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segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13638: Selfies / autorretratos (2): filho único, com pai emigrado no Canadá, podia também ter saído do país, aos 17 anos... Passei pela universidade de Coimbra e lutas académicas, tendo decidido participar na guerra colonial, contrariado e sabendo ao que ia (Manuel Reis, ex-alf mil cav, CCAV 8350, Guileje, 1972/74)

1. Comentário de Manuel Reis ao poste P13623


[, Foto á esquerda: Manuel Augusto Reis, em Guileje, 1973:  foi alf mil cav, CCAV 8350, Guileje, Gadamael, Cumeré, Quinhamel, Cumbijã, Colibuia, 25/10/72 - 27/8/1974]

Amigo e ex-camarada Vasco:

Abriste uma frente de diálogo bastante interessante e que o Luís com o seu saber deu uma ajuda suplementar.

Conheço o Vasco desde os tempos de escola, com um percurso um pouco idêntico, mas trilhando o mesmo caminho: colégio de Anadia e Universidade de Coimbra e,  imagine-se, ....Gadamael. 

Aproveito para lembrar o percurso dos meus familiares no que à guerra diz respeito. Meu avó (materno) foi mobilizado para a 1ª guerra mundial e participou na batalha de La LYs. Consegui ouvir algumas peripécias, dispersas, dos momentos difíceis, que teve de suportar, na sua qualidade de granadeiro. 

No seu regresso era um homem destroçado anímicamente. A minha presença na sala tornava-se incómoda, pelo que me era dada ordem de retirada.

Na casa dos meus avós vivia-se um ambiente republicano, sendo o meu bisavô, Pedro, meu grande amigo, constantemente perseguido. A maior parte das noites eram dormidas em palheiros, afastados da sua residência. Lamento que o diário do meu avó se tenha extraviado, a sua importância, para mim, era bastante significativa.

Seguiu-se o meu pai, que é mobilizado para alinhar na 2º guerra mundial, sendo enviado para Moçambique, durante 3 anos, onde supostamente se previa um desembarque de tropas japoneses. Nada faria supor esta mobilização do meu pai, recém- casado. Não sofreu os traumas da guerra, mas a ausência da família foi dura.

Poucos anos passados, face ás dificuldades económicas, o meu pai emigra para o Canadá onde permanece durante mais de 20 anos. No ano em que eu completava 17 anos e perante o espectro da guerra que pairava sobre a minha cabeça, desloca-se a Portugal e coloca-me a possibilidade de emigrar também. 

O meu pai, homem simples do campo, tem a noção e a preocupação de que a guerra me espera.Possibilita-me que decida .Estar-lhe-ei  eternamente grato. Acabei por recusar, via a guerra ainda muito longe, e com um percurso académico satisfatório, nada o aconselhava. 

A minha entrada na academia, e o meu envolvimento nas lutas académicas, rasgaram-me outros horizontes e quando decidi, contrariado, participar na guerra que já se vivia nas ex-colónias, sabia para o que ia. A decisão era sustentada no plano familiar, pois na qualidade de filho único, não imaginava um afastamento prolongado dos meus pais.

Um grande abraço.

Vasco,  as caçoilas estão prontas!

Manuel Reis

__________________

Nota do editor;

Último poste da série > 22 e setembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13634: Selfies / autorretratos (1): por que é que fomos à guerra... (Vasco Pires / Luís Graça / Francisco Baptista / José Manuel Matos Dinis)

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13604: Tabanca Grande (445): Welcome aboard, captain!... Rui Pedro Silva, grã-tabanqueiro nº 666 (que grande capicua!): do Lobito aos Dembos (Angola), de Mafra a Caboxanque (Região de Tombali, Guiné): ex-cap mil, CCAV 8352 (1972/74)




Guiné > Região de Tombali > Caboxanque > CCAV 8352 (1972/74) > Guia da companhia e comandante da companhia, o cap mil Rui Pedro Silva.


Fotos. © Rui Pedro Silva (2014). Todos so direitos reservados


I.  Mensagem do nosso  Rui Pedro Silva, que passa a ser, desde hoje, membro de pleno direito da Tabanca Grande, depois de cumpridas as formalidades previstas...


Data: 6 de Setembro de 2014 às 01:08

Meus caros editores:


Junto envio em Word 2 fotografias – uma minha em Caboxanque e outra do estandarte da companhia – assim com uma breve cronologia da minha companhia e simultaneamente da minha de vida de militar miliciano. Em separado envio uma fotografia actual que pedi 'emprestada' a um post do Magalhães Ribeiro. Espero que a resolução das fotografias estejam publicáveis.

Quanto ao número de entrada no blog – 666 -, que por brincadeira referi ao Luís em Monte Real, quando nos conhecemos, não tem nada de Kabbalah. Nada de esoterismos portanto. Num próximo encontro perceberás do que se trata. Assim atribuam o número que me calhar na sequência de adesões.

Um abraço aos três e por vosso intermédio aos camaradas da Tabanca Grande.

Rui Pedro Silva



II Autoapresentação de Rui Pedro Silva, grã-tabanqueiro nº 666, ex-alf mil, CCAÇ 3347 (Angola, 1971), ex-ten mil, BCAÇ 384'0 (Angola, 1971/72), e ex- cap mil, CCAV 8352 (Guiné, Caboxanque, 1972/74)

Caros Camaradas

Em primeiro lugar quero felicitar o Luís Graça, fundador da Tabanca Grande, pela criação do blog e, também, todos quantos ao longo dos anos nele têm partilhado as suas experiencias e opiniões.

A minha apresentação aos “Homens Grandes” desta Tabanca foi uma decisão que ponderei durante anos, tantos quantos aqueles que levo acompanhando o blog e os seus escritos. O impulso inicial de partilhar a experiencia que vivi na Guiné foi sendo contrariado por 4 ordens de razões:

(i) Pela “metralha” que por vezes cruzava os céus da “Tabanca Grande”. Nalguns assuntos houve intervenções, observações e comentários feitos de forma muito pouco fraternal e até, se os editores me permitem, para além dos limites definidos na linha editorial. E tanto anos passados não me apetecia apanhar com fogo cruzado, ainda que fogo ‘amigo’. 

(ii) No blog sugere-se: ‘Ajuda os teus ex-camaradas a reconstituir o puzzle da memória da Guiné (1963/74) …’ Mas a memória é tão traiçoeira, mesmo quando auxiliada por diários, cartas, relatórios e outros suportes semelhantes, que por vezes desajuda e muito. ‘Não somos historiadores’ e é talvez esta a preocupação que terei que ter sempre presente para relativizar os desajustes de memória que inevitavelmente ocorrerão. 

(iii) Depois temos o problema dos ‘ses’. Se se fizesse isto, então resultaria aquilo, como se na vida, e na guerra, pudesse haver contraprova. Por vezes a especulação é apresentada como uma alternativa infalível. Se tivessem feito isto não aconteceria aquilo. Se a especulação é uma boa ferramenta num debate de ideias é um mau caminho se pretende substituir a realidade. 

(iv) Por fim discordo das generalizações e da frequente confusão entre a visão da árvore e da floresta. Uma dada situação vivida num determinado tempo e espaço não pode ser generalizada a todo o teatro de guerra, e as variáveis em jogo são tantas que dificilmente se pode avaliar o todo pela parte.

Mas esta é apenas e tão só a minha opinião e a razão das dúvidas que fui tendo sobre a adesão à “Tabanca Grande”. Tudo ponderado decidi que valia a pena correr estes riscos e avançar com este pedido de adesão à Tabanca Grande. Sou adepto de uma boa querela mas sempre respeitando a dignidade de cada interveniente. 

Desde há dois anos que tenho frequentado o convívio mensal da “Tabanca do Centro”, em Monte Real, por convite do Manuel Reis (CCav 8350- Guileje, 1972/74), e este ano, pela primeira vez, participei no almoço da Tabanca Grande onde conheci o Luís Graça e a quem manifestei a vontade de aderir ao blog. Assim aqui estou a apresentar-me, com vontade de me sentar à sombra deste Grande Poilão. E se houver alguma ‘fogachada’ que seja por boas razões.

A cronologia que vos apresento agora conta, por si mesma, uma história onde se entrelaça a minha vida como militar e a da companhia que tive a honra de comandar. Mas esta cronologia será também um roteiro daquilo que quero partilhar convosco, mas não necessariamente pela ordem apresentada.

O tempo da comissão correu vertiginosamente umas vezes e demasiado lento noutras, tão lento que julgávamos nunca mais chegar ao fim. Para mim foram uns redondos 1234 dias, alguns valendo séculos, outros esgotando-se em segundos. Pelo meio vivi as “ 7 guerras de um capitão miliciano” a que prometo voltar

  • Incorporação em Mafra a 15-04-1971 – COM;
  • Mobilização para Angola a 6-10-1971 – alferes; 
  • Integração na CCaç 3347 no Mucondo, Dembos;
  • Transferência para BCaç  3840 em Dezembro de 1971 – Zemba, Dembos;
  • Retorno a Mafra 03-02-1972 – Tenente – início do CCC;
  • Fim do CCC em Junho/Julho de 1972;
  • Transferência para o RC3,   Julho 1973 – Estremoz;
  • Atribuição do comando da CCav 8352;
  • Constituição da CCav  8352 até Outubro de 1972;
  • Mobilização da CCav 8352 para a Guiné:
  • Deslocação para a Guiné a 4-11-1972 – Capitão;
  • IAO. no Cumere até 18-11-1972;
  • Deslocação da Companhia para Cufar a 19-11-1971 via aérea e LDG;
  • Integração na actividade operacional da Zona de Cufar: estrada para Catió, segurança da pista e do porto, patrulhamento da zona;
  • Criação do COP 4 com sede em Cufar, sob comando do Sr. Tenente-Coronel Araújo e Sá, comandante do BCP 12;
  • Inicio da Operação “Grande Empresa”, ocupação do Cantanhez a 12-12-1972;
  • Ocupação de Caboxanque pela CCaç 4541 e um bi-grupo pára-quedista e de Cadique pela CCaç. 4540 e um bi-grupo pára-quedista;
  • Transferência da CCav 8352 de Cufar para Caboxanque – Cantanhez a 21-12-1972 onde ficam sediadas a CCaç 4541, a CCav 8352 e a CCP 122;
  • Em Cadique ficam sediadas a CCaç.4540 e a CCP 121;
  • As três CCP do BCP 12 rodavam periodicamente entre Bissau, Cadique e Caboxanque;
  • Ocupação de Cafal pela CCaç. 3565 e o DFE 1 em Cafine;
  • Primeira flagelação do PAIGC sobre Caboxanque com feridos entre os pára-quedistas na primeira semana de Janeiro de 1973;
  • Início da actividade operacional em Caboxanque;
  • Inicio da construção da estrada Cadique – Jemberem; 
  • Ocupação de Jemberem;
  • Ocupação de Chugué e Cobumba em princípios de Abril de 1973;
  • Mortos e feridos entre a população de Caboxanque com fogo amigo (Obus) em meados de Maio de 1973;
  • Final da Operação “Grande Empresa” no final de Maio de 1973, extinto o COP4 e transferência do CAOP 1 de Mansoa para Cufar com a responsabilidade operacional da zona sul da Guiné;
  • As companhias pára-quedistas sediadas no Cantanhez são deslocadas para Gadamael;
  • Em Caboxanque a CCaç 4541 é rendida;
  • Em Cadique a CCaç. 4540 é rendida;
  • Intervenção da CCav 8352 em Cadique no âmbito da operação Estrela Telúrica,  Dezembro de 1973 a Janeiro de 1974;
  • Mais uma flagelação a Caboxanque, a 8 de Março de 1974, de que resultou a morte de dois soldados da CCav 8352,  o António Correia e o João Branco;
  • Intervenção da CCav.8352 em Bedanda em finais de Março de 1974, numa operação conjunta com os fuzileiros estacionados no Cumbijã;
  • 25 de Abril de 1974;
  • A CCav8352 é rendida pela CArt. 6520;
  • A CCav 8352 é transferida para Bissau – Combis;
  • A 28 de Agosto de 1974 regresso a Lisboa e comigo a CCav 8352.

Beirão pelos avós maternos e paternos, angolano de nascimento e filho de angolana, foi em África que vivi os meus primeiros 14 anos de vida. Como africano pisei pela primeira vez a Guiné com os sentimentos repartidos entre o regresso a África e a participação numa guerra da qual discordava.

A apresentação já vai longa mas conto com a vossa compreensão para esta piriquitice.


Um abraço

Pui Pedro Silva

III. Comentário de LG:

Meu caro capitão, e camarada: Ontem, como hoje, é preciso coragem e lucidez para tomar decisões, comandar, liderar... Decidir é escolher entre duas ou mais alternativas. Somos duma geração que tinha um leque reduzido de alternativas para escolher. Foi a nossa historicidade... E mesmo hoje não é fácil, a um comandante operacional, miliciano ou do quadro, que tenha feito a guerra colonial, decidir juntar-se a um blogue de antigos combatentes como este que cultiva o pluralismo, a frontalidade, a exigência de verdade e a cumplicidade da partilha de memórias e de afetos...  O nosso blogue é também uma montra, com vidros transparentes.. e quebradiços.

Dito isto, eu (e os demais editores e colaboradores permanentes do blogue) só podemos estar felizes por,  ao fim destes anos que nos acompanhas, "do lado de fora",  teres tomado a decisão (ponderada) de te juntar à malta nesta caserna virtual,  seguramente a maior, de  ex-combatentes do TO da Guiné... Por isso, também escolhemos a designação de Tabanca Grande, ou mãe de todas as tabancas, onde cabemos todos com tudo o que nos une e até com aquilo que nos separa (e nos enriquece).

Como todos os partos, o nosso blogue tem teve dor e até violência, ou não fosse obra de gente de carne e osso.  Mas o mais importante é a honra (e o prazer) que nos dás de te sentares no lugar nº 666 (uma feliz capicua), à sombra do nosso mágico e fraterno poilão. 

Welcome aboard, captain!

Umn abraço também ao teu "padrinho" Manuel Augusto Reis, discretíssimo mas sempre valioso grã-tabanqueiro,  de longa data.

Luís Graça

________________

sábado, 21 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13315: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (39): Heróis da batalha de Gadamael encontraram-se em Monte Real, no dia 14 de junho... O que veio de mais longe, dos EUA, é o lourinhanense Mateus Oliveira, da CCP 122 / BCP 12 (Bissalanca, BA 12, 1972/74)... Mais uma prova de que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca...é Grande!








IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 >  Uma beleíssima sequência documental de um inesperado encontro de dois homens que há 41 anos atrás estavam em Gadamael, em 2 de junho de 1973, tentando rechaçar o prolongado ataque ao aquartelamento, naquela que poderá ter ficado para a história como "a batalha de Gadamael"....O J. Casimiro Carvalho (,à esquerda) veio da Maia, onde mora. Foi fur mil op esp da CCAÇ 8530 (1972/74), a companhia que esteve em Guileje até 22/5/1973 e que, por ordem do então comandante  do COP 5, o major art  Coutinho e Lima (, também presente do nosso encontro), foi mandanda retirar para Gadamael, juntamente com a restante guarnição militar. À direita, o Mateus Oliveira, a viver nos EUA  desde 1977, se não erro. É meu conterrãneo, da Lourinhã, e fui eu  que o apresentei ao J. Casimiro Carvalho bem como ao António Martins de Matos.



 IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Mais dois bravos de Gadamael: à diereita , o ex-ten pil António Martins Matos (hoje ten gen ref) e o ex-paraquedista Mateus Oliveira (CCP 122/BCP 12, Bissalanca, BA 12, 1972/74).


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 >  Pedaço da camisola do António Martins de Matos  onde está estampada uma imagem de um FIAT G-91/ R 1, com os seguintes dizeres adciionaiis  "FAP 1973O- BA 12 Esq 121 Tigers Bissalanca"...


 IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Ao centro, o António Martins de Matos, ladeado à sua esquerda pela nossa única camarada presente neste convívio, a Giselda Pessoa (srgt enf paraquedista, Bissalanca, BA 12, 1972/74) e, à direita, pelo  António José Brito da Silva (Madalena / Vila Nova de Gaia), que foi fur mil da CCAÇ 3414 (Bafatá e  Sare Bacar, 1971/73).


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 >  Outro herói da natalha de Gadamael, aqui à esquerda, o Manuel Reis, ex-mil da CCAV 8530 (1972/74). Foi lapso meu, não o apresentei pessoalmente ao Miguel Oliveira. Restantes camaradas: sentados, Rogé Guierreiro (Cascais) e Xico Allen(V. N. Gaia)... De pé, à esquerda,o Zé Manel Matos Dinis (Cascais).

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.



 IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 >  Da esquerda para a direita, Júlio da Costa Abreu (Holanda), seguido do seu cunhado Mateus Oliveira (EUA) e da Giselda Pessoa (Lisboa)... Falaram, por certo de Gadamael, que os três conheceram, o Júlio em 1965/66, quando 1º cabo comando do Gr Cmnds Centuriões, mais o Mateus  e a Giselda em 1973...  

Foto: © Miguel Pessoa (2014). Todos os direitos reservados. [Legenda de L.G.]


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > Dois heróis de 1973, batendo a pala um ao outro: o antigo ten pilav António Martins Matos (hoje ten gen pilav ref; era o asa do Miguel Pessoa, quando este foi abatido por um Strela sob os céus de Guileje, em 25/3/1973) e o ex-fur mil op esp J. Casimiro Carvalho, o "grande pirata de Guileje" que merecia uma cruz de guerra em Gadamael (dois meses a seguir)...

Foto: © Miguel Pessoa (2013). Todos os direitos reservados. [Legendas: LG]


Nota do editor:

Sobre a "batalha de Gadamael" há inúmeros postes no nosso blogue... Seria impossível citá-los todos... Ficam aqui algumas referências,  a talhe de foice (**)... Recorde-se que neste lugar, na região de Tombali, junto à frinteira com a Guiné Conacri, travou-se uma das batalhas mais encarniçadas e sangrentas da guerra da Guiné (1963/74), a seguir à retirada de Guileje (em 22 de Maio de 1973), entre 31 de Maio e as duas primeiras semanas de Junho de 1973.  O papel da FAP e do BCP 12 na vitória sobre o PAIGC, em Gadamael, foi decisivo e é hoje unanimemente reconhecido.

Sobre o topónimo Gadamael temos mais de 260 referências, no nosso blogue (II Série)... Mas não nos é possível, de momento, destrinçar o que relativo aos acontecimentos de maio/junho de 1973. Além disso, temos um marcador  "dossiê Guileje/Gadamael", com 17 referências (***)...

 ____________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 19 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13305: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (38): "Caras novas" em Monte Real... E algumas de camaradas que ainda não se sentam à sombra do nosso poilão

(**)   Vd. postes da série Dossiê Guieje / Gadamael 1973:

24 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3788: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (1): Depoimento de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)

24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3789: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (2): Esclarecimento adicional de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)

25 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3790: Dossiê Guileje / Gadamael (3): "Um precedente grave" (Diário, Mansoa, 28 de Maio de 1973) ... (António Graça de Abreu)

27 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3801: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (4): Cobarde num dia, herói no outro (João Seabra, ex-Alf Mil, CCav 8350)

29 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3816: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (5): Strellado nos céus de Guileje, em 25 de Março de 1973 (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav)

1 de Março de 2009 >Guiné 63/74 - P3954: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (6): A posição, mais difícil do que a minha, do Cap Cmd Ferreira da Silva (João Seabra)

4 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3982: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (7): Ferreira da Silva, ex-Capitão Comando, novo comandante do COP 5 a partir de 31/5/1973

15 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4035: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (8): Amigo Paiva, confirmas que fomos vítimas de ameaças e pressões (Manuel Reis) 

23 de abril de 2009 >  Guiné 63/74 - P4239: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (9): Eu, a FAP, o BCP 12 e a emboscada de 18 de Maio (João Seabra)


11 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3872: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (21): Resposta de António Martins de Matos a Nuno Rubim

12 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3881: Considerações sobre o P3853: Apontamentos sobre Guileje e Gadamael (Vasco da Gama)

23 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3783: FAP (1): A diferença entre o desastre e a segurança das tropas terrestres (António Martins de Matos, Ten Gen Pilav Res)

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13076: 10º aniversário do nosso blogue (23): Mensagens de parabéns (Parte II): Manuel Reis, João Silva, Mário Vasconcelos

Mais mensagens e comentários, a propósito do 10º aniversário do nosso blogue (*):


(i) Manuel Reis 


[, ex-Alf Mil Cav, CCAV 8350, Guileje, Gadamael, Cumeré, Quinhamel, Cumbijã, Colibuia, 25/10/72 - 27/8/1974]


Caros amigos e camaradas:

Em primeiro lugar os meus parabéns para o grande obreiro deste blogue, o nosso amigo e camarada Luís Graça, não esquecendo os que, ao longo dos 10 anos, o foram acompanhando numa caminhada, lado a lado, por vezes complicada e difícil.

Foram 10 anos de muito trabalho, esforço e dedicação a uma causa, a que os ex-combatentes da Guiné não podem deixar de estar gratos. Muitos foram os caminhantes, ex-combatentes, que fizeram o mesmo percurso, escrevendo, intervindo e fazendo deste blogue, um escape para os problemas que arrastavam consigo da Guiné.

Era justo e merecido para todos a recordação da efeméride, com um almoço-convívio. Sentimos essa necessidade.

O meu Bem Haja ao Luís e a todos os ex-combatentes envolvidos neste projecto.

Um abraço solidário e amigo a todos os ex-combatentes.

Manuel Reis.

(ii) João Silva

[ex-furriel mil at inf CCaç 12, 1973]

Luís Graça.

Vou dispensar adjectivos sobre a qualidade do blogue mas sim centrar-me no que evidencia o seu papel social e aglutinador que reflete nos seus 650 tanbanqueiros e mais de 5 milhões de visitantes, níumero no qual me incluo.

Cheguei aqui, ao blogue, através de uma busca que teve como tópico a Companhia Caçadores 12. Companhia de que fiz parte em simultâneo com o António Duarte,  grã-tanbanqueiro. A leitura que faço deste espaço é que é um ponto de encontro e também um espelho do que fomos pela nossa passagem pela Guiné-Bissau. 

Pela minha parte continuarei a divulgá-lo especialmente a ex-combatentes e a frequentá-lo com alguma regularidade. Ao Luís e restante equipa o meu obrigado pelo vosso trabalho.

João Silva

(iii) Mário Vasconcelos

[ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72, Mansoa, e Cumeré, 1973/74].

Tabancas grandes, pequenas,
Em dez anos se criaram
Florindo em fotos e textos
Como nunca se esperaram.

Foram dias, foram anos,
Com recolhas de memórias,
Guardem-se pois nossos dias
Como folhas de nossa história.

E num abraço colectivo
À sombra do nosso poilão,
Brindemos à alegria,
Transformando a solidão.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13061: In Memoriam (188): João Henrique Pinho dos Santos (1941-2014), ex-alf mil, CCAÇ 618 / BCAÇ 619 (Susana e Binar, 1964/66)... As cerimónias fúnebres realizam-se amanhã, 3ª feira, dia 29, às 9.30h, na capela de Santo António, em Aveiro, seguindo o corpo para a Figueira da Foz para ser cremado, às 13h (Manuel Reis)


João Henrique Pinho dos Santos (1941-2014): 
era bancário  refrormado, morreu hoje aos 73 anos, em Aveiro

João Henrique Pinho dos Santos, ex-alf mil, CCAÇ 618 / BCAÇ 619
 (Susana e Binar, 1964/66), membro da nossa Tabanca Grande,
desde 5/2/2011.


1. Mensagem do nosso querido amigo e camarada Manuel Reis, que nos acaba de chegar à caixa de correio

 Assunto: Falecimento de um camarada

Caros amigos e camaradas:

É com muita tristeza que comunico o falecimento no nosso amigo e camarada. João Henrique Pinho dos Santos. Foi mais um que partiu, deixando connosco o sua boa disposição, a sua alegria e o seu sorriso. Amigo sempre presente nos almoços convívios da Tabanca do Centro, enquanto a saúde lhe permitiu, deixou para todos a nós a herança de não o esquecermos nos nossos convívios quer da Tabanca do Centro, quer da Tabanca Grande.

Foi dos primeiros camaradas a partir para a Guiné, em 1963. Tinha a idade de 73 anos e vivia em Aveiro.

As cerimónias religiosas realizam-se amanhã, 3ª feira, dia 29,  às 9.30 h na capela de Santo António, junto ao Parque da Cidade, seguindo o corpo para a Figueira da Foz para ser cremado às 13 horas.

Sentido pêsames a toda a família enlutada. O amigo de sempre.

Manuel Reis


2. Comentário de L.G.:

Manuel: Obrigado pelo alerta. É uma triste notícia. A Tabanca Grande, a grande família dos camaradas da Guiné, fica mais pobre. Vamos fazer um In Memoriam (**). O nosso malogrado camarada entrou para o nosso blogue pela tua mão (*), em 5/2/2011. Ele era o único, salvo erro, da CCAÇ 618.

Se puderes, transmite á família bem como aos seus amigos camaradas mais próximos, os votos de pesar da Tabanca Granca. Por certo, que vamos lembrar a sua memória no nosso próximo encontro, o IX Encontro Nacional da Tabanca Grande, marcado para Monte Real, no dia 14 de junho próximo. Um abraço fraterno e solidário. Luis

_______________

Notas do editor:

(...) Mensagem do Manuel Reis:

Caro Luís: Tenho aqui um amigo, de longa data, que ao saber da nossa Tertúlia mostrou desejo de a ela se associar. Como sentia algumas dificuldades em tratar da parte inerente à sua inscrição, tomei a iniciativa de o apresentar e solicitar a sua inscrição.

Participou em dois convívios da Tabanca Pequena, portanto não se pode dizer que desconhece totalmente o ambiente de camaradagem e amizade que se vive nesses encontros.

Vive em Aveiro onde, em tempos idos, foi gerente da Delegação do Banco de Portugal em Aveiro, estando actualmente reformado. (...) 

domingo, 20 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13010: 10º aniversário do nosso blogue (13): falar ou não falar, da guerra, aos nossos filhos... A alguns de nós foi o blogue que nos tirou a "rolha" (Luís Graça / Jorge Cabral / Vasco Pires / Antº Rosinha / António J. Pereira da Costa / Henrique Cerqueira / Manuel Reis)

1. Comentários diversos ao postes P12966 e P13000 sobre o tema da última sondagem "Camarada, com que regularidade falas, da guerra, aos teus filhos" (*) (**):

(i) Luís Graça:

O meu pai, Luís Henriques (1920-2012), também andou "lá fora", a defender o Império, a Pátria, durante a II Guerra Mundial: Cabo Verde, São Vicente, Mindelo, 1941/43...

Cresci, fascinado, a folhear o seu álbum de fotografias, que andava por lá escondido numa gaveta, entre papéis velhos... Mas ele nunca me sentou ao colo e me explicou, tim por tim, por que terras e mares tinha passado,  por que é que andou a "engolir pó" durante 26 meses, lá nessa terra distante, enfim, não me contou histórias desse tempo, ainda eu não era nascido...

Mas era eu que as tinha que adivinhar, criar histórias, mesmo se muitas das fotos tinham legendas, lacónicas no verso... Mas, como era puto, e mal sabia ler, não entendia nada...

Um dia tocou-me a vez de ir para a tropa e também de ir "defender a Pátria", neste caso, ainda mais longe, lá na verde e rubra Guiné, em 1969/71... Nunca falámos, nem ele me deu conselhos: olha isto, olha aquilo... Por pudor ? Sim, por pudor...

Luís Henriques (c. 1941)
Voltei, "são e salvo" (?), e continuámos sem falar, da tropa, da guerra, das áfricas... Veio o 25 de abril, esqueci (?) a guerra, por um estranho sentimento de culpa, por pudor, por estúpido preconceito talvez... Era politicamente incorreto, nesse tempo,  falar-se da (ou até pensar-se na) maldita guerra colonial, ou do ultramar, ou de África...

Passaram-se os anos até que, em 1980, comecei a interessar-me pelas minhas vivências da Guiné, publiquei uma série de escritos no semanário "O Jornal"... e por tabela fui "redescobrir" o velho álbum do meu pai, já desconjuntado. amarelecido, comido pela humidade...

Com o blogue, há 10 ano atrás, começámos a ter conversas de grande "cumplicidade",  eu e o meu pai, como dois bons e velhos camaradas... Publiquei com ternura as fotos dele, em São Vicente, Cabo Verde,  (as que restaram, ao fim de tantos anos...) e fiz diversos vídeos com entrevistas com ele, sobre esses tempos de "expedicionário"...

Criei, no nosso blogue, uma série "Meu pai, meu velho, meu camarada"... Tenho pena de, por razões de saúde, nunca ter podido levá-lo em viagem de saudade, de regresso, a São Vicente... Teimoso, ele nunca quis fazer uma artroplastia das ancas... A velhice (e o blogue) aproximou-nos... Tarde, mas valeu a pena...

Provavelmente, sem o blogue, ele teria morrido, como morreu, há dois anos atrás, sem eu ter sabido mais nada sobre os três anos e tal de vida que ele passou na tropa e na guerra, os seus medos, temores, amores, desamores. problemas de saúde, amizades, histórias de vida dos seus camaradas, etc.

Jorge Cabral, c. 1970
Com os meus filhos passou-se o mesmo, foi o blogue que nos aproximou...  Só posso, por isso, estar grato a todos os camaradas que me ajudaram a construir o blogue e que me honram hoje com a sua presença (ou a sua memória) à sombra do mágico e fraterno poilão da Tabanca Grande... Nunca o teria feito sozinho, nunca o teria conseguido fazer sozinho...

  (ii) Jorge Cabral:

Um milhão de homens foram para África. Mais de 1 milhão de filhos. Talvez 2 milhões de netos...Que  os jornalistas peguem no tema, acho bem. Só que, para o fazerem, devem estudar o Portugal dos anos 60 e perceber que guerra existiu e como eram os rapazes que a fizeram. 

Luís Graça, Contuboel. junho de 1969
com Renato Monteiro, no Rio Geba
Há quem não tenha nada para contar...e quanto ao medo, só os que viveram situações de perigo podem falar...Entre ser contabilista em Lourenço Marques e operacional no Guiledje, as diferenças são óbvias...

(iii) Luís Graça

Além disso, Jorge, "um homem não chora"... Não se queixa, não grita, não tem dores, não tem medo, não tem angústias, não sente, não pensa, não faz perguntas... E, "se tem medo, compra um cão"!

Não era assim, no nosso tempo ? Nas nossas casas, nas nossas igrejas, nas nossas escolas, nos nossos quartéis, nas nossas empresas ?

Concordo contigo, o Portugal salazarento dos anos 60 não tem nada a ver com o Portugal de hoje... Quem tratava o pai por tu ? Além disso, para muitos dos nossos camaradas, sobretudo do meio rural, pai era pai-e-patrão... Para fugires à sua autoridade, ou emigravas ou te casavas, às vezes "à força" (, por exemplo, "raptando a noiva", no Alentejo)...

(iv) Vasco Pires [, foto à esquerda, Ingoré, c. 1972]

Mas como vejo aconteceu com muitos, a "rolha" só saiu há pouco.

Não só deixei de falar da guerra com meus filhos, mas também com outras pessoas, durante mais de quarenta anos; o Blog que tirou a "rolha".

Quantos aos nossos escritos, acredito que poucos além de nós os leem, contudo, certamente, mais na frente, algum antropólogo vai dar vida aos nossos relatos.História dos "vencidos", já que os que não seguiram o nosso caminho em Portugal, assumiram o controle, me parece que até hoje; e as verdades e as mentiras quando repetidas, e ampliadas pelos mídia, tornam-se verdades(quase)absolutas.

(v) Antº Rosinha [, foto a seguir, à direita, Angola, 1961]

O J. Cabral diz que os jornalistas "devem estudar o Portugal dos anos 60 e perceber que guerra existiu e como eram os rapazes que a fizeram. Há quem não tenha nada para contar..."

E digo eu que os jornalistas devem também estudar os rapazes que se furtaram à guerra, tanto os que tiveram a coragem de ir para o bidonville de Paris, como certa burguesia, tanto dos meios citadinos como provincianos, e até de certos filhos cujos pais lhe mandavam a mesada a partir das próprias colónias em guerra.

Estas burguesias tinham em geral uma motivação muito semelhante à esperteza nacional e cultural que é a eterna fuga aos impostos e contribuições... para os malandros do Estado!

Mas claro, essa fuga à guerra era pela precocidade política do jovem de 19/20 anos, não era por uma mesquinha "esperteza" à maneira nacional.  Esses jovens tremendamente precoces é que precisam de ser bem estudados, porque gritaram tanto todos estes anos, que não tem dado espaço para se lhes fazer perguntas. E muitos têm andado de partido em partido, de governo em governo, de administração em administração de Empresas Públicas.

Essa precocidade também tem que ser bem compreendida, para não se perder a tradição.

J. Cabral, de facto há mais gente sem nada para contar, como tu dizes, por isso poucos aparecem a falar, era interessante um dia alguém tentar encontrar uma percentagem dos que não ouviram qualquer tiro...como eu, em 13 anos de guerra (,no mato e nos muceques de Angola e nas praias de Luanda).

(vi) António J. Pereira da Costa [,. foto a seguir em Cacine, c. 1968, com a enf pára Maria Ivone Reis]



Parece-me que esta questão, por si própria, levanta uma ainda mais importante: como é que, no fundo, lidamos com a guerra?

Parece-me que cerca de 50% de nós não temos a nossa relação com a "guerra" devidamente arrumada. De outro modo teríamos falado dela com desassombro com os nossos filhos e teríamos conseguido sensibilizá-los para o que ela foi e o que passámos/fizemos.
Não me parece que tivéssemos tido grande êxito nesta matéria. Ou estou enganado?


(vii) Henrique Cerqueira

Eu já votei... No entanto,  e a verdade seja dita,  eu tive alguma dificuldade para votar numa das opções.É que actualmente estou mesmo quase a fazer 65 anos e já não dá para falar assim tanto com os filhos, pois que eles andam tão ocupados a não perder os empregos que nem tempo têm para grandes conversas e muito menos para conversas com o pai sobre o ex-Ultramar.

Eu até entendo. Quando eu estava no Ultramar, só queria que o tempo passasse para poder regressar ao trabalho activo e ao melhoramento da minha vidinha tanto em formação como em apostar numa carreira de trabalho.

A NI e o puto do Henrique Cerqueira, Nuno Miguel, na estrada de
Biambe-Bissorã, c. 1973
Os meus filhos já pensam o contrário.Ou seja: já só pensam se no final do mês o patrão abre ou não a fábrica e pensam ainda se não será melhor fazer o percurso inverso do pai, que é ir para África, ex-ultramar...(Isto é uma porra, meus camaradas!)

Bom,  pelo menos e para já,  vou falando ao neto sobre a guerra do ultramar e mais especificamente sobre a Guiné. Pois que por acaso o pai dele (meu filho), até esteve na Guiné em criança. Mas quando me alongo de mais e me perco em "devaneios" sobre a Guiné,  o "puto" começa logo a bocejar e desvia a conversa para os interesses dele. É que os programas escolares sobre a história ultramarina e em especial as guerras coloniais não se alongam muito e quanto a mim dando a entender existir alguma "vergonha" em aprofundar mais os conhecimentos da nossa participação na Guerra Colonial.

Foi a minha opinião.

(viii) Manuel Reis [, foto a seguir,. Guileje, c. 1972]


Amigo Luís, é um facto que " o baú está um pouco mais rapado" mas longe de estar esgotado. Continua a ser útil para todos os camaradas e ex-combatentes, de modo especial, aqueles que tardiamente se aperceberam desta ferramenta, que os pode aliviar das tormentas da guerra.

Falo na guerra aos meus filhos nos momentos em que os vejo interessados e receptivos a ouvir as estórias em que, na Guiné, muitos ex-combatentes foram protagonistas. 

O convívio é indispensável, é o agrupar das tropas e já sentimos a sua falta. Vamos a isso Luís.
____________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

17 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13000: 10º aniversário do nosso blogue (9): Sondagem: resultados finais (n=129): mais de um terço dos respondentes nunca falou da guerra, ou só muito raramente, aos seus filhos... Comentário da jornalista e escritora Catarina Gomes: "não esperem por perguntas, digam filho, anda cá que eu quero contar-te uma coisa"

11 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12966: 10º aniversário do nosso blogue (3): Resultados preliminares (n=67) da nossa sondagem ("Camarada, com que regularidade falas da guerra, aos teus filhos?")... Mais de um terço admite que nunca falou ou raramemte fala, da guerra, aos seus filhos...

(**)  Último poste da série > 18 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13006: 10º aniversário do nosso blogue (12): Faz hoje 2 meses que o Pepito nos deixou... Em sua memória reproduzimos aqui um vídeo de 2012, em que ele relata, com humor e boa disposição, uma das cenas de violência de que foi vítima, na sua casa do Quelelé, ao tempo de Kumba Ialá (c. 2000)...

domingo, 12 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12576: Os nossos camaradas guineenses (36): Abdulai, meu irmão!... Recordando quatro valorosos milícias de Guileje: Sátala Colubali, Camisa Conté, Abdulai Silá e Sargento Samba Coiaté (Manuel Reis, ex-Alf Mil Cav, CCAV 8350, Guileje, Gadamael, Cumeré, Quinhamel, Cumbijã, Colibuia, 25/10/72 - 27/8/1974]


1. Mensagem de Manuel Reis [, ex-Alf Mil Cav, CCAV 8350, Guileje, Gadamael, Cumeré, Quinhamel, Cumbijã, Colibuia, 25/10/72 - 27/8/1974], com data de 13 de dezembro último:


Caros amigos Carlos e Luís:

Trata-se de um pequeno texto de agradecimento a todos os africanos que, na guerra da Guiné, muitas vezes nos serviram de escudo protector. Fica ao vosso critério a publicação, ou não, deste texto.


2. Abdulai, meu irmão

por Manuel Reis


Por vezes, dou comigo a pensar no destino triste e por vezes dramático dos nossos amigos guinéus, os que partilharam connosco a tortura da guerra e a população anónima, que se acolhia sob a nossa protecção. Muitos já não estão no reino dos vivos, ou porque foram mortos após a nossa retirada, como represália, ou porque a erosão provocada pela guerra insensata causou danos irreversíveis, ou porque as deficientes condições de saúde e/ou alimentação apressaram a sua partida.

Quase todos os ex-combatentes sentem uma dívida de gratidão, por todos os que, estando do nosso lado, se expuseram de modo a salvaguardar a nossa integridade física.

Recordo aqui alguns nomes, desta gente anónima, com quem partilhei alguns momentos e que a memória se recusou a enviar para o caixote do lixo. Não passa de um gesto simbólico de agradecimento a camaradas e amigos que já partiram.

Sátala Colubali, Camisa Conté, Abdulai Silá e Sargento Samba Coiaté eram milícias em Guileje, tendo cada um destes ex-combatentes uma missão diferente a desempenhar dentro do grupo.




Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CCAÇ 3518 (1972/74), "Os Marados de Gadamael" >  "Dois dos melhores soldados milícias que nos acompanharam em Gadamael. O da direita, Camisa Conté, viria a falecer em 1973 quando das batralhas de Guileje e Gadamael". Foto do nosso saudoso  camarada  Daniel Matos [1950-2011, ex-Fur Mil da CCaç 3518, Gadamael, 1972/74].


Comentário (postetior de Manuel Reis: "É feliz a foto do camarada Daniel Matos. Do lado esquerdo está Camisa Conté e do lado direito o Sátala Colubali, duas referências do meu texto."... E eu (LG) acrescento: "São tão raras as fotos dos nossos camaradas guineenses!"... 

Foto (e legenda): © Daniel Matos (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


Sátala Colubali assumia o Comando de Grupo, na ausência de Samba, e distinguia-se pelo empenho e cuidado que colocava em cada missão, que lhe era destinada. A presença dele, em qualquer missão, era sinónimo de segurança e tranquilidade para todos os combatentes. Sabia o terreno que pisava, fruto da experiência dos muitos anos de guerrilha.

Camisa Conté actuava clandestinamente, entre o cair da tarde e o amanhecer do dia seguinte. A sua actuação residia na colocação de minas e armadilhas junto da fronteira ou dentro do próprio território da Guiné-Conacky. Saía só, pelo cair da tarde, com uma sacola aos ombros e a G3 a tiracolo. Estas surtidas obrigavam a um certo cuidado na desactivação das armadilhas do trilho, que ele utilizava e aos responsáveis pela vigilância do aquartelamento, quando do seu regresso ao romper do dia. Esta tarefa tinha, por vezes, algum êxito, a dar crédito nas informações que nos chegavam. Não era do meu gosto este tipo de actuação, mas o reconhecimento por todo este trabalho está fora de causa.

Estes dois amigos e camaradas vieram a falecer no mesmo dia, finais de Abril de 73, nas imediações do aquartelamento, quando Camisa Conté procedia ao levantamento de um engenho anti-carro, colocado no troço de estrada que ligava ao Mejo, recém-aberto. O Sátala que sempre se recusara a trabalhar com tal material, nesse dia fatídico, resolveu acompanhá-lo. Eram homens estimados e admirados por todos, combatentes e população. Um grito de dor, em uníssono, ecoou pela mata cálida de Abril, quando os restos mortais dos dois nos aparecem embrulhados numa camisa de um dos milícias. Permanecem na memória de todos como símbolos vivos de uma amizade, feita de convívio, luta e sofrimento .

Abdulai Silá, era um dos Homens-Grandes, tinha atravessado todo o período da guerra. Já com idade avançada, acima dos 40 anos, era o nosso guia. Detectava a presença do IN a uma distância considerável, pelo seu olfacto apurado e pela sua experiência de 10 anos de guerrilha. Muitos episódios partilhei com ele, em missões de maior risco, pois só nessas participava, dada a sua idade não se coadunar com um grande desgaste físico.

Vou citar apenas duas dessas acções:

Um dia foi-me atribuído um patrulhamento nas imediações da fronteira, onde o contacto com o PAIGC tinha um grau de probabilidade elevado, por ser um trilho de reabastecimento do PAIGC, que se dirigia a Gandembel e aí inflectia para dentro da Guiné, seguindo o mítico corredor de Guileje. A 100 metros do trilho Abdulai chama-me e comunica-me a presença de grupos de combate do PAIGC. Alerta-me para as possíveis consequências negativas de um confronto, pelo facto de as nossas tropas se mostrarem um pouco inquietas. Conjuntamente com ele e com o comandante do outro grupo de combate decidimos não arriscar. Nunca esqueci as palavras amigas e sábias de Abdulai, nesse momento: “Nós, se morremos, morremos na nossa terra, junto da nossa família, enquanto vós estais longe da família”.

Uma das missões mais complicadas que me foi atribuída, foi a montagem de uma emboscada no Corredor de Guileje. Exigia-se a presença do Abdulai para com ele e com o Alferes Lourenço, o melhor amigo [, de seu nome completo, Vitor Paulo Vasconcelos Lourenço, e  que viria a morrer, por acidente em 5/3/73],  delinearmos o trajecto, dada a densidade da mata e a dificuldade de progressão. O trajecto foi dividido em duas partes, pelo facto de ser necessário abrir um novo trilho, por questões de segurança.

No 1º dia fizemos metade do percurso e no final armadilhámo-lo com uma granada defensiva, o que desagradou a um chimpanzé que resolveu accioná-la. A conclusão do percurso fez-se passados três dias. Chegados ao local, previamente determinado, a detecção da nossa presença foi de imediato assinalada por um tiro de kalachnikov. A situação era delicada, o local era muito bem controlado pelo PAIGC. Abdulai aconselhou-me a retirar do local, dada a previsível violência do embate, fazendo fé nos embates anteriores com as nossas forças especiais, noutros momentos, e sempre ao nível de Companhia ou Batalhão. Era urgente abandonar o local. A emboscada abortou, após prévio reconhecimento do local e uma breve conferência com o Abdulai e o Lourenço. O conhecimento da actuação do inimigo, nesta zona, foi valioso para uma tomada de decisão.

De quando em vez Abdulai vinha a Bissau gozar uns dias férias e, sempre que o fazia, solicitava ao Comandante de Companhia a não atribuição de missões muito arriscadas na sua ausência.

Abdulai morreu em Gadamael, atingido por um estilhaço, no final do dia, com perfuração pulmonar. Foram imensos os apelos para que o helicóptero, que ainda se encontrava em Cacine, o transportasse para Bissau, mas tornou-se impossível, dada a proximidade da noite e o risco do voo.

Do Sargento Samba [Coiaté], lembro o seu espírito de sacrifício, quando no ar já se sentia o cheiro da guerra, que se aproximava com toda a violência. Comandava o seu grupo, já muito reduzido, no dia 18 de Maio de 1973, com a missão de detectar a existência de minas na picada, que ligava Guileje a Gadamael. De repente gerou-se entre eles uma enorme discussão, cuja razão de ser não consegui entender. Falavam em crioulo e a sua conversa até chegou a ser escutada pelo grupo do PAIGC que se encontrava emboscado a 30/40 metros.

Alertei-os para a gravidade de tal atitude e Samba, num gesto repentino de revolta, assume a dianteira dos seus homens e 30/40 metros à frente detecta um fio eléctrico, que as gotas de água, caídas durante a noite, puseram a descoberto. Atingido, com um tiro no pescoço, teve morte imediata. Este sacrifício impediu que os restantes combatentes caíssem na zona de morte, que se estendia ao longo de 100 metros, com os guerrilheiros do PAIGC bem protegidos em valas construídas para o efeito e com a picada bem armadilhada com 20 minas, electricamente comandadas.

A todos o meu Bem-haja. Aos que partiram o meus desejo que Repousem em Paz.

Com as cordiais saudações natalícias.

Um abraço. Manuel Reis

P.S. Segue uma foto mais actualizada.      

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Nota do editor:

Úlotimo poste da série > 8 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10501: Os nossos camaradas guineenses (35): O Dandi, manjaco, natural de Jol, que eu conheci... (Manuel Resende / Augusto Silva Santos)

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11374: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (2): Respostas de José Ferraz (EUA), Tony Borié (EUA), Eduardo Estrela e Manuel Reis

1. Continuação da publicação das respostas ao "questionário aos leitores" do blogue (*),l no âmbito das comemorações do nosso 9º aniversário. Aqui fica, a seguir,  o guião com as "15 perguntinhas ao leitor" que foram enviadas a todo o pessoal que se senta debaixo do poilão da Tabanca Grande.  A mensagem, por nós enviada, sempre em BCC (como manda as boas regras de segurança na Net), foi devolvida nos seguintes (por desatualização do endereço de email): Henrique Castro, Joaquim Fernandes, José Belo, Nuno Rubim, Ricardo Figueiredo, Rogério Ferreira e Sérgio Pereira.


(1) Quando é que descobriste o blogue ?

(2) Como e através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) desde quando ?

(4) Com que regularidade vês/lês o blogue ? (diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)

(6) Conheces também a nossa página no Facebook ? (Tabanca Grande Luís Graça)

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?

(10) Tens dificuldade, ultimamente, de aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos sete anteriores encontros nacionais ?

(13) Estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer

Obrigado pela tua resposta, que será publicada, com direito a foto. O editor, Luís Graça.






Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Meninos no banho... Foto do álbum do Arlindo T. Roda ex-fur mil at inf, 3º Gr Comb da CCAÇ 12.

Foto: © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados.



2.4. José Ferraz  [de Carvalho]ex-Fur Mil Op Esp, CART 1746 (Xime, 1969; CCS/QG, Bissau, 1969/70)]

(1/2) Se bem me lembro descobri o "nosso" blogue por acidente quando, navegando a Internet sobre assuntos relacionados com a guerra colonial, acabei convosco, desde ai visito-o diariamente porque me ajuda a desenferrujar as armadilhas da minha mente.

(3) Sou a membro 527 (salvo erro), tendo "assentado praça" na Tabanca Grande em Novembro de 2011.
(4) Visito o blogue diariamente.

(5) Infelizmente através de todos estes anos, nas minhas andanças pelos "States",  perdi todas as recordações que tinha do meu tempo na Guiné.

(6) Conheço a página no Facebook mas não a utilizo.

(7) Blogue,  maiormente.

(8/9) Nã posso responder por falta de opinião sobre a página no Facebook. No blogue o que gosto mais e ler as impressõees dos demais camaradas quer concorde ou discorde delas, porque como me dizia um professor de filosofia: "A troca de impressões entre pessoas de diversas idades e diversos pontos de vista eé intelectualmente um estimulante". O que lamento no blogue é a pontificação de alguns dos autores nos seus postes que o utilizam para dissertar em assuntos que não têm nada que ver com o espírito e palavra do blogue. Por vezes não posso evitar pensar que alguns participantes aparentemente esgotaram as suas memórias sobre o que é pertinente para o espirito deste e escrevem postes que a meu ver são supérfulos e como tal perdem valor nesta tribuna.

(10) Até hoje nunca tive dificuldade em entrar no blogue.

(11) O blogue representa para mim essencialmente uma viagem espiritual através da minha vida e como certos efeitos impactarão o que me considero ser hoje, bem ou mal e uma conclusão muito pessoal.

(12/13) Infelizmente com com muita pena pessoal nunca tive a oportunidade de assistir a nenhum dos encontros da Tabanca.

(14) Como tudo na vida eventualmente o blogue perderá a sua, por mil e uma justificações, mas até lá, força e para a frente. Com certa audácia,  se me é permitido comentar nesta pergunta o mero facto que é proposta,  poderá ser um sinal do inevitável princípio do fim. O que me dará muitíssima pena.

(15) Sugestões serão como fazer ver a audiência do blogue a importância de relacionarem os seus postes com o tema da nossa presença na Guiné e não em outros temas, de modo a que as novas geraçõees deixem de cometer os mesmos erros da nossa. Como diz George Santyanna, " aqueles que se esquecem dos erros cometidas no passado serão obrigados a repeti-los no futuro"

2.5. Tony Borié [ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agrup 16, Mansoa, 1964/66),

(1) Quando é que descobri o blogue ? Talvez há ano e meio.

(2) Como e através de quem ?  Pesquisando no Google sobre coisas da Guiné.

(3) Sou membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) há talvez um ano.

(4)  Visito o blogue  diriamente, mesmo em viagem.

(5)  Tenho mandado material para o blogue , e está tudo OK comigo.

(6/7) Não, não conheço a nossa página no Facebook.

 (8) O que gosto mais do Blogue...são as istórias passadas por antigos combatentes, contando a vida que levaram em zona de guerra.

(9) O que gosto menos do Blogue... Fotos mostrando guerrilheiros ou militares feridos ou mortos em combate.

(10) Não tenho dificuldades em aceder ao blogue.

(11) Para mim, o blogue representa preciosa informação, lembrando factos verdadeiros.

(12/13)  Nunca participei em anteriores encontros, e como estou um pouco distante, talvez não seja possível ir, mas continuo na expectativa.

(14)  Com certeza que sim, por muitos e longos anos, os meus netos, ainda vão escrever no blogue.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários: Delegações do blogue nos cinco continentes, mostrando histórias e factos de descendentes de antigos combatentes da Guiné, que agora servem as forças armadas de outros países, e em outros continentes.


2.6. Eduardo Estrela [ex-Fur Mil da CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71]

Amigo, companheiro e camarada Luís Graça!

Há alguns anos atrás sentei-me ao computador e coloquei CCaç 14 no Google. Foi dessa forma que descobri o Blogue.

Sou efectivamente membro da Tabanca Grande desde o início de 2012.

Duas a três vezes por mês vou ao Blogue e, verdade se diga, gostava de participar com mais frequência. Não o faço porque o computador é de secretária, está em Faro e nos últimos tempos tenho estado entretido a conviver com a natureza, em Cacela, onde a minha mulher tem uma casa velha que herdou da avó. 
Não tenho Facebook, pelo que é no Blogue que contacto com os textos dos meus camaradas de infortúnio.

Claro que o Blogue tem garra e força anímica para continuar, até porque há,  pela certa, [ainda]muitas histórias para serem contadas.

Ultimamente tenho notado alguma lentidão no acesso ao Blogue.

Em ti personifico o abraço a todos os companheiros da luta que travámos e que continuamos a travar, nesta sociedade cada vez mais esquecida das palavras que são ou deveriam ser a essência da convivência humana. Solidariedade, Amizade, Respeito, Fraternidade e Amor.


2.7. Manuel [Augusto] Reis  [, ex-Alf Mil Cav, CCAV 8350, Guileje, Gadamael, Cumeré, Quinhamel, Cumbijã, Colibuia, 25/10/72 - 27/8/1974]

Julgo ter descoberto o Blogue em 2006 ou 2008, não consigo precisar.Tive conhecimento através do Coronel Coutinho e Lima que referiu que ele e a CCAV 8350 estavam a ser alvo de críticas contundentes, sem correspondência com a realidade ocorrida.

Sou membro da Tabanca Grande desde o momento em que tive conhecimento da sua existência.

Procuro visitar a página diariamente, muitas vezes só para verificar se é dia de aniversário de algum camarada e felicitá-lo pelo evento. O tempo nem sempre dá para mais.

A ida ao Facebook é idêntica à ida ao Blogue, em termos de tempo de intervenção/ocupação.

Gostaria de ser mais interveniente no Blogue, mas neste momento evito a controvérsia e a abordagem de assuntos melindrosos,  estão fora de hipótese. Em dois anos de guerra, no contexto em que foi vivida, obrigaram-me a ter contactos com imensos camaradas, em diversos locais, enriquecendo-me em termos de conhecimento sobre o evoluir, quase diário, da guerra na Guiné. Agora limito-me a emitir alguns comentários.

As vivências dos camaradas, quer em situação de guerra, quer em ocorrências de diversão e o aparecimento de vários camaradas, cuja localização desconhecia, prendem a minha curiosidade. No Facebook limito-me a emitir a minha opinião sobre algum assunto que considere interessante e oportuno.

Não sinto qualquer dificuldade em aceder ao Blogue, neste portátil, mas já me apercebi que em alguns portáteis isso não é fácil.

O que mais me desagrada no Blogue são as discussões estéreis, por vezes insultuosas, sem argumentação consistente, utilizando uma linguagem agressiva, sem respeito por camaradas que também vivenciaram a guerra. A discussão podia fazer-se a outro nível, sem perda de qualidade. Nem sempre fui um exemplo daquilo que refiro, também ia na onda, principalmente nas minhas primeiras intervenções. Aprendi com o tempo a gerir este tipo de situações e a moderar as minhas intervenções.

Só por impossibilidade, como vai suceder este ano, é que não estive presente no convívio da Tabanca Grande. Lamento o facto, porque é uma boa oportunidade para encontrarmos camaradas que só de ano a ano vemos.

A nossa página no Facebook é uma óptima divulgação da existência de uma guerra, que muitas gerações desconhecem, em muitos países. Ocorre-me a intervenção de um cidadão brasileiro, escandalizado pelo seu desconhecimento da guerra colonial.

O Blogue, com o esgotar de muitos temas, perdeu um pouco de fôlego, mas continua com pernas para andar, enquanto a equipa editorial se mostrar empenhada.

Um abraço para toda a equipa do Blogue de modo especial para o Luís e o Carlos.

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domingo, 30 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10460: Dossiê Guileje / Gadamael (24): O abastecimento de água ao aquartelamento e tabanca de Guileje (Manuel Reis, ex-Alf mil, CCAV 8350, 1972/74)

1. Mensagem de Manuel Augusto Reis, com data de hoje, e em resposta a um pedido meu, formulado no poste P10456 (*)

Caro Luís:
Terei muito gosto em responder ás questões por ti solicitadas. Muito me espanta que este assunto ainda não tenha sido referido neste espaço. Já foi dissecado noutro espaço, dada a sua importância e influência que teve na decisão final da retirada de Guileje.
O poço localizava-se em Áfia, a 4 Km de Guileje, e a recolha da água era feito por um pequeno grupo de 8 homens (secção), que garantiam uma falsa protecção pois, se detectados pelo inimigo, eram facilmente apanhados à mão.

Nunca houve qualquer problema, emboscadas, minas, etc, era necessário que sucedesse uma vez,  para redobrar os cuidados, bem típico dos portugueses. Era assim nas companhias anteriores, a sobreposição foi feita deste modo rotineiro e assim continuou no meu tempo.

Como era feita a nível de secção, só me recordo de lá ter ido uma vez à água. Passei por lá outra vez de regresso a um patrulhamento que efectuámos ao Quebo, nas imediações do Mejo, onde supostamente se localizaria um novo aquartelamento, que apresentaria algumas facilidades logísticas, dada a proximidade de um largo rio que fazia fronteira com o Cantanhez.
A recolha da água era feita uma vez por dia, só excepcionalmente se ia a Áfia duas vezes. No caso de obras, por exemplo, tornava-se necessário mais água e havia necessidade de lá voltar.
Os homens, os bidões e a bomba eram transportados em viatura através de uma picada em estado muito razoável.
A população abastecia-se de água nas imediações do aquartelamento, mesmo junto do arame farpado, onde existiam uns pequeços poços. Era aí também, nessa bolanha, que as lavadeiras lavavam a roupa, nossa e delas. Foram atacadas no dia 21 de Maio de 1973, tendo recolhido ao aquartemento, apavoradas, sem ferimentos, pois tratou-se de uma pequena intimidação.

As mulheres que lá se deslocavam tinham sido por nós informadas que a partir de 19 de Maio, à tarde, o caminho estava bloqueado pelo PAIGC (3º Corpo do Exército), que receberam  ordens para se deslocarem para lá, quando lá se encontravam nas matas do Mejo.

 O dia 18 de Maio, de tarde, foi a última vez que se efectuou essa deslocação sob o comando do então Major Coutinho e Lima. A secção destacada para esse serviço tentou esquivar-se, devido à turbulência que se verificou, umas horas antes, com uma violenta emboscada, nas imediações do aquartelamento, na picada para Gadamael, e que envolveu 3 grupos de combate.
No dia 21 já não existia água e a sua necessidade esteve na origem do risco que a população assumiu.
Na época das chuvas, com a picada intransitável, o reabestecimento era efectuado na bolanha pelas NT e população.
À pergunta que formulas sobre a inexistência de um poço de água no aquartelamento não te sei responder em concreto. De facto, nas imediações, os pequenos poços utilizados pela população poderiam ser uma solução com um pequeno investimento.  
Julgo que te respondi a tudo.
Um abraço.    
Manuel Reis
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Notas do editor

(*) Camaradas de Guileje:  Não temos aqui descrições detalhadas da ida á "fonte de Guileje"... É uma questão que me intriga...

Como é que era no vosso tempo ? Quantas vezes por semana ou por dia é que se ia buscar água ? Ia sempre um grupo de combate a fazer segurança ? E no caso da população ? As mulheres e crianças eram escoltadas pela mílícia ? Qual era a distância exata do de Guileje até à fonte (no Rio Afiá) ? 4 km ? A pé, era mais do que uma hora... Houve emboscadas, minas, percalços, etc., no vosso tempo ? Quando é que a bomba a motor ? Por que razão é que em tantos anos (19634/73) nunca se abriu um poço dentro do perímetro da tabanca e do aquartelamento de Guileje ?...

Provavelmente nunca ninguém pensou que um dia poderiam "morrer à sede"... (Desculpem a ironia, mas os nossos comandantes eram pagos para pensar, decidir, comandar, prevenir, prever, liderar)...

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9918: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (53): Acácio Conde, ex-combatente em Angola, encontra no nosso Blogue os amigos Manuel Reis, Paulo Santiago e Vasco Pires

1. Comentário do dia 14 de Maio do nosso camarada, e leitor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, Acácio Conde, que cumpriu serviço militar em Angola, deixado no Poste 9461:

Malhas que o acaso tece...

Viajando pelas páginas da internete um pouco ao Deus dará, acabo de descobrir contactos de três amigos contemporâneos de juventude que a vida se encarregou de separar. A marca comum que nos juntou no Colégio Nacional em Anadia e vos juntou na guerra colonial da Guiné-Bissau sem saberem uns dos outros, a mim mandou-me para Angola...

Tenho-vos encontrado esporadicamente mas desconhecendo no concreto esse elo de ligação das vossas vidas. Afinal o mundo continua pequeno e redondo: o Vasco Pires, o Paulo Santiago e o Manuel Reis são os amigos a que me refiro e de quem guardo memórias de juventude.

Este blog que por vezes tenho visitado pela sua qualidade e capacidade de mobilização que consegue junto de muitos dos ex-militares que nas décadas de 60 e 70 estiveram em África e que continuam a partilhar entre si memórias e momentos de vida em comum...

A estes amigos em particular envio um forte abraço, com desejo de boa saúde, esperando que nos possamos juntar um dia aqui por Aveiro, onde vivo vai para 40 anos.
Seria uma grande alegria que se concretizasse esse encontro.

Cordialmente
Acácio Conde


2. Comentários de CV:

- Tudo começa no poste de 8 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9461: Camaradas da diáspora (10): Vasco Pires, ex-comandante do 23º Pel Art (Gadamael, 1970/72): saiu de Portugal em 1972 onde os nossos camaradas Paulo Santiago (em 9 de Fevereiro) e o Manuel Reis (em 10 de Fevereiro) deixaram os seus comentários por reconhecerem, pelo seu nome, o velho companheiro de escola, Colégio Nacional de Anadia, o Vasco Pires, a viver no Brasil, também ele ex-combatente na Guiné.

- Por sua vez, o comentário do Paulo deu origem ao poste de 10 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9469: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (51): Dois amigos, Paulo Santiago, aguedense, e Vasco Pires, anadiense​, reencontra​m-se, no blogue, ao fim de 50 anos!

- Finalmente, no dia 14 do corrente mês aparece um amigo dos três, o camarada Acácio Conde, ex-combatente em Angola, que deixou também no P9461 o comentário que ora se publica.

- Não há dúvida que "O Mundo é Pequeno... ...e a Nossa Tabanca é Grande!

- Vd. último poste da série de 14 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9897: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (52): Encontro o Leopoldo Amado na Feira do Livro de Lisboa, 4 anos depois de Bissau: está agora no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, como investigador no programa de pós-doutoramento (Luís Graça)