores (Sousa de Castro)
(3) Vd. post de 11 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXLIX: Antologia (15): Lembranças do chão manjaco (Do Pelundo ao Canchungo) (João Tunes)

(...) Quanto ao Major Osório, sempre de t-shirt branca, pouco falava mas era muito respeitado. Aquilo era gente de acção e quando a não tinham, cediam à espera tensa e ansiosa de mais acção. Em resumo, eram guerreiros em descanso forçado. Além da bravura na guerra, só lhes sobrava bravura para descarregarem o sexo numa ou noutra adolescente a quem deitavam mão e que se limitavam a abrir as pernas e os olhos, num misto de espanto, de medo e de ausência de prazer.

"O Major Pereira da Silva, de enormes bigodes revirados, não parecia um militar. Mal enfiado dentro da farda, o homem era um intelectual. Falava todos os dialectos usados na zona, conhecia de fio a pavio todos os usos e costumes das tribos da Guiné, andava sempre pelas aldeia a completar os seus conhecimentos e a farejar informações úteis. Em colaboração com a Pide, dirigia a rede de informadores e era o negociador com os cisionistas do PAIGC, dispostos a entregarem-se. Era um comunicador excelente e um homem completíssimo em cultura(s) africana(s). Dava gosto ouvi-lo e aprender com ele, tanto mais que tinha, para com os africanos, uma autêntica reverência cultural, particularmente quando se tratava dos manjacos.

"O Major Passos Ramos era o crâneo do comando militar. O pensador de toda a estratégia e o homem que fazia as sínteses do cumprimento da missão para toda a zona. Excelente conversador e homem culto, o Major Passos Ramos irradiava encanto e inteligência. Era um oposicionista manifesto e assumido ao regime e tinha, inclusive, participado na Revolta da Sé. Quando encontrava um miliciano chegado de fresco ou vindo de férias, ele imediatamente rumava a conversa para as actividades oposicionistas e pedia previsões sobre quando o regime iria cair. Spínola estava encantado com o andamento das coisas no chão manjaco.

Tudo ia bem ou parecia andar. E os oficias de Teixeira Pinto eram mesmo a sua nata. Eram militares profissionais de primeira água que faziam a guerra o melhor que sabiam e podiam. A meio da tarde, regressei a Pelundo. Sem problemas.(...)

"Fiz, então, a última viagem de jipe do Pelundo até Teixeira Pinto para apanhar o avião que me levaria, em trânsito, até Bissau. Mas, antes de embarcar no avião, não faltaram os três majores na pista para darem abraços de despedida (e de solidariedade).

"O adeus do major Passos Ramos foi o mais emotivo porque tinha ganho uma especial empatia comigo, alimentada de cumplicidade política e de estima pessoal. Ainda hoje me parece sentir nas costas o toque afectivo das palmas das suas mãos. Foi a última vez que vi Pelundo e Teixeira Pinto. E os três majores.

"Já colocado em Catió, tive notícias dos três majores e meus amigos. Notícias que correram mundo" (...)

João Tunes