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sábado, 27 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5893: O 6º aniversário do nosso Blogue (8): Como é que se consegue pôr centenas de ex-combatentes a falar? (Manuel Marinho)

1. Mensagem de Manuel Marinho (ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Nema/Farim e Binta, 1972/74), com data de 23 de Fevereiro de 2010:

Caro Amigo Vinhal.
Envio este modesto contributo para festejar o blogue.


6.º ANIVERSÁRIO DO BLOGUE

Ao fundador Luís Graça.
Aos Editores Carlos Vinhal, Eduardo Magalhães, Virgílio Briote.

Porque é que este blogue atingiu o alto patamar de prestígio que hoje está à vista, e é por todos reconhecido?

Como é que se consegue esta proeza de pôr centenas de ex-combatentes a falar uns com os outros, de coisas que só eles compreendem?

A identidade comum, o espaço verdadeiramente único de ser centrado em, e para os ex-combatentes da Guerra Colonial da Guiné, que com as suas vivências, de formas distintas, em sítios diferentes, mas com um sentimento que amplia a noção de camaradas e amigos.

Foi esta a forma encontrada em boa hora pelo Luís Graça, que ganhou espaço, adquiriu a confiança dos ex-combatentes da Guiné para que estes fizessem o esforço de voltarem lá onde a memória já tinha bloqueado esses anos das coisas de que não queriam falar.

Este blogue coloca a nossa voz por intermédio dos escritos, ao serviço da História que um dia se há-de fazer, ao narrar de formas múltiplas a guerra que uma geração sacrificada, teve de fazer, mas que honrou os seus compromissos históricos.

Falamos todos a mesma linguagem, embora em tons desiguais porque as estórias que vão sendo vertidas para o blogue foram vividas por nós em situações diferentes, mas facilmente compreendidas, porque nos são familiares.

O nosso mutismo finalmente pôde ser desbloqueado pelo efeito deste blogue, aliviamos o espírito, deixamos os fantasmas soltarem-se, elevamos a nossa estima ao relatarmos o que estaria porventura soterrado para sempre na memória, não fosse o blogue.

Para mim foi uma descoberta a todos os títulos notável, conheço dezenas de camaradas apenas pelo computador, mas é tão natural esta empatia, que parece que nos conhecemos desde sempre.

Por outro lado fiquei com o vício de todos os dias ter de ler o blogue.

Depois por todos aqueles que não podendo por razões várias, dar os seus testemunhos ao blogue, sentem que este espaço também lhes pertence, por se sentirem por ele representados, através dos escritos dos Tertulianos e amigos do blogue.

Pela homenagem que presta aos nossos camaradas mortos, e aos que ficaram para sempre com mazelas físicas e psíquicas, o blogue fica engrandecido de forma nobre, que só nos pode deixar orgulhosos.

O bem-haja ao fundador Luís Graça e aos editores Carlos Vinhal, Eduardo Magalhães e Virgínio Briote, o magnífico trabalho em prol dos que como eles, um dia lutaram por este País, cumpriram o seu dever, nada pediram em troca, e foram sempre ignorados e maltratados pelos sucessivos (des)governos deste País, também por isso este blogue é extremamente importante, ao tornar incómodos os silêncios instalados.

Finalmente a todos os Tertulianos que com os seus escritos enriquecem diariamente o blogue de uma forma extraordinária, o meu grande abraço, para todos vós.

Manuel Marinho
__________

(*) Vd. poste de 13 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5810: (Ex) citações (53): Os maus exemplos de um 1.º Sargento (Manuel Marinho)

Vd. último poste da série de 21 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5860: O 6º aniversário do nosso Blogue (7): Sempre em frente (José Eduardo Reis de Oliveira – JERO -, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 675)

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5810: (Ex)citações (57): Os maus exemplos de um 1.º Sargento (Manuel Marinho)

1. Mensagem de Manuel Marinho* (ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Nema/Farim e Binta, 1972/74), com data de 7 de Fevereiro de 2010:


OS MAUS EXEMPLOS

Binta, mais um dia de saída para o mato que era rotina quase diária, procede-se à distribuição das rações de combate, entre nós fazem-se as respectivas trocas de latas, uns gostam da dobrada, outros de conservas, outros ainda preferem apenas os sumos, enfim vocês sabem como era.

Em frente a nós, nesses amanheceres, junta-se um conjunto sempre elevado de miúdos que nos observam nos nossos preparativos, de latas vazias de calda de pêssego na mão, esperam a já habitual distribuição pela nossa malta das possíveis sobras que os nossos organismos já não consomem, por efeito de saturação dos mesmos.

O que começou por ser coisa sem a mínima importância, dar algumas latas de ração, tornou-se numa obrigação por culpa do nosso 1.º.

Distribuem-se latas das rações de combate pelos miúdos, perante a sua alegria incontida, fazemos apelos aos camaradas para que dêem o que não vão comer, estas cenas começaram a ser habituais e causaram azia a um 1.º Sargento que um dia resolveu intervir para acabar com estas pequenas generosidades.

Dirigiu-se a nós e disse mais ou menos isto:

- Esta merda tem de acabar! - Vocês estão a alimentar os filhos dos turras, com o comer do Exército! Estão a dar maus exemplos, depois não se queixem!

Neste caso era uma excepção à regra, mas quantos havia a pensar assim? Adiante….

Perante os nossos protestos e algumas bocas dirigidas ao mesmo, dizendo-lhe que as únicas vítimas inocentes naquela guerra eram as crianças e em surdina, dizíamos:

– Vai mas é para o mato!

As coisas ficaram por ali, mas serviu para comentarmos entre nós a forma de abastecer ainda melhor a miudagem.

Então quando comíamos (mal) no barracão a que se chamava refeitório, as sobras eram entregues aos miúdos que esperavam a distância conveniente, longe de olhares indiscretos para evitar chatices, e lá iam eles todos contentes para as suas tabancas, com as latas fornecidas.

Mesmo alguns dos nossos camaradas (poucos) faziam cara feia, quando ao terminar as nossas refeições, se recolhiam os restos para depois lhes encher as latas, era preciso fazer pedagogia e apelar aos seus melhores sentimentos, o que em verdade se diga não era difícil.

Mesmo que assim fosse, o Exército não dava alimentação decente para o qual tinha todas as obrigações de o fazer, e o que dávamos aos miúdos, não compensava os prejuízos de cabritos que surripiávamos aos pais, para suprir a nossa alimentação.

Convém dizer que se tentava quase sempre a compra junto da população de animais para a nossa alimentação, galinhas, porcos e cabritos, o que não era tarefa fácil, em virtude das suas crenças religiosas.

Tudo o que era negro, era turra ou parente aproximado, e depois nós que andávamos no mato com as milícias, que faziam a mesma guerra ao nosso lado, ouvíamos muitas recriminações e críticas a estas manifestações raciais de mau gosto.

A estas atitudes não era alheio o facto de termos vivido Guidaje, já que deixou revoltas mal resolvidas entre nós, e pelo facto de por essa altura haver sempre Companhias em permanência por causa das colunas que eram feitas, e o desgaste a que éramos submetidos, em permanentes escoltas e patrulhamentos, e a fazer as guardas de sentinela aos postos durante a noite, com intensa actividade operacional, era natural a nossa hostilidade, a comportamentos menos correctos por parte de quem tinha obrigação de dar exemplos.

Felizmente esta foi uma voz isolada, num contexto de guerra em que muitas atitudes similares agravaram o que já era complicado, e foi um acto que não se repetiu porque a razão estava do nosso lado.

Um grande abraço para todos vós.
Manuel Marinho

Foto 1 > Binta > Novembro de 1973 > Elementos do 1.º GCOMB a petiscarem no barracão que servia de caserna. Marinho é o 4.º a contar da esquerda.

Foto 2 > A mesma malta mas tirada do lado contrário.

Foto 3 > Nema > Março de 1973 > De cócoras, eu e o Chico Santos, jogador de futebol do Varzim, e de pé o Tavares, um herói de Guidaje.
Fotos: © Manuel Marinho (2010). Direitos reservados.

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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 14 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5644: Blogoterapia (138): Detecção de minas por picagem (Manuel Marinho)

Vd. último poste da série de 3 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5754: (Ex) citações (52): Falando de descolonização com Filomena Sampaio (José Brás)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5644: Blogoterapia (138): Detecção de minas por picagem (Manuel Marinho)

1. Mensagem de Manuel Marinho* (ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Nema/Farim e Binta, 1972/74), com data de 11 de Janeiro de 2010:

Caro Carlos Vinhal.
Envio-te este texto, como sempre deixo ao teu critério a sua validade.


DETECÇÃO DE MINAS / PICAGENS

O treino dado aos soldados, já numa fase adiantada quando era já um dado adquirido a ida para a Guerra Colonial, era uma ficção, estou convencido que se houvesse treino adequado, se possível dado por militares que já tivessem passado pela guerra, ter-se-iam minorado algumas situações desagradáveis.

Assim e nas condições em que a maioria foi preparada para a guerra, é caso para dizer que todos nós fomos HERÓIS.

Lembro-me de andar uma manhã para percorrer 1km na detecção de minas de fragmentação dissimuladas no terreno compostas de fumo e serrim(?) e quase nunca detectadas, que rebentavam quando o recruta passava, accionada por um cordel, nas mãos do instrutor que assustavam quando detonadas e eram levadas muito a sério.

Picagem em terreno firme. A viatura rebenta-minas vem atrás
Foto: © Jorge Teixeira (Portojo) (2009). Direitos reservados.



Nema- Farim

No caso concreto das minas, havia os Sapadores incorporados no Batalhão que as retiravam quando solicitados para o efeito, e que minavam os trilhos por onde passava o IN, mas quem fazia as picagens, na maioria das vezes, eram os atiradores, do 1.º e 2.º GComb/1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512 sediados em Nema até aos ataques a Guidaje, (quando saímos de Nema para Binta), pelo menos no nosso caso era assim, embora os Sapadores fizessem algumas acções de patrulhamento em conjunto com os nossos GComb.

As minas eram o terror que acompanhava o soldado operacional em toda a comissão, de tal modo que a tarefa de picador**, era sempre recebida com desagrado.
O factor psicológico de pisar uma mina era de tal ordem, que havia camaradas que pediam que se algo de mal acontecesse preferiam que acabassem com eles, a ter de voltar amputados.

Quando fomos (já a sério) em treino operacional de Nema até ao corredor de Lamel para as futuras protecções descontínuas às colunas vindas de Jumbembem, Cuntima e Canjambari, para irem a Farim fazer os abastecimentos, ficámos com a sensação de não termos feito bem os trabalhos de casa.

Seguíamos os elementos da 14.ª Companhia que seguiam na frente da coluna e o andamento foi tão normal que nos interrogamos como era feita a picagem.
Quando nos mandaram parar e ficar a emboscar até as colunas passarem, na ida para Farim e depois voltarem, perguntei a um elemento da 14.ª se tinha havido picagem, pois tinha sido rápida a marcha, ele sorriu e disse-me:

- As picagens são feitas mais com os olhos, se fosse como nos ensinaram nunca mais a coluna passava, vocês vão aprender isso rapidamente.

Depois nas repetidas idas ao mato para fazermos as protecções descontínuas às colunas, tínhamos de fazer a respectiva picagem até ao local onde ficávamos, até as mesmas regressarem de Farim.
Nessas picagens eram escolhidos um conjunto de cerca de 6 elementos para o trabalho de picagem do solo, 3 de cada lado na picada de modo a cobrir os espaços onde as viaturas passavam, e de facto com o hábito aprendemos a ler onde pôr os pés.
Devo dizer que era uma tarefa que nenhum de nós gostava, e das vezes em que era eu um dos eleitos, não deixava de resmungar e a minha má disposição era evidente, de nada valia andar com a HK-21 porque o alferes mandava trocar a arma com outro camarada.

Numa dessas vezes ia concentrado olhando e picando o solo, eis que ouço o toc da pica ao bater em algo, paro de imediato, e algo temeroso exclamo:

- Mina!

Com a nossa malta toda parada, avança o alferes mais um furriel, verificam a possibilidade de tirarem a mina, depois se a memória não me atraiçoa foi o furriel que com a faca de mato retirou cautelosamente a terra em volta de um pequeno objecto de forma circular enterrado no solo, não havia espoleta e depressa se deu conta que a mina era uma lata de ração de combate virada ao contrário.

Esta descoberta valeu-me, um elogio da parte do alferes que me disse em tom trocista:

- Estás a ver porque te coloco mais vezes na picagem, porque só os bons são capazes até de detectar latas!

Noutra altura um dos meus camaradas de GComb já farto de ser escolhido para a picagem, e como forma de mostrar o seu descontentamento pegou na vareta da picagem colocou-a ao ombro e avança em frente em passo acelerado perante os nossos apelos para que parasse. Lá o conseguimos acalmar, em abono da verdade devo dizer que foi um excelente operacional, mas estas atitudes eram um escape para a forte actividade operacional que havia, mas que foi compensada pela actividade pouco visível do IN devido a constante vigilância nossa no sector, com bastantes noites passadas no mato.

Depois com o aparecimento de minas anti-pica, (rebentavam ao contacto da pica) as Berliets com os sacos cheios de areia, colocados na dianteira das viaturas, sobre os seus rodados fizeram muitas as vezes de picadores, salvando muitos camaradas da morte e da mutilação.

Já agora uma palavra de apreço aos nossos camaradas condutores, que apenas com uma perna dentro da viatura para a condução da mesma, a outra ia da parte de fora, no sentido de minimizar os danos físicos se acontecia o rebentamento, quando eram projectados, havia-os na minha Companhia, mas sei que a partir de certa altura era uma prática bastante usual em toda a Guiné.
Uma palavra de sentida homenagem a todos os camaradas que voltaram para a sua Pátria destroçados por engenhos explosivos, e que me continuam a dar lições de vida, no seu dia a dia, esses são os meus Heróis.

Um grande abraço
Manuel Marinho

Mina AP (antipessoal) de petardo único e detonador, feita em madeira.
Foto: © Raul Albino (2009). Direitos reservados


Mina anticarro detectada por um pica da CART 2732 no Bironque, estrada Mansabá-Farim.

Efeitos de uma mina anticarro numa GMC ao serviço da CART 2732
Fotos: © Carlos Vinhal (2009). Direitos reservados

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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 19 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5501: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (12): Vamos ajudar camaradas em dificuldades (Manuel Marinho)

(**) 30 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4760: Pensamento do dia (17): Recordando as Picas (Jorge Teixeira/Portojo)

Vd. último poste da série de 16 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5477: Blogoterapia (137): Palavra de honra que não consigo entender (José Brás)

sábado, 19 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5501: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (12): Vamos ajudar camaradas em dificuldades (Manuel Marinho)

1. Mensagem de Manuel Marinho* (ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Nema/Farim e Binta, 1972/74), com data de 11 de dezembro de 2009:

Caro amigo Carlos Vinhal:
Envio-te este texto, como de costume faz o que melhor entenderes com ele, não precisas de justificar nada, nem o título tem.



Neste Natal, lembremo-nos dos camaradas que precisam de ajuda

Das coisas que tenho feito ultimamente, a par da visita assídua ao blogue, tem sido tentar encontrar os meus camaradas com quem partilhei o sangue, suor e as lágrimas, no solo da Guiné ao serviço da Pátria e a emoção tem sido uma constante, pois já são mais de uma dezena os que estão localizados e que por razões várias não comparecem aos almoços anuais, entre os quais eu me incluo, organizados por camaradas do meu Batalhão.

Os traços comuns a todos, é a profunda revolta por todos os que querem fazer esquecer o que foi a guerra colonial, começando sempre muito naturalmente pelos que estiveram à frente dos destinos do País, em todos estes anos de vivência democrática.

Sentimo-nos abandonados e traídos pelos que deveriam ter a obrigação de corrigir e cuidar de uma coisa tão simples que era honrar, os que um dia lutaram pela Bandeira, e não discuto aqui se foi por dever ou obrigação, isso são discussões que guardo para ocasião oportuna.

O sentir um homem chorar de emoção ao dar um forte abraço ao camarada que se meteu ao caminho para o encontrar ao fim de 35 longos anos é uma ocasião única de conforto e riqueza humana difícil de descrever e que nos fica até á morte.

Depois as mazelas que nunca mais saram, problemas graves de relacionamento humano porque que só entre camaradas que passaram pelo mesmo são atenuados e, pode haver algum entendimento e ajuda espiritual para os que estão menos bem.

Curioso, todos gostam da Guiné!
Isto vem a propósito das recentes polémicas que tenho seguido no blogue.

Guerra: Perdemos ou ganhamos?

Guileje: Abondono ou acto de coragem?

E já agora:

Os comandantes das nossas unidades militares, será que deram o exemplo, para o que nos treinaram, ou nem sequer saíam para as operações com os seus homens?

Estas discussões são benéficas (eu também tenho opinião formada), mas temo que estejam a passar ao lado da esmagadora maioria de quem lê diariamente o blogue, não esqueçamos, que temos de incentivar os que não podem ou não querem escrever, mas deixo já ficar claro que aprecio a inteligência dos camaradas que vão dirimindo os seus argumentos.

No entanto vou adiantando que penso que todos perdemos, e quem ganhou foram os que se baldaram, triste sina do meu País que tanto maltrata os que o servem!

Esta quadra é propícia ao entendimento humano, mas infelizmente na vertigem do dia a dia, e nas voragens comerciais, inadvertidamente fechamos os olhos ao que nos rodeia.

O meu desejo para este Natal é que todos nós aqui no blogue, comecemos desde já a procurar camaradas nossos que estejam em situações complicadas e que os ajudemos a integrar no nosso meio. Se cada um de nós encontrar um que seja, vamos em 2010 discutir a forma de restituir a dignidade perdida a esses nossos camaradas, que na minha modesta opinião, são bem mais importantes, que os muitos figurões com os quais perdem energias e talento os nossos camaradas mais activos nas tais quezílias.

Estou a lembrar-me dos sem-abrigo, ex-combatentes que estão ainda muito longe de serem convenientemente ajudados, e para eles o meu respeito e solidariedade.

A conversa vai longa e é altura de deixar de moer a vossa paciência.
Peço desculpa a toda a Tabanca, mas começo pelos comandantes.

Aos editores deste enorme e famoso blogue, os desejos de Bom Natal e grande Ano 2010 com muita saúde na companhia de todos os seus familiares.

Aos restantes Tertulianos e suas respectivas famílias, votos de Bom Natal e feliz Ano 2010, com muita saúde e muitas estórias, são os votos do.

Manuel Marinho
Sejam todos muito felizes
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 7 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5230: Guidaje, Maio de 1973 (2): O fim do pesadelo (Manuel Marinho)

Vd. último poste de 19 de Dezembro de 2009 > 19 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5500: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (11): Natal com calor (Paulo Salgado)

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5265: Controvérsias (52): Reflexões d’um ex-Combatente periquito (Manuel Marinho, 1ª CCAÇ / BCAÇ 4512)


1. Mensagem de Manuel Marinho*, ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Nema/Farim e Binta, 1972/74, com data de 13 de Novembro de 2009:

Reflexões d’um ex-Combatente periquito

A propósito de temas lidos ultimamente no meu bloguineu.

Camaradas, que com os seus escritos, me deixam emocionado, comovido, nostálgico, que me fazem sorrir, dar boas gargalhadas, mas também ficar revoltado.

Hoje estou estupefacto com a notícia - poste P5261 do Eduardo Magalhães - sobre as comemorações da Liga dos Combatentes, Armistício, e fim da Guerra Colonial, que irão decorrer dia 14, em Lisboa.

É uma VERGONHA o que se passa com as ossadas dos nossos camaradas que se pretendem homenagear, ficou um em Bissau pelo facto da família não ter posses financeiras para o trazer, então e o Estado não faz a sua obrigação???

A minha expectativa reside agora no decurso da cerimónia.

Apenas quero dizer que o camarada em questão, Manuel Maria Rodrigues Geraldes, fazia parte da 2ª Companhia do meu Batalhão 4512 e foi um dos que deu a vida para segurar Guidaje, fazendo parte da 2ª coluna.

Em minha homenagem à tua memória:

Camarada Geraldes, PRESENTE!!!!

Fico incrédulo com a notícia que, a concretizar-se, eleva para níveis de escândalo o tratamento dado aos ex-combatentes. Já sabia como este País trata os seus ex-combatentes mas isto raia o absurdo, porque, se a cerimónia tem grande significado, as ossadas deste camarada teriam que estar presentes, por obrigação dos organismos competentes.

Temos obrigação de denunciar, por todos os meios ao nosso alcance, estas situações. Não deixemos morrer novamente os nossos camaradas.

Já o disse mas vou repetir, quando fui mobilizado para a Guiné, era um jovem minimamente informado, não suficientemente politizado, mas acatei o desafio e lá fui, aceitando todas as consequências da minha decisão, pois já era refractário (um mês de atraso) e já na recruta tinha o destino traçado, ia para a guerra colonial, ou fugia (hoje seria considerado um desertor com ideais libertárias).
Hoje passados todos estes anos sinto orgulho em ter estado presente, compartilhando com todos vós as estórias que espero venham a contribuir para fazer a História.

Este orgulho deve-se, em primeiro lugar, aos combatentes que lutaram, sofreram, deram o s melhores anos das suas vidas, no cumprimento de um dever que lhes foi imposto, na defesa do que achavam que era o certo, e a isso eram obrigados, depois ao Povo da Guiné, sacrificado e sofrido que eu adoptei sem reservas, ao longo de todos estes anos.

Depois porque percebi o significado de conceitos como abnegação, heroísmo, sofrimento, dor, amizade, altruísmo, fraternidade, perda e covardia.

Não quero estar sempre a repisar o tema, já seguramente estafado, de sermos os eternos sacrificados, porque a guerra na Guiné era a mais difícil, etc. etc. … Todos o sabemos e não foi por acaso que foi lá que germinou a semente do 25 de Abril, mas nem por isso deixo de prestar aqui a minha solidariedade para com os camaradas que estiveram noutras frentes de combate.

Neste blogue costumo dizer que “estou com a minha gente”.

Já que nos derrotam sistematicamente, alguns pseudo-intelectuais afirmando de fonte segura que a Guiné era um caso perdido, sem reflectirem que viemos embora tranquilamente (mas também desejosos de acabar rapidamente a comissão), depois de um cessar-fogo onde não foram acautelados os legítimos interesses dos africanos que lutaram ao nosso lado sendo posteriormente muitos deles assassinados.

Esquecem que a esmagadora maioria dos nossos soldados chegavam às frentes onde eram colocados, e acreditavam sinceramente que lutavam por uma causa justa, e muitas das vezes não tinham comando à altura, e depois da sua missão cumprida nada pediram em troca, nem responsabilizaram ninguém.

Omitem que, na euforia (legítima) do 25 de Abril, desembarcavámos dos aviões no aeroporto da Portela, íamos pelas saídas de serviço, indo directamente fazer o espólio, o mais discretamente possível, e toca a andar para casa que se faz tarde. E estes eram os primeiros sinais do desprezo a que estaríamos sujeitos ao longo dos anos. Nessa altura falar dos combatentes era politicamente associável ao salazarismo, hoje esperam que morramos todos para encerrar esse capítulo da nossa história.

Ignoram o sentir dum combatente, as suas sequelas morais, e as mazelas físicas, a todos esses que opinam sobre os combatentes, sempre na sua forma mais destrutiva, o meu completo desprezo, assim como à classe política que, sem excepção, nos tem tratado tão mal, muitos deles ainda andavam de cueiros e já nós passávamos tormentos.

Isto a propósito da intensa e justa revolta sobre o SEP, a que muitos camaradas se têm referido, o que esperamos?

E já agora, e porque estou apenas a reflectir, porque não fazermos ”uma semana de campo” em Lisboa? Já imaginaram o impacto? Ainda somos muitos, e por muito que respeite algumas fórmulas já utilizadas, não acredito em peregrinações, e para alguns peditórios já dei.

São apenas reflexões.

Um forte abraço para todos os tertulianos,
Manuel Marinho
1º Cabo, 1ª CCAÇ/BCAÇ 4512

PS - Muito deste texto já se encontrava escrito, mas esta notícia das ossadas teve que apressar estas reflexões.
__________
Nota de MR:

Vd. poste anterior desta série, em:

sábado, 7 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5230: Guidaje, Maio de 1973 (2): O fim do pesadelo (Manuel Marinho)

1. Mensagem de Manuel Marinho*, ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Nema/Farim e Binta, 1972/74, com data de 19 de Outubro de 2009:

Caro camarada Carlos Vinhal:
Envio-te mais este texto sobre Guidaje.


O FIM DO PESADELO

No dia 29 de Maio chegámos a Guidaje ao anoitecer. Fomos de imediato para as valas, arranjando-nos o melhor possível para passarmos a noite, porque a aglomeração de tropa era muita, pois a juntar às unidades que esperavam o regresso, chegou a nossa coluna. Pouco tempo depois fomos brindados com umas morteiradas.

Dia 30 ao amanhecer, Páras e Fuzos enquadram as unidades da coluna do dia 15, retida ainda em Guidaje e juntos fazem o regresso a Binta, utilizando a picada aberta.

Depois com alguns camaradas procurei acomodar-me melhor, fomos parar a um pequeno edifício, com poucas camas, com colchões com grandes manchas de sangue, já muito seco e cheiro nauseabundo, (seria a enfermaria?), mas foi aí que fiquei no chão, porque me parecia que estava mais resguardado.
Depois voltei para as valas, porque noutro ataque caíram morteiradas perto do local. Sei que estava do lado contrário ao refeitório, porque nos dias seguintes para tentar comer qualquer coisa tinha de atravessar a parada, o que noutras situações seria normal, ali era demasiado perigoso, pensava duas vezes antes de ir, mas era a situação real do quartel que nos ditava essas regras, porque não havia local seguro em Guidaje, embora já se tivesse atenuado a pressão devido à operação “Ametista Real” levada a cabo pelo Batalhão de Comandos Africanos.

Perdi a noção do tempo, vivemos esse dias como ratos, a alimentação era escassa e a verdade é que o apetite era proporcional. Também não havia horas para comer e para não irmos todos, um camarada trazia comida para dividirmos, e no dia seguinte era outro, e assim evitávamos muito a circulação pelo aquartelamento. De forma alguma podia haver ajuntamento por isso esperávamos a vez para ir buscar um bocado de arroz.

Uma das vezes ia eu a meio da parada, ouvi a saída dum morteiro, corri e atirei-me pelos pequenos degraus dum abrigo que ficava já perto do refeitório, onde me resguardei de mais um ataque. Confesso que me é difícil localizar com alguma precisão, os edifícios do quartel, porque os dias que lá passei foram de loucos, se por alguma razão se fazia algum ruído por mais leve que fosse, sobressaltava-nos de imediato, e a tensão aumentava e o sistema nervoso abalava. No quartel, o forçado silêncio só era interrompido pelas morteiradas enviadas pelo IN.

Quando houve ordem de partida, dia 11 logo ao alvorecer, foi aberta nova picada com a máquina D-6 que tinha feito a abertura a 29 na ida da coluna para Guidaje, esta nova picada era de todo necessária, pois suspeitava-se que os caminhos existentes estariam de novo minados.

Enquadrados pelos Comandos, lá viemos a corta-mato em marcha lenta por causa do trabalho de derrube de árvores feita pela máquina, e a meio da tarde já ao chegarmos a Binta, cruzámo-nos com a coluna que seguia para Guidaje.
O nosso aspecto devia parecer o de autenticos bandoleiros, pois o olhar que nos lançavam era de espanto, lá os encorajámos dizendo-lhes que o pior já passara, e felizmente era verdade.

Deixámos Nema em 10 de Junho, juntando-nos ao resto da Companhia em Binta, onde permanecemos até Agosto de 1974, sempre a calcorrear aquela picada, (e trilhos que iamos fazendo), fomos o começo, o meio e o fim.

Durante a estação das chuvas (Junho-Outubro), fizemos a actividade operacional de forma mais intensa do que era habitual, com mais patrulhamentos e segurança a colunas, e acções de reconhecimento que iam até Guidaje, mesmo com as condições adversas do terreno.
Por essa altura havia problemas com a alimentação, que não chegava de Bissau, creio que por problemas logistícos, pois fomos abastecidos por barcaças pelo rio Cacheu, depois de arroz com atum, arroz com salsichas, e finalmente arroz com marmelada. O que nos valia era termos um camarada especialista na subtração de cabritos à população que nos permitia resistir e não ficarmos enjoados com tanto arroz.


2.ª fase- construção da estrada Binta-Guidaje:

Em princípios de Janeiro de 1974 com a chegada da Engenharia, iniciam-se os trabalhos de alargamento da picada a partir de Binta, e começámos nós na protecção e segurança à mesma, com o reforço da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4516.
Era um trabalho desgastante, a começar logo de manhã bem cedo com a respectiva picagem e o reconhecimento da zona, sempre mais à frente, onde as obras recomeçam. Depois era a paragem forçada nos lados da picada para a protecção aos trabalhos, numa imobilidade forçada durante as horas de trabalho da Engenharia, com o especial cuidado onde se ficava por causa de minas.

A estrada nova foi o mais possível em linha recta até Guidaje, e ficou feita até perto da bolanha do Cufeu, quando cessaram os trabalhos, já depois do 25 de Abril.

Todos os dias ficava um Grupo de noite no mato a guardar as máquinas, de modo que praticamente uma vez por semana tocava-nos a nós. Fazíamos 24 horas seguidas no mato, regressando ao quartel quando recomeçavam as obras no dia seguinte, sendo rendidos pelos que chegavam para esse dia. Nos primeiros quilómetros foi assim, mas quando a distância já era longa, tornava-se perigoso ficar apenas com um Grupo no mato. Assim ao entardecer, quando findavam os trabalhos, as máquinas retrocediam o mais possível para evitar riscos desnecessários, no dia seguinte voltava-se a fazer as picagens e o reconhecimento mais à frente.

Em meados de Março, já com a estrada em adiantado estado, sofremos a emboscada esperada há algum tempo. As condições eram outras, porque até a largura da estrada não permitia grande proximidade pelo IN que montou a emboscada do lado esquerdo. Precisamente do lado direito da picada seguiam os Grupos da CCAÇ 4516 à frente, e mais atrás o meu Grupo entrou a corta- mato pelo lado esquerdo, quando rebenta o tiroteio. De imediato avançámos com o objectivo de envolvermos o IN, pois estavam à nossa frente. Pedimos o cessar fogo à 4516 para intervirmos nós, senão corríamos o risco de sermos atingidos pelos nossos, assim foi feito fogo de morteiro e dilagramas, e em progressão rápida depressa atingimos o local onde o IN se emboscara, e donde retirara deixando no local um ferido.

No local procedemos ao reconhecimento e a indícios que o IN deixara e qual não é o meu espanto, atrás de mim um camarada aponta a G3 para uma cova camuflada por folhas de árvores e dispara um tiro ao mesmo tempo que exclama:

- Está aqui um!!

O ferido passou a morto. Era o comandante daquele Grupo IN, talvez o equivalente aos nossos Alferes, pois a divisa que ostentava era idêntica.
Um dos africanos que nos acompanhava, preparou-se para lhe cortar uma orelha, no que foi de imediato travado pelo nosso Alferes e pelos que estavam perto.
O meu camarada explicou-me depois que num último esforço o guerrilheiro, embora bastante ferido, tentou alvejar um de nós, pois estava já com a arma levantada nas nossas costas, porque tínhamos passado por ele sem o vermos.
Eu fui um deles. Como ele estava bem camuflado pelo seu esconderijo, um de nós teve sorte, pois houve alguém do meu Grupo que foi mais cuidadoso.


Binta > Alguns elementos do 2.º GCOMB/1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512/72

Elementos do 1.º GCOMB/1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512/72 na estrada Binta/Guidage, arranjada depois do 25 de Abril

Picada Bigene/Binta - Novembro de 1973 > Manuel Marinho ao lado do condutor

Um grande abraço
Porto-19 de outubro de 2009
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Nota de CV:

(*) Vd. poste com data de 7 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5067: Guidaje, Maio de 1973 (1): Momentos difíceis para as NT (Manuel Marinho)

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Guiné 63/74 - P5067: Guidaje, Maio de 1973 (1): Momentos difíceis para as NT (Manuel Marinho)

1. Mensagem de Manuel Marinho (*), ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Nema/Farim e Binta, 1972/74, com data de 3 de Outubro de 2009:

Caro Camarada Carlos Vinhal
Cá estou de novo (trata-me por Marinho) será mais fácilmente identificado por camaradas da minha Companhia se calharem de consultar o blogue como espero, pois ando à procura de alguns deles.

Agradeço as tuas palavras de cortesia, espero apenas contribuir modestamente em episódios vividos na Guerra da Guiné, para que o resultado final seja um esclarecedor relato de operações militares que se desenvolveram, na minha zona.
Grato igualmente pelos comentários recebidos, a todos eles sem excepção.

Este texto visa situar melhor os acontecimentos, até ao dia 29 Maio de 1973, dia da minha chegada a Guidaje, espero conseguir os meus intentos, e contribuir para um melhor entendimento do que se passou.


COLUNAS PARA GUIDAJE

2.ª Coluna de abastecimento a Guidaje, dia 10 de Maio

Composição das forças que a integraram:


2.º GCOMB/1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512 de Nema
1 GCOMB da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512 de Jumbémbem
2 GCOMB da CCAÇ 14 de Farim
1 GCOMB da CCAÇ Africana Eventual de Cuntima
2 GCOMB da 38.ª de Comandos
1 SEC/PEL MORT 4274

Esta coluna foi a primeira a chegar a Guidaje com os abastecimentos e armamento necessário para atenuar as muitas dificuldades existentes, servindo para dar ânimo aos militares do aquartelamento e à sua população.

O relato desta coluna já foi muito bem contado pelo camarada Amílcar Mendes nos postes 1201/1203/1205.

Neste dia estava eu na enfermaria de Farim, onde permaneci cerca de uma semana por causa dos estilhaços sofridos, ainda muito abalado psicologicamente pelo acontecido na véspera, por isso vou apenas falar por testemunho dum camarada do 2.º GCOMB da minha Companhia que fazia parte desta coluna e testemunhou a morte do camarada que ficou desfeito pela mina, que era da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512. Os seus restos mortais estão sepultados em Guidaje.

Seguíamos em fila indiana atentos a tudo o que nos rodeava, quando uma forte explosão nos obriga a mergulhar na picada. Ainda atordoado, dou conta de ter sido uma mina que destroçou um camarada que depois soube que era da 2.ª Companhia do Batalhão. Restou apenas o tronco que foi embrulhado num poncho e seguiu para Guidaje, onde ficou enterrado. Tive sorte pois verifiquei depois que ia em 4.º depois do morto e o segundo homem também foi projectado. O que me seguia foi ferido com estilhaços."

Quando da chegada da coluna vinda de Guidaje no dia 13 a Farim, fui saudar os meus camaradas e saber as últimas. Assisti entre outras coisas, ao evacuamento de heli do Comando que tinha pisado uma mina e o que me impressionou foi o grito que deu de Viva os Comandos, julgo eu, dado nas circunstâncias e no estado em que se encontrava.

Numa Berliet vinha um soldado morto nas valas em Guidaje, o ambiente era pesado e ninguém queria falar e voltar ao mesmo cenário. Do que tinham passado nas valas de Guidaje, auguravam-se tempos difíceis…

O nosso estado de espírito era lastimoso a todos os níveis, tínhamos mortos no mato sem sepultura, feridos que foram evacuados, e para eles, a guerra terminara de forma inglória. Nós tínhamos de lidar com os fantasmas do medo, que começavam a fazer os seus efeitos e ameaçavam paralisar-nos. Do meu grupo de 26 a 28 elementos, ficamos reduzidos a metade, em termos de operacionalidade, a solução temporária foi a junção dos 2 Grupos num só, para ficarmos de novo operacionais.

(Acho valer a pena referir, que o meu grupo teve um treino operacional muito exigente, por força de termos um Alferes que era Ranger, foi seguramente por isso que se evitou males maiores, noutros contactos com o IN anteriores e posteriores a Guidaje).

Em Abril houvera o reforço de mais um GCOMB da 3.ª CCAÇ do nosso Batalhão. Nós só em Junho deixamos Nema para nos juntarmos ao resto da Companhia em Binta.

A falta de Comando na Companhia, neste período, originou por sua vez alguma confusão pois faltavam ordens claras e a competente avaliação operacional. Em vez disso, voltava-se a improvisar e como havia muitas unidades militares a circular pelo destacamento, nunca se sabia quem mandava.

Foi com alguma estranheza que nos interrogamos sobre o não levantamento dos mortos que tinham ficado na picada. Se a coluna tinha chegado, aproveitando o facto de já haver muita tropa no sector (a 3.ª coluna já tinha entretanto chegado a Guidaje no dia 12 escoltada por Fuzileiros que sofreram um morto) e já com a presença dos Pára-quedistas da 121 na zona, porque não?

Mas a explicação mais simples que era veiculada, era a de o local estar todo minado e ser de elevado risco o levantamento dos corpos.
Também existia a hipótese de não haver nada a fazer depois das viaturas terem sido destruídas pela aviação.
Houve sempre interrogações, nunca respostas!
Cerca de 3 meses depois fomos nós lá com Sapadores de Minas fazer o reconhecimento e levantar as ossadas de 3 camaradas.

Nesta fase dos acontecimentos as coisas passavam-se vertiginosamente com um vaivém constante de colunas Farim-Binta-Guidaje e vice-versa.


Dia 15 nova coluna para Guidaje (a 4.ª por ordem de partida)

Integram a mesma:


2 GCOMB do Comando de Bissau
1 GCOMB/CCAÇ Especial Afriicana
1 Grupo de Milícias Especial de Jumbembém, onde estava sediada a nossa 2.ª Companhia

No regresso a Binta, dia 19, esta coluna sofre violenta emboscada e retrocede para Guidaje, mas os Grupos de Bissau chegam a corta-mato a Binta onde já nós os esperávamos, pois haviam-nos sido transmitidas ordens no sentido de os procurarmos nas imediações do aquartelamento pois alguns andavam perdidos.

A exaustão e o sofrimento que se notava nos semblantes desses camaradas era seguramente a nossa própria imagem reflectida uns dias antes.

Nota:
Das colunas que estou a tentar descrever, e foram 6, só faltam elementos relativos às 3.ª e 4.ª colunas, das quais sei apenas o que relato com a maior fidelidade possível. Se houver camaradas que nelas participaram e julguem oportuno rectificar, agradeço eu e todos os que passaram por aqueles tormentos, e ajudam a completarmos o puzzle.


A 23 segue a 5.ª coluna

Escoltada por Fuzileiros, com a CCP 121 na zona do Cufeu, para a protecção até Guidaje. Infelicidade para os Páras que sofreram 4 mortos. Mais tarde quando conheci bem a bolanha, percebi muito claramente a emboscada, porque só mesmo naquela bolanha era possível causar 4 mortos àquela tropa.
Esta coluna foi já narrada pelo camarada Victor Tavares da 121 no poste P1212 de 25 de Outubro de 2006.

Reforçados em Junho de 1973 pela 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4514 até Setembro, também a CCAÇ 4745 de Julho a Outubro e em Fevereiro de 1974 a 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4516 até Abril de 1974 estas são algumas Companhias que passaram por Binta mas era quase de passagem tal era o tempo que ficavam, mesmo assim, sempre que chegavam, haviam saídas conjuntas para o mato.
A CCAV 3420 depois do regresso de Guidaje, ficou até final do mês. Lamento se omiti alguma, ou se as datas não coincidirem, mas são estes os dados de que disponho, corrijam-me se estiver errado
É chegada a altura de dizer que todos nós sempre que passávamos, (e foram muitas vezes) perto do local da emboscada, evitávamos olhar, e nunca se aludia ao que se passara, o mutismo era absoluto, quisemos sepultar na nossa memória os dias 8 e 9.

A coluna de 29 de Maio integrou 2 GCOMB do BCAÇ 4512, 1 da 1.ª CCAÇ e outro da 2.ª CCAÇ. A 38.ª CCom, a CCAV 3420 e um Grupo Especial de Milícia.

A ida desta coluna, a 6.ª, também já foi narrada no blogue pelo José Afonso da 3420, e por Salgueiro Maia, Comandante da mesma, no seu livro “Capitão de Abril”, em Crónica dos Feitos por Guidaje.

Foi muito complicado na altura juntar efectivos para marcharem para Guidaje, falo naturalmente dos GCOMB do meu Batalhão e do que vivi e presenciei na altura. Parece-me ainda hoje que o medo se tinha colado aos nossos corpos e paralisava-nos os sentidos, estava tudo muito presente e era normal, porque éramos os únicos a bisar, voltando à picada em apenas três semanas. Sabendo tudo o que já tinha acontecido a todos os que nos precederam, junte-se a agora o vazio de comando e estamos entendidos.

Mas a ordem foi toca a andar que se faz tarde, com as forças disponíveis.
O que seria normal para as tropas especiais, Comandos, Pára-quedistas, e Fuzileiros, estava a tornar-se penoso para nós.
Do que me recordo, sei que fiz o trajecto quase sempre na retaguarda da coluna, depois, a certa altura, fomos mais para a frente e lembro-me de ter passado pelos Páras que montavam emboscada na bolanha do Cufeu. Houve muitas paragens causadas pelo IN, o que fez demorar a coluna a chegar.

Ainda hoje me interrogo sobre quem foi que retirou para Binta em 2 Unimogs, levando o morto por picagem de mina A/C e os feridos pertencentes à 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512 e não regressou à coluna. Pelo menos 1 GCOMB dessa Companhia fazia parte desta coluna, tenho as minhas opiniões sobre o assunto, mas não certezas, por isso não especulo.

Isto por uma razão simples, como já expliquei, nessa altura os GCOMB da minha Companhia estavam fragmentados, especialmente o 1.º e 2.º, por isso não posso dizer mais sobre o assunto, sob pena de falsear os factos, sei que eu e mais camaradas do meu Grupo chegamos a Guidaje ao anoitecer, integrados na coluna.

Na próxima falarei da permanência em Guidaje e do regresso.

Caros camaradas, um forte abraço.
Porto, 2009-10-02

OUT73 > Parte do 1.º GCOMB/1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512. O 1.º Cabo Marinho é o segundo, de pé, a contar da esquerda

OUT73 > Picada Guidaje/Binta
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de > 15 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4957: Tabanca Grande (173): Manuel Marinho, ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Farim e Binta (1972/74)

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P4957: Tabanca Grande (173): Manuel Marinho, ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Farim e Binta (1972/74)

1. Mensagem de Manuel Alberto Costa Marinho, ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Nema/Farim e Binta, 1972/74, com data de 1 de Setembro de 2009: 

 Caros Camaradas, Luís Graça, Virgílio Briote, Carlos Vinhal, Eduardo Magalhães: 

 Apresenta-se o ex-1.º Cabo Manuel Alberto Costa Marinho, do 1.º GComb/1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, comissão em Nema/Farim, Binta, em 1972/74. 

 É com enorme sentido de gratidão, extensível aos restantes colaboradores do blogue e a todos os tertulianos da Tabanca Grande, que me dirijo, pela primeira vez. Mais vale tarde que nunca. 

 Como ex-combatente da Guiné, não posso ficar indiferente ao que de melhor temos neste País para testemunhar o que foi a Guerra Colonial, mais concretamente a da Guiné, vivida e contada pelos seus protagonistas, por isso mais uma vez, um muito obrigado pelo excelente trabalho que podemos testemunhar. E antes de mais peço a admissão na “Tabanca”, certo que já o poderia ter feito, mas só agora julgo oportuno, pelo facto (se calhar egoísta) de estar a ajudar uma sobrinha a fazer um trabalho sobre a Guerra Colonial, foi a miúda, que me incentivou a contar as minhas vivências na Guiné, depois de consultar muitas vezes o blogue, e sabendo que estive no inferno de Guidaje, praticamente em todas as suas incidências. 

 Como muitos de nós já o disseram, é penoso lembrar o que já estava na penumbra da memória, mas acho valer a pena este esforço, porque entendo que uma parte muito importante das nossas vidas ficou para sempre na Guiné, numa Guerra da qual eu não me envergonho de ter participado, e sou dos que sabiam minimamente para o que iam. Depois porque ao longo destes anos (e já são 35), somos vergonhosamente ostracizados por todos os poderes instituídos neste País, que foram coniventes com o apagar da memória colectiva, de tudo o que diga respeito à Guerra Colonial, e mais grave do que isso, transformando os que por razões várias desertaram, em heróis, e nós que combatemos, só nos falta pedir desculpas por ainda estarmos vivos a contar (dissecar) esta guerra. 

Pessoalmente, sinto-me ofendido com a imagem redutora que tem sido dada às gerações que se seguiram, não quero louvores, mas exijo respeito pelos que morreram, e por todos os que ficaram marcados por ela para sempre. 

Desculpa, camarada Luís, este desabafo, corta tudo o que achares necessário, porque sinto esta revolta surda sempre que abordo esta questão. Quero saudar muito especialmente os camaradas Amílcar Mendes (*) da 38.ª de Comandos, Victor Tavares da 121 dos “Páras” e o Albano M. Costa da CCAÇ 4150, os dois primeiros que descrevem operações de combate e o Albano que me fez rever Binta, peço desculpas ao omitir mais camaradas, sei que os há que viveram Guidaje e escreveram sobre esse fatídico mês, os Fuzileiros por exemplo. Como também não desejo que outros contem a Guerra por mim, vou descrever o ataque à primeira coluna para Guidaje, que como é sabido não chegou ao destino.

  GUIDAJE - A PRIMEIRA GRANDE EMBOSCADA

A nossa Companhia estava sediada desde meados de Janeiro em Nema, aquartelamento avançado de Farim, com dois GComb, o 1.º e o 2.º os outros dois, 3.º e 4.º em Binta. No dia 8 de Maio, o 1.º GComb recebe ordens para juntamente com um Grupo da Companhia 14.ª de Farim, escoltar uma coluna de abastecimento, 2 Berliet mais 2 Unimogs com armamento e mantimentos para socorrer um aquartelamento que era Guidaje, e do qual apenas sabíamos que era flagelada com bastantes ataques de morteiros. 

De noite, em Nema avistavam-se os clarões dos rebentamentos e ouviam-se, ainda que remotamente, os estrondos das explosões. Deslocámo-nos de tarde para Binta, fortemente armados, escoltando as viaturas carregadas. O trajecto foi feito sem problemas e quando começava a findar o dia, a ordem de avançar para Guidaje foi dada já começava a anoitecer, quando esperávamos seguir apenas ao raiar o dia seguinte. Havia apreensão, porque escoltar viaturas de noite era complicado já que nos retirava a mobilidade necessária em caso de ataque. 

 Avançamos com os picadores na frente da coluna para a detecção de minas enquanto foi possível, depois foi dada ordem para a subida para as viaturas, porque já não se via para fazer a picagem, e foi a primeira viatura, a fazer de rebenta-minas. O roncar dos motores das viaturas, com as luzes acesas, fazia-nos temer o pior, até que aconteceu o rebentamento da mina na primeira Berliet, cerca das 19 horas e não às 15 como publicação recente editou, causando desde logo dois feridos, entre os quais o nosso Alferes que comandava a coluna. 

 Depois dos saltos para o chão dos que seguiam nos Unimogs após o rebentamento da mina, ficamos emboscados, e apenas víamos o camarada à nossa esquerda e o outro à direita. Cerca de 10 a 15 minutos depois, o restolhar de passos no mato, vindo do nosso lado esquerdo obrigou muitos de nós a fazer a respectiva rotação, porque de imediato começou o primeiro ataque, e único desse dia. O IN avançou até à picada, disparando rajadas curtas e, dada a proximidade, chegando eu a divisar na noite a silhueta dum IN de tão próximo eles se aproximaram, provávelmente esperando o efeito de desorientação da nossa parte, (posteriormente soubemos que estavam emboscados mais à frente com a picada cortada por abatises), o rebentamento da mina A/C, apenas precipitou os acontecimentos, a julgar pelo que aconteceu depois, ainda podia ser pior. Também RPGs LGFOGs e MORTs foram utilizados no ataque. 

 Depois de intenso fogo de resposta da nossa parte, houve a retirada estratégica do IN para logo de seguida lançarem very-lights e granadas que iluminaram a picada, no sentido de medirem a extensão da nossa coluna. Este primeiro contacto foi de 15 a 20 minutos. Tivemos de pernoitar no local sem possibilidades de retirada, pois não era possível retirar as viaturas, ficando com a desvantagem de o IN ter tempo de montar a sua estratégia de ataque durante a noite para nos emboscarem, com mais precisão. 

 Ao raiar o dia 9 de Maio somos novamente atacados, sofremos logo o primeiro morto, e durante cerca de 4 a 5 horas os ataques foram ininterruptos, atacavam-nos revezando-se, ora do lado direito, ora do esquerdo da picada, causando-nos mais 3 mortos e bastantes feridos e, como no local o mato era denso, os estilhaços dos RPGs e LGFs fizeram-nos muitos estragos. 

 Era um cenário desolador e trágico o que nos rodeava, até pelo facto de estarmos rodeados de camaradas feridos, alguns com gravidade, eu apenas fui carimbado com pequenos estilhaços sem gravidade, mesmo perante esta situação limite, resistíamos, já tínhamos experiência de combate, mas isto era inimaginável. Nem o apoio de fogo aéreo conseguiu aliviar a pressão. Sem munições e muito desgastados física e psicológica, e já no limite, fomos socorridos por forças de Binta que nos ajudaram a retirar e resgatar os feridos, aguentamos até onde foi humanamente possível, e é com mágoa que relembro a impossibilidade da retirada dos nossos mortos, 1 do meu Grupo, 1 da 3.ª do meu Batalhão, e 2 da 14.ª. 

 Hoje tenho a impressão que o IN, já nesta fase, esperava a nossa retirada para o saque das viaturas. A demora na chegada de reforços contribuiu, na minha opinião, para que tal acontecesse, e a prioridade eram os feridos, a ordem de destruir as viaturas, de imediato (?)... é ainda hoje um mistério para mim, porque havia feridos junto às viaturas. Mas é a agonia e o sofrimento atroz do meu camarada, que atingido gravemente, por duas vezes, acabou por morrer, mau grado todos os esforços, feitos debaixo de fogo do IN pelo nosso enfermeiro para atenuar o seu sofrimento, e perante a nossa impotência para o retirar. É o meu maior pesadelo de guerra até morrer, honra à sua memória. Infelizmente fomos nós a sofrer esta emboscada, que se não foi a maior, seguramente foi das piores que aconteceram na Guiné, e deu início ao fatídico mês de Maio de Guidaje. 

 Mais tarde se o entenderem, direi o que penso sobre o resgate dos corpos. Omito os nomes dos meus camaradas mortos por razões de respeito. Algumas clarificações que valem o que valem a esta distância quando a memória começa a falhar, mas este testemunho é o de quem viveu praticamente todas as incidências de e em Guidaje, que apenas e só, pretende dar mais um passo na reconstituição dos factos. 

 Depois falarei sobre a minha chegada a Guidaje integrado na última coluna, do dia 29, e de alguns episódios que ocorreram nesse mês. 

  Nota pessoal 

Todos nós sabemos a importância das forças especiais de combate na resolução do conflito Guidaje, concretamente dos Comandos, dos Páras e Fuzileiros (acompanhamos todos eles durante esse mês), mas foi a 38.ª de Comandos, com 2 GComb que na coluna seguinte, dia 10, também com a presença do nosso 2.º Grupo, foi a primeira força de tropa especial a chegar a Guidaje e a tomar contacto com o que se tinha passado connosco. O camarada Amílcar Mendes tem razão, aproveito para o felicitar pela coragem (não fosse ele comando), e pela forte carga emocional ao descrever o que viu no dia 10, e pelas suas crónicas de guerra, na minha modesta opinião, são de consulta obrigatória para quem viveu Guidaje, ou para estudar esse período. Mais tarde, se assim o entenderem, darei o testemunho do que vi quando voltaram, dia 13. 

 Um forte abraço para todos vós. 

Porto, Setembro de 2009-09-01

  2. Comentário de CV: 

 Caro camarada Manuel Marinho, sê bem-vindo à nossa Caserna Virtual e aceita as minhas desculpas por demorar tanto tempo a franquear-te esta porta que afinal nem existe. A descrição que fazes dos acontecimentos em Guidaje, vividos pessoalmente por ti, fazem arrepiar, tal é a imagem que consegues passar. Muitos de nós vivemos situações mais ou menos parecidas, mas como essa emboscada do dia 9 de Maio de 1973, penso que não. Foram uns dias terríveis para as NT, pois o IN quis fazer ronco nos três Gs, Guidage, Guileje e Gadamael. Acabei a minha comissão no primeiro trimestre de 1972, e vim convencido que me estava a livrar de uma guerra que caminhava no pior sentido, na hora certa. 

Que me desculpem aqueles que me precederam, mas foi com alívio que vi o avião que me (nos) trouxe de volta à Metrópole, a levantar o trem do chão da Guiné. É minha convicção que não havia desfecho possível para aquela guerra, a não ser uma saída política, como aliás veio a acontecer. 

 Caro Manuel, tudo o que possas contar desse tempo e da tua vivência em Guidaje, será bem-vindo, porque, como quem vai à guerra dá e leva, também tivemos os nossos maus bocados, e esses devem ser do conhecimento daqueles que por algum motivo não viveram o mesmo que nós, naquele território tão pequeno, mas de guerra tão intensa. 

 Com o meu renovado pedido de desculpas pela demora, que não denota falta de consideração da minha parte, mas impedimento por afazeres caseiros (manutenção do Blogue), recebe um abraço em nome da tertúlia.
 CV 
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 Notas de CV: (*) Vd. postes de Amílcar Mendes de: