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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20682: Em busca de... (301): Raul Fernandes Coelho, natural de Braga, piloto de Heli AL III e de caça-bombardeiro T 6, do meu tempo (Francisco José Rato Mendonça, ex-1º cabo esp MARME, BA 12, Bissalanca, 1972/74)


Guiné > Região de Tombali > Cufar > s/d > c. 19727/74 > Militares da FAP, pilotos: da esquerda para a direita, alf Pimenta, cap Branco, alf Cruz Dias,  fur Coelho (?) e fur Luís Santos.

Foto (e legenda): © Miguel Pessoa (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem de Francisco José Rato Mendonça, nosso camarada e leitor, ex-1º cabo especialista MARME [, mecânico de armamento e equipamento], BA 12, Bissalanca, 1972/74:

Data: sexta, 21/02/2020 à(s) 22:57

Assunto: Informação

Olá, Luís

Sou um ex-especialista MARME,  estive na FAP entre  1970 a 1976, tendo passado por, Ota, AB1, BA12, BA6, BA6, EMFA (com o General Morais e Silva).

Chamo-me Francisco José Rato Mendonca, estou no estrangeiro [Itália ?]

Pretendia saber se atravás da nossa organização [  o nosso blogue,]  posso ter o contacto de Raul Fernandes Coelho,  piloto de helicóptero e de T-6 na Guiné, 1972/74. Ele é de Braga,

Esperando que me possas ajudar, as minhas saudações aeronáuticas

Francisco Mendonça


2. Resposta de hoje, às 16h13, do Miguel Pessoa, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, atualmente cor pilav ref:


Lembro-me de um Furriel Coelho, da Esquadra 122 (AL-III) que voava também o DO-27 na Esquadra 121. Penso que seja o que está referido na foto em anexo (com alguma dúvida...).
Não tenho registo de contactos deste camarada.
Abraço. Miguel Pessoa

Francisco Mendonça.
Cortesia de blogue
Especialistas da Base Aérea  12
(Guiné 65/74)
3.  Comentário do nosso editor LG;

Do Raul Fernandes Coelho não encontrei rasto no blogue dos especialistas da BA12 (Guiné, 1965/74) nem na Net.

Mas encontrei um outra mensagem  (e uma foto) do Francisco Mendonça, com data de 4 de abril de 2016, e que reproduzo aqui com a devida vénia:

Bom dia, especialistas.

Eu sou Francisco José Rato Mendonça,  Esp MARME, 2/70. As bases por onde passei foram OTA, AB1, BA12, BA6 Montijo, EMFA representante dos especialistas no tempo do General Morais e Silva,  (graduado) Comandante da BA12 Lemos Ferreira, segundo  comandante Tenente Coronel Vasquez com quem voei em Dornier 27 depois de terem sido abatidos,  numa semana, alguns aviões. Houve uma espécie de recusa naquele período pelo facto de não termos misseis.

Do tenente que era chefe do armamento,  não me lembra o nome dele. Eu era da linha da frente, carregava a Dornier com roquetes, o T6 com bombas  de napal 80 kg mais bombas de 50 kg e ninhos de granadas incendiárias. Fiz algumas missões com dois T6 com carregamento de bombas algures em território da Guiné. Nos Fiats carregávamos diversos tipos de bombas e as metralhadoras.

Durante um certo período fui transferido para fotografia aérea. Aqui na Bulgária fiz uns voos no Antonov 2, um antigo aéreo biplano que se utiliza para regas agrícolas. uma espécie do tractor americano-

Além daquilo que vos enviei,  informo: Sou piloto de Delta plano (sem motor);  piloto de Planadores PPP: piloto de aviões monomotores a hélice até 5900 kg ppa; curso incompleto de paraquedismo (sem saltos).

Saudações aeronáuticas, Francisco Mendonça

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quinta-feira, 25 de julho de 2019

Guiné 61/74 - 20010: (D)o outro lado do combate (52): O T-6G FAP 1694 e o cap pilav João Rebelo Valente, desaparecido em 14/10/1963, na região do Óio- Morés (Jorge Araújo)


Foto nº 1 - Número de matrícula do “T-6G” pilotado pelo Capitão Pilav João Rebelo Valente




Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger,  CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974);  coeditor do blogue desde março de 2018


 (D)O OUTRO LADO DO COMBATE:

A MORTE DO CAPITÃO PILAV JOÃO CARDOSO DE CARVALHO REBELO VALENTE E A MISSÃO DA FORÇA ÁREA COM O "T-6G - 1694", EM 14 DE OUTUBRO DE 1963, NA REGIÃO DO ÓIO-MORÉS: O QUE REFEREM AS FONTES DE HISTÓRIA



1. INTRODUÇÃO

No decurso da pesquisa realizada a propósito da actualização da lista dos camaradas capitães, que tombaram no CTIGuiné durante a «Guerra do Ultramar» ou «Guerra Colonial» (1963-1974) – P19315, estruturada segundo a tríade em que foram classificadas as causas das suas mortes: 'acidente', 'combate' e 'doença', descobri a existência de casos onde se observavam algumas discrepâncias entre as fontes consultadas.

Com efeito, o exemplo que hoje partilho no Fórum, e que se refere ao do Capitão Pilav João Cardoso de Carvalho Rebelo Valente, natural do Entroncamento, falecido no CTIG em 14 de Outubro de 1963, 2.ª feira, captou uma particular atenção, dela emergindo o interesse no seu aprofundamento na busca de poder ficar mais próximo das causas e dos factos reais.

Assim sendo, em primeiro lugar, recupero o que está expresso no nosso blogue – P6638 e P9758 – onde o camarada Carlos Cordeiro (1946-2018), autor da primeira lista, dava conta, nesses dois postes, de que o Capitão Pilav João Rebelo Valente havia falecido por "doença", na data acima indicada.

Por outro lado, na consulta à importante base de dados sobre as «baixas» contabilizadas pelas NT na Guerra, como é o caso  «Dos Veteranos da Guerra do Ultramar - Portal UTW», aí é referido que a sua morte aconteceu por "acidente", estando, porém, omisso o local onde foi sepultado. Esta última informação foi a que considerámos na elaboração do nosso anterior levantamento.


2. NOVAS FONTES CONSULTADAS E RESULTADOS OBTIDOS

Em função da problemática acima identificada, e sabendo-se, tão só, que na data do seu óbito o Capitão Pilav João Rebelo Valente dirigia uma aeronave "T-6G Harvard, matrícula 1694" [Foto nº 1, imagem acima], logo procurámos ultrapassar esse obstáculo através da consulta a novas fontes bibliográficas relacionadas com o tema.

Encontrámos um trabalho sobre "Acidentes Mortais em Aeronaves – 1917-2016", da autoria do General Pilav Jorge Manuel Brochado de Miranda (1926-), no qual se faz referência a esta ocorrência [capa ao lado].

A propósito do autor desta obra, é de salientar o facto de ter exercido o cargo de Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, entre o dia 10 de Abril de 1984 e 28 de Agosto de 1988, tendo passado à reserva no dia seguinte e à situação de reforma cinco anos depois (1993). Em 31 de Janeiro de 2018, foi homenageado numa cerimónia que teve lugar no Auditório General José Lemos Ferreira, no Estado-Maior da Força Aérea, em Alfragide, que culminou com o descerrar de uma placa de homenagem. Após a cerimónia, o General Brochado de Miranda seguiu para a Presidência da República, em Belém, onde foi agraciado, pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.

Quanto ao valor científico deste trabalho, que está disponível no Arquivo Histórico da Força Aérea, com data de Setembro de 2016, o autor refere que "as fontes de história que registaram acidentes de aeronaves são essencialmente os Processos de Segurança de Voo (SV), mas por má elaboração ou falta de dados nem sempre aparecem elementos essenciais para a caracterização do acidente e das suas causas, ou, na falta destes, a imaginação entrou à solta e deu curso à fantasia. Vão, todavia, aparecendo, aqui e além, fora das fontes citadas, referências a acidentes que vem completar, por vezes, as informações incompletas ou mal descritas dos documentos oficiais" (op.cit.,  p5).


[Fonte: http://ahfa.emfa.pt/conteudos/acidentes_mortais_Aeronaves_1917_2016.pdf  [p57]


Por outro lado, uma segunda fonte consultada, respeitante a "acidentes da aviação militar", referia que a mesma aeronave, pilotada pelo Capitão Pilav João Rebelo Valente, ao colidir com o solo, "após manobra acrobática", em Olossato, provocou a morte do piloto.

Esse facto é comprovado com a informação abaixo e respectiva fonte.


[Fonte: https://acidentesaviacaomilitar.blogspot.com/search/label/T-6G, com a devida vénia.]

Influenciado pelas descrições supra, procurámos encontrar "D(o) Outro Lado do Combate" algo que nos pudesse ajudar a decifrar este "mistério" ou "conflito histórico". E tanto insistimos nessa busca, que no espólio documental de Amílcar Cabral (1924-1973), existente na CasaComum, da Fundação Mário Soares, encontrámos duas fotos alusivas ao "acidente".


Foto nº  2 - Citação: (1973), "Lay Sek junto de um pedaço de um avião português abatido pelo PAIGC", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43815 (2019-6) - matrícula 1694, com a devida vénia.

Fundação Mário Soares. Pasta: 05222.000.534. Título: Lay Sek junto de um pedaço de um avião português abatido pelo PAIGC [T-6 Harvard]. Assunto: Lay Sek junto de um pedaço de um avião português abatido pelo PAIGC, presumivelmente utilizando um míssil antiaéreo Strela, de origem soviética. Data: c.1973. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral.


Foto nº  3 - Citação: (1973), "População junto de um pedaço de um avião português abatido pelo PAIGC", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43566 (2019-6) - matrícula 1694, com a devida vénia.

Fundação Mário Soares. Pasta: 05359.000.006. Título: População junto de um pedaço de um avião português abatido pelo PAIGC. Assunto: População junto de um pedaço de um avião português abatido pelo PAIGC [T-6 Harvard], presumivelmente utilizando um míssil antiaéreo Strela, de origem soviética. Data: c.1973. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Fotografias.

Analisados os conteúdos narrados nas legendas sobre as duas fotos acima, constata-se que as datas citadas não estão correctas. Deve-se ler 1963. Quanto a Lay Sek [foto nº  2], guerrilheiro do PAGC e membro do Comité de Milícia Popular da Frente Norte, este estava, naquela altura, acantonado na base de Maqué (ou em trânsito) pelo que os destroços do "T-6G - FAP 1694" que nos aparecem nas imagens deveriam estar localizados na região de Morés (entre Maqué e Morés), conforme consta no livro da CECA, 6.º Volume, "Aspectos da Actividade Operacional" realizada pelas NT durante o período em análise (Outubro de 1963; pp121-122).

Assim sendo, o autor das legendas sobre as fotos {, um dos técnicos da Fundação Mário Soares], ao presumir que a data destas era de 1973, considerou que a queda da aeronave se ficara a dever à utilização de um míssil Strela, o que não corresponde à verdade, uma vez que este episódio ocorreu poucos dias antes do conflito armado completar o nono mês.


Foto nº 4 - Parelha de T-6 nos "Céus da Guiné". Foto do camarada Gil Moutinho, ex-Fur Pilav, BA12 (Guiné, 1972/1973) – P7088, com a devida vénia.


2.1.  COINCIDÊNCIAS… OU, TALVEZ, NEXO DE CAUSALIDADE

- A CARTA DE AMÍLCAR CABRAL ENVIADA A OSWALDO VIEIRA (NO MORÉS)

No desenvolvimento desta investigação foi identificada uma carta enviada por Amílcar Cabral (1924-1973) a Oswaldo Vieira (1938-1974), onde aborda este tema, entre outros.

Porém, o conteúdo dessa carta, conforme se apresenta abaixo, tem dois exemplares: um manuscrito, sem data; o segundo, dactilografado, com a data de 31 de Dezembro de 1963.

Nele(s) pode-se ler:

"Meu caro camarada Oswaldo,

São portadores desta os camaradas emissários que tinham vindo de Bissau. Só voltam agora, porque eu tinha estado ausente, em missão, e havia aqui muito que fazer.

Escrevi-te há dias pelo Bebiano. Espero que já tenhas recebido a carta, e que tudo corra bem. Espero também que tenhas mandado algumas notícias ao Lourenço [Gomes] para nos enviar, pois estamos sem notícias há quase dois meses.

Lamento muito os mortos no bombardeamento de 14 de Outubro [de 1963], em particular a da nossa grande camarada Joncon Seidi, cujo nome e coragem nunca devemos esquecer. Dá saudações minhas a toda a população do Morés e aos camaradas todos. Podem estar certos de que, depois da nossa libertação, na independência da nossa Pátria, Morés há-de ser uma das mais belas cidades da nossa terra.

Queria dar-te algumas palavras de ordem, mas não posso fazer isso, porque não tenho notícias, não sei como vão as coisas nas diferentes áreas sob a tua direcção. Para eu poder dirigir a luta, tenho de saber, em pormenor, o que se passa com os nossos e com o inimigo. Mas não recebo notícias nem relatórios dos meus camaradas de luta, responsáveis de região e de zonas. Espero ir para dentro do país, antes que tenha de ficar calado e desligado da luta, no exterior. Porque isso é coisa que não pode ser, que não tem justificação". (…)




Na parte final da carta, enviada a Osvaldo Vieira, Amílcar Cabral acrescenta:

"Mas preciso de relatórios detalhados do responsável.

Em relação à mensagem trazida pelos emissários de Bissau, eles te dirão o que penso e resolvemos. Acho que, como te mandei dizer pelo camarada Chico, é preciso uma boa coordenação entre vocês e Bissau, para fazer as coisas marchar.

Vão algumas bonecas para Bissau, que tu enviarás conforme for melhor. Vale a pena desenvolver as coisas [Zonas] em 0 [Ilha de Bissau], 1 [Varela e Barro], 2 [Bigene, Farim e Cuntima], 3 [Pirada, Canquelifá, Buruntuma, Piche e Nova Lamego], 6 [Geba, Bafatá, Contuboel, Sare Bacar e Sonaco] e 10 [Teixeira Pinto e Bula], com urgência.

Acho que não é indispensável esperar que chegue tudo o que desejamos mandar.

Sucesso no teu trabalho e para todos".



Fontes:

● Carta manuscrita: Citação: (s.d.), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_34265 (2019-6).

Fundação Mário Soares. Pasta: 07058.020.026. Assunto: Entre outros assuntos lamenta os mortos no bombardeamento de 14 de Outubro [1963], em particular a de Joncon Seidi, e a falta de notícias e de relatórios. Refere também a necessidade de regressar ao interior do país. Remetente: Amílcar Cabral. Destinatário: Osvaldo [Vieira], Morés. Data: s.d. Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Manuscritos de Amílcar Cabral. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Correspondência.

● Carta dactilografada: Citação: (1963), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_36712 (2019-6).

Fundação Mário Soares. Pasta: 04606.045.063. Assunto: Bombardeamento do dia 14 de Outubro [1963]. Remetente: Amílcar Cabral. Destinatário: Osvaldo [Vieira]. Data: Terça, 31 de Dezembro de 1963. Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Cartas e textos dactilografadas enviados por Amílcar Cabral; 1960-1967. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Correspondência.


Triângulo Maqué-Olossato-Morés, onde se supõe ter caído o "T-6G-1694" e onde morreu o Cap Pilav João Rebelo Valente, desconhecendo-se o que aconteceu ao seu corpo.


2.2. RESULTADOS… OU AS CONCLUSÕES POSSÍVEIS

Para encerrar este ponto, e esta narrativa, o que podemos concluir:

(i) – Com data de 14 de Outubro de 1963, 2.ª feira, foram encontrados diferentes registos historiográficos relacionadas com:

a) - A morte do Capitão Pilav João Cardoso de Carvalho Rebelo Valente, quando pilotava uma aeronave "T-6G, com matrícula 1694", de acordo com o referido pelo General Brochado de Miranda, no seu trabalho de investigação, titulado: "Acidentes Mortais em Aeronaves – 1917-2016, p57.

b) - Um outro apontamento, retirado do blogue sobre acidentes da aviação militar, acrescenta que a aeronave "FAP-1694" caiu no Olossato.

c) - O bombardeamento de uma base na região de Morés, de que resultaram alguns mortos, como referido por Amílcar Cabral em carta remetida a Osvaldo Vieira, então na base de Morés.

(ii) – Pelas imagens observadas, os destroços da aeronave "T-6G - FAP 1694" foram localizados:

a) - Não na "área do aeródromo", em Bissalanca, como é referido na obra do General Brochado de Miranda, acima citada.

b) - Mas, sim, numa das matas da região do Óio-Morés, no triângulo Maqué-Olossato-Morés [mapa acima], como se depreende/infere das fotos onde aparece o Lay Sek e alguns elementos da população.

(iii) – O que não é possível provar é que a queda da aeronave tenha sido provocada por fogo IN, ainda que nessa data/período as forças terrestres (NT) estivessem em manobras na região do Óio-Morés [Sector C, criado pela remodelação do dispositivo de 02Ago63], sob a supervisão do BCav 490 e do BCaç 512.

(iv) – Uma vez que não encontrámos qualquer referência ao local onde foi sepultado o corpo do Capitão Pilav João Rebelo Valente, considera-se, do ponto de vista académico, que ele não foi recuperado.

Eis, em síntese, o que foi possível apurar neste trabalho.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.
16jul2019
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Último poste da série >  3de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19944: (D)o outro lado combate (51): a morte de 'Guerra Mendes' (Jaime Silva) em Bulel Samba, Buba, em 14 de fevereiro de 1965, na Op Gira - II (e última) Parte (Jorge Araújo)

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19210: Facebok...ando (50): J.Casimiro Carvalho, o herói de Gadamael, e hoje régulo da Tabanca da Maia, nosso grã-tabanqueiro da primeira hora, presta homenagem aos "strelados" António Martins de Matos, Miguel Pessoa e Giselda Pessoa




Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > Dois heróis de 1973, batendo a pala um ao outro: o antigo ten pilav António Martins Matos (hoje ten gen pilav ref; era o asa do Miguel Pessoa, quando este foi abatido por um Strela sob os céus de Guileje, em 25/3/1973) e o ex-fur mil op esp J. Casimiro Carvalho, o "grande pirata de Guileje" que merecia uma cruz de guerra em Gadamael (dois meses a seguir)...

Foto: © Miguel Pessoa (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Alfagride, Amadora > Estado Maior da Força Aérea > 13 de novembro de 2018 > O Miguel e a Giselda Pessoa, na assistência, no autório gen Lemos Ferreira, na sessão de de lançamento do livro do António Martins de Matos "Voando sobre um ninho de Strelas" (Lisboa: BooksFactory, 2018, 375 pp.)


Foto (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O J. Casimiro Carvalho, nosso grã-tabanquerio da primeira hora, herói (esquecido) de Gadamael, hoje régulo da Tabanca da Maia, partilhou, na página do seu Facebook e do Facebook da Tabanca Grande, um comentário, seu, já antigo, de 15 de novembro de 2012, que, no nosso entender, merece as honras de um poste, na montra do nosso blogue (*)... 


O pretexto, agora, foi a sessão de lançamento do livro do António Martins de Matos, "Voando sob um ninho de Strelas", lançado no dia 13 do corrente  no Estado Maior da Força Aérea,em Alfragide, sessão em que esteve também presente os nossos queridos camaradas Miguel e Giselda Pessoa (*)...  O comentário, já antigo, é também uma homenagem ao povo da Guiné e à nossa capacidade de, tendo feito a guerra, termos conseguido também fazer as pazes, connosco e com os outros que lutaram do outro lado.

Grande Timoneiro Luis Graça :

Tenho cometido o erro de, pelas facilidade de postagem, ter aderido em força ao Facebook, relegando para segundo  plano, este Blogue, famoso e de qualidade.

Sinto que tenho que fazer uma mea culpa e penitenciar-me.

Acerca do assunto em questão, e porque não me sinto letrado o suficiente, para rebater, opiniões de outros Blogs, gostava só de salientar que,  aquando da minha visita aquele País, onde fiz uma comissão entre 1972 e 1974, pelas vivências que são conhecidas e notórias,nem tudo foi mau,antes pelo contrário, percorri aquele território, durante dez dias, e não estive só em Bissau, mas sim,quase sempre a percorrer o interior.

Tenho as minhas "mazelas", como muitos, e poderia até ter um certo retraimento em relação a alguns Guineenses que poderia encontrar e que me lembrassem o período, nefasto, da guerra no sul, e do susto em Paúnca.  Mas não...não aconteceu, antes pelo contrário, senti por aquele povo uma empatia tal que falávamos em "Turras" e "Tugas", e num desses dislates, conheci um oficial fardado (!?) que,  após uma troca de cumprimentos e palavras soltas, vim a saber que foi comandante da patrulha (emboscada) que matou 4 homens ao meu lado em 4 de Junho de 1973.

Ofereci lhe uma prenda (uma camisola original do FCP) que ele vestiu ali mesmo.

Em quase todo o interior senti uma afabilidade da parte da população, em relação aos ex-colonialistas, que nós representávamos, que fiquei boquiaberto,chegando alguns a pedir para voltarmos, pois tinham melhor qualidade de vida do que agora.

Como é possível não gostar desse povo, porque é que há tantos ex-combatentes a ir, a suas expensas, visitar a Guiné ?

A Paz (ou a falta dela) tem que ser conquistada por esse povo e seus dirigentes, e pela via democrática, e não pelas armas nem por insinuações soezes e jocosas.

Se puder hei-de voltar e comover-me ,confraternizar e até, talvez, chorar, porque não ?
Um abraço fraterno ao Povo da Guiné que gosta de nós, como nós gostamos deles.Obviamente, que haverá ressabiados, mas e, aqui, não há ?

Por uma Guiné melhor...o meu voto!

2. Legenda para uma foto (**):

No Facebook do José Casimiro de Carvalho, com data de 15 do corrente, sob a foto de Luís Graça, que se publica acima:

"Para quem desconhece, este Senhor era o Tenente Aviador Miguel Pessoa (hoje Coronel), cujo Fiat G-91 foi abatido por um míssil Strela, nos céus de Guileje, originando uma enorme operação de resgate (da qual fiz parte), para recuperar o piloto [, que se ejetou. A senhora ao lado é a sua esposa (Giselda Pessoa), que fez parte dessa operação, enquanto enfermeira paraquedista. Mais tarde casaram, coisas da Guerra, e como são de Guerra... continuam casados.

"Parabéns aos dois, aqui em  Alfragide, Amadora. A foto é tirada no Estado Maior da Força Aérea - 13 de Novembro de 2018 .O Miguel e a Giselda Pessoa, na assistência, no auditório Gen Lemos Ferreira, na sessão de de lançamento do livro do António Martins de Matos,  'Voando sobre um ninho de Strelas' (Lisboa: BooksFactory, 2018, 375 pp.)."

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Notas do editor:


(**) Últimmo poste da série >  6 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19074: Facebook...ando (49): Álbum fotográfico de João Rebola (1945-2018), ex-fur mil, CCAÇ 2444 (Bula, Có, Cacheu, Bissorã e Binar, 1968/70)

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19197: Agenda cultural (659): O António Martins de Matos ,"Voando Sobre um Ninho de Strelas", sente-se agora totalmente realizado por, depois de ter plantado duas árvores, e dado o seu contributo para fazer dois filhos, acaba de publicar um livro, que é muito da sua história de vida, e em especial como piloto da FAP, mas também um bocado das nossas vidas de ex-combatentes...


Alfragide, Amadora > Estado-Maior da Força Aérea  (EMFA) > 13 de novembro de 2018 > O ten gen pilav ref António Martins de Matos, membro da nossa Tabanca Grande, a autografar o seu livro "Voando Sobre um Ninho de Strelas"... Não temos fotos da mesa que foi presidida pelo Chefe do EMFA, gen Manuel Teixeira Rolo, sendo a obra apresentada pelo maj gen Campos Almeida, que foi colega de curso na Academia Militar, do autor (tal como outros colegas ilustres, o Virgílio Varela, do 16 de Março, e o Salgueiro Maia, do 25 de Abril,  sem esquecer o 'strelado' Miguel Pessoa).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça &  Camaradas da Guié]



Capa do livro de António Martins de Matos




Ficha técnica do livro




Nota curricular do autor


Dedicatória manuscrita ao editor do nosso blogue



Índice do livro


Nova Lamego, 1 de fevereiro de 1974. Ao autor no cockpit do Fiat G-91 (pag. 245)

Imagens reproduzidas do livro, com a devida vénia ao autor e ao editor

1. Decorreu ontem, como noticiámos, a sessão de lançamento do livro do ten gen pilav ref António Martins de Matos (AMM). "Voando sobre um ninho de Strelas", no edifício do Estado-Maior da Força Aérea (EMFA), em Alfragide, no Auditório General Lemos Ferreira.

Presidiu à mesa o Chefe do EMFA, gen Manuel Teixeira Rolo, sendo a obra apresentada pelo maj gen Campos Almeida, que foi colega de curso na Academia Militar, do autor.  Houve três intervenções, por esta ordem: i) Chefe do EMFA; (ii) apresentador; e (iii) autor.

O auditório estava muito composto, atendendo à hora da sessão (17h00), a maioria dos participantes eram pares e/ou  amigos e familiares do autor, com destaques para os militares, no ativo ou na reforma, da Força Aérea. Havia igualmente representantes do  Exército e da Marinha. O nosso blogue marcou presença, através do editor Luís Graça  e do casal Miguel e Giselda Pessoa. (O Miguel, como se sabe, é o editor do blogue da Tabanca do Centro e da sua revista digital "Karas".)

O Chefe do EMFA abriu a sessão, começando por dar os parabéns ao  autor pelo seu livro, um "história na primeira pessoa", e ao mesmo tempo pelo seu 73.º aniversário, ocorrido há dias, a 3 de novembro. Considerou igualmente este livro de memórias como uma homenagem a todos os militares, em geral, e aos da FAP, em particular que se bateram na guerra de África, de 1961 a 1975.

Por sua vez, o maj  gen Campos Almeida fez um brilhante e longo improviso, com uma apresentação detalhada da obra, que ele enquadrou na literatura da guerra do ultramar. onde a FAP também tem os seus, não muitos, representantes. E mencionou, entre outros, o nosso amigo e camarada cor pilv ref Miguel Pessoa, que tem escritos (, incluindo no nosso blogue,) sobre a  sua experiência sob os céus da Guiné: como se sabe, ele foi o primeiro piloto da FAP que viu o seu Fiat G-91 ser abatido por um Strela, em 25 de março de 1973, sendo o AMM o seu asa... Felizmente foi recuperado, com vida, no dia seguinte e, depois de umas "férias forçadas" no Hospital Militar Principal, voltou para o seu posto de combate  (Vd. AMM,  cap. 23 . O míssil Strela, pp. 145-158).

O apresentador  não deixou de chamar a atenção para o título, deveras sugestivo, do livro do AMM, parodiado deliberadamente do aclamado filme de Milos Forman, "Voando sobre um Ninho de Cucos" (1975).

Procedeu depois a uma análise pormenorizada da obra, balizando as memórias do AMM,  em termos de espaço e tempo: (i) a situação no TO da Guiné, e na BA 12 (1972/74); (ii) as questões técnicas do "aair power"; e (iii) as interrogações a nível político-militar... Para cada uma destas áreas, o autor soube utilizar  linguagem diferente mais apropriada; por exemplo, o jargão militar, quando fala da adaptação à Guiné e ao quotidiano da BA 12; a linguagem mais técnica quando discorre sobre o "air power" e as missões operacionais; e por fim, uma abordagem mais interrogativa e crítica no que respeita ao 25 de Abril  e o fim da guerra.

É um livro  onde se apanha,  com humor, os "flagrantes da vida real", em situações de guerra que eram muito menos conhecidas dos portugueses da metrópole do que a das guerra do Vietname. O regime de então, socorrendo-se da censura à imprensa, procurava dar uma "visão idealizada da Guiné". Mas a pressão interna e a escalada da guerra obrigam a algumas cedências: por exemplo, a fotografia do ten cor pilav José de Almeida Brito, comandante da esquadra de Fiat G-91,  atingido mortalmente por um Strela, em 28 de março de 1973, aparece na primeira página dos jornais... Infelizmente, os seus restos mortais só foram encontrados, identificados e recuperados 15 anos depois (!), em 1988 (pp. 149/151).

O apresentador faz ainda referência  às mais de 60 páginas de anexos ao livro e, em nota final, não quis deixar de valorizar a contribuição da filha do autor, a drª Teresa Matos, psicóloga clínica, com a sua abordagem sobre o problema do medo e do stresse  em combate (vd. cap 42. O sabor do medo, pp. 277-285). Não se esqueceu também o apresentador de destacar um tema que é caro ao AMM, justamente "os esquecidos", os ex-combatentes, os que sobreviveram e os militares que morreram, com ênfase para os da FAP (mais de 4 dezenas, entre 14 de outubro de 1961 e 20 de julho de 1975: 12 em Angola; 12 na Guiné; 19 em Moçambique).

Esse tema vai ser recuperado pelo autor, o AMM, quando encerrou a sessão, com a sua intervenção... Começou por dizer que se sentia um homem plenamente realizado, a partir de agora, porque, parafraseando o Eça de Queiroz, já tinha plantado 2 árvores, contribuído para o nascimento de 2 filhos e acabava  de escrever um livro (com outro já na forja, se bem percebi).

Seguiu-se a tradicional e sempre calorosa e gratificante sessão de autógrafos. Obrigado ao AMM, pelo exemplar do livro que nos ofereceu com uma  tocante dedicatória: não somos os "responsáveis morais"... do crime de ele ter passado a escrito um bom pedaço dos seus  73 anos de vida... Seguramente que outros, a começar pela família, merecem mais esta dedicatória e este epíteto. Pela nossa parte, ficamos felizes por passar a haver mais um título na nossa coleção... "Tabanca Grande"...  E já são tantos, os títulos,  que eu lhes perdi a conta. (LG)
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Vd. também pste de 30 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19149: Agenda cultural (655): lançamento oficial do livro do ten gen ref António Martins de Matos, Voando sobre um Ninho de 'Strelas' , no dia 13 de novembro de 2018, terça-feira, às 17h00, no Estado Maior da Força Aérea, Alfragide... Membro da nossa Tabanca Grande, o autor foi ten pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74, tem mais de 80 referências no nosso blogue. Uma sessão de apresentação da obra, aberta ao público em geral, e aos amigos e camaradas da Guiné, em particular, será realizada em Lisboa, em data a anunciar, no princípio de dezembro próximo.

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19193: Agenda cultural (658): sessão de apresentação, ao público, em geral, e aos ex-camaradas do CTIG, em particular, do livro do ten gen ref António Martins de Matos, "Voando sobre um Ninho de Strelas", no dia 11 de dezembro de 2018, terça-feira, às 18h00, no Hotel Travel Park Lisboa, Av. Almirante Reis 64.


Alfagride, Amadora > Estado Maior da Força Aérea > 13 de novembro de 2018 > O António Martins de Matos a autografar o seu livro "Voando sobre um ninho de Strelas"


Alfagride, Amadora > Estado Maior da Força Aérea > 13 de novembro de 2018 > O Miguel e a Giselda Pessoa, na assistência, no autório gen Lemos Ferreira, na sessão de de lançamento do livro do António Martins de Matos "Voando sobre um ninho de Strelas"  (Lisboa: BooksFactory, 2018, 375 pp.)

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem do nosso camarada António Martins de Matos, ten gen ref, 73 anos feitos há dias, em 3 do corrente, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74,  membro da Tabanca Grande, de longa data, com mais de 80 referências no nosso blogue, em especial na série FAP: 

Data: quinta, 8/11, 16:08


Assunto:  apresentação de livro

Caros amigos:

Conforme já devem ter tido conhecimento, acabei de escrever um livro sobre a Guerra Colonial e a Guiné, a que chamei: “Voando sobre um ninho de Strelas”.

Sendo um livro que interessa essencialmente os que passaram por aquelas terras, achei que seria importante fazer uma apresentação dedicada a todos esses antigos combatentes.

Para essa Apresentação gostaria de ter na Mesa de Honra os Representantes dos 3 Blogues que se têm dedicado a este tema, a saber:

- Luís Graça & Camaradas da Guiné;

- Tabanca do Centro;

- Especialistas da Base Aérea 12


Em princípio o livro irá ser apresentado no Hotel TRAVEL PARK, Av. Almirante Reis 64, no dia 11 de Dezembro, pelas 18 horas, o hotel tem parque subterrâneo, com acesso directo ao interior do mesmo.

Proponho-me desde já oferecer-vos um exemplar do livro, para tal preciso que me indiquem uma morada CTT. Conto com a vossa ajuda para uma “publicidade” ao evento.

Também gostaria que, no dia da apresentação, cada um dos “Representantes dos Blogues” tomassem a palavra para um eventual comentário ao livro, entre 5 e 10 minutos (facultativo).

Aguardo as vossas respostas e\ou comentários

Cumprimentos

AMM

2. Comentário do editor LG:

Estive ontem no lançamento oficial do livro, aqui ao meu lado, em Alfragide, no Estado Maior da Força Aérea (*), evento de que farei uma notícia, noutro poste, e que foi presidido pelo Chefe do EMFA, gen Manuel Teixeira Rolo. A esposa e a filha do autor estiveram presentes bem como numerosos amigos e camaradas da FAP, do Exército e da Marinha. Do nosso blogue, estive pelo menos eu, o Miguel e a Giselda Pessoa.

Posso desde já confirmar a data e o local, acima referidos, para a sessão de apresentação do livro ao público em geral e aos amigos e camaradas da Guiné, em particular, num ambiente menos formal e mais descontraído do que o de ontem, ni então já referid o Hotel Travel Park Lisboa,  sito na Av. Almirante Reis 64, Lisboa.

Por minha parte e em representação do nosso blogue, aceitei logo de bom grado o convite que me foi feita, para estar na mesa de honra. ao lado do autor.

Então até 3ª feira, dia 11 de dezembro. (**)

PS - A edição do livro é da BooksFactory. Página no Facebook: aqui.
_________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 30 de outubro de  2018 > Guiné 61/74 - P19149: Agenda cultural (655): lançamento oficial do livro do ten gen ref António Martins de Matos, Voando sobre um Ninho de 'Strelas' , no dia 13 de novembro de 2018, terça-feira, às 17h00, no Estado Maior da Força Aérea, Alfragide... Membro da nossa Tabanca Grande, o autor foi ten pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74, tem mais de 80 referências no nosso blogue. Uma sessão de apresentação da obra, aberta ao público em geral, e aos amigos e camaradas da Guiné, em particular, será realizada em Lisboa, em data a anunciar, no princípio de dezembro. próximo.

(**) Último poste da série >  11 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19186: Agenda cultural (657): Convite para o lançamento do livro "O Homem do Cinema", por Lucinda Aranha Antunes; editora Alfarroba, 2018, a levar a efeito no próximo dia 18 de Novembro na FNAC do CC Vasco da Gama, em Lisboa

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15336: FAP (93): O impacto do Strela na actividade aérea na Guiné - III e última Parte (José Matos, historiador e... astrónomo)


Guiné > Zona Leste > Bafatá > ambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > O célebres e velhinho caça-bomradeiro T6 G, tanbémk conhecido por "ronco", na pista de aviação de Bafatá, Em primeiro plano, o fur mil at nf, da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)  Arlindo T.Roda, autor da foto. Os T 6G vão desempemhar um importante papel no final da guerra...


Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados. [Edição: LG].




1. Terceira (e última) parte do artigo do nosso grã-tabanqueiro José Matos sobre a "arma que mudou a guerra", o míssil terra-ar Strela, de origem russa, introduzido na Guiné depois da morte de Amílcar Cabral, na sequência da escalada da guerra. 

Recorde-se que o José [Augusto] Matos, formado em astronomia em 2006 na Inglaterra [ University of Central Lancashire, Preston, UK ], é especialista em aviação e exploração espacial desde 1992, e faz parte da Fisua - Associação de Física da Universidade de Aveiro.

Tem-se dedicado, como investigador independente, à história militar, e em particular à história da guerra na Guiné (1961/74). 




SA 7- Grail (designação NATO), 
míssil terra-ar, de origem russa (9k 32 Strela 2), desenhado por volta de 1964 e operacional em 1968. 

Caraterísticas técnicas do SA- 7 «Grail» / 9K32M Strela-2 | Míssil antiaéreo:


Fabricante: KB Machinostroyenia; função principal: defesa antiaérea próxima; alcance: até 4,2 km; velocidade: 1300 km/h; tipo de ogiva : alto Explosivo / pré-fragmentada; peso da ogiva : 15 kg.; peso total: 10 kg; comprimento: 1.47 m; diâmetro: 72 mm; sistema orientação: infravermelhos. O Strela 2 foi concebido e testado por volta de 1964. Foi dado como operacional em 1968. Com um alcance máximo de 3,7 km e problemas com o sistema de orientação, as prestações do míssil não foram consideradas satisfatórias. Rapidamente foi lançada a versão Strela-2M, em 1971. A versão melhorada podia atingir em teoria alvos a distâncias de até 4,2 km. Era eficaz contra alvos a mais de 50 metros de altura e menos de 1500 metros.

Foto: Cortesia de Wikipedia. Imagem do domínio público.



O impacto do Strela na actividade aérea 
na Guiné (III e última parte),
  por José Matos



A evolução da guerra colonial na Guiné tomou um rumo dramático em 1973-74, quando o PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde) adquiriu a última versão do míssil soviético terra-ar SA-7 (Strela-2M). A utilização desta arma pela guerrilha provocou profundas alterações no emprego da aviação e na eficácia das operações aéreas. Aproveitando os efeitos tácticos do míssil, que tiveram reflexos estratégicos, os guerrilheiros lançaram várias operações de grande envergadura e a guerra entrou numa fase muito delicada. Surpreendida, inicialmente, a Força Aérea tomou rapidamente várias contramedidas que reduziram a eficácia do míssil. Que impacto teve, verdadeiramente, na actividade aérea e qual o efeito das contramedidas adoptadas é o que se pretende analisar neste artigo.

(Continuação) (*)


O efeito das contramedidas


É inegável que o aparecimento do míssil na Guiné teve consequências nas operações aéreas e no uso do poder aéreo, mas as várias contramedidas adoptadas, ao longo do ano, surtem efeito, pois mais nenhum avião volta a ser abatido até ao final de 1973, embora as equipas de mísseis continuem activas dando cobertura às acções no terreno. 

Desde finais de abril até dezembro de 1973, são referenciados 15 disparos contra aviões Fiat, mas nenhum avião é atingido [36].  Este indicador mostra que os pilotos da BA12 conseguiram, ao longo do resto do ano, contornar a ameaça antiaérea e recuperar o controlo sobre a generalidade das acções de apoio que prestavam às forças terrestres.

O único abate acontece em 31 de janeiro de 1974, quando o G.91 5437,  pilotado pelo Tenente Castro Gil,  é atingido por um míssil perto da fronteira com o Senegal, numa missão de apoio a Canquelifá. O piloto consegue ejectar-se e escapar à guerrilha, regressando no dia seguinte ao quartel de Piche, à boleia numa bicicleta de um habitante local.

No relatório de análise ao incidente verificou-se que as normas de segurança foram cumpridas, mas que “o adiantado da hora (17h30), dificultando a visibilidade, contribuiu para que não fosse possível ao nº 1 detectar o lançamento do míssil” e que “o avião ainda não tinha sido pintado com tinta de baixa reflexão de infravermelhos" [37].

Nesta altura, a Força Aérea tinha já efectuado contactos em França para comprar uma tinta de baixa reflexão, de tonalidade verde escura capaz de evitar o míssil. Mas só em março de 1974 é que chegam a Bissalanca as primeiras aeronaves pintadas com a nova tinta anti-reflectiva: o Fiat 5401 e o Alouette III 9401 [38].


As acções aéreas de ataque em 1974

A análise da actividade operacional, em 1974, mostra que as acções aéreas de ataque aumentam nos últimos meses da guerra (com excepção de março), como se pode ver no gráfico seguinte.




As acções aéreas de ataque em 1974

 Este incremento deve-se, essencialmente, ao T-6G, que passa a voar com mais frequência neste tipo de missões, nomeadamente, a partir de março, em missões ATIP [39]. Uma análise deste tipo de missões, por aeronave, permite perceber que o T-6 tem um papel importante na fase final da guerra, como se pode ver no gráfico seguinte.





Este desenvolvimento resulta, em parte, da experiência adquirida no C-47. Do famoso “Flecha de Prata”, passou-se para experimentações nos “Roncos”, como eram conhecidos, na época, os T-6G. Num destes aviões, foi aplicado um derivómetro-visor. Houve que conceber e aplicar na “aeronave artilheira”, uma pala, para evitar que o pouco óleo pulverizado, que sempre sai do escape do motor, não ofuscasse o campo de visão e o retículo de pontaria do visor. Preparou-se a indispensável tabela de tiro e executaram-se, durante o dia, alguns bombardeamentos em voo horizontal, com 4 aviões em formação. Desta forma, os “Roncos” começaram a ser usados em bombardeamentos diurnos de área a 10 000 pés, servindo o “avião artilheiro” de guia para os bombardeamentos. Nestas missões, os T-6G eram armados com 6 bombas de 15 kg e voavam em formações de 4 aviões [40].

No entanto, com a excepção de janeiro de 1974, a actividade do GO1201, baixa nos derradeiros meses da guerra, como se pode ver no gráfico 9 [41].


Em busca de sistemas antimíssil

Fiat G-91, camuflado... Hoje é peça de museu...
É também na fase final da guerra, que a FAP procura equipar os Fiat com um sistema antimíssil doflare, a comprar nos EUA. Logo no início de fevereiro de 1974, um grupo de técnicos americanos da firma TRACOR desloca-se às Oficinas Gerais de Material Aeronáutico (OGMA), em Alverca, com o propósito de estudar a possibilidade de instalação de contentores para ejecção de flares nos G.91. Os técnicos americanos concluem que é possível a instalação de 4 contentores do tipo TBC-72, lateralmente, junto ao bordo de fuga dos pylons internos do Fiat e capazes de fornecer uma protecção contínua entre 4,5 a 6 minutos, conforme a cadência de disparo dos flares [42].
tipo

Pouco tempo depois, em meados de fevereiro de 1974, o novo ministro da Defesa, Silva Cunha, dá ordens para que se iniciem rapidamente as diligências conducentes à aquisição do equipamento em causa [43].  Os custos da aquisição ascendem a 19 mil contos  [, equivalente hoje  3.062.558,26 €
(LG)] e prevê-se que esta verba possa ser suportada por conta de um empréstimo de 150 milhões de rands (6 milhões de contos) [967.123.661,80 € a preços de hoje, usando o conversor da Pordata (LG)] que Portugal fez junto da África do Sul [44]. O dinheiro sul-africano destinava-se, principalmente, a reforçar o poder aéreo com a aquisição de novas aeronaves para usar nas três frentes de guerra.

Como o TBC-72 é um equipamento de origem americana e como Portugal está sujeito a um embargo de armas, tanto o Ministério da Defesa como dos Negócios Estrangeiros tentam saber se a aquisição é possível. A 22 de abril, o embaixador português em Washington recebe instruções para apurar qual a melhor forma dos americanos venderem o equipamento, embora não devendo revelar às autoridades americanas que os flares se destinam a equipar aviões em serviço na Guiné [45].  Mas, o diplomata português já não tem tempo de fazer nada, pois, em poucos dias, dá-se o golpe militar de 25 Abril e a situação político-militar em Portugal e nas colónias muda radicalmente.

No entanto, apesar da Revolução de Abril, os responsáveis militares portugueses continuam a manter, durante algum tempo, a intenção de comprar os flares e outros sistemas antimíssil. A 21 de junho de 1974, na primeira reunião do Comité de Assistência África do Sul/Portugal (POSAAC), em Pretória, é decidido incluir na lista do material a financiar por conta do empréstimo sul-africano, 167 kits anti-Strela para os helicópteros Alouette III (kits a fornecer pela África do Sul), além do sistema TRACOR.46.  Os kits para os helicópteros eram constituídos por dois escudos térmicos sobre o motor e um deflector na tubeira do escape para desviar o fluxo de ar quente proveniente do motor. Tanto a África do Sul como a Rodésia usaram estes kits nos seus Alouette III. Nesta altura, porém, a guerra na Guiné já tinha terminado e estas aquisições deixavam de fazer sentido. A guerra do Strela tinha chegado ao fim.

José Matos (2015)

O autor agradece ao Arquivo da Defesa Nacional, ao Arquivo Histórico-Militar e à Torre do Tombo, as facilidades concedidas para esta investigação. Ao General José Lemos Ferreira, ao TGen Fernando de Jesus Vasquez, ao TGen António Martins de Matos, ao MGen António Martins Rodrigues, ao Cor Miguel Pessoa, ao TCor José Pinto Ferreira e ao Ten Jorge Vasco Moura pela leitura e comentários, bem como pelas informações prestadas.

[Fixação de texto, imagens e links: LG. Temos cerca de meia centena de referências, no nosso blogue, aos mísseis Strela]
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Notas do autor:

[36] Correia, José Manuel, Strela: A Ameaça ao Domínio dos céus no Ultramar Português, 2ª parte, Mais Alto n.º 393 Setembro/Outubro 2011, p. 28.

[37] Informação n.º 462 da 2ª Repartição do Estado-Maior da Força Aérea, Assunto: Avião abatido por míssil terra-ar em 31 Jan 74, 7 de Junho de 1974, ADN Fundo Geral Cx. 5074.

[38] Correia, op. cit., p. 31.

[39] Análise dos Sitreps Circunstanciados n.º 1/74 a 17/74 do COMZAVERDEGUINÉ, Bissau, ADN/F2/16/89 e AHM/DIV/2/4/295/3.~

[40] Informação prestada ao autor pelo General Fernando de Jesus Vazquez.

[41] Análise dos Sitreps Circunstanciados n.º 1/74 a 17/74 do COMZAVERDEGUINÉ, Bissau, ADN/F2/16/89 e AHM/DIV/2/4/295/3.

[42] Informação n.º 65-Pº 4.1.5/GAB do Estado-Maior da Força Aérea, Assunto: Medidas anti-míssil Strela (Sistema TRACOR), 6 de Fevereiro de 1974, ADN/F3/7/13/5.

[43] Informação n.º 355 da Secretaria de Estado da Aeronáutica, Assunto: Equipamento antimíssil Strela (TRACOR), 18 de Abril de 1974, ADN/F3/7/13/5.

[44] Memorando de 20 de Maio de 1974 do Gabinete do Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, ADN Fundo Geral Cx. 833/9.

[45] Nota secreta do Director Geral do MNE para o Embaixador de Portugal em Washington, Assunto: Aquisição de equipamento antimíssil Strela, 22 de Abril de 1974, ADN /F3/7/13/5.

[46] Acta da 1.ª reunião da Comissão Executiva da POSAAC, Pretória, 21 de Junho de 1974, ADN SGDN/7554.3.
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Nota do editor:

(*) Postes anteriores da série > 6 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15333: FAP (91): O impacto do Strela na actividade aérea na Guiné - Parte I (José Matos, historiador e... astrónomo)

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15085: FAP (86): a ameaça dos MiG na guerra da Guiné (José Matos, Revista Militar, nº 2559, abril de 2015) - Parte III




1. Continuação da publicação do artigo do José Matos, "A ameaça dos MIG na guerra da Guiné", Revista Militar, nº 2559, abril de 2015, pp. 327-352 > (*)

por José Matos

[, membro da nossa Tabanca Grande, nº 701; investigador independente em história militar,com particuolar interesse pela guerrano TO da Guiné]

(Continuação) 

Pilotos guerrilheiros

No dia 2 de Agosto de 1973, o jornal inglês Daily Telegraph dá conta de que o PAIGC está a treinar pilotos na União Soviética para usar aviões MiG, a partir da Guiné-Conakry, em possíveis ataques contra a colónia portuguesa. Num artigo assinado pelo correspondente em Lisboa, o jornalista Bruce Loudon, é referido que o PAIGC “está apenas a seis meses de atingir uma capacidade de ataque aéreo com caças MiG russos”. O jornalista refere também que cerca de 40 guerrilheiros estão a frequentar cursos de pilotagem na Rússia, baseando toda a notícia em fontes portuguesas [59].

A própria Direcção Geral de Segurança (DGS) na Guiné recolhe informações no mesmo sentido, dando conta que a guerrilha tem intenção, durante o Natal e o Ano Novo, de usar os MiG em bombardeamentos contra alguns aquartelamentos portugueses, no sul da Guiné. No entanto, a DGS revela, na mesma informação, que a fonte da notícia acredita que o PAIGC não vai usar meios aéreos e “que se vão servir dos aviões apenas para encorajar os terroristas” [60].

O comandante da ZACVG, agora sob o comando do Coronel Lemos Ferreira, revela também preocupações a este nível e, em finais de Novembro de 1973, escreve ao CEMFA referindo a possível existência de voos de reconhecimento senegaleses na fronteira norte e de eventuais patrulhamentos de aviões MiG-15 eMiG-17 da Guiné-Conakry, na fronteira sul e leste, embora nunca se consiga confirmar qualquer destes voos visualmente. Este oficial reporta também a possibilidade da guerrilha tentar eliminar duas guarnições de fronteira, uma no leste (provavelmente Buruntuma) e outra no sul, talvez Gadamael, dada a posição dominante que ocupava na chamada península de Cacine.

Lemos Ferreira salienta ainda que estas acções podem ser apoiadas por aviões MiG vindos de Conakry, o que leva o comandante da ZACVG a pedir urgência no equipamento dos Fiat com mísseis Sidewinder [61]. Apesar da insistência neste tipo de arma, a verdade é que já, em 1970, tinham sido testados nas OGMA mísseis Sidewinder no G-91 e os resultados tinham sido insatisfatórios. O Fiat não era um avião adequado para combater um MiG, embora os pilotos portugueses tivessem mais treino e mais experiência em combate do que os guineanos ou os cubanos, o que era uma vantagem em caso de confronto.

Incursões de MiG na Guiné


Em Setembro de 1973, o comandante da FAG, Capitão Adduramán Kamara, decide fazer um voo de reconhecimento dentro do território da Guiné. A intenção é comunicada aos pilotos cubanos, que começam a preparar a incursão com grande cuidado, pois não pretendem encontrar aviões portugueses no caminho [62].

 Em meados de Setembro, dois caças MiG-17F partem de Conakry, rumo à fronteira com a Guiné, tendo aos comandos um piloto guineano e um cubano. Os aviões voam sem oxigénio para o piloto, o que não permite subir a grande altitude para poupar combustível. O voo é seguido de perto pelo radarP-12 instalado em Kamsar e operado por especialistas cubanos. Os aviões seguem em direcção a Bafatá, no sul da Guiné, onde fazem um reconhecimento visual a baixa altitude. No regresso a Conakry são alertados pelo pessoal do radar que uma parelha de Fiat G-91 levantou voo de Bissalanca, mas os caças portugueses não conseguem alcançar os MiG, que aceleram até aos 1000 km/h voltando em segurança à base de partida, onde chegam já sem combustível para grande susto dos pilotos [63].

Pouco tempo depois, em Novembro, surgem novas informações da DGS da Guiné sobre uma possível ameaça aérea vinda do próprio PAIGC. A 9 de Novembro, a DGS divulga a informação de que, no aeroporto da capital guineana, estão ao serviço da guerrilha “12 aviões de guerra, 12 helicópteros (…) e 80 bombas de avião, sendo 4 de tamanho maior, com um raio de acção de cerca de 500 metros, destinadas a serem lançadas sobre Bissau”. 

A informação refere ainda que os bombardeamentos estão previstos para 20 de Janeiro de 1974 (data do primeiro aniversário da morte de Amílcar Cabral), e que, em Conakry, estão também “8 pilotos de aeronaves, sendo 2 russos, 2 alemães, 2 chineses e 2 ingleses, a fim de ministrarem instrução de pilotagem a elementos do PAIGC que, para o efeito, foram seleccionados entre os que possuíam melhores aptidões físicas e literárias”[64]. 

A 16 de Novembro, a DGS informa que o regime guineano recebeu, recentemente, 41 aviões MiG-19 e alguns carros blindados que pôs à disposição do PAIGC. Os aviões foram colocados em Sarebódio, na Guiné-Conakry, e os carros blindados em Sembali, no Senegal [65]. Sabe-se hoje que a informação era exagerada, pois a FAG não dispunha do MiG-19, nem de um número tão elevado de caças.

No início de Dezembro, é a vez do quartel de Buruntuma, perto da fronteira leste da Guiné, receber a visita dos MiG da FAG. Dois caças sobrevoam e picam sobre o quartel, retirando depois em direcção ao país vizinho. O comando da ZACVG transmite esta informação à Secretaria de Estado da Aeronáutica (SEA) e manda a Buruntuma o Tenente-Coronel Vasquez para esclarecer a situação[66]. 
As averiguações feitas no local por este oficial sugerem a possibilidade de serem aviões MiG-19 e o comando da ZACVG pede à SEA que seja realizado um esforço de pesquisa no sentido de confirmar ou não a existência doMiG-19 na República da Guiné, bem como origem do mesmo, tripulações respectivas, número de aviões e pilotos [67].

Em meados de Dezembro, são aduzidas pela ZACVG novas informações sobre os meios aéreos do país vizinho. Um informador guineense relata a existência de seis a doze MiG-21 na base de Conakry, com pilotos russos e guineenses, levantando também a possibilidade de estar a decorrer um curso de adaptação a este avião para os pilotos da República da Guiné. O informador refere ainda que a base possui abrigos enterrados para a protecção de aviões e que Luís Cabral tem insistido junto da Rússia para que sejam “acelerados os cursos de formação de 10 a 12 pilotos do PAIGC previstos terminarem no início de 1974”. Mais uma vez, a ZACVG pede à SEA que seja efectuado um esforço de pesquisa, no sentido de determinar o grau de veracidade destas informações [68]. Mais uma vez, a informação era exagerada, pois, nem o MiG-21 nem o MiG-19, faziam parte do inventário da FAG.

Este fluxo de informação vai chegando ao Governo, em Lisboa, e Marcelo Caetano percebe que o uso de aviões de combate pela guerrilha pode tornar a Guiné indefensável. Preocupado com a situação na colónia, Caetano dá indicações para “fazer-se o impossível por dotar a Guiné de eficaz defesa antiaérea”, o que leva o Ministério da Defesa a acelerar os planos de aquisição de mísseis e radares e a procurar junto do Ministério das Finanças um financiamento extra para tais aquisições [69]. 

Bandeira da África do Sul, de 1928 a 1994...
Cortesia de Wikipedia
Aproveitando as óptimas relações que tem com o regime sul-africano, é junto de Pretória que Portugal obtém o dinheiro necessário para reforçar o seu poder militar.

O apoio sul-africano

Ao longo da guerra, Portugal estabelece com o regime branco de Pretória uma cooperação política e militar muito estreita. A permanência portuguesa na África Austral é extremamente importante para os sul-africanos, pois sabem que, se Portugal deixar Angola e Moçambique, a África do Sul ficará cercada de inimigos hostis ao apartheid e à presença sul-africana na Namíbia. Por seu turno, Portugal vê na África do Sul um aliado poderoso, capaz de fornecer apoio militar, político e financeiro à luta que as forças portuguesas travam em África.

É neste ambiente de cooperação que o Ministério da Defesa português discute com o seu congénere sul-africano a possibilidade de um empréstimo considerável da ordem dos 150-160 milhões de rands para a compra de material militar destinado ao Exército e à Força Aérea [70].

 Em Janeiro de 1973, o ministro Viana Rebelo envia ao ministro sul-africano da Defesa, P.W. Botha, duas listas de material de guerra: a lista I, respeitante a equipamentos a serem cedidos pela África do Sul para satisfazerem as necessidades mais urgentes das tropas portuguesas em Angola e Moçambique, e a lista II, respeitante a materiais a adquirir mediante um empréstimo sul-africano [71]. Na lista do material a ceder são incluídos dois pelotões de mísseis Crotale, enquanto na lista do material a financiar aparece uma esquadrilha de vinte aviões Mirage V por 1,6 milhões de contos (49,6 milhões de rands). O valor total do financiamento ascende a 5,147 milhões de contos (159,6 milhões de rands).

A 30 de Maio de 1973, P.W. Botha encontra-se em Lisboa com Viana Rebelo e o assunto dos Crotale é discutido entre os dois ministros. Durante as conversações, Botha reconhece que o míssil ainda está numa fase experimental e que o preço doCrotale ainda é demasiado elevado, devido ao facto da África do Sul ser até aquela data o único comprador do míssil e que “se Portugal deseja adquirir directamente em França podê-lo-á fazer contactando com a empresa Thomson” e sendo “Portugal um membro da NATO poderá ajudar promovendo compras que contribuirão para o embaratecimento do sistema” [72]. Desta forma, o Crotalepassa para a lista II de material a financiar e Lisboa contacta directamente os franceses para a compra do sistema.

No entanto, as negociações para o empréstimo só começam no final de Agosto de 73, em Pretória, sendo concluídas no final do ano. Finalmente, em Março de 1974, é assinado um acordo de empréstimo de 150 milhões de rands (6 milhões de contos) entre Portugal e a África do Sul, para a compra de material de guerra, em prestações mensais de 5 milhões de rands [73]. É o dinheiro de Pretória que permite a Lisboa obter os novos meios de defesa para a Guiné, nomeadamente os mísseis Crotale e o Mirage, embora este último nunca chegue a ser adquirido [74].

Entretanto, a 29 de Setembro, o General Bethencourt Rodrigues, assume na Guiné as funções de governador e comandante-chefe, em substituição do General Spínola. Bethencourt Rodrigues reconhece de imediato que a mais perigosa ameaça que as forças portuguesas poderão ter de enfrentar na Guiné será o aparecimento de uma Força Aérea do PAIGC, capaz de actuar “contra a FAP para obter a sua total anulação, contra forças ou guarnições militares ou contra povoações com especial incidência sobre Bissau e o seu porto”. Desta forma, considera que é indispensável dotar o mais rapidamente possível aquela colónia de “uma defesa AA eficaz com base em mísseis modernos”, além de “dispor de uma força aérea de ataque e retaliaçãoeficiente, possivelmente com base na ilha do Sal” e “ter uma aviação de transporte (helis e aviões ligeiros) que confira às suas unidades grande mobilidade” [75].

As negociações com os americanos

Aproveitando as negociações em curso com Washington para a renovação do acordo das Lajes e as facilidades concedidas durante a guerra de Yom Kippur, em que a base dos Açores teve uma importância fundamental no apoio militar a Israel, o governo português tenta obter junto dos americanos mísseis terra-ar para a defesa da Guiné [76]. A intenção é comprar mísseis portáteis FIM-43A Redeye e também mísseis Hawk [77]. Mas, devido ao embargo de armas que existe contra Portugal, a diplomacia americana tenta fornecer os mísseis através de um terceiro país, Israel. O próprio Henry Kissinger envolve-se na questão e, a 9 de Dezembro de 1973, encontra-se com o Ministro dos Negócios Estrangeiros português, Rui Patrício, em Bruxelas, à margem de uma reunião da OTAN, e promete-lhe que os mísseis vão ser fornecidos usando Israel como intermediário, pois o Congresso americano jamais aprovaria uma venda directa [78].
FIM-43 Redeye: um lançador portátil 
de mísseis terra-ar ...
Cortesia de Wikipedia... [Edição: LG]
A 11 de Dezembro, o embaixador português nos EUA, João Hall Themido, encontra-se com o seu colega israelita em Washington, seguindo uma indicação dada alguns dias antes, por William Porter, Subsecretário de Estado para Assuntos Políticos [79]. Simcha Dinitz agradece a ajuda portuguesa durante a guerra de Yom Kippur, mas, na conversa que tem com Themido, afirma que não é “técnico militar”, e que lhe parece que os únicos mísseis que Israel dispõe são os Hawk e que não sabe se o seu governo pode vender a Portugal material militar de origem americana, mas que vai procurar saber [80].

Dois dias depois, Themido fala com o encarregado de negócios da embaixada israelita, que lhe assegura que, embora Israel tenha mísseis Redeye e Hawk, os mesmos não podem ser fornecidos sem o consentimento americano e que a única coisa que Telavive pode fazer é vender material de origem israelita, caso isso seja considerado útil [81]. A resposta israelita deixa Themido insatisfeito e de Lisboa recebe instruções para esclarecer o assunto junto de William Porter [82].

A 15 de Dezembro, o embaixador português encontra-se com Porter no Departamento de Estado e este diz-lhe que tinha apenas sugerido ao embaixador israelita que, em contacto com Themido, averiguasse da disponibilidade de material de guerra e da possibilidade de fornecimento, mas nada mais do que isso. Mais tarde, num telefonema para a embaixada portuguesa, chega mesmo a dizer que, nos contactos que tinha tido com Dinitz, apenas lhe tinha dito que Portugal estava interessado em adquirir mísseis terra-ar, não admitindo que tivesse sugerido a entrega a Portugal de mísseis americanos [83].

O assunto vai-se, assim, arrastando até que, em 8 de Fevereiro de 1974, o secretário de Estado Adjunto, Kenneth Rush, chama o embaixador português para lhe comunicar que os EUA não podiam fornecer os mísseis Redeye, pois, por um lado, eram contra a proliferação desse tipo de armamento, estando em conversações com Moscovo para limitar a difusão de armas MANPADS (“Man-Portable Air Defense Systems”) e, por outro, os mísseis “seriam usados no plano interno na luta contra as guerrilhas, o que era inaceitável”. Em relação aos Hawk teriam de consultar o Congresso, caso Portugal concordasse com essa consulta [84].

Esta tomada de posição americana leva o governo português a considerar seriamente o fim da utilização da base das Lajes por parte dos EUA, uma intenção que é comunicada por Themido a Rush, a 18 de Março. Rush fica obviamente surpreendido com tal intento e considera extemporânea tal decisão e promete ajudar Portugal fora do campo militar, pois se, “na parte militar, os auxílios dos Estados Unidos eram necessariamente limitados, na parte económica e técnica certamente haveria possibilidades ainda não exploradas” [85].

A intenção portuguesa chega ao conhecimento do próprio Kissinger que, a 11 de Abril, escreve a Rui Patrício reforçando as palavras de Rush quanto a uma cooperação em áreas não militares, pedindo ao ministro português sugestões a esse nível, e mantendo o interesse americano em continuar a usar as Lajes [86]. Embora não faça qualquer referência na carta à questão dos mísseis Redeye, a verdade é que o secretário de Estado americano acelera o processo de venda dos mísseis por canais tortuosos e, duas semanas mais tarde, os mesmos são colocados na Alemanha à disposição de Portugal [87]. A oferta é de 500 mísseis a serem fornecidos por Israel através de um intermediário alemão com a anuência americana [88]. O número de mísseis encomendado mostra que o Redeye não se destinava apenas à Guiné, onde as forças portuguesas necessitavam de cerca de 200 mísseis, mas também às restantes colónias. Os mísseis custam 209 mil contos, mas não há qualquer informação de que este valor seja coberto pelo empréstimo sul-africano [89].
Os mísseis já estavam na Alemanha Ocidental quando ocorreu a revolução de 25 de Abril. Nessa altura, o então Secretário-Geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros, embaixador Calvet de Magalhães, que continuou em funções após a queda do regime, informou o general Costa Gomes, novo CEMGFA, do negócio dos mísseis, tendo Costa Gomes ordenado o cancelamento da operação [90].

(Continua)

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Notas do autor:

[59] Bruce Loudon, “Portuguese rebels to get Russian MiGs”, Daily Telegraph, 2 de Agosto de 1973, ADN/SGDN Cx. 3500.

[60] Relatório nº 2919/73 da DGS Guiné, 26 de Dezembro de 1973, Arquivo da PIDE/DGS processo 641/61, PAIGC, pasta 10, fls 41 e 82.

[61] Carta do Comandante da ZACVG para o CEMFA, Bissau, 27 de Novembro de 1973, ADN/F3/17/35/15.

[62] Hernández, op. cit., pp. 138-139.

[63] Hernández, op. cit., pp. 145-151.

[64] Informação nº 1.245-2ª. D.I. da DGS Guiné, Assunto: Meios Aéreos do PAIGC, 9 de Novembro de 1973, Arquivo da PIDE/DGS, Processo 641/61, PAIGC, pasta 9, fls 102-104.

[65] Relatório imediato nº 2540/73-DSInf-2 da DGS Guiné, Assunto: Apoio ao PAIGC, 16 de Novembro de 1973, Arquivo da PIDE/DGS, Processo 641/61, PAIGC, pasta 9, fls 123-124.

[66] Telegrama n.º BE164DEC73 da ZACVG, 7 de Dezembro de 1973, ADN/F3/17/34/9 e PERINTREP n.º 49/73 do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné (CCFAG), 2-9 de Dezembro de 1973, ADN/F2/2/14.

[67] Telegrama n.º BE168DEC73 da ZACVG, 10 de Dezembro de 1973, ADN/F3/17/34/9.

[68] Telegrama n.º BE176DEC73 da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné (ZACVG), 14 de Dezembro de 1973, ADN/F3/17/34/9.

[69] Caetano, Marcello, Depoimento, Rio de Janeiro, Record, 1974, p. 180.

[70] Informação nº 305/72 do Secretariado Geral da Defesa Nacional, Assunto: Lista de materiais a apresentar à República da África do Sul (RAS), 19 de Agosto de 1972, ADN F3/25/58/21.

[71] Carta do Ministro da Defesa Nacional para o Ministro da Defesa da RAS, com duas listas anexas, Janeiro de 1973, Arquivo Histórico Diplomático (AHD), PAA 1140.

[72] Informação nº 68/AU do Secretariado-Geral da Defesa Nacional/CCAU, Assunto: Lista I de Pedidos de Material apresentada à RAS – Artilharia Antiaérea – Mísseis Crotale, 6 de Setembro de 1973, ADN, Fundo Geral Cx.7623.

[73] Memorial sobre o acordo do empréstimo de 150 milhões de rands firmados com a RAS, Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA), 18 de Setembro de 1975, ADN F3/20/48/64.

[74] Matos, José “A história secreta dos Mirage portugueses”, 2ª parte, Revista Mais Alto n.º 401, 2013, pp. 25-29.

[75] Estudo do CCFAG sobre a área do Boé, Secretariado-Geral da Defesa Nacional, Processo n.º 2202, Pasta A, ADN F3/17/34/4.

[76] Themido, João Hall, “Dez anos em Washington 1971-1981”, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1995, pp. 100-102.

[77] Telegrama do Ministério dos Negócios Estrangeiros para Embaixada de Portugal em Washington, Secção de Cifra, 13 de Dezembro de 1973, ADN/F3/14/29/4.

[78] Apontamento do Ministério dos Negócios Estrangeiros sobre a conversa do Ministro com o Secretário de Estado Americano, Dr. Kissinger, em 9 de Dezembro de 1973, Lisboa, 10 de Dezembro de 1973, ADN/F3/14/29/4.

[79] Telegrama da Embaixada de Portugal em Washington para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Secção de Cifra do MNE, 4 de Dezembro de 1973, ADN/F3/14/29/4.

[80] Telegrama da Embaixada de Portugal em Washington para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Secção de Cifra do MNE, 11 de Dezembro de 1973, ADN/F3/14/29/4.

[81] Telegrama da Embaixada de Portugal em Washington para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Secção de Cifra do MNE, 13 de Dezembro de 1973, ADN/F3/14/29/4.

[82] Telegrama do Ministério dos Negócios Estrangeiros para Embaixada de Portugal em Washington, Secção de Cifra do MNE, 14 de Dezembro de 1973, ADN/F3/14/29/4.

[83] Telegrama da Embaixada de Portugal em Washington para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Secção de Cifra do MNE, 15 de Dezembro de 1973, ADN/F3/14/29/4.

[84] Telegrama nº 95 da Embaixada de Portugal em Washington para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Secção de Cifra do MNE, 8 de Fevereiro de 1974, ADN/F3/14/29/4.

[85] Nota secreta da Embaixada de Portugal em Washington sobre as negociações para a renovação do Acordo dos Açores, Sessão de 18 de Março de 1974, ADN/F3/14/29/4.

[86] Carta de Henry Kissinger para o Ministro dos Negócios Estrangeiros português, 11 de Abril de 1974, ADN/F3/14/29/4.

[87] Themido, op. cit., p. 164.

[88] Themido, op. cit., p. 146.

[89] Nota nº 1229/AF/74 do Estado-Maior General das Forças Armadas para o Director-Geral da Contabilidade Pública, Assunto: Aquisição de conjuntos míssil-lançador “REDEYE”, 31 de Julho de 1974, ADN, Fundo Geral Cx. 833/9.

[90] José Calvet Magalhães, o 25 de Abril e as Necessidades, http://ebookbrowse.com/ca/calvet-de-magalhaes-pt.
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Nota do editor:

Postes anteriores da série > 

7  de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15079: FAP (85): a ameaça dos MiG na guerra da Guiné (José Matos, Revista Militar, nº 2559, abril de 2015) - Parte II

6 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15077: FAP (84): a ameaça dos MiG na guerra da Guiné (José Matos, Revista Militar, nº 2559, abril de 2015) - Parte I