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terça-feira, 29 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9961: Efemérides (96): Guidaje foi há 39 anos: a coluna que rompeu o cerco, em 10 de maio de 1973 (Amílcar Mendes, ex-1º Cabo Cmd, 38ª CCmds, 1972/74)


02 Novembro 2005

Guiné 63/74 - CCLXV: Apresenta-se o 1º Cabo Comando Mendes (38ª CCmds, 1972/74)

Caro Luis Graça, camarada comando Briote:

Vou-vos falar um pouco de mim. Assentei praça no longínquo ano de 1971 no antigo RAL 1, em Outubro. Ofereci-me para os Comandos onde cheguei em Dezembro de 1971 (CIOE/ Lamego). Completei o curso em Junho de 1972, mês a que cheguei à Guiné, a 26. Iniciei a 2ª parte do curso em Mansoa, na mata do Morés, onde tive o primeiro contacto com o IN. Recebi o crachá de Comando em Agosto, com o posto de 1º cabo.

Em Fevereiro de 1974 terminei a comissão mas só regressei a Portugal em Julho de 1974. As histórias pelo meio ficam para outra altura, e tambem as fotos, neste momento tenho o scanner fora de serviço.

Se quiserem saber mais alguma coisa é só perguntarem.

Um grande abraço para todos os ex-combatentes, em especial os Comandos.

Só mais um pormenor, a minha companhia foi a 38ª Companhia de Comandos, os Leopardos.A. Mendes
1. Amílcar Mendes é um dos nossos mais antigos 
grã-tabanqueiros. Publica-se acima uma cópia do poste de 2 de novembro de 2005 em que ele se apresentou ao pessoal do blogue, que na altura ainda só eram umas escassas dezenas de "tertulianos", como então chamávamos aos membros da nossa "tertúlia", hoje Tabanca Grande.  

O  ex-1º Cabo Comando,  depois de ter estado na 38ª CCmds (Guiné, 1972/74), ficou no Regimento de Comandos da Amadora até 1980, dando instrução.  Hoje tem um táxi na Praça de Lisboa. Há tempos confidenciou-nos: "Enquanto estive na Guiné fui escrevendo uma espécie de diário que, com muito gosto, irei aqui partilhar com toda a tertúlia, porque sei que muito do que escrevi apenas fará sentido para aqueles que trilharam os mesmos caminhos nesses longínquos, difíceis e já saudosos anos".


São o seu caderno de notas e as memória ainda bem vivas da sua atividade operacional no TO da Guiné que lhe permitem falar com autoridade da coluna que "rompeu" o cerco a Guidaje, em 10 de maio de 1973. Há questões de pormenor que ele pode ainda esclarecer, com a ajuda de outros camaradas "que estavam lá"... Por exemplo,  no portal da Liga dos Combatentes não há registo de mortos, em combate, no dia 11 de maio de 1973, por que ao que parece o PAIGC estava também ocupado em tratar dos seus mortos e feridos (,segundo a versão de Moura Calheiros).  Por outro lado, os cadáveres em decomposição na zona do Cufeu (o A. Mendes diz que contou 15 quando lá passou em 10 de maio de 1973, a caminho de Guidaje) (*) tanto seriam das NT como do PAIGC (, já que a zona fora bombardeada antes pela FAP, possivelmente a 8). 

Por outro lado, confirma-se que os 2 gr comb da valorosa 38ª CCmds regressaram a Mansoa, ao CAOP 1, não a 13, ao fim da tarde.  

Sobre esta coluna, vd. o que o Moura Calheiros escreveu no seu livro, A Última Missão, pp. 444/445; este autor diz que esta coluna, com 8 grupos de combate - incluindo os 2 da 38ª CCmds - partiu de Binta a 10, de madrugada; o mesmo diz o José Manuel Pechorro e a história da 38ª CCmds; o Amílcar também já me confirmar a data, que é 10 e não 11, como aparece por lapso nos postes de outubro de 2006. A 12, morrem  o Raimundo e o Viegas morrem a 12...).

De resto, só com a triangulação de fontes e uma aprofundada pesquisa de arquivo podemos esclarecer pontos sobre os quais pode haver pequenas divergências factuais (por ex, nº e data das colunas; nº total de baixas, mortos e feridos; forças que integraram as escoltas às diversas colunas). O objetivo da publicação destes postes sobre os 39 anos da batalha de Guidaje (uma das mais duras da toda a história da guerra colonial nos três teatros de operações) é também a de suscitar o aparecimento de novos depoimentos, de colmatar lacunas de informação e de sobretudo de homenagear os vivos e os mortos, todos os nossos camaradas que deram melhor de si  (algumas dezenas, a sua própria vida) no "inferno de Guidaje".

Juntamos aqui os 4 postes do A. Mendes sobre o "inferno de Guidaje" (*), publicados em outubro de 2006. Foram feitas correções de datas.







38ª CCmds (1972/74) > História da unidade > Excertos (documento disponibilizado pelo Amílcar Mendes)


 A CAMINHO DE GUIDAJE

por Amílcar Mendes
Resumo:

9 de Maio de 1973 > O 2º e o 4º grupos [da 38ª Cmds] vão hoje fazer uma escolta a uma coluna de Mansoa para Farim.

13 de Maio de 1973 > Regressei hoje a Mansoa. Cinco dias fora. Meu Deus, foram os piores dias da minha vida. Irei tentar descrever tudo o que passei. Os horrores da guerra! Nunca pensei que fosse possível acontecer o que vi. Terrível de mais para ser verdade.  




9 de Maio de 1973

Saímos de Mansoa [, sede do CAOP1,]  com destino a Farim, com uma coluna que leva abastecimentos para a fronteira. Íamos só com a missão de chegar a Farim e voltar. Passámos a noite em Farim, mas fala-se já que não iremos voltar. A coluna que viemos acompanhar, destina-se a Guidaje.


Guidaje, onde nenhuma coluna consegue chegar. Fala-se aqui que da útima coluna que tentou passar: ficaram pelo caminho mais de 20 mortos. Guidaje onde a situação é caótica, onde a aviação já não dá cobertura. 

Em Farim assisti à chegada do que restou da última coluna que tentou passar. Vi militares chegarem a pé, sozinhos, completamente aterrados com o que passaram.

Continuamos em Farim e com a chegada da noite ficamos a saber que somos nós quem vai seguir com a coluna para Guidaje.



pelido  Nome  Posto  Ramo  Teatro de operações  Data  Motivo  
GERALDES MANUEL MARIA RODRIGUES GERALDES SoldExércitoGuiné10/05/1973  Combate  
MANÉ ABDULAI MANÉ 1CabExércitoGuiné10/05/1973  Combate  
REDONDO ANTÓNIO JÚLIO CARVALHO REDONDO SoldExércitoGuiné10/05/1973  Combate  
SADJÓ SADJÓ SADJÓ SoldExércitoGuiné10/05/1973  Combate  
SANHÁ MAMADU LAMINE SANHÁ SoldExércitoGuiné10/05/1973  Combate  
TURÉ JANCON TURÉ SoldExércitoGuiné10/05/1973  Combate  
ApelidoNomePostoRamoTeatro de operaçõesDataMotivo

 Fonte: Liga dos Combatentes > Mortos no Ultramar













10 de Maio de 1973

Saímos de madrugada de Farim com destino a Guidaje. Primeiro a Binta, onde os picadores se irão juntar aos nossos grupos. Daí entramos na maldita da picada. Os picadores seguem na frente.

Nota-se na picada o efeito das minas, autênticas crateras. Serão 16 km de picada até Guidaje. Um pelotão de Binta irá conosco até meio do percurso, depois iremos sós. Na frente os picadores lá vão detectando e rebentando minas, a cada hora apenas andamos para aí 2 km. Sabemos que de Guidaje saiu a CCAÇ 19, africana, para vir ao nosso encontro.


Passar na bolanha do Cufeu é impossível descrever o que encontramos sem sentir um aperto na alma: dezenas de viaturas trucidadas pelas minas. Os cadáveres pelo chão são festim para os abutres. É uma loucura. Pedaços das viaturas projetadas a ezenas de metros pela acção das minas. Estrada cheia de abatizes. Tentamos não olhar. Nunca vi tanto morto, nossos e do IN, deixados para trás ao longo da picada.

A coluna, à saída da bolanha do Cufeu, pára. Ouve-se ao longe tiros e rebentamentos. A companhia que vinha ao nosso encontro [, a CCAÇ 19,], caiu numa emboscada na ponte. Pelo rádio ouvimos o oficial que comanda a companhia emboscada pedir apoio aéreo, porque o IN é em muito maior número e ele diz que está a ser dizimado. Chegam dois Fiats e tentam dar cobertura à companhia emboscada mas dizem que é impossível porque o IN esta demasiado próximo.


Ouço então o apelo mais dramático, ouvido em toda a minha vida: Pela rádio o oficial que comandava a companhia emboscada apela à aviação:

- BOMBARDEIEM TUDO! A NÓS, INCLUINDO! A SITUAÇÃO É DESESPERADA! ESTAMOS A SER TODOS MORTOS, POIS OS GAJOS SÃO EM NÚMERO MUITO SUPERIOR!

A aviação nega-se a cumprir o apelo. Nós estamos a cerca de 3 km da emboscada. Nem pensar em lá chegar para ajudar. Demasiado longe num local cheio de minas e outros obstáculos. Os Fiats sobrevoam-nos e avisam-nos de que o IN está próximo. Faz isso para evitar ser bombardeado.



Continuamos a caminho de Guidaje. Quem ainda seguia nas viaturas salta para o chão. Ouve-se um rebentamento! Foi uma mina! O 1º cabo Filipe ao saltar pisou uma mina! Ficou logo ali sem um pé! Recebe os primeiros cuidados na picada e é posto numa viatura.

Seguimos, seguimos a um ritmo alucinante para chegar antes da noite.

Mais um morto na picada. Pisou uma mina. Ficou irreconhecível, metade do tamanho. É enrolado num poncho, posto no estrado de uma viatura. E continuamos (Esse morto mais tarde iria ser sepultado em Guidaje onde ficou).


Uma viatura pisa uma mina mas só ficou sem o rodado e continua assim mesmo.

Chegamos ao local da emboscada da CCAÇ 19 (**). Só encontramos mortos. Mortos e mais mortos. Nossos e do IN. Ficam para trás. E ali irão ficar para sempre. Já andámos há cerca de 10h na picada e Guidage já não está longe.

Já com Guidaje à vista subimos para as viaturas e eu sigo naquela só com três rodados, e onde segue o morto.

Chegamos a Guidaje! É a primeira coluna a chegar de há três semanas a este tempo. A população vem receber-nos com gritos de alegria, dá-nos água, trata-nos com carinho, sentem que o isolamento acabou.


Assim que entramos no destacamento, somos brindados com um ataque de morteirada. Com a noite vamos para as valas, que é onde se vive em Guidaje! O Filipe está num abrigo a soro, fui vê-lo e ele delirava a chamar pela família.

Durante a noite iremos sofrer mais 4 ataques e um deles será mortal.

Chega a noite. Mais um ataque. Desta vez e canhão sem recuo e morteirada. O IN sabe que esta uma Companhia de Comandos na vala e vai tentar a todo o custo causar-nos baixas, o que infelizmente vai conseguir. Nas valas, em estado de alerta, é impossível dormir. De bom em Guidaje só o facto de não haver mosquitos.

[No dia 11 de Maio de 1973, não há registo de mortos no portal da Liga dos Combatentes > Mortos no Ultramar. ]

12 de Maio de 1973

Cerca das três horas da manhã rebenta um violento ataque ao destacamento que é de meter medo. O IN deve ter as coordenadas das valas pois o fogo acerta todo dentro das valas. O barulho rebenta com os ouvidos. Dura cerca de 30 m. São centenas de projécteis. É de dar em doido!

A nossa artilharia [, Pel Art 24, de Guidaje] (**) responde ao fogo e lá se consegue parar o ataque. Terminado o ataque vamos fazer a contagem e duas vozes não respondem. Um, o Soldado Comando Raimundo, meu camarada de grupo, um moço da [Azambuja], a quem nunca mais ouvirei a sua voz; outro, um soldado condutor [, o Viegas, do CAOP 1] que tinha vindo connosco. Ficaram os dois desfeitos na vala com morteirada 120 mm.



Apelido  Nome  Posto  Ramo  Teatro de operações  Data  Motivo  
RAIMUNDO JOSÉ LUIS INÁCIO RAIMUNDO SoldExércitoGuiné12/05/1973  Combate  
VIEGAS DAVID FERREIRA VIEGAS SoldExércitoGuiné12/05/1973  Combate  
ApelidoNomePostoRamoTeatro de operaçõesDataMotivo

Fonte: Liga dos Combatentes > Mortos no Ultramar  









Ainda durante a noite iremos sofrer novo ataque mas mais ligeiro. Com a chegada da manhã os rostos de tristeza vão-se descobrindo mas é preciso reagir. Com um ano de guerra, o factor morte já não nos afecta assim tanto, já aprendemos a conviver com ela de perto, só temos de arranjar maneira de a ir iludindo.

Recebemos ordens para sair para a mata. Vem outra coluna a caminho, escoltada pelo Fuzos [ 1 gr comb da DFE 1 e um gr comb do DFE 4, comandados pelo 1º ten Meireles de Amorim, mais um gr comb da CCAÇ 3,] e nós vamos ao seu encontro para lhes dar apoio até  Guidaje. 

Antes de sair, fui ao abrigo-enfermaria (?) ver o Filipe: continua inconsciente, a perna começa a gangrenar e tem que ser evacuado com urgência, mas isso está fora de questão pois os misseis Strela estão à espreita da nossa aviação.

Fomos ao encontro da coluna e,  assim que chegamos ao destacamento, novo ataque. Pelas minhas contas tera sido o 6º. Com a noite voltamos para as valas.


O estado psicológico era tal que quando no silêncio se ouvia um barulho de alguma coisa a bater corríamos logo para a vala. No ataque à chegada dos fuzileiros, o furriel Marchão do meu grupo ficou crivado de estilhaços mas sobreviveu.

 
Amanhece em Guidaje. Logo ao alvorecer sofremos mais um ataque (o 8º). Recebemos ordem de saída para a mata. Vamos montar uma emboscada nos trilhos, já dentro do território do Senegal. Parece uma auto-estrada este trilho tal é o movimento de população. Revistamos ao acaso. Numa mulher encontramos documentação militar que apreendemos. Depois de cerca de três horas de controlo, retiramo-nos para o quartel.

A coluna vai hoje [, 13,] regressar a Binta-Farim. Ao meio do dia mais um ataque ao destacamento. A meio da tarde começa-se a organizar a coluna para o regresso mas durante os preparativos sofremos mais dois ataques e é a confusão, com as viaturas paradas no meio do destacamento e a morteirada a cair.


Assisti durante os ataques a um espectáculo insólito: enquanto durava o fogo, um oficial, nesta caso o Comandante, caminhava sereno pelo meio da confusão dando ordens e tentando manter a calma, alheio aos ataques e aos gritos. Esse senhor era o [Tenente-] Coronel Correia de Campos, que comandava o COP 3, ao qual a minha companhia ficou dependente enquanto esteve em Guidaje.

O Comandante achou perigoso a coluna seguir nesse dia [, 12,] pois fazia-se noite e concerteza o IN iria estar emboscado à nossa espera. Durante a noite sofremos mais ataques. Creio que no total e no curto tempo que aqui estivemos, sofremos pelo menos 15 ataques ao destacamento.

13 de maio de 1973


Logo ao alvorecer [, pelas 6h00,] a coluna põe-se a caminho. Fazemos a picada de volta e à medida que avançamos, voltamos a passar pelos cenários de morte. Os corpos estão a caminho de esqueletos, devorados pelos jagudis. O cheiro é insuportável, por vezes dá náuseas. Acho que pelo resto da minha vida nunca mais vou esquecer este local maldito!

Ao fim da manhã já estamos a chegar a Binta quando surge mais um acidente: um militar da tropa da Província pisa uma mina, dá por ela e fica com o pé lá em cima... É uma mina de descompressão e poucas hipóteses tem de lá sair com vida.

Põe-se areia a volta. Cobre-se o corpo de roupa mas ele salta rápido. Não morre mas fica sem o pé. Durante a minha viajem de regresso na Berliet que seguia à minha frente, ia o Filipe com a perna já em adiantado estado de gangrena. Irá sobreviver. Somos amigos, ele vive no Porto e ainda hoje recordamos esse tempo, o que nos dá vontade de chorar!


Chegamos a Binta e o Filipe é logo evacuado! A coluna não pára. Seguimos para Farim e daí logo em direção a Mansoa.

É a alegria geral! Que saudades da rapaziada! Chegamos a casa!...
- FORAM OS PIORES DIAS DA MINHA VIDA!- Pensava eu. 


A malta faz perguntas mas a nós não nos apetecia responder, só para não voltarmos a pensar naquele inferno. Ao diabo com Guidaje!~(Como eu estava enganado, mas ainda não o sabia!). [O Amílcar Mendes voltará lá em 29 de maio, na escolta a uma outra coluna logística].

Comentário: Ainda hoje sonho com Guidaje! Algumas coisas do que aconteceram foram tão reais que iriam ficar gravadas na minha memória até chegar ao STRESS!

Sentir na carne não é o mesmo que me sentar a escrever sobre um acontecimento. Isso é ficção e, pelo que vou lendo, há muitos ficcionistas que se arvoram em paladinos da verdade. Paz à sua alma!... (**)

A. Mendes


Texto e fotos: © Amilcar Mendes (2006). / Blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

_________________

Notas do editor:

(*) Vd. este e os postes anexos a este > 4 de abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2719: Guidaje, Maio de 1973: Só na bolanha de Cufeu, contámos 15 cadáveres de camaradas nossos (Amílcar Mendes)

(**) Segundo informação do nosso camarada José Manuel Pechorro, o pessoal da CCAÇ 19, do recrutamento local, era de etnia mandinga. O Pel Art 24, por sua vez, era constituído sobretudo por pessoal balanta.

Do José Manuel Pechorro, vd. também os seguintes postes:

19 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5300: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - I Parte (José Manuel Pechorrro)

21 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5310: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - II Parte (José Manuel Pechorrro)

16 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5479: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - Agradecimento e algumas informações (José Manuel Pechorro)

4 de Abril de 2010 Guiné 63/74 - P6105: (Ex)citações (63): O Ten Cor Correia de Campos foi um dos heróis de Guidaje (José Manuel Pechorro)


(***) Último poste da série > 28 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9954: Efemérides (61): Guidaje foi há 39 anos: Operação "Mamute Doido" (2): Desenrolar da emboscada na zona do Cufeu (António Dâmaso)

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8323: Agenda cultural (126): IV Jornadas de Memória Militar, dia 31 de Maio de 2011 no Palácio da Independência

1. No dia 23 de Maio recebemos do nosso camarada Mário Beja Santos, uma mensagem dando conta das IV Jornadas de Memória Militar.


IV JORNADAS DE MEMÓRIA MILITAR

ECOS

NA MEDICINA, NA LOGÍSTICA E NA ARTE


No âmbito dos 50 anos da Guerra de África, a ter lugar no dia 31 de Maio de 2011 no Palácio da Independência, Largo de S. Domingos, 11.


(Clicar nas imagens para ampliar e permitir a leitura dos textos)

Do programa destacamos, às 16 horas, o III Painel - Arte, que tem como moderador o Tenente-Coronel Abílio Lousada

- "Guerra Colonial - a literatura e uma geração de escritores" pelo Cor. Matos Gomes

- " A singularidade das nossas literaturas de guerra: os figurantes ainda não disseram a última palavra - Um relance sobre a literatura da Guerra Colonial" pelo Dr. Beja Santos

- "Fazer a guerra é uma coisa; escrever sobre ela é outra coisa" pelo Cor. Paraquedista José Alberto de Moura Calheiros

A entrada é livre, mas os interessados em estar presentes devem contactar a Dra. Clara Dias Marques através do telefone 213 465 120.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 25 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8322: Agenda cultural (125): Odivelas, Biblioteca Municipal, 25 de Maio, 18h30: Apresentação do livro Amílcar Cabral (1924-1973): Vida e morte de um revolucionário africano, da autoria do guineense Julião Soares Sousa

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8144: Notas de leitura (231): A Última Missão, por José de Moura Calheiros - Gostei francamente do que li (TCor José Francisco Robalo Borrego)

1. Mensagem de José Borrego (*), Ten Cor na Reserva, que pertenceu ao Grupo de Artilharia n.º 7 de Bissau e ao 9.º Pel Art, Bajocunda (Guiné, 1970/72), com data de 19 de Abril de 2011:

Acabei de ler o livro “ ÚLTIMA MISSÃO “ do Senhor Coronel Pára-quedista José de Moura Calheiros e gostei francamente do que li! É sempre confortável ler a experiência de alguém que esteve na Guiné, mais a mais, de um homem que teve responsabilidades de Comando e Estado-Maior.

Fiquei a “conhecer “ a mítica península do Cantanhez, encravada entre os rios Cumbijã e Cacine e as dolorosas batalhas travadas em Guidage e Gadamael-Porto, entre Maio e Julho de 1973, com a preciosa ajuda dos pára-quedistas.
A minha comissão na Guiné foi repartida por Bissau, Bajocunda, Paúnca e Ganguará na península de Gampará. Pertenci ao Grupo de Artilharia nº 7, estacionado em Bissau (Santa Luzia).

O livro descreve de maneira simples e detalhada o que foi a recuperação do Cantanhez e a actividade do Batalhão de Pára-quedistas n.º 12 na Guiné, através das suas Companhias de Intervenção, em apoio da Manobra Sócio-económica, defendida pelo Comando-Chefe.
Quanto à população, também partilho da ideia de bondade e simplicidade da mesma, aliás, a maioria daqueles que por lá passaram, guardam boas recordações com quem conviveram.
A esmagadora maioria de nós é sensível a tudo o que se passa na Guiné e queremos o bem daquela terra! Ficámos emocionalmente ligados àquele País e à cultura das suas gentes!

Voltando ao Cantanhez, deixo uma pergunta para quem queira responder: Se aquela península era considerada um “ Santuário“ e uma base logística do PAIGC, porque esteve abandonada tanto tempo pelas NT?

No livro, apreciei também o extraordinário trabalho e espírito de sacrifício que foi levado a cabo pelas Equipas Técnica e de Missão na exumação dos restos mortais dos militares pára-quedistas que foram enterrados no cemitério de campanha de Guidage, há trinta e cinco anos, por dificuldades de evacuação, o que revela bem os difíceis dias ali passados!

Senhor coronel Calheiros, muitos parabéns pelo seu testemunho, através do seu magnífico livro que é, na minha opinião, um excelente documento histórico!
Pela minha parte, o meu penhorado muito obrigado.

Aproveito esta oportunidade, para desejar a todos os camaradas e Excelentíssimas famílias uma Feliz e Santa Páscoa.

Um abraço fraterno do
JOSÉ BORREGO
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 14 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4685: In Memoriam (27): Recordando o Major Raul Passos Ramos (José Borrego)

Vd. último poste da série de 20 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8141: Notas de leitura (230): O Meu Testemunho, uma luta, um partido, dois países, por Aristides Pereira (Mário Beja Santos)

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7872: Notas de leitura (210): A Última Missão, de José de Moura Calheiros (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Fevereiro de 2011:

Queridos amigos,
Está concluída a leitura das mais de 600 páginas de “A Última Missão”**. Recomendo a toda a gente: nada de prosápia, crítica quando necessário, denúncia da situação injusta em que vivem aqueles guineenses que connosco combateram, memórias poderosas de três comissões, relatos indispensáveis do que ele viveu na Guiné, nomeadamente em 1972 e 1973.

A literatura memorial ficou mais rica com esta prosa sincera, nobre, própria de um combatente valoroso que se esconde por detrás dos seus soldados, como compete a quem tem coragem e repudia a farronca.

Um abraço do
Mário


A batalha de Guidage (1973) e a última missão em Guidage (2008)

Beja Santos

“A Última Missão”, por José de Moura Calheiros (Caminhos Romanos, 2010) é uma obra fundamental para a literatura de carácter memorial da guerra da Guiné, mais propriamente de toda a guerra que envolveu as Forças Armadas Portuguesas entre 1961 e 1974. Trata-se de uma grande angular de um oficial pára-quedista que experimentou dentro das matas e em operações de altíssimo risco o que foram as guerras de guerrilhas em Angola, Moçambique e Guiné. Combateu ao lado dos seus soldados, gizou operações, foi submetido ao stresse de enviar tropas especiais e de quadrícula para o aceso dos combates. O coronel Calheiros viveu episódios excepcionais como Guidage e Gadamael, em 1973, esteve na reocupação do Cantanhez.

Em 2008, voltou à Guiné para trazer de volta os corpos dos combatentes que estavam inumados no cemitério militar de Guidage. Detentor de um impressionante acervo fotográfico, o autor maneja a memória e a imaginação de uma forma poliédrica durante esta última missão, confrontando o leitor com a história de três teatros de operações, entre 1963 e 1973. É um documento de grande dignidade e coragem. A dignidade de exaltar os companheiros e os feitos. A coragem em assumir as convicções, como é patente até nas críticas que faz a relatos militares onde deliberadamente se omitiram os feitos ou desempenhos das tropas pára-quedistas e dos seus chefes, no caso específico da Guiné.

Toda esta viagem até Guidage proporciona retornos à sua vida operacional, há sempre bons pretextos para comparar a Guiné de ontem e de hoje, a evolução das lutas em Angola e Moçambique. Descreve a preparação dos pára-quedistas, como era a vida do BCP 12, em Bissalanca, no tempo da sua comissão entre 1971 e 1973, conta-nos minuciosamente o que vão fazer em Guidage, detalha até ao mais terrífico dos pormenores as vicissitudes em torno do cerco de Guidage desenvolvido pelo PAIGC. A guiarmo-nos pelo depoimento do comandante Manuel dos Santos (“Manecas”, comissário e comandante da frente Norte do PAIGC), Guidage foi sujeita a um cerco brutal mas, escreve ele em “A Última Missão”, o objectivo deste cerco não estava ali, mas em Guileje que iria ser submetida a uma tempestade de fogo. Amílcar Cabral terá dito que se Guileje caísse tudo mais se desmoronaria. O cerco de Guidage não era mais do que uma manobra de diversão com o objectivo de atrair para a sua defesa todas as forças de intervenção portuguesas, impedindo-as de dificultar o assédio do PAIGC a Guileje. O dispositivo bélico do PAIGC metia respeito, tal como ele o descreve, envolvendo corpos de exército, uma bateria de artilharia pesada e mísseis terra-ar. O cerco começou como uma emboscada a aviões que iam fazer a evacuação de feridos a Guidaje, dois aviões foram abatidos, pelo menos. Isto no dia 4 de Abril de 1973. Depois montou-se o dispositivo do cerco sobre a estrada Binta-Guidage, com uma concentração de todas as unidades na base de Cumbamory. Ele escreve que nunca houve intensão de ocupar Guidage mas sim de provocar um elevado potencial de pânico e desmoralização. Desmente categoricamente o que tem vindo a ser escrito sobre os resultados da operação dos Comandos Africanos à base de Cumbamory. E escreve mesmo: “As afirmações de que os Comandos teriam encontrado e destruído milhares de munições, centenas de armas ligeiras, metralhadoras, granadas e minas, centenas de lanças-granadas, dezenas de rampas de foguetões e muito mais, são uma pura fantasia!” E remata:” Este ataque à nossa base em nada afectou o nosso potencial e a operação de cerco apenas terminou quando já não tínhamos necessidade de desviar as Forças de Intervenção do nosso objectivo principal, que não era ali, mas sim no Sul da Guiné”. O cerco iniciou-se em Abril, o PAIGC movimentou bastantes unidades, abateu dois aviões e outro desapareceu. Guidage ficou sem possibilidades de reabastecimento por ar. Começaram as dificuldades por estrada, logo em 17 de Abril, a caminho de Binta, com minas anti-pessoal. No início de Maio começaram as intensas flagelações bem como a Bigene. Com o cerco pretendia-se não deixar passar nenhuma coluna de viaturas nem tropa apeada. O coronel Calheiros descreve o calendário do assédio e o sofrimento de todos. Os pára-quedistas que morreram iam a atravessar a bolanha de Cufeu. Só em Junho é que se retomou a normalidade. O capitão Salgueiro Maia conta, aliás, o episódio da coluna de reabastecimento em que participou em 11 de Junho.

Outro relato de grande envergadura é a descrição que nos oferece da batalha de Gadamael, surgiu na sequência na retira de Guileje, outro inferno em que capitão e médico vão ser feridos, a população civil refugia-se no tarrafo depois de ter saqueado os géneros da cantina, o comandante do COP 5, recém-chegado não conhecia os oficiais, nem os sargentos nem as instalações, nem sequer o perímetro defensivo e plano de defesa e não tinha comunicações com o exterior. E também não tinha soldados. A intensidade dos bombardeamentos em 1 de Junho foi de 800 granadas. A Companhia que estava em Cacine enviou uma mensagem para o comando-chefe informando que Gadamael estava destruída e que o pessoal fugira para o mato. Entre 1 e 3 de Junho, o Comandante de Gadamael, alguns oficiais e sargentos e entre 10 a 15 outros militares (os que não abandonaram as instalações) passaram o tempo a lançar algumas granadas de morteiro 81 e a disparar tiros de metralhadora. Há verdadeiros casos de heroísmo, façanhas que honram o militar português. O General Spínola tenta aterrar em Gadamael, não consegue, as lanças da Marinha procedem à recuperação de cerca de três centenas de militares e população que se haviam refugiado no tarrafo. Os pára-quedistas foram determinantes na distensão em Gadamael nesse período dramático. O coronel Calheiros exalta a liderança do tenente-coronel Araújo e Sá, terá sido fundamental para solucionar os problemas defensivos de Gadamael.

Voltamos a Março de 2008, em Guidage a equipa técnica conseguem localizar as campas e procedem à exumação daqueles que ali pereceram em Maio de 1973. É nessa operação que se descobre um coração em pedra rosada que estava na zona do peito do soldado António Vitoriano. Fica assim resolvido o mistério daquela mão aberta com um círculo vermelho que vem na capa do livro. A missão está cumprida, o coronel Calheiros rememora as muitas dores daquela comissão, também o sofrimento que vira em Moçambique naqueles postos avançados em que um pequeno número de soldados eram vítimas fáceis do guerrilheiro John. Em Portugal irão ter lugar as cerimónias do último adeus aos pára-quedistas.

É indiscutivelmente um dos relatos mais emocionantes que um militar escreveu sobre a guerra de África. É uma escrita de boa qualidade, entremeia a singeleza com o crisol dos grandes valores que levaram os combatentes a resistir ao infortúnio na determinação do cumprimento do dever. Até às consequências de trazer os restos mortais dos que se doaram ao supremo sacrifício. Leitura obrigatória para o nosso dever de memória.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 26 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7868: Notas de leitura (209): A Academia Militar e a Guerra de África (Mário Beja Santos)

(**) Vd. postes de:

17 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7805: Notas de leitura (204) A Última Missão, de José de Moura Calheiros (1) (Mário Beja Santos)
e
18 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7815: Notas de leitura (205): A Última Missão, de José de Moura Calheiros (2) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7815: Notas de leitura (205): A Última Missão, de José de Moura Calheiros (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Fevereiro de 2011:

Queridos amigos,
Recomendo sem qualquer hesitação “A Última Missão”, é um depoimento de grande significado, ficará indubitavelmente na galeria da nossa literatura de guerra.
Foi por respeito ao acervo documental e à qualidade narrativa de alguns dos episódios que tomei a liberdade de repartir por três textos as memórias do coronel Calheiros. Talvez depois de lerem este livro concordem que valeu a pena realçar o que há de significado histórico e de timbre na delicadeza de sentimentos do nobre soldado que arrosta levar por diante esta última missão.

Um abraço do
Mário


Das memórias do Cantanhez até às operações de Guidage
"A Última Missão"

Beja Santos

Não é um romance, não é um compêndio de recordações avulsas de diferentes comissões militares, não é um relatório rigoroso de uma missão precisa que levou um veterano dessas guerras até uma povoação da Guiné onde, 35 anos atrás, ocorrera uma tragédia, um supremo sacrifício, embora a coluna vertebral ou o pretexto da escrita seja, em concreto, uma operação de resgate dos restos mortais de três pára-quedistas e de outros sete do Exército. É um livro onde confluem, a pretexto dessa missão, memórias, recordações de todas essas experiências, vividas durante mais de dez anos, em teatros de operações diferentes; é também um registo intimista para onde convergem as lembranças de gente que se preparou para a tropa especial num determinado contexto, um amplo palco onde se vão movimentar muitos combatentes subtraídos à vida real, gente que teve medos, comportamentos heróicos, tristezas infindas. É, pois, uma obra de muitas memórias que afluem num quase presente (Março de 2008) em que um oficial pára-quedista se integrou numa missão da Liga dos Combatentes que tinha o fito de exumar, em Guidage, dez cadáveres. Levavam um croqui do cemitério militar de Guidage e procuraram levar as pessoas certas para o sucesso da missão. É esta a imensa viagem que nos propõe este belíssimo relato onde se misturam o tempo da guerra vivida e a sua memória, a pretexto de um resgate: “A Última Missão”, de José de Moura Calheiros (Caminhos Romanos, 2010).

Na aparência, tudo começa na manhã do dia 7 de Março de 2008, no aeroporto da Portela de Sacavém, é aqui que se inicia a missão de resgate. Um oficial pára-quedista, juntamente com outros pára-quedistas, dirigem-se a Guidage, onde, em Maio de 1973, ocorreu um fortíssimo assédio do PAIGC e se perderam muitas vidas. O autor recorda as suas vivências em Angola e Moçambique, as tropas com quem combateu, a natureza desses teatros de operações, a preparação dos “páras”, entremeia essas lembranças com os preparativos dessa operação de resgate, o avião aterra em Bissalanca, novas lembranças o assaltam, a começar pela sua antiga unidade, o BCP12. Percorre a Bissau de 2008 e confronta-a com a de 1971. O antes e o depois são-nos dados pelo preto e branco do passado e a fotografia a cores do presente, igualmente a composição dos textos também demarca presente e passado. E assim se parte para Farim, local escolhido para a base de operações, a algumas dezenas de quilómetros de Guidage. A própria Farim traz novas recordações, o autor também passara por aqui noutros tempos. Começa a relacionar-se com a população e apercebe-se do drama dos ex-militares das Forças Armadas Portuguesas que continuam à espera que se reponha a justiça nas pensões que lhe são devidas. Insiste-se na precisão do relato, no intimismo das observações, na serenidade dos juízos proferidos, na vontade em interpretar o que se vê à volta. A propósito da preparação dos três pára-quedistas mortos perto de Guidage, o autor descreve o curso de pára-quedismo, a integração do pára nas diferentes unidades. Passa seguidamente para as operações de baptismo de fogo e encaminha o leitor para uma operação extraordinária em que ele participou e que foi a reocupação do Cantanhez.

É um capítulo do maior interesse, descreve a missão que fora atribuída ao BCP 12, o Cantanhez era considerado pelo PAIGC como território libertado, estava ali estacionado o seu 1.º Corpo de Exército, esta operação foi designada “Grande Empresa”, veio a seguir à “Muralha Quimérica” em que o BCP 12 e outras unidades tentaram impedir a visita de uma delegação da ONU. O coronel Calheiros não poupa elogios à prossecução da “Grande Empresa” e descreve-a minuciosamente. Iniciou-se em Dezembro de 1972 e tinha como finalidade assegurar em continuidade a presença das tropas portuguesas em pontos estratégicos da Península do Cantanhez. É um relato de inegável valor e que clarifica o modo como foram criados aldeamentos e aquartelamentos e estabelecida a comunicação com as populações, obrigadas a viver sob a pressão dos dois lados. No final de Março de 1973, o general Spínola reconhecia que a “Grande Empresa” estava a ter sucesso com a instalação de aquartelamentos, os patrulhamentos constantes por terra e nos rios.

Voltando aos três pára-quedistas falecidos na região de Guidage, descreve a primeira operação dos soldados Loureço e Vitoriano que tinham chegado à Guiné em Fevereiro de 1973. Temos aqui igualmente um registo do maior interesse sobre Sargentoxanque e o seu modo de viver, tal como Caboxanque, Cadique e Cafine, entre outros aquartelamentos instalados no Cantanhez. E de novo salta para Março de 2008, está-se no cumprimento da missão de resgate, tudo começa pela incógnita do local onde fora o cemitério militar de Guidage, todos se sentiam desorientados sobre a sua localização. É dentro deste quadro de peripécias que a mente do coronel Calheiros regressa a Abril de 1973, altura em que várias aeronaves são atingidas por mísseis terra-ar. A referência não é inédita, no próprio blogue toda a situação de Guidage tem vindo a ser tratada por diferentes protagonistas. Depois, o autor recorda-se das conversações de Cap Skirring, que envolveram Senghor e Spínola e que culminaram no fiasco, Marcelo Caetano determinou que cessassem aqui os contactos, nada de integrar o PAIGC na vida da Guiné e muito menos criar uma perspectiva de uma total independência a dez anos.

O autor vem de férias em Abril desse ano, apercebe-se que a opinião pública está praticamente alheia ao que se passava em todos os teatros de operações. E observa: “O único local onde na Metrópole se falava abertamente da guerra do Ultramar, naquela altura e com intensidade, era nas universidades. Constatei esse facto no ISCEF, onde tive que ir poucos dias após a minha chegada. Estive lá duas ou três vezes e em todas elas pude verificar que continuava a haver reuniões de alunos e manifestações contra a guerra no Ultramar. A propaganda contra a guerra, abundantemente exposta nas paredes, bem como o fervor das reuniões que pude observar, ainda eram maiores do que antes de ter embarcado para a Guiné. Mas se nessa ocasião tinha uma posição neutra quanto a elas, olhando-as de forma despreocupada, a minha sensibilidade a este problema havia-se alterado profundamente. Agora sentia-me bastante constrangido ao observá-las pois receava muito as suas consequências. Aliás, já a estava a sentir fortemente na Guiné, com a falta de combatividade, mas sobretudo de preparação das nossas unidades de quadrícula, enquadradas quase a cem por cento por oficiais milicianos”. E estamos chegados aos acontecimentos de Maio e ao supremo sacrifício que se viveu em Guidage. Temos pois as ossadas dos mortos. É um testemunho eloquente, o adeus a Guidage e as cerimónias da entrega dos restos mortais às famílias. É matéria para o último texto desta recensão.

“A Última Missão” é uma peça relevante da nossa literatura de guerra, ponho-a sem hesitar ao lado das memórias do Sargento Talhadas e desse Comando de quem aguardamos mais notícias (Virgínio Briote, para quando?), o Amadu Djaló.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. poste de 17 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7805: Notas de leitura (204) A Última Missão, de José de Moura Calheiros (1) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7806: A última missão, de José Moura Calheiros, antigo comandante pára-quedista: apresentação do livro (5): Agradecimentos do autor ao nosso blogue

1. Por lapso, só agora publicamos o agradecimento que o Cor Pára Ref José Moura Calheiros nos dirigiu, no princípio do ano, com referência ao papel do blogue na promoção do seu livro, A Última Missão:

 6/1/2011

Caro Amigo:
 
Pasada a fase as apresentações em Lisboa, Porto e Coimbra e o Natal e ano Novo em casa, chegou a altura de agradecer ao Homem Grande da Tabanca Grande, não apenas a presença no lançamento do livro em Lisboa, mas tambémas excelentes gravações das intervenções - a unica que foi feita,  esqueci-me por completo disso! Ainda bem que se lembrou. E agradecer ainda a publicidade feita ao livro no site da Tabanca Grande.

A única coisa má disto tudo é que continuo sem o conhecer pessoalmente. Tenho uma ideia de termos trocado algumas, poucas palavras no final da cerimónia, mas estava sempre a ser tão assediado pelas pessoas que não estou bem seguro. 

Se necessitar de algo da minha pessoa, estou ao seu inteiro dispor.

Com um forte abraço,
Moura Calheiros

Preço de capa: 27 €

Uma edição
CAMINHOS ROMANOS, Editora
Rua Pedro Escobar, 90 - R/C
4150 - 596 PORTO
Tel./Fax 220 110 532
Telemóvel 936 364 150
e-mail ac.azeredo@hotmail.



2. Comentário de L.G.:

Na realidade, continuamos sem conhecermo-nos pessoalmente... e eu ainda sem ter tido tempo de ler o seu livro: está numa pilha em cima de muitos outros... Como de costume, faço uma primeira leitura em diagonal. E, do que me apercebi, não sei se foi a sua última missão (fica mal a um pára dizer isso...), mas foi seguramente a sua mais nobre missão... Felizmente começam a aparecer algumas notas de leitura, de camaradas nossos. Haveremos de encontrar-nos por aí, nas picadas e bolanhas da cidade e da vida.

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Nota de L. G.:

(*) Último poste da série > 5 de Dezembro de 2010 &gtGuiné 63/74 - P7385: A última missão, de José Moura Calheiros, antigo comandante pára-quedista: apresentação do livro (4): "A História, tal como a ficção, não pode ficar em suspenso sem um epílogo que a justifique e lhe dê um sentido" (António-Pedro de Vasconcelos)

Guiné 63/74 - P7805: Notas de leitura (204) A Última Missão, de José de Moura Calheiros (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Fevereiro de 2011:

Queridos amigos,
Desde o Amadu Djaló e do sargento Talhadas que não lia algo tão arrancado da alma. O coronel Calheiros é despretensioso, não veio à escrita comandado pelos veios literários mas por uma missão onde pesou o estrito sentido do dever: devolver às famílias os corpos de quem morreu em combate.
Um livro a juntar a outros muito bons que a guerra transforma em escrita de valor indiscutível.

Um abraço do
Mário


Uma memória admirável, pessoal e intransmissível:
“A Última Missão”

Beja Santos

O coronel José de Moura Calheiros cumpriu três comissões de serviço, conheceu os três teatros de operações de risco (Angola, Moçambique e Guiné, respectivamente). Na Guiné (1971-1973) foi 2.º Comandante e Oficial de Operações do BCP 12, COP 4 e COP 5 e ainda Comandante do COP 3. Assistiu de perto aos acontecimentos dramáticos de Guidage e nunca os esqueceu. “A Última Missão” é um título feliz para uma vastíssima e ordenada colecção de memórias que entremeiam as notas de viagem de um grupo que voltou a Guidage, em Março de 2008, para acompanhar a exumação de três pára-quedistas BCP 12, 35 anos depois do cerco à martirizada Guidage. Temos aqui, em grande angular, e numa sinceridade sem nenhuma encenação uma longa viagem de memórias à guerra que ele viveu em África ao serviço das tropas pára-quedistas (“A Última Missão”, por José de Moura Calheiros, Caminhos Romanos, 2010).

É um livro de memórias tocante por se sentir que se trata de alguém que se expõe completamente, alguém que se olha ao espelho sem flores de retórica ou à procura da última comenda. A missão é trazer os restos mortais dos soldados Vitoriano, Lourenço e Peixoto, mortos em combate na bolanha de Cufeu, tendo ficado sepultados no interior do aquartelamento. Alguém elaborou um croqui com a localização exacta das campas, dado providencial para o resultado desta última missão.

No acto de embarque, nesse dia 7 de Março de 2008, assalta-lhe à memória a primeira aproximação a África, dá-nos o registo da participação dos pára-quedistas e da sua chegada em Maio de 1963, relata o seu baptismo de fogo, entre outras memórias. A caminho de Bissau, fala-nos do programa “Conservação das Memórias”, criado pela Liga dos Combatentes no sentido de concentrar em alguns cemitérios os restos mortais dos nossos combatentes em África. Assegurado o financiamento para a operação de exumação que decorreu sob o impulso da UPP – União Portuguesa de Pára-quedistas, foram estabelecidos contactos com peritos para se formar a indispensável equipa técnica. Ainda a caminho de Bissau, o coronel Calheiros recorda a sua missão no Norte de Moçambique, entre 1967 e 1969, repertoria momentos de perigo, o sofrimento físico. Refere algo que vi em dois momentos de tormenta, o desespero da sede, militares a molhar os lábios com urina. Dá-nos a descrição de várias operações e é assim que a equipa de missão chega a Bissalanca, onde ficou a aguardar a chegada da equipa técnica.

Dá-nos um registo da sua ida a Bissau e recorda-se da Bissau de 1971, compara o estado da cidade e o viver das populações. De seguida começam os preparativos para a deslocação, a escolha da base para o cumprimento da missão em Guidage. Ponderadas as hipóteses (permanecer em Guidage todo o tempo, aceder a Guidage a partir do Senegal utilizando um hotel de caça próximo ou construir uma base em Farim) optou-se por Farim onde já se tinha alugado duas casas. De novo assistimos ao revolteio da memória, aqueles preparativos do deslocamento para Farim lembraram-lhe as preocupações com as do tempo de guerra em que o kit-bag (saco de bagagem utilizado pelos pára-quedistas) era o albergue com que se podia contar durante o ciclo operacional, a casa ambulante. A coluna segue para Farim, o autor lembra outras colunas, desde a via marítima até à deslocação em Berliet e Unimog, com todas as peripécias imagináveis. Tudo é comparável, buscam-se analogias, pontos de contacto entre o passado da outra missão e esta, apresentada como a derradeira. É um dos aspectos mais atractivos desta prosa eficiente, conduzida pelo olhar, sem sinuosidades nem piruetas líricas. É o que é, o que a recordação consente, como se vivia nas instalações do BCP 12 e que agora está à disposição da missão e assim se vai progredir até Farim, pelo caminho recordam-se minas e emboscadas, a travessia nos rios, assim se chega ao cais de Farim, na margem esquerda do rio Cacheu. Está constituída a equipa, militares, um jornalista e vários peritos indispensáveis para a exumação. A casa de Farim vai detonar memórias sobre o modo de viver dos pára-quedistas, há a nostalgia da base de operações e o repouso físico e psicológico que permitia, ali se jogava às cartas, escrevia os aerogramas, mas também se jogava à bola e até se praticavam os jogos tradicionais que se trazia das aldeias.

Iniciam-se os contactos com agentes de Farim, surgem antigos militares que combateram à sombra da bandeira portuguesa e antigos militares do PAIGC. São relatos humanos, muito humanos, quem escreve está aberto a ouvir e a perguntar, é alguém que toma notas do movimento das ruas e dos usos e costumes. Esse alguém recorda a sua chegada a Bissau, em 1971, a memória põe-no de novo à varanda e então passam em desfile os jovens combatentes, desde os jovens contestatários àqueles que trazem curiosidade e o sentido do dever. Será porventura um dos quadros de memórias mais preciosos e singelos que o autor nos oferece, esse e o das gentes de Farim, desvelando, a propósito, o drama (talvez insolúvel) das pensões de sangue, de invalidez e de reforma daqueles guineenses que combateram ao lado dos portugueses, acreditando ser portugueses. Em torno deste drama (que eu próprio verifiquei em 1991 e 2010) há propostas para desbloquear a situação, todas elas são altamente sensíveis e cheias de riscos se não forem praticadas com o máximo de equanimidade. No seguimento desta dura prova que é mostrar a chaga destes antigos camaradas que continuam a não entender a perda de direitos, o coronel Calheiros debruça-se sobre as famílias dos militares, o seu sofrimento à distância e aqui detém-se sobre aqueles três jovens ainda sepultados em Guidage.

É um relato que impressiona pela ausência de jactância, pelo ânimo da camaradagem e pela franqueza do desnudamento da alma. Já estamos a caminho de Guidage. A última missão, na sua plena acepção, vai agora começar.

(continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7797: Notas de leitura (203) Estudos Sobre o Tifo Murino na Guiné Portuguesa (Mário Beja Santos)

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7631: Notas de leitura (189): A minha coluna emboscada e o livro A Última Missão, do Cor Moura Calheiros (Manuel Marinho)



1. Mensagem do nosso camarada Manuel Marinho* (ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Nema/Farim e Binta, 1972/74), com data de 16 de Janeiro de 2011:

Caro Carlos Vinhal
Envio-te este texto, se entenderes publica.
Manuel Marinho




A minha coluna emboscada, e o livro “A Última Missão”

Quero saudar o Cor Moura Calheiros pelo seu livro A Última Missão** que é um testemunho de grande qualidade para os ex-combatentes na Guiné, onde nos é dado a conhecer a grande actividade operacional do BCP12, a par de grandes operações realizadas em 71/73 em conjunto com Companhias de tropa regular.

Pela escrita avalizada do Cmdt Operacional dos Pára-quedistas, todos os militares são tratados sem falsos heroísmos, mas com elevado valor pelas dificuldades passadas.

Por exemplo:

- As dificuldades das Unidades que ocuparam o Cantanhêz, e construíram quartéis de raiz.
- As operações para libertar Guidaje, e a defesa heróica de Gadamael, e por aí fora.

Mas o que me leva a escrever este pequeno texto, são algumas questões novas contidas no livro, referentes a Guidaje nas quais eu participei.

Já não chegava o facto de termos ido numa coluna mal organizada operacionalmente, de nos terem mandado avançar de noite, de não terem avaliado bem o IN acabo por saber pelo Cor Moura Calheiros que até os socorros nos foram negados.

Nos fatídicos dias 8 e 9 de Maio de 1973 na coluna para reabastecer Guidaje, mal tivemos o primeiro contacto com o IN, (noite de 8) os pedidos de ajuda foram efectuados em tempo oportuno já adivinhando o que nos esperava, por não podermos retirar do local onde estávamos.
A viatura da frente da coluna (Berliet) estava imobilizada por efeito de mina.

Sei hoje graças ao Cor Moura Calheiros, no seu livro “A Última Missão” que a CCP 121 esteve em estado de prontidão para nos ir socorrer, logo na madrugada de 9 de Maio, desde as 5,00 horas até à nossa difícil retirada, para Binta.

A Missão dos Pára-quedistas era a de socorrer a coluna e recuperar as viaturas, sobretudo as que transportavam munições.
Os altos Comandos Militares na altura, esperaram para ver o que acontecia, e deixaram a situação chegar ao extremo.
Como o desenlace foi aquele, restou mandar bombardear as viaturas.

É provável que houvesse razões para crer que na manhã de 9 de Maio de 73 conseguiríamos repelir o IN, afinal era mais uma pequena emboscada. Mas não. Eram mais de 100 elementos IN na zona, e nós cerca de 50. Mesmo assim, com um IN muito superior em número, as suas baixas foram 3 vezes superior às nossas.
Infelizmente foi o começo na grande ofensiva terrestre do PAIGC no cerco a Guidaje, porque os ataques ao aquartelamento já estavam bem adiantados com fortes flagelações.

Lembro que fomos salvos por uma pequena força de cerca de 14 elementos da minha 1ª Ccaç/BCAÇ 4512 de Binta, que com enormes dificuldades conseguiu chegar até nós pelo menos com 2 viaturas e conseguimos com a sua ajuda retirar os nossos feridos.

Essa pequena força comandada por um Furriel foi resgatar com muito custo o meu amigo e Cmdt da coluna Alferes O.E., que se encontrava com a perna fracturada, e o trouxe às suas costas até à viatura.
Se (e este se é mesmo isso) a CCP 121 tivesse ido até Binta, chegaria a tempo de aliviar a pressão sobre nós, talvez salvar as cargas das viaturas, e na impossibilidade de minimizar as baixas que sofremos (4 mortos), teríamos conseguido de certeza trazer os corpos dos nossos camaradas que lá ficaram mais 2 meses, e isso já seria muito.

Mas isto são apenas ses.

Agora permitam a minha ousadia de questionar as considerações feitas no depoimento na parte final do livro pelo Sr Manuel dos Santos, ao tempo Cmdt das forças do PAIGC na frente Norte em 73 e na defesa da base de Cumbamory.
Passados todos estes anos é feita uma completa desvalorização por parte do PAIGC do ataque à base de Cumbamory pelo testemunho de um seu Comdt na época em questão.

Sobre a Operação “Ametista Real”:

Entre outras retiro estas afirmações:

- As bombas lançadas pela nossa aviação caíram em volta, na bolanha e não nas nossas posições.

- O único material destruído foram cerca de 20 foguetões 122mm.

- Na base não tivemos um único morto.

Estas são algumas das opiniões do Sr Manuel Santos. Perante este depoimento que dizer?

Os testemunhos de quem lá combateu do BCA na operação à base de Cumbamory dizem-nos que houve praticamente luta corpo a corpo. Como é possível numa operação daquelas os resultados serem estes?

Opiniões…

Apetece-me ironizar mas tenho muito respeito pelo autor do livro para o fazer.
Ao menos nos nossos testemunhos da guerra, não escamoteamos as nossas perdas, dignificamos sempre os nossos mortos caídos em combate, que é a forma mais honrosa de lhes perpetuarmos a memória.

Somos muito críticos, por vezes demasiado duros, a ajuizar o nosso comportamento na Guerra na Guiné, até surgem discussões entre nós, apenas com o intuito de sermos rigorosos na forma de contar o como foi e de que maneira aconteceu. Por isso somos, a consciência moral da Guerra Colonial da Guiné, e por muito que isso custe a quem quer que seja, ninguém apagará os nossos testemunhos, contados neste grande Blog, rico em amizade, camaradagem e solidariedade, único no género.

Por último aceitem a sugestão deste simples leitor e vosso camarada, leiam o livro.

Ao Cor Moura Calheiros, o meu obrigado mais uma vez por estas memórias, que ajudam a compreender o que foi aquele período na Guiné.

Um abraço para todos vós.
Manuel Marinho
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 22 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7318: In Memoriam (61): Fanta Baldé, de Farim (Manuel Marinho)

(**) Vd. poste de 5 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7385: A última missão, de José Moura Calheiros, antigo comandante pára-quedista: apresentação do livro (4): "A História, tal como a ficção, não pode ficar em suspenso sem um epílogo que a justifique e lhe dê um sentido" (António-Pedro de Vasconcelos)

Vd. último poste da série de 14 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7614: Notas de leitura (188): Lugares de Passagem, de José Brás (Mário Beja Santos)

domingo, 5 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7385: A última missão, de José Moura Calheiros, antigo comandante pára-quedista: apresentação do livro (4): "A História, tal como a ficção, não pode ficar em suspenso sem um epílogo que a justifique e lhe dê um sentido" (António-Pedro de Vasconcelos)



Amadora > Aquartelamento da Academia Militar > Grande Auditório > 29 de Novembro de 2010 > Intervenção do realizador de cinema António-Pedro de Vasconcelos, a quem coube a apresentação  do livro, A Última Missão, de José Moura Calheiros, Cor Pára Ref (*). 


A obra tem a chancela da Editora Caminhos Romanos, com sede no Porto. O texto do discurso do cineasta chegou-nos às mãos, enviado pelo Moura Calheiros  [, foto à direita, ] com a seguinte nota: "Talvez tenha interese para o blogue, segue em anexo a intervenção de António-Pedro Vasconcelos, que é uma brilhante peça literária".


Com a devida autorização do próprio, queremos também partilhar aqui, no nosso blogue, as quatro páginas do discurso de um dos nomes mais conhecidos do moderno cinema português (**) para quem "a História,  tal como a ficção, não pode ficar em suspensa sem um epílogo que a justifique e lhe dê um sentido"... É esse também o sentido do livro deste militar que honrou a sua Pátria e as forças pára-quedistas que comandou nos três teatros de operações, em África, de 1961 a 1974. (LG)




Capa do livro de José Moura Calheiros (Porto: Editora Caminhos Romanos, 2010)




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Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 3 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7375: A última missão, de José Moura Calheiros, antigo comandante pára-quedista: apresentação do livro (3): Sítio promocional



(**) António-Pedro de Vasconcelos (nascido em Leiria, em 1939), um dos realizadores que impulsionaram o movimento do chamado Cinema Novo, em Portugal. Foi autor, entre outros filmes,  do documentário Adeus até ao Meu  Regresso, de 1974.


«Filme para televisão, Adeus até ao Meu Regresso é um dos testemunhos da viragem no interior da RTP que o 25 de Abril provocou. Parafraseando, no título, a frase feita com que inúmeros soldados portugueses davam as suas 'mensagens de Natal' (na televisão) durante o período da guerra colonial, Adeus até ao Meu Regresso faz-se e estreia-se precisamente quando, pela primeira vez, a guerra dava lugar à paz e os soldados regressavam enfim: em Dezembro de 1974.


"Através do testemunho de soldados que haviam vivido a guerra na Guiné (a primeira colónia portuguesa a obter a independência após o 25 de Abril), António Pedro Vasconcelos dá-nos a dimensão de um conflito armado mas sobretudo o que dele restava na consciência do povo. Da revolta à resignaçâo, dos traumas às dúvidas, das afirmações às interrogações. Documento agarrado ao vivo, em cima da dor e do regresso, este filme é bem o retrato da retaguarda e da memória da guerra colonial, o único que, curiosamente, o cinema português ousou fazer.»  Fonte: Jorge Leitão Ramos, in  Dicionário do Cinema Português 1962-1988, Lisboa: Caminho, 1989.